Produção de “kits”com materiais
alternativos para experimentação no
Ensino Médio
Carlos Alexandre Vieira (PQ)1
Amanda Pinto da Silva(IC)2
Cláudia Maria Lacerda(IC)2
Gisele Silva Maia(IC)2
Lais Fernanda Nascimento (IC)2
Jordana Tales Rios (IC)2
Cristiano Eugênio Mendes (IC)2
Susy Cristina Ferreira(IC)2
Roberto Santos Barbieri (PQ)3
INTRODUÇÃO
A
química, como toda ciência, não é
nada mágico ou fenomenal, reservada
somente para estudiosos e mentes brilhantes. Equações, reações, cálculos e moléculas fazem parte desse fantástico “ramo” da ciência, talvez por isso muitos alunos tenham dificuldade de relacionar a química com seu dia
a dia (MATEUS, A.L, 2001).
Em uma análise informal realizada por professores da disciplina Química Básica com os
alunos do ensino médio, percebeu-se que a
maioria destes apresentam deficiência de aprendizagem dos principais conceitos envolvidos,
gerando altos índices de evasão e de reprovação na disciplina (RODRIGUES, et al 2003). Os
fatores podem estar ligados a didática do professor (o principal mediador do ensino) e a ausência de contextualização entre a química e o
dia a dia.
Não existe uma receita mirabolante para se
aprender química, algo como o mito do fantástico “método cientifico” que os cientistas seguem
para postular leis e teorias. Uma forma interessante para ensinar e aprender química pode
estar nos diversos acontecimentos que estão ao
nosso redor, fazendo parte de nossas vidas, tais
como: produções de alimentos, saneantes e
corantes, aplicações industriais de insumos,
beneficiamento de matéria prima, dentre outros. A química estuda os materiais, suas propriedades e suas transformações. Com um simples copo d`água, poderíamos desenvolver em
sala de aula diversos conceitos físicos e químicos, como constantes, ligações químicas, solubilidade, interações intermoleculares e várias
outras propriedades. É preciso que a química
seja percebida como algo útil e significativo e
isso ocorrerá na medida que o educador man-
Professor do Curso de Licenciatura em Química do ISED
Alunos do Curso de Licenciatura em Química do ISED/FUNEDI/UEMG
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Professor da FAMINAS
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tiver uma relação recíproca dos conhecimentos
científicos com o mundo atual e vivido pelos
alunos (VIEIRA, C.A. 2004).
Nesse contexto, o educador não pode limitar-se à condição de simples transmissor de conhecimentos presentes em programas, muitas
vezes, fora da realidade de atuação. Este deve
constituir-se como mediador do processo de
ensino- aprendizagem, desencadeando um programa de ensino, partindo das vivências de seus
alunos, possibilitando que os mesmos criem e
aperfeiçoem instrumentos práticos e teóricos
específicos da química, permitindo-lhes o início da compreensão do fato químico ligando a
natureza e a ação humana específica e que possam participar ativamente do contexto cultural
a que estão inseridos (ARROJO, 2001).
A grande parte dos alunos do ensino médio
carece de aulas experimentais que caracterizem
o sentido de estudar ciências, principalmente a
química, por ser considerada tão abstrata.
O proposto trabalho teve como objetivo a
elaboração de Kits experimentais, produzidos
com materiais alternativos, oferecendo, aos professores e alunos do nível médio, oportunidades de crescimento e ampliação dos conhecimentos químicos de uma forma descontraída e
aplicada.
pressuposto, o educando necessita visualizar tais
modificações, a fim de alcançar aprendizagem
efetiva. É importante apresentar ao discente
fatos concretos, observáveis e mensuráveis, uma
vez que os conceitos que o mesmo traz para a
sala de aula advêm, principalmente, de sua leitura do mundo macroscópico.
Dentro dessa óptica macroscópica, podem
ser entendidas também as relações quantitativas de massa, energia e tempo que existem nas
transformações químicas.
Nesse contexto, a escola deve assumir uma
nova postura, que leve o educando a pensar, a
lidar com novas tecnologias de maneira critica,
desenvolvendo competências e habilidades. No
entanto, o educador necessita repensar sua pratica educativa, buscando trabalhar de uma
maneira a despertar o interesse dos educados
deixando de lado práticas conteudistas que são
desmotivantes e não contribuem para a construção do conhecimento. Os docentes devem
se colocar como mediadores no processo de
aprendizagem, fazendo com que os educandos
aprendam a pensar a partir de experimentos,
atividades para uma melhoria do processo de
aprendizagem.
A SALA DE AULA E AS NOVAS TENDÊNCIAS
PARA SE ENSINAR QUÍMICA
As demonstrações químicas em sala de aula,
quando bem executadas, exibem muitas contribuições à proposta docente. Elas permitem o
melhor aprendizado e retenção de conteúdos
por parte dos alunos e é inegável a sua contribuição para estimular e despertar o interesse
dos mesmos na aprendizagem e prática de ciências. Esta prática também permite ser um instrumento pelo qual os professores podem demonstrar seus interesses e entusiasmos em relação à Química e a sua prática pedagógica,
sendo assim um meio de troca de experiências
importante entre os professores, enquanto “executadores” da demonstração e os alunos, en-
Em plena era do desenvolvimento tecnológico, com avanços significativos da informática
e telecomunicação, se faz cada vez mais necessário que as instituições de ensino se adaptem
com mais intensidade às mudanças ocorridas
na sociedade.
Para cada estagio do desenvolvimento do
mundo, a escola se confronta com novos desafios, de acordo com o ambiente em que está
inserida. A química é uma ciência que estuda
as transformações da matéria e, partindo desse
PAPEL E IMPORTÂNCIA DO EXPERIMENTO
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quanto espectadores. Os experimentos podem
ser apresentados de diversas maneiras, para ilustrar ou construir diversos tipos de conhecimentos, descrevendo os sistemas químicos em uma
escala macroscópica de fácil visualização aos
alunos, onde a percepção e impacto visual se
tornam importantes, possibilitando uma interação entre as transformações químicas e os conceitos vistos em sala de aula. Durante a exposição de um experimento, se bem planejado e
executado, a atenção do aluno pode estar voltada exclusivamente para aquela atividade, fazendo assim, com que este obtenha uma boa
resposta às indagações e observações sobre o
fenômeno apresentado. Logo, uma demonstração química pode promover o desenvolvimento do raciocínio científico, a assimilação do
método científico e o treinamento da capacidade de observação dos alunos, através do desenvolvimento de conclusões mentais do fenômeno químico apresentado. Esta experiência
pode ser por muitas vezes mais valiosa do que
simples práticas de laboratório que podem induzir apenas a reprodução de experimentos e
não a racionalização das reações químicas em
questão. Demonstrações, além de ilustrar ou
construir um determinado tópico de aula, podem ainda ser aliadas a materiais ou fenômenos observados no cotidiano, servindo de ponte entre um conceito que pode inicialmente parecer abstrato e coisas que vivemos no dia a
dia, que por muitas vezes nos passam despercebidos. Assim, um experimento pode servir
como janela para um novo tipo de observação
que os alunos posteriormente possam ter sobre
a realidade que os cerca, promovendo assim a
chamada Química do cotidiano, onde os conhecimentos podem ser abstraídos ou observados
também a partir de experiências comuns a todas as pessoas (SILVA, 2005).
Experimentos, se devidamente programados,
podem também promover a dinâmica na aula,
quebrando a “monotonia”, constante reclamaProfessores em Formação
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ção dos alunos em nível médio, trazendo um
clima atraente e agradável às aulas de Química, fator que pode ser aliado ao entusiasmo do
professor, despertando ainda mais o interesse
por parte dos alunos. Vale ressaltar ainda que
experiências em sala de aula possuem o aspecto de “ciência para todos”, trazendo a ciência
para sala de aula, facilitando o entendimento e
possibilitando o acesso do aluno à prática científica, muitas vezes entendida como sendo uma
atividade complexa e desenvolvida apenas por
uma classe específica de pessoas devidamente
“capacitadas” para essa função. Então, o desenvolvimento delas pode quebrar a barreira
existente entre o cientista e a sociedade (STRATHERN, 2002), trazendo a ciência de forma fácil
e atraente aos alunos. Uma vez que todos estão
habilitados a desenvolver práticas científicas,
mostra-se que nós mesmos podemos ser cientistas assim como desenvolvemos ciência na
maioria de nossas tarefas diárias, dando a certeza de que a Química nos acompanha em nossa jornada cotidiana.
EXPERIMENTOS DEMONSTRATIVOS
Um experimento demonstrativo pode ser
utilizado de duas maneiras distintas: ilustração
ou construção de conceitos.
No primeiro caso, cabe ao professor, em sua
aula, apresentar o experimento apenas com a
finalidade de ilustrar um determinado conceito. Nesta metodologia, a aula transcorre normalmente apresentando-se os conceitos a serem estudados e o experimento tem apenas a
incumbência de ilustrar ou justificar o fenômeno ou conceito apresentado. Um professor pode
realizar uma aula de Modelo Atômico de Bohr,
por exemplo, e apresentar um experimento de
espectroscopia de chama para justificar os conceitos anteriormente apresentados. Nesse contexto, a experiência justifica a teoria. Partimos
de uma base teórica e os resultados experimen-
2º semestre de 2010
tais apenas afirmam a validade da teoria em
questão. No segundo caso, o de construção,
cabe ao professor utilizar o experimento como
meio de formação de conceitos. Nesta metodologia, apresenta-se o experimento e a partir
dele, coleta-se dados e observações experimentais que servirão de base para a formulação de
um determinado enunciado ou para a construção de uma determinada teoria a ser apresentada. Neste caso, a teoria é que justifica o experimento. Parte-se de resultados experimentais e
apresenta-se uma teoria que justifique e preveja bem os mesmos. Podemos imaginar a mesma aula de Modelo Atômico de Bohr, onde se
realiza o experimento de espectroscopia de chama, e apresenta-se a teoria atômica coerente
com os resultados observados (SILVA, 2005).
MATERIAL E MÉTODOS
O “kit” experimental traz em seu conteúdo,
materiais que possam ser encontrados em farmácias, supermercado e outros. Para a confecção do caderno didático foram utilizadas práticas de fácil entendimento e visualização, sendo
que as mesmas não oferecem ricos aos alunos
e poderão ser realizadas em um curto espaço
de tempo. O caderno didático é composto pelos seguintes experimentos: Bafômetro, Indicador ácido base, Balão de hidrogênio, Preparando sorvete, Sobe desce químico, O submarino,
Osmose com batata, O balão e a agulha, Polímero meleca, Varinha mágica, Determinação
do teor aproximado do oxigênio no ar, Fervendo água na seringa, Qual dos dois é água?
Os materiais foram adquiridos em farmácias
de manipulação e lojas de fracionamento de
matérias primas, pois, uma vez “utilizados” poderão ser repostos. A caixa suporte dos materiais e reagentes foi adaptada com uma caixa de
ferramentas. Seringas e copos de plástico para
xaropes substituíram as vidrarias para medição
e colheres de plástico são sugeridas como me-
didas de massa. Os materiais e reagentes contidos no kit experimental foram calculados para
um total de 10 experimentos de cada item.
RESULTADOS
O trabalho proposto busca a construção de
uma ferramenta para auxiliar o educador no
processo de ensino – aprendizagem, consistindo de apostila teórica e material de trabalho,
vindo solucionar o problema da “falta de laboratório”.
O kit foi apresentado em oficinas de ideias e
feiras de ciências no município de Divinópolis
– MG e região, bem como exposição de trabalhos didáticos na disciplina de Prática de Ensino em Química, do curso de Licenciatura em
Química do Instituto Superior de Educação de
Divinópolis-ISED.
O resultado foi considerado satisfatório, pois
todos os professores e alunos que tiveram acesso aos experimentos demonstrativos contidos
no Kit, puderam perceber a facilidade de se “ter”
um laboratório móvel de química.
CONCLUSÕES
Conclui-se que as práticas experimentais
podem ser muito importantes para despertar o
interesse dos alunos, pois “rompem” com o
modelo tradicional de ensino. A experimentação desperta o interesse pelo desejo de aprender e contribui, de forma significativa, para a
aprendizagem.
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Superior de Educação de Divinópolis – ISED, ao Instituto de Ensino Superior
e Pesquisa-INESP e a FAMINAS.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARROYO,M. A Educação de Jovens e Adultos
em tempos de exclusão. Alfabetização e Cidadania nº 11, Abril 2001.
MATEUS, A.L. Química na cabeça. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
RODRIGUES, L.L; FILHO, N. J. G; SOUZA,
E.G; RIBEIROS, A.T; GIAMPEDRO, R.A. Perfil
do ensino de química na concepção dos professores do ensino médio de Itabuna e Ilhéus
(BA). ANAIS DO 11º SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – CIÊNCIAS EXATAS E DA
TERRA, 2003.
SILVA, F- F. Experimentos Demonstrativos no
Ensino de Química: Uma visão Geral. In CNNQ,
2005
STRATHERN, P. O Sonho de Mendeleiev - A
Verdadeir História da Química. 2002, Editora
Jorge Zahar, Rio de Janeiro.
VIEIRA, C. A. Análise de Roteiros para Aulas
Práticas de Química para o Ensino Médio Disponíveis na Internet. In Encontro Regional de
Química da SBQ. 2004.
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