Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
ENTRAVES AO ENSINO DE QUÍMICA: APONTANDO MEIOS PARA
POTENCIALIZAR ESTE ENSINO
Barriers to teaching of chemistry: pinpointing means to improve
this teaching
Fabiana Pauletti1
RESUMO: O objetivo deste trabalho é identificar entraves impostos ao ensino de química.
Com o intuito de buscar alternativas para combater e eliminar estes entraves. Destacamos a
importância da compreensão em química como fundamental na formação para a cidadania.
Este artigo se consolidou a partir de estudos bibliográficos que reconhecem os entraves no
ensino da química e apontam para a conexão entre os três níveis de representação do
conhecimento químico: macroscópico, microscópico e simbólico como meio de potencializar
o ensino. Os resultados preliminares apontam para o uso de softwares computacionais e a
relação entre aulas teóricas e práticas como um dos meios de diluir os entraves
identificados, estabelecendo assim a conexão entre os três níveis de representação.
Palavras-Chaves: Ensino de química. Softwares computacionais. Aula experimental.
ABSTRACT: The purpose of this paper is to identify the nature of barriers to the teaching of
chemistry, with the intention of finding alternatives to eliminate them. Literature supports that
understanding of chemistry is essential for building citizenship. This paper is based on a
literature review that recognizes barriers to teaching of chemistry and directs to the
connection among three levels of representation of knowledge about chemistry:
macroscopic, microscopic, and symbolic. Preliminary results pinpoint the use of computer
software and the relation between theoretical and experimental classes as an approach of
dealing with the barriers, achieving the connection among the three levels of representation.
Keywords: Teaching of chemistry. Computer software. Experimental classes.
Introdução
O ensino de química que é realizado nas escolas hoje em dia, pouco tem contribuído
na formação cidadão de jovens críticos e autônomos, que saibam julgar com
pertinência as informações advindas do meio cultural e as que se relacionam com a
química (SANTOS e SCHNETZLER, 2000) e por consequência não relacionam as
implicações sociais, ambientais, econômicas e políticas imbricadas na química e na
sociedade (BRASIL, 2006).
1
Possui graduação em Licenciatura Plena em Química pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCS – Curso de Mestrado. E-mail:
[email protected].
98
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
Alguns autores chegam a apontar o ensino de química, tal como é realizado hoje,
como inútil (CHASSOT, 2004) e que não serve para nada (SANTOS e
SCHNETZLER, 1996). Mas olhando no seio da química e na literatura que a traduz e
a acompanha, podemos desde já apurar alguns dos possíveis entraves impostos à
ascensão do ensino de química e destacá-los com o intuito de diluir estes entraves
que promovem uma entropia ao ensino da química.
Uma dificuldade que se sobressai no ensino de química é apontado por Bueno et al
[2003], que consiste na ausência da correlação entre aulas teóricas e aulas práticas,
que se apossam do experimento para o ensino da química. A aula prática consiste
no manuseio e na transformação de substâncias no laboratório da escola, isso em
nível macroscópico, isto é, visível. Já a teoria para o ensino da química compõe-se
de nível microscópico, ou seja, é o estudo da matéria e suas transformações em
estado não observável. Fica evidente que a ciência é uma troca irredutível entre a
teoria e a prática, e com isso a separação de ambas não é possível nem desejável
quando se deseja promover o ensino de química. Ainda segundo Bueno et al [2003,
p. 34] “a função do experimento é fazer com que a teoria se adapte à realidade”.
Pozo e Crespo (2009) nos dão pistas da natureza altamente abstrata, peculiaridade
esta onipresente na química, em outras palavras, os autores destacam que a
dificuldade na aprendizagem pode ocorrer devido à necessidade de os alunos
compreenderem e analisarem as propriedades e transformações da matéria; mas
para conseguir isso, precisam defrontar-se com um número grande de leis e
conceitos, novos e fortemente abstratos, eles precisam estabelecer conexões entre
esses conceitos e entre fenômenos estudados e, como se fosse pouco, deparam-se
com a necessidade de utilizar uma linguagem altamente simbólica e formalizada
junto com modelos de representações analógicos que ajudam a representar aquilo
que não é observável. Um dos maiores obstáculos que o ensino da química enfrenta
na visão dos autores é a presença maciça de abstrações, e mesmo de abstrações
sobre abstrações.
Souza e Cardoso (2008) destacam que a dificuldade do ensino e aprendizagem em
química ocorre devido à falta de compreensão e domínio do universo macroscópico,
simbólico e microscópico, o que na opinião dos autores é imprescindível, a livre
transição entre esses três níveis para a solidificação da aprendizagem.
Com isso, nosso objetivo é abordar a essência dos entraves impostos ao ensino de
química e tentar desenhar, apontar um caminho para a diluição desses obstáculos.
Considerando os apontamentos de Wu e Shah (2003) que dão ênfase as múltiplas
formas de representação do conhecimento químico acarretam diretamente na
compreensão da química e desta forma as representações visuais promovem um
entendimento mais profundo e consistente dos fenômenos e conceitos estudados.
Então, nos parece útil utilizar as possibilidades de representação da química dita
abstrata através do uso de softwares computacionais e da experimentação com o
intuito de abrigar os três níveis de representação, potencializando assim o ensino de
química e a compreensão dos alunos e a livre conexão entre o nível simbólico,
macroscópico e microscópico.
99
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
Assim, na primeira parte deste artigo, reunimos as principais ideias e decorrências
do ensino de química, expondo as implicações de um ensino genuíno, depois ao
amealhar diversas consultas na literatura identificamos um ensino falho de química
e, por fim, vamos apontar alguns antídotos para tentar diluir estes entraves que
nutrem o ensino de química em detrimento da aprendizagem.
1 – Destacando a importância do ensino de química
A química é uma disciplina integrada na área de ciências da natureza, e
constatamos que seu objetivo principal está centrado no estudo da matéria, as
transformações químicas por ela sofridas bem como as variações de energia que
acompanham estas transformações, a partir de sua composição íntima, com átomos
e moléculas (POZO; CRESPO, 2009).
Mas o ensino da química (bem como as outras disciplinas que compõem o currículo
do Ensino Médio) deve preparar – entre outras coisas para o exercício da cidadania
(SANTOS; SCHNETZLER, 2000). Para estes autores, os alunos devem estar
inseridos num contexto que propicie a inter-relação de dois componentes básicos: o
contexto social e a informação química, ou seja, para o aluno não basta
compreender química, é necessário que ele entenda melhor a sociedade em que
está inserido, pelo viés desta disciplina. Em outras palavras, ainda segundo Santos
e Schnetzler (2000, p. 29) “educar para a cidadania é preparar o indivíduo para
participar de uma sociedade democrática, por meio da garantia de seus direitos e do
compromisso de seus deveres”.
Contudo, Santos e Schnetzler (2000) destacam que a formação para a cidadania
pode ocorrer pela educação, mas não é apenas o único meio de formar o cidadão.
Isto é, o processo de formação para a cidadania constitui-se também devido a
atuação do indivíduo nas diversas instâncias que compõem a sociedade: família,
sindicatos, clubes, associações, dentre outros.
Na mesma linha, existe praticamente um consenso entre diversos autores de que o
ensino da química pode contribuir para a formação de um cidadão que possua uma
visão maximizada diante da sociedade contemporânea a fim de identificar e avaliar a
química que permeia essa sociedade, a interdependência de ambas, que se
concretiza, por exemplo, na utilização diária de produtos químicos; nos impactos no
desenvolvimento dos países, nos problemas causados pelo uso abundante de
produtos nocivos à natureza e à saúde humana, bem como na deterioração da
qualidade de vida das pessoas, nos efeitos ambientais derivados do emprego de
combustíveis fósseis ou alternativos.
Conforme Brasil (2006), a química pode ser um instrumento da formação humana
que amplia os horizontes culturais e auxilia na promoção da autonomia no exercício
da cidadania, mas para isto é necessário um ensino de química que fomente a
ciência com seus conceitos, métodos e linguagens próprias, como construção
histórica relacionada ao desenvolvimento tecnológico da vida em sociedade.
100
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
Já para Oliveira, Gouveia e Quadros (2009), o conhecimento químico pode coligir o
aluno no entendimento do mundo material e dos fenômenos que nele ocorrem, em
resumo, pode auxiliar o aluno a entender os acontecimentos corriqueiros do seu dia
a dia. Nesse sentido, o ensino da química deveria municiar o aluno em relação à
compreensão da natureza e suas transformações, inclusive das ações do próprio ser
humano na sociedade, mediante a produção de instrumentos culturais e nas
interações sociais. Bem como, propiciar um entendimento das vicissitudes da própria
sociedade que implicam na química, como, por exemplo: a ação medicinal das
drogas, questões que contrapõe o uso de energia proveniente de usinas nucleares
ou hidrelétricas (dentre outras existentes), a evolução do efeito estufa, a degradação
dos poluentes ambientais; em síntese, para Santos e Schnetzler (2000, p. 29) “o
objetivo básico da química seria formar cidadãos com compreensão do papel da
química e das ciências na sociedade”.
Então nos cabe a seguinte pergunta: por que o ensino da química vem sendo
apontado como ineficaz por diversos autores, como Chassot (2004), que se
posiciona com propriedade ao destacar que, de modo geral, que o que se encontra
atualmente é um ensino de química que pouco tem contribuído para a transformação
dos estudantes em cidadãos críticos, a ponto de afirmar que, da forma como tem
sido praticado esse ensino resulta em algo literalmente “inútil”? Para Santos e
Schnetzler (1996) o ensino da química atual não supre aos objetivos da formação da
cidadania, e os autores chegam ao ponto de afirmarem que o ensino de química se
configura em torno de tamanha desestruturação, que não serve para nada.
Podemos e devemos então nos questionar: qual seria a razão, então, para este
ensino falho de química? Na tentativa de responder a esta e a outras questões que
necessitam de respostas, é que iniciamos o próximo bloco.
2 – Atacando a essência dos entraves no ensino de química
Percorrendo a literatura, nos foi possível encontrar vários trabalhos referentes ao
ensino e aprendizagem em química e percebemos que existe um consenso de
autores das formas de representação do conhecimento químico, que se concentram
em três níveis de representação (WU, KRAJCIK, SOLOWAY, 2001; JOHNSTONE,
1982; GABEL, 1993; GIORDAN e GÓIS, 2005; BENITE, BENITE, FILHO, 2011;
SOUZA, CARDOSO, 2008).
Giordan e Góis (2005) apontam para os seguintes níveis de representação do
conhecimento químico: macroscópico, microscópico e simbólico. No que
compreende o nível macroscópico são os fenômenos e processos químicos
observáveis e perceptíveis numa dimensão visível. O nível simbólico envolve as
fórmulas, equações químicas e estruturas e por fim o nível microscópico envolve os
movimentos e arranjo de moléculas, átomos ou partículas.
Santos e Schnetzler (1996) destacam a importância do ensino englobar aspectos de
nível macroscópico e microscópico para os alunos compreenderem a relação direta
entre os dois níveis. Já Souza e Cardoso (2008) apoiam-se nos estudos de
101
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
Johnstone e chamam atenção para a falta de correlação entre os três níveis, ou seja,
para os autores para que a aprendizagem ocorra é necessário navegar pelos três
níveis de representação.
Gabel (1993) destaca em um de seus estudos que o ensino de química enfatiza
apenas o nível simbólico, em detrimento dos fenômenos visíveis e da relação entre
as partículas, isto é, do nível macroscópico e microscópico. O autor destaca
também, ser insuficiente fazer relação entre os três níveis de representação, se os
fenômenos estudados não forem relacionados e aproximados à vida cotidiana dos
alunos.
Sirhan (2007) numa tentativa de elencar as principais dificuldades na aprendizagem
em química acredita que aprender química exige um conjunto de habilidades de alto
nível, pois a química é composta por muitos conceitos abstratos, que apresentam-se
como a espinha dorsal na compreensão desta ciência.
Os apontamentos de Gabel (1993) vão ao encontro, ao menos em parte, do que
Bueno et al [2003] destacam em relação a falta de correlação entre aulas teóricas e
aulas práticas, que seriam de importância capital na transposição do nível
microscópico ao macroscópico. Da mesma forma, essa ideia acompanha ou traduz o
que Pozo e Crespo (2009) consideram um elemento primordial na solidificação do
entrave a aprendizagem: a natureza altamente abstrata da química. Parece-nos que
essas questões levantadas estão em comunhão, e nos apresentam a essência do
problema que compõem o ensino de química, e a nosso ver este foi o primeiro passo
para suprimir os entraves para o processo de ensino e aprendizagem em química.
Convém, no próximo bloco, apresentarmos rotas de fuga, ou mesmo meios para
diluir estes entraves no ensino e aprendizagem em química, bem como, maneiras de
arquitetar um ensino de química que privilegie as três formas de representação
(nível macroscópico, microscópico e simbólico). Cabe-nos destacar também que
nosso foco neste estudo é no ensino de química, mas é inconteste a presença da
aprendizagem, pois a mesma também é resultado do ensino.
3 – Possíveis meios de potencializar o ensino de química: conexão entre os
três níveis de representação
Wu e Shah (2003) destacam que oferecer aos alunos múltiplas formas de
representação e descrições dos fenômenos químicos, pode ser um valioso meio de
potencializar a aprendizagem em química, pois os autores reconhecem a dificuldade
dos alunos nas representações visuais em química, também salientam a importância
de apresentar a natureza interativa e promover transformações de moléculas entre a
disposição bidimensional e tridimensional.
Para Gabel (1993) enfatizar os três níveis de química (macroscópico, microscópico e
simbólico) para descrever fenômenos comuns, poderia tornar o ensino mais eficaz.
Além disso, o autor diz que instruções sobre a natureza da matéria das partículas
102
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
(nível microscópico) auxiliam os alunos na compreensão e relação (conexão) dos
três níveis e que a química pode ser ensinada e entendida com maior eficácia.
As nuances de inúmeros teóricos que estudam o ensino de química encontra-se em
Sirhan (2007) que coloca-nos que a grande dificuldade dos alunos é devido à
transição entre os mundos macroscópico e microscópico. Neste sentido, vemos esta
possibilidade, de múltiplas formas de representação e conexão entre os três níveis
de representação da química, através do uso de softwares computacionais, porque
os mesmos, segundo resultados de pesquisas recentes têm favorecido e
consequentemente potencializado o ensino e aprendizagem em química (SANTOS,
WARTHA, FILHO, 2010; PERRY, SERRANO, 2005; NÚÑEZ, RAMALHO, PEREIRA,
2011; CARVALHO, 2009; RAUPP et al., 2010; GIORDAN, GÓIS, 2005; EICHLER,
PINO, 2000).
Raupp et al. (2010) nos dão evidências favoráveis do uso software computacional no
processo de ensino e aprendizagem em química. A construção de modelos
moleculares bidimensionais e tridimensionais é possível num software
computacional e isso auxilia o aluno na visualização e disposição espacial e
geométrica de uma molécula. Com isso, as simulações computacionais oferecem um
ambiente interativo para o aluno manipular e observar resultados imediatos,
decorrentes da modificação de situações e condições que circundam o ensino de
química este pode ser um caminho para diluir os obstáculos impostos à
compreensão em nível microscópico.
Raupp et al. (2010) são enfáticos ao ressaltar que é evidente a evolução na forma
de representação molecular dos alunos após a utilização de um software
computacional. O estudo também destaca grandes vantagens no trabalho em três
dimensões, pois esta terceira dimensão apresenta propriedades mais específicas,
difíceis de capturar num aprendizado convencional. Além disso, o estudo conclui que
a utilização de softwares potencializa a aprendizagem em função das múltiplas
possibilidades de representação das formas abstratas da química. O resultado
obtido por este estudo corrobora o que Wu e Shah (2003) destacam ser fundamental
para a aprendizagem em química: a variedade de representações visuais é
imprescindível para a construção de conceitos químicos.
Para Giordan e Góis (2005), o uso de software computacional reduz a dificuldade
dos alunos compreenderem os fenômenos e transformações químicas em nível
microscópico, porque o uso dessa ferramenta possibilita a criação de objetos
moleculares virtuais, com dimensões bidimensionais que projeta animações e
também propicia interfaces de criação e simulação tridimensionais a partir de
qualquer fórmula química, seja ela extensa ou compacta.
Em síntese, nossa ideia é de apropriação e uso de softwares computacionais para a
exploração do nível microscópico da química que concentra o maior obstáculo na
aprendizagem desta ciência. E na tentativa de multiplicar a variedade de
representações visuais, já que o nível microscópico apresenta peculiaridades
impares (invisível e abstrato) é ao nosso entendimento, um meio de representar
visualmente o nível microscópico.
103
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
Outro ponto que os estudos de Gabel (1993) nos chamam atenção é que o ensino
de química, não transita pelos três níveis de representação. E que o ensino deve
percorrer simultaneamente o nível macroscópico, microscópico e simbólico
relacionando-os com fenômenos corriqueiros, isto é, que são familiares a vida
cotidiana dos alunos.
A fim de navegarmos pelos três níveis de representação química é que pensamos
num ensino de química que privilegie o uso de softwares computacionais para
representação do nível microscópico, pois este é o nível mais difícil de capturar, de
explorar num ambiente de ensino, e assim pode ocorrer a conexão entre os três
níveis através do uso do software computacional.
Outra forma de relação entre os níveis de representação do conhecimento químico
pode ser através de aulas experimentais, que concentram maior ênfase no nível
macroscópico, microscópico e simbólico e na interconexão com aulas teóricas. Uma
proposta bem clara e sucinta é apresentada por Romanelli e Justi (1997). As autoras
apresentam em seu livro (Aprendendo química) uma proposta voltada ao ensino de
química no Ensino Médio, através de atividades experimentais e planejadas,
seguindo uma sequencia lógica. Esta proposta pode despertar o aluno no
descobrimento da química através de atividades explicitas em constante relação e
ligação com os fenômenos corriqueiros, numa ligação continua, isto é, abordando
um tema em relação a outro e assim sucessivamente.
É difícil apontar uma receita eficaz, que supra os anseios do processo de ensino e
aprendizagem em química com ascensão, mas percorrendo a literatura que estuda o
ensino e aprendizagem em química nos convém estes apontamentos que no
momento nos parecem ser frutíferos.
Considerações finais
Os resultados disponíveis na literatura e os nossos próprios achados nos conduzem
a buscar meios de potencializar o ensino de química que atualmente está sendo
apontado como inútil (CHASSOT, 2004). Acreditamos que há necessidade de
dilatação das formas de abordar o ensino de química, isto é, o ensino de química
deveria privilegiar os três níveis de representação, através da conexão de aulas
experimentais (de laboratório químico) e de aulas teóricas seria possível acolher o
nível macroscópico, microscópico e simbólico do conhecimento químico, sempre na
tentativa de aproximação da química com os fenômenos cotidianos a fim de um
ensino que forme para a cidadania.
Do mesmo modo, o uso de softwares computacionais pode promover e multiplicar as
formas de visualização da química dita abstrata e não observável, e tendo em vista a
necessidade e a variedade de formas de representação que auxiliam na
aprendizagem em química (WU; SHAH, 2003) acreditamos que o uso de softwares
computacionais pode potencializar o ensino e aprendizagem em química. Em
decorrência de diversas formas de representação no universo químico é possível
104
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
num software computacional conferir o nível microscópico, macroscópico e simbólico
numa mesma abordagem.
Por fim, mas não menos importante, utilizar o computador ou outros recursos
tecnológicos digitais na construção do conhecimento químico e na amplificação de
contextos educacionais a fim de fomentar um ensino genuíno de química parece
atender de maneira satisfatória aos alunos que hoje frequentam as escolas públicas,
pois os mesmos apresentam grande desenvoltura na utilização e manuseio de
tecnologias digitais (PRENSKY, 2001).
Referências
BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica.
Orientações curriculares para o ensino médio: ciências da natureza, matemática
e
suas
tecnologias.
Brasília,
v.
2,
2006.
Disponível
em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_02_internet.pdf>.
Acesso
em: 20 ago. 2011.
BENITE, Anna M. Canavarro; BENITE, Claudio R. Machado; FILHO, Supercil
Mendes da Silva. Cibercultura em ensino de química: elaboração de um objeto
virtual de aprendizagem para o ensino de modelos atômicos .Química Nova na
Escola, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 71-6, maio 2011. Disponível em:
<http://www.qnesc.sbq.org.br/online/qnesc33_2/01-EQM3010.pdf>. Acesso em: 31
mar. 2012.
BUENO, Lígia et al. O ensino de química por meio de atividades experimentais:
a realidade do ensino nas escolas. São Paulo, [2003]. Disponível em:
<http://www.unesp.br/prograd/ENNEP/Trabalhos%20em%20pdf%20%20Encontro%20de%20Ensino/T4.pdf>. Acesso em: 12 maio. 2012.
CARVALHO, Cláudio Ricardo da Silva. Simulação computacional: um instrumento
que influencia e potencializa conceitos nas representações simbólicas no ensino da
geometria molecular. III Simpósio e VI Fórum Nacional de Educação. Torres,
2009. Disponível em:
<http://forum.ulbratorres.com.br/2009/mesa_texto/MESA%2014%20D.pdf>. Acesso
em: 07 maio. 2012.
CHASSOT, Attico. Para que(m) é útil o ensino? 2. Ed. Canoas: Ulbra, 2004.
EICHLER, Marcelo; PINO, José Claudio Del. Computadores em educação química:
estrutura atômica e tabela periódica. Química Nova, São Paulo, v. 23, n. 6, p. 835840, nov./dez. 2000. Disponível em:
<http://www.quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2000/vol23n6/18.pdf>. Acesso em: 07
maio. 2012.
GABEL, Dorothy L. Use of the particle nature of matter in developing conceptual
understanding. Journal of Turkish Science Education, v. 70, n. 3, p. 193-4, mar.
1993. Disponível em: <http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/ed070p193>. Acesso em:
30 abr. 2012.
105
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
GIORDAN, Marcelo; GÓIS, Jackson. Telemática educacional e ensino de química:
considerações sobre um construtor de objetos moleculares. Linhas Críticas,
Brasília, v. 11, n. 21, p. 285-301, jul. 2005. Disponível em:
<http://seer.bce.unb.br/index.php/linhascriticas/article/viewArticle/5380>. Acesso em:
18 dez. 2011.
JOHNSTONE, Alex H. Teaching of Chemistry - Logical or Psychological?. Chemistry
Education: Research and Practice in Europe, v. 1, n. 1, p. 9-15, 2000. Disponível em:
<http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/ed070p193>. Acesso em: 23 abr. 2012.
NÚÑES, Isauro Beltrán; RAMALHO, Betânia Leite; PEREIRA, José Everaldo. As
representações semióticas nas provas de química no vestibular da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (Brasil): uma aproximação à linguagem científica no
ensino das ciências naturais. Revista Ibero-americana de Educação, n. 55/1, p. 113, fev. 2011. Disponível em: <http://www.rieoei.org/deloslectores/3681Beltran.pdf>.
Acesso em: 20 dez. 2011.
OLIVEIRA, Sheila Rodrigues; GOUVEIA, Viviane de Paula; QUADROS, Ana Luiza
de. Uma reflexão sobre aprendizagem escolar e o uso do conceito de
solubilidade/miscibilidade em situações do cotidiano: concepções dos estudantes.
Química Nova na Escola, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 23-30, fev. 2009. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc31_1/05-CCD-0508.pdf>. Acesso em: 24 ago.
2011.
PERRY, Gabriela Trindade; SERRANO, Agostinho. A evolução da interface do
equil, e resultados associados. Porto Alegre, [2005]. Disponível em:
<http://www.gabriela.trindade.nom.br/arquivos/IEEEF-artigo-publicao.pdf>.
Acesso
em: 12 maio. 2012.
POZO, Juan Ignacio; CRESPO, Miguel Ángel Gómez. A aprendizagem e o ensino
de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Tradução Naila
Freitas. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. NCB University Press,
Horizon, v. 9, n. 5, out. 2001. Disponível em:
<http://www.marcprensky.com/writing/prensky%20%20digital%20natives,%20digital%20immigrants%20-%20part1.pdf>. Acesso em: 18
ago. 2011.
RAUPP, Daniele et al. Uso de um software de construção de modelos moleculares
no ensino de isomeria geométrica: um estudo de caso baseado na teoria de
mediação cognitiva. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, Espanha,
v. 9, n. 1, p. 18-34, 2010. Disponível em:
<http://www.saum.uvigo.es/reec/volumenes/volumen9/ART2_VOL9_N1.pdf>. Acesso
em: 20 dez. 2011.
ROMANELLI, Lilavate Izapovitz; JUSTI, Rosária da Silva. Aprendendo química.
Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1997.
106
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Revista Amazônica de Ensino de Ciências | ISSN: 1984-7505
ARTIGO
SANTOS, Danilo Oliveira; WARTHA, Edson José; FILHO, Juvenal Carolino da Silva.
Softwares educativos livre para o ensino de química: análise e categorização. XV
Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ). Brasília, jul. 2010.
Disponível em: <http://www.xveneq2010.unb.br/resumos/R0981-1.pdf>. Acesso em:
01 maio. 2012.
SANTOS, Wildson Luiz P. dos; SCHNETZLER, Roseli Pacheco. Função social: o
que significa ensino de química para formar o cidadão? Química Nova na Escola,
São Paulo, n. 4, p. 28-34, nov. 1996. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc04/pesquisa.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2011.
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos; SCHNETZLER, Roseli Pacheco. Educação em
química: compromisso com a cidadania. 2. Ed. Ijuí: Unijuí, 2000.
SOUZA, Karina Aparecida de Freitas Dias de; CARDOSO, Arnaldo Alves. Aspectos
macro e microscópicos do conceito de equilíbrio químico e de sua abordagem em
sala de aula. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 27, p. 51-6, fev. 2008.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc27/08-peq-3106.pdf>. Acesso
em: 12 maio. 2012.
SIRHAN, Ghassan. Learning difficulties in chemistry: an overview. Journal of
Turkish Science Education, v. 4, n. 2, p. 2-20, set. 2007. Disponível em:
<http://crins08lerberg.wmwikis.net/file/view/Sirhan.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2012.
WU, Hsin-Kai; SHAH, Priti . Exploring visuospatial thinking in chemistry learning.
Science Education, v. 88, n. 24, p. 465-492, abr. 2003. Disponível em:
<http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/sce.10126/pdf>. Acesso em: 23 jan. 2012.
WU, Hsin-Kai; KRAJCIK, J Joseph S; SOLOWAY, Elliot. Promoting understanding of
chemical representations: students’ use of a visualization tool in the classroom.
Journal of Research in Science Teaching, v. 38, n. 7, p. 821-842, abr. 2001.
Disponível em:
<http://deepblue.lib.umich.edu/bitstream/2027.42/34515/1/1033_ftp.pdf>. Acesso em:
07 maio. 2012.
107
Rev. ARETÉ | Manaus | v. 5 | n. 8 | p.98-107 | jan-jul | 2012
Download

ENTRAVES AO ENSINO DE QUÍMICA: APONTANDO