Culturas de segurança: Evitando acidentes graves e com vítimas fatais Por John Montigny, chief marketing officer na Honeywell Safety Products. Este artigo foi publicado exatamente com o mesmo conteúdo (em inglês) na edição de março da revista ISHN. Clique aqui. Em uma Cultura de Segurança, acidentes não são coisas que simplesmente acontecem. Normalmente, não existe apenas uma causa para um acidente grave ou, pior ainda, um acidente com vítima fatal. Em quase todos os casos, existem "indícios" ou "precursores" que têm grande contribuição para o acidente. Esses fatores não podem ser tratados como simples falhas humanas ou riscos calculados. Infelizmente, muitas empresas não enxergam a verdadeira realidade. Na maioria das vezes, elas são complacentes ao verem demonstrativos que registram uma taxa geral de acidentes baixa e frequentemente melhor do que a média do setor. Elas acreditam então que seu programa de segurança está funcionando bem. Em muitas dessas empresas, os líderes não costumam pensar, ou falar muito, sobre segurança. Eles cumprem sua rotina profissional acreditando que as chances de acontecer um acidente grave que possa mudar a vida das pessoas ou fazer vítimas fatais no seu local de trabalho são muito pequenas. Mas não é isso que mostram as estatísticas. Cerca de 270 milhões de acidentes relacionados a atividades de trabalho ocorrem anualmente no mundo todo, fazendo 37 milhões de vítimas fatais, segundo a ILO (Organização Internacional do Trabalho). De acordo com a ILO: A cultura de segurança preventiva é crucial para todas as partes envolvidas em uma empresa. Não faz sentido uma empresa obter excelentes resultados gerais na avaliação das medidas de segurança primária (número total de casos de acidente por ano) e, ao mesmo tempo, viver uma situação de choque e trauma causada por um único acidente grave ou com vítima fatal. Causas Alguns tipos específicos de trabalho e controles de segurança estão mais associados a acidentes com potencial para causarem danos pessoais graves e vítimas fatais. Os maiores riscos de danos pessoais graves e vítimas fatais costumam ser associados a acidentes com equipamentos e aberturas de tubulações de substâncias químicas tóxicas, bloqueios/sinalizações, mecanismos de proteção de máquinas, entrada em espaços confinados e uso de permissões para trabalho a quente, assim como a atividades que envolvem a operação de equipamentos móveis, trabalho sob cargas suspensas e trabalho em grandes alturas. Para desenvolverem controles e mecanismos de intervenção capazes de impedir acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais, as Culturas de Segurança bem-sucedidas analisam cuidadosamente a exposição do profissional a grandes riscos, danos pessoais graves ou, pior ainda, ao risco de morte. Essa análise requer paciência. Anos de análise de dados sobre acidentes, pesquisas sobre situações em que o acidente pôde ser evitado, assim como auditorias e entrevistas com funcionários, são apenas algumas das técnicas usadas para identificar esses "precursores" ou causas potenciais dos piores tipos de acidentes relacionados à segurança. Em uma Cultura de Segurança, medidas como estas são tomadas: 1) Os acidentes menos graves com potencial para causarem danos pessoais graves e vítimas fatais são incluídos em uma avaliação de desempenho de segurança específica juntamente com os acidentes que realmente envolvem danos pessoais graves e vítimas fatais — essa avaliação pode não ser necessariamente exigida por lei, mas é crucial para que a empresa promova melhorias internas; 2) Processos, políticas e programas de redução de acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais são implementados para estimular o envolvimento dos funcionários; dados são analisados para que fatores causadores de acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais no local de trabalho possam ser identificados e corrigidos; e os funcionários não são apontados como culpados por acidentes graves relacionados à segurança; 3) As práticas de segurança relacionadas ao processo operacional não são ignoradas; pelo contrário, são consideradas como possíveis fatores causadores de acidentes. As Culturas de Segurança analisam, por exemplo, interrupções operacionais, falhas de design e incêndios catastróficos com relação a medidas de segurança pessoal. Nos últimos anos, as empresas mais avançadas desenvolveram estratégias de redução dos acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais. Essas estratégias começam com a análise dos registros de riscos para os profissionais, que podem frequentemente ser identificados a partir de relatórios de acidentes, acidentes que puderam ser evitados, observações sobre segurança e resultados de auditorias. Mudando a postura As seguintes medidas são apresentadas como diretrizes para a redução de acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais e devem ser adaptadas à sua Cultura de Segurança específica. 1) Um sistema para avaliar a frequência de acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais e o potencial de riscos altos deve ser implantado. 2) Todos os acidentes passíveis de registro, assim como situações em que o acidente pôde ser evitado e resultados de auditorias, devem ser avaliados quanto ao seu potencial para causar danos pessoais graves e vítimas fatais. É crucial identificar os riscos que podem resultar em acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais e em acidentes com esse potencial. 3) Para isso, é necessário que haja muita honestidade e autoavaliação. Decisões administrativas, como o aumento da jornada de trabalho, o corte de funcionários e o adiamento da manutenção de equipamentos, podem representar riscos potenciais. 4) Realize discussões em grupo com os funcionários e peça a opinião deles sobre a condição dos equipamentos e a conformidade com as medidas de segurança. Graças a uma análise transparente e aprofundada, as Culturas de Segurança identificaram que os acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais, assim como as situações em que acidentes com esse potencial puderam ser evitados, originam-se basicamente de dois fatores: 1) Atividades e circunstâncias de trabalho, como as que envolvem a operação de equipamentos móveis, o trabalho em grandes alturas e o trabalho sob cargas suspensas; e 2) Fontes de riscos de alta gravidade e a eficácia de medidas de segurança, como bloqueios/sinalizações, controles de exposição a substâncias químicas e entrada em espaços confinados. As Culturas de Segurança reconhecem que os tipos de práticas de segurança capazes de reduzir acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais são diferentes daqueles que irão reduzir acidentes sem esse potencial. É quase como desenvolver dois tipos de processos de segurança aplicados paralelamente todos os dias: um para acidentes com danos pessoais graves e vítimas fatais e outro para acidentes sem esse potencial. Cada um envolve uma maneira de registrar e controlar riscos. Ambos são administrados pelo mesmo grupo de profissionais das áreas de segurança e saúde. Ambos requerem funcionários envolvidos e líderes que enfatizem a questão da segurança. Nessas Culturas de Segurança, recursos de segurança adotados para propósitos específicos são aplicados de formas cuidadosamente definidas para reduzir o pior de todos os tipos de acidente — o que causa danos pessoais graves e vítimas fatais. E nas Culturas de Segurança mais bem-sucedidas e duradouras, as iniciativas são resultado de decisões seguras e de longa aplicabilidade, iniciadas no topo da cadeia hierárquica e seguidas em todos os níveis da empresa, quanto à alocação dos recursos, tempo e capital necessários para eliminar todos os acidentes e zerar os danos causados. Uma Cultura de Segurança duradoura é algo possível de ser atingido, e é dever de todos os que se encontram em uma situação de segurança empenhar-se para que cada trabalhador e cada família se beneficiem dessa conquista.