21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-139 – CÁLCULO DO COEFICIENTE DE TRANSMISSÃO DE CALOR EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO TRATANDO ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMÉSTICAS Salomão Anselmo Silva(1) Graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade Federal da FOTO Paraíba (1963). Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba (1975). PhD pela Universidade de Dundee, Dundee, Escócia (1982). NÃO Professor Titular do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal da DISPONÍVEL Paraíba. Chefe de Pesquisas da EXTRABES – UFPB. Gilson Barbosa Athayde Júnior Graduado em Engenharia Civil pela UFPB. PhD em Engenharia Sanitária pela Universidade de Leeds, Inglaterra. Salena Tatiana Silva Athayde Graduada em Ciências Biológicas pela UEPB. PhD em Microbiologia do Meio Ambiente pela Universidade de Liverpool, Inglaterra. Rui de Oliveira Engenheiro Civil pela UEMA. Mestre em Engenharia Civil pela UFPB. PhD pela Universidade de Leeds, Leeds, Inglaterra. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil da UFPB. Pesquisador da EXTRABES-UFPB. Endereço(1): Rua Monteiro Lobato, 207 – Alto Branco – Campina Grande - PB – CEP: 58.102 - 470 - Brasil Tel: (83) 321-3682 - Fax: (83) 343-1269 – End. elet.: [email protected] RESUMO Foram analisadas as temperaturas da água de 2 lagoas de estabilização anaeróbias e 3 lagoas facultativas primárias, relativamente às temperaturas de seus respectivos afluentes, bem como com a temperatura do ar, para definir-se os respectivos coeficientes de transmissão de calor (F). Os valores de F variaram entre 0,056 e 0,218m/dia, os quais são bastante diferentes do valor 0,40m/dia normalmente aceito. Essa diferença deve-se certamente ao tipo de clima tropical semi-árido prevalecente no Nordeste do Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Lagoas de Estabilização, Tratamento de Águas Residuárias Domésticas, Coeficiente de Transmissão de Calor. INTRODUÇÃO A determinação da temperatura da água de uma lagoa de estabilização tratando águas residuárias é importante, para definir esse parâmetro que é de suma importância na otimização de projetos. O uso da temperatura mínima do mês mais frio, como temperatura de projeto de lagoas de estabilização, é válido nas regiões de clima temperado, não devendo de forma nenhuma ser usada esta sistemática, para projetos de lagoas de estabilização num país de clima tropical como o Brasil e principalmente na região Nordeste. No entanto é raro encontrar-se dados de temperatura da água de lagoas de estabilização, quando se vai projetar tais lagoas na maioria das localidades não só no Brasil, como em outros países. Por outro lado, normalmente se encontra em qualquer cidade, dados da temperatura do ar bem como das águas residuárias, principalmente quando existe algum tipo de tratamento dessas águas no local em estudo, ou nas suas redondezas. ABES – Trabalhos Técnicos 1 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental De posse das temperaturas do ar e da água residuária afluente à lagoa, de sua vazão e de sua área é possível, a partir desses dados, estimar-se a temperatura da água da lagoa a ser projetada, utilizando-se um modelo simples que relaciona os ganhos e as perdas de calor que ocorrem na lagoa e que pode ser expresso como: Calor ganho = Calor perdido ( ) ( Q × TAFLU − TMEDAG = F × A × TMEDAG − TMEDAR F= ( ) Q × TAFLU − TMEDAG A × TMEDAG − TMEDAR ( ) ) Onde: Q = Vazão, m3/dia TAFLU = Temperatura média do afluente à lagoa, ºC TMEDAG = Temperatura média da água de lagoa, ºC F = Coeficiente de transmissão de calor, m/dia A = Área da lagoa, m2 TMEDAR = Temperatura média do ar, ºC Este modelo proposto por Arceivala (1981). é muito simples, levando em conta na troca de calor somente a vazão e a área da lagoa e definindo um fator de transmissão de calor (F), que equilibra ambos os membros da equação. Para o cálculo de F é necessário coletar-se os dados de temperatura do local e da água de uma lagoa em operação. A EXTRABES que há 25 anos vem pesquisando técnicas de baixo custo para o tratamento de águas residuárias domésticas, monitorou a temperatura da água das lagoas pesquisadas. MATERIAIS E MÉTODOS Dentre as lagoas pesquisadas na EXTRABES foram selecionadas: uma lagoa anaeróbia submetida a dois diferentes experimentos, porém sem mudanças em suas dimensões (A1-1 e A1-3) e três lagoas facultativas primárias submetidas a diferentes cargas orgânicas e tempo de detenção hidráulica (FP2-1, FP3-1 e FP4-1). Essas lagoas foram construídas em alvenaria de tijolo e revestidas com argamassa de cimento e areia. Para determinação da temperatura da água das lagoas, foi introduzido em cada uma, um termômetro que determina as temperaturas máxima e mínima e que ficava situado à meia profundidade da lagoa. Diariamente eram lidas as temperaturas máxima e mínima, cuja média aritmética representa a temperatura da água da lagoa naquele dia. Após a leitura, o termômetro era zerado e reintroduzido na lagoa. As tabelas 1 e 2 apresentam as características físicas e hidráulicas respectivamente das lagoas pesquisadas. 2 ABES – Trabalhos Técnicos 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 1 – Características físicas das lagoas anaeróbias e facultativas primárias. LAGOA SISTE(código) MA EXPERIMENTO PERÍODO (mês / ano) COMP. (m) LARG. (m) PROF. (m) ÁREA (m2) VOL. (m3) A1-1 I 1 03/1977 a 05/1979 10,00 3,35 1,25 33,50 42,00 A1-3 I 3 01/1981 a 12/1981 10,00 3,35 1,25 33,50 42,00 FP2-1 II 1 03/1977 a 03/1979 25,70 7,50 1,25 193,00 241,00 FP3-1 II 1 03/1977 a 05/1979 26,40 7,40 1,25 195,00 244,00 FP4-1 II 1 03/1977 a 05/1979 25,70 7,40 1,25 190,00 238,00 Tabela 2 – Características hidráulicas das lagoas anaeróbias e facultativas primárias LAGOA (código) VAZÃO (m3/dia) TDH (dias) CARGA SUPERFICIAL kgDBO5/ha.dia CARGA VOLUMÉTRICA gDBO5/m3.dia A1-1 6,17 6,8 551,9 44,7 A1-3 10,56 4,0 1057,0 58,1 FP2-1 20,33 11,8 320,3 25,8 FP3-1 20,33 12,0 317,1 25,3 FP4-1 25,03 9,5 400,6 32,0 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A tabela 3 apresenta os dados operacionais das lagoas, onde o valor médio de F varia entre 0,215 e 0,218m/dia, nas lagoas anaeróbias e entre 0,056 e 0,064m/dia, nas lagoas facultativas primárias. Portanto, estes valores de F estão bastante distantes de 0,40 m/dia preconizado para lagoas de estabilização. Tabela 3 – Dados operacionais das lagoas anaeróbias e facultativas. LAGOA (Código) PARCELAS (n) TAFLU (ºC) TMEDAG (ºC) TMEDAR (ºC) F (m/dia) A1-1 749 26,7 24,8 22,7 0,215 A1-3 353 26,6 25,2 22,6 0,218 FP2-1 690 26,7 25,3 22,7 0,059 FP3-1 750 26,7 25,3 22,7 0,064 FP4-1 690 26,7 25,6 22,7 0,056 Esta diferença deve-se ao clima da região Nordeste do Brasil, pois em um clima semi-árido como o que prevalece em grande parte do Nordeste do Brasil, a temperatura da água da lagoa pode chegar a ser maior do que a do afluente (TMEDAG > TAFLU) o que dificilmente acontece em climas temperados. Quando TMEDAG > ABES – Trabalhos Técnicos 3 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental TAFLU, F torna-se negativo ou seja, a vazão afluente à lagoa tende a provocar uma diminuição da sua temperatura. Dependendo do local da leitura da temperatura da água da lagoa, da hora do dia em que a mesma é feita, bem como a hora da leitura de TAFLU, o valor de F varia. No entanto, mantida a sistemática, o valor de F calculado, servirá para estimar-se a temperatura da água de lagoas que venham a ser projetadas na região. CONCLUSÕES Os valores dos coeficientes de transmissão de calor (F), de 2 lagoas anaeróbias e 3 lagoas facultativas primárias, variaram entre 0,056 e 0,218m/dia, os quais são bem diferentes de 0,40 m/dia, valor normalmente adotado para climas temperados. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos às seguintes instituições que apoiam a EXTRABES: Universidade Federal da Paraíba - UFPb, Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba - CAGEPA, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 4 ARCEIVALA, S. J. (1981). Wastewater Treatment and Disposal. Marcel Dekker Inc. New York. USA. ABES – Trabalhos Técnicos