VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA TEORIA DA LITERATURA I Rio de Janeiro / 2006 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Copyright 2006 Universidade Castelo Branco - UCB Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. U n3p Universidade Castelo Branco. Teoria da Literatura I. – Rio de Janeiro: UCB, 2006. 80 p. ISBN 85-86912-12-3 1. Ensino a Distância. I. Título. CDD – 371.39 Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Chanceler Prof.a Vera Costa Gissoni Reitor Prof. Paulo Alcantara Gomes Vice-Reitor de Ensino de Graduação e Corpo Discente Prof. Marcelo Hauaji de Sá Pacheco Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Sergio França Freire Filho Vice-Reitor de Gestão Administrativa e Desenvolvimento Marcelo Costa Gissoni Vice-Reitor de Ensino de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Prof. Samuel Cruz dos Santos Coordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenadores dos Cursos de Graduação Ana Cristina Noguerol - Pedagogia Denilson P. Matos - Letras Maurício Magalhães - Ciências Biológicas Sonia Albuquerque - Matemática Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a Distância - CEAD Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Supervisor do Centro Editorial – CEDI Joselmo Botelho Conteudista Neuza Maria de Sousa Machado Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em três unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares. As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das três unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2 e 3. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5- Sempre que tiver dúvidas entre em contato com o seu monitor através do e-mail [email protected]. 6 - Não pule etapas. 7 - Faça todas as tarefas propostas. 8 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 9 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 10- Não hesite em começar de novo. SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático.................................................................................................................. Contextualização da disciplina...................................................................................................................................... 11 12 UNIDADE I TEORIA DA LITERATURA E TEORIA LITERÁRIA 1.1- Conceituação............................................................................................................................................................ 1.2- Teoria da literatura: fronteiras.......................................................................................................................... 1.3- Teoria literária: alargamento interdisciplinar...................................................................................................... 1.4- Possibilidades e fundamentos da teoria literária............................................................................................... 1.5- O lugar da teoria literária....................................................................................................................................... 1.6- Estudo de textos teóricos...................................................................................................................................... 13 14 15 16 17 18 UNIDADE II TEORIA, ARTE E LITERATURA 2.1 - Arte e literatura ..................................................................................................................................................... 19 2.2 - As funções da literatura desde Platão e Aristóteles...................................................................................... 20 2.3 - Literatura e linguagem: as funções da linguagem e o discurso literário................................................... 23 2.4 - Periodização literária............................................................................................................................................. 24 2.5 - Literatura compromissada e a teoria da arte pela arte................................................................................... 67 2.6 - A literatura-arte e a indústria cultural................................................................................................................ 68 U NIDADE III A NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO 3.1 – O texto: texto-formato X texto-forma.............................................................................................................. 3.2 – Texto-objeto X texto-obra................................................................................................................................. 3.3 – Discurso metonímico X discurso metafórico................................................................................................ 3.4 – Mimésis platônica X mimésis (recriação)...................................................................................................... 3.5 – Catársis direta X catársis indireta................................................................................................................... 3.6 – Estudo de textos: poesias, narrativas, ensaios............................................................................................... Gabarito............................................................................................................................................................................ Referências Bibliográficas.............................................................................................................................................. 69 70 71 71 72 72 74 78 Quadro-síntese do conteúdo programático UNIDADE OBJETIVOS ESPECÍFICOS I - Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária - O que é crítica literária? - Por que fronteiras da Teoria da Lit.? - O que é Alargamento Interdisciplinar? - O que é literatura? - O que é texto técnico? Levar ao aluno informações que definem a situação do texto técnico (de informação, de entretenimento, paraliterário) em confronto com o texto-obra (Arte Literária), chamando a atenção para os aspectos que os diferenciam e que possam orientar teoricamente e criticamente suas leituras. - O que é texto-obra? - O que é arte literária? - O que é mimésis? - O que é catársis? - O que é análise literária? - O que é interpretação literária? - O que é interdisciplinaridade? - Quais os pontos de vista teórico-críticos atuais que direcionam os estudos literários? II - Teoria, Arte e Literatura - Estilo individual e estilo de época Levar o aluno a distinguir o estilo individual do estilo de época. III - A Natureza do Fenômeno Literário - Periodização e História da Literatura Levar o aluno a identificar os estilos de época, reconhecer suas diferenças e semelhanças, desenvolvendo, desta forma, o senso crítico. 11 12 Contextualização da Disciplina A disciplina Teoria Literária I abrirá um leque de informações que serão utilizadas no decorrer do curso, preparando o aluno para as outras disciplinas que se sucederão. Essa disciplina serve como alicerce para o conhecimento e aprimoramento do aluno no âmbito de toda a literatura e das disciplinas afins. Este conhecimento básico é de relevante importância, já que, além de se explorar todas as possibilidades e fundamentos da teoria literária, além de um reconhecimento da natureza do fenômeno literário, o aluno terá condições de se disciplinar a estudar, desenvolvendo o senso crítico e formando a sua própria bibliografia para estudos posteriores. Desta forma, ele sentir-se-á apto e seguro em suas atividades profissionais e acadêmicas. As informações, contidas nesta disciplina, tendem a provocar no aluno o gosto pelo crescimento intelectual e levá-lo a pesquisas posteriores, desenvolvendo e ampliando o seu conhecimento ao longo do tempo. Sem este conhecimento básico, o aluno não conseguirá atingir o necessário para o seu desenvolvimento intelectual, ético e profissional. UNIDADE I 13 TEORIA D A LITERA TURA E TEORIA LITERÁRIA DA LITERATURA Objetivo Específico: · Levar ao aluno informações teórico-críticas que definem a situação do texto literário, chamando a atenção para aspectos que o tipifiquem e que possam orientar a sua leitura. 1.1 - Conceituação CONCEITO: [Do latim conceptu: Representação de um objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais (Filosofia) // Ação de formular uma idéia por meio de palavras; definição, caracterização. Exemplo: “O professor deu-nos um conceito de beleza absolutamente subjetivo”. // Pensamento, idéia, opinião. Exemplo: “Emitiu conceitos reveladores de grande competência”. // Noção, idéia, concepção. Exemplo: “Seu conceito de elegância está ultrapassado”. Apreciação, julgamento, avaliação, opinião. Exemplo: “Não tenho conceito formado sobre este assunto”. // Avaliação de conduta e/ou aproveitamento escolar // Ponto de vista, opinião. Ex.: “No meu conceito, a família agiu mal com o rapaz”. CONCEITO DE TEORIA: TEORIA : Do grego theoría, “ação de contemplar”, “examinar”, “estudo”; “conhecimento especulativo, meramente racional”, “conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou ciência”, “opiniões sistematizadas”, “noções gerais”, “suposição”, “hipótese”; definição, caracterização. CONCEITUAR: Formular conceito (de ou acerca de). Exemplo: “Freud conceituou o inconsciente”. // Formar conceito acerca de; julgar, avaliar. Exemplo: “É pessoa indicada para melhor conceituar os candidatos”. // Fazer conceito; formar opinião de; classificar; avaliar; etc. CONCEITO DE TEORIADALITERATURA: Ciência que possibilita a análise das camadas visíveis do texto literário. (Ponto de vista analítico // ponto de vista cientificista). CONCEITO DE TEORIA LITERÁRIA: Ciência que possibilita a análise e interpretação das camadas visíveis e invisíveis do texto literário; Análise e interpretação das linhas e entrelinhas; Ciência do Conhecimento. (Ponto de vista fenomenológico). CONCEITO DE LITERATURA: LITERATURA [Do latim litteratura]: Arte de compor trabalhos artísticos em prosa ou verso. // O conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época. FUNÇÃO DALITERATURA: FUNÇÃO [Do latim functione]: Utilidade, uso, serventia. Exemplo: “Esta caixa não tem função”. // Literatura: Cada uma das finalidades que se atribuem aos enunciados; etc. VALOR DALITERATURA: VALOR [Do latim valore]: Qualidade de quem tem força; audácia, coragem, valentia, vigor. Exemplo: “Grande o valor dos bandeirantes que desbravaram nossas terras”. // Qualidade pela qual determinada pessoa ou coisa é estimável em maior ou menor grau; mérito ou merecimento intrínseco; valia. Exemplo: “É profissional de alto valor”. // Importância de determinada coisa estabelecida ou arbitrada de antemão. Exemplo: “Qual o valor do valete no pôquer”? // Validade. Exemplo: “Seu argumento não tem valor”.; etc. Pelo ponto de vista da Teoria: · Qual é a finalidade (função) da literatura? · Qual é a finalidade da literatura técnica (ou PARALITERÁRIA)? · Como conceituar literatura-arte? Daí, então, podemos concluir que a literatura-arte (texto-obra = recriação da realidade) é diferente da literatura técnica (texto-objeto = cópia da realidade). 1 - A obra literária cria seu próprio mundo, não sendo, portanto, uma cópia da realidade. 14 2 - A criação deste mundo será feita através da palavra que comporá imagens ficcionais. 4 - É por intermédio da análise que o analista decompõe a camada visível do texto literário. 3 - Diante da resistência que a própria palavra oferece, o escritor volta-se ao mundo real, onde se alimentará para continuar criando seu mundo de ficção (recriação da realidade = realidade ficcional). 5 - É por intermédio da interpretação que o leitor resgata e suplementa as camadas ocultas (entrelinhas) do texto-arte. Exercícios de Auto-Avaliação Após a leitura atenta do conteúdo desenvolvido, responda às perguntas solicitadas, recorrendo, se necessário, à bibliografia indicada. 1 - Por que a literatura não pode ser definida, mas apenas conceituada? 2 - Por que a obra literária (texto-arte) não é uma cópia da realidade? 3 - Que papel desempenha o leitor (analista e/ou intérprete) de uma obra literária? Explique a importância desse papel. 4 - Por que, por outro lado, a obra literária não pode ser inteiramente desvinculada da realidade, embora não necessite ser uma cópia dela? 5 - Estabeleça a distinção entre imagem mental e imagem ficcional. 6 - O que se entende por resistência oferecida pela palavra, na criação de uma obra literária? Leitura Complementar Para maior esclarecimento sobre os conceitos de literatura, leia o livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974. e/ou o livro de Rogel Samuel, Novo Manual de Teoria Literária, Petrópolis: Vozes, 2005. 1.2 - Teoria da Literatura: Fronteiras FRONTEIRA: Limite, raia; extremo, fim, termo; contorno; separação entre um sistema e o seu exterior. Fronteira-faixa // Tipo de fronteira representado por fortificações ou obstáculos defensivos. Fronteira-viva // Tipo de fronteira resultante de lenta evolução histórica e de acumulação, fronteira de tensão; etc. TEORIADALITERATURA: FRONTEIRAS · Estudo analítico do texto literário; · Análise apenas das camadas visíveis do texto literário; · Limita-se aos estudos formalistas e/ou estruturalistas; · Ponto de vista cientificista. TEORIA DE EXCLUSÃO DO SILÊNCIO: “Movendo-se numa ordem epistêmica que exclui o silêncio, as teorizações vigentes preservam a dicotomia. Para elas o silêncio está fora do discurso. E é por esta fresta que passam os cortes ou as diferentes espécies formalizadas. Ao contrário do que se verifica na Poética de Aristóteles, os cortes, diacrônicos, sincrônicos – escolas, gêneros – , não estão a serviço da integração, mas da fragmentação. Esse tipo de Teoria Literária, predominantemente linear e unidimensional, talvez não saiba que a poesia se esconde nos abismos da estrutura” (PORTELLA, 1974: 15-6). VOCABULÁRIO: 15 Episteme: Grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos ramos, especialmente para apreciar seu valor para o espirito humano. Dicotomia: Divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam a extensão. Exemplo: animal = vertebrado e invertebrado / ser humano = corpo e alma. Leitura Complementar Para maior esclarecimento sobre a teoria de exclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”, primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p. 7-18. 1.3 - Teoria Literária: Alargamento Interdisciplinar · Estudo analítico-interpretativo do texto literário; · Análise e interpretação das camadas visíveis (linhas) e invisíveis (entrelinhas) do texto literário; · Aceita a contribuição de disciplinas afins para o correto desvelamento do texto literário, inclusive a contribuição da análise cientificista; · Ponto de vista fenomenológico. ALARGAMENTO INTERDISCIPLINAR ATENÇÃO: É uma natural conseqüência do seu progresso técnico. Utiliza-se de uma metodologia alternada: TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LITERÁRIA + CONTRIBUIÇÃO INTERDISCIPLINAR ANTROPOLOGIA TEXTO LITERÁRIO LINGÜÍSTICA PSICOLOGIA DIREITO SOCIOLOGIA TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LIT. SEMIOLOGIA FILOSOFIA HERMENÊUTICA ETC. * Disciplinas aparentemente dissociadas; * União para a DECIFRAÇÃO do enigma do homem. A HERMENÊUTICA LITERÁRIA: “De acordo com Ricoeur e Gadamer, a hermenêutica vê os textos como expressões da vida social fixadas na escrita, através de fatos psíquicos, de encadeamentos históricos. Sua interpretação consiste, então, em decifrar o sentido oculto no aparente e desdobrar os diversos graus de interpretação ali implicados. Só há interpretação quando houver ambigüidade, e é na interpretação que a pluralidade de sentidos se torna manifesta. 16 Na realidade, a hermenêutica é a compreensão de si mediante a compreensão do outro: o máximo de interpretação se dá quando o leitor compreende a si mesmo, interpretando o texto. A tática da interpretação aparece sempre que há ambigüidade, mas compreender não significa a repetição do conhecer. A hermenêutica postula uma superação: ela se quer uma teoria e uma arte, fazendo da leitura uma nova criação; e dela se exige uma reflexão que leve à ação. A hermenêutica está mais interessada nas questões do que nas respostas. Só quando compreende o sentido motivador da pergunta pode começar a procurar a resposta; temos de compreender o que se esconde por trás da pergunta. Só podemos compreender os enunciados se reconhecermos neles nossas próprias perguntas, num equilíbrio entre nossos impulsos conscientes e nossas motivações inconscientes” (SAMUEL, 2005: 86). TEORIA DE INCLUSÃO DO SILÊNCIO: “A Teoria Poética, fundada na transmanência, abre lugar para a instauração da identidade do silêncio na diferença do corte. A voz do poema fala mais alto quando se cala, já que o silêncio não é o espaço vazio porém o máximo de concentração da fala. O poeta silencia porque o discurso pode menos que a poesia. E por isso o mais importante não é o que se exibe sobre as linhas, porém o que se oculta nas entrelinhas. O silêncio é a força da experiência confrontada com a fraqueza da expressão. A leitura poética, transmanente, inclusiva, processase para além do código manifesto da língua e mesmo na dinâmica latente. Confunde e integra esses níveis. Aí, neste ponto de convergência ou de tensão, penso localizar-me; mas para abrir sempre mais o diâmetro do compasso” (PORTELLA, op. cit.: 16). Leitura Complementar: Para maior esclarecimento sobre a teoria de inclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”, primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p. 7 - 18. 1.4 - Possibilidades e Fundamentos da Teoria Literária POSSIBILIDADE: Qualidade de possível, do que pode acontecer (muito, pouco). POSSIBILIDADE REAL: Poder, faculdade. POSSÍVEL: Que pode ser, acontecer ou praticar-se. FUNDAMENTO: base, alicerce; razões ou argumentos em que se funda uma tese, ponto de vista, etc.; razão, justificativa, motivo. PRÁTICA LITERÁRIA LITERATURA è sujeito ou objeto? “A teoria literária reúne uma coleção de ciências que alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de “teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária” se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra, da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura como objeto do saber. A primeira tarefa da teoria literária consiste em saber o que é literatura. A teoria literária funda um tipo de atividade intelectual chamada crítica literária. Muitas vezes só conhecemos a crítica, da qual se depreende a teoria. Por exemplo: os estudos de psicanálise de Freud ou a crítica da economia política de Marx, apesar de não serem literários, influenciaram nossos estudos. Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é a literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o texto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultos do seu saber?” (SAMUEL, 2005: 7). 1.5 - O Lugar da Teoria Literária Teoria Literária e Crítica Literária O lugar da Teoria Literária: Disciplina de configuração autônoma (porém de caráter interdisciplinar). CRÍTICA TEORIA (núcleo) MÉTODO Pratica concretamente o sistema de ensino do literário; Suporte para ensinar o literário. “A Teoria Literária [a partir do século XX] assumiu repentina e peculiar importância no quadro cada vez mais amplo dos estudos literários. (...) Não que o lugar da Teoria Literária, desde as mais remotas lições da Poética ou da Retórica, até os mais recentes compêndios de comunicação e expressão, houvesse sido um espaço em branco. Não. Mas é certamente agora 1 que ela atinge o seu conveniente status universitário, identificando-se como disciplina de configuração autônoma porém de caráter rigorosamente interdisciplinar. Podemos até afirmar, sem receio de incorrer em qualquer deslize mitômano, que a Teoria Literária é o núcleo que implementa, crítica e metodologicamente, todo o sistema de ensino das literaturas. Nenhuma literatura particular, no seu modo de produção universal, pode ser estudada e ensinada sem o necessário suporte teórico. Isso [o necessário suporte teórico] não nos autoriza a desequilibrar, sob qualquer pretexto, as relações de poder vigentes na contracena das disciplinas literárias. É este o único limite que não pode ser violado; e ele impede a Teoria Literária de transformar-se numa disciplina dominadora e repressiva” (PORTELLA, op. cit.: 7). “A Teoria Literária não pode ser hipostasiada como a proprietária suprema da verdade poética. Até porque devemos duvidar da própria verdade poética, pelo menos nas suas formas institucionalizadas. E além do mais, como se não bastasse o reconhecimento da feição disseminada do objeto literário, as modificações ou 1 AGORA = ANOS 1960/1970 NO BRASIL acréscimos, que foram sendo historicamente incorporados à sua estrutura, invalidaram os conceitos imóveis e intocáveis, exigindo, a partir desse ângulo aberto, uma amplitude ótica capaz de surpreender a verdade poética para além do âmbito restrito das diferentes espécies poemáticas. Aqui recebe um novo impulso problemático a controvertida questão das escolas e gêneros literários. E é claro que uma proposição metodológica circular e simultânea terá de reconhecer nessas categorias apenas processos de estruturação, valorizados sem dúvida como instâncias pedagógicas insubstituíveis. Porque fora desse prisma a força classificadora se reduz e se anula, especialmente hoje quando se tornam incompatíveis a função sincrônica dos gêneros e a imagem pancrônica da cultura planetária” (Ibidem: 8). VOCABULÁRIO: Peculiar: especial; Mitômano: mistificação; Implementa: pratica concretamente; Hipostasiada: divinizada; Disseminada: divulgada; Proposição: proposta; Instâncias: recursos; Sincrônica: que ocorre ao mesmo tempo // dentro do tempo; Pancrônica: tudo ao mesmo tempo. 17 18 1.6 – Estudos de Textos Teóricos Os estudos de textos teóricos serão necessários no decorrer do período letivo. Além dos textos que serão oferecidos pelo tutor, o aluno poderá complementar o seu aprendizado sobre Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária lendo os livros apresentados na Bibliografia. Leituras Complementares Livros recomendados: CULLER, Jonathan. Teoria Literária. Tradução: Sandra Guardini T. de Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999. PORTELLA, Eduardo. Teoria Literária, 1. ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974. SAMUEL, Rogel (org.). Manual de Teoria Literária. 13. ed., Petrópolis: Vozes, 1999. SAMUEL, Rogel. Novo Manual de Teoria Literária. 3. ed., Petrópolis: Vozes, 2005. UNIDADE II 19 TEORIA, ARTE E LITERA TURA LITERATURA Teoria Literária • Fornece elementos para a apreensão do Fenômeno Literário; • Aberta às múltiplas dimensões da Literatura; • Caráter interdisciplinar e, ao mesmo tempo, independente; • Não pode estar desvinculada do contato profundo e constante com o texto literário (a teoria nasce do texto e para ele se volta; o texto literário guarda a teoria, implícita ou explicitamente). “A Teoria Literária assume um caráter interdisciplinar porque assimila os conhecimentos de ciências afins tais como a sociologia, a antropologia, a lingüística, a história, a psicanálise, todas voltadas igualmente para manifestações do ser e do fazer humanos. Este inter- relacionamento amplia e enriquece o estudo da Literatura. (...) A crítica, qualquer que seja a via de acesso escolhida (sociológica, psicológica, lingüística...), não pode descartar-se de sua dupla feição: enquanto crítica obedecerá a um rigor, que lhe é garantido pelo método de abordagem, e, enquanto literária, incluirá literariamente o sentido que, na literatura, ultrapassa o campo do conhecimento com o qual se articulou, na construção do modelo de leitura” (SOARES, Angélica. In SAMUEL (org.), 1999: 90 - 1). “A Teoria Literária reúne uma coleção de ciências que alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de “teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária” se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra, da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura como objeto do saber” (SAMUEL, 2005: 7). 2.1 – Arte e Literatura Arte “A arte abala, cria um clima de tensão, transfere e liberta, ou promete libertar. A arte cria uma tensão para provocar a libertação. Ao libertar a tensão, libera a liberdade. A liberdade é o fim de toda a tensão, mas só é conseguida depois da tensão de uma crise a liberdade é catártica, conseguida após o extremo” (Ibidem: 12) Sintetizado: “A arte não se pode identificar com um utensílio. A arte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria arte. A arte não deve ter finalidade, porque ela é uma finalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é, não tem finalidade fora de si mesma” (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL (org.), 1999: 12). 20 Literatura -Literatura (ARTE LITERÁRIA): Caracteriza-se pela pluralidade de sentidos, ou seja, é plurissignificativa; realidade cria um impasse, cuja solução é a catarse, que é conseqüência da mimese” (Idem, 2005: 12). -Literatura (ARTE LITERÁRIA): “Quando a literatura faz a mimese da ação humana, intensificando a percepção, distorcendo a realidade, pressiona o discurso com suas promessas de liberdade. O potencial próprio da arte reside nisso: a não-identificação com a - “A literatura faz parte do produto geral do trabalho humano, da cultura. A cultura de um povo se realiza, em diversos sentidos, nas ciências e nas artes. É um conjunto de fatos e hábitos socialmente herdados, que determina a vida dos indivíduos” (Ibidem: 9). 2.2 – As Funções da Literatura Desde Platão e Aristóteles FUNÇÃO (etimologia): Do latim functio; -önis: trabalho; exercício de órgão ou aparelho; execução; funcionamento; prática; uso; cargo, espetáculo; solenidade; cumprir; desempenhar; exercer; executar; satisfazer; fruir. Função: - Atividade natural ou característica de algo (elemento, órgão, engrenagem, etc.) que integra um conjunto, ou o próprio conjunto; - Obrigação a cumprir, papel a desempenhar, pelo indivíduo ou por uma instituição (por exemplo: a função de mediador em um conflito); - Emprego, exercício, atualidade de um cargo (por exemplo: estar ou entrar em função); - Uso a que se destina algo; utilidade, emprego, serventia (por exemplo: uma única ferramenta com variadas funções); - Qualidade do que tem valor, resulta em proveito (por exemplo: para os alunos de Letras, estudar Teoria Literária ainda tem sua função); - Reunião social; solenidade, festa (por exemplo: não compareceu àquela função para a entrega dos prêmios). “Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o texto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultos do seu saber?” (Ibidem: 7) As Funções da Literatura desde Platão e Aristóteles “A história, reflexo das realizações humanas, é dinâmica, o que não impede que levemos em consideração a existência de certas convenções estéticas de que a obra participa e que lhe dão uma certa modelização. Toda obra artística é autônoma em sua validade estética, mas não é independente da cultura de sua época e das influências da cultura de épocas anteriores: assim como nós, seres humanos, que também temos as nossas marcas genéticas e as que vamos adquirindo na nossa trajetória existencial, que nos tornam diferentes dos outros seres com quem convivemos e, ao mesmo tempo, semelhantes a eles, em se tratando de elementos comuns a nossa condição humana. Precisamos estar alertas para reconhecermos e acolhermos as novas possibilidades criadoras que realmente possam participar da grande família composta através dos tempos pelos gêneros literários. É de capital importância frisar que a obra literária, sendo um organismo formado de múltiplos aspectos, onde se articulam elementos morfológicos, sintáticos, semânticos, imagísticos, simbólicos, fônicos, rítmicos, etc., que articulados a outros aspectos particulares aos gêneros dos quais participa mais intimamente, não pode ser reduzida a um mero catálogo de regras apriorísticas. Outro problema que se coloca com bastante nitidez é o da possibilidade ou não de uma mesma obra conter elementos característicos de vários gêneros. Durante alguns momentos históricos não se admitiu a contaminação dos gêneros literários, da mesma forma que não se admitiam contaminações em outras esferas da vida, como, por exemplo, na social, na política e na religiosa. A visão do mundo ou ideologia de uma época sempre se refletirá no fato cultural. Mas o que deixou muitas vezes os críticos confusos foi não terem eles podido explicar aquelas obras que não se enquadravam nos modelos estabelecidos e que, numa análise mais meticulosa, mostravam-se rebeldes às convenções e cheias de novas propostas. O remédio muitas vezes foi recusá-las como obras de valor, por falta de parâmetros norteadores. Foi o caso do romance, por exemplo, que só no século XIX encontrou a sua verdadeira expansão como gênero. Com a nova visão crítica do século XX, e aqui poderíamos usar o plural, voltada mais para o conhecimento intrínseco da obra literária, o estudo dos gêneros literários viu-se enriquecido, pois agora pode-se ter a liberdade de compreendê-los em toda a sua importância e substancialidade, e em sua utilidade na elucidação de certos comportamentos estéticos, sem a preocupação de aceitá-los através de uma visão compartimentada e empobrecedora da obra literária. Que o estudo dos gêneros literários sirva de meio para se chegar à compreensão global da obra, mas não de princípio básico norteador de um conhecimento que se queira mais totalizante. E não nos esqueçamos de que, para podermos empreender uma visão profunda do fato literário, é necessário que levemos em conta a sua gênese” (CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.), 1999: passim 30-63). Conceituação Historiográfica “Nos livros III e X da República, Platão se refere aos gêneros literários, estabelecendo então as três categorias: poesia épica, poesia dramática e poesia lírica. Como base desta tripartição dos gêneros, no livro III, leva em consideração o grau de imitação (mimésis) que cada um estabelece em relação à realidade. A poesia dramática, por ele chamada de mimética, era a que imitava os homens em ação. A poesia lírica, que não imitava os homens em ação, caracterizando-se mais por seu aspecto subjetivo, era não mimética. A poesia épica era a que participava dos dois procedimentos anteriores, sendo, portanto, um tipo de poesia mista (utilizava tanto o diálogo direto, quanto a narração). Posteriormente, no livro X, irá abolir essa distinção a partir da mimésis, considerando toda poesia como mimética, isto é, como imitação da natureza. Mas continuará a manter a tripartição anterior. A teoria platônica dos gêneros literários só pode ser entendida, mais radicalmente, se a articularmos com o pensamento do filósofo sobre o “mundo das idéias” e o mundo onde habitamos. (...) O conceito de gêneros literários encontrou em Aristóteles, filósofo grego que viveu no IV século a. C. (384 a.C. a 322 a.C.), um vasto campo de reflexão. Sua doutrina permanece ainda atual, devido à grande sensibilidade e ao espírito científico com que marcou a sua Poética, obra dedicada principalmente ao estudo da tragédia e da epopéia. Realizando profundas investigações no campo da estética, da retórica e da poética, reconheceu a existência de três gêneros fundamentais, ou de três formas essenciais em que pode se apresentar o fenômeno poético: o gênero épico, o gênero lírico e o gênero dramático. Aristóteles abordou o problema à luz da observação das obras literárias gregas, e aprofundou a sua visão do fato, pela constatação da importância do conteúdo na classificação de uma obra dentro de um gênero determinado. Deduzimos daí que para ele o gênero literário é uma determinada forma que deve estar em consonância com o conteúdo e com a maneira como este é comunicado ao leitor. (...) Horácio, poeta latino que viveu de 65 a.C. a 8 a.C., na sua obra Epistula ad Pisones, considerada sua arte poética, desenvolve com segurança alguns problemas referentes à criação poética e, entre eles, os gêneros literários. Segundo ele, o poeta deve adaptar os assuntos tratados ao ritmo, tom e metro adequados ao estilo próprio de cada gênero. Isto significa que cada tema deverá ter a sua forma própria, não se admitindo hibridismos. A teoria poética horaciana creditava à criação literária uma finalidade moral e didática, instrumento de educação e de prazer, cujas regras deveriam ser rigidamente respeitadas, segundo modelos ideais. O Renascimento recuperou os preceitos já conhecidos das poéticas aristotélica e horaciana. Segundo os críticos da época, a poesia, para atingir o grau de universalidade, deveria ser realizada segundo modelos prefixados pelos tratados ou artes poéticas até então difundidos. O conceito de imitação aristotélico foi levado às últimas conseqüências, interpretado como cópia da realidade e não como recriação. No caso específico dos gêneros, conceberam-nos como cópias fiéis dos modelos grecoromanos. (...) Esses princípios foram confirmados no período denominado Neoclassicismo ou Classicismo Francês. Cada gênero ou subgênero possuía os seus temas específicos, seu estilo próprio e seus objetivos peculiares. Esta época, século XVII e inícios do século XVIII, reflete o pensamento da aristocracia, classe dominante política e socialmente, que não admitia questionamentos sobre a validade do seu poder e cuja visão de mundo irá determinar, no campo artísticoliterário, uma maior valorização de alguns gêneros (epopéia e tragédia) em detrimento de outros (lírica e comédia). (...) Mas sabemos que havia outras posições paralelas e divergentes no cenário do século neoclássico, que refletiam idéias favoráveis a uma maior abertura do conceito de gêneros literários. Tem início na França a célebre querela dos Antigos e dos Modernos. Os Antigos, firmados nos modelos greco-latinos, negavam a possibilidade de se estabelecerem novas regras para os gêneros tradicionais, enquanto os Modernos advogavam a superioridade das literaturas modernas em relação à literatura greco-latina, recusando-se a aceitar a intemporalidade das normas clássicas. Obras 21 22 com características híbridas, como as de Lope de Veja e Calderón de la Barca, foram motivo de violentos ataques por parte dos Antigos. Em meados do século XVIII surge o movimento alemão denominado STURM UND DRANG (Tempestade e Ímpeto) que questionará violentamente as posições rígidas neoclássicas, substituindo a teoria tradicional dos gêneros pela crença na autonomia de cada obra literária. Abre-se caminho para a doutrina romântica que apregoava uma melhor fundamentação teórica sobre o assunto, baseada em elementos intrínsecos e filosóficos. (...) A partir da segunda metade do século XIX, o positivismo e o naturalismo, juntamente com as teorias evolucionistas de Spencer e Darwin, irão influenciar toda a cultura européia. Destacamos o crítico Brunetière (1849-1906), que tentará reabilitar o conceito de gêneros, comparando-os a organismos vivos, com nascimento, crescimento, morte ou transformação. Nesta concepção, os gêneros, assim como os homens e a história, estavam sujeitos às leis da evolução natural da espécie. (...) Contra a teoria de Brunetière surge a Estética de Benedetto Croce (1902). Segundo ele, não se pode distinguir e dividir a unidade intuição-expressão, que está na base do processo criador. Os gêneros, se concebidos como formas modelizadoras, aprisionariam a criação e fragmentariam a totalidade da obra. (...) Teorias mais modernas [meados do século XX], como a de Warren e Wellek, expostas no livro Teoria da Literatura, não contradizem a doutrina aristotélica, mas lhe acrescentam novos princípios. Gêneros literários, segundo estes autores, representam uma soma de artifícios estéticos que modelam as obras literárias e atuam tanto sobre a forma exterior (metro, ritmo, rima, etc.), quanto sobre a forma interna (atitude, tom, propósito, assunto). (...) Outra posição bastante inteligente é a de Emil Staiger que, em seus Conceitos Fundamentais da Poética, propõe o estudo dos gêneros através da captação da “essência” dos três estilos básicos: o lírico, o épico e o dramático. Seu objetivo é provar a presença da essência do homem nos domínios da criação poética” (ARAGÃO, Maria Lúcia. In SAMUEL (org.), 1999: 6672). Século XX – Final “Como elemento de cultura, a arte literária é hoje um reduto de luta que protesta contra a utilização instrumental do homem pela técnica. É um momento do espírito humano em que o homem se redescobre como ser cultural. A literatura baseia-se na percepção da alma por si mesma e em si mesma, disse Hegel. Representa o espírito para o espírito, representando o interior e a exterioridade que sempre revela a interioridade do humano. A literatura é capaz de representar um objeto em toda a sua íntima profundidade. O espírito se objetiva para si mesmo através da fantasia da imaginação. A imaginação é pois a base geral de todas as formas artísticas, ela é a matéria sobre a qual a arte trabalha. A literatura trabalha para o desenvolvimento da intuição interior, seu objetivo é o reino do espírito humano. A missão da literatura, como fato cultural, é evocar a potência do espírito, tudo aquilo que nas paixões e nos sentimentos humanos nos estimula e nos comove. Esses estímulos estão a serviço da transformação da sociedade. É a emoção, a subjetividade, o principal motor de transformação social” (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL (org.), 1999: 10). Século XXI – 2006 “A literatura de hoje se revela contra a “ideologia” do gênero. O poema [por exemplo] revela esta luta ideológica e a linguagem do homem no mundo tecnológico está na linguagem e ideologia do poema. A literatura, como todas as artes, tornou-se autônoma, mas essa autonomia da arte sempre considera a liberdade num domínio particular, liberdade dentro do espaço da própria arte. Isto cria uma contradição com o estado de não-liberdade no todo social. (...) O problema é encontrar um espaço literário onde a literatura continue a fazer a crítica da ideologia dominante, fora do âmbito do poder. Existirá este espaço? Poderá a literatura deixar de ser um “bem cultural”, com fins comerciais, ao nível dos outros produtos, como os produtos eletrônicos? Tendo perdido a sua “aura” há mais de um século, existirá ainda a literatura? E a questão do gênero se coloca. (...) Talvez, o maior desafio que o conceito de gênero põe para a teoria contemporânea é a sua recusa a desaparecer. Embora variável, ele permanece uma característica da arte verbal. Como Fowler insiste, a literatura não pode sair do gênero sem cessar de ser literatura” (Idem, 2005: passim 51-59). 2.3 – Literatura e Linguagem: As Funções da Linguagem e o Discurso Literário Literatura - Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou em verso; - O conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época; - Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral, literatura erudita, literatura popular, literatura de massa, etc. Linguagem - O uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e comunicação entre pessoas; - A forma de expressão pela linguagem própria de um indivíduo, grupo, classe, etc. Por exemplo: linguagem infantil; - O vocabulário específico usado numa ciência, numa arte, numa profissão, etc.; língua; - Sistema de signos; - Etc. As Funções da Linguagem e o Discurso Literário OBSERVAÇÃO PRELIMINAR: Este item do Programa segue regras formalistas e estruturalistas ( ponto de vista cientificista, analítico, dos anos iniciais do século XX ). O aluno de Teoria da Literatura deve buscar nos conceitos da disciplina Lingüística um melhor entendimento sobre o assunto (interação interdisciplinar). “Tendências críticas aparecem no século XX [início do século XX] enfatizando a literariedade do texto literário como um fato lingüístico, e centrando o significado de um poema nos padrões internos da imagem, metáfora, paradoxo e ironia. (...) Os formalistas russos e o estruturalismo francês foram influenciados pela lingüística de Ferdinand de Saussure, que desenvolveu a tese de que as regras que determinam um idioma constituem um sistema no qual a função ou significado de uma determinada unidade lingüística é determinada por sua relação com outras unidades do sistema global. (...) O estruturalismo salientou que a literatura, como o idioma, tem uma gramática própria, uma estrutura que a permite comunicar-se e gerar significados, como as convenções de gênero. (...) Para os estruturalistas, os gêneros não são sistemas de classificação, mas códigos de comunicação” (Ibidem: passim 50-3). “Segundo Foucault, o estruturalismo preserva uma última ilusão: a de tentar apresentar o mundo para a consciência como se ele fosse feito para ser lido pelo homem (...). A instabilidade desta última ilusão é a tarefa da teoria do pós-estruturalismo. Enquanto o estruturalismo se tornou possível por noções de diferença e de linguagem como um contrato social, o pós-estruturalismo vai além dos limites percebidos do pensamento” (Ibidem: 128). “A literatura estrutura conceitos chamados textos. Constituem textos os poemas, as narrativas e os dramas (ou peças teatrais). Tudo é ficção, matéria da imaginação da realidade, uma força, uma não aceitação da realidade tal como se apresenta. (...) Logos, diz Wittgenstein, significa que o discurso não pode falar de si mesmo, a não ser que se coloque antes da possibilidade do próprio discurso. O processo da literariedade se concentra no interior desta dinâmica de logos. A literatura, apreensão do real. Esta capacidade de apreender o real é a literariedade. E a literatura tem esta capacidade, esta propriedade, devido a dois fatores: a linguagem, entendida como aquilo que nos capacita dizer aquilo que dizemos; e a idéia ou ideologia, entendida como a apreensão do real que há naquilo que dizemos” (Ibidem: 14). 23 24 Ponto de Vista Atual: Discurso Literário: “Sendo a literatura uma forma de apreensão do real, é ideológica, pois sua mimese passa por um código ideológico. Os dois fundamentos – linguagem e ideologia – caracterizam a escrita do texto de arteliterária. São duas propriedades da escrita e dão a esta definição uma dimensão focalizada e um propósito definido, possível de perceber: porque se a linguagem é aquilo que nos capacita dizer o que dizemos, seu dizer não se dá sobre um vazio semântico, o que ele diz é ideológico, e sua capacidade de dizer manifesta a linguagem” (Ibidem: 15). 2.4 - Periodização Literária Objetivo Específico (Ponto de vista cientificista): · Levar o aluno a distinguir o estilo individual do estilo de época. Como já examinamos alguns conceitos de literatura, vale ressaltar aqui três conclusões importantes que serão comentadas ao longo desta unidade: 1. A literatura é a arte da palavra. 2. A literatura revela uma realidade. 3. A literatura, como arte, proporciona um prazer estético. A literatura será vista, portanto, da seguinte forma: a) segundo o instrumento usado pelo criador (a palavra); b) segundo o objeto de atuação (a realidade); c) segundo o modo de atuar (a revelação); d) segundo o objetivo básico a que pretende (o prazer estético). A literatura, como arte, corresponde a um sistema de signos, mas um sistema especial que se vale de outro.– a língua utilizada pelo escritor. A língua é o principal código de que dispõe o homem para a realização de sua fala. O escritor, por sua vez, escolherá, entre as diversas possibilidades de expressão, aquela que se adapte à sua forma peculiar de encarar a realidade. É nesta escolha que reside o estilo de cada um com maior ou menor singularidade. Assim como existem objetos que despertam a nossa inteligência, que nos chocam, que nos impressionam e nos sensibilizam, assim também acontece com palavras – umas no domínio da afetividade; outras, no da intelectualidade. Às vezes nos afastamos das normas lingüísticas em nome de uma expressão mais pessoal, mais individual. Criamos um estilo próprio, sem a preocupação com as normas gramaticais. Aqui reside a diferença entre o campo de ação da estilística e o campo de ação da gramática. O texto literário corresponde à criação artística. Logo, o estilo individual está a serviço desta criação. Cada um de nós tem um estilo próprio na comunicação diária, sem preocupações artísticas. A linguagem literária se caracteriza, sobretudo, pela conotação, apesar de utilizarmos esse tipo de linguagem no cotidiano. Mas é importante ressaltar que, num texto literário, aquilo que as palavras representam vai além do conteúdo lógico, ultrapassa a simples representação mental nelas configurada e que reproduz objetivamente o mundo. Não se apoia simplesmente no significado, como a linguagem da ciência, mas se faz de significado e significante. Como conclusão, podemos utilizar as palavras de Domício Proença Filho: As palavras, no texto literário, tornam-se multissignificativas e adquirem um valor específico no momento em que se integram no mesmo e passam a fazer parte dos elementos que, interligados e interdependentes, constituem a obra de arte da palavra (1994:52). Vamos exemplificar, por intermédio de textos, onde a realidade “rio” vai aparecer através de três visões diferentes, ou seja, vai aparecer poeticamente, de acordo com a subjetividade de cada artista que a focaliza. Texto 1 - Os Rios Magoados, ao crepúsculo dormente, Ora em rebojos galopantes, ora Em desmaios de pena e de demora, Rios, chorais amarguradamente. Desejais regressar... Mas, leito em fora, Correis... E misturais pela corrente Um desejo e uma angústia, entre a nascente De onde vinde, a e foz que vos devora. Sofreis da pressa, e, a um tempo, de lembrança... Pois no vosso clamor, que a sombra invade, No nosso pranto, que no mar se lança, Rios tristes! agita-se a ansiedade De todos os que vivem de esperança, De todos os que vivem de saudades... (Olavo Bilac, Tarde, In Poesias, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1928, p. 300) Texto 2 - Água Corrente Água Corrente! Água de um rio quieto Cortando a alma ignorada do sertão! Levas à tona, aspecto por aspecto, Os aspectos da vida em refração. Água que passa... sonho predileto Do lavrador que lavra o duro chão. Trazes-me sempre a evocação de um teto... Água! Sangue da terra! Religião... Há na tua bondade humana e leal, Quando a roda maior moves do Engenho, Qualquer bafejo sobrenatural... Ouvindo, ao longe, o teu magoado som, Água corrente! eu me enterneço e tenho Uma imensa vontade de ser bom... (Olegário Mariano. Água Corrente. In Poesia, Rio de Janeiro: Agir, 1968, p.55). Texto 3 - O Rio Uma gota de chuva A mais, e o ventre grávido Estremeceu, da terra. Através de antigos Sedimentos, rochas Ignoradas, ouro, Carvão, ferro e mármore Um fio cristalino Distante milênios Partiu fragilmente Sequioso de espaço Em busca de luz. Um rio nasceu. (Vinícius de Moraes, Antologia Poética, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, p. 234) Como se observa, cada um dos autores teve uma visão pessoal e particular da realidade rio, e a projeção da essência desta realidade é feita diferentemente por eles. Para Olavo Bilac (texto 1), por exemplo, o rio é a projeção do seu próprio estado de espírito. É com uma conotação de amarguras, de desejos contrariados e insatisfeitos que a realidade rio se apresenta para ele. Sente-se aí a alma do poeta oprimida pelo inexorável, deixando-se levar pela força incontrolável do desenrolar da vida humana, enxergando a esperança no futuro e a saudade no passado. Para Olegário Mariano (texto 2), longe de ser tão somente água corrente, o rio é o sonho do lavrador, a evocação protetora de um teto, aquele sangue da terra que plasma o misticismo transcendental da religião. E nesse plano atemporal, o rio, movendo graciosamente o engenho, poupando o braço do homem, transfigurase na bondade, como a lembrar ao homem a grandiosidade da obra divina, já agora movendo, não a roda do engenho, mas o sentimento humano, tocando-o, enternecendo-o pelo dom maravilhoso do sublime e da generosidade. Finalmente, Vinícius de Moraes (texto 3), mesmo explicando o nascimento, o desenvolvimento e a majestade do rio, foi buscar no universo poético a constelação de imagens com que pessoaliza a realidade rio. O poeta parte da causa para o efeito, mostrando que a simples gota de chuva que se projeta de encontro ao solo – seja na flacidez da terra que lhe abre o ventre, seja na natureza das rochas, do ouro, do carvão, do ferro ou do mármore – vai gota sequiosa de espaço, em busca de luz, do horizonte largo. Como podemos ver, a temática é a mesma nos três textos, mas cada um enfoca, à sua maneira, a realidade rio. O estilo individual se caracteriza nestas diferenças, nestas singularidades, nestes traços individuais. Estilo de época Até aqui vimos a literatura segundo o instrumento de que se vale o criador. Chegamos à conclusão de que a literatura revela uma realidade. A visão da realidade tem variado de época para época. “a condição para a existência de uma literatura é a existência de um povo que vive, pensa, sente, age e, através de uma língua, se expressa” (Ibidem: 62). Não é difícil perceber que cada época tem um sistema de padrões, convenções e leis a que se pode chamar cultura. A cultura faz o homem enfrentar o mundo de forma especial. Muda-se a cultura, mudam-se os gostos, padrões, senso de beleza. Cada época vê o homem à sua maneira. Melhor ainda: em cada época, o homem vê-se à sua maneira, porque muda a cultura e com ela o conceito de beleza física e da nobreza moral. A literatura é o reflexo da realidade vivida. 25 26 Por exemplo, o herói de Homero - preso à mitologia difere do herói medieval, preso ao livro judaico cristão. O cenário de Os Lusíadas, de Camões, é a história de Portugal no seu auge; o cenário de Guerra e paz, de Tolstói, é a invasão napoleônica à Rússia. A mulher de Leonardo da Vinci não é a mesma de Renoir: a pintura estiliza a concepção de beleza de cada época. Para um melhor entendimento de estilo de época utilizemos as palavras de Helmut Hatzfeld, citado por Domício Proença Filho: A atividade de uma cultura que surge com tendências análogas nas manifestações artísticas, na religião, na psicologia, na sociologia, nas formas de polidez, nos costumes, vestuários, gestos, etc. No que diz respeito à literatura, o estilo de época só pode ser, avaliado pelas contribuições do estilos, ambíguas em si mesmas, constituindo uma constelação que aparece em diferentes obras e autores, da mesma era e parece informada pelos mesmos princípios perceptíveis nas artes vizinhas (Ibidem: 63). Com este conceito, entendemos que: Desaparece a rigidez com que alguns costumavam estabelecer limites cronológicos para as chamadas escolas literárias, pois as unidades periodológicas em que costumamos dividir a história da literatura, atendendo, sobretudo, à nossa necessidade de dividir para compreender, passam a caracterizar-se pelos traços estilísticos que predominam e levam a determinar as marcas gerais da faixa de tempo considerada (Ibidem: 63). Diante do exposto, podemos concluir que na história das artes e das letras ocidentais, a partir do século XV, predominaram os seguintes estilos de época: Renascentista, Barroco, Neoclássico, Rococó, Romântico, Realista (Realismo, Naturalismo e o Parnasianismo), Simbolista, Impressionista e Modernista. 1- CLASSICISMO (antiguidade clássica) - Regras de Aristóteles e Horácio - Mitologia - paganismo. 2- IDADE MÉDIA (séc. XII - XV) - Adaptação da cultura clássico-pagã - Deus - Cristianismo. 3- RENASCIMENTO (séc. XV/XVI) - Retorno às regras clássicas - homem em equilíbrio. 4- BARROCO ( séc. XVII) - Evolução das regras renascentistas - homem em conflito. 5- NEOCLASSICISMO (séc. XVIII) - Restauração mais rigorosa da preceptiva clássica - Homem em equilíbrio (rigidez). 6- ROMANTISMO (primeira metade do século XIX)Liberdade para a criação artística - Homem em liberdade (liberté, égalité, fraternité). 7- REALISMO (séc. XIX segunda metade) - Criação artística: observação e análise - Busca, por parte do homem, de uma dimensão científica. 8- SIMBOLISMO (fins do século XIX, começo do século XX) - Criação artística: “eu profundo”- Busca do homem na dimensão psicológica (Homem-alma). 9 - IMPRESSIONISMO (fins do século XIX - começo do XX) - Criação artística: impressão do real. 10- MODERNISMO (séc. XX) - Cubismo (1906), Futurismo (1909), Dadaísmo (1916), Surrealismo (1924) - Criação artística: Busca de integração. 11- PÓS-MODERNISMO (fins do século XX começo do XXI) - Criação artística: refletora do caos; ver e rer o caos (literatura de acontecimento, insólita). Aqui, podemos nos remeter ao esquema dos estilos de época. Como exemplo, citamos o seguinte esquema: Exercícios de Auto-Avaliação Leia o texto que se segue, atentando para a sua construção e estilo; depois responda às perguntas solicitadas. Igreja Tijolo areia andaime água tijolo. O canto dos homens trabalhando trabalhando mais perto do céu cada vez mais perto mais – a torre. E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações. O padre que fala do inferno Sem nunca ter ido lá. Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos. Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida. A manhã pintou-se de azul. No adro ficou o ateu, No alto fica Deus. Domingo... Bem bão! Bem bão! Os serafins, no meio, entoam quirieleisão. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 10 ed., RJ: José Olympio, 1980, p. 12.) 1- A utilização do espaço é o elemento que primeiro chama a atenção no poema. Comente este aspecto plástico, explicando sua expressividade. 2- Explique o valor semântico (significado) que possuem as palavras que formam os cinco primeiros versos. 3- Observando a pontuação da primeira estrofe, podemos deduzir que seu ritmo é: (....) lento; (....) ágil; (....) pausado; (....) desesperado. 4 - A caracterização espacial, mostrada através da extensão do sexto verso, bem como a repetição da palavra “trabalhando”, sugerem-nos a idéia de um trabalho: (....) árduo e cansativo; (....) monótono e despreocupado; (....) lento e desinteressado; (....) aborrecível àqueles que o realizam. 5- O que sugere a repetição “mais perto” (verso 7), mais perto (verso 8) e “mais” (verso 9)? 6- Que importância teria a representação gráfica indicada pelo travessão no início do verso 10? 7- Atente para o primeiro verso da segunda estrofe. Observe que ele: · é o mais extenso do poema. · possui uma pausa no meio, representada pela vírgula colocada depois de “perdões”, portanto um ritmo lento. Considerando esses elementos e o significado de litania, que é o mesmo que ladainha, oração em que se invoca a virgem ou os santos, relação fastidiosa, lengalenga, depreenda o caráter irônico do verso. 8- Os versos “O padre que fala do inferno/ sem nunca ter ido lá”, traduzem, principalmente: (....) ingenuidade; (....) ironia; (....) entusiasmo; (....) revolta; (....) desespero. 9- Com o verso 4, da segunda estrofe, o poeta critica, principalmente: (....) a falta de fé dos fiéis; (....) o desinteresse da religião; (....) a ignorância acerca dos ofícios religiosos; (....) o espírito exibicionista das mulheres; (....) o sacrifício que só as mulheres mostram na igreja. 27 28 10- “Geolhos” é a forma arcaica de “joelhos”. Observe bem o arcaísmo. Depois, suprima a primeira sílaba da palavra e comente, sob este novo aspecto, a crítica que o verso quer mostrar, assim como a razão pela qual o poeta preferiu o arcaísmo. 11- Por que o poeta diz que o ateu fica no adro da igreja, longe de Deus? (Verifique, no seu dicionário, o sentido da palavra adro, para fundamentar a sua resposta). 12- Explique o uso da onomatopéia no verso “Bem bão! Bem bão!”, justificando a sua construção. Leitura Complementar Para melhor compreensão do assunto, leia BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992. Atividades Complementares 1 - Faça um paralelo entre estilo individual e estilo de época. 2 - Explique o desaparecimento da rigidez com que alguns críticos costumavam estabelecer limites cronológicos para as chamadas escolas literárias. 3 - Quais os estilos de época que prevaleceram na história das artes e das letras ocidentais? Periodização e História da Literatura Objetivo Específico: · Levar o aluno a identificar os estilos de época, reconhecer suas diferenças e semelhanças, desenvolvendo, desta forma, o senso teórico-crítico. Introdução Um período não é uma etiqueta, muito menos um rígido sistema de normas. Um período literário deve ser visto como uma camada de aspectos culturais e estilísticos em que se trabalhou a palavra, em determinado tempo e lugar. Não há fronteiras entre os movimentos literários. Eles podem completar-se, interpenetrar-se, ressurgir em novos aspectos. Na arte gótica, há um sistema de abertura, de ascensão que o Romantismo irá enfatizar. No Barroco, há o mesmo desequilíbrio e instabilidade que prenuncia o aflorar de paixões do Expressionismo. A luminosidade do Impressionismo pode ser vista em muitos quadros de Rembrant, Rubens, Velásquez, que são catalogados como Barroco. Hoje se encontram nas canções de Paulinho da Viola e de Jorge Ben Jor, e outros, os mesmos traços românticos dos poemas de Gonçalves Dias e Castro Alves. 2.4.1 – Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna Idade Antiga, Idade Média, Humanismo e Renascimento Antes de nos aprofundarmos nestes períodos, é conveniente fazermos uma comparação entre a Antigüidade Clássica (Idade Antiga), a Idade Média e o Renascimento (Idade Moderna). Observe atentamente e compare as diferenças e as semelhanças entre os períodos que vamos estudar. 1 - Antigüidade Clássica: entre os séculos V a.C. ao V d.C. a- Valorização da vida e do mundo. A vida é algo de valioso, num mundo que se projeta em obras para a eternidade; b- Uniformidade essencial da cultura; c- Arte enriquecida pela religião; d- Sentido das formas. Proporção, simetria, equilíbrio; 3 - Renascimento: entre os séculos XV e XVI e- Arte como deleite, como fonte de prazer; a- Imitação dos clássicos gregos e latinos; f- Liberdade de espírito; b- Domínio da razão sobre os sentimentos; g- Predomínio de linhas horizontais; c- Idealismo: a arte é uma procura da beleza; h- Documento de referência fundamental: “Poética”, de Aristóteles. d- Individualismo de temas; e- A beleza confunde-se com a verdade e o bem; 2 - Idade Média: entre os séculos V e XV f- A arte é aristocrata, reservada às elites; a- Preocupação com a vida além da morte; b- A alma é o centro da vida humana. O corpo deveria ser desprezado e ocultado; g- Preferência pelos gêneros literários de formas fixas, já consagrada pelos antigos. h- Colorido, intensidade vital, ímpeto progressista; c- A arte passa a ser meio de oração e de exaltação heróica; d- Deus e a igreja são o centro do Universo. Predomínio do gótico, cujas linhas ascensionais procuraram mostrar a ânsia do infinito que dominara o ser humano; i- Arte como deleite, existindo para dar prazer aos sentidos; j- Exaltação do homem e do humano - antropocentrismo; l- Equilíbrio, harmonia, clareza, simetria. e- Arrebatamento, tormento: prazeres terrenos e o desejo de ascensão espiritual; f-.Ausência de individualismo, demonstrada na anonimidade das obras; É importante que passemos os olhos pela Antigüidade Clássica, para termos uma visão completa dos estilos de época. g-.Arte assistemática. Não há preocupação com a simetria. 2.4.1.1 - Antigüidade Clássica Antigüidade Clássica De toda literatura do mundo antigo, nenhuma exerceu tanta influência no espírito do artista ocidental como exerceram os poetas helênicos e latinos. Nenhuma arte antiga deu testemunho tão marcante à causa da liberdade ou à crença de que o homem é o ser mais importante do universo. A arte Clássica glorificava o homem racional e recusava humilhá-lo ante os deuses. Colocava o conhecimento sobre a fé, a ciência sobre a religião, o corpo sobre o espírito e a terra sobre o céu. Os deuses da mitologia não se parecem com as entidades da Bíblia judaico-cristã. São deuses com desejos e apetites humanos; eram simples seres humanos ampliados. Para tornarem-se imortais, alimentavam-se de ambrosia e néctar e moravam não no céu ou nas estrelas, mas no Monte Olimpo. A Grécia foi o berço da poesia épica. Esta poesia nasceu com os aedos - narradores declamatórios. Entre tantos aedos, tornou-se imortal o poeta Homero, de quem diziam que era cego e nômade. Escreveu a Ilíada e a Odisséia, provavelmente no século X a.C. Abaixo faremos um breve comentário, como fonte de conhecimento básico: A Ilíada de Homero: Anterior à Odisséia, canta um episódio da guerra de Tróia (entre gregos e troianos). O tema, o motivo da guerra ter durado dez anos, com o afastamento do herói da contenda, centraliza-se na “ira de Aquiles”, ou seja, o fato de Aquiles se sentir pressionado a devolver a jovem Briseides, filha de 29 30 Brises, sua prisioneira de guerra. O personagem principal é o herói Aquiles, filho da deusa Tétis. Depois de dez anos de guerra, sem a presença do herói Aquiles, Pátroclo, seu amigo e aliado na guerra, é morto pelas mãos do príncipe troiano Heitor. Aquiles se enfurece pela morte do amigo e volta a lutar (depois de ficar à parte durante dez anos), matando Heitor. É belíssima a musicalidade épica, grandiloqüente, dos versos hexâmetros, bem como o enredo. O maravilhoso pagão intervém constantemente nas ações, fazendo os personagens odiarem, amarem e sofrerem, conforme a criatura humana. A Odisséia de Homero: É um poema de inspiração marítima, que canta as aventuras dos navegantes gregos, depois da destruição de Tróia. O personagem principal é o herói Ulisses, que aparece secundariamente na Ilíada. Ulisses, depois de vinte anos longe de seu reino, consegue livrar-se de todos os perigos e chegar à Ilha de Ítaca, onde o espera sua fiel esposa Penélope. (Helena, na Ilíada, é a esposa infiel de Menelau, raptada por Páris, causadora da guerra; Penélope, na Odisséia, representa o lar, a moradia, a prudência). A Eneida de Virgílio: A influência de Homero transitou da Grécia para Roma. A glória do Império Romano estava esperando um cantor. Coube a Virgílio cantar os feitos dos seus compatriotas: imortalizar em um poema o prestígio e o poderio romanos. A Eneida é, portanto, um poema patriótico, publicado no século I a. C. Estas informações são importantes para que você tenha uma noção da relevância e da influência desta época nos estilos e autores posteriores. Ao mesmo tempo, apresentando um breve comentário sobre as três obras – destaques na antigüidade clássica – você poderá se interessar e ler algumas delas, obtendo, sem dúvida, uma fonte de conhecimento necessária à sua formação. 2.4.1.2 - Idade Média Idade Média A queda do Império Romano do Ocidente, em 476 da nossa era, marca o final da antigüidade e o início da Idade Média, mas é um marco aproximado, porque um período histórico não tem data certa para começar ou terminar, não havendo diferenças nítidas entre os últimos séculos da antigüidade e os primeiros da Idade Média. A invasão dos bárbaros e seu domínio na Europa Ocidental imprimem características decisivas nessa etapa inicial. Arnold Hauser divide a Idade Média em três fases: Alta Idade Média - do século VI ao XI Plena Idade Média - do século XI ao XIII Baixa Idade Média - do século XIII ao XV Vejamos como esta divisão se processa no percurso histórico, cultural e artístico: Alta Idade Média Assiste-se à fundação de nova sociedade, provocada pelo deslocamento da vida social da cidade para o campo e pela passagem da economia monetária das cidades antigas para a economia rural das grandes propriedades da terra, que aspiram a se tornar independentes através de suas próprias forças econômicas. Para este tipo de coisas contribui a invasão do sul da Europa pelos árabes, que fecharam as portas do Mediterrâneo no século VIII. Bloqueados os horizontes marítimos, o comércio se interrompe, o capital se imobiliza, o dinheiro desaparece. A Igreja, vitoriosa, passou a dominar o Estado, a educação e todas as manifestações sociais e culturais. No natal do ano 800, Carlos Magno é coroado pelo papa imperador romano do Ocidente, quando o famoso rei franco se transforma em Protetor da Cristandade. A universalidade medieval da Europa Ocidental se confirma no Estado unitário, em que um círculo se fecha em torno de um deus, um papa, um imperador, estabelecendo-se a unidade de vida na política, na religião, na arte e na língua latina oficial. Posteriormente, novas unidades estatais começaram a se formar, originando a pluralidade das futuras nações. No século IX instituiu-se o regime do feudalismo por meio da concessão de feudos, ou seja, extensões de terra com imunidades e privilégios de senhor aos respectivos proprietários, mediante certas obrigações entre os vassalos e o senhor. A relação contratual incluía aliança e lealdade num sistema de mútuos serviços e obrigações. Ao tradicionalismo dessa cultura, corresponde a rigidez das barreiras que separam classes sociais em nobreza, cleros e povo, sem estádios intermediários. Enquanto vigorava a economia rural na sociedade imobilizada, não havia espaço para desenvolver a competência intelectual e, uma vez que faltavam categorias do pensamento baseadas no dinheiro e no lucro, tornaram-se desconhecidas a idéia de progresso e a necessidade de novo. É uma época tranqüila e firme na fé, sem conflitos espirituais (pelo menos aparente), nem vacilações sobre a validade das concepções religiosas e morais. A Igreja detinha todos os poderes, garantia a obediência e controlava a vida intelectual e artística. O estilo artístico do século XI é o românico, inspirador de catedrais imponentes. Na escultura e na pintura, domina o anticulturalismo, tão de acordo com o antiindividualismo feudal. Uma das manifestações literárias mais representativas dessa fase é a canção da gesta, expressão do estilo épico medieval, que canta em longos poemas as aventuras heróicas dos superhumanos guerreiros cristãos, em luta contra os árabes pagãos. Plena Idade Média Ao estilo românico sucede o gótico, caraterizado pela leveza arquitetônica, de delgadas torres e estreitas ogivas e pela busca de maior fidelidade ao real, num crescente naturalismo na representação das figuras de santos. No século XI, aos poucos, a vida se desloca do campo para a cidade, e o comércio começa a movimentar o capital imobilizado. O dinheiro elimina a rígida barreira das classes, a aquisição da riqueza passa a depender da aptidão pessoal e inteligência, e não mais um privilégio de nascimento, o que vai assegurar à burguesia uma posição de classe, através da posse de bens. O homem e a terra, desprestigiados pelo pensamento religioso, começam a se valorizar, como resultado de um maior apego aos bens materiais. A religião se torna mais humana e emocional, a cultura se seculariza e desaparece o monopólio da educação clerical. No século XI fundou-se a ordem da cavalaria, constituída no começo por guerreiros profissionais a serviço de grandes proprietários e príncipes, mas depois os guerreiros passaram a dispor do feudo, que se tornou hereditário, dando surgimento à aristocracia dos cavaleiros - nova classe que vai surgir . Nos fins dos séculos XII e XIII, a cavalaria integra a nobreza e se faz grupo fechado, dotado de um sistema ético intransigente e de uma nova concepção sobre o heroísmo e a honra de classe. A principal manifestação literária desta época é a poesia trovadoresca, que surgiu em Provença e se difundiu graças aos jograis, por toda a Europa Ocidental. Poesia tipicamente aristocrática, encontrou o ambiente propício para seu desenvolvimento nas cortes. Os ideais de vida aristocrática: a) O sistema ético da nobreza, com seus ideais de fidelidade, heroísmo, sentimentos da honra, intransigência moral, respeito à mulher; b) Amor idealizado. É importante ressaltar que, na antigüidade, o amor estava ligado à sensualidade, sem exercer influência na personalidade do amante; na época trovadoresca, o amor é transformado em princípio educativo e força ética – origem de valor e perfeição. O homem não faz exigências e se limita a sofrer e a adorar a mulher – exemplo de perfeição moral e beleza. Baixa Idade Média A burguesia triunfante fortaleceu a economia monetária e mercantil que determinou a orientação de toda revolução social a partir da plena Idade Média, levando essa classe à independência e, depois, à hegemonia política e social. A nobreza procura adaptar-se ao espírito econômico e à ideologia racionalista da burguesia, enquanto o poder da Igreja decai, na medida em que a religião não é mais a força diretriz da cultura. Perde valor a estética pedagógica que justificava a arte como veículo da verdade doutrinal e a poesia didática e alegórica se encaminha para o fim, já que desponta a estética hedonista que dominará o Renascimento. Os interesses espirituais e ultramundanos perdem sua importância, cedendo lugar aos interesses materiais. A visão teocêntrica, que considerava todo o mundo como manifestação do plano divino, cede espaço ao antropocentrismo, voltado especialmente para o homem. 31 32 2.4.1.3 – Humanismo: Momento de Transição Humanismo O humanismo foi um movimento filosófico e literário, divulgado nos países europeus e surgido em meados do século XIV, na Itália, onde atingiu o seu momento culminante no século XV, representando um acontecimento central da cultura Renascentista. A palavra humanismo deriva do latim humanae litterae. Com a expressão ciceroniana studio humanitatis, os humanistas batizaram suas pesquisas filológicas e suas redescobertas da antigüidade clássica que restabeleciam, por meio da análise dos manuscritos antigos, a perspectiva adequada, superando as falsificações acumuladas pelos intérpretes da Idade Média, para os quais o mundo antigo merecia ser conhecido e estudado apenas como preparação da era cristã. A antigüidade era vista através da ótica medieval que consistia na interpretação alegórica, a partir da qual se procurava um ensinamento profundo, moral e religioso, situado além do sentido literal das coisas. Os escritores antigos passaram a ser admirados além da perfeição da língua e do estilo, também como modelos máximos de humanidade. Desde então se estabeleceu a fundamental discussão em torno da doutrina da imitação dos antigos, que se prolongou do século XV aos séculos XVI e XVII. A palavra humanismo põe em destaque o próprio homem que, desprezado na Idade Média na sua qualidade de criatura pecadora, ocupa agora o centro de interesses, graças a uma nova valorização que abre correspondente à nova mentalidade burguesa, que faz crescer a economia monetária e mercantil. 2.4.1.4 – Idade Moderna: Renascimento Renascimento A natureza Renascimento é a designação geral do espírito que dominou o século XVI e que teve como berço a Itália, já no século anterior. Como indica o historiador da arte E. H. Gombrich: A mentalidade renascentista, sob diversos aspectos, superou e rejeitou os padrões de vida cultivados na Idade Média. Se esta dava prioridade ao sobrenatural, os renascentistas se preocuparam em elaborar um quadro de valores cuja base era o natural. Isto equivale a dizer que a natureza – o cosmos – passou a ser vista como algo que devia ser conhecido para ser dominado e submetido ao poder do homem. Isso levou os estudiosos a definir o período como antropocêntrico – o homem como centro – em oposição ao teocentrismo medieval. Os italianos estavam perfeitamente cônscios de que, no passado distante, a Itália, tendo Roma por capital, fora o centro do mundo civilizado, e que seu poder e glória se dissipara quando as tribos germânicas, godos e vândalos, invadiram o país e desmantelaram o Império Romano. A idéia do renascimento associava-se na mente dos romanos à idéia de uma ressurreição da grandeza de Roma (1981: 167). Na estrutura dos estudos humanísticos, concretizase uma nova concepção da cultura, que passará a adotar uma atitude crítica, ao invés do dogmatismo medieval, fundado na autoridade religiosa. Esse método não aceita com veneração a tradição, mas a submete a livre exame. O novo método de pesquisa, análise, confronto e discussão da experiência está nos princípios da civilização contemporânea. As palavras Renascimento ou Renascença se relacionam ao verbo renascer, não somente com relação à cultura latina, mas também à grega. Entre as idéias gerais do período, destacam-se: a natureza, o humanismo e a antigüidade. O humanismo O humanismo renascentista quis enfatizar que também a natureza humana passaria a ser vista diferentemente pelos homens. Eles romperam com dependência e com a servidão que, durante a Idade Média, ligavam-nos ao sobrenatural. Fizeram isso submetendo todas as idéias tradicionais a um exame mais crítico, inclusive do ponto de vista religioso. Discutiram, por exemplo, a hegemonia da Igreja. E dessa atitude surgiram os movimentos da Reforma, por intermédio de Martinho Lutero e João Calvino. Também as relações sociais se deixaram afetar, uma vez que o comércio com o Oriente foi intensificado, em decorrência das rotas marítimas. O dinheiro passou a assumir um significado mais efetivo na criação de uma nova classe, a burguesia, que começou a romper com a estrutura fixa da sociedade medieval. Assim, ao lado do clero e do nobre, instalou-se o burguês endinheirado, que inclusive adquiriu feudos para se nivelar com a nobreza. A antigüidade (Renascimento: retomada de valores clássicos) A antigüidade foi representada pelos textos dos autores gregos e latinos e, com isso, foi intensificada sua pesquisa e estudo. Neste sentido, grande foi a importância que desempenhou a imprensa (final do século XV), que possibilitou a divulgação dos textos originais e traduzidos, bem como os comentários e estudos que eram produzidos pelos humanistas. A importância dada aos valores da estética greco-latina se manifestou sob as mais variadas formas, inclusive pela presença da mitologia. As línguas nacionais já estavam aptas a serem não apenas faladas no dia-a-dia, mas escritas. Com isso, o latim, que antes dominava, passou a ser apenas a língua dos estudos nas universidades, enquanto o francês, o espanhol e o português por exemplo, criaram corpo em obras literárias. Um fator importante na formação da mentalidade renascentista foi o movimento franciscano, surgido na Itália, sob a inspiração de S. Francisco de Assis (século XIII) e que inaugurou o sentimento de integração frente à natureza, pouco valorizada pelo pensamento religioso medieval. Na Itália, no final da Idade Média (século XIV), viveram três dos maiores nomes da literatura universal: Dante, Petrarca e Boccaccio, que influenciaram muito o pensamento renascentista. As leis da arte se racionalizaram e o belo resultou da concórdia lógica entre as partes singulares de um todo, obedientes ao princípio da unidade. Decaiu o estilo gótico na arquitetura. As igrejas passaram a refletir o esplendor e a luminosidade dos templos pagãos, à proporção que a severidade dos antigos palácios se atenuavam, cedendo lugar ao luxo que resplandeceria na decoração dos tetos. A representação da figura humana perdeu a solenidade rígida bem como a abstração da arte medieval. Na escultura, o naturalismo se sobrepôs ao antinaturalismo, ostentando a plenitude da corporeidade do homem. As figuras grandiosas do século XVI revelaram o poder de uma raça de belos É importante observar que o Renascimento foi anticlerical, antiescolástico, mas não incrédulo. As idéias de salvação, redenção, pecado original, que faziam parte da vida espiritual da Idade Média, passam a segundo plano sem, contudo, faltar a religiosidade, embora predomine o gosto pelos elementos pagãos. No século XIV, com Petrarca, surge o poeta preocupado com as belas formas que faz do escrever uma atividade autônoma, fora do interesse prático, moral e religioso, que orientava o fazer literário em um tempo em que a Igreja detinha o poder sobre a cultura. No Renascimento, vive-se o carpe diem de Horácio – goza o dia de hoje –, um entregar-se intensamente ao momento presente, já que não se tem certeza do amanhã. Essa atitude representa um traço fundamental do hedonismo renascentista. O homem, senhor do mundo e sedento em conhecê-lo, tem o direito de aproveitar todas as delícias, gozando a vida e seus prazeres. Essa busca do Prazer torna-se um dever, já que a vida é breve. Este convite ao prazer se mescla com uma certa dose de tristeza em decorrência da fugacidade do tempo – sentimentos que influenciarão grande parte da produção poética do período. Como conclusão, podemos tecer uma comparação entre o homem medieval e o renascentista. Na Idade Média, o homem encontrava a sua dignidade na origem divina e resumia o objetivo de sua vida na preparação para o mundo além-túmulo, dependente da providência Divina para poder se elevar; já no Renascimento, o homem cria o seu destino. Sua dignidade se revela na própria condição humana, cujo objetivo consiste em viver intensamente para obter as recompensas terrenas: as belezas e os bens da terra. Imagine a riqueza desta época, explorada nos textos literários que você estudará, sem dúvida, nas literaturas portuguesa e brasileira com o auxílio da Teoria Literária! heróis, confiantes na própria força. 33 34 2.4.1.5 - O Maneirismo e o Barroco O Maneirismo e o Barroco Antes de começarmos o estudo desses estilos, é importante ressaltar que o Maneirismo, surgido em fins do séculos XVI e prolongado até o começo do século XVII, foi considerado, inicialmente, apenas como um período de transição entre estilos; após ter sido resgatado por Arnold Hauser, passou a ser considerado como um estilo absoluto, daí a necessidade de o estudarmos separadamente. 2.4.1.6 - O Maneirismo O Maneirismo O maneirismo surgiu na Itália em meados do século XVI e começo do XVII. Seu nome vem da palavra italiana maniera, que servia para indicar um estilo artificial e cerebral. Na verdade, o maneirismo é a expressão artística da crise européia no século XVI, ante os valores renascentistas em decomposição. O ideal do herói renascentista começa a decair; a idéia de equilíbrio, clareza, harmonia, simplicidade, simetria, soava falsa; a confiança antropocêntrica vacila, e o homem perde a fascinação experimentada pela consciência da própria grandeza e sua conseqüente sensação de segurança. A angústia da crise, que se infiltrava nos setores políticos, econômicos e religiosos, substitui a euforia renascentista. A Itália, líder do movimento cultural nos últimos séculos, sofre terríveis abalos: o saque de Roma em 1527; a dominação do território italiano por franceses e espanhóis após anos de luta; a perda da supremacia econômica com o deslocamento do centroneo para o Ocidente; a formação das grandes potências e suas colônias; o risco dos fabulosos negócios seguidos, ao mesmo tempo, de grandes lucros e grandes perdas. Enfim, todos esses fatores contribuíram para a instauração do medo e da insegurança, que caracterizam o espírito maneirista. A crise também afeta o espírito religioso. Cria-se a necessidade de combater a corrupção da Igreja e fortalece-se a urgência de uma recuperação do antigo prestígio, tão seriamente abalado. Muitos conflitos e guerras religiosas ocorrem nesse período. De um lado, a Reforma protestante de Lutero que tenta imprimir um novo espírito à Igreja e instaura a dissidência; por outro lado, surge a contra-reforma que busca recuperar o espaço perdido pela Igreja. A contra-reforma prepara novos rumos para o catolicismo. Impõe rígida disciplina e severo rigorismo na fé; estabelece leis para a censura já instaurada; põe em prática a Inquisição; controla toda a produção artística e literária; persegue os humanistas; decreta a autoridade infalível da Igreja e a obediência cega ao papa. Nesse panorama de extrema severidade e rigidez era normal que surgisse o medo e o pavor; a dúvida se instaura e o fanatismo se alastra pelo mundo. Cria-se a Companhia de Jesus (1540) e o papel dos jesuítas se destaca na formação da nova cultura e dos processos políticos. O Concílio de Trento (1545), por intermédio de suas sessões, discutirá questões referentes à nova política da Igreja. A obediência passiva que a nova orientação da Igreja exigia, provocaria rudes golpes no espírito crítico do Renascimento. O realismo político, do Concílio de Trento, pregava a filosofia de Maquiavel, de que os fins justificam os meios. O resultado dessa filosofia foi a separação entre a prática política e os ideais cristãos. A crise econômica crescia devido à desenfreada especulação financeira. Desta forma, aumenta a incerteza do perigo causado pelos imensos negócios, nunca realizados antes, em tão grandes proporções. A insegurança, a alta dos preços e o desemprego são evidentes. Os modelos clássicos continuam a servir de padrão, porém, ao invés de imitados, sofrem distorções e exacerbações. A versão maneirista do carpe diem prolonga e exagera o modelo anterior e se reveste de tonalidades sombrias. A unidade espacial renascentista se desintegra, a linguagem se emaranha. Toda a produção artística parece abalada pelo vendaval ameaçador das consciências, prosseguindo no período barroco, mas este vai procurar a conciliação das polaridades em choque, tão típicas do Maneirismo. Arnold Hauser, no primeiro capítulo do seu livro Maneirismo, conceituará, de forma mais aprofundada, o conceito de Maneirismo. É aconselhável que você leia para se inteirar mais sobre este período tão polêmico e, ao mesmo tempo, tão fascinante. 2.4.1.7 - O Barroco 35 O Barroco O Barroco floresceu no século XVII e constituiu uma fase de exuberância e fantasia, encontrada em todas as manifestações culturais do período. A Igreja é responsável pela grandiosidade monumental da arte barroca, cujo objetivo era exprimir a glória do seu triunfo. Não podemos considerar a contra-reforma como causa determinante do Barroco, mas como elemento fundamental que estruturou sua ideologia. A Espanha, poderosa politicamente, representou o ponto fulcral da contra-reforma e seu espírito influenciou todo o século. A ânsia de transcendência constituirá o eixo de todo o pensamento do homem barroco. Ao lado da visão do espaço infinito, desenvolve-se uma concepção angustiosa do tempo, na modalidade de fuga, dissolução e morte. O maior tema da arte barroca encontra-se na morte, reflexos da efemeridade, que o artista sente o doloroso prazer de recordar. O homem, sabendo-se simultaneamente grande e miserável, anjo e animal, eterno e transitório, expressase por antíteses que refletem o sentimento de instabilidade da realidade e a tensão anterior, resultante do conflito entre o profano e o sagrado, o espírito e a carne. O naturalismo das figuras divinas põe em destaque os valores sensoriais e eróticos de um mundo conhecido e gozado através dos sentidos. É uma arte de exuberância e intenso poder expressivo, pronta a traduzir as glórias do céu e as pompas da terra. Vive num universo de ostentação e suntuosidade. Atente, à guisa de ilustração e de exemplo, para esse poema de Gregório de Mattos Guerra, “Buscando a Cristo”. A vós correndo vou, Braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos; Que para receber-me estais abertos, E por não castigar-me estais cravados, A vós, Divinos olhos, eclipsados, De tanto sangue e lágrimas cobertos, Pois para perdoar-me estais despertos, E por não condenar-me estais fechados. A vós, pregados Pés, por não deixar-me; A vós, Sangue vertido para ungir-me; A vós Cabeça baixa por chamar-me: A vós, lado patente, quero unir-me: A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme. O homem barroco viveu num eterno conflito proveniente da luta entre o espírito cristão e o espírito secular, que leva a contrições, conforme o poema citado. Desta forma, o pensamento cristão, herança medieval, não desapareceu diante do racionalismo renascentista. Esses dois elementos se fundiram, denunciando o espírito contraditório da época. O teatro, no Barroco, por exemplo, representou uma forma eficaz e expressiva de construir um mundo imaginário, onde a aparência se afirmava como realidade, onde a máscara e os defeitos cênicos instauraram a ilusão e, simultaneamente, deixaram entrever a ruptura desta. Utilizou-se o conflito entre o ser e o parecer, explorando o gosto do complicado e do surpreendente. Denomina-se fusionismo à tendência seguida pela arte barroca para unificar, num todo, múltiplos pormenores e para associar e mesclar, numa unidade orgânica, os elementos contraditórios. O escritor barroco procura a expressão que encerra uma polivalência de significados e que reúne valores constantes. A mundividência e a temática barroca exprimem-se através de uma poética própria que foge à expressão singela e imediata. Fortes tensões vocabulares, polivalência significativa, estruturas complexas e inéditas guardam a intensidade e o fascínio das impressões sensoriais, num estilo literário abundante e, muitas vezes, rebuscado. Entre as figuras retóricas, predominam a antítese, o hipérbato, a anáfora. A metáfora oferece o elemento principal dessa poética, mas freqüentemente se desvia pela tendência para a hipérbole e pelo gosto para a obscuridade. No Barroco se difundiu o último surto da arte religiosa, tendo sua estética servido à catequese e à propaganda da fé católica. Espetacular e popular, o Barroco contribuiu para a afirmação do espírito dos tempos modernos, através da crise do maneirismo. Além das características já observadas anteriormente, o Barroco apresenta duas tendências importantes que vale a pena ressaltar: a) Cultismo - modelo desta tendência é Gôngora, poeta espanhol. Significa o prazer lúdico de brincar com as palavras, com jogos de exuberância verbal. Há o emprego de uma verdadeira constelação de figuras. b) Conceptismo - O seu representante máximo é Quevedo, poeta espanhol. É o emprego de raciocínios 36 rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa. O escritor barroco sente repugnância pela clareza das Estilos proposições. Um texto é um verdadeiro labirinto, através do qual o leitor é conduzido até o entendimento. Características Idade Média Poesia cortês - forma convencional, o amor como tema, surgimento do cavalheirismo. Cancioneiros - cantigas de amor, cantigas d’amigo, cantigas de escárnio e maldizer. Prosa - romance de cavalaria, escritos místicos e doutrinários e historiografia. Humanismo e Renascimento Antropocentrismo - valorização da razão e culto aos valores da antigüidade. Cientificismo - preocupação com a ciência. Elitismo - arte produzida por e para uma elite. Autonomia da arte - independência da igreja, valorização da forma sobre o tema e surgimento da noção de autor. Meneirismo Barroco Tentativa de conciliação das heranças medieval e renascentista. Função do cômico e do trágico. Dupla natureza do herói. Presença do grotesco. Convívio de elementos realistas e fantáticos. Exuberância verbal. Dualidade ideológica – cristianismo medieval e racionalismo renascentista. Exercícios de Auto-Avaliação Com base no que foi visto, vamos exercitar os estilos estudados, para não perdermos o entrelaçamento dos estilos de época e a sua importância no percurso histórico e literário. 1 - Relacione as colunas de acordo com os seguintes códigos: a) Idade Média b) Renascimento c) Maneirismo d) Barroco (...) A reforma de Martinho Lutero. (...) A Contra - Reforma da Igreja Católica. (...) A depreciação do homem e das conquistas materiais. (...) Arte como deleite, fonte de prazer. (...) A arte passa a ser meio de oração e exaltação heróica. (...) A alma é o centro da vida humana. O corpo deveria ser desprezado e ocultado. (...) Idealismo: a arte é uma procura da beleza. (...) Criação da Companhia de Jesus. (...) Estilo artificial cerebral e decorativo. (...) Equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade. 2 - Que se entende por dualismo, bipolaridade ou fusionismo? 3 - Defina conceptismo e cultismo. 4 - Quais as duas figuras de estilo que refletem melhor o conflito Barroco? 37 5 - Qual o estilo artístico do século XI? 6 - O que significa a expressão horaciana carpe diem? 7 - Leia o texto seguinte e responda às perguntas: Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não-querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade; Mas como causar pode em seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo amor? ( Luiz Vaz de Camões) a) Ninguém soube cantar o amor como Camões, com tanta intensidade. Neste soneto, ele prenuncia uma época que se manifestará no século XVIII. Que época seria esta? b) Na tentativa de conceituar o amor, Camões lança mão de duas figuras de retórica, específicas do século XVIII? Quais são elas? Leituras Complementares O livro de Lígia Cadermatori oferecerá a você uma visão mais ampla desses estilos. Leia-os, com atenção, atentando para suas diferenças e semelhanças. O livro de Arnold Hauser, Maneirismo, São Paulo: Perspectiva, 1976, será de grande utilidade no aprofundamento dos estudos maneiristas. Leia especialmente o primeiro capítulo “O conceito de Maneirismo”. 38 2.4.1.8 - As Correntes do Século XVIII As correntes do século XVIII Até agora, vimos estilos artísticos que se destacaram em um determinado período, impondo-se esteticamente. O mesmo não ocorre no século XVIII, onde vai surgir um entrelaçamento de tendências, no pensamento e na arte. Podemos, para efeito didático, enumerar as seguintes correntes: a) Iluminismo b) Neoclassicismo - Rococó / Arcadismo c) Pré-Romantismo O século XVIII ficou conhecido como o século das Luzes em função do adiantamento científico que o caracterizou. Outro fator marcante é a ascensão da burguesia, cada vez mais fortalecida, enquanto o clero e a nobreza vêem seu prestígio diminuir. Surgem os enciclopedistas, teóricos que propõem explicações racionais, científicas, para questões que até então eram vistas por um prisma religioso. Estas teses progressistas serão, posteriormente, a base filosófica da Revolução Francesa. Destacaremos aqui três enciclopedistas : a) Montesquieu - segundo suas idéias, o progresso de um país surge em função da correta aplicação das doutrinas econômicas e não por causa da vontade divina. b) Rousseau - em “O Contrato social” mostra que a autoridade se origina dos homens livres. Estes, para evitar o caos, abdicam de parte da liberdade, delegando a uma única pessoa a autoridade do mando. Logicamente, se a autoridade não souber satisfazer as necessidades daquele grupo, deverá ser substituída. c) Adam Smith - com sua “A Riqueza das nações”, lançou as bases doutrinárias que originaram o capitalismo. Como vemos, o século XVIII vai se apresentar bem diferente. Passemos ao estudo de suas correntes. 2.4.1.8.1 - O Iluminismo O Iluminismo Também chamado Ilustração, o Iluminismo constituiu um movimento filosófico com o objetivo de “iluminar” as mentes, com as luzes da razão, baseando-se no progresso científico e técnico que recebe um grande impulso no século XVIII. Descartes, filósofo francês da primeira metade do século XVII e influenciador do Iluminismo, foi produto do racionalismo e promotor do seu incremento. O racionalismo cartesiano, dotado de rigor lógico e geométrico, decide, não apenas, o caráter específico do século XVIII, mas de toda a modernidade. no entanto, a razão afasta o homem dos erros seculares e prepara uma era de paz e felicidade. Os iluministas combatem o Cristianismo por o considerarem um obstáculo à vida, não admitem a interferência divina, já que o conceito de lei científica exclui os milagres. Para eles, a lei científica assegura a harmonia do universo e da vida do indivíduo. Prometem, também, o paraíso terrestre e para tal empresa procuram alcançar a harmonia entre a razão e a natureza. Poderíamos, assim, resumir o Iluminismo: Os grandes filósofos reformadores discutem a validade do autoritarismo, do absolutismo monárquico e da revelação religiosa, numa época em que se pretende fundar um mundo novo sobre as bases da razão que ilumina, e, com isso, inspiram a Revolução Francesa e todos os movimentos libertários do século. A natureza, considerada originalmente boa, corrompera-se pelos costumes, enquanto as instituições e as leis haviam provocado a infelicidade, afastando o homem das verdadeiras formas de vida; 1 - A razão é o único guia infalível da sabedoria. 2 - O universo é a máquina governada por leis inflexíveis. A ordem natural não comporta milagres ou qualquer forma de intervenção divina. 3 - A religião, o governo e as instituições deveriam ser expurgados de todo artificialismo e reduzidos a uma forma coerente com a razão e a liberdade natural. 4 - Não existe pecado original. O homem não é congenitamente depravado. 2.4.1.8.2 - O Neoclassicismo O Neoclassicismo Após a exposição sobre o Iluminismo, fica mais fácil entender os movimentos artísticos da época, baseados nos pressupostos racionalistas. Assim ocorreu com o Neoclassicismo. O Neoclassicismo apresenta duas manifestações de grande importância no campo artístico: o Rococó e o Arcadismo. 2.4.1.8.3 - O Rococó O Rococó Passado o período do absolutismo monárquico de Luís XIV, na França, vários nobres lutam para se desvencilharem do domínio da Coroa e, ao lado de riquíssimos burgueses, trabalham em favor de uma espécie de revolução cultural de elite, em reação ao rigorismo moral do século XVII. O Rococó representa essa revolução e suas conseqüências. Em lugar da arte monumental, solene e grandiosa de proporções reduzidas, na qual se cultivam a delicadeza, a intimidade, a estilização, a partir do cultivo do hedonismo, o Rococó viverá para o prazer, enquanto a cultura se erotiza e se legitimam licenciosidade e a libertinagem. A opulência da carnalidade da mulher barroca é substituída pela graciosidade e pelo charme das lânguidas mulheres dessa cultura. A prática refinada do gosto marca a experiência estética impregnada de ludismo, que se acentuará na literatura, livre da gravidade do período antecedente. 2.4.1.8.4 - O Arcadismo Arcadismo Enquanto o Rococó se originou na França, o Arcadismo nasceu na Itália, procurando superar os excessos do Barroco, chamado na Itália de Marinismo, já que Marino foi o seu poeta principal. Depois da fase retorcida e deformada do marinismo, surge uma nova fase que revaloriza os modelos greco-latinos. Tal transformação se justifica à luz do racionalismo de uma época reflexiva, ávida de elegância e bom gosto. O Arcadismo atenderá a esses requisitos, desenvolvendo o ideal bucólico que dominará a lírica do século. A Arcádia se originou em Roma, fundada pelos amigos da Rainha Cristina, ex-soberana da Suécia, que abdicara do trono e fixara residência na Itália. Reunia em seus salões estudiosos para discutir problemas literários e científicos. Ao morrer, em 1689, os freqüentadores de seu palácio fundaram uma agremiação à qual denominaram Arcádia, inspirados numa região da Grécia (provavelmente legendária), habitada por pastores e considerada, na poesia pastoril da antigüidade, o verdadeiro paraíso. Os membros da agremiação denominavam-se pastores, adotaram nomes pastoris gregos e latinos e tinham por finalidade ressuscitar a simplicidade da poesia bucólica greco-latina. O movimento arcádico significou o início de uma literatura verdadeiramente brasileira. Minas Gerais é o centro econômico e intelectual do país e lá surge o Grupo Mineiro: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva Alvarenga, Basílio da Gama e José de Santa Rita Durão. É Rousseau que vai exercer grande influência nesta época com o lema: “O homem é bom, a sociedade o corrompe”. Com isso, surgirá uma hipervalorização do homem em estado primitivo, selvagem, pois este primitivismo seria o oposto das regras sociais, da civilização hipócrita e corrupta. É o culto do “Bom Selvagem” freqüente na ficção do século XVIII. 39 40 Pode-se afirmar que o Arcadismo foi a primeira tentativa de subordinar a Arte à Ciência. Na medida em que procurou refletir a mentalidade científica da época, o Arcadismo tornou-se artificial, pedante, inatural. 3- A arte como imitação da natureza, já que se procura no campo o tema pastoril e campestre; Muitos de seus maiores nomes fugiram às exigências estéticas inerentes ao estilo, realizando uma poesia de caráter pessoal, sentimental, em que a emoção superava a razão; por isso, foram classificados como pré-românticos. 5- Predomínio da razão e da ciência, negando a fé e a religião; Seguindo a enumeração, o Arcadismo apresenta as seguintes características: 7- Preocupação com a finalidade moral da literatura; 4- Reação contra o que se considera o mau gosto barroco; 6- Tendência, na poesia, para pintar situações, mais do que emoções; 8- Condenação à rima; 1- Retorno ao equilíbrio e à simplicidade dos modelos greco-romanos; 2- Presença marcante do bucolismo, valorizando a vida campesina; 9- A poesia deve voltar-se à natureza, que é o lugar onde residem a beleza, a pureza e a naturalidade. Portanto, a poesia deve ser pastoril, bucólica, ingênua e inocente. 2.4.1.8.5 - O Pré-Romantismo O Pré-Romantismo Trata-se de uma tendência estética que se afastou dos cânones do Neoclassicismo e da visão de mundo racionalista da época. Esta tendência inaugura novos conceitos estéticos, nova temática, novo estilo. O Pré-Romantismo exprime um senso mais íntimo da natureza e, reagindo contra o anticlericalismo dominante, exibirá inclinações religiosas e místicas. Ao racionalismo responde com o sentimentalismo. Ao otimismo dos filósofos revolucionários contrapõe o pessimismo e a melancolia. Para os pré-românticos, a arte não provém de um esforço da razão, mas brotará da imaginação e das efusões do sentimento. Na Alemanha, o Pré-Romantismo surgiu com o movimento do Sturm und Drang - tempestade e inquietação - que contribuiu para a formação do Romantismo. O Pré-Romantismo é o primeiro movimento literário europeu, depois da Idade Média, que não se inspira na antiguidade greco-latina, daí sua revolta contra as convenções do Neoclassicismo e sua necessidade de exterminar os princípios de imitação dos antigos e também abolir as regras obrigatórias. Compreende-se assim o gosto pela poesia popular e primitiva. Leia, agora, os textos que se seguem e atente para a poesia árcade de Tomás Antônio Gonzaga (Brasil- Colônia) e pré-romântica de Bocage (escritor português): Tu não verás, Marília, cem cativos Tu não verás, Marília, cem cativos Tirarem o cascalho e a rica terra, Ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da mina da serra. Não verás separar ao hábil negro Do pesado esmeril a grossa areia, E já brilharem os granetes de ouro no fundo da bateia. Não verás derribar os virgens matos, queimar as capoeiras inda novas, servir de adubo à terra a fértil cinza, lançar os grãos nas covas. Não verás enrolar negros pacotes das secas folhas do cheiroso fumo; nem espremer entre as dentadas rodas da doce cana o sumo. Verás em cima da espaçosa mesa altos volumes de enredados feitos, ver-me-ás folhear os grandes livros, e decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos, tu me farás gostosa companhia, lendo os fastos da sábia mestra História, e os cantos da poesia. Quem chora finalmente a dura ausência De um bem que para sempre está perdido: Lerás em alta voz, a imagem bela; eu, vendo que lhe dás o justo apreço, gostoso tornarei a ler de novo o cansado processo. Folgará de viver quando não passa Nem um momento em paz, quando a amargura O coração lhe arranca e despedaça? Se encontrares louvada uma beleza, Marília, não lhe invejes a ventura, que tens quem leve à mais remota idade a tua formosura. (Tomás Antônio Gonzaga) Quem se vê maltratado e combatido Pelas cruéis angústias da indigência, Quem sofre de inimigos a violência, Quem geme de tiranos oprimido: Quem não pode ultrajado e perseguido Achar nos Céus ou nos mortais clemência, Ah! Só deve agradar-lhe a sepultura, Que a vida para os tristes é desgraça, A morte para os tristes é ventura. (Manuel Maria Barbosa du Bocage) Torna-se importante ressaltar que Bocage foi considerado o precursor do Romantismo, devido às exclamações retumbantes, à fantasia apaixonada, à emoção ardente. No poema acima, o verso “A morte para os tristes é ventura” pode ser considerado o lema do Romantismo. Quadro-Síntese As Correntes do século XVIII Influência ideológica - Enciclopedismo de Diderot, Rousseau, Voltaire e Montesquieu. Tendências da época - Neoclassicismo: imitação dos clássicos. - Arcadismo: evocação da vida pastoril. - Iluminismo: difusão do racionalismo. Características - Predomínio da razão. Busca da objetividade. Culto à natureza. Equilíbrio e sobriedade clássicos. Presença da mitologia greco-romana. Exercícios de Auto-Avaliação Por intermédio do que foi exposto, vamos testar a assimilação das correntes que acabamos de estudar. 1 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código: a) Barroco b) Arcadismo c) Pré-Romantismo ( ) Poesia pessoal, sentimental, apaixonada. ( ) Simplicidade sintático-vocabular. ( ) Conflito entre valores antagônicos. ( ) Culto do homem primitivo, das coisas naturais. 41 ( ) Direção adotada por muitos autores do século XVIII. 42 ( ) Teocentrismo, tema quase obrigatoriamente religioso. ( ) Antítese e paradoxo. ( ) Enciclopedistas. ( ) Revalorização da mitologia e da cultura greco-romana. ( ) Racionalismo, poesia objetiva e impessoal. 2 - Como, principalmente, o Arcadismo se opõe ao Barroco? 3 - Qual foi a principal característica do Arcadismo? 4 - O que esta característica significa? 5 - Como ficou conhecido o século XVIII? 6 - Que significa o Princípio da Imitação? 7 - Qual a tese de Rousseau sobre o homem? 8 - Qual a implicação desta tese na literatura do século XVIII? 9 - O que sucedeu à grande parte dos autores árcades? Leitura Complementar Leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992. 2.4.2.9 – As Correntes do Século XIX 2.4.2.9.1 - O Romantismo O Romantismo O Romantismo preenche o início do século XIX, período que marcará o fim de um longo processo: a burguesia, após firme e decidida caminhada, assume o poder através da Revolução Francesa. Os ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” ecoam por todo o mundo, anunciando transformações. Os donos do mundo já não eram mais o Clero e a Nobreza; o “sangue azul” deixou de ser condição indispensável para o reconhecimento da sociedade. Os escritores românticos captam em suas obras os problemas essenciais da época, ou seja, o sentimento pessimista da existência, a indagação metafísica sobre o destino humano, a busca de um valor universal que justifique o sofrimento e a morte. Podemos situar as raízes do Romantismo no tormento do mundo e na insegurança dos povos, vivendo as conseqüências dos ideais frustrados da Revolução Francesa. Para atingir o poder, a Burguesia contou com o apoio do povo, das classes mais humildes. Assim, a Revolução Francesa possui um cunho popular – burguês. Em termos de arte, estava preparado o cenário para uma outra revolução. O público consumidor – burguês – não tinha grande preparo intelectual, não era culto, queria, portanto, a diversão. Evidentemente, esta diversão estaria mais próxima da plebe do que da elite. O sentimento de carência da pátria que a ação napoleônica ocasionou junto aos povos europeus despertou a consciência nacional e a ânsia de liberdade. Uma das razões mais comuns entre os românticos, e muito freqüente nos textos, era a evasão para o sonho, para mundos ideais ou ainda para a natureza confiante e consoladora, atitude essa decorrente do conflito do eu com a realidade adversa. Uma das possibilidades de evasão ou escapismo consistia no refúgio ao passado mítico do indivíduo ou do mundo. A valorização do sentimento e da emoção leva o autor romântico a explorar o subjetivismo e até mesmo a egolatria, aspectos que produzem uma literatura de tom intimista e confessional, atingindo, não raras vezes, excessos de mau gosto. O romântico julga-se o centro do universo e o ego representa seu grande pólo de interesse, a ponto de ver na natureza e no universo meras projeções de seu mundo interior. O escritor e o poeta da época surgem como indivíduos predestinados a grandes momentos. Assumindo uma verdade dialética, inauguram uma arte de evasão e de participação, concretizada na valorização do homem como indivíduo dentro da sociedade. Surge, então, o herói individual, corajoso, leal, dotado de poderes quase sobrenaturais, capaz de bravura e, ao mesmo tempo, pronto para morrer de amor quando a vida lhe nega a “virgem suspirosa e pura” com a qual sonha acordado. 2.4.2.9.2 - Romance Romântico Romance Romântico Romance de consumo, lançado no mercado para ser aceito ou rejeitado como qualquer outro produto colocado à venda, propicia o surgimento de uma nova profissão: a de escritor. . Destinado a um público sem maiores comprometimentos culturais, o romance romântico atende aos ideais de sonho e lazer da classe média, praticamente, sem saber como preencher as horas de ociosidade. Em geral, é uma narrativa simples que fala de amor e de aventuras. . Os folhetins, as novelas e os romances vêm ao encontro dos anseios de fuga do nosso público leitor, que procura auto-identificar-se com os heróis e as heroínas da ficção romântica. O romance e a novela da nova cultura nascente, das transformações sociais, das tradições do passado e dos sonhos futuros. O romance romântico estrutura-se de forma linear. Predomina o tempo cronológico – tem começo, meio e fim definidos. Sua mensagem é sempre redundante. Segundo o professor Afonso Romano de Santana, o romance romântico cristaliza uma série de lugares comuns e tipos, como a bruxa má, o príncipe encantado, etc. Seus temas reduzem-se à reiteração de aforismos, tais como: “o crime não compensa”, “o amor resolve todos os conflitos”, “o mal é sempre castigado”, “a justiça sempre vence”. Nesse tipo de romance, o Bem e o Mal, a Inocência e o Pecado são claramente delineados, culminando em tais narrativas as lições de moral declaradas através do desfecho quase sempre moralizante. Como grandes figuras do romance romântico, podemos citar: na Inglaterra, Walter Scort; no Brasil, José de Alencar; em Portugal, Alexandre Herculano; na Itália, Alexandre Monzoni; na França, Vitor Hugo. Quadro-Síntese Romantismo Influência ideológica Características - Burguesia ascendente - Predomínio da fantasia e do sentimento. - Subjetivismo, lirismo, senso de solidão. - Temas cristãos, nacionais e medievais. - Integração do homem à natureza. - Ampla liberdade criadora, aceitação de temas nacionais e populares. - Espiritualismo - idealização das coisas divinas. - A arte é um sistema aberto; instrumento de mensagens de evasão, sonhos, confissões, fraquezas, dores, etc. - Preferência por temas históricos, com personagens extraordinárias. - Crença na inspiração, no arrebatamento. 43 44 Exercícios de Auto-Avaliação Antes de passarmos aos outros estilos de época, vamos treinar o nosso conhecimento, voltando sempre aos estilos anteriores, já que trabalhamos com diferenças e semelhanças. 1- Responda às perguntas solicitadas: a) O Romantismo rompeu com os padrões clássicos? De que forma? b) Qual a atitude romântica diante da realidade e do cotidiano? c) Por que os românticos retornam à Idade Média? d) O que significa “poesia confessional”? e) Caracterize o herói ou a heroína do Romantismo. 2 - Leia com atenção o texto que se segue. Depois responda às questões, atentando sempre para a linguagem romântica. “Amar e Ser Amado” (fragmento) (Castro Alves) Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor esse adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo! Ser amado por ti, o teu alento A bafejar-me a abrasadora fronte! Em teus olhos mirar meu pensamento, Sentir em mim tu’alma, ter só vida P’ra tão puro e celeste sentimento: Ver nossas vidas quais dois mansos rios, Juntos, perderem-se no oceano -, Beijar teus dedos em delírio insano, Confundido também, amante - amadoComo um anjo feliz...que pensamento!? a) Uma das características marcantes do Romantismo é o subjetivismo. Que palavras do texto contribuem para a criação dessa subjetividade? b) Procure provar através da linguagem que todas as emoções descritas transcorrem no plano da imaginação do poeta. c) Releia o poema e procure provar que o poeta se debate entre a paixão arrebatadora e a suavidade de sentimentos. d) Selecione os substantivos e adjetivos desta composição poética, chegando a uma conclusão sobre os recursos lexicais predominantes no Romantismo. Observação: Se surgirem algumas dúvidas, entre em contato com o tutor a fim de uma orientação mais direta e adequada. Leitura Complementar Para um conhecimento mais amplo do Romantismo, leia: BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992. 2.4.2.9.3 - Realismo, Naturalismo, Parnasianismo Realismo, Naturalismo, Parnasianismo Esses três movimentos surgiram na França em meados do século XIX, com um traço comum: repúdio ao Romantismo. Vamos estudá-los separadamente. 2.4.2.9.4 - O Realismo O Realismo O progresso vertiginoso da ciência permite ao homem perceber que as simples hipóteses a respeito dos elementos constitutivos da realidade não têm mais sentido. Volta-se, então, para a análise do Universo, da natureza e do próprio homem, pois estes três elementos pertencem a um todo orgânico – o cosmo – e por estarem associados, estão sujeitos às mesmas leis. O homem adota uma atitude científica perante o mundo. O conhecimento positivo passa a ocupar o primeiro plano, ao passo que as indagações espirituais são relegadas a um plano inferior. provando, ainda, que a burguesia falhara como ideal de civilização. Surgem obras baseadas na experimentação científica, como as de Darwin e Claude Bernard, e na filosofia positivista de Augusto Comte. Influem também as idéias de Shopenhäuer, que acredita serem as utopias e os devaneios do espírito os principais responsáveis pelo “sofrimento e pela dor de viver”. Só a ciência poderia curar os homens desse grande mal. Diferentemente do romance romântico, a ficção realista preocupa-se mais com a caracterização dos personagens, elementos verossímeis e vivos, vulgares e contestadores. Os diálogos ajudam a criar o clima de veracidade. A figura do herói idealizado será substituída pela imagem do homem comum e real. Já não interessa tanto a cronologia dos fatos, mas a criação de espaços e tempos simbólicos incongruentes como a própria vida. Novas perspectivas despontam para a humanidade. Apoiado nessas reivindicações materialistas e científicas, desponta uma ficção diferente: o romance realista, através do qual o escritor pretende mostrar a diferente maneira de ver o mundo e as coisas. Só a análise da realidade pode apresentá-lo como verdadeiramente é. Novo estilo e nova forma de (re)criar a realidade são empregados na literatura. São líderes desse movimento: Honoré de Balzac, Gustave Flaubert e Stendhal. Com a edição de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, romance que sistematiza as principais propostas da ficção realista, considera-se iniciada a nova fase literária. O romance realista pretende desmistificar o sistema burguês, fundamentado na hipocrisia; É um romance de observação e crítica. O escritor vale-se da análise de fatos, focalizando a realidade objetiva e o homem. Usando uma linguagem mais simples e próxima da realidade, o escritor realista preocupa-se com a autenticidade da história narrada. Por essa razão, sua narrativa é lenta e o narrador se prende às minúcias e aos detalhes, no desejo de caracterizar melhor o homem e o ambiente. O escritor realista preocupa-se em criar obras de tese, em que, recriando um mundo fictício, retratará o mundo real de tal forma, que suas hipóteses (no sentido crítico) sejam comprovadas no decorrer da obra. No Brasil, destaca-se Machado de Assis, líder da inauguração do romance de estrutura complexa, cuja narrativa obedece mais ao nível psicológico. Embora os fins do século XIX assinalem o grande momento da prosa realista, voltada para o presente e para o real, o Realismo, na maneira de enfocar o homem – a natureza e o universo – existirá sempre que o escritor desejar apresentar-nos esses elementos como eles são na realidade. 45 46 2.4.2.9.5 - O Naturalismo O Naturalismo Geralmente o Naturalismo é confundido com o Realismo. Esses dois movimentos surgiram em meados do século XIX, na prosa. Vamos esclarecer essa confusão que perdura ainda em alguns livros de literatura. Quando a ficção realista é fortalecida pela visão científica e materialista do homem, da sociedade e da vida, a ponto de criar personagens movidas apenas pelas forças do determinismo (homem sujeito às leis da fatalidade e do destino), temos o que se convencionou chamar de Romance Naturalista. Esse tipo de romance, que procura exagerar a realidade, tomando como ponto de partida o negativismo e as taras humanas, adota a doutrina filosófica que nega a presença de qualquer significado sobrenatural dentro da realidade. O homem é visto pelo escritor naturalista como um mero produto do meio, da raça e do momento. O romance naturalista é quase sempre linear, estruturado em bases de começo, meio e fim e instaurador da figura do anti-herói. O termo naturalista assume posição definitiva com Emile Zola e seu grupo. No Brasil, destaca-se Aluísio Azevedo. O naturalismo assume uma posição combativa na análise de problemas que a decadência social evidenciava e faz do romance uma verdadeira tese, com intenção científica. No entanto, através desse método experimental, reconhece-se um desejo humanitário de mudar as condições de existência social. Concluimos afirmando que os naturalistas ultrapassam os realistas nas descrições repugnantes e repelentes, movidos pela certeza do seu papel científico mais efetivo. 2.4.2.9.6 - O Parnasianismo O Parnasianismo Paralelamente à prosa realista e naturalista, surgiu uma escola de poesia com características bem marcantes. Seu nome é proveniente da França, da revista Le Parnaso Contemporain, editada pela primeira vez em 1866. O título dessa revista fora inspirado na montanha grega Parnaso, consagrada a Apolo e às musas inspiradoras das artes. Portanto, o Parnasianismo, em sua busca incessante de novos temas, novos processos poéticos (“Arte pela arte”), representou uma reação contra o Romantismo. A banalidade dos temas, o descuido das composições, o derramamento sentimental, precisavam, agora, ser sanados pela razão, pela ciência e pelos valores supremos da época. O Parnasianismo, nome dado a essa escola, zelava pela composição perfeita do verso, procurando fugir dos cacoetes românticos. Os parnasianos, como eram elitistas, achavam que a poesia representava um luxo intelectual, dirigida a poucos iniciados, capazes de compreender e fruir as refinadas expressões de beleza. Como exemplo de uma poesia parnasiana, observe com atenção esse soneto de Alberto de Oliveira, que, juntamente com Olavo Bilac e Raimundo Correia, constitui a chamada Trindade Parnasiana. Perceba a ênfase descritiva, o não envolvimento do poeta com o tema tratado, a perfeição formal, a seleção vocabular e a volta aos motivos clássicos. Mais uma vez, a poesia volta a se inspirar nos autores greco-latinos e recupera a importância dada à forma, no classicismo e no neoclassicismo, em oposição à liberdade criadora do Romantismo. Os parnasianos repelem o prestígio conferido pelos românticos à inspiração e optam por um trabalho artesanal e cuidadoso, um aprimoramento de ourivesaria, “limando” o verso com paciência e minúcia, à procura da rima rica e do rigor métrico, numa devoção à beleza formal. Vaso Grego (Alberto de Oliveira) Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copo, um dia, Já aos deuses servir como cansada Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendia Então, e, ora repleta ora esvasada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira, Toca-a e do ouvido, aproximando-a, a bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce. ESTILOS Ignota voz, , qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse. Características Realismo a) A preocupação com a verdade, não apenas verossímil, mas exata. b) Preocupação com a observação e análise da realidade. c) Busca do perene humano no drama da existência, mas sem preocupação de ordem transcendente. d) Rigorosa lógica entre as causas (biológicas e sociais) que determinam o comportamento dos protagonistas. e) Preocupação com a mensagem que revela naturalmente o comportamento das personagens. f) Determinismo na atuação das personagens. g) Preocupação revolucionária, atitude de crítica e combate. h) As personagens são tipos concretos, vivos. i) Preocupação com minúcias; narrativa lenta; linguagem próxima da realidade; retrato fiel das personagens, através de uma linguagem simples; correção gramatical, clareza, harmonia, equilíbrio na composição. Naturalismo a) Preocupação com o homem na sociedade, enfocando os aspectos mais deploráveis e cruéis da realidade. b) Criação do romance experimental. c) Concepção de que o homem é apenas um produto do momento, do meio e da raça. d) Exploração das taras humanas, das neuroses, dos casos patológicos. e) Visão do homem como um animal, levado pelo instinto. f) Valorização dos sentidos, das sensações visuais, táteis, auditivas, olfativas e gustativas. Basta atentar para o romance “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo. g) Linguagem grosseira e vulgar. h) Despreocupação com a moral. Parnasianismo a) A perfeição da forma. b) A linguagem é, antes de tudo, correção e equilíbrio. c) Sobriedade no emprego das figuras. d) Emprego de rimas ricas e raras. e) A impassibilidade do poeta diante da obra. f) Fuga dos sentimentos vagos para ter visão do real. g) Seleção vocabular, primando pelo eruditismo. h) Ênfase descritiva nos pequenos objetos: vasos, estátuas, taças etc. i) Culto da beleza, “a arte pela arte”. 47 48 Exercícios de Auto-Avaliação Agora vamos testar os conhecimentos sobre os estilos de época. 1- Relacione as colunas de acordo com o seguinte código: a) Romantismo b) Realismo c) Naturalismo d) Parnasianismo ( ) Análise, crítica e denúncia da sociedade burguesa. ( ) Exaltação dos sentimentos, paixão. ( ) Homem visto como um animal, levado pelo instinto. ( ) Romance experimental. ( ) Romance de tese. ( ) “Arte pela arte”. ( ) Preocupação com a perfeição formal. ( ) O homem é um produto do meio-ambiente. ( ) Poesia confessional. ( ) Poesia descritiva. 2 - Estabeleça uma diferença entre o Realismo e o Naturalismo. 3 - Por que a linguagem naturalista é um exagero das tendências realistas? 4 - Como o Naturalismo encara o homem? 5 - Românticos e parnasianos encaram diferentemente o gosto popular. Explique. 6 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código: a) Realismo b) Naturalismo c) Parnasianismo (...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter como objeto de descrição o que é objetivo, material e real (nada de subjetivismo). (...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter papel de mostrar, analisar e criticar a sociedade. (...) Vertente do Realismo, leva, em alguns aspectos, o estudo das personagens ao exagero científico; determinista, a raça é um grande argumento para se justificarem os problemas econômico-sociais. Leitura Complementar BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992. 2.4.2.9.7 - Simbolismo e Impressionismo Simbolismo e Impressionismo Sem dúvida, estamos estudando e observando um entrecruzamento de estilos no século XIX: o Romantismo, no início; o Realismo, Naturalismo e Parnasianismo em meados e fins do século XIX e o Simbolismo e o Impressionismo em fins do século XIX. Comecemos pelo Simbolismo. 2.4.2.9.8 - O Simbolismo O Simbolismo “De la musique avant toute chose – Música acima de tudo. (Verlaine) Movimento literário que surgiu na França, em fins do século XIX e teve como principais líderes: Mallarmé, Rimbaud, Verlaine e Baudelaire, autor de “As flores do mal”, responsável por uma profunda mudança na arte poética. Desmistificando a poesia parnasiana, Baudelaire produziu uma poesia satânica e irreverente. . Antes de entrarmos no Simbolismo propriamente dito, vamos conhecer o Decadentismo, de onde se originou e se renovou o Simbolismo. O adjetivo decadente foi usado na França, entre 1882 e 1886, em tom pejorativo, com o fim de indicar a nova atitude do espírito, do costume e do gosto, como se a nova orientação constituísse indício de decadência moral e estética, no entanto, os seguidores dessa tendência viram no título motivo de honra. Em meio à idéia de progresso, de fé na ciência, dominante na segunda metade do século XIX, difunde-se o sentimento de decadência, que anuncia uma época de crise e dissolução, onde uma civilização começa a negar os fundamentos intelectualísticos e se volta para o antiintelectualismo, em reação contra a tirania da cultura milenar tornada obsoleta. Aos decadentistas a velocidade furiosa do progresso e as perspectivas mudanças parecem problemas de ordem patológica, em confronto com o ritmo de épocas anteriores. Segundo a visão decadentista, a literatura deveria libertar-se de toda contaminação com estruturas intelectualísticas e com intromissões culturais. Do Decadentismo surgiu o Simbolismo e, de certa forma, todos os movimentos da vanguarda européia a ele são devedores (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL (org.), 1999: 156). O Simbolismo é uma escola complexa de se definir. Resgata o subjetivismo romântico e parte do princípio de que a poesia não pode exprimir-se de maneira definida nem definitiva. Anticientífico, antimaterialista, o Simbolismo se caracteriza pela elaboração formal, pelo trabalho cuidadoso e minucioso com a linguagem, diferindo do Parnasianismo. A literatura sempre fez uso da linguagem simbólica, mas com o Simbolismo essa linguagem é levada a extremos, ou seja, os simbolistas sugerem situações, sensações, cores, sons, odores, etc., impressões sensoriais. Não há mais rigor formal da estética anterior; a poesia agora se constitui como expressão livre, seja em versos ou em prosa. O autor não é impessoal: ele recupera e aprofunda o lado romântico (que, aliás, não foi eliminado totalmente pelo Parnasianismo) para valorizar as impressões do indivíduo. A realidade não é mais descrita com a precisão realista-naturalista-parnasiana, mas é evocada, sugerida; por isso ela é traduzida em símbolos. Já não interessam os detalhes da realidade, mas o que ela evoca. O escritor, portanto, trabalhará com uma linguagem metaforizada, com o real evocado e, naturalmente, os temas passam a apresentar o fascínio pelo que é imaterial: o tema do homem como ser misterioso, espiritual, envolto por uma realidade desconhecida. É o tema dos mistérios do mundo, da vida e da morte. O Simbolismo é atraído por um espiritualismo que se opõe ao cientificismo da época. Enquanto o parnasiano esculpia a linguagem e relacionava a poesia à escultura, o simbolismo evoca sensações e impressões e as associa ao som: é uma nova linguagem poética, 49 50 musical, com sons sugestivos e a mistura de todos os sentidos evocados pela realidade. Observe agora a linguagem simbolista nesse soneto de Cruz e Souza: Musselinosas como brumas diurnas descem do ocaso as sombras harmoniosas, sombras veladas e musselinosas para as profundas solidões noturnas. Sacrários virgens, sacrossantas urnas, os céus resplendem de sidérias rosas, da lua e das Estrelas majestosas iluminando a escuridão das furnas. Ah! por estes sinfônicos ocasos a terra exala aromas de áureos vasos incensos de turíbulos divinos. Os prenilúnios mórbidos vaporam... E como que no azul plangem e choram cítaras, arpas, bandolins, violinos... O mundo de Cruz e Souza é de palavras, de símbolos, de cor e som, criando imagens raras de beleza. As imagens, a música, as sinestesias, a preocupação com a brancura, entre outras características, fazem desse poeta negro um dos maiores líricos da literatura brasileira. Sua poesia evoca o trágico, o contraste entre o mundo da matéria, mundo de desigualdades sociais, e o mundo de brumas de luar, de liturgias. É o contraste entre o material e o etéreo. E é assim que Cruz e Souza inicia o Simbolismo no Brasil e lega à literatura brasileira uma poesia que une os planos material e espiritual. Atente para o que se fala a respeito da poesia simbolista: Na poesia simbolista, a palavra não define, não determina, mas sugere estados emotivos, na medida em que a linguagem descobre automaticamente as relações existentes entre as coisas. Nesse misticismo da palavra, o poeta deve deixar-se arrastar pelo fluxo da linguagem pela sucessão espontânea das imagens e das visões. Com esses recursos, os simbolistas procuram descobrir, mediante a linguagem poética, a universal correspondência e a analogia das coisas. Por meio das analogias, cada palavra se torna símbolo de uma realidade evocada através da musicalidade da linguagem. A palavra, usada em livres associações, evoca realidades que palpitam além dos sentidos e revela o mistério do mundo desconhecido. O poeta é o vidente que capta experiências sobrenaturais, na linguagem das coisas visíveis e faz a exploração da realidade que reina além da razão, através da intuição (Ibidem: 158). Importante ressaltar que, em plena implantação do Modernismo, poetas como Cecília Meireles e Murilo Mendes procuraram consolidar heranças simbolistas que sempre existiram na nossa poesia dos últimos séculos. 2.4.2.9.9 - O Impressionismo O Impressionismo “Nada é mais musical que um pôr de sol.” Debussy A atitude impressionista, em literatura, chega a ser considerada por alguns como algo comum aos naturalistas e simbolistas e por outros como uma fusão de elementos do Realismo e do Simbolismo. Apesar da complexidade que envolve o assunto, já são significativos os estudos que procuram caracterizá-lo como um período estilístico distinto. Aliás, a palavra Impressionismo corresponde a uma tendência da pintura, característica dos fins do século XIX. Decorre dos quadros de Claude Monet, denominado Impressions e exibido com escândalo no salão do Boulevard des Capicins em 1874. A pintura impressionista não se preocupa com a visão objetiva e estática da realidade. Caracteriza-a o sentimento da permanente transformação do mundo, que leva à impressão de uma continuidade em que tudo se funde, onde o que importa são as diferentes atitudes e pontos de vista do observador. Assim, não há na natureza cores permanentes: existe constante mutação. As formas das coisas são criadas pela luz e não pelas linhas. Outro traço: a convicção de que não existe a ausência da luz para a tinta preta nos quadros impressionistas. E os pintores preferem pintar ao ar livre, à luz plena do sol. Esses são traços fundamentais da atitude. Da pintura, o nome estendeu-se às demais artes: na música impressionista de Debussy e Ravel e, conseqüentemente, chegou à literatura. Da mesma forma que na pintura, a literatura impressionista, sem se afastar inteiramente da atitude realista, registrava “impressões” fugidias e imediatas, numa espécie de realismo subjetivo, que não escondia certa afinidade com o Simbolismo. O autor impressionista não dá nomes às coisas, mas descreve o efeito que elas produzem. Preocupase com as sensações e com a emoção que o objeto desperta num instante. A sensação da coisa vale mais que a própria coisa e a invenção da paisagem mais do que a descrição. No Brasil, os escritores impressionistas estão aguardando um aprofundamento maior por parte dos especialistas. O crítico Afrânio Coutinho, que foi quem, pela primeira vez, propôs o emprego do termo na divisão da nossa história literária, aponta como expressão mais alta Raul Pompéia (O Atheneu) e assim se expressa: No Brasil, a primeira grande repercussão do Impressionismo é em Raul Pompéia. Discípulo dos Goncourt, adepto da écriture artiste e da prosa poética, depois de formar o espírito na doutrina do naturalismo, recebeu a influência da estética simbolista e só encontrou plena e satisfatória expressão dentro dos cânones do Impressionismo. A evolução de Machado de Assis revela uma independência em relação aos postulados do naturalismo positivista que o conduz ao mesmo clima impressionista, característico de sua fase final. Graça Aranha denota, em Canaã, a mesma impregnação impressionista, e, como ele, outros escritores da época não puderam escapar ao dualismo - de um lado, os laços do Realismo (ou mesmo naturalismo), do outro a influência simbolista. Coelho Neto, Afrânio Peixoto e muitos outros escapam, por certos aspectos, das classificações comuns, traem a forma impressionista (COUTINHO, 1986: 329 ). 51 52 Quadro-Síntese ESTILOS Simbolismo Características a) Concepção mística da vida. b) Elemento intelectual: preocupação com o espiritual, o místico e o subconsciente. c) Interesse maior pelo particular e individual. d) Conhecimento demarcado pela intuição e não pela lógica. e) Ênfase na imaginação e na fantasia. f) Desprezo à natureza em troca do místico e do sobrenatural. g) Utilização do valor sugestivo da música e da cor. h) Presença da religiosidade, do espiritualismo, do ocultismo. i) Busca das camadas profundas do “eu”; mergulho no inconsciente. j) Preferência pelas sensações, pelas indefinições, pelas sinestesias. l) Concepção da poesia como mistério. m) Linguagem fundamentada numa “gramática psicológica” e num léxico adequado à expressão das novidades estéticas: uso de neologismos, arcaísmos, combinações vocabulares inesperadas. Impressionismo a) Registro de impressões, emoções e sentimentos despertados no espírito do artista, através dos sentidos, cenas, incidentes, caracteres. b) Valorização dos estados de alma, das emoções, que são mais destacados que o enredo ou a ação na narrativa; importa mais o efeito do que a estrutura na técnica da composição literária. c) Importância maior dada às sensações das coisas, do que às coisas em si. d) As sensações e emoções são importantes no momento em que se verifiquem. e) “Relevo à percepção visual do instante”: valoriza-se a cor, a atmosfera, o efeito dos tons. f) “Ênfase na reprodução de emoções, sentimentos e atitudes individuais: traduz-se a vida interior; “a razão cede passo às sensações.” g) Captação da verdade do instante: A vida é um contínuo mudar-se; cada paisagem é uma única em cada momento do dia; o artista deve captar a impressão deste instante único. h) Tentativa de buscar o tempo perdido através da impressão provocada pela realidade num momento dado, o que nos faz lembrar a obra de Proust. A vida é um contínuo vir-a-ser: o presente resulta do passado. i) Aliás, o momentâneo, o fragmentário, o instável, o móvel, o subjetivo assumem a maior importância no Impressionismo: o método impressionista. Exercícios de Auto-Avaliação 1- Por que dizemos que o Simbolismo é uma poesia de “sugestão”? 2- Desprezando a lógica, que atitude tomava o simbolista? 3- Aponte uma diferença entre Simbolismo e Parnasianismo. 4- Explique o transcendentalismo dos simbolistas. 5- Qual a relação entre Simbolismo e Música? 6- Explique o lema impressionista: “tal como vejo num determinado momento”. 7- Observe no texto seguinte que “cada paisagem é única em cada momento do dia; o artista deve adaptar a impressão deste instante único”. Retire do texto expressões que confirmam tal característica impressionista. “Milkau caminhava pela grande luz da manhã, agora de todo inflamada. Os ventos começavam a soprar mais espertos e como que agitam a alma das coisas, arrancando-as do torpor da vida. O rio descia em direção contrária à marcha dos viajantes e esses movimentos opostos davam a impressão de que toda a paisagem se animava e ia desfilando aos olhos do cavaleiro. A fazenda lá no alto, sumia-se no fundo do longínquo horizonte, o imigrante notava o manso desenrolar do panorama, como o de fitas mágicas: casas de moradores, homens, tudo ia passando, rolando mansamente, mas arrastado por uma força incessante que deixava repousar. A estrada se alargava, outras vinham aparecendo, desconhecidas, infinitas e incertas, como são os caminhos do homem sobre a terra. A brisa fresca encanava-se pelas duas ordens fronteiras de colinas paralelas ao rio, trazia ao encontro do viajante um rugido sonoro de cascata. O rolar do Santa Maria batendo sobre as pedras amontoadas, despedaçando-se como um louco nas lajes aumentava; e as suas águas revoltas, espumantes, recolhiam e reverberavam à luz do sol, como um vacilante espelho. Milkau via ao longe na mata ainda fumegante de névoas, uma larga mancha branca. Na frente o guia estendendo o braço gritou-lhe: – Porto do Cachoeiro.” (Canaã, de Graça Aranha) Leitura Complementar Para um conhecimento mais amplo, leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992. 2.4.2.10 – Século XX: As Vanguardas (Europa) As Vanguardas Dá-se o nome de vanguarda aos movimentos do período que se estende dos inícios do século XX ao Surrealismo, surgido em 1924. Existem diversos “ismos” nesta época, mas iremos nos deter apenas nos principais: Esses movimentos se caracterizaram pela desorganização do universo artístico da época e pela urgência de inovação e renovação literária, encaminhando-se tudo com muito estardalhaço (preconizaram o caos criativo do pós-modernismo). Futurismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo. 2.4.2.10.1 – Cubismo Cubismo Movimento mais ligado às artes plásticas. O ponto de partida é o quadro de Pablo Picasso (1881-1973) “Les Demoiselles d’Avignon”, em 1906. • A procura da verdade deve centralizar-se na realidade pensada e não na realidade aparente; • A obra de arte deve bastar-se a si mesma; Observação: O Cubismo na literatura só se manifestou no ano de 1912. Na literatura, a figura de Apollinaire foi importante e decisiva. Observe as seguintes características: • As obras de arte não devem ser uma representação objetiva da natureza, mas uma transformação dela, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva; • Supressão da lógica aparente; • Influência de viagens, de paisagens exóticas, de cidades apenas vislumbradas; • Valorização do humor. 53 54 Pablo Picasso apresenta em suas telas o objeto decomposto: um objeto, com várias faces, pode ser observado sob vários ângulos. A sua decomposição é a apresentação nessa multiplicidade visual, e todos os ângulos e faces favorecem a recomposição da imagem real. O cubismo trabalha com formas geométricas, que nega a concepção clássica de que uma figura deve ser apresentada com forma e linhas contínuas. Ao contrário, o Cubismo fragmenta a figura para poder apresentar suas várias perspectivas. O cubismo influenciará a arquitetura, o cinema, os cartazes de publicidade, a moda feminina e a literatura. Observe no texto “Morro Azul”, de Oswald de Andrade, a composição sob a influência do estilo cubista, em que prevalecem as formas geométricas: “Passarinhos Na casa que ainda espera o Imperador As antenas palmeiras escutam Buenos-Aires Pelo telefone sem fios Pedaços de céu nos campos Ladrilhos no céu O ar sem veneno O fazendeiro na rede E a Torre Eiffel noturna e sideral” A supressão de pontuação, a poesia com novo visual tipográfico, poesia geométrica, linguagem fragmentada tanto quanto a realidade, são aspectos que a literatura absorveu do Cubismo e que teve em Gullaume Apollinaire (1880-1918) o seu principal divulgador. 2.4.2.10.2 – O Futurismo O Futurismo Surge através do Manifesto do Futurismo, publicado em Le Figaro, de Paris, em 22 de fevereiro de 1909, assinado pelo seu representante italiano, Filippo Tommaso Marinetti. As propostas de Marinetti vêm demostrar a rebeldia, a ânsia de demolição, a ótica do homem do início do século, que vê a realidade com a velocidade do automóvel, de dentro da máquina, ou que salta rápido, agitado, desviando-se sobre os trilhos do bonde em grande velocidade. O Manifesto Futurista postula as seguintes características: • O amor ao perigo, o hábito da energia, a temeridade; • A poesia baseada essencialmente na coragem, na audácia, na revolução; • O canto entusiasmado da velocidade; • A poesia como um violento assalto contra as forças desconhecidas para intimá-las e prostrar-se diante do homem; • A abominação do passado; • A exaltação da guerra, do militarismo, do patriotismo; • O canto em poesia das grandes multidões agitadas pelo trabalho, o prazer ou a rebeldia; as ressacas multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; • O canto das estações de veículos, as fábricas, as locomotivas, os aeroplanos, os navios a vapor; • A certeza do caráter perecível da própria obra que pretendiam. Como podemos observar: Os futuristas valorizam a ciência, a máquina, o automóvel, as fábricas, as estações ferroviárias, as locomotivas, as multidões das grandes cidades, os aviões, tudo o que significasse espírito Moderno, na sua parte mais agressiva e polêmica. Rejeitavam toda a literatura do passado, pregando a demolição da Tradição, a destruição da sintaxe, eliminando a pontuação, o uso das “palavras em liberdade”, a “enumeração caótica”, a “imaginação sem fios”. A modernização atinge as artes. Os artistas, ligados à época, refletindo-a, transformam a máquina em material de arte, imprimindo em seu trabalho as características do novo tempo. Mas o progresso é tão rápido e acelerado que o artista passa a ter a consciência de que, para acompanhar a velocidade do mundo, é preciso captar tudo, porque a cada passo ele pode já ser passado. E a linguagem ganha a velocidade desse novo tempo: tudo é dito sem que haja nexos sintáticos. associação entre tempo cronológico (ou material) e tempo psicológico. Atente para a linguagem de Oswald de Andrade, no trecho que se segue, retirado do livro Memórias Sentimentais de João Miramar: O Futurismo de Marinetti representa e reflete essas novas propostas. Oswald de Andrade, em uma de suas viagens pela Europa, conheceu-as, interessou-se pelo teórico italiano e chegou até a acreditar que, no Brasil, Mário de Andrade fosse o representante do Futurismo. Soho Square Picadilly fazia fluxo e refluxo de chapéu alto e corredores levando ingleses duros para música e talheres de portas móveis e portas imóveis. Elevadores Klaxons cubs tubes caíam do avião na plataforma preta de Trafalgar. Mas nosso quarteirão agora grupava nas calçadas casquettes heterogêneas penetrando sem nariz no whisky dos bars. Bicicletas levantavam coxas velhas de girls para napolitanos vindos da Austrália. Isadora Duncan helenizava operetas no Hipódromo. A velocidade expressa nessa linguagem truncada sintaticamente imprime oposição e, ao mesmo tempo, Mas não era verdade. O que havia em Mário de Andrade, e em outros autores, era a consciência de que, para representar o novo mundo, era preciso lançar mão de uma nova linguagem. A verdade é que as novas propostas vieram estimular a consciência de que era preciso deixar de lado tudo o que representasse dominação política e cultural. Houve identificações com o Futurismo no sentido de que nossos autores entendiam, também, que a arte deveria estar voltada ao presente, à vida acontecendo. A arte e a vida não são estáticas, são processos, caminham, sofrem ações do meio e agem sobre ele. 2.4.2.10.3 – Expressionismo Nas artes plásticas é a sobreposição da visão expressiva pessoal do artista aos valores, juízos e verdades objetivas ou convencionais. 2.4.2.10.4 – Dadaísmo Dadaísmo O Dadaísmo surgiu em Zurich, em 1916, com a proposta de demolir os valores de uma civilização degradada pela Primeira Guerra Mundial. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Tristan Tzara (1896 - 1963) líder e fundador do movimento, autor de manifestos que propunham uma nova ordem artística, apresenta uma receita “para fazer um poema dadaísta”. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. “Pegue um jornal. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa ainda que incompreendido do público.” Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. O poema se parecerá com você. Os dadaístas propunham a demolição dos valores – já desmoralizados pela guerra – e compreendiam que era necessária uma linguagem que possuísse novos significados, como se tudo começasse de novo: cores, palavras associadas sem lógica antiga, o texto disposto visualmente, fugindo às formas convencionais. 55 56 Podemos, então, destacar as seguintes propostas dadaístas: • É uma tentativa de demolição; • Propõe a abolição da lógica, “dança dos impotentes da criação”; • Prega a abolição da memória, da arqueologia, dos profetas do futuro; • Exalta a liberdade total de criação; • Propõe a percepção da vida em sua lógica incoerência primitiva; • Tenta a criação de uma linguagem totalmente nova e inusitada; • Busca cortar o nexo de ligação com a realidade vital; • Propõe um estilo antigramatical, uma linguagem simplista; • Prega que “a arte tende a uma liberação suprema, ao transformar-se numa simples distração; • Declara que “a arte não é coisa séria”; • Admite que a arte não necessita ser compreensível: pode reduzir-se a uma “gíria de enunciados”. Logo, o movimento dadaísta rebelava-se contra o conservadorismo, contra qualquer organização social: acreditavam que não havia lógica nos valores dessa civilização, que era criticada pelos dadaístas com muito humor. O contato com o mundo contraditório e selvagem lhes permitia, com revolta, propor que fossem esquecidas as tradições e heranças históricas. Podemos concluir que o Dadaísmo é fundamentalmente um movimento de protesto. 2.4.2.10.5 – Surrealismo Surrealismo O Surrealismo começou, realmente, em 1924, com o primeiro manifesto da autoria de André Breton (18961966). Cansados do negativismo do Dadaísmo, os surrealistas achavam que a negação é uma etapa no processo artístico que deveria anteceder a outra; e agora a proposta é encontrar uma saída, uma arte que fale das profundezas do psiquismo. Influenciados por Freud, entendem que a imaginação e a razão caminham juntas. O sonho, a fantasia e a alucinação estão unidos à realidade do indivíduo. Os surrealistas acreditavam que era preciso liberar as zonas do inconsciente. Nada de hiato entre inconsciente e consciente: tudo deve ser apresentado, porque tudo está ligado. É preciso expressar o que vem do mais fundo do ser. Nesse aspecto, o Surrealismo se aproxima do Romantismo e do Simbolismo: são novamente exaltados os autores que prenunciaram esse movimento, como Charles Baudelaire, o satânico que associava tudo – o mal ao imaginário, o poeta das coisas “frias” do mundo que se industrializava. O Surrealismo caracteriza-se por ser mais do que um movimento, pois sempre houve, há e haverá autores que constroem fantásticas expressões surrealistas. Os objetivos principais do grupo liderado por André Breton eram o Amor, a Liberdade e a Poesia, sem as restrições do mundo moral e tradicional. De base psicológica, a contestação à sociedade é evidente como se pode perceber nesse fragmento: O Surrealismo se baseia na onipotência do sonho e no desinteressado jogo do pensamento; sua finalidade é resolver as condições previamente contraditórias de sonho e realidade, para criar uma realidade absoluta, uma super-realidade (André Breton) Desta forma, podemos ressaltar as principais características surrealistas: - Conflito entre a vida vivida e a vida pensada; - Desejo de redenção psicológica, social e universal do ser humano; - Ilogismo; - Valorização do inconsciente; - A poesia deixa de ser entendida como meio de comunicação de vivências e passa a ser uma ação mágica, mito, meio de conhecimento; - Ao lado da poesia de contemplação, da poesia de comunhão e da poesia de evasão, temos a poesia de transfiguração; - O humor negro que se traduz em jogos de palavras, tendente a quebrar as convenções. O Surrealismo permanece, não como movimento, mas como postura, porque no século XX as relações foram cada vez mais expostas, mesmo que novas teorias surgissem, acrescentando ou negando as idéias de Freud. No Brasil, vamos encontrar essa postura em Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Rubião, Murilo Mendes e outros. Mas aqui, no nosso estudo, não entraremos nesse mérito. O assunto é extenso e todas essas correntes representam muito e ganham importância na Literatura Brasileira. Exercícios de Auto-Avaliação 1- Estabeleça relações de oposição entre o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. 2- De acordo com os fragmentos que se seguem, identifique a que corrente pertence, baseando-se no seguinte código: a) Cubismo b) Futurismo c) Dadaísmo d) Surrealismo ( ) “É para a Itália que nós lançamos este manifesto de violência agitada e incendiária, (...) porque queremos livrar a Itália de sua gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. A Itália foi por muito tempo o grande mercado das quinquilharias. Nós queremos desembaraçá-la dos museus inumeráveis que a cobrem de inumeráveis cemitérios”. ( ) “... poetas e pintores partilhavam um ideal comum de renovações artísticas: os poetas assimilando as técnicas pictóricas, os pintores se apoiando nas idéias filosóficas e poéticas. Isso concorria para que o termo (...), inicialmente aplicado à pintura, passasse também a designar um tipo de poesia em que a realidade era também fracionada e expressa através de planos superpostos e simultâneos”. ( ) “Ao contrário dos outros movimentos de vanguarda, em que se manifestou a consciência desagregadora que agitava a época da guerra, o (...) aparece motivado pelo “spirite noveau” pelo sentido geral de organização e construção que subia os escombros da Grande Guerra”. ( ) “(...) movimento que tinha como grande preocupação a destruição dos valores morais, políticos e sociais. Esse foi o mais radical movimento intelectual dos últimos tempos, superando pela intensidade e dimensões estéticas os grandes movimentos de pessimismo da época romântica, do século XIX”. Leituras Complementares Os estudos sobre estilos de época na literatura não foram esgotados neste instrucional. Muito ainda se tem para falar sobre essas correntes que se destacam ao longo dos períodos. Outros livros importantes para o estudo desses estilos: • HAUSER, Arnold. Maneirismo. São Paulo: Perspectiva, 1976. Leia apenas o primeiro capítulo: “O conceito de Maneirismo.” • CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986. Este pequeno porém substancial livro pode bem servir como reforço sintético ao nosso trabalho, por resumir com clareza e objetividade os estilos aqui estudados. 57 58 Atividades Complementares Vamos agora nos dedicar a alguns exercícios como uma forma de treinamento, buscando sempre tecer comparações entre os estilos estudados. Vale, como sugestão, a leitura dos seguintes romances: • O Guarani - José de Alencar; • Senhora - José de Alencar; • Quincas Borba - Machado de Assis; • O Cortiço - Aluísio Azevedo. 1 - Leia os textos que se seguem, procurando enquadrá-los na época a que pertencem, destacando as suas principais características. a) Soneto Alma minha gentil que te partiste Tão cedo desta vida descontente Repousa lá no céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento ‘etéreo’, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou. (Luis de Camões) b) À instabilidade das cousas do mundo Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas, a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se tão formosa a luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas, no sol e na luz, falta firmeza; Na formosura, não se dê constância E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza: A firmeza, somente na inconstância. (Gregório de Matos Guerra) c) O incêndio de Roma (Olavo Bilac) Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas, As muralhas de pedra, o espaço adormecido De eco em eco acordando ao medonho estampido, Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas. E os templos, os museus, Capitólio erguido Em mármor frígio, o foro, as erectas arcadas Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas Do incêndio cingem, tudo esbroa-se partido. Longe, reverberando o clarão purpurino, Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte... - Impassível, porém, no alto do Palatino, Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assoma Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte, Lira em punho, celebra a destruição de Roma. d) In extremis Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia Assim! De um sol assim! Tu, desgrenhada e fria, Fria! Postos nos teus olhos molhados E apertando nos seus os meus dedos gelados... E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera Toda azul, no esplendor do fim da primavera! Asas, tontas de luz, cortando o firmamento! Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo... E aqui dentro, o silêncio...E este espanto! E este medo! Nós dois... e, entre nós, implacável e forte, A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte... Eu, com frio a crescer no coração – tão cheio De ti, até no horror do derradeiro anseio! Tu, vendo retorcer-se amarguradamente A boca que beijava a tua boca ardente, A boca que foi tua! E eu morrendo! E eu morrendo Vendo-te, e vendo o sol, vendo o céu, vendo Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, A delícia da vida! A delícia da vida! 2- Como são as personagens românticas? 3- Por que os românticos retornam à Idade Média? 4- Estabeleça paralelos entre o Romantismo e o Realismo. 5- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Realismo. 59 6- Qual a relação entre o Simbolismo e a música? 60 7- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Simbolismo. 8- Teça paralelos entre a Idade Média, o Renascimento e o Barroco. 9- O que você entendeu sobre a Arte Impressionista? 10- Teça comentários sobre o Futurismo e sobre a sua contribuição à Literatura Brasileira? Observação: As respostas são pessoais (isto é, cada aluno desenvolvendo as respostas individualmente), no entanto, deverão interligar-se ao conhecimento teórico-crítico do estudante da disciplina Teoria Literária. É necessário lembrar que a Teoria não trabalha com o “achismo” em se tratando de Literatura, portanto, o suporte teórico-crítico será sempre indispensável. Caso haja alguma dúvida, o aluno deve entrar em contato com o tutor. 2.4.2.11 – Século XX: Pré-Modernismo, Modernismo e Pós-Modernismo (Brasil) 2.4.2.11.1 – Pré-Modernismo “Creio que se pode chamar de pré-modernista (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural.” “O grosso da literatura anterior à ‘Semana’ foi, como é sabido, pouco inovador. As obras, pontilhadas pela crítica de ‘neos’– neoparnasianas, neo-simbolistas, neo-românticas – traíam o marcar passo da cultura brasileira em pleno século da revolução industrial. (...) Caberia ao romance de Lima Barreto e de Graça Aranha, ao largo ensaísmo social de Euclides, Alberto Torres, Oliveira Viana e Manuel Bonfim, e à vivência brasileira de Monteiro Lobato, o papel histórico de mover as águas estagnadas da belle èpoque, revelando, antes dos modernistas, as tensões que sofria a vida nacional. Parece justo deslocar a posição desses escritores: do período realista, em que nasceram e se formaram, para o momento anterior ao Modernismo. Este, visto apenas como estouro futurista e surrealista, nada lhes deve (nem sequer a Graça Aranha, a crer nos testemunhos dos homens da “Semana”); mas, considerado na sua totalidade, enquanto crítica ao Brasil arcaico, negação de todo academismo e ruptura com a República Velha, desenvolve a problemática daqueles, como o fará, ainda mais exemplarmente, a literatura dos anos de 30” (BOSI, 1992: 306-7). 2.4.2.11.2 – Modernismo (1 a fase) Características Gerais: • O moderno como valor em si mesmo; • Fase de ruptura, crítica e anarquismo; • Busca de originalidade a qualquer preço; • Liberdade absoluta de forma e de criação; • Luta contra o tradicionalismo; • Predomínio da expressividade; • Juízos de valor sobre a realidade brasileira; • Palavras em liberdade; • Valorização poética do cotidiano; • Associação de idéias, às vezes, até desconexas; • Primado da poesia sobre a prosa. • Poema-piada (agressão através do humor); • Nacionalismo literário e lingüístico (falar brasileiro); • Busca de soluções; • Movimento contra; • Espírito polêmico e destruidor (rejeitavam a arte artificial – imitação estrangeira; desejavam demolir a ordem social e política, fictícia e colonial); • Anarquismo (não sabemos discutir o que queremos); “O que a crítica nacional chama de Modernismo está condicionado por um acontecimento, isto é, por algo datado, público e clamoroso, que se impôs à atenção da nossa inteligência como um divisor de águas: A Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, na cidade de São Paulo. Como os promotores da Semana traziam, de fato, idéias estéticas originais em relação às nossas últimas correntes literárias, já em agonia, pareceu aos historiadores da cultura brasileira que modernista fosse adjetivo bastante para definir o estilo dos novos, e Modernismo tudo o que se viesse a escrever sob o signo de 22” (Ibidem: 303). 61 62 SEMANA DE ARTE MODERNA “Se por Modernismo entende-se algo mais que um conjunto de experiências de linguagem; se a literatura que se escreveu sob o seu signo representou também uma crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço de penetrar mais fundo na realidade brasileira, então houve, no primeiro vintênio, exemplos probantes de inconformismo cultural: os escritores pré-modernistas foram Euclides, João Ribeiro, Lima Barreto e Graça Aranha (este, independente da sua participação na Semana). À medida que nos aproximamos da Semana, são as inovações formais que nos vão atraindo, isto é, aquele espírito modernista, stricto sensu, que iria polarizar em torno de uma nova expressão artistas como Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Vila-Lobos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira. E é em face desse clima de vanguarda que se constata uma viragem na literatura brasileira já nos anos da Primeira Guerra Mundial. (...) Nesse clima (clima de guerra), só um grupo fixado na ponta de lança da burguesia culta, paulista e carioca, cuja curiosidade intelectual pudesse gozar de condições especiais como viagens à Europa, leitura dos derniers cris, concertos e exposições de arte, poderia renovar efetivamente o quadro literário do país. A Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro desse grupo, e muitos dos seus traços menores, hoje caducos e só reexumáveis por leitores ingênuos (pose, irracionalismo, inconseqüência ideológica) devem-se, no fundo, ao contexto social de onde proveio” (Ibidem: 332-3). Histórico: • 1910: Início dos sinais precursores, que prepararam a “Semana de Arte Moderna” de fevereiro de 1922. • 1912: Oswald de Andrade vai à França, onde entra em contato com o Futurismo, movimento estético criado por Marinetti, que apregoava a destruição integral do passado e constituindo-se numa verdadeira apologia da velocidade. • 1912: Manuel Bandeira, na Suíça, conhece a melhor poesia simbolista e pós-simbolista. • 1915: Ronald de Carvalho, em Portugal, participa da fundação da revista “Orpheu” (da Vanguarda Futurista Portuguesa) com Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e outros. • 1916: Funda-se a Revista do Brasil cujo princípio básico é o “nacionalismo”, que será um dos objetivos fundamentais dos modernistas. • 1917: Anita Malfatti expõe seus quadros cubistas e expressionistas no Brasil. Monteiro Lobato atacoua com o violento artigo “Paranóia ou Mistificação?”. • 1917: Mário de Andrade publica “Há uma gota de sangue em cada poema” (tentativa de fazer poesia modernista). • 1917: Menotti del Picchia publica “Juca Mulato” em que cria um caboclo idealizado, antítese do Jeca Tatu de Monteiro Lobato. • 1919: Manuel Bandeira publica “Carnaval”, sua primeira obra de poesias modernistas, na qual aparece a poesia “Os Sapos” que causará tanta polêmica na Semana de Arte Moderna em 1922. • 1922: Graça Aranha retorna da Europa, onde travou contato com as Vanguardas Artísticas de Paris. • 29 de janeiro de 1922: O jornal O Estado de São Paulo noticiava: “Por iniciativa do festejado escritor, senhor Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, haverá em São Paulo uma “Semana de Arte Moderna.” • De 11 a 18 de fevereiro de 1922: Realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal da cidade de São Paulo. 13, 14 e 15 de fevereiro: apresentação de espetáculos. Constaram de manifestações dos mais variados tipos de arte, como balé, pintura, escultura, concertos, conferências, leitura e declamação de textos literários. 2.4.2.11.3 – Modernismo / 2 a fase 30) Características Gerais: (Geração de • Predomínio da prosa: importância para o Gênero Narrativo Ficcional; • Estabilização das conquistas novas; • Configuração da nova ordem estética; • Ampliação da temática: a poesia caminha para a preocupação religiosa e filosófica (Exemplo: Jorge de Lima, “Pelo vôo de Deus quero me guiar”); • Caminho para o universal (Exemplo: Augusto Frederico Schmidt, Canto do Brasileiro, “Quero é perder-me no mundo / para fugir do mundo”); • Reação espiritualista (retomada do simbolismo); É a fase de maturidade e equilíbrio do Movimento Modernista. É a estabilização, consolidação e construção de um ideário coerente com o espírito renovador. Reconhecer o novo sistema cultural posterior a 30 não resulta em cortar as linhas que articulam a sua literatura com o Modernismo. Significa apenas ver novas configurações históricas a exigirem novas experiências artísticas (Ibidem: 385). • Fase construtiva; • Liberdade consciente; • Linguagem equilibrada; • Valorização das formas fixas (por exemplo, soneto); Ficcionistas e poetas: Carlos Drummond de Andrade (poeta, cronista, jornalista); Vinícius de Morais (poeta e compositor); Augusto Frederico Schmidt (poeta); Murilo Mendes (poeta); José Américo de Almeida (ficcionista); Raquel de Queirós (ficcionista, cronista); José Lins do Rego (ficcionista); Graciliano Ramos (ficcionista); Jorge Amado (ficcionista); etc. • Preocupação com os problemas do homem; 2.4.2.11.4 – Modernismo (3 a fase): Geração de 45 (Neomodernismo) Características Gerais: • Maior apuro do verso; • Liberdade formal disciplinada: volta ao ritmo clássico tradicional com métrica e rimas; • Importância da palavra e do ritmo (revolução sintática e semântica: busca da plurissignificação das palavras); • Um agudo senso de medida; • Pesquisa formal na linguagem da ficção (Guimarães Rosa - Sagarana - 1946); • Contenção emocional e importância da introspecção (Clarice Lispector); • Tendência para o hermetismo; • Tendência para o intelectualismo; • Universalismo temático: valorização do homem em si mesmo, não no plano pessoal, mas no plano universal (Guimarães Rosa, Clarice Lispector – transcendência do regional para o universal); • Consciência estética; • Volta à rima e aos metros tradicionais; • Desenvolvimento do teatro. 63 64 Poesia de 45: • Subjetividade em crise; Um grupo de poetas assumiu uma atitude crítica em relação à poesia brasileira das duas fases anteriores do Modernismo: João Cabral de Melo Neto, Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos e outros. Esses poetas desejavam renovar a poesia brasileira. Continuadores das outras fases: Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo e outros. Sobressaiu-se a criatividade poética de João Cabral de Melo Neto. • Contínuo denso de experiência existencial; ESCRITORES (FICCIONISTAS) DE 45: Guimarães Rosa - 1a fase (Sagarana, 1946); Clarice Lispector - 1a fase (Perto do Coração Selvagem - 1944, O Lustre 1946). Características: • Prosa intimista; • Fluxo da consciência; • Uso da metáfora insólita; • Textos complexos e abstratos; • Palavra neutra; • Experiência metafísica; • Crise da personagem-ego; • Procura consciente do supra-individual; • Artista-demiurgo; • Metamorfose no âmbito da criação literária; • Alquimia criativa; • Alteração profunda no modo de enfrentar a palavra; • Palavra como feixe de significações; • Signo estético portador de sons e de formas (relações íntimas entre o significante e o significado); • Abolição das fronteiras entre ficção e lirismo; • Exacerbação do momento interior; 2.4.2.11.5 – Concretismo / Poesia (1956) Em 1956, em São Paulo, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari divulgam o Manifesto Concretista por intermédio da Revista “Noigandres”. Características da poesia concreta: • Novas estruturas: associação formal dos vocábulos; • Disposição espacial: alinhamentos geométricos (valorização do poema figurativo); • Sintaxe analógica, ideográmica: justaposição dos conceitos; as palavras não têm ordem lógica e ficam soltas, completamente livres; • Expressão sintética e objetiva; • Etc. Ficção (Anos 50) A produção em prosa continuou por intermédio dos escritores da segunda e terceira fases do Modernismo e outros que foram surgindo: Jorge Amado, João Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas, 1956), Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Mário Palmério (Vila dos Confins, 1956), Adonias Filho (Memórias de Lázaro, 1952); J. J. Veiga (Os cavalinhos de Platiplanto, contos, 1959) e outros. 2.4.2.11.6 – Movimento Praxis (1961) Em 1961, Mário Chamie lança o “Manifesto Didático” da poesia-práxis no posfácio de sua obra poética “Lavra-lavra”. Ele afirmava que o poema deveria organizar e montar, esteticamente, uma realidade situada de acordo com três condições de ação: a) ato de compor; b) área de levantamento da composição; c) ato de consumir. O espaço em preto, resultante do conjunto de palavras constitutivo do poema, torna-se importante (espaço formado por palavras dispostas em versos formando um desenho não arbitrário). poético). Poderemos destacar os seguintes poetas dessa fase: • Marli de Oliveira (Cerco da Primavera, Explicação de Narciso, A Vida Natural); • Laís Correia de Araújo (O Signo e Outros Poemas, Cantochão); • Renata Pallottini (A Casa, Livro de Sonetos, A Faca e a Pedra, Noite Afora); Características: • Dissidência da Vanguarda Concretista; • Poética que vincula a palavra ao contexto extralingüístico; • Não escreve sobre temas (procura conhecer todos os significados e contradições). • Foed Castro Chamma (Melodias do Estio, Iniciação ao Sonho, O Poder da Palavra); • Stella Leonardos (Poesia em Três Tempos, Poema da Busca e do Encontro); • Edison Moreira (Tempo de Poesia); • Walmir Ayala (Antologia Poética); Outra Vertente da Poesia nos Anos 50 e 60: No Brasil dos anos 50 a 60 existiu uma vertente poética alheia aos programas experimentalistas que marcaram o concretismo e a poesia-práxis. Esta vertente lírica situou-se entre o moderno e o tradicional, desenvolvendo um discurso metrificado, submetido a um imaginário neo-romântico ou, talvez, surrealista, somado a uma forte consciência lírica (existencialismo • Carlos Nejar (Sélesis, Livro de Silbion, Livro do Tempo, O Campeador e o Vento); • Gilberto Mendonça Teles (Poemas Reunidos); • Adélia Prado (Coração Disparado, O Pelicano); • E outros. 2.4.2.11.7 – Tropicalismo (1967) Tropicália, Tropicalismo, Movimento Tropicalista Foi um movimento cultural que nasceu sob a influência das correntes de vanguarda artísticas e da cultura pop nacionais e estrangeiras (como o pop-rock e a poesia concreta) e mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha também objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. Pesquisar: Antecedentes, influências, características, nomes ligados à Tropicália. 65 66 2.4.2.11.8 – Geração de 70 / Início de 80 “O historiador do século XXI que, ajudado pela perspectiva do tempo, puder ver com mais clareza as linhas-de-força que atravessam a ficção brasileira neste fim de milênio, talvez divise, como dado recorrente, certo estilo de narrar brutal, se não intencionalmente brutalista (que difere do ideal de escrita mediado pelo comentário psicológico e pelo gosto das pausas reflexivas)” (BOSI, op. cit.: 435-5). Características da geração de 70 / 80 (prosa): • Narrativa de Acontecimento: Narrativa de RealismoMágico, Narrativa de Absurdo, Narrativa Fantástica; • Atuação do Insólito; • Narrador Pós-Modernista se utilizando da técnica do “bem ver” a realidade (realidade fragmentada, caos); Narrador centralizando o ato de narrar, uma vez que, ao invés de narrar algo ficcional ou mesmo memorialista, é ele que tem o poder de “ver” todos os ângulos desse realidade (como participante ativo); • Bem ver = bem narrar • Técnica narrativa: colagem, intertextualidade (diversos discursos que se interpolam, interagem: jornalístico, confissional, ficcional, etc.). Ficcionistas que se destacaram: • Lygia Fagundes Telles (As Meninas - romance); • Murilo Rubião (O Convidado - contos); • Roberto Drummond (A Morte de D. J. em Paris contos); • Sônia Coutinho (Os Venenos de Lucrécia - contos). A poesia brasileira nos anos 70 / 80 Vanguarda Pós-68: Poetas: • Nauro Machado; • Ana Cristina César (Cenas de Abril, Luvas de Pelica, A Teus Pés); • Antônio Carlos Brito - Cacaso (Grupo Escolar); • Paulo Leminski (Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos, La Vie em Close). 2.4.2.11.9 – Geração de 80 / 90 Poetas (Gênero Lírico / Poesia Pós-Moderna): Ficcionistas (anos 90): • Rogel Samuel (120 Poemas); • Rogel Samuel (O Amante das Amazonas - 1990); • Verônica de Aragão (Enigmas); • Sônia Coutinho (O Caso Alice - 1991); • Elisa Lucinda (A Menina Transparente). • Roberto Drummond (Hilda Furacão); Tendência a uma retomada épica: • Chico Buarque de Holanda (Benjamim, Estorvo). • Adriano Espínola (Táxi - poema épico pós-moderno (1986), Metrô – poema épico pós-moderno de 1990 – Editora Global, São Paulo). 2.4.2.11.10 – Pós-Moderno / Pós-Modernismo: Pós-Moderno Liga-se a um momento da História Contemporânea: término da Era Moderna e início da Era Pós-Moderna. Ainda não há como avaliar o momento certo do início da Era Pós-Moderna. Presume-se que o século XX (as duas grandes guerras, a ida do homem à Lua, o avanço tecnológico, a globalização, a finalização do milênio e outros acontecimentos políticos e sociais em termos universais) seja o marco que, futuramente, indicará o momento de cisão entre as duas Eras em questão. Pós-Modernismo: “Pós-Modernismo é um nome geralmente dado para formas culturais de um período que aparece desde os anos 60. Abrange certas características como reflexão, ironia e um tipo de arte que mistura o popular e o erudito. Embora o termo tenha sido primeiramente usado em arquitetura (Jenckes), hoje descreve a literatura, artes visuais, música, dança, filme, teatro, filosofia, crítica, historiografia, teologia e qualquer atividade de cultura em geral. É visto ora como uma continuação dos aspectos mais radicais do modernismo, ora, ao contrário, como marcando uma ruptura com o modernismo, como um modernismo nãohistórico que anseia por acabar. O pós-modernismo uniu “a lógica cultural do capitalismo tardio” (Jameson) à condição geral de conhecimento em tempos de tecnologia da informação (Lyotard), a substituição de um foco da epistemologia modernista por uma ontologia (McHale) e a substituição do simulacro pela realidade (Baudrillard)” (SAMUEL, 2005: 121). 2.5 - Literatura Compromissada e a Teoria da Arte pela Arte Literatura Compromissada Exemplos: • O realismo pregava a arte (segundo Domício Proença Filho, 1994) compromissada com a realidade. • Literatura feita por negros: “Se por força de características peculiares, a literatura feita por negros ou por descendentes assumidos de negros concretizar linguagens geradoras de cânones de uma poética nova, essa dimensão se inserirá no processo da literatura brasileira e não no núcleo discriminatório de uma literatura ‘negra’ ou ‘marrom’. // A arte literária compromissada precisa ser arte literária antes de ser compromissada, sob pena de descaracterizar-se e perder seu poder de repercussão mobilizadora.” • Crônica: literatura compromissada (relação entre realidade, história, atualidade e ficção). • A literatura brasileira dos anos 60/70 (momento da ditadura militar, momento da censura): os escritores criaram novas formas literárias – ficcionais e poéticas – de compromisso com a realidade e, graças à imposição da censura, nos legaram verdadeiras obras de arte literárias, o que os críticos chamam de “literatura pósmoderna” ou “literatura insólita”, literatura esta que exige um reconhecimento teórico-crítico das mensagens que estão ocultas nas entrelinhas do texto literário. A literatura sempre revelará um compromisso com o seu momento histórico, mas a verdadeira literaturaarte terá de transcender seu próprio tempo e espaço cultural. Por exemplo: O texto ficcional Dom Quixote de Miguel de Cervantes, considerado hoje o texto que marcou o segundo milênio. 67 68 2.6 - A Literatura-Arte e a Indústria Cultural Literatura-Arte (ponto de vista fenomenológico) O literário, como um valor, não pode ser ajuizado. Ele vigora na escrita enquanto conotado. Não é um dado objetivo, nem subjetivo, mas algo que subsiste na escrita. O literário existe na escrita como potência. Essa energia não se vê no que é dito, mas é a concentração do dizer. Para falarmos dela, precisaríamos colocar-nos fora do discurso, isto é, fora da capacidade de pensar. Pensar o literário da escrita só é possível quando se falar a ambigüidade. Ou quando a linguagem deixa falar, na escrita, a força de sua manifestação. A riqueza da escrita tanto se faz mais criadora, quanto mais profundo for o nível de onde ela fala e silencia” (SAMUEL, 2005: 21). A maioria das médias e pequenas cidades brasileiras só dispõe de pequenas bibliotecas e livrarias e, apesar de o público leitor ter crescido muito nos últimos anos, o número de livrarias em algumas cidades diminuiu, ou estacionou. Há uma relação direta entre crise econômica e mercado editorial. Um livro aparece na livraria quando “começa a ser pedido”, e o leitor começa a pedir o livro quando o livro aparece nos jornais. (...) O consumidor médio brasileiro não entra na livraria, exceto quando se encontram nos Shopping Centers. (...) Alguns dependem da propaganda dos jornais para se decidir a ler, vendo no jornal um critério de valor. Desta forma se fecha o círculo: quanto mais livro vende, mais é falado; e quanto mais falado é, mais vende. Algumas empresas chegam a lançar um pacote cultural: livro, filme, vídeo, disco, camisas, chaveiros, etc (Ibidem: 107). Indústria Cultural Qual é o processo que faz com que um livro apareça no balcão da livraria? Leitura Complementar Para um conhecimento mais amplo, leia: SAMUEL, Rogel, Novo Manual de Teoria Literária. Petrópolis: Vozes, 2005. Unidade III 69 A NA TUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO NATUREZA (Cf. CASTRO, Manuel Antônio de. In.: SAMUEL, Rogel. Manual de Teoria Literária, 12 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.) ESPECIFICIDADE: essência, substância, aquilo que faz com que uma coisa seja aquilo e não outra. (Manuel Antônio de Castro) ESPECIFICIDADE DO LITERÁRIO (Ponto de vista hermenêutico) FENÔMENO: aquilo que se manifesta [o já manifestado (estático)] / [o que ainda está se manifestando (dinâmico)]. NATUREZA: preocupação de compreender a especificidade do literário. 3.1- O Texto: Texto-Formato Texto 1o ) O que é um texto? • Texto vem do verbo tecer: entrelaçamento de linhas (orações, períodos); X Texto-Forma 3o ) TEXTO = TECIDO DE SIGNOS “expressa a relação do homem com as realidades e dos homens entre si.” TEXTO = HOMEM + REALIDADE + EXPRESSÃO o 2 ) TEXTO-FORMATO • A disposição das linhas e seu entrelaçamento; • A ocupação e disposição espacial. FORMATO = FORMA (diferente) Formato Explicitamente, podemos fazer um corte e determonos em um dos referentes, mas implicitamente os outros dois sempre estariam obrigatoriamente presentes. Isto é importante para penetrar no entendimento de um texto literário, embora qualquer texto implique sempre os três referentes. TODO TEXTO É RESULTADO DE UMA LEITURA • Diagramação + Ilustração = Harmonia (Exemplo: Literatura Infantil) • É a obra enquanto APRESENTAÇÃO. • APRESENTAÇÃO DA OBRA / TEXTOFORMATO: “surge como um esforço de integração entre as facetas do formato e da forma. LEITOR + TEXTO relação objetiva e subjetiva LEITOR - PRODUTIVIDADE (“enquanto modalidade de relação radical do homem com a realidade”) TEXTO: ELABORAÇÃO HUMANA, TRABALHO LEITURA 70 TRABALHO: AÇÃO HUMANA (pela qual o homem textualizando, significando o real se significa) • supõe colaboração, porque o texto não se lê, o instrumento não se lê; • pressupõe o outro; Por um lado: Esta elaboração humana só encontra sua plenitude na medida em que ao elaborar ele colabora (pressupõe o outro, socializa). ação humana: o homem textualizando, significando o real se significa Por outro lado: Tal noção evidencia que o texto não se limita ao escrito, implicando sobretudo o oral. Uma fotografia, uma estátua, um instrumento, etc., é um texto / expressa uma relação do homem com o real. TEXTO Ação significativa • pressupõe colaboração. = Entre tantas modalidades de texto, quando um texto é especificamente literário? ( LITERÁRIO = LITERATURA - ARTE ) TRABALHO ação humana: ao elaborar (o texto como trabalho) o homem co-labora (pressupõe o outro, socializa-se) 3.2- Texto-Objeto X Texto-Obra Texto-Objeto (realidade + imaginação = juízos preestabelecidos: certo X errado) • Prima pela objetividade; • Próprio para ensinamentos; • Próprio para entretenimento; • É linear (sintagmático, horizontal); • Não permite ambigüidade; • Conhecido, atualmente, como TEXTO PARALITERÁRIO. Para os estudiosos da literatura, que seguem a linha cientificista, qualquer texto será considerado literário. Posteriormente, o analista fará a separação, descobrindo as características formais e, em conseqüência, a categoria em que o texto analisado se enquadra: texto-objeto (texto técnico) ou texto-obra (literatura-arte). políticos, livros de anedotas, ensaios, monografias, etc. • Paraliteratura de Imaginação: novelas (ficção linear), crônicas, narrativas de memórias, estórias infantis, literatura fantástica (contos de fantasmas, de cemitérios, mitologias – maravilhoso pagão e maravilhoso cristão, literatura de cordel, etc.) TEXTO-OBRA (realidade + imaginação + imaginário-em-aberto =juízo de descoberta) • Maior porcentagem de subjetividade X pouca objetividade; • Predomínio do lúdico (mas, serve também para ensinar); • Exige a reflexão do leitor (não se adéqua ao entretenimento telúrico); • É complexo (paradigmático, vertical); Paraliteratura • Porcentagem maior de ambigüidade; Há duas vertentes paraliterárias: • Paraliteratura de Informação: livros escolares, livros de receitas, textos jornalísticos, sermões, discursos • Conhecido, atualmente, como LITERATURA-ARTE (romances, contos, poesias). 3.3- Discurso Metonímico X Discurso Metafórico Discurso Metonímico X Discurso Metafórico • Discurso: Qualquer manifestação concreta da língua; qualquer manifestação por meio da linguagem, em que há predomínio da função poética; etc. • Discurso Metonímico: Discurso próprio de um tropo que consiste em designar um objeto por palavra designativa doutro objeto que tem com o primeiro uma relação de causa e efeito. Por exemplo: trabalho por obra; copo por bebida, etc. • Discurso Metafórico: Discurso figurado. Discurso próprio de um tropo que consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto que ela designa, e que se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado. Por exemplo: Chamar uma pessoa astuta de raposa; nomear a juventude como primavera da vida, etc. 3.4- Mimésis Platônica x Mimésis Atual (Recriação) Mimésis Platônica (reprodução da realidade, cópia - ponto de vista sintagmático, horizontal) MIMÉSIS Mimésis Atual (recriação da realidade - ponto de vista paradigmático, vertical) A mimésis é um termo grego geralmente traduzido como imitação. Imitação em que sentido? Até hoje são controvertidas as interpretações. E isso não é tão difícil de entender, uma vez que é um conceito que faz parte dos dois maiores sistemas filosóficos gregos: o platônico e o aristotélico. Assim sendo, qualquer interpretação implica sempre um determinado posicionamento a respeito e dentro de tais sistemas. Não é um conceito literário, porém um conceito filosófico para explicar a arte (CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.), 1999: 56-7). A mimese inventa, na ambigüidade do literário, uma problematização profunda sobre o que seja verdade. Em outras palavras, põe uma relação inseparável entre discurso e espaço: o mundo. (...) // As chamadas proposições elementares descrevem o mundo e a totalidade dos fatos. O que aparece e o que o possibilita. O mundo, totalmente descrito nos estados de coisas, a mimese. O fato (o que ocorre) existe nos estados de coisas, compreendidos como ligações entre coisas. Põe a realidade inteira e possibilita qualquer realidade. O mundo se constitui pelos fatos e se descreve pelas proposições, mas, por outro lado, as proposições constroem o mundo com a ajuda da “forma lógica”. A totalidade dos fatos empíricos se representa como estado de coisas, ou conjunturas, no espaço lógico pelos outros fatos do discurso. (...) Esta “forma lógica” é a capacidade mimética do discurso (Ibidem: 16). 71 72 3.5- Catársis Direta X Catársis Indireta CATÁRSIS DIRETA CATÁRSIS INDIRETA • Relacionada com o Gênero Dramático (texto literário para ser representado em um palco) • O espectador recebe a mensagem diretamente, não há tempo para reflexões. • Relacionada com a matéria ficcional (Gênero Narrativo em Prosa) e com os textos dramáticos para serem lidos (e não para serem apresentados em um palco, por exemplo: a leitura do “Rei Édipo” de Sófocles). “A catársis está profundamente relacionada com a mimésis, daí também ser uma questão controvertida e com múltiplas interpretações. • O leitor entra em contato (racionalmente falando) com o texto literário, passa a refletir, a analisar e a interpretar o texto que o interessa. O problema surge quando Aristóteles na Poética,ao definir a tragédia, alude aos efeitos que ela produz nos espectadores: A tragédia é uma imitação da ação, elevada e completa, dotada de extensão, numa linguagem temperada, com formas diferentes em cada parte, atuando os personagens, e não mediante narração, e que, por meio da compaixão e do temor, provoca a purificação de tais paixões (Aristóteles)” (Ibidem: 59). “Como o efeito da catársis se dá no leitor, tende-se a encaminhar o seu entendimento por esse referente. Ora, para que produza algum efeito, a catársis deve necessariamente fazer parte da natureza do fenômeno literário e como tal deve ser pensada” (Ibidem: 59). 3.6- Estudo de Textos: Poesias, Narrativas e Ensaios Este item do Conteúdo Programático será esclarecido no primeiro encontro do CEAD. São os textos de Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária, oferecidos pelo tutor, e os textos de literatura que serão analisados e interpretados no decorrer do curso. 73 Se você: 1) 2) 3) 4) concluiu o estudo deste guia; participou dos encontros; fez contato com seu tutor; realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns! 74 Gabarito Exercícios de Auto-Avaliação (P. 14) Sugestões: 1- A impossibilidade de se definir a literatura deve-se ao objeto dela - a obra literária. Sendo um objeto que vai ser apreendido subjetivamente por quantos que tiverem contato com ele, delineia-se a impossibilidade da definição, impondo-se a conceituação, uma vez que o ato de conceituar está ligado à ação de emitir parecer relacionado com a visão pessoal. 2 - Porque a linguagem com que é elaborada a obra literária cria seu próprio mundo, uma vez que ela já é invenção. Representar com palavras é criar. É evidente que essa criação não é arbitrária. Ela parte do mundo em que vivemos para criar seu próprio mundo. 3 - Como se viu, o leitor desempenha o papel do mediador (ponte) entre o mundo da obra literária e o nosso mundo, suplementando os espaços do texto. A importância desse papel está em que o leitor como que se reconhece na criação, uma vez que estará diante de seres humanos iguais a ele. Aqui ecoam as palavras de Clarice Lispector: “criar (...) é correr o grande risco de se ter a realidade”. 4 - Porque o trabalho ficcional é construído com palavras, e estas devem ajustar-se numa estrutura para mostrarem o que está sendo criado, o que acaba dificultando o processo da imaginação. Essa resistência da palavra termina por obrigar o autor a voltar-se para o real, estabelecendo um jogo de vaivém entre o imaginário artístico e o real natural. 5 - Imagem mental é aquela que simplesmente evoca o objeto, que já está diretamente composto, não acrescentando nenhum saber para aquele que faz a evocação. Imagem ficcional, por ser criada, resulta de uma lenta elaboração de um trabalho feito com palavras. 6 - Quando se diz da resistência oferecida pela palavra, quer-se afirmar que a palavra “só significa na rede de relações que compõe no interior da frase. Daí a idéia saussuriana de língua como um sistema que existe na medida em que cada emprego da palavra pode sujeitá-lo a uma nova e distinta configuração”. A palavra é algo de indeterminado e imponderável. Por isso é que ela não se entrega pronta ao pensamento. E quando dizemos que ela integra o próprio tecido do pensamento, colocamos a invenção ao nível mesmo da linguagem. Por essa razão, por ser algo que não apenas faz a invenção (a criação) mas que é a própria invenção, é que a palavra oferece uma natural resistência quando do ato criador. Observação: As respostas são pessoais (mas dependem de conhecimento teórico-crítico). Caso o aluno encontre alguma dúvida, deve entrar em contato com o tutor. Exercícios de Auto-Avaliação (P. 26) 1- Note-se que a disposição dos versos da primeira estrofe sugere a torre de uma igreja. Pode-se, também, considerando uma outra perspectiva espacial, ver-se o corpo de uma igreja de perfil. 2- Todas elas referem-se a materiais de construção. É interessante observar que entre os tijolos, a água e a areia está colocada a palavra andaime, numa sugestão da subida da torre em construção, já que essa peça é utilizada quando não se consegue mais trabalhar com os pés no chão. 3- ( X ) ágil. Veja-se a quase total ausência de pontuação, o que sugere a rapidez. 4- ( X ) árduo e cansativo. 5- Sugere a subida da torre, o trabalho continuado e, finalmente, a conclusão, principalmente por causa do verso 9 (“mais”) em que já não aparece o elemento “perto”, tudo indicando a conclusão do trabalho como aliás mostra o último verso dessa estrofe, em que a palavra “torre” caracteriza o final da construção. 6- Esse travessão como que representa a interrupção do que vinha tendo significado, ou seja, a construção da igreja, para mostrar o elemento novo – a torre – e a conclusão do trabalho. 7- A contraposição do ritmo desse verso (lento) como o dos versos da primeira estrofe (ágil) sugere, de início, um descompasso entre o trabalho árduo e a “moleza indolente” da prática religiosa feita, no mais das vezes, mecanicamente, sem um aprofundamento interior maior. Além do mais, pode sugerir a colocação da seguinte pergunta: “De que vale a construção tão difícil de um templo se, nos domingos, vai surgir uma litania dos perdões ou seja, gente querendo se desculpar dos seus erros? O verso parece-nos uma crítica ferina a um certo conceito de religião que funciona na base da transação comercial, seria algo parecido com a proposição: “peco agora e busco o perdão depois”. De qualquer modo, o verso tem uma abertura de significação muito grande. Inúmeras outras respostas, desde que coerentemente estruturadas, podem servir. 8- Tais versos caracterizam a ironia com que Drummond critica aqueles que se entregaram ao sacerdócio sem nenhuma vocação religiosa. “O padre que fala do inferno sem nunca ter ido lá” representa o indivíduo que diz coisas sem estar convicto de que deveria dizê-las. 9- ( X ) o espírito exibicionista das mulheres. 10- Retirando-se a primeira sílaba da palavra “geolhos” temos a palavra “olhos”. Com isso o poeta critica também aqueles que vão à igreja para observar as mulheres. Evidencia-se a conclusão de que os olhos estão fixos nos joelhos. Esta é a razão pela qual o poeta preferiu o arcaísmo, sem dúvida bem achado e bastante expressivo. 11- Adro é a parte externa que fica defronte à igreja. Com isso o poeta parece sugerir que o ateu participa socialmente, festivamente dos acontecimentos religiosos. Ele não entra na igreja, o que significa que sua presença na frente do templo tem a caracterização de um hábito social. 12- A forma bão representa uma deturpação de bom. Quer dizer, encara-se o domingo como algo bom, mas esse aspecto positivo quase nunca está relacionado com a consciência religiosa e sim com os divertimentos que o domingo pode oferecer. Atividades Complementares As respostas dos números 1 , 2 e 3 são pessoais. O aluno deve ler bem o capítulo solicitado. Se assim o fizer, terá plenas condições de responder com clareza e eficiência o que lhe foi pedido. O objetivo, aqui, é desenvolver o senso crítico, partindo de leituras básicas e essenciais. As possibilidades de respostas encontram-se no próprio capítulo do livro indicado. Exercícios de Auto-Avaliação (P. 36) 1 - (c); (d); (d); (b); (a); (a); (b); (c); (c); (b). 2 - A coexistência de valores opostos. 3 - Conceptismo - emprego de raciocínios rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa. Cultismo - jogo de palavras, emprego de uma constelação de figuras, tornando quase impossível o entendimento do texto. 4 - Antítese e paradoxo. 5 - O romântico - inspirador das importantes catedrais. 6 - Gozar o dia de hoje” - entregar-se intensamente ao presente, já que não se tem certeza do amanhã. 7 - a) Barroca. b) Antítese e paradoxo. 75 76 Exercícios de Auto-Avaliação (P. 41) 1- (c); (c); (a); (b); (c); (a); (a); (b); (b); (b). 2- Procurando retornar às “virtudes clássicas”: equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade. 3- O bucolismo. 4- Valorização das coisas do campo, dos senários naturais. 5- “Século das luzes”. 6- Estímulo à cópia dos modelos gregos e romanos. 7- “O homem é bom, a socidade o corrompe.” 8- Provocará o surgimento do culto do “Bom Selvagem”. 9- Tornaram-se românticos. Exercícios de Auto-Avaliação (P. 44) 1- a) Fugindo dos velhos temas como o bucolismo e a mitologia. b) A fuga e a evasão. c) Com objetivo nacionalista de exaltar as tradições nacionais e os heróis da pátria. d) O poeta revela-se ao mundo, constrói uma poesia calcada em sua vivência e em suas emoções pessoais. e) É um herói individual, corajoso, leal, dotado de poderes quase sobrenaturais, capaz de desafiar forças contrárias e determinado a morrer pelo amor ideal, ou pelo ideal de amor. 2- a) Presença de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular. b) “... esse adorado sonho / acalentei em meu delírio ardente” etc. c) Ex.: “...sonho acalentei = em delírio insano” d) Substantivos: anelo, ardor, sonho, delírio, noite, desvelo, alento etc. Adjativos: ardente, adorado, doce etc. O conjunto de todos esses elementos evidencia o clima de imaginação, de pessimismo e de insatisfação. Exercícios de Auto-Avaliação (P. 48) 1- (b); (a); (c); (c); (b); (d); (d); (c); (a); (d). 2- Por exemplo: as personagens realistas são degradadas; as naturalistas são animalizadas. 3- Porque predomina a sinestesia, valorizando-se as impressões sensoriais. 4- Como um animal, dominado pelo instinto. 5 - Enquanto os românticosvalorizam o gosto popular, os parnasianos o desprezam, voltando a sua arte para a elite. 6- (c); (a); (b); Exercícios de Auto-Avaliação (P. 52) 1- Porque o poeta apenas sugere, cabendo ao leitor decodificar a mensagem. 2- Valoriza o inconsciente, a poesia pura, antes de passar pelo crivo da razão. 3- O Parnasianismo foi um estilo objetivo e impessoal; já o Simbolismo foi subjetivo e dramático. 4- Preocupação com o Além- Matéria, com as coisas do espírito. 5- Valorização dos recursos sonoros e do ritmo. 6- O que importa são as impressões instantâneas. Valorização das cores, da luz, das cenas ao “ar livre”; dos momentos efêmeros e fugazes. 7-Praticamente todo o texto nos remete a tal afirmação. O aluno deverá reconhecer a idéia de continuidade, de passagem, de coisas efêmeras e passageiras que descortinam ao longo da paisagem. Ex: “casas de moradores, homens, tudo ia passando, rolando mansamente..., etc”. Atividades Complementares (P. 58) 1Sugestões: O Cubismo: Revela-se como um trabalho artístico que compõe a fragmentação do objeto, ao contrário da concepção clássica da pintura que sempre propôs que o objeto fosse apresentado na sua forma precisa, com linhas contínuas. O Dadaísmo: Tinha como proposta a negação dos valores artísticos, morais e sociais, pois seu objetivo era demolir os demolir os valores de uma civilização que eles entendiam como brutal, sanguinária e selvagem. O Surrealismo: Teve como proposta uma perspectiva artística mais voltada para as profundezas do psiquismo. Contrários ao racionalismo cientificista, entendiam que a razão e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo parte da realidade do indivíduo. 2- (a); (b); (d); (c). 77 78 Referências Bibliográficas AUERBACH, Eric. Mimesis. São Paulo: Perspectiva, 1987. CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. São Paulo: Ática, 1995. COSTA LIMA, Luiz. Por que literatura? Petrópolis: Vozes, 1969. COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986. CULLER, Jonathan. Teoria Literária. Tradução: Sandra Guardini T. de Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. S. Paulo: Mestre Jou, 1982. ____. Maneirismo. São Paulo: Perspectiva, 1976. ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996. MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Melhoramentos, 1968. PORTELLA, Eduardo (Org.). Teoria Literária. 1. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975. 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