VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE
COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
TEORIA DA
LITERATURA I
Rio de Janeiro / 2006
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2006 Universidade Castelo Branco - UCB
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U n3p
Universidade Castelo Branco.
Teoria da Literatura I. – Rio de Janeiro: UCB, 2006.
80 p.
ISBN 85-86912-12-3
1. Ensino a Distância. I. Título.
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Supervisor do Centro Editorial – CEDI
Joselmo Botelho
Conteudista
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Apresentação
Prezado(a) Aluno(a):
É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,
na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente
esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.
Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu
conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.
Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Auto-Estudo
O presente instrucional está dividido em três unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.
Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades
complementares.
As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.
Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das três unidades.
Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os
conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2 e 3.
A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os
horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você
administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.
Bons Estudos!
Dicas para o Auto-Estudo
1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.
2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções.
3 - Não deixe para estudar na última hora.
4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.
5- Sempre que tiver dúvidas entre em contato com o seu monitor através do
e-mail [email protected].
6 - Não pule etapas.
7 - Faça todas as tarefas propostas.
8 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.
9 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação.
10- Não hesite em começar de novo.
SUMÁRIO
Quadro-síntese do conteúdo programático..................................................................................................................
Contextualização da disciplina......................................................................................................................................
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12
UNIDADE I
TEORIA DA LITERATURA E TEORIA LITERÁRIA
1.1- Conceituação............................................................................................................................................................
1.2- Teoria da literatura: fronteiras..........................................................................................................................
1.3- Teoria literária: alargamento interdisciplinar......................................................................................................
1.4- Possibilidades e fundamentos da teoria literária...............................................................................................
1.5- O lugar da teoria literária.......................................................................................................................................
1.6- Estudo de textos teóricos......................................................................................................................................
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UNIDADE II
TEORIA, ARTE E LITERATURA
2.1 - Arte e literatura .....................................................................................................................................................
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2.2 - As funções da literatura desde Platão e Aristóteles...................................................................................... 20
2.3 - Literatura e linguagem: as funções da linguagem e o discurso literário................................................... 23
2.4 - Periodização literária............................................................................................................................................. 24
2.5 - Literatura compromissada e a teoria da arte pela arte................................................................................... 67
2.6 - A literatura-arte e a indústria cultural................................................................................................................ 68
U NIDADE III
A NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO
3.1 – O texto: texto-formato X texto-forma..............................................................................................................
3.2 – Texto-objeto X texto-obra.................................................................................................................................
3.3 – Discurso metonímico X discurso metafórico................................................................................................
3.4 – Mimésis platônica X mimésis (recriação)......................................................................................................
3.5 – Catársis direta X catársis indireta...................................................................................................................
3.6 – Estudo de textos: poesias, narrativas, ensaios...............................................................................................
Gabarito............................................................................................................................................................................
Referências Bibliográficas..............................................................................................................................................
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71
71
72
72
74
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Quadro-síntese do conteúdo
programático
UNIDADE
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
I - Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária
- O que é crítica literária?
- Por que fronteiras da Teoria da Lit.?
- O que é Alargamento Interdisciplinar?
- O que é literatura?
- O que é texto técnico?
Levar ao aluno informações que definem a
situação do texto técnico (de informação, de
entretenimento, paraliterário) em confronto com
o texto-obra (Arte Literária), chamando a
atenção para os aspectos que os diferenciam e
que possam orientar teoricamente e criticamente
suas leituras.
- O que é texto-obra?
- O que é arte literária?
- O que é mimésis?
- O que é catársis?
- O que é análise literária?
- O que é interpretação literária?
- O que é interdisciplinaridade?
- Quais os pontos de vista teórico-críticos
atuais que direcionam os estudos literários?
II - Teoria, Arte e Literatura
- Estilo individual e estilo de época
Levar o aluno a distinguir o estilo individual do
estilo de época.
III - A Natureza do Fenômeno Literário
- Periodização e História da Literatura
Levar o aluno a identificar os estilos de época,
reconhecer suas diferenças e semelhanças,
desenvolvendo, desta forma, o senso crítico.
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Contextualização da Disciplina
A disciplina Teoria Literária I abrirá um leque de informações que serão utilizadas no decorrer do curso,
preparando o aluno para as outras disciplinas que se sucederão. Essa disciplina serve como alicerce para o
conhecimento e aprimoramento do aluno no âmbito de toda a literatura e das disciplinas afins.
Este conhecimento básico é de relevante importância, já que, além de se explorar todas as possibilidades e
fundamentos da teoria literária, além de um reconhecimento da natureza do fenômeno literário, o aluno terá
condições de se disciplinar a estudar, desenvolvendo o senso crítico e formando a sua própria bibliografia para
estudos posteriores. Desta forma, ele sentir-se-á apto e seguro em suas atividades profissionais e acadêmicas.
As informações, contidas nesta disciplina, tendem a provocar no aluno o gosto pelo crescimento intelectual
e levá-lo a pesquisas posteriores, desenvolvendo e ampliando o seu conhecimento ao longo do tempo. Sem
este conhecimento básico, o aluno não conseguirá atingir o necessário para o seu desenvolvimento intelectual,
ético e profissional.
UNIDADE I
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TEORIA D
A LITERA
TURA E TEORIA LITERÁRIA
DA
LITERATURA
Objetivo Específico:
· Levar ao aluno informações teórico-críticas que
definem a situação do texto literário, chamando a
atenção para aspectos que o tipifiquem e que possam
orientar a sua leitura.
1.1 - Conceituação
CONCEITO: [Do latim conceptu: Representação de
um objeto pelo pensamento, por meio de suas
características gerais (Filosofia) // Ação de formular
uma idéia por meio de palavras; definição,
caracterização. Exemplo: “O professor deu-nos um
conceito de beleza absolutamente subjetivo”. //
Pensamento, idéia, opinião. Exemplo: “Emitiu conceitos
reveladores de grande competência”. // Noção, idéia,
concepção. Exemplo: “Seu conceito de elegância está
ultrapassado”. Apreciação, julgamento, avaliação,
opinião. Exemplo: “Não tenho conceito formado sobre
este assunto”. // Avaliação de conduta e/ou
aproveitamento escolar // Ponto de vista, opinião. Ex.:
“No meu conceito, a família agiu mal com o rapaz”.
CONCEITO DE TEORIA:
TEORIA : Do grego theoría, “ação de contemplar”,
“examinar”, “estudo”; “conhecimento especulativo,
meramente racional”, “conjunto de princípios
fundamentais de uma arte ou ciência”, “opiniões
sistematizadas”, “noções gerais”, “suposição”,
“hipótese”; definição, caracterização.
CONCEITUAR: Formular conceito (de ou acerca de).
Exemplo: “Freud conceituou o inconsciente”. // Formar
conceito acerca de; julgar, avaliar. Exemplo: “É pessoa
indicada para melhor conceituar os candidatos”. //
Fazer conceito; formar opinião de; classificar; avaliar;
etc.
CONCEITO DE TEORIADALITERATURA:
Ciência que possibilita a análise das camadas visíveis
do texto literário. (Ponto de vista analítico // ponto de
vista cientificista).
CONCEITO DE TEORIA LITERÁRIA:
Ciência que possibilita a análise e interpretação das
camadas visíveis e invisíveis do texto literário; Análise
e interpretação das linhas e entrelinhas; Ciência do
Conhecimento. (Ponto de vista fenomenológico).
CONCEITO DE LITERATURA:
LITERATURA [Do latim litteratura]: Arte de compor
trabalhos artísticos em prosa ou verso. // O conjunto
de trabalhos literários de um país ou de uma época.
FUNÇÃO DALITERATURA:
FUNÇÃO [Do latim functione]: Utilidade, uso,
serventia. Exemplo: “Esta caixa não tem função”. //
Literatura: Cada uma das finalidades que se atribuem
aos enunciados; etc.
VALOR DALITERATURA:
VALOR [Do latim valore]: Qualidade de quem tem
força; audácia, coragem, valentia, vigor. Exemplo:
“Grande o valor dos bandeirantes que desbravaram
nossas terras”. // Qualidade pela qual determinada
pessoa ou coisa é estimável em maior ou menor grau;
mérito ou merecimento intrínseco; valia. Exemplo: “É
profissional de alto valor”. // Importância de
determinada coisa estabelecida ou arbitrada de
antemão. Exemplo: “Qual o valor do valete no pôquer”?
// Validade. Exemplo: “Seu argumento não tem valor”.;
etc.
Pelo ponto de vista da Teoria:
· Qual é a finalidade (função) da literatura?
· Qual é a finalidade da literatura técnica (ou
PARALITERÁRIA)?
· Como conceituar literatura-arte?
Daí, então, podemos concluir que a literatura-arte
(texto-obra = recriação da realidade) é diferente da
literatura técnica (texto-objeto = cópia da realidade).
1 - A obra literária cria seu próprio mundo, não sendo,
portanto, uma cópia da realidade.
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2 - A criação deste mundo será feita através da palavra
que comporá imagens ficcionais.
4 - É por intermédio da análise que o analista
decompõe a camada visível do texto literário.
3 - Diante da resistência que a própria palavra oferece,
o escritor volta-se ao mundo real, onde se alimentará
para continuar criando seu mundo de ficção (recriação
da realidade = realidade ficcional).
5 - É por intermédio da interpretação que o leitor
resgata e suplementa as camadas ocultas
(entrelinhas) do texto-arte.
Exercícios de Auto-Avaliação
Após a leitura atenta do conteúdo desenvolvido, responda às perguntas solicitadas, recorrendo, se necessário,
à bibliografia indicada.
1 - Por que a literatura não pode ser definida, mas apenas conceituada?
2 - Por que a obra literária (texto-arte) não é uma cópia da realidade?
3 - Que papel desempenha o leitor (analista e/ou intérprete) de uma obra literária? Explique a importância
desse papel.
4 - Por que, por outro lado, a obra literária não pode ser inteiramente desvinculada da realidade, embora não
necessite ser uma cópia dela?
5 - Estabeleça a distinção entre imagem mental e imagem ficcional.
6 - O que se entende por resistência oferecida pela palavra, na criação de uma obra literária?
Leitura Complementar
Para maior esclarecimento sobre os conceitos de literatura, leia o livro de Eduardo Portella, Teoria Literária,
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974. e/ou o livro de Rogel Samuel, Novo Manual de Teoria Literária,
Petrópolis: Vozes, 2005.
1.2 - Teoria da Literatura: Fronteiras
FRONTEIRA: Limite, raia; extremo, fim, termo;
contorno; separação entre um sistema e o seu exterior.
Fronteira-faixa // Tipo de fronteira representado por
fortificações ou obstáculos defensivos. Fronteira-viva
// Tipo de fronteira resultante de lenta evolução
histórica e de acumulação, fronteira de tensão; etc.
TEORIADALITERATURA: FRONTEIRAS
· Estudo analítico do texto literário;
· Análise apenas das camadas visíveis do texto
literário;
· Limita-se aos estudos formalistas e/ou estruturalistas;
· Ponto de vista cientificista.
TEORIA DE EXCLUSÃO DO SILÊNCIO:
“Movendo-se numa ordem epistêmica que exclui o
silêncio, as teorizações vigentes preservam a
dicotomia. Para elas o silêncio está fora do discurso. E
é por esta fresta que passam os cortes ou as diferentes
espécies formalizadas. Ao contrário do que se verifica
na Poética de Aristóteles, os cortes, diacrônicos,
sincrônicos – escolas, gêneros – , não estão a serviço
da integração, mas da fragmentação. Esse tipo de Teoria
Literária, predominantemente linear e unidimensional,
talvez não saiba que a poesia se esconde nos abismos
da estrutura” (PORTELLA, 1974: 15-6).
VOCABULÁRIO:
15
Episteme: Grau de certeza do conhecimento científico
em seus diversos ramos, especialmente para apreciar
seu valor para o espirito humano.
Dicotomia: Divisão lógica de um conceito em dois
outros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam
a extensão. Exemplo: animal = vertebrado e
invertebrado / ser humano = corpo e alma.
Leitura Complementar
Para maior esclarecimento sobre a teoria de exclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”,
primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p.
7-18.
1.3 - Teoria Literária: Alargamento Interdisciplinar
· Estudo analítico-interpretativo do texto literário;
· Análise e interpretação das camadas visíveis (linhas)
e invisíveis (entrelinhas) do texto literário;
· Aceita a contribuição de disciplinas afins para o
correto desvelamento do texto literário, inclusive a
contribuição da análise cientificista;
· Ponto de vista fenomenológico.
ALARGAMENTO INTERDISCIPLINAR
ATENÇÃO: É uma natural conseqüência do seu progresso técnico.
Utiliza-se de uma metodologia alternada:
TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LITERÁRIA + CONTRIBUIÇÃO INTERDISCIPLINAR
ANTROPOLOGIA
TEXTO LITERÁRIO
LINGÜÍSTICA
PSICOLOGIA
DIREITO
SOCIOLOGIA
TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LIT.
SEMIOLOGIA
FILOSOFIA
HERMENÊUTICA
ETC.
* Disciplinas aparentemente dissociadas;
* União para a DECIFRAÇÃO do enigma do homem.
A HERMENÊUTICA LITERÁRIA:
“De acordo com Ricoeur e Gadamer, a hermenêutica
vê os textos como expressões da vida social fixadas
na escrita, através de fatos psíquicos, de
encadeamentos históricos. Sua interpretação
consiste, então, em decifrar o sentido oculto no
aparente e desdobrar os diversos graus de
interpretação ali implicados.
Só há interpretação quando houver ambigüidade, e
é na interpretação que a pluralidade de sentidos se
torna manifesta.
16
Na realidade, a hermenêutica é a compreensão de si
mediante a compreensão do outro: o máximo de
interpretação se dá quando o leitor compreende a si
mesmo, interpretando o texto. A tática da interpretação
aparece sempre que há ambigüidade, mas compreender
não significa a repetição do conhecer. A hermenêutica
postula uma superação: ela se quer uma teoria e uma
arte, fazendo da leitura uma nova criação; e dela se
exige uma reflexão que leve à ação.
A hermenêutica está mais interessada nas questões
do que nas respostas. Só quando compreende o sentido
motivador da pergunta pode começar a procurar a
resposta; temos de compreender o que se esconde
por trás da pergunta. Só podemos compreender os
enunciados se reconhecermos neles nossas próprias
perguntas, num equilíbrio entre nossos impulsos
conscientes e nossas motivações inconscientes”
(SAMUEL, 2005: 86).
TEORIA DE INCLUSÃO DO SILÊNCIO:
“A Teoria Poética, fundada na transmanência, abre
lugar para a instauração da identidade do silêncio na
diferença do corte. A voz do poema fala mais alto
quando se cala, já que o silêncio não é o espaço vazio
porém o máximo de concentração da fala. O poeta
silencia porque o discurso pode menos que a poesia.
E por isso o mais importante não é o que se exibe
sobre as linhas, porém o que se oculta nas entrelinhas.
O silêncio é a força da experiência confrontada com a
fraqueza da expressão.
A leitura poética, transmanente, inclusiva, processase para além do código manifesto da língua e mesmo
na dinâmica latente. Confunde e integra esses níveis.
Aí, neste ponto de convergência ou de tensão, penso
localizar-me; mas para abrir sempre mais o diâmetro do
compasso” (PORTELLA, op. cit.: 16).
Leitura Complementar:
Para maior esclarecimento sobre a teoria de inclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”,
primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p.
7 - 18.
1.4 - Possibilidades e Fundamentos da Teoria
Literária
POSSIBILIDADE: Qualidade de possível, do que
pode acontecer (muito, pouco).
POSSIBILIDADE REAL: Poder, faculdade.
POSSÍVEL: Que pode ser, acontecer ou praticar-se.
FUNDAMENTO: base, alicerce; razões ou
argumentos em que se funda uma tese, ponto de vista,
etc.; razão, justificativa, motivo.
PRÁTICA LITERÁRIA
LITERATURA è sujeito ou objeto?
“A teoria literária reúne uma coleção de ciências que
alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de
“teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária”
se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra,
da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura como
objeto do saber. A primeira tarefa da teoria literária
consiste em saber o que é literatura.
A teoria literária funda um tipo de atividade intelectual
chamada crítica literária. Muitas vezes só
conhecemos a crítica, da qual se depreende a teoria.
Por exemplo: os estudos de psicanálise de Freud ou a
crítica da economia política de Marx, apesar de não
serem literários, influenciaram nossos estudos.
Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é a
literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros
existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o
texto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultos
do seu saber?” (SAMUEL, 2005: 7).
1.5 - O Lugar da Teoria Literária
Teoria Literária e Crítica Literária
O lugar da Teoria Literária:
Disciplina de configuração autônoma (porém de caráter interdisciplinar).
CRÍTICA
TEORIA
(núcleo)
MÉTODO
Pratica concretamente o sistema de ensino do literário;
Suporte para ensinar o literário.
“A Teoria Literária [a partir do século XX] assumiu
repentina e peculiar importância no quadro cada vez
mais amplo dos estudos literários. (...) Não que o lugar
da Teoria Literária, desde as mais remotas lições da
Poética ou da Retórica, até os mais recentes
compêndios de comunicação e expressão, houvesse
sido um espaço em branco. Não. Mas é certamente
agora 1 que ela atinge o seu conveniente status
universitário, identificando-se como disciplina de
configuração autônoma porém de caráter
rigorosamente interdisciplinar.
Podemos até afirmar, sem receio de incorrer em
qualquer deslize mitômano, que a Teoria Literária é o
núcleo que implementa, crítica e metodologicamente,
todo o sistema de ensino das literaturas. Nenhuma
literatura particular, no seu modo de produção
universal, pode ser estudada e ensinada sem o
necessário suporte teórico. Isso [o necessário suporte
teórico] não nos autoriza a desequilibrar, sob qualquer
pretexto, as relações de poder vigentes na contracena
das disciplinas literárias. É este o único limite que não
pode ser violado; e ele impede a Teoria Literária de
transformar-se numa disciplina dominadora e
repressiva” (PORTELLA, op. cit.: 7).
“A Teoria Literária não pode ser hipostasiada como
a proprietária suprema da verdade poética. Até porque
devemos duvidar da própria verdade poética, pelo
menos nas suas formas institucionalizadas. E além do
mais, como se não bastasse o reconhecimento da feição
disseminada do objeto literário, as modificações ou
1
AGORA = ANOS 1960/1970 NO BRASIL
acréscimos, que foram sendo historicamente
incorporados à sua estrutura, invalidaram os conceitos
imóveis e intocáveis, exigindo, a partir desse ângulo
aberto, uma amplitude ótica capaz de surpreender a
verdade poética para além do âmbito restrito das
diferentes espécies poemáticas.
Aqui recebe um novo impulso problemático a
controvertida questão das escolas e gêneros literários.
E é claro que uma proposição metodológica circular e
simultânea terá de reconhecer nessas categorias
apenas processos de estruturação, valorizados sem
dúvida como instâncias pedagógicas insubstituíveis.
Porque fora desse prisma a força classificadora se reduz
e se anula, especialmente hoje quando se tornam
incompatíveis a função sincrônica dos gêneros e a
imagem pancrônica da cultura planetária” (Ibidem: 8).
VOCABULÁRIO:
Peculiar: especial;
Mitômano: mistificação;
Implementa: pratica concretamente;
Hipostasiada: divinizada;
Disseminada: divulgada;
Proposição: proposta;
Instâncias: recursos;
Sincrônica: que ocorre ao mesmo tempo // dentro do
tempo;
Pancrônica: tudo ao mesmo tempo.
17
18
1.6 – Estudos de Textos Teóricos
Os estudos de textos teóricos serão necessários no
decorrer do período letivo. Além dos textos que serão
oferecidos pelo tutor, o aluno poderá complementar o
seu aprendizado sobre Teoria da Literatura e/ou Teoria
Literária lendo os livros apresentados na Bibliografia.
Leituras Complementares
Livros recomendados:
CULLER, Jonathan. Teoria Literária. Tradução: Sandra Guardini T. de Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999.
PORTELLA, Eduardo. Teoria Literária, 1. ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974.
SAMUEL, Rogel (org.). Manual de Teoria Literária. 13. ed., Petrópolis: Vozes, 1999.
SAMUEL, Rogel. Novo Manual de Teoria Literária. 3. ed., Petrópolis: Vozes, 2005.
UNIDADE II
19
TEORIA, ARTE E LITERA
TURA
LITERATURA
Teoria Literária
• Fornece elementos para a apreensão do Fenômeno
Literário;
• Aberta às múltiplas dimensões da Literatura;
• Caráter interdisciplinar e, ao mesmo tempo,
independente;
• Não pode estar desvinculada do contato profundo
e constante com o texto literário (a teoria nasce do
texto e para ele se volta; o texto literário guarda a teoria,
implícita ou explicitamente).
“A Teoria Literária assume um caráter interdisciplinar
porque assimila os conhecimentos de ciências afins
tais como a sociologia, a antropologia, a lingüística, a
história, a psicanálise, todas voltadas igualmente para
manifestações do ser e do fazer humanos. Este inter-
relacionamento amplia e enriquece o estudo da
Literatura. (...) A crítica, qualquer que seja a via de
acesso escolhida (sociológica, psicológica,
lingüística...), não pode descartar-se de sua dupla
feição: enquanto crítica obedecerá a um rigor, que lhe
é garantido pelo método de abordagem, e, enquanto
literária, incluirá literariamente o sentido que, na
literatura, ultrapassa o campo do conhecimento com o
qual se articulou, na construção do modelo de leitura”
(SOARES, Angélica. In SAMUEL (org.), 1999: 90 - 1).
“A Teoria Literária reúne uma coleção de ciências
que alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de
“teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária”
se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra,
da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura como
objeto do saber” (SAMUEL, 2005: 7).
2.1 – Arte e Literatura
Arte
“A arte abala, cria um clima de tensão, transfere e
liberta, ou promete libertar. A arte cria uma tensão para
provocar a libertação. Ao libertar a tensão, libera a
liberdade. A liberdade é o fim de toda a tensão, mas só
é conseguida depois da tensão de uma crise a
liberdade é catártica, conseguida após o extremo”
(Ibidem: 12)
Sintetizado:
“A arte não se pode identificar com um utensílio. A
arte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria
arte. A arte não deve ter finalidade, porque ela é uma
finalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é,
não tem finalidade fora de si mesma” (SAMUEL,
Rogel. In SAMUEL (org.), 1999: 12).
20
Literatura
-Literatura (ARTE LITERÁRIA): Caracteriza-se pela
pluralidade de sentidos, ou seja, é plurissignificativa;
realidade cria um impasse, cuja solução é a catarse,
que é conseqüência da mimese” (Idem, 2005: 12).
-Literatura (ARTE LITERÁRIA): “Quando a literatura
faz a mimese da ação humana, intensificando a
percepção, distorcendo a realidade, pressiona o
discurso com suas promessas de liberdade. O potencial
próprio da arte reside nisso: a não-identificação com a
- “A literatura faz parte do produto geral do trabalho
humano, da cultura. A cultura de um povo se realiza,
em diversos sentidos, nas ciências e nas artes. É um
conjunto de fatos e hábitos socialmente herdados, que
determina a vida dos indivíduos” (Ibidem: 9).
2.2 – As Funções da Literatura Desde Platão e
Aristóteles
FUNÇÃO (etimologia): Do latim functio; -önis:
trabalho; exercício de órgão ou aparelho; execução;
funcionamento; prática; uso; cargo, espetáculo;
solenidade; cumprir; desempenhar; exercer; executar;
satisfazer; fruir.
Função:
- Atividade natural ou característica de algo
(elemento, órgão, engrenagem, etc.) que integra um
conjunto, ou o próprio conjunto;
- Obrigação a cumprir, papel a desempenhar, pelo
indivíduo ou por uma instituição (por exemplo: a
função de mediador em um conflito);
- Emprego, exercício, atualidade de um cargo (por
exemplo: estar ou entrar em função);
- Uso a que se destina algo; utilidade, emprego,
serventia (por exemplo: uma única ferramenta com
variadas funções);
- Qualidade do que tem valor, resulta em proveito
(por exemplo: para os alunos de Letras, estudar Teoria
Literária ainda tem sua função);
- Reunião social; solenidade, festa (por exemplo: não
compareceu àquela função para a entrega dos prêmios).
“Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é
literatura? Que textos? Que tipos, que gêneros
existem? Como se faz a leitura? Como se recebe o
texto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultos
do seu saber?” (Ibidem: 7)
As Funções da Literatura desde Platão e
Aristóteles
“A história, reflexo das realizações humanas, é
dinâmica, o que não impede que levemos em
consideração a existência de certas convenções
estéticas de que a obra participa e que lhe dão uma
certa modelização. Toda obra artística é autônoma em
sua validade estética, mas não é independente da
cultura de sua época e das influências da cultura de
épocas anteriores: assim como nós, seres humanos,
que também temos as nossas marcas genéticas e as
que vamos adquirindo na nossa trajetória existencial,
que nos tornam diferentes dos outros seres com quem
convivemos e, ao mesmo tempo, semelhantes a eles,
em se tratando de elementos comuns a nossa condição
humana.
Precisamos estar alertas para reconhecermos e
acolhermos as novas possibilidades criadoras que
realmente possam participar da grande família
composta através dos tempos pelos gêneros literários.
É de capital importância frisar que a obra literária,
sendo um organismo formado de múltiplos aspectos,
onde se articulam elementos morfológicos, sintáticos,
semânticos, imagísticos, simbólicos, fônicos, rítmicos,
etc., que articulados a outros aspectos particulares
aos gêneros dos quais participa mais intimamente, não
pode ser reduzida a um mero catálogo de regras
apriorísticas.
Outro problema que se coloca com bastante nitidez é
o da possibilidade ou não de uma mesma obra conter
elementos característicos de vários gêneros. Durante
alguns momentos históricos não se admitiu a
contaminação dos gêneros literários, da mesma forma
que não se admitiam contaminações em outras esferas
da vida, como, por exemplo, na social, na política e na
religiosa. A visão do mundo ou ideologia de uma época
sempre se refletirá no fato cultural. Mas o que deixou
muitas vezes os críticos confusos foi não terem eles
podido explicar aquelas obras que não se enquadravam
nos modelos estabelecidos e que, numa análise mais
meticulosa, mostravam-se rebeldes às convenções e
cheias de novas propostas. O remédio muitas vezes
foi recusá-las como obras de valor, por falta de
parâmetros norteadores. Foi o caso do romance, por
exemplo, que só no século XIX encontrou a sua
verdadeira expansão como gênero.
Com a nova visão crítica do século XX, e aqui
poderíamos usar o plural, voltada mais para o
conhecimento intrínseco da obra literária, o estudo
dos gêneros literários viu-se enriquecido, pois agora
pode-se ter a liberdade de compreendê-los em toda a
sua importância e substancialidade, e em sua utilidade
na elucidação de certos comportamentos estéticos,
sem a preocupação de aceitá-los através de uma visão
compartimentada e empobrecedora da obra literária.
Que o estudo dos gêneros literários sirva de meio para
se chegar à compreensão global da obra, mas não de
princípio básico norteador de um conhecimento que
se queira mais totalizante.
E não nos esqueçamos de que, para podermos
empreender uma visão profunda do fato literário, é
necessário que levemos em conta a sua gênese”
(CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.),
1999: passim 30-63).
Conceituação Historiográfica
“Nos livros III e X da República, Platão se refere aos
gêneros literários, estabelecendo então as três
categorias: poesia épica, poesia dramática e poesia lírica.
Como base desta tripartição dos gêneros, no livro III,
leva em consideração o grau de imitação (mimésis) que
cada um estabelece em relação à realidade. A poesia
dramática, por ele chamada de mimética, era a que imitava
os homens em ação. A poesia lírica, que não imitava os
homens em ação, caracterizando-se mais por seu
aspecto subjetivo, era não mimética. A poesia épica era
a que participava dos dois procedimentos anteriores,
sendo, portanto, um tipo de poesia mista (utilizava tanto
o diálogo direto, quanto a narração). Posteriormente,
no livro X, irá abolir essa distinção a partir da mimésis,
considerando toda poesia como mimética, isto é, como
imitação da natureza. Mas continuará a manter a
tripartição anterior. A teoria platônica dos gêneros
literários só pode ser entendida, mais radicalmente, se a
articularmos com o pensamento do filósofo sobre o
“mundo das idéias” e o mundo onde habitamos. (...)
O conceito de gêneros literários encontrou em
Aristóteles, filósofo grego que viveu no IV século a.
C. (384 a.C. a 322 a.C.), um vasto campo de reflexão.
Sua doutrina permanece ainda atual, devido à grande
sensibilidade e ao espírito científico com que marcou
a sua Poética, obra dedicada principalmente ao estudo
da tragédia e da epopéia. Realizando profundas
investigações no campo da estética, da retórica e da
poética, reconheceu a existência de três gêneros
fundamentais, ou de três formas essenciais em que
pode se apresentar o fenômeno poético: o gênero
épico, o gênero lírico e o gênero dramático.
Aristóteles abordou o problema à luz da observação
das obras literárias gregas, e aprofundou a sua visão
do fato, pela constatação da importância do conteúdo
na classificação de uma obra dentro de um gênero
determinado. Deduzimos daí que para ele o gênero
literário é uma determinada forma que deve estar em
consonância com o conteúdo e com a maneira como
este é comunicado ao leitor. (...)
Horácio, poeta latino que viveu de 65 a.C. a 8 a.C., na
sua obra Epistula ad Pisones, considerada sua arte
poética, desenvolve com segurança alguns problemas
referentes à criação poética e, entre eles, os gêneros
literários. Segundo ele, o poeta deve adaptar os
assuntos tratados ao ritmo, tom e metro adequados ao
estilo próprio de cada gênero. Isto significa que cada
tema deverá ter a sua forma própria, não se admitindo
hibridismos. A teoria poética horaciana creditava à
criação literária uma finalidade moral e didática,
instrumento de educação e de prazer, cujas regras
deveriam ser rigidamente respeitadas, segundo
modelos ideais.
O Renascimento recuperou os preceitos já
conhecidos das poéticas aristotélica e horaciana.
Segundo os críticos da época, a poesia, para atingir o
grau de universalidade, deveria ser realizada segundo
modelos prefixados pelos tratados ou artes poéticas
até então difundidos. O conceito de imitação
aristotélico foi levado às últimas conseqüências,
interpretado como cópia da realidade e não como
recriação. No caso específico dos gêneros,
conceberam-nos como cópias fiéis dos modelos grecoromanos. (...)
Esses princípios foram confirmados no período
denominado Neoclassicismo ou Classicismo Francês.
Cada gênero ou subgênero possuía os seus temas
específicos, seu estilo próprio e seus objetivos
peculiares. Esta época, século XVII e inícios do século
XVIII, reflete o pensamento da aristocracia, classe
dominante política e socialmente, que não admitia
questionamentos sobre a validade do seu poder e cuja
visão de mundo irá determinar, no campo artísticoliterário, uma maior valorização de alguns gêneros
(epopéia e tragédia) em detrimento de outros (lírica e
comédia). (...)
Mas sabemos que havia outras posições paralelas e
divergentes no cenário do século neoclássico, que
refletiam idéias favoráveis a uma maior abertura do
conceito de gêneros literários. Tem início na França a
célebre querela dos Antigos e dos Modernos. Os
Antigos, firmados nos modelos greco-latinos, negavam
a possibilidade de se estabelecerem novas regras para
os gêneros tradicionais, enquanto os Modernos
advogavam a superioridade das literaturas modernas
em relação à literatura greco-latina, recusando-se a
aceitar a intemporalidade das normas clássicas. Obras
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com características híbridas, como as de Lope de Veja
e Calderón de la Barca, foram motivo de violentos
ataques por parte dos Antigos.
Em meados do século XVIII surge o movimento
alemão denominado STURM UND DRANG
(Tempestade e Ímpeto) que questionará violentamente
as posições rígidas neoclássicas, substituindo a teoria
tradicional dos gêneros pela crença na autonomia de
cada obra literária. Abre-se caminho para a doutrina
romântica que apregoava uma melhor fundamentação
teórica sobre o assunto, baseada em elementos
intrínsecos e filosóficos. (...)
A partir da segunda metade do século XIX, o
positivismo e o naturalismo, juntamente com as teorias
evolucionistas de Spencer e Darwin, irão influenciar
toda a cultura européia. Destacamos o crítico Brunetière
(1849-1906), que tentará reabilitar o conceito de
gêneros, comparando-os a organismos vivos, com
nascimento, crescimento, morte ou transformação.
Nesta concepção, os gêneros, assim como os homens
e a história, estavam sujeitos às leis da evolução natural
da espécie. (...)
Contra a teoria de Brunetière surge a Estética de
Benedetto Croce (1902). Segundo ele, não se pode
distinguir e dividir a unidade intuição-expressão, que
está na base do processo criador. Os gêneros, se
concebidos como formas modelizadoras, aprisionariam
a criação e fragmentariam a totalidade da obra. (...)
Teorias mais modernas [meados do século XX], como
a de Warren e Wellek, expostas no livro Teoria da
Literatura, não contradizem a doutrina aristotélica,
mas lhe acrescentam novos princípios. Gêneros
literários, segundo estes autores, representam uma
soma de artifícios estéticos que modelam as obras
literárias e atuam tanto sobre a forma exterior (metro,
ritmo, rima, etc.), quanto sobre a forma interna (atitude,
tom, propósito, assunto). (...)
Outra posição bastante inteligente é a de Emil Staiger
que, em seus Conceitos Fundamentais da Poética,
propõe o estudo dos gêneros através da captação da
“essência” dos três estilos básicos: o lírico, o épico e
o dramático. Seu objetivo é provar a presença da
essência do homem nos domínios da criação poética”
(ARAGÃO, Maria Lúcia. In SAMUEL (org.), 1999: 6672).
Século XX – Final
“Como elemento de cultura, a arte literária é hoje um
reduto de luta que protesta contra a utilização
instrumental do homem pela técnica. É um momento
do espírito humano em que o homem se redescobre
como ser cultural. A literatura baseia-se na percepção
da alma por si mesma e em si mesma, disse Hegel.
Representa o espírito para o espírito, representando o
interior e a exterioridade que sempre revela a
interioridade do humano. A literatura é capaz de
representar um objeto em toda a sua íntima
profundidade. O espírito se objetiva para si mesmo
através da fantasia da imaginação. A imaginação é pois
a base geral de todas as formas artísticas, ela é a matéria
sobre a qual a arte trabalha. A literatura trabalha para o
desenvolvimento da intuição interior, seu objetivo é o
reino do espírito humano. A missão da literatura, como
fato cultural, é evocar a potência do espírito, tudo
aquilo que nas paixões e nos sentimentos humanos
nos estimula e nos comove. Esses estímulos estão a
serviço da transformação da sociedade. É a emoção, a
subjetividade, o principal motor de transformação
social” (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL (org.), 1999:
10).
Século XXI – 2006
“A literatura de hoje se revela contra a “ideologia”
do gênero. O poema [por exemplo] revela esta luta
ideológica e a linguagem do homem no mundo
tecnológico está na linguagem e ideologia do poema.
A literatura, como todas as artes, tornou-se autônoma,
mas essa autonomia da arte sempre considera a
liberdade num domínio particular, liberdade dentro do
espaço da própria arte. Isto cria uma contradição com
o estado de não-liberdade no todo social. (...)
O problema é encontrar um espaço literário onde a
literatura continue a fazer a crítica da ideologia
dominante, fora do âmbito do poder. Existirá este
espaço? Poderá a literatura deixar de ser um “bem
cultural”, com fins comerciais, ao nível dos outros
produtos, como os produtos eletrônicos? Tendo
perdido a sua “aura” há mais de um século, existirá
ainda a literatura? E a questão do gênero se coloca.
(...)
Talvez, o maior desafio que o conceito de gênero
põe para a teoria contemporânea é a sua recusa a
desaparecer. Embora variável, ele permanece uma
característica da arte verbal. Como Fowler insiste, a
literatura não pode sair do gênero sem cessar de ser
literatura” (Idem, 2005: passim 51-59).
2.3 – Literatura e Linguagem: As Funções da
Linguagem e o Discurso Literário
Literatura
- Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em
prosa ou em verso;
- O conjunto de trabalhos literários de um país ou de
uma época;
- Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura
oral, literatura erudita, literatura popular, literatura de
massa, etc.
Linguagem
- O uso da palavra articulada ou escrita como meio
de expressão e comunicação entre pessoas;
- A forma de expressão pela linguagem própria de um
indivíduo, grupo, classe, etc. Por exemplo: linguagem
infantil;
- O vocabulário específico usado numa ciência, numa
arte, numa profissão, etc.; língua;
- Sistema de signos;
- Etc.
As Funções da Linguagem e o Discurso
Literário
OBSERVAÇÃO PRELIMINAR: Este item do Programa
segue regras formalistas e estruturalistas ( ponto de
vista cientificista, analítico, dos anos iniciais do século
XX ). O aluno de Teoria da Literatura deve buscar nos
conceitos da disciplina Lingüística um melhor
entendimento sobre o assunto (interação
interdisciplinar).
“Tendências críticas aparecem no século XX [início
do século XX] enfatizando a literariedade do texto
literário como um fato lingüístico, e centrando o
significado de um poema nos padrões internos da
imagem, metáfora, paradoxo e ironia. (...)
Os formalistas russos e o estruturalismo francês
foram influenciados pela lingüística de Ferdinand de
Saussure, que desenvolveu a tese de que as regras
que determinam um idioma constituem um sistema no
qual a função ou significado de uma determinada
unidade lingüística é determinada por sua relação com
outras unidades do sistema global. (...)
O estruturalismo salientou que a literatura, como o
idioma, tem uma gramática própria, uma estrutura que
a permite comunicar-se e gerar significados, como as
convenções de gênero. (...)
Para os estruturalistas, os gêneros não são sistemas
de classificação, mas códigos de comunicação”
(Ibidem: passim 50-3).
“Segundo Foucault, o estruturalismo preserva uma
última ilusão: a de tentar apresentar o mundo para a
consciência como se ele fosse feito para ser lido pelo
homem (...). A instabilidade desta última ilusão é a tarefa
da teoria do pós-estruturalismo.
Enquanto o estruturalismo se tornou possível por
noções de diferença e de linguagem como um contrato
social, o pós-estruturalismo vai além dos limites
percebidos do pensamento” (Ibidem: 128).
“A literatura estrutura conceitos chamados textos.
Constituem textos os poemas, as narrativas e os dramas
(ou peças teatrais). Tudo é ficção, matéria da
imaginação da realidade, uma força, uma não aceitação
da realidade tal como se apresenta. (...)
Logos, diz Wittgenstein, significa que o discurso não
pode falar de si mesmo, a não ser que se coloque antes
da possibilidade do próprio discurso. O processo da
literariedade se concentra no interior desta dinâmica
de logos. A literatura, apreensão do real. Esta
capacidade de apreender o real é a literariedade. E a
literatura tem esta capacidade, esta propriedade,
devido a dois fatores: a linguagem, entendida como
aquilo que nos capacita dizer aquilo que dizemos; e a
idéia ou ideologia, entendida como a apreensão do
real que há naquilo que dizemos” (Ibidem: 14).
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Ponto de Vista Atual:
Discurso Literário:
“Sendo a literatura uma forma de apreensão do real,
é ideológica, pois sua mimese passa por um código
ideológico. Os dois fundamentos – linguagem e
ideologia – caracterizam a escrita do texto de
arteliterária. São duas propriedades da escrita e dão a
esta definição uma dimensão focalizada e um propósito
definido, possível de perceber: porque se a linguagem
é aquilo que nos capacita dizer o que dizemos, seu
dizer não se dá sobre um vazio semântico, o que ele
diz é ideológico, e sua capacidade de dizer manifesta
a linguagem” (Ibidem: 15).
2.4 - Periodização Literária
Objetivo Específico (Ponto de vista
cientificista):
· Levar o aluno a distinguir o estilo individual do
estilo de época.
Como já examinamos alguns conceitos de literatura,
vale ressaltar aqui três conclusões importantes que
serão comentadas ao longo desta unidade:
1. A literatura é a arte da palavra.
2. A literatura revela uma realidade.
3. A literatura, como arte, proporciona um prazer
estético.
A literatura será vista, portanto, da seguinte forma:
a) segundo o instrumento usado pelo criador (a
palavra);
b) segundo o objeto de atuação (a realidade);
c) segundo o modo de atuar (a revelação);
d) segundo o objetivo básico a que pretende (o prazer
estético).
A literatura, como arte, corresponde a um sistema de
signos, mas um sistema especial que se vale de outro.–
a língua utilizada pelo escritor.
A língua é o principal código de que dispõe o homem
para a realização de sua fala. O escritor, por sua vez,
escolherá, entre as diversas possibilidades de
expressão, aquela que se adapte à sua forma peculiar
de encarar a realidade. É nesta escolha que reside o
estilo de cada um com maior ou menor singularidade.
Assim como existem objetos que despertam a nossa
inteligência, que nos chocam, que nos impressionam
e nos sensibilizam, assim também acontece com
palavras – umas no domínio da afetividade; outras, no
da intelectualidade.
Às vezes nos afastamos das normas lingüísticas em
nome de uma expressão mais pessoal, mais individual.
Criamos um estilo próprio, sem a preocupação com as
normas gramaticais. Aqui reside a diferença entre o
campo de ação da estilística e o campo de ação da
gramática.
O texto literário corresponde à criação artística.
Logo, o estilo individual está a serviço desta
criação. Cada um de nós tem um estilo próprio
na comunicação diária, sem preocupações
artísticas.
A linguagem literária se caracteriza, sobretudo, pela
conotação, apesar de utilizarmos esse tipo de
linguagem no cotidiano. Mas é importante ressaltar
que, num texto literário, aquilo que as palavras
representam vai além do conteúdo lógico, ultrapassa
a simples representação mental nelas configurada e
que reproduz objetivamente o mundo. Não se apoia
simplesmente no significado, como a linguagem da
ciência, mas se faz de significado e significante.
Como conclusão, podemos utilizar as palavras de
Domício Proença Filho:
As palavras, no texto literário, tornam-se
multissignificativas e adquirem um valor específico
no momento em que se integram no mesmo e passam
a fazer parte dos elementos que, interligados e
interdependentes, constituem a obra de arte da
palavra (1994:52).
Vamos exemplificar, por intermédio de textos, onde a
realidade “rio” vai aparecer através de três visões
diferentes, ou seja, vai aparecer poeticamente, de
acordo com a subjetividade de cada artista que a
focaliza.
Texto 1 - Os Rios
Magoados, ao crepúsculo dormente,
Ora em rebojos galopantes, ora
Em desmaios de pena e de demora,
Rios, chorais amarguradamente.
Desejais regressar... Mas, leito em fora,
Correis... E misturais pela corrente
Um desejo e uma angústia, entre a nascente
De onde vinde, a e foz que vos devora.
Sofreis da pressa, e, a um tempo, de lembrança...
Pois no vosso clamor, que a sombra invade,
No nosso pranto, que no mar se lança,
Rios tristes! agita-se a ansiedade
De todos os que vivem de esperança,
De todos os que vivem de saudades...
(Olavo Bilac, Tarde, In Poesias, Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1928, p. 300)
Texto 2 - Água Corrente
Água Corrente! Água de um rio quieto
Cortando a alma ignorada do sertão!
Levas à tona, aspecto por aspecto,
Os aspectos da vida em refração.
Água que passa... sonho predileto
Do lavrador que lavra o duro chão.
Trazes-me sempre a evocação de um teto...
Água! Sangue da terra! Religião...
Há na tua bondade humana e leal,
Quando a roda maior moves do Engenho,
Qualquer bafejo sobrenatural...
Ouvindo, ao longe, o teu magoado som,
Água corrente! eu me enterneço e tenho
Uma imensa vontade de ser bom...
(Olegário Mariano. Água Corrente. In Poesia, Rio
de Janeiro: Agir, 1968, p.55).
Texto 3 - O Rio
Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro,
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
Um rio nasceu.
(Vinícius de Moraes, Antologia Poética, Rio de
Janeiro: Editora do Autor, 1960, p. 234)
Como se observa, cada um dos autores teve uma
visão pessoal e particular da realidade rio, e a projeção
da essência desta realidade é feita diferentemente por
eles. Para Olavo Bilac (texto 1), por exemplo, o rio é a
projeção do seu próprio estado de espírito. É com uma
conotação de amarguras, de desejos contrariados e
insatisfeitos que a realidade rio se apresenta para ele.
Sente-se aí a alma do poeta oprimida pelo inexorável,
deixando-se levar pela força incontrolável do
desenrolar da vida humana, enxergando a esperança
no futuro e a saudade no passado.
Para Olegário Mariano (texto 2), longe de ser tão
somente água corrente, o rio é o sonho do lavrador, a
evocação protetora de um teto, aquele sangue da terra
que plasma o misticismo transcendental da religião. E
nesse plano atemporal, o rio, movendo graciosamente
o engenho, poupando o braço do homem, transfigurase na bondade, como a lembrar ao homem a
grandiosidade da obra divina, já agora movendo, não
a roda do engenho, mas o sentimento humano,
tocando-o, enternecendo-o pelo dom maravilhoso do
sublime e da generosidade.
Finalmente, Vinícius de Moraes (texto 3), mesmo
explicando o nascimento, o desenvolvimento e a
majestade do rio, foi buscar no universo poético a
constelação de imagens com que pessoaliza a realidade
rio. O poeta parte da causa para o efeito, mostrando
que a simples gota de chuva que se projeta de encontro
ao solo – seja na flacidez da terra que lhe abre o ventre,
seja na natureza das rochas, do ouro, do carvão, do
ferro ou do mármore – vai gota sequiosa de espaço,
em busca de luz, do horizonte largo.
Como podemos ver, a temática é a mesma nos três
textos, mas cada um enfoca, à sua maneira, a realidade
rio. O estilo individual se caracteriza nestas diferenças,
nestas singularidades, nestes traços individuais.
Estilo de época
Até aqui vimos a literatura segundo o instrumento
de que se vale o criador. Chegamos à conclusão de
que a literatura revela uma realidade.
A visão da realidade tem variado de época para época.
“a condição para a existência de uma literatura
é a existência de um povo que vive, pensa,
sente, age e, através de uma língua, se
expressa” (Ibidem: 62).
Não é difícil perceber que cada época tem um sistema
de padrões, convenções e leis a que se pode chamar
cultura. A cultura faz o homem enfrentar o mundo de
forma especial. Muda-se a cultura, mudam-se os
gostos, padrões, senso de beleza. Cada época vê o
homem à sua maneira. Melhor ainda: em cada época, o
homem vê-se à sua maneira, porque muda a cultura e
com ela o conceito de beleza física e da nobreza moral.
A literatura é o reflexo da realidade vivida.
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Por exemplo, o herói de Homero - preso à mitologia difere do herói medieval, preso ao livro judaico cristão.
O cenário de Os Lusíadas, de Camões, é a história de
Portugal no seu auge; o cenário de Guerra e paz, de
Tolstói, é a invasão napoleônica à Rússia. A mulher de
Leonardo da Vinci não é a mesma de Renoir: a pintura
estiliza a concepção de beleza de cada época.
Para um melhor entendimento de estilo de época
utilizemos as palavras de Helmut Hatzfeld, citado por
Domício Proença Filho:
A atividade de uma cultura que surge com tendências
análogas nas manifestações artísticas, na religião, na
psicologia, na sociologia, nas formas de polidez,
nos costumes, vestuários, gestos, etc. No que diz
respeito à literatura, o estilo de época só pode ser,
avaliado pelas contribuições do estilos, ambíguas
em si mesmas, constituindo uma constelação que
aparece em diferentes obras e autores, da mesma era
e parece informada pelos mesmos princípios
perceptíveis nas artes vizinhas (Ibidem: 63).
Com este conceito, entendemos que:
Desaparece a rigidez com que alguns costumavam
estabelecer limites cronológicos para as chamadas
escolas literárias, pois as unidades periodológicas
em que costumamos dividir a história da literatura,
atendendo, sobretudo, à nossa necessidade de dividir
para compreender, passam a caracterizar-se pelos
traços estilísticos que predominam e levam a
determinar as marcas gerais da faixa de tempo
considerada (Ibidem: 63).
Diante do exposto, podemos concluir que na
história das artes e das letras ocidentais, a partir do
século XV, predominaram os seguintes estilos de
época: Renascentista, Barroco, Neoclássico,
Rococó, Romântico, Realista (Realismo, Naturalismo
e o Parnasianismo), Simbolista, Impressionista e
Modernista.
1- CLASSICISMO (antiguidade clássica) - Regras de
Aristóteles e Horácio - Mitologia - paganismo.
2- IDADE MÉDIA (séc. XII - XV) - Adaptação da
cultura clássico-pagã - Deus - Cristianismo.
3- RENASCIMENTO (séc. XV/XVI) - Retorno às
regras clássicas - homem em equilíbrio.
4- BARROCO ( séc. XVII) - Evolução das regras
renascentistas - homem em conflito.
5- NEOCLASSICISMO (séc. XVIII) - Restauração
mais rigorosa da preceptiva clássica - Homem em
equilíbrio (rigidez).
6- ROMANTISMO (primeira metade do século XIX)Liberdade para a criação artística - Homem em
liberdade (liberté, égalité, fraternité).
7- REALISMO (séc. XIX segunda metade) - Criação
artística: observação e análise - Busca, por parte do
homem, de uma dimensão científica.
8- SIMBOLISMO (fins do século XIX, começo do
século XX) - Criação artística: “eu profundo”- Busca
do homem na dimensão psicológica (Homem-alma).
9 - IMPRESSIONISMO (fins do século XIX - começo
do XX) - Criação artística: impressão do real.
10- MODERNISMO (séc. XX) - Cubismo (1906),
Futurismo (1909), Dadaísmo (1916), Surrealismo (1924)
- Criação artística: Busca de integração.
11- PÓS-MODERNISMO (fins do século XX começo do XXI) - Criação artística: refletora do caos;
ver e rer o caos (literatura de acontecimento, insólita).
Aqui, podemos nos remeter ao esquema dos estilos
de época. Como exemplo, citamos o seguinte esquema:
Exercícios de Auto-Avaliação
Leia o texto que se segue, atentando para a sua construção e estilo; depois responda às perguntas
solicitadas.
Igreja
Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
– a torre.
E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
Sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
No alto fica Deus.
Domingo...
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 10 ed., RJ: José Olympio, 1980, p. 12.)
1- A utilização do espaço é o elemento que primeiro chama a atenção no poema. Comente este aspecto plástico,
explicando sua expressividade.
2- Explique o valor semântico (significado) que possuem as palavras que formam os cinco primeiros versos.
3- Observando a pontuação da primeira estrofe, podemos deduzir que seu ritmo é:
(....) lento;
(....) ágil;
(....) pausado;
(....) desesperado.
4 - A caracterização espacial, mostrada através da extensão do sexto verso, bem como a repetição da palavra
“trabalhando”, sugerem-nos a idéia de um trabalho:
(....) árduo e cansativo;
(....) monótono e despreocupado;
(....) lento e desinteressado;
(....) aborrecível àqueles que o realizam.
5- O que sugere a repetição “mais perto” (verso 7), mais perto (verso 8) e “mais” (verso 9)?
6- Que importância teria a representação gráfica indicada pelo travessão no início do verso 10?
7- Atente para o primeiro verso da segunda estrofe. Observe que ele:
· é o mais extenso do poema.
· possui uma pausa no meio, representada pela vírgula colocada depois de “perdões”, portanto um ritmo lento.
Considerando esses elementos e o significado de litania, que é o mesmo que ladainha, oração em que se invoca
a virgem ou os santos, relação fastidiosa, lengalenga, depreenda o caráter irônico do verso.
8- Os versos “O padre que fala do inferno/ sem nunca ter ido lá”, traduzem, principalmente:
(....) ingenuidade;
(....) ironia;
(....) entusiasmo;
(....) revolta;
(....) desespero.
9- Com o verso 4, da segunda estrofe, o poeta critica, principalmente:
(....) a falta de fé dos fiéis;
(....) o desinteresse da religião;
(....) a ignorância acerca dos ofícios religiosos;
(....) o espírito exibicionista das mulheres;
(....) o sacrifício que só as mulheres mostram na igreja.
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10- “Geolhos” é a forma arcaica de “joelhos”. Observe bem o arcaísmo. Depois, suprima a primeira sílaba da
palavra e comente, sob este novo aspecto, a crítica que o verso quer mostrar, assim como a razão pela qual o
poeta preferiu o arcaísmo.
11- Por que o poeta diz que o ateu fica no adro da igreja, longe de Deus? (Verifique, no seu dicionário, o sentido
da palavra adro, para fundamentar a sua resposta).
12- Explique o uso da onomatopéia no verso “Bem bão! Bem bão!”, justificando a sua construção.
Leitura Complementar
Para melhor compreensão do assunto, leia BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São
Paulo: Cultrix, 1992.
Atividades Complementares
1 - Faça um paralelo entre estilo individual e estilo de época.
2 - Explique o desaparecimento da rigidez com que alguns críticos costumavam estabelecer limites cronológicos
para as chamadas escolas literárias.
3 - Quais os estilos de época que prevaleceram na história das artes e das letras ocidentais?
Periodização e História da Literatura
Objetivo Específico:
· Levar o aluno a identificar os estilos de época,
reconhecer suas diferenças e semelhanças,
desenvolvendo, desta forma, o senso teórico-crítico.
Introdução
Um período não é uma etiqueta, muito menos um
rígido sistema de normas. Um período literário deve
ser visto como uma camada de aspectos culturais
e estilísticos em que se trabalhou a palavra, em
determinado tempo e lugar.
Não há fronteiras entre os movimentos literários. Eles
podem completar-se, interpenetrar-se, ressurgir em
novos aspectos. Na arte gótica, há um sistema de
abertura, de ascensão que o Romantismo irá enfatizar.
No Barroco, há o mesmo desequilíbrio e instabilidade
que prenuncia o aflorar de paixões do Expressionismo.
A luminosidade do Impressionismo pode ser vista em
muitos quadros de Rembrant, Rubens, Velásquez, que
são catalogados como Barroco.
Hoje se encontram nas canções de Paulinho da Viola
e de Jorge Ben Jor, e outros, os mesmos traços
românticos dos poemas de Gonçalves Dias e Castro
Alves.
2.4.1 – Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna
Idade Antiga, Idade Média, Humanismo e
Renascimento
Antes de nos aprofundarmos nestes períodos, é
conveniente fazermos uma comparação entre a
Antigüidade Clássica (Idade Antiga), a Idade Média e
o Renascimento (Idade Moderna). Observe
atentamente e compare as diferenças e as semelhanças
entre os períodos que vamos estudar.
1 - Antigüidade Clássica: entre os séculos V a.C. ao
V d.C.
a- Valorização da vida e do mundo. A vida é algo de
valioso, num mundo que se projeta em obras para a
eternidade;
b- Uniformidade essencial da cultura;
c- Arte enriquecida pela religião;
d- Sentido das formas. Proporção, simetria, equilíbrio;
3 - Renascimento: entre os séculos XV e XVI
e- Arte como deleite, como fonte de prazer;
a- Imitação dos clássicos gregos e latinos;
f- Liberdade de espírito;
b- Domínio da razão sobre os sentimentos;
g- Predomínio de linhas horizontais;
c- Idealismo: a arte é uma procura da beleza;
h- Documento de referência fundamental: “Poética”,
de Aristóteles.
d- Individualismo de temas;
e- A beleza confunde-se com a verdade e o bem;
2 - Idade Média: entre os séculos V e XV
f- A arte é aristocrata, reservada às elites;
a- Preocupação com a vida além da morte;
b- A alma é o centro da vida humana. O corpo deveria
ser desprezado e ocultado;
g- Preferência pelos gêneros literários de formas fixas,
já consagrada pelos antigos.
h- Colorido, intensidade vital, ímpeto progressista;
c- A arte passa a ser meio de oração e de exaltação
heróica;
d- Deus e a igreja são o centro do Universo.
Predomínio do gótico, cujas linhas ascensionais
procuraram mostrar a ânsia do infinito que dominara o
ser humano;
i- Arte como deleite, existindo para dar prazer aos
sentidos;
j- Exaltação do homem e do humano - antropocentrismo;
l- Equilíbrio, harmonia, clareza, simetria.
e- Arrebatamento, tormento: prazeres terrenos e o
desejo de ascensão espiritual;
f-.Ausência de individualismo, demonstrada na
anonimidade das obras;
É importante que passemos os olhos pela Antigüidade
Clássica, para termos uma visão completa dos estilos
de época.
g-.Arte assistemática. Não há preocupação com a
simetria.
2.4.1.1 - Antigüidade Clássica
Antigüidade Clássica
De toda literatura do mundo antigo, nenhuma
exerceu tanta influência no espírito do artista ocidental
como exerceram os poetas helênicos e latinos.
Nenhuma arte antiga deu testemunho tão marcante à
causa da liberdade ou à crença de que o homem é o ser
mais importante do universo. A arte Clássica glorificava
o homem racional e recusava humilhá-lo ante os
deuses. Colocava o conhecimento sobre a fé, a ciência
sobre a religião, o corpo sobre o espírito e a terra sobre
o céu. Os deuses da mitologia não se parecem com as
entidades da Bíblia judaico-cristã. São deuses com
desejos e apetites humanos; eram simples seres
humanos ampliados. Para tornarem-se imortais,
alimentavam-se de ambrosia e néctar e moravam não
no céu ou nas estrelas, mas no Monte Olimpo.
A Grécia foi o berço da poesia épica. Esta poesia
nasceu com os aedos - narradores declamatórios. Entre
tantos aedos, tornou-se imortal o poeta Homero, de
quem diziam que era cego e nômade. Escreveu a Ilíada
e a Odisséia, provavelmente no século X a.C.
Abaixo faremos um breve comentário, como fonte
de conhecimento básico:
A Ilíada de Homero: Anterior à Odisséia, canta um
episódio da guerra de Tróia (entre gregos e troianos).
O tema, o motivo da guerra ter durado dez anos, com o
afastamento do herói da contenda, centraliza-se na
“ira de Aquiles”, ou seja, o fato de Aquiles se sentir
pressionado a devolver a jovem Briseides, filha de
29
30
Brises, sua prisioneira de guerra. O personagem
principal é o herói Aquiles, filho da deusa Tétis. Depois
de dez anos de guerra, sem a presença do herói Aquiles,
Pátroclo, seu amigo e aliado na guerra, é morto pelas
mãos do príncipe troiano Heitor. Aquiles se enfurece
pela morte do amigo e volta a lutar (depois de ficar à
parte durante dez anos), matando Heitor. É belíssima a
musicalidade épica, grandiloqüente, dos versos
hexâmetros, bem como o enredo. O maravilhoso pagão
intervém constantemente nas ações, fazendo os
personagens odiarem, amarem e sofrerem, conforme a
criatura humana.
A Odisséia de Homero: É um poema de inspiração
marítima, que canta as aventuras dos navegantes
gregos, depois da destruição de Tróia. O personagem
principal é o herói Ulisses, que aparece
secundariamente na Ilíada. Ulisses, depois de vinte
anos longe de seu reino, consegue livrar-se de todos
os perigos e chegar à Ilha de Ítaca, onde o espera sua
fiel esposa Penélope. (Helena, na Ilíada, é a esposa
infiel de Menelau, raptada por Páris, causadora da
guerra; Penélope, na Odisséia, representa o lar, a
moradia, a prudência).
A Eneida de Virgílio: A influência de Homero transitou
da Grécia para Roma. A glória do Império Romano estava
esperando um cantor. Coube a Virgílio cantar os feitos
dos seus compatriotas: imortalizar em um poema o
prestígio e o poderio romanos. A Eneida é, portanto, um
poema patriótico, publicado no século I a. C.
Estas informações são importantes para que você
tenha uma noção da relevância e da influência desta
época nos estilos e autores posteriores. Ao mesmo
tempo, apresentando um breve comentário sobre as
três obras – destaques na antigüidade clássica – você
poderá se interessar e ler algumas delas, obtendo, sem
dúvida, uma fonte de conhecimento necessária à sua
formação.
2.4.1.2 - Idade Média
Idade Média
A queda do Império Romano do Ocidente, em 476 da
nossa era, marca o final da antigüidade e o início da
Idade Média, mas é um marco aproximado, porque um
período histórico não tem data certa para começar ou
terminar, não havendo diferenças nítidas entre os
últimos séculos da antigüidade e os primeiros da Idade
Média. A invasão dos bárbaros e seu domínio na
Europa Ocidental imprimem características decisivas
nessa etapa inicial.
Arnold Hauser divide a Idade Média em três fases:
Alta Idade Média - do século VI ao XI
Plena Idade Média - do século XI ao XIII
Baixa Idade Média - do século XIII ao XV
Vejamos como esta divisão se processa no percurso
histórico, cultural e artístico:
Alta Idade Média
Assiste-se à fundação de nova sociedade,
provocada pelo deslocamento da vida social da cidade
para o campo e pela passagem da economia monetária
das cidades antigas para a economia rural das grandes
propriedades da terra, que aspiram a se tornar
independentes através de suas próprias forças
econômicas. Para este tipo de coisas contribui a
invasão do sul da Europa pelos árabes, que fecharam
as portas do Mediterrâneo no século VIII. Bloqueados
os horizontes marítimos, o comércio se interrompe, o
capital se imobiliza, o dinheiro desaparece.
A Igreja, vitoriosa, passou a dominar o Estado, a
educação e todas as manifestações sociais e culturais.
No natal do ano 800, Carlos Magno é coroado pelo
papa imperador romano do Ocidente, quando o famoso
rei franco se transforma em Protetor da Cristandade. A
universalidade medieval da Europa Ocidental se
confirma no Estado unitário, em que um círculo se
fecha em torno de um deus, um papa, um imperador,
estabelecendo-se a unidade de vida na política, na
religião, na arte e na língua latina oficial.
Posteriormente, novas unidades estatais começaram
a se formar, originando a pluralidade das futuras
nações.
No século IX instituiu-se o regime do feudalismo por
meio da concessão de feudos, ou seja, extensões de
terra com imunidades e privilégios de senhor aos
respectivos proprietários, mediante certas obrigações
entre os vassalos e o senhor. A relação contratual
incluía aliança e lealdade num sistema de mútuos
serviços e obrigações.
Ao tradicionalismo dessa cultura, corresponde a
rigidez das barreiras que separam classes sociais em
nobreza, cleros e povo, sem estádios intermediários.
Enquanto vigorava a economia rural na sociedade
imobilizada, não havia espaço para desenvolver a
competência intelectual e, uma vez que faltavam
categorias do pensamento baseadas no dinheiro e no
lucro, tornaram-se desconhecidas a idéia de progresso
e a necessidade de novo. É uma época tranqüila e
firme na fé, sem conflitos espirituais (pelo menos
aparente), nem vacilações sobre a validade das
concepções religiosas e morais. A Igreja detinha todos
os poderes, garantia a obediência e controlava a vida
intelectual e artística. O estilo artístico do século XI é
o românico, inspirador de catedrais imponentes. Na
escultura e na pintura, domina o anticulturalismo,
tão de acordo com o antiindividualismo feudal.
Uma das manifestações literárias mais
representativas dessa fase é a canção da gesta,
expressão do estilo épico medieval, que canta em
longos poemas as aventuras heróicas dos superhumanos guerreiros cristãos, em luta contra os árabes
pagãos.
Plena Idade Média
Ao estilo românico sucede o gótico, caraterizado
pela leveza arquitetônica, de delgadas torres e
estreitas ogivas e pela busca de maior fidelidade ao
real, num crescente naturalismo na representação das
figuras de santos.
No século XI, aos poucos, a vida se desloca do
campo para a cidade, e o comércio começa a
movimentar o capital imobilizado. O dinheiro elimina
a rígida barreira das classes, a aquisição da riqueza
passa a depender da aptidão pessoal e inteligência, e
não mais um privilégio de nascimento, o que vai
assegurar à burguesia uma posição de classe, através
da posse de bens.
O homem e a terra, desprestigiados pelo pensamento
religioso, começam a se valorizar, como resultado de
um maior apego aos bens materiais. A religião se torna
mais humana e emocional, a cultura se seculariza e
desaparece o monopólio da educação clerical. No
século XI fundou-se a ordem da cavalaria, constituída
no começo por guerreiros profissionais a serviço de
grandes proprietários e príncipes, mas depois os
guerreiros passaram a dispor do feudo, que se tornou
hereditário, dando surgimento à aristocracia dos
cavaleiros - nova classe que vai surgir . Nos fins dos
séculos XII e XIII, a cavalaria integra a nobreza e se faz
grupo fechado, dotado de um sistema ético
intransigente e de uma nova concepção sobre o
heroísmo e a honra de classe.
A principal manifestação literária desta época é a
poesia trovadoresca, que surgiu em Provença e se
difundiu graças aos jograis, por toda a Europa
Ocidental. Poesia tipicamente aristocrática, encontrou
o ambiente propício para seu desenvolvimento nas
cortes. Os ideais de vida aristocrática: a) O sistema
ético da nobreza, com seus ideais de fidelidade,
heroísmo, sentimentos da honra, intransigência moral,
respeito à mulher; b) Amor idealizado.
É importante ressaltar que, na antigüidade, o amor
estava ligado à sensualidade, sem exercer influência
na personalidade do amante; na época trovadoresca, o
amor é transformado em princípio educativo e força
ética – origem de valor e perfeição. O homem não faz
exigências e se limita a sofrer e a adorar a mulher –
exemplo de perfeição moral e beleza.
Baixa Idade Média
A burguesia triunfante fortaleceu a economia
monetária e mercantil que determinou a orientação de
toda revolução social a partir da plena Idade Média,
levando essa classe à independência e, depois, à
hegemonia política e social.
A nobreza procura adaptar-se ao espírito econômico
e à ideologia racionalista da burguesia, enquanto o
poder da Igreja decai, na medida em que a religião não
é mais a força diretriz da cultura. Perde valor a estética
pedagógica que justificava a arte como veículo da
verdade doutrinal e a poesia didática e alegórica se
encaminha para o fim, já que desponta a estética
hedonista que dominará o Renascimento.
Os interesses espirituais e ultramundanos perdem sua
importância, cedendo lugar aos interesses materiais. A
visão teocêntrica, que considerava todo o mundo como
manifestação do plano divino, cede espaço ao
antropocentrismo, voltado especialmente para o homem.
31
32
2.4.1.3 – Humanismo: Momento de Transição
Humanismo
O humanismo foi um movimento filosófico e
literário, divulgado nos países europeus e surgido
em meados do século XIV, na Itália, onde atingiu o
seu momento culminante no século XV,
representando um acontecimento central da cultura
Renascentista.
A palavra humanismo deriva do latim humanae
litterae. Com a expressão ciceroniana studio
humanitatis, os humanistas batizaram suas pesquisas
filológicas e suas redescobertas da antigüidade
clássica que restabeleciam, por meio da análise dos
manuscritos antigos, a perspectiva adequada,
superando as falsificações acumuladas pelos
intérpretes da Idade Média, para os quais o mundo
antigo merecia ser conhecido e estudado apenas como
preparação da era cristã. A antigüidade era vista através
da ótica medieval que consistia na interpretação
alegórica, a partir da qual se procurava um ensinamento
profundo, moral e religioso, situado além do sentido
literal das coisas.
Os escritores antigos passaram a ser admirados além
da perfeição da língua e do estilo, também como
modelos máximos de humanidade. Desde então se
estabeleceu a fundamental discussão em torno da
doutrina da imitação dos antigos, que se prolongou
do século XV aos séculos XVI e XVII.
A palavra humanismo põe em destaque o próprio
homem que, desprezado na Idade Média na sua
qualidade de criatura pecadora, ocupa agora o centro
de interesses, graças a uma nova valorização que abre
correspondente à nova mentalidade burguesa, que faz
crescer a economia monetária e mercantil.
2.4.1.4 – Idade Moderna: Renascimento
Renascimento
A natureza
Renascimento é a designação geral do espírito que
dominou o século XVI e que teve como berço a Itália,
já no século anterior. Como indica o historiador da
arte E. H. Gombrich:
A mentalidade renascentista, sob diversos aspectos,
superou e rejeitou os padrões de vida cultivados na
Idade Média. Se esta dava prioridade ao sobrenatural,
os renascentistas se preocuparam em elaborar um
quadro de valores cuja base era o natural. Isto equivale
a dizer que a natureza – o cosmos – passou a ser vista
como algo que devia ser conhecido para ser dominado
e submetido ao poder do homem. Isso levou os
estudiosos a definir o período como antropocêntrico
– o homem como centro – em oposição ao teocentrismo medieval.
Os italianos estavam perfeitamente cônscios de que,
no passado distante, a Itália, tendo Roma por capital,
fora o centro do mundo civilizado, e que seu poder
e glória se dissipara quando as tribos germânicas,
godos e vândalos, invadiram o país e desmantelaram
o Império Romano. A idéia do renascimento
associava-se na mente dos romanos à idéia de uma
ressurreição da grandeza de Roma (1981: 167).
Na estrutura dos estudos humanísticos, concretizase uma nova concepção da cultura, que passará a
adotar uma atitude crítica, ao invés do dogmatismo
medieval, fundado na autoridade religiosa. Esse
método não aceita com veneração a tradição, mas a
submete a livre exame. O novo método de pesquisa,
análise, confronto e discussão da experiência está nos
princípios da civilização contemporânea.
As palavras Renascimento ou Renascença se
relacionam ao verbo renascer, não somente com
relação à cultura latina, mas também à grega. Entre
as idéias gerais do período, destacam-se: a natureza,
o humanismo e a antigüidade.
O humanismo
O humanismo renascentista quis enfatizar que também
a natureza humana passaria a ser vista diferentemente
pelos homens. Eles romperam com dependência e com
a servidão que, durante a Idade Média, ligavam-nos
ao sobrenatural. Fizeram isso submetendo todas as
idéias tradicionais a um exame mais crítico, inclusive
do ponto de vista religioso. Discutiram, por exemplo,
a hegemonia da Igreja. E dessa atitude surgiram os
movimentos da Reforma, por intermédio de Martinho
Lutero e João Calvino.
Também as relações sociais se deixaram afetar, uma
vez que o comércio com o Oriente foi intensificado,
em decorrência das rotas marítimas. O dinheiro passou
a assumir um significado mais efetivo na criação de
uma nova classe, a burguesia, que começou a romper
com a estrutura fixa da sociedade medieval. Assim, ao
lado do clero e do nobre, instalou-se o burguês
endinheirado, que inclusive adquiriu feudos para se
nivelar com a nobreza.
A antigüidade (Renascimento: retomada de
valores clássicos)
A antigüidade foi representada pelos textos dos
autores gregos e latinos e, com isso, foi intensificada
sua pesquisa e estudo. Neste sentido, grande foi a
importância que desempenhou a imprensa (final do
século XV), que possibilitou a divulgação dos textos
originais e traduzidos, bem como os comentários e
estudos que eram produzidos pelos humanistas. A
importância dada aos valores da estética greco-latina
se manifestou sob as mais variadas formas, inclusive
pela presença da mitologia.
As línguas nacionais já estavam aptas a serem não
apenas faladas no dia-a-dia, mas escritas. Com isso, o
latim, que antes dominava, passou a ser apenas a
língua dos estudos nas universidades, enquanto o
francês, o espanhol e o português por exemplo, criaram
corpo em obras literárias.
Um fator importante na formação da mentalidade
renascentista foi o movimento franciscano, surgido
na Itália, sob a inspiração de S. Francisco de Assis
(século XIII) e que inaugurou o sentimento de
integração frente à natureza, pouco valorizada pelo
pensamento religioso medieval. Na Itália, no final da
Idade Média (século XIV), viveram três dos maiores
nomes da literatura universal: Dante, Petrarca e
Boccaccio, que influenciaram muito o pensamento
renascentista.
As leis da arte se racionalizaram e o belo resultou da
concórdia lógica entre as partes singulares de um
todo, obedientes ao princípio da unidade. Decaiu o
estilo gótico na arquitetura. As igrejas passaram a
refletir o esplendor e a luminosidade dos templos
pagãos, à proporção que a severidade dos antigos
palácios se atenuavam, cedendo lugar ao luxo que
resplandeceria na decoração dos tetos. A
representação da figura humana perdeu a solenidade
rígida bem como a abstração da arte medieval. Na
escultura, o naturalismo se sobrepôs ao
antinaturalismo, ostentando a plenitude da
corporeidade do homem. As figuras grandiosas do
século XVI revelaram o poder de uma raça de belos
É importante observar que o Renascimento foi
anticlerical, antiescolástico, mas não incrédulo. As
idéias de salvação, redenção, pecado original, que
faziam parte da vida espiritual da Idade Média,
passam a segundo plano sem, contudo, faltar a
religiosidade, embora predomine o gosto pelos
elementos pagãos.
No século XIV, com Petrarca, surge o poeta
preocupado com as belas formas que faz do escrever
uma atividade autônoma, fora do interesse prático,
moral e religioso, que orientava o fazer literário em um
tempo em que a Igreja detinha o poder sobre a cultura.
No Renascimento, vive-se o carpe diem de Horácio
– goza o dia de hoje –, um entregar-se intensamente
ao momento presente, já que não se tem certeza do
amanhã. Essa atitude representa um traço fundamental
do hedonismo renascentista. O homem, senhor do
mundo e sedento em conhecê-lo, tem o direito de
aproveitar todas as delícias, gozando a vida e seus
prazeres. Essa busca do Prazer torna-se um dever, já
que a vida é breve. Este convite ao prazer se mescla
com uma certa dose de tristeza em decorrência da
fugacidade do tempo – sentimentos que influenciarão
grande parte da produção poética do período.
Como conclusão, podemos tecer uma comparação
entre o homem medieval e o renascentista. Na Idade
Média, o homem encontrava a sua dignidade na origem
divina e resumia o objetivo de sua vida na preparação
para o mundo além-túmulo, dependente da providência
Divina para poder se elevar; já no Renascimento, o
homem cria o seu destino. Sua dignidade se revela na
própria condição humana, cujo objetivo consiste em
viver intensamente para obter as recompensas
terrenas: as belezas e os bens da terra.
Imagine a riqueza desta época, explorada nos textos
literários que você estudará, sem dúvida, nas literaturas
portuguesa e brasileira com o auxílio da Teoria Literária!
heróis, confiantes na própria força.
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2.4.1.5 - O Maneirismo e o Barroco
O Maneirismo e o Barroco
Antes de começarmos o estudo desses estilos, é
importante ressaltar que o Maneirismo, surgido em fins
do séculos XVI e prolongado até o começo do século
XVII, foi considerado, inicialmente, apenas como um
período de transição entre estilos; após ter sido
resgatado por Arnold Hauser, passou a ser
considerado como um estilo absoluto, daí a
necessidade de o estudarmos separadamente.
2.4.1.6 - O Maneirismo
O Maneirismo
O maneirismo surgiu na Itália em meados do século
XVI e começo do XVII. Seu nome vem da palavra
italiana maniera, que servia para indicar um estilo
artificial e cerebral. Na verdade, o maneirismo é a
expressão artística da crise européia no século XVI,
ante os valores renascentistas em decomposição. O
ideal do herói renascentista começa a decair; a idéia
de equilíbrio, clareza, harmonia, simplicidade, simetria,
soava falsa; a confiança antropocêntrica vacila, e o
homem perde a fascinação experimentada pela
consciência da própria grandeza e sua conseqüente
sensação de segurança.
A angústia da crise, que se infiltrava nos setores
políticos, econômicos e religiosos, substitui a euforia
renascentista. A Itália, líder do movimento cultural nos
últimos séculos, sofre terríveis abalos: o saque de
Roma em 1527; a dominação do território italiano por
franceses e espanhóis após anos de luta; a perda da
supremacia econômica com o deslocamento do
centroneo para o Ocidente; a formação das grandes
potências e suas colônias; o risco dos fabulosos
negócios seguidos, ao mesmo tempo, de grandes
lucros e grandes perdas. Enfim, todos esses fatores
contribuíram para a instauração do medo e da
insegurança, que caracterizam o espírito maneirista.
A crise também afeta o espírito religioso. Cria-se a
necessidade de combater a corrupção da Igreja e
fortalece-se a urgência de uma recuperação do antigo
prestígio, tão seriamente abalado. Muitos conflitos e
guerras religiosas ocorrem nesse período. De um lado,
a Reforma protestante de Lutero que tenta imprimir um
novo espírito à Igreja e instaura a dissidência; por
outro lado, surge a contra-reforma que busca recuperar
o espaço perdido pela Igreja. A contra-reforma prepara
novos rumos para o catolicismo. Impõe rígida disciplina
e severo rigorismo na fé; estabelece leis para a censura
já instaurada; põe em prática a Inquisição; controla
toda a produção artística e literária; persegue os
humanistas; decreta a autoridade infalível da Igreja e
a obediência cega ao papa. Nesse panorama de extrema
severidade e rigidez era normal que surgisse o medo e
o pavor; a dúvida se instaura e o fanatismo se alastra
pelo mundo.
Cria-se a Companhia de Jesus (1540) e o papel dos
jesuítas se destaca na formação da nova cultura e dos
processos políticos. O Concílio de Trento (1545), por
intermédio de suas sessões, discutirá questões
referentes à nova política da Igreja. A obediência
passiva que a nova orientação da Igreja exigia,
provocaria rudes golpes no espírito crítico do
Renascimento. O realismo político, do Concílio de
Trento, pregava a filosofia de Maquiavel, de que os
fins justificam os meios. O resultado dessa filosofia
foi a separação entre a prática política e os ideais
cristãos. A crise econômica crescia devido à
desenfreada especulação financeira. Desta forma,
aumenta a incerteza do perigo causado pelos imensos
negócios, nunca realizados antes, em tão grandes
proporções. A insegurança, a alta dos preços e o
desemprego são evidentes.
Os modelos clássicos continuam a servir de padrão,
porém, ao invés de imitados, sofrem distorções e
exacerbações. A versão maneirista do carpe diem
prolonga e exagera o modelo anterior e se reveste de
tonalidades sombrias. A unidade espacial
renascentista se desintegra, a linguagem se emaranha.
Toda a produção artística parece abalada pelo
vendaval ameaçador das consciências, prosseguindo
no período barroco, mas este vai procurar a
conciliação das polaridades em choque, tão típicas
do Maneirismo. Arnold Hauser, no primeiro capítulo
do seu livro Maneirismo, conceituará, de forma mais
aprofundada, o conceito de Maneirismo. É
aconselhável que você leia para se inteirar mais sobre
este período tão polêmico e, ao mesmo tempo, tão
fascinante.
2.4.1.7 - O Barroco
35
O Barroco
O Barroco floresceu no século XVII e constituiu
uma fase de exuberância e fantasia, encontrada em
todas as manifestações culturais do período.
A Igreja é responsável pela grandiosidade monumental da arte barroca, cujo objetivo era exprimir a
glória do seu triunfo. Não podemos considerar a
contra-reforma como causa determinante do Barroco,
mas como elemento fundamental que estruturou sua
ideologia. A Espanha, poderosa politicamente,
representou o ponto fulcral da contra-reforma e seu
espírito influenciou todo o século.
A ânsia de transcendência constituirá o eixo de todo
o pensamento do homem barroco. Ao lado da visão
do espaço infinito, desenvolve-se uma concepção
angustiosa do tempo, na modalidade de fuga,
dissolução e morte. O maior tema da arte barroca
encontra-se na morte, reflexos da efemeridade, que o
artista sente o doloroso prazer de recordar.
O homem, sabendo-se simultaneamente grande e
miserável, anjo e animal, eterno e transitório, expressase por antíteses que refletem o sentimento de
instabilidade da realidade e a tensão anterior, resultante
do conflito entre o profano e o sagrado, o espírito e a
carne.
O naturalismo das figuras divinas põe em destaque
os valores sensoriais e eróticos de um mundo
conhecido e gozado através dos sentidos. É uma arte
de exuberância e intenso poder expressivo, pronta a
traduzir as glórias do céu e as pompas da terra. Vive
num universo de ostentação e suntuosidade.
Atente, à guisa de ilustração e de exemplo, para esse
poema de Gregório de Mattos Guerra, “Buscando a
Cristo”.
A vós correndo vou, Braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos;
Que para receber-me estais abertos,
E por não castigar-me estais cravados,
A vós, Divinos olhos, eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois para perdoar-me estais despertos,
E por não condenar-me estais fechados.
A vós, pregados Pés, por não deixar-me;
A vós, Sangue vertido para ungir-me;
A vós Cabeça baixa por chamar-me:
A vós, lado patente, quero unir-me:
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
O homem barroco viveu num eterno conflito
proveniente da luta entre o espírito cristão e o espírito
secular, que leva a contrições, conforme o poema
citado. Desta forma, o pensamento cristão, herança
medieval, não desapareceu diante do racionalismo
renascentista. Esses dois elementos se fundiram,
denunciando o espírito contraditório da época. O
teatro, no Barroco, por exemplo, representou uma forma
eficaz e expressiva de construir um mundo imaginário,
onde a aparência se afirmava como realidade, onde a
máscara e os defeitos cênicos instauraram a ilusão e,
simultaneamente, deixaram entrever a ruptura desta.
Utilizou-se o conflito entre o ser e o parecer,
explorando o gosto do complicado e do surpreendente.
Denomina-se fusionismo à tendência seguida pela
arte barroca para unificar, num todo, múltiplos
pormenores e para associar e mesclar, numa unidade
orgânica, os elementos contraditórios. O escritor
barroco procura a expressão que encerra uma
polivalência de significados e que reúne valores
constantes.
A mundividência e a temática barroca exprimem-se
através de uma poética própria que foge à expressão
singela e imediata. Fortes tensões vocabulares,
polivalência significativa, estruturas complexas e
inéditas guardam a intensidade e o fascínio das
impressões sensoriais, num estilo literário abundante
e, muitas vezes, rebuscado.
Entre as figuras retóricas, predominam a antítese, o
hipérbato, a anáfora. A metáfora oferece o elemento
principal dessa poética, mas freqüentemente se desvia
pela tendência para a hipérbole e pelo gosto para a
obscuridade.
No Barroco se difundiu o último surto da arte religiosa,
tendo sua estética servido à catequese e à propaganda
da fé católica. Espetacular e popular, o Barroco
contribuiu para a afirmação do espírito dos tempos
modernos, através da crise do maneirismo.
Além das características já observadas anteriormente,
o Barroco apresenta duas tendências importantes que
vale a pena ressaltar:
a) Cultismo - modelo desta tendência é Gôngora,
poeta espanhol. Significa o prazer lúdico de brincar
com as palavras, com jogos de exuberância verbal. Há
o emprego de uma verdadeira constelação de figuras.
b) Conceptismo - O seu representante máximo é
Quevedo, poeta espanhol. É o emprego de raciocínios
36
rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa.
O escritor barroco sente repugnância pela clareza das
Estilos
proposições. Um texto é um verdadeiro labirinto,
através do qual o leitor é conduzido até o entendimento.
Características
Idade Média
Poesia cortês - forma convencional, o amor como tema, surgimento
do cavalheirismo.
Cancioneiros - cantigas de amor, cantigas d’amigo, cantigas de escárnio e
maldizer.
Prosa - romance de cavalaria, escritos místicos e doutrinários e
historiografia.
Humanismo e
Renascimento
Antropocentrismo - valorização da razão e culto aos valores da antigüidade.
Cientificismo - preocupação com a ciência.
Elitismo - arte produzida por e para uma elite.
Autonomia da arte - independência da igreja, valorização da forma sobre o tema
e surgimento da noção de autor.
Meneirismo
Barroco
Tentativa de conciliação das heranças medieval e renascentista.
Função do cômico e do trágico.
Dupla natureza do herói.
Presença do grotesco.
Convívio de elementos realistas e fantáticos.
Exuberância verbal.
Dualidade ideológica – cristianismo medieval e racionalismo renascentista.
Exercícios de Auto-Avaliação
Com base no que foi visto, vamos exercitar os estilos estudados, para não perdermos o entrelaçamento dos
estilos de época e a sua importância no percurso histórico e literário.
1 - Relacione as colunas de acordo com os seguintes códigos:
a) Idade Média
b) Renascimento
c) Maneirismo
d) Barroco
(...) A reforma de Martinho Lutero.
(...) A Contra - Reforma da Igreja Católica.
(...) A depreciação do homem e das conquistas materiais.
(...) Arte como deleite, fonte de prazer.
(...) A arte passa a ser meio de oração e exaltação heróica.
(...) A alma é o centro da vida humana. O corpo deveria ser desprezado e ocultado.
(...) Idealismo: a arte é uma procura da beleza.
(...) Criação da Companhia de Jesus.
(...) Estilo artificial cerebral e decorativo.
(...) Equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade.
2 - Que se entende por dualismo, bipolaridade ou fusionismo?
3 - Defina conceptismo e cultismo.
4 - Quais as duas figuras de estilo que refletem melhor o conflito Barroco?
37
5 - Qual o estilo artístico do século XI?
6 - O que significa a expressão horaciana carpe diem?
7 - Leia o texto seguinte e responda às perguntas:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não-querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade;
Mas como causar pode em seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
( Luiz Vaz de Camões)
a) Ninguém soube cantar o amor como Camões, com tanta intensidade. Neste soneto, ele prenuncia uma época
que se manifestará no século XVIII. Que época seria esta?
b) Na tentativa de conceituar o amor, Camões lança mão de duas figuras de retórica, específicas do século
XVIII? Quais são elas?
Leituras Complementares
O livro de Lígia Cadermatori oferecerá a você uma visão mais ampla desses estilos. Leia-os, com atenção,
atentando para suas diferenças e semelhanças.
O livro de Arnold Hauser, Maneirismo, São Paulo: Perspectiva, 1976, será de grande utilidade no aprofundamento
dos estudos maneiristas. Leia especialmente o primeiro capítulo “O conceito de Maneirismo”.
38
2.4.1.8 - As Correntes do Século XVIII
As correntes do século XVIII
Até agora, vimos estilos artísticos que se destacaram
em um determinado período, impondo-se esteticamente.
O mesmo não ocorre no século XVIII, onde vai surgir
um entrelaçamento de tendências, no pensamento e
na arte.
Podemos, para efeito didático, enumerar as seguintes
correntes:
a) Iluminismo
b) Neoclassicismo - Rococó / Arcadismo
c) Pré-Romantismo
O século XVIII ficou conhecido como o século das
Luzes em função do adiantamento científico que o
caracterizou. Outro fator marcante é a ascensão da
burguesia, cada vez mais fortalecida, enquanto o clero
e a nobreza vêem seu prestígio diminuir.
Surgem os enciclopedistas, teóricos que propõem
explicações racionais, científicas, para questões que
até então eram vistas por um prisma religioso. Estas
teses progressistas serão, posteriormente, a base
filosófica da Revolução Francesa.
Destacaremos aqui três enciclopedistas :
a) Montesquieu - segundo suas idéias, o progresso
de um país surge em função da correta aplicação das
doutrinas econômicas e não por causa da vontade
divina.
b) Rousseau - em “O Contrato social” mostra que a
autoridade se origina dos homens livres. Estes, para
evitar o caos, abdicam de parte da liberdade, delegando
a uma única pessoa a autoridade do mando.
Logicamente, se a autoridade não souber satisfazer as
necessidades daquele grupo, deverá ser substituída.
c) Adam Smith - com sua “A Riqueza das nações”,
lançou as bases doutrinárias que originaram o
capitalismo. Como vemos, o século XVIII vai se apresentar
bem diferente. Passemos ao estudo de suas correntes.
2.4.1.8.1 - O Iluminismo
O Iluminismo
Também chamado Ilustração, o Iluminismo
constituiu um movimento filosófico com o objetivo
de “iluminar” as mentes, com as luzes da razão,
baseando-se no progresso científico e técnico que
recebe um grande impulso no século XVIII.
Descartes, filósofo francês da primeira metade do
século XVII e influenciador do Iluminismo, foi produto
do racionalismo e promotor do seu incremento. O
racionalismo cartesiano, dotado de rigor lógico e
geométrico, decide, não apenas, o caráter específico
do século XVIII, mas de toda a modernidade.
no entanto, a razão afasta o homem dos erros seculares
e prepara uma era de paz e felicidade.
Os iluministas combatem o Cristianismo por o
considerarem um obstáculo à vida, não admitem a
interferência divina, já que o conceito de lei científica
exclui os milagres. Para eles, a lei científica assegura a
harmonia do universo e da vida do indivíduo.
Prometem, também, o paraíso terrestre e para tal
empresa procuram alcançar a harmonia entre a razão e
a natureza.
Poderíamos, assim, resumir o Iluminismo:
Os grandes filósofos reformadores discutem a
validade do autoritarismo, do absolutismo monárquico
e da revelação religiosa, numa época em que se
pretende fundar um mundo novo sobre as bases da
razão que ilumina, e, com isso, inspiram a Revolução
Francesa e todos os movimentos libertários do século.
A natureza, considerada originalmente boa,
corrompera-se pelos costumes, enquanto as
instituições e as leis haviam provocado a infelicidade,
afastando o homem das verdadeiras formas de vida;
1 - A razão é o único guia infalível da sabedoria.
2 - O universo é a máquina governada por leis
inflexíveis. A ordem natural não comporta milagres ou
qualquer forma de intervenção divina.
3 - A religião, o governo e as instituições deveriam
ser expurgados de todo artificialismo e reduzidos a
uma forma coerente com a razão e a liberdade natural.
4 - Não existe pecado original. O homem não é
congenitamente depravado.
2.4.1.8.2 - O Neoclassicismo
O Neoclassicismo
Após a exposição sobre o Iluminismo, fica mais fácil
entender os movimentos artísticos da época, baseados
nos pressupostos racionalistas. Assim ocorreu com o
Neoclassicismo.
O Neoclassicismo apresenta duas manifestações
de grande importância no campo artístico: o Rococó
e o Arcadismo.
2.4.1.8.3 - O Rococó
O Rococó
Passado o período do absolutismo monárquico de
Luís XIV, na França, vários nobres lutam para se
desvencilharem do domínio da Coroa e, ao lado de
riquíssimos burgueses, trabalham em favor de uma
espécie de revolução cultural de elite, em reação ao
rigorismo moral do século XVII. O Rococó representa
essa revolução e suas conseqüências.
Em lugar da arte monumental, solene e grandiosa de
proporções reduzidas, na qual se cultivam a delicadeza,
a intimidade, a estilização, a partir do cultivo do
hedonismo, o Rococó viverá para o prazer, enquanto a
cultura se erotiza e se legitimam licenciosidade e a
libertinagem. A opulência da carnalidade da mulher
barroca é substituída pela graciosidade e pelo charme
das lânguidas mulheres dessa cultura.
A prática refinada do gosto marca a experiência
estética impregnada de ludismo, que se acentuará
na literatura, livre da gravidade do período
antecedente.
2.4.1.8.4 - O Arcadismo
Arcadismo
Enquanto o Rococó se originou na França, o
Arcadismo nasceu na Itália, procurando superar os
excessos do Barroco, chamado na Itália de Marinismo,
já que Marino foi o seu poeta principal. Depois da
fase retorcida e deformada do marinismo, surge uma
nova fase que revaloriza os modelos greco-latinos.
Tal transformação se justifica à luz do racionalismo de
uma época reflexiva, ávida de elegância e bom gosto.
O Arcadismo atenderá a esses requisitos,
desenvolvendo o ideal bucólico que dominará a lírica
do século.
A Arcádia se originou em Roma, fundada pelos amigos
da Rainha Cristina, ex-soberana da Suécia, que
abdicara do trono e fixara residência na Itália. Reunia
em seus salões estudiosos para discutir problemas
literários e científicos. Ao morrer, em 1689, os
freqüentadores de seu palácio fundaram uma
agremiação à qual denominaram Arcádia, inspirados
numa região da Grécia (provavelmente legendária),
habitada por pastores e considerada, na poesia
pastoril da antigüidade, o verdadeiro paraíso. Os
membros da agremiação denominavam-se pastores,
adotaram nomes pastoris gregos e latinos e tinham
por finalidade ressuscitar a simplicidade da poesia
bucólica greco-latina.
O movimento arcádico significou o início de uma
literatura verdadeiramente brasileira. Minas Gerais
é o centro econômico e intelectual do país e lá surge
o Grupo Mineiro: Cláudio Manuel da Costa, Tomás
Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Silva
Alvarenga, Basílio da Gama e José de Santa
Rita Durão.
É Rousseau que vai exercer grande influência nesta
época com o lema: “O homem é bom, a sociedade o
corrompe”. Com isso, surgirá uma hipervalorização do
homem em estado primitivo, selvagem, pois este
primitivismo seria o oposto das regras sociais, da
civilização hipócrita e corrupta. É o culto do “Bom
Selvagem” freqüente na ficção do século XVIII.
39
40
Pode-se afirmar que o Arcadismo foi a primeira
tentativa de subordinar a Arte à Ciência. Na medida
em que procurou refletir a mentalidade científica da
época, o Arcadismo tornou-se artificial, pedante,
inatural.
3- A arte como imitação da natureza, já que se procura
no campo o tema pastoril e campestre;
Muitos de seus maiores nomes fugiram às exigências
estéticas inerentes ao estilo, realizando uma poesia de
caráter pessoal, sentimental, em que a emoção
superava a razão; por isso, foram classificados como
pré-românticos.
5- Predomínio da razão e da ciência, negando a fé e a
religião;
Seguindo a enumeração, o Arcadismo apresenta as
seguintes características:
7- Preocupação com a finalidade moral da literatura;
4- Reação contra o que se considera o mau gosto
barroco;
6- Tendência, na poesia, para pintar situações, mais
do que emoções;
8- Condenação à rima;
1- Retorno ao equilíbrio e à simplicidade dos modelos
greco-romanos;
2- Presença marcante do bucolismo, valorizando a
vida campesina;
9- A poesia deve voltar-se à natureza, que é o lugar
onde residem a beleza, a pureza e a naturalidade.
Portanto, a poesia deve ser pastoril, bucólica, ingênua
e inocente.
2.4.1.8.5 - O Pré-Romantismo
O Pré-Romantismo
Trata-se de uma tendência estética que se afastou
dos cânones do Neoclassicismo e da visão de mundo
racionalista da época. Esta tendência inaugura novos
conceitos estéticos, nova temática, novo estilo.
O Pré-Romantismo exprime um senso mais íntimo
da natureza e, reagindo contra o anticlericalismo
dominante, exibirá inclinações religiosas e místicas.
Ao racionalismo responde com o sentimentalismo.
Ao otimismo dos filósofos revolucionários contrapõe
o pessimismo e a melancolia. Para os pré-românticos,
a arte não provém de um esforço da razão, mas brotará
da imaginação e das efusões do sentimento.
Na Alemanha, o Pré-Romantismo surgiu com o
movimento do Sturm und Drang - tempestade e
inquietação - que contribuiu para a formação do
Romantismo.
O Pré-Romantismo é o primeiro movimento
literário europeu, depois da Idade Média, que não
se inspira na antiguidade greco-latina, daí sua
revolta contra as convenções do Neoclassicismo
e sua necessidade de exterminar os princípios de
imitação dos antigos e também abolir as regras
obrigatórias. Compreende-se assim o gosto pela
poesia popular e primitiva.
Leia, agora, os textos que se seguem e atente para a
poesia árcade de Tomás Antônio Gonzaga (Brasil-
Colônia) e pré-romântica de Bocage (escritor
português):
Tu não verás, Marília, cem cativos
Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho e a rica terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da mina da serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
no fundo da bateia.
Não verás derribar os virgens matos,
queimar as capoeiras inda novas,
servir de adubo à terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes de enredados feitos,
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia mestra História,
e os cantos da poesia.
Quem chora finalmente a dura ausência
De um bem que para sempre está perdido:
Lerás em alta voz, a imagem bela;
eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
gostoso tornarei a ler de novo
o cansado processo.
Folgará de viver quando não passa
Nem um momento em paz, quando a amargura
O coração lhe arranca e despedaça?
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
que tens quem leve à mais remota idade
a tua formosura.
(Tomás Antônio Gonzaga)
Quem se vê maltratado e combatido
Pelas cruéis angústias da indigência,
Quem sofre de inimigos a violência,
Quem geme de tiranos oprimido:
Quem não pode ultrajado e perseguido
Achar nos Céus ou nos mortais clemência,
Ah! Só deve agradar-lhe a sepultura,
Que a vida para os tristes é desgraça,
A morte para os tristes é ventura.
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
Torna-se importante ressaltar que Bocage foi
considerado o precursor do Romantismo, devido às
exclamações retumbantes, à fantasia apaixonada, à
emoção ardente. No poema acima, o verso “A morte
para os tristes é ventura” pode ser considerado o lema
do Romantismo.
Quadro-Síntese
As Correntes do século XVIII
Influência ideológica
- Enciclopedismo de Diderot, Rousseau, Voltaire e Montesquieu.
Tendências da época
- Neoclassicismo: imitação dos clássicos.
- Arcadismo: evocação da vida pastoril.
- Iluminismo: difusão do racionalismo.
Características
-
Predomínio da razão.
Busca da objetividade.
Culto à natureza.
Equilíbrio e sobriedade clássicos.
Presença da mitologia greco-romana.
Exercícios de Auto-Avaliação
Por intermédio do que foi exposto, vamos testar a assimilação das correntes que acabamos de estudar.
1 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:
a) Barroco
b) Arcadismo
c) Pré-Romantismo
( ) Poesia pessoal, sentimental, apaixonada.
( ) Simplicidade sintático-vocabular.
( ) Conflito entre valores antagônicos.
( ) Culto do homem primitivo, das coisas naturais.
41
( ) Direção adotada por muitos autores do século XVIII.
42
( ) Teocentrismo, tema quase obrigatoriamente religioso.
( ) Antítese e paradoxo.
( ) Enciclopedistas.
( ) Revalorização da mitologia e da cultura greco-romana.
( ) Racionalismo, poesia objetiva e impessoal.
2 - Como, principalmente, o Arcadismo se opõe ao Barroco?
3 - Qual foi a principal característica do Arcadismo?
4 - O que esta característica significa?
5 - Como ficou conhecido o século XVIII?
6 - Que significa o Princípio da Imitação?
7 - Qual a tese de Rousseau sobre o homem?
8 - Qual a implicação desta tese na literatura do século XVIII?
9 - O que sucedeu à grande parte dos autores árcades?
Leitura Complementar
Leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.
2.4.2.9 – As Correntes do Século XIX
2.4.2.9.1 - O Romantismo
O Romantismo
O Romantismo preenche o início do século XIX,
período que marcará o fim de um longo processo: a
burguesia, após firme e decidida caminhada, assume o
poder através da Revolução Francesa. Os ideais de
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade” ecoam por todo
o mundo, anunciando transformações. Os donos do
mundo já não eram mais o Clero e a Nobreza; o “sangue
azul” deixou de ser condição indispensável para o
reconhecimento da sociedade.
Os escritores românticos captam em suas obras
os problemas essenciais da época, ou seja, o
sentimento pessimista da existência, a indagação
metafísica sobre o destino humano, a busca de um
valor universal que justifique o sofrimento e a morte.
Podemos situar as raízes do Romantismo no
tormento do mundo e na insegurança dos povos,
vivendo as conseqüências dos ideais frustrados
da Revolução Francesa.
Para atingir o poder, a Burguesia contou com o apoio
do povo, das classes mais humildes. Assim, a
Revolução Francesa possui um cunho popular –
burguês. Em termos de arte, estava preparado o cenário
para uma outra revolução. O público consumidor –
burguês – não tinha grande preparo intelectual, não
era culto, queria, portanto, a diversão. Evidentemente,
esta diversão estaria mais próxima da plebe do que da
elite.
O sentimento de carência da pátria que a ação
napoleônica ocasionou junto aos povos europeus
despertou a consciência nacional e a ânsia de
liberdade. Uma das razões mais comuns entre os
românticos, e muito freqüente nos textos, era a evasão
para o sonho, para mundos ideais ou ainda para a
natureza confiante e consoladora, atitude essa
decorrente do conflito do eu com a realidade adversa.
Uma das possibilidades de evasão ou escapismo
consistia no refúgio ao passado mítico do indivíduo
ou do mundo.
A valorização do sentimento e da emoção leva o
autor romântico a explorar o subjetivismo e até mesmo
a egolatria, aspectos que produzem uma literatura de
tom intimista e confessional, atingindo, não raras
vezes, excessos de mau gosto. O romântico julga-se o
centro do universo e o ego representa seu grande
pólo de interesse, a ponto de ver na natureza e no
universo meras projeções de seu mundo interior.
O escritor e o poeta da época surgem como indivíduos
predestinados a grandes momentos. Assumindo uma
verdade dialética, inauguram uma arte de evasão e de
participação, concretizada na valorização do homem
como indivíduo dentro da sociedade. Surge, então, o
herói individual, corajoso, leal, dotado de poderes
quase sobrenaturais, capaz de bravura e, ao mesmo
tempo, pronto para morrer de amor quando a vida lhe
nega a “virgem suspirosa e pura” com a qual sonha
acordado.
2.4.2.9.2 - Romance Romântico
Romance Romântico
Romance de consumo, lançado no mercado para ser
aceito ou rejeitado como qualquer outro produto
colocado à venda, propicia o surgimento de uma nova
profissão: a de escritor.
.
Destinado a um público sem maiores comprometimentos culturais, o romance romântico atende
aos ideais de sonho e lazer da classe média,
praticamente, sem saber como preencher as horas
de ociosidade. Em geral, é uma narrativa simples
que fala de amor e de aventuras.
.
Os folhetins, as novelas e os romances vêm ao
encontro dos anseios de fuga do nosso público leitor,
que procura auto-identificar-se com os heróis e as
heroínas da ficção romântica. O romance e a novela da
nova cultura nascente, das transformações sociais,
das tradições do passado e dos sonhos futuros.
O romance romântico estrutura-se de forma linear.
Predomina o tempo cronológico – tem começo, meio e
fim definidos. Sua mensagem é sempre redundante.
Segundo o professor Afonso Romano de Santana, o
romance romântico cristaliza uma série de lugares
comuns e tipos, como a bruxa má, o príncipe encantado,
etc. Seus temas reduzem-se à reiteração de aforismos,
tais como: “o crime não compensa”, “o amor resolve
todos os conflitos”, “o mal é sempre castigado”, “a
justiça sempre vence”.
Nesse tipo de romance, o Bem e o Mal, a Inocência e
o Pecado são claramente delineados, culminando em
tais narrativas as lições de moral declaradas através
do desfecho quase sempre moralizante. Como grandes
figuras do romance romântico, podemos citar: na
Inglaterra, Walter Scort; no Brasil, José de Alencar; em
Portugal, Alexandre Herculano; na Itália, Alexandre
Monzoni; na França, Vitor Hugo.
Quadro-Síntese
Romantismo
Influência ideológica
Características
- Burguesia ascendente
- Predomínio da fantasia e do sentimento.
- Subjetivismo, lirismo, senso de solidão.
- Temas cristãos, nacionais e medievais.
- Integração do homem à natureza.
- Ampla liberdade criadora, aceitação de temas nacionais e populares.
- Espiritualismo - idealização das coisas divinas.
- A arte é um sistema aberto; instrumento de mensagens de evasão, sonhos,
confissões, fraquezas, dores, etc.
- Preferência por temas históricos, com personagens extraordinárias.
- Crença na inspiração, no arrebatamento.
43
44
Exercícios de Auto-Avaliação
Antes de passarmos aos outros estilos de época, vamos treinar o nosso conhecimento, voltando sempre aos
estilos anteriores, já que trabalhamos com diferenças e semelhanças.
1- Responda às perguntas solicitadas:
a) O Romantismo rompeu com os padrões clássicos? De que forma?
b) Qual a atitude romântica diante da realidade e do cotidiano?
c) Por que os românticos retornam à Idade Média?
d) O que significa “poesia confessional”?
e) Caracterize o herói ou a heroína do Romantismo.
2 - Leia com atenção o texto que se segue. Depois responda às questões, atentando sempre para a linguagem
romântica.
“Amar e Ser Amado” (fragmento)
(Castro Alves)
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor esse adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora fronte!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, perderem-se no oceano -,
Beijar teus dedos em delírio insano,
Confundido também, amante - amadoComo um anjo feliz...que pensamento!?
a) Uma das características marcantes do Romantismo é o subjetivismo. Que palavras do texto contribuem para
a criação dessa subjetividade?
b) Procure provar através da linguagem que todas as emoções descritas transcorrem no plano da imaginação
do poeta.
c) Releia o poema e procure provar que o poeta se debate entre a paixão arrebatadora e a suavidade de
sentimentos.
d) Selecione os substantivos e adjetivos desta composição poética, chegando a uma conclusão sobre os
recursos lexicais predominantes no Romantismo.
Observação: Se surgirem algumas dúvidas, entre em contato com o tutor a fim de uma orientação mais direta
e adequada.
Leitura Complementar
Para um conhecimento mais amplo do Romantismo, leia:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.
2.4.2.9.3 - Realismo, Naturalismo, Parnasianismo
Realismo, Naturalismo, Parnasianismo
Esses três movimentos surgiram na França em
meados do século XIX, com um traço comum:
repúdio ao Romantismo. Vamos estudá-los
separadamente.
2.4.2.9.4 - O Realismo
O Realismo
O progresso vertiginoso da ciência permite ao
homem perceber que as simples hipóteses a respeito
dos elementos constitutivos da realidade não têm mais
sentido. Volta-se, então, para a análise do Universo,
da natureza e do próprio homem, pois estes três
elementos pertencem a um todo orgânico – o cosmo –
e por estarem associados, estão sujeitos às mesmas
leis. O homem adota uma atitude científica perante o
mundo. O conhecimento positivo passa a ocupar o
primeiro plano, ao passo que as indagações espirituais
são relegadas a um plano inferior.
provando, ainda, que a burguesia falhara como ideal
de civilização.
Surgem obras baseadas na experimentação científica,
como as de Darwin e Claude Bernard, e na filosofia
positivista de Augusto Comte. Influem também as
idéias de Shopenhäuer, que acredita serem as utopias
e os devaneios do espírito os principais responsáveis
pelo “sofrimento e pela dor de viver”. Só a ciência
poderia curar os homens desse grande mal.
Diferentemente do romance romântico, a ficção
realista preocupa-se mais com a caracterização dos
personagens, elementos verossímeis e vivos,
vulgares e contestadores. Os diálogos ajudam a
criar o clima de veracidade. A figura do herói
idealizado será substituída pela imagem do homem
comum e real. Já não interessa tanto a cronologia
dos fatos, mas a criação de espaços e tempos
simbólicos incongruentes como a própria vida.
Novas perspectivas despontam para a humanidade.
Apoiado nessas reivindicações materialistas e
científicas, desponta uma ficção diferente: o romance
realista, através do qual o escritor pretende mostrar a
diferente maneira de ver o mundo e as coisas. Só a
análise da realidade pode apresentá-lo como
verdadeiramente é.
Novo estilo e nova forma de (re)criar a realidade são
empregados na literatura. São líderes desse movimento:
Honoré de Balzac, Gustave Flaubert e Stendhal. Com a
edição de Madame Bovary, de Gustave Flaubert,
romance que sistematiza as principais propostas da
ficção realista, considera-se iniciada a nova fase
literária. O romance realista pretende desmistificar o
sistema burguês, fundamentado na hipocrisia;
É um romance de observação e crítica. O escritor
vale-se da análise de fatos, focalizando a realidade
objetiva e o homem. Usando uma linguagem mais
simples e próxima da realidade, o escritor realista
preocupa-se com a autenticidade da história narrada.
Por essa razão, sua narrativa é lenta e o narrador se
prende às minúcias e aos detalhes, no desejo de
caracterizar melhor o homem e o ambiente.
O escritor realista preocupa-se em criar obras de tese,
em que, recriando um mundo fictício, retratará o mundo
real de tal forma, que suas hipóteses (no sentido crítico)
sejam comprovadas no decorrer da obra.
No Brasil, destaca-se Machado de Assis, líder da
inauguração do romance de estrutura complexa, cuja
narrativa obedece mais ao nível psicológico. Embora
os fins do século XIX assinalem o grande momento da
prosa realista, voltada para o presente e para o real, o
Realismo, na maneira de enfocar o homem – a natureza
e o universo – existirá sempre que o escritor desejar
apresentar-nos esses elementos como eles são na
realidade.
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2.4.2.9.5 - O Naturalismo
O Naturalismo
Geralmente o Naturalismo é confundido com o
Realismo. Esses dois movimentos surgiram em meados
do século XIX, na prosa. Vamos esclarecer essa
confusão que perdura ainda em alguns livros de
literatura.
Quando a ficção realista é fortalecida pela visão
científica e materialista do homem, da sociedade e
da vida, a ponto de criar personagens movidas
apenas pelas forças do determinismo (homem
sujeito às leis da fatalidade e do destino), temos o
que se convencionou chamar de Romance
Naturalista.
Esse tipo de romance, que procura exagerar a
realidade, tomando como ponto de partida o
negativismo e as taras humanas, adota a doutrina
filosófica que nega a presença de qualquer significado
sobrenatural dentro da realidade. O homem é visto
pelo escritor naturalista como um mero produto do
meio, da raça e do momento. O romance naturalista é
quase sempre linear, estruturado em bases de começo,
meio e fim e instaurador da figura do anti-herói.
O termo naturalista assume posição definitiva com
Emile Zola e seu grupo. No Brasil, destaca-se Aluísio
Azevedo. O naturalismo assume uma posição
combativa na análise de problemas que a decadência
social evidenciava e faz do romance uma verdadeira
tese, com intenção científica. No entanto, através desse
método experimental, reconhece-se um desejo
humanitário de mudar as condições de existência
social.
Concluimos afirmando que os naturalistas
ultrapassam os realistas nas descrições repugnantes
e repelentes, movidos pela certeza do seu papel
científico mais efetivo.
2.4.2.9.6 - O Parnasianismo
O Parnasianismo
Paralelamente à prosa realista e naturalista, surgiu
uma escola de poesia com características bem
marcantes. Seu nome é proveniente da França, da
revista Le Parnaso Contemporain, editada pela
primeira vez em 1866. O título dessa revista fora
inspirado na montanha grega Parnaso, consagrada a
Apolo e às musas inspiradoras das artes.
Portanto, o Parnasianismo, em sua busca incessante
de novos temas, novos processos poéticos (“Arte pela
arte”), representou uma reação contra o Romantismo.
A banalidade dos temas, o descuido das composições,
o derramamento sentimental, precisavam, agora, ser
sanados pela razão, pela ciência e pelos valores
supremos da época.
O Parnasianismo, nome dado a essa escola, zelava
pela composição perfeita do verso, procurando fugir
dos cacoetes românticos. Os parnasianos, como
eram elitistas, achavam que a poesia representava
um luxo intelectual, dirigida a poucos iniciados,
capazes de compreender e fruir as refinadas
expressões de beleza.
Como exemplo de uma poesia parnasiana, observe
com atenção esse soneto de Alberto de Oliveira, que,
juntamente com Olavo Bilac e Raimundo Correia,
constitui a chamada Trindade Parnasiana. Perceba a
ênfase descritiva, o não envolvimento do poeta com o
tema tratado, a perfeição formal, a seleção vocabular e
a volta aos motivos clássicos.
Mais uma vez, a poesia volta a se inspirar nos autores
greco-latinos e recupera a importância dada à forma,
no classicismo e no neoclassicismo, em oposição à
liberdade criadora do Romantismo. Os parnasianos
repelem o prestígio conferido pelos românticos à
inspiração e optam por um trabalho artesanal e
cuidadoso, um aprimoramento de ourivesaria,
“limando” o verso com paciência e minúcia, à procura
da rima rica e do rigor métrico, numa devoção à beleza
formal.
Vaso Grego (Alberto de Oliveira)
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copo, um dia,
Já aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a e do ouvido, aproximando-a, a bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce.
ESTILOS
Ignota voz, , qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Características
Realismo
a) A preocupação com a verdade, não apenas verossímil, mas exata.
b) Preocupação com a observação e análise da realidade.
c) Busca do perene humano no drama da existência, mas sem preocupação
de ordem transcendente.
d) Rigorosa lógica entre as causas (biológicas e sociais) que determinam
o comportamento dos protagonistas.
e) Preocupação com a mensagem que revela naturalmente o
comportamento das personagens.
f) Determinismo na atuação das personagens.
g) Preocupação revolucionária, atitude de crítica e combate.
h) As personagens são tipos concretos, vivos.
i) Preocupação com minúcias; narrativa lenta; linguagem próxima da
realidade; retrato fiel das personagens, através de uma linguagem
simples; correção gramatical, clareza, harmonia, equilíbrio na
composição.
Naturalismo
a) Preocupação com o homem na sociedade, enfocando os aspectos mais
deploráveis e cruéis da realidade.
b) Criação do romance experimental.
c) Concepção de que o homem é apenas um produto do momento, do
meio e da raça.
d) Exploração das taras humanas, das neuroses, dos casos patológicos.
e) Visão do homem como um animal, levado pelo instinto.
f) Valorização dos sentidos, das sensações visuais, táteis, auditivas,
olfativas e gustativas. Basta atentar para o romance “O Cortiço”, de
Aluísio Azevedo.
g) Linguagem grosseira e vulgar.
h) Despreocupação com a moral.
Parnasianismo
a) A perfeição da forma.
b) A linguagem é, antes de tudo, correção e equilíbrio.
c) Sobriedade no emprego das figuras.
d) Emprego de rimas ricas e raras.
e) A impassibilidade do poeta diante da obra.
f) Fuga dos sentimentos vagos para ter visão do real.
g) Seleção vocabular, primando pelo eruditismo.
h) Ênfase descritiva nos pequenos objetos: vasos, estátuas, taças etc.
i) Culto da beleza, “a arte pela arte”.
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Exercícios de Auto-Avaliação
Agora vamos testar os conhecimentos sobre os estilos de época.
1- Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:
a) Romantismo
b) Realismo
c) Naturalismo
d) Parnasianismo
( ) Análise, crítica e denúncia da sociedade burguesa.
( ) Exaltação dos sentimentos, paixão.
( ) Homem visto como um animal, levado pelo instinto.
( ) Romance experimental.
( ) Romance de tese.
( ) “Arte pela arte”.
( ) Preocupação com a perfeição formal.
( ) O homem é um produto do meio-ambiente.
( ) Poesia confessional.
( ) Poesia descritiva.
2 - Estabeleça uma diferença entre o Realismo e o Naturalismo.
3 - Por que a linguagem naturalista é um exagero das tendências realistas?
4 - Como o Naturalismo encara o homem?
5 - Românticos e parnasianos encaram diferentemente o gosto popular. Explique.
6 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:
a) Realismo
b) Naturalismo
c) Parnasianismo
(...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter como objeto de descrição o que é objetivo,
material e real (nada de subjetivismo).
(...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter papel de mostrar, analisar e criticar a sociedade.
(...) Vertente do Realismo, leva, em alguns aspectos, o estudo das personagens ao exagero científico;
determinista, a raça é um grande argumento para se justificarem os problemas econômico-sociais.
Leitura Complementar
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.
2.4.2.9.7 - Simbolismo e Impressionismo
Simbolismo e Impressionismo
Sem dúvida, estamos estudando e observando um
entrecruzamento de estilos no século XIX: o
Romantismo, no início; o Realismo, Naturalismo e
Parnasianismo em meados e fins do século XIX e o
Simbolismo e o Impressionismo em fins do século XIX.
Comecemos pelo Simbolismo.
2.4.2.9.8 - O Simbolismo
O Simbolismo
“De la musique avant toute chose – Música acima
de tudo.
(Verlaine)
Movimento literário que surgiu na França, em fins
do século XIX e teve como principais líderes:
Mallarmé, Rimbaud, Verlaine e Baudelaire, autor de
“As flores do mal”, responsável por uma profunda
mudança na arte poética. Desmistificando a poesia
parnasiana, Baudelaire produziu uma poesia
satânica e irreverente.
.
Antes de entrarmos no Simbolismo propriamente dito,
vamos conhecer o Decadentismo, de onde se originou
e se renovou o Simbolismo.
O adjetivo decadente foi usado na França, entre 1882
e 1886, em tom pejorativo, com o fim de indicar a
nova atitude do espírito, do costume e do gosto,
como se a nova orientação constituísse indício de
decadência moral e estética, no entanto, os
seguidores dessa tendência viram no título motivo
de honra. Em meio à idéia de progresso, de fé na
ciência, dominante na segunda metade do século
XIX, difunde-se o sentimento de decadência, que
anuncia uma época de crise e dissolução, onde uma
civilização começa a negar os fundamentos
intelectualísticos e se volta para o
antiintelectualismo, em reação contra a tirania da
cultura milenar tornada obsoleta. Aos decadentistas
a velocidade furiosa do progresso e as perspectivas
mudanças parecem problemas de ordem patológica,
em confronto com o ritmo de épocas anteriores.
Segundo a visão decadentista, a literatura deveria
libertar-se de toda contaminação com estruturas
intelectualísticas e com intromissões culturais. Do
Decadentismo surgiu o Simbolismo e, de certa forma,
todos os movimentos da vanguarda européia a ele
são devedores (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL
(org.), 1999: 156).
O Simbolismo é uma escola complexa de se definir.
Resgata o subjetivismo romântico e parte do princípio
de que a poesia não pode exprimir-se de maneira
definida nem definitiva.
Anticientífico, antimaterialista, o Simbolismo se
caracteriza pela elaboração formal, pelo trabalho
cuidadoso e minucioso com a linguagem, diferindo do
Parnasianismo. A literatura sempre fez uso da
linguagem simbólica, mas com o Simbolismo essa
linguagem é levada a extremos, ou seja, os simbolistas
sugerem situações, sensações, cores, sons, odores,
etc., impressões sensoriais. Não há mais rigor formal
da estética anterior; a poesia agora se constitui como
expressão livre, seja em versos ou em prosa.
O autor não é impessoal: ele recupera e aprofunda o
lado romântico (que, aliás, não foi eliminado totalmente
pelo Parnasianismo) para valorizar as impressões do
indivíduo. A realidade não é mais descrita com a
precisão realista-naturalista-parnasiana, mas é
evocada, sugerida; por isso ela é traduzida em
símbolos. Já não interessam os detalhes da realidade,
mas o que ela evoca.
O escritor, portanto, trabalhará com uma linguagem
metaforizada, com o real evocado e, naturalmente, os
temas passam a apresentar o fascínio pelo que é
imaterial: o tema do homem como ser misterioso,
espiritual, envolto por uma realidade desconhecida. É
o tema dos mistérios do mundo, da vida e da morte.
O Simbolismo é atraído por um espiritualismo que se
opõe ao cientificismo da época. Enquanto o parnasiano
esculpia a linguagem e relacionava a poesia à
escultura, o simbolismo evoca sensações e impressões
e as associa ao som: é uma nova linguagem poética,
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musical, com sons sugestivos e a mistura de todos os
sentidos evocados pela realidade.
Observe agora a linguagem simbolista nesse soneto
de Cruz e Souza:
Musselinosas como brumas diurnas
descem do ocaso as sombras harmoniosas,
sombras veladas e musselinosas
para as profundas solidões noturnas.
Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
os céus resplendem de sidérias rosas,
da lua e das Estrelas majestosas
iluminando a escuridão das furnas.
Ah! por estes sinfônicos ocasos
a terra exala aromas de áureos vasos
incensos de turíbulos divinos.
Os prenilúnios mórbidos vaporam...
E como que no azul plangem e choram
cítaras, arpas, bandolins, violinos...
O mundo de Cruz e Souza é de palavras, de símbolos,
de cor e som, criando imagens raras de beleza. As
imagens, a música, as sinestesias, a preocupação com
a brancura, entre outras características, fazem desse
poeta negro um dos maiores líricos da literatura
brasileira. Sua poesia evoca o trágico, o contraste entre
o mundo da matéria, mundo de desigualdades sociais,
e o mundo de brumas de luar, de liturgias. É o contraste
entre o material e o etéreo. E é assim que Cruz e Souza
inicia o Simbolismo no Brasil e lega à literatura
brasileira uma poesia que une os planos material e
espiritual.
Atente para o que se fala a respeito da poesia
simbolista:
Na poesia simbolista, a palavra não define, não
determina, mas sugere estados emotivos, na medida
em que a linguagem descobre automaticamente as
relações existentes entre as coisas. Nesse misticismo
da palavra, o poeta deve deixar-se arrastar pelo fluxo
da linguagem pela sucessão espontânea das imagens
e das visões. Com esses recursos, os simbolistas
procuram descobrir, mediante a linguagem poética,
a universal correspondência e a analogia das coisas.
Por meio das analogias, cada palavra se torna
símbolo de uma realidade evocada através da
musicalidade da linguagem. A palavra, usada em livres
associações, evoca realidades que palpitam além dos
sentidos e revela o mistério do mundo desconhecido.
O poeta é o vidente que capta experiências
sobrenaturais, na linguagem das coisas visíveis e faz
a exploração da realidade que reina além da razão,
através da intuição (Ibidem: 158).
Importante ressaltar que, em plena implantação
do Modernismo, poetas como Cecília Meireles e
Murilo Mendes procuraram consolidar heranças
simbolistas que sempre existiram na nossa poesia
dos últimos séculos.
2.4.2.9.9 - O Impressionismo
O Impressionismo
“Nada é mais musical que um pôr de sol.”
Debussy
A atitude impressionista, em literatura, chega a ser
considerada por alguns como algo comum aos
naturalistas e simbolistas e por outros como uma fusão
de elementos do Realismo e do Simbolismo. Apesar da
complexidade que envolve o assunto, já são
significativos os estudos que procuram caracterizá-lo
como um período estilístico distinto.
Aliás, a palavra Impressionismo corresponde a uma
tendência da pintura, característica dos fins do século
XIX. Decorre dos quadros de Claude Monet,
denominado Impressions e exibido com escândalo no
salão do Boulevard des Capicins em 1874.
A pintura impressionista não se preocupa com a visão
objetiva e estática da realidade. Caracteriza-a o
sentimento da permanente transformação do mundo,
que leva à impressão de uma continuidade em que
tudo se funde, onde o que importa são as diferentes
atitudes e pontos de vista do observador. Assim, não
há na natureza cores permanentes: existe constante
mutação. As formas das coisas são criadas pela luz e
não pelas linhas. Outro traço: a convicção de que não
existe a ausência da luz para a tinta preta nos quadros
impressionistas. E os pintores preferem pintar ao ar
livre, à luz plena do sol. Esses são traços fundamentais
da atitude.
Da pintura, o nome estendeu-se às demais artes: na
música impressionista de Debussy e Ravel e,
conseqüentemente, chegou à literatura. Da mesma
forma que na pintura, a literatura impressionista, sem
se afastar inteiramente da atitude realista, registrava
“impressões” fugidias e imediatas, numa espécie de
realismo subjetivo, que não escondia certa afinidade
com o Simbolismo.
O autor impressionista não dá nomes às coisas,
mas descreve o efeito que elas produzem. Preocupase com as sensações e com a emoção que o objeto
desperta num instante. A sensação da coisa vale
mais que a própria coisa e a invenção da paisagem
mais do que a descrição.
No Brasil, os escritores impressionistas estão
aguardando um aprofundamento maior por parte dos
especialistas. O crítico Afrânio Coutinho, que foi quem,
pela primeira vez, propôs o emprego do termo na
divisão da nossa história literária, aponta como
expressão mais alta Raul Pompéia (O Atheneu) e assim
se expressa:
No Brasil, a primeira grande repercussão do
Impressionismo é em Raul Pompéia. Discípulo dos
Goncourt, adepto da écriture artiste e da prosa
poética, depois de formar o espírito na doutrina do
naturalismo, recebeu a influência da estética
simbolista e só encontrou plena e satisfatória
expressão dentro dos cânones do Impressionismo.
A evolução de Machado de Assis revela uma
independência em relação aos postulados do
naturalismo positivista que o conduz ao mesmo
clima impressionista, característico de sua fase final.
Graça Aranha denota, em Canaã, a mesma
impregnação impressionista, e, como ele, outros
escritores da época não puderam escapar ao dualismo
- de um lado, os laços do Realismo (ou mesmo
naturalismo), do outro a influência simbolista.
Coelho Neto, Afrânio Peixoto e muitos outros
escapam, por certos aspectos, das classificações
comuns, traem a forma impressionista
(COUTINHO, 1986: 329 ).
51
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Quadro-Síntese
ESTILOS
Simbolismo
Características
a) Concepção mística da vida.
b) Elemento intelectual: preocupação com o espiritual, o místico e o
subconsciente.
c) Interesse maior pelo particular e individual.
d) Conhecimento demarcado pela intuição e não pela lógica.
e) Ênfase na imaginação e na fantasia.
f) Desprezo à natureza em troca do místico e do sobrenatural.
g) Utilização do valor sugestivo da música e da cor.
h) Presença da religiosidade, do espiritualismo, do ocultismo.
i) Busca das camadas profundas do “eu”; mergulho no inconsciente.
j) Preferência pelas sensações, pelas indefinições, pelas sinestesias.
l) Concepção da poesia como mistério.
m) Linguagem fundamentada numa “gramática psicológica” e num léxico
adequado à expressão das novidades estéticas: uso de neologismos,
arcaísmos, combinações vocabulares inesperadas.
Impressionismo a) Registro de impressões, emoções e sentimentos despertados no espírito
do artista, através dos sentidos, cenas, incidentes, caracteres.
b) Valorização dos estados de alma, das emoções, que são mais destacados
que o enredo ou a ação na narrativa; importa mais o efeito do que a
estrutura na técnica da composição literária.
c) Importância maior dada às sensações das coisas, do que às coisas em
si.
d) As sensações e emoções são importantes no momento em que se
verifiquem.
e) “Relevo à percepção visual do instante”: valoriza-se a cor, a atmosfera,
o efeito dos tons.
f) “Ênfase na reprodução de emoções, sentimentos e atitudes individuais:
traduz-se a vida interior; “a razão cede passo às sensações.”
g) Captação da verdade do instante: A vida é um contínuo mudar-se; cada
paisagem é uma única em cada momento do dia; o artista deve captar a
impressão deste instante único.
h) Tentativa de buscar o tempo perdido através da impressão provocada
pela realidade num momento dado, o que nos faz lembrar a obra de
Proust. A vida é um contínuo vir-a-ser: o presente resulta do passado.
i) Aliás, o momentâneo, o fragmentário, o instável, o móvel, o subjetivo
assumem a maior importância no Impressionismo: o método
impressionista.
Exercícios de Auto-Avaliação
1- Por que dizemos que o Simbolismo é uma poesia de “sugestão”?
2- Desprezando a lógica, que atitude tomava o simbolista?
3- Aponte uma diferença entre Simbolismo e Parnasianismo.
4- Explique o transcendentalismo dos simbolistas.
5- Qual a relação entre Simbolismo e Música?
6- Explique o lema impressionista: “tal como vejo num determinado momento”.
7- Observe no texto seguinte que “cada paisagem é única em cada momento do dia; o artista deve adaptar a
impressão deste instante único”. Retire do texto expressões que confirmam tal característica impressionista.
“Milkau caminhava pela grande luz da manhã, agora de todo inflamada. Os ventos começavam a soprar mais espertos e
como que agitam a alma das coisas, arrancando-as do torpor da vida. O rio descia em direção contrária à marcha dos viajantes
e esses movimentos opostos davam a impressão de que toda a paisagem se animava e ia desfilando aos olhos do cavaleiro.
A fazenda lá no alto, sumia-se no fundo do longínquo horizonte, o imigrante notava o manso desenrolar do panorama, como
o de fitas mágicas: casas de moradores, homens, tudo ia passando, rolando mansamente, mas arrastado por uma força
incessante que deixava repousar.
A estrada se alargava, outras vinham aparecendo, desconhecidas, infinitas e incertas, como são os caminhos do homem
sobre a terra. A brisa fresca encanava-se pelas duas ordens fronteiras de colinas paralelas ao rio, trazia ao encontro do
viajante um rugido sonoro de cascata. O rolar do Santa Maria batendo sobre as pedras amontoadas, despedaçando-se como
um louco nas lajes aumentava; e as suas águas revoltas, espumantes, recolhiam e reverberavam à luz do sol, como um
vacilante espelho. Milkau via ao longe na mata ainda fumegante de névoas, uma larga mancha branca. Na frente o guia
estendendo o braço gritou-lhe: – Porto do Cachoeiro.”
(Canaã, de Graça Aranha)
Leitura Complementar
Para um conhecimento mais amplo, leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1992.
2.4.2.10 – Século XX: As Vanguardas (Europa)
As Vanguardas
Dá-se o nome de vanguarda aos movimentos do
período que se estende dos inícios do século XX
ao Surrealismo, surgido em 1924. Existem diversos
“ismos” nesta época, mas iremos nos deter apenas
nos principais:
Esses movimentos se caracterizaram pela
desorganização do universo artístico da época e pela
urgência de inovação e renovação literária,
encaminhando-se tudo com muito estardalhaço
(preconizaram o caos criativo do pós-modernismo).
Futurismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo.
2.4.2.10.1 – Cubismo
Cubismo
Movimento mais ligado às artes plásticas. O ponto
de partida é o quadro de Pablo Picasso (1881-1973)
“Les Demoiselles d’Avignon”, em 1906.
• A procura da verdade deve centralizar-se na
realidade pensada e não na realidade aparente;
• A obra de arte deve bastar-se a si mesma;
Observação: O Cubismo na literatura só se manifestou
no ano de 1912. Na literatura, a figura de Apollinaire
foi importante e decisiva.
Observe as seguintes características:
• As obras de arte não devem ser uma representação
objetiva da natureza, mas uma transformação dela, ao
mesmo tempo objetiva e subjetiva;
• Supressão da lógica aparente;
• Influência de viagens, de paisagens exóticas, de
cidades apenas vislumbradas;
• Valorização do humor.
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Pablo Picasso apresenta em suas telas o objeto
decomposto: um objeto, com várias faces, pode ser
observado sob vários ângulos. A sua decomposição é
a apresentação nessa multiplicidade visual, e todos
os ângulos e faces favorecem a recomposição da
imagem real.
O cubismo trabalha com formas geométricas, que
nega a concepção clássica de que uma figura deve
ser apresentada com forma e linhas contínuas. Ao
contrário, o Cubismo fragmenta a figura para poder
apresentar suas várias perspectivas.
O cubismo influenciará a arquitetura, o cinema, os
cartazes de publicidade, a moda feminina e a literatura.
Observe no texto “Morro Azul”, de Oswald de
Andrade, a composição sob a influência do estilo
cubista, em que prevalecem as formas geométricas:
“Passarinhos
Na casa que ainda espera o Imperador
As antenas palmeiras escutam Buenos-Aires
Pelo telefone sem fios
Pedaços de céu nos campos
Ladrilhos no céu
O ar sem veneno
O fazendeiro na rede
E a Torre Eiffel noturna e sideral”
A supressão de pontuação, a poesia com novo visual
tipográfico, poesia geométrica, linguagem fragmentada
tanto quanto a realidade, são aspectos que a literatura
absorveu do Cubismo e que teve em Gullaume
Apollinaire (1880-1918) o seu principal divulgador.
2.4.2.10.2 – O Futurismo
O Futurismo
Surge através do Manifesto do Futurismo, publicado
em Le Figaro, de Paris, em 22 de fevereiro de 1909,
assinado pelo seu representante italiano, Filippo
Tommaso Marinetti. As propostas de Marinetti vêm
demostrar a rebeldia, a ânsia de demolição, a ótica do
homem do início do século, que vê a realidade com a
velocidade do automóvel, de dentro da máquina, ou
que salta rápido, agitado, desviando-se sobre os
trilhos do bonde em grande velocidade.
O Manifesto Futurista postula as seguintes
características:
• O amor ao perigo, o hábito da energia, a temeridade;
• A poesia baseada essencialmente na coragem, na
audácia, na revolução;
• O canto entusiasmado da velocidade;
• A poesia como um violento assalto contra as forças
desconhecidas para intimá-las e prostrar-se diante do
homem;
• A abominação do passado;
• A exaltação da guerra, do militarismo, do
patriotismo;
• O canto em poesia das grandes multidões agitadas
pelo trabalho, o prazer ou a rebeldia; as ressacas
multicoloridas e polifônicas das revoluções nas
capitais modernas;
• O canto das estações de veículos, as fábricas, as
locomotivas, os aeroplanos, os navios a vapor;
• A certeza do caráter perecível da própria obra que
pretendiam.
Como podemos observar:
Os futuristas valorizam a ciência, a máquina, o
automóvel, as fábricas, as estações ferroviárias, as
locomotivas, as multidões das grandes cidades, os
aviões, tudo o que significasse espírito Moderno,
na sua parte mais agressiva e polêmica. Rejeitavam
toda a literatura do passado, pregando a demolição
da Tradição, a destruição da sintaxe, eliminando a
pontuação, o uso das “palavras em liberdade”, a
“enumeração caótica”, a “imaginação sem fios”.
A modernização atinge as artes. Os artistas, ligados
à época, refletindo-a, transformam a máquina em
material de arte, imprimindo em seu trabalho as
características do novo tempo.
Mas o progresso é tão rápido e acelerado que o artista
passa a ter a consciência de que, para acompanhar a
velocidade do mundo, é preciso captar tudo, porque a
cada passo ele pode já ser passado. E a linguagem
ganha a velocidade desse novo tempo: tudo é dito
sem que haja nexos sintáticos.
associação entre tempo cronológico (ou material) e
tempo psicológico.
Atente para a linguagem de Oswald de Andrade, no
trecho que se segue, retirado do livro Memórias
Sentimentais de João Miramar:
O Futurismo de Marinetti representa e reflete essas
novas propostas. Oswald de Andrade, em uma de suas
viagens pela Europa, conheceu-as, interessou-se pelo
teórico italiano e chegou até a acreditar que, no Brasil,
Mário de Andrade fosse o representante do Futurismo.
Soho Square
Picadilly fazia fluxo e refluxo de chapéu alto e
corredores levando ingleses duros para música e
talheres de portas móveis e portas imóveis.
Elevadores Klaxons cubs tubes caíam do avião na
plataforma preta de Trafalgar.
Mas nosso quarteirão agora grupava nas calçadas
casquettes heterogêneas penetrando sem nariz no
whisky dos bars.
Bicicletas levantavam coxas velhas de girls para
napolitanos vindos da Austrália. Isadora Duncan
helenizava operetas no Hipódromo.
A velocidade expressa nessa linguagem truncada
sintaticamente imprime oposição e, ao mesmo tempo,
Mas não era verdade. O que havia em Mário de
Andrade, e em outros autores, era a consciência de
que, para representar o novo mundo, era preciso lançar
mão de uma nova linguagem. A verdade é que as novas
propostas vieram estimular a consciência de que era
preciso deixar de lado tudo o que representasse
dominação política e cultural. Houve identificações
com o Futurismo no sentido de que nossos autores
entendiam, também, que a arte deveria estar voltada
ao presente, à vida acontecendo. A arte e a vida não
são estáticas, são processos, caminham, sofrem ações
do meio e agem sobre ele.
2.4.2.10.3 – Expressionismo
Nas artes plásticas é a sobreposição da visão expressiva pessoal do artista aos valores, juízos e verdades
objetivas ou convencionais.
2.4.2.10.4 – Dadaísmo
Dadaísmo
O Dadaísmo surgiu em Zurich, em 1916, com a
proposta de demolir os valores de uma civilização
degradada pela Primeira Guerra Mundial.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Tristan Tzara (1896 - 1963) líder e fundador do
movimento, autor de manifestos que propunham uma
nova ordem artística, apresenta uma receita “para fazer
um poema dadaísta”.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas
são tiradas do saco.
“Pegue um jornal.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade graciosa ainda que incompreendido
do público.”
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você
deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras
que formam esse artigo e meta-as num saco.
O poema se parecerá com você.
Os dadaístas propunham a demolição dos valores –
já desmoralizados pela guerra – e compreendiam que
era necessária uma linguagem que possuísse novos
significados, como se tudo começasse de novo: cores,
palavras associadas sem lógica antiga, o texto disposto
visualmente, fugindo às formas convencionais.
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Podemos, então, destacar as seguintes propostas
dadaístas:
• É uma tentativa de demolição;
• Propõe a abolição da lógica, “dança dos impotentes
da criação”;
• Prega a abolição da memória, da arqueologia, dos
profetas do futuro;
• Exalta a liberdade total de criação;
• Propõe a percepção da vida em sua lógica
incoerência primitiva;
• Tenta a criação de uma linguagem totalmente nova
e inusitada;
• Busca cortar o nexo de ligação com a realidade vital;
• Propõe um estilo antigramatical, uma linguagem
simplista;
• Prega que “a arte tende a uma liberação suprema,
ao transformar-se numa simples distração;
• Declara que “a arte não é coisa séria”;
• Admite que a arte não necessita ser compreensível:
pode reduzir-se a uma “gíria de enunciados”.
Logo, o movimento dadaísta rebelava-se contra o
conservadorismo, contra qualquer organização social:
acreditavam que não havia lógica nos valores dessa
civilização, que era criticada pelos dadaístas com muito
humor. O contato com o mundo contraditório e
selvagem lhes permitia, com revolta, propor que
fossem esquecidas as tradições e heranças históricas.
Podemos concluir que o Dadaísmo é
fundamentalmente um movimento de protesto.
2.4.2.10.5 – Surrealismo
Surrealismo
O Surrealismo começou, realmente, em 1924, com o
primeiro manifesto da autoria de André Breton (18961966). Cansados do negativismo do Dadaísmo, os
surrealistas achavam que a negação é uma etapa no
processo artístico que deveria anteceder a outra; e
agora a proposta é encontrar uma saída, uma arte que
fale das profundezas do psiquismo. Influenciados por
Freud, entendem que a imaginação e a razão caminham
juntas. O sonho, a fantasia e a alucinação estão unidos
à realidade do indivíduo.
Os surrealistas acreditavam que era preciso liberar
as zonas do inconsciente. Nada de hiato entre
inconsciente e consciente: tudo deve ser apresentado,
porque tudo está ligado. É preciso expressar o que
vem do mais fundo do ser.
Nesse aspecto, o Surrealismo se aproxima do
Romantismo e do Simbolismo: são novamente
exaltados os autores que prenunciaram esse
movimento, como Charles Baudelaire, o satânico que
associava tudo – o mal ao imaginário, o poeta das
coisas “frias” do mundo que se industrializava.
O Surrealismo caracteriza-se por ser mais do que
um movimento, pois sempre houve, há e haverá
autores que constroem fantásticas expressões
surrealistas. Os objetivos principais do grupo
liderado por André Breton eram o Amor, a Liberdade
e a Poesia, sem as restrições do mundo moral e
tradicional.
De base psicológica, a contestação à sociedade é
evidente como se pode perceber nesse fragmento:
O Surrealismo se baseia na onipotência do sonho e
no desinteressado jogo do pensamento; sua finalidade
é resolver as condições previamente contraditórias
de sonho e realidade, para criar uma realidade
absoluta, uma super-realidade
(André Breton)
Desta forma, podemos ressaltar as principais
características surrealistas:
- Conflito entre a vida vivida e a vida pensada;
- Desejo de redenção psicológica, social e universal
do ser humano;
- Ilogismo;
- Valorização do inconsciente;
- A poesia deixa de ser entendida como meio de
comunicação de vivências e passa a ser uma ação
mágica, mito, meio de conhecimento;
- Ao lado da poesia de contemplação, da poesia de
comunhão e da poesia de evasão, temos a poesia de
transfiguração;
- O humor negro que se traduz em jogos de palavras,
tendente a quebrar as convenções.
O Surrealismo permanece, não como movimento, mas
como postura, porque no século XX as relações foram
cada vez mais expostas, mesmo que novas teorias
surgissem, acrescentando ou negando as idéias de
Freud.
No Brasil, vamos encontrar essa postura em Oswald
de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Rubião, Murilo
Mendes e outros. Mas aqui, no nosso estudo, não
entraremos nesse mérito. O assunto é extenso e todas
essas correntes representam muito e ganham
importância na Literatura Brasileira.
Exercícios de Auto-Avaliação
1- Estabeleça relações de oposição entre o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.
2- De acordo com os fragmentos que se seguem, identifique a que corrente pertence, baseando-se no seguinte
código:
a) Cubismo
b) Futurismo
c) Dadaísmo
d) Surrealismo
( ) “É para a Itália que nós lançamos este manifesto de violência agitada e incendiária, (...) porque queremos
livrar a Itália de sua gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. A Itália foi por
muito tempo o grande mercado das quinquilharias. Nós queremos desembaraçá-la dos museus inumeráveis que
a cobrem de inumeráveis cemitérios”.
( ) “... poetas e pintores partilhavam um ideal comum de renovações artísticas: os poetas assimilando as
técnicas pictóricas, os pintores se apoiando nas idéias filosóficas e poéticas. Isso concorria para que o termo
(...), inicialmente aplicado à pintura, passasse também a designar um tipo de poesia em que a realidade era
também fracionada e expressa através de planos superpostos e simultâneos”.
( ) “Ao contrário dos outros movimentos de vanguarda, em que se manifestou a consciência desagregadora
que agitava a época da guerra, o (...) aparece motivado pelo “spirite noveau” pelo sentido geral de organização
e construção que subia os escombros da Grande Guerra”.
( ) “(...) movimento que tinha como grande preocupação a destruição dos valores morais, políticos e sociais.
Esse foi o mais radical movimento intelectual dos últimos tempos, superando pela intensidade e dimensões
estéticas os grandes movimentos de pessimismo da época romântica, do século XIX”.
Leituras Complementares
Os estudos sobre estilos de época na literatura não foram esgotados neste instrucional. Muito ainda se tem
para falar sobre essas correntes que se destacam ao longo dos períodos.
Outros livros importantes para o estudo desses estilos:
• HAUSER, Arnold. Maneirismo. São Paulo: Perspectiva, 1976. Leia apenas o primeiro capítulo: “O conceito
de Maneirismo.”
• CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986. Este pequeno porém substancial
livro pode bem servir como reforço sintético ao nosso trabalho, por resumir com clareza e objetividade os
estilos aqui estudados.
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Atividades Complementares
Vamos agora nos dedicar a alguns exercícios como uma forma de treinamento, buscando sempre tecer
comparações entre os estilos estudados.
Vale, como sugestão, a leitura dos seguintes romances:
• O Guarani - José de Alencar;
• Senhora - José de Alencar;
• Quincas Borba - Machado de Assis;
• O Cortiço - Aluísio Azevedo.
1 - Leia os textos que se seguem, procurando enquadrá-los na época a que pertencem, destacando as suas
principais características.
a) Soneto
Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida descontente
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento ‘etéreo’, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Luis de Camões)
b) À instabilidade das cousas do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa a luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas, no sol e na luz, falta firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:
A firmeza, somente na inconstância.
(Gregório de Matos Guerra)
c) O incêndio de Roma (Olavo Bilac)
Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas,
As muralhas de pedra, o espaço adormecido
De eco em eco acordando ao medonho estampido,
Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas.
E os templos, os museus, Capitólio erguido
Em mármor frígio, o foro, as erectas arcadas
Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas
Do incêndio cingem, tudo esbroa-se partido.
Longe, reverberando o clarão purpurino,
Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte...
- Impassível, porém, no alto do Palatino,
Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assoma
Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte,
Lira em punho, celebra a destruição de Roma.
d) In extremis
Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! De um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! Postos nos teus olhos molhados
E apertando nos seus os meus dedos gelados...
E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...
E aqui dentro, o silêncio...E este espanto! E este medo!
Nós dois... e, entre nós, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...
Eu, com frio a crescer no coração – tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!
E eu morrendo! E eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, vendo o céu, vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! A delícia da vida!
2- Como são as personagens românticas?
3- Por que os românticos retornam à Idade Média?
4- Estabeleça paralelos entre o Romantismo e o Realismo.
5- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Realismo.
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6- Qual a relação entre o Simbolismo e a música?
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7- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Simbolismo.
8- Teça paralelos entre a Idade Média, o Renascimento e o Barroco.
9- O que você entendeu sobre a Arte Impressionista?
10- Teça comentários sobre o Futurismo e sobre a sua contribuição à Literatura Brasileira?
Observação: As respostas são pessoais (isto é, cada aluno desenvolvendo as respostas individualmente), no
entanto, deverão interligar-se ao conhecimento teórico-crítico do estudante da disciplina Teoria Literária. É
necessário lembrar que a Teoria não trabalha com o “achismo” em se tratando de Literatura, portanto, o suporte
teórico-crítico será sempre indispensável. Caso haja alguma dúvida, o aluno deve entrar em contato com o tutor.
2.4.2.11 – Século XX: Pré-Modernismo,
Modernismo e Pós-Modernismo (Brasil)
2.4.2.11.1 – Pré-Modernismo
“Creio que se pode chamar de pré-modernista (no
sentido forte de premonição dos temas vivos em
22) tudo o que, nas primeiras décadas do século,
problematiza a nossa realidade social e cultural.”
“O grosso da literatura anterior à ‘Semana’ foi, como
é sabido, pouco inovador. As obras, pontilhadas pela
crítica de ‘neos’– neoparnasianas, neo-simbolistas,
neo-românticas – traíam o marcar passo da cultura
brasileira em pleno século da revolução industrial.
(...) Caberia ao romance de Lima Barreto e de Graça
Aranha, ao largo ensaísmo social de Euclides, Alberto
Torres, Oliveira Viana e Manuel Bonfim, e à vivência
brasileira de Monteiro Lobato, o papel histórico de
mover as águas estagnadas da belle èpoque,
revelando, antes dos modernistas, as tensões que
sofria a vida nacional.
Parece justo deslocar a posição desses escritores:
do período realista, em que nasceram e se formaram,
para o momento anterior ao Modernismo. Este, visto
apenas como estouro futurista e surrealista, nada lhes
deve (nem sequer a Graça Aranha, a crer nos
testemunhos dos homens da “Semana”); mas,
considerado na sua totalidade, enquanto crítica ao
Brasil arcaico, negação de todo academismo e ruptura
com a República Velha, desenvolve a problemática
daqueles, como o fará, ainda mais exemplarmente, a
literatura dos anos de 30” (BOSI, 1992: 306-7).
2.4.2.11.2 – Modernismo (1 a fase)
Características Gerais:
• O moderno como valor em si mesmo;
• Fase de ruptura, crítica e anarquismo;
• Busca de originalidade a qualquer preço;
• Liberdade absoluta de forma e de criação;
• Luta contra o tradicionalismo;
• Predomínio da expressividade;
• Juízos de valor sobre a realidade brasileira;
• Palavras em liberdade;
• Valorização poética do cotidiano;
• Associação de idéias, às vezes, até desconexas;
• Primado da poesia sobre a prosa.
• Poema-piada (agressão através do humor);
• Nacionalismo literário e lingüístico (falar brasileiro);
• Busca de soluções;
• Movimento contra;
• Espírito polêmico e destruidor (rejeitavam a arte
artificial – imitação estrangeira; desejavam demolir a
ordem social e política, fictícia e colonial);
• Anarquismo (não sabemos discutir o que
queremos);
“O que a crítica nacional chama de Modernismo está
condicionado por um acontecimento, isto é, por algo
datado, público e clamoroso, que se impôs à atenção
da nossa inteligência como um divisor de águas: A
Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de
1922, na cidade de São Paulo. Como os promotores da
Semana traziam, de fato, idéias estéticas originais em
relação às nossas últimas correntes literárias, já em
agonia, pareceu aos historiadores da cultura brasileira
que modernista fosse adjetivo bastante para definir o
estilo dos novos, e Modernismo tudo o que se viesse
a escrever sob o signo de 22” (Ibidem: 303).
61
62
SEMANA DE ARTE MODERNA
“Se por Modernismo entende-se algo mais que um
conjunto de experiências de linguagem; se a literatura
que se escreveu sob o seu signo representou também
uma crítica global às estruturas mentais das velhas
gerações e um esforço de penetrar mais fundo na
realidade brasileira, então houve, no primeiro vintênio,
exemplos probantes de inconformismo cultural: os
escritores pré-modernistas foram Euclides, João
Ribeiro, Lima Barreto e Graça Aranha (este,
independente da sua participação na Semana). À
medida que nos aproximamos da Semana, são as
inovações formais que nos vão atraindo, isto é, aquele
espírito modernista, stricto sensu, que iria polarizar em
torno de uma nova expressão artistas como Anita
Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Vila-Lobos,
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del
Picchia, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida, Manuel
Bandeira. E é em face desse clima de vanguarda que se
constata uma viragem na literatura brasileira já nos
anos da Primeira Guerra Mundial. (...)
Nesse clima (clima de guerra), só um grupo fixado na
ponta de lança da burguesia culta, paulista e carioca,
cuja curiosidade intelectual pudesse gozar de
condições especiais como viagens à Europa, leitura
dos derniers cris, concertos e exposições de arte,
poderia renovar efetivamente o quadro literário do país.
A Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontro
desse grupo, e muitos dos seus traços menores, hoje
caducos e só reexumáveis por leitores ingênuos (pose,
irracionalismo, inconseqüência ideológica) devem-se,
no fundo, ao contexto social de onde proveio”
(Ibidem: 332-3).
Histórico:
• 1910: Início dos sinais precursores, que prepararam
a “Semana de Arte Moderna” de fevereiro de 1922.
• 1912: Oswald de Andrade vai à França, onde entra
em contato com o Futurismo, movimento estético
criado por Marinetti, que apregoava a destruição
integral do passado e constituindo-se numa verdadeira
apologia da velocidade.
• 1912: Manuel Bandeira, na Suíça, conhece a
melhor poesia simbolista e pós-simbolista.
• 1915: Ronald de Carvalho, em Portugal, participa
da fundação da revista “Orpheu” (da Vanguarda
Futurista Portuguesa) com Fernando Pessoa, Mário
de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e outros.
• 1916: Funda-se a Revista do Brasil cujo princípio
básico é o “nacionalismo”, que será um dos objetivos
fundamentais dos modernistas.
• 1917: Anita Malfatti expõe seus quadros cubistas
e expressionistas no Brasil. Monteiro Lobato atacoua com o violento artigo “Paranóia ou Mistificação?”.
• 1917: Mário de Andrade publica “Há uma gota de
sangue em cada poema” (tentativa de fazer poesia
modernista).
• 1917: Menotti del Picchia publica “Juca Mulato”
em que cria um caboclo idealizado, antítese do Jeca
Tatu de Monteiro Lobato.
• 1919: Manuel Bandeira publica “Carnaval”, sua
primeira obra de poesias modernistas, na qual aparece
a poesia “Os Sapos” que causará tanta polêmica na
Semana de Arte Moderna em 1922.
• 1922: Graça Aranha retorna da Europa, onde
travou contato com as Vanguardas Artísticas de Paris.
• 29 de janeiro de 1922: O jornal O Estado de São
Paulo noticiava: “Por iniciativa do festejado escritor,
senhor Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras,
haverá em São Paulo uma “Semana de Arte Moderna.”
• De 11 a 18 de fevereiro de 1922: Realização da
Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal da
cidade de São Paulo. 13, 14 e 15 de fevereiro:
apresentação de espetáculos. Constaram de
manifestações dos mais variados tipos de arte, como
balé, pintura, escultura, concertos, conferências, leitura
e declamação de textos literários.
2.4.2.11.3 – Modernismo / 2 a fase
30)
Características Gerais:
(Geração de
• Predomínio da prosa: importância para o Gênero
Narrativo Ficcional;
• Estabilização das conquistas novas;
• Configuração da nova ordem estética;
• Ampliação da temática: a poesia caminha para a
preocupação religiosa e filosófica (Exemplo: Jorge
de Lima, “Pelo vôo de Deus quero me guiar”);
• Caminho para o universal (Exemplo: Augusto
Frederico Schmidt, Canto do Brasileiro, “Quero é
perder-me no mundo / para fugir do mundo”);
• Reação espiritualista (retomada do simbolismo);
É a fase de maturidade e equilíbrio do Movimento
Modernista. É a estabilização, consolidação e
construção de um ideário coerente com o espírito
renovador.
Reconhecer o novo sistema cultural posterior a 30
não resulta em cortar as linhas que articulam a sua
literatura com o Modernismo. Significa apenas ver
novas configurações históricas a exigirem novas
experiências artísticas (Ibidem: 385).
• Fase construtiva;
• Liberdade consciente;
• Linguagem equilibrada;
• Valorização das formas fixas (por exemplo, soneto);
Ficcionistas e poetas: Carlos Drummond de Andrade
(poeta, cronista, jornalista); Vinícius de Morais (poeta e
compositor); Augusto Frederico Schmidt (poeta); Murilo
Mendes (poeta); José Américo de Almeida (ficcionista);
Raquel de Queirós (ficcionista, cronista); José Lins do
Rego (ficcionista); Graciliano Ramos (ficcionista); Jorge
Amado (ficcionista); etc.
• Preocupação com os problemas do homem;
2.4.2.11.4 – Modernismo (3 a fase): Geração de 45
(Neomodernismo)
Características Gerais:
• Maior apuro do verso;
• Liberdade formal disciplinada: volta ao ritmo
clássico tradicional com métrica e rimas;
• Importância da palavra e do ritmo (revolução
sintática e semântica: busca da plurissignificação
das palavras);
• Um agudo senso de medida;
• Pesquisa formal na linguagem da ficção (Guimarães
Rosa - Sagarana - 1946);
• Contenção emocional e importância da introspecção
(Clarice Lispector);
• Tendência para o hermetismo;
• Tendência para o intelectualismo;
• Universalismo temático: valorização do homem em si
mesmo, não no plano pessoal, mas no plano universal
(Guimarães Rosa, Clarice Lispector – transcendência do
regional para o universal);
• Consciência estética;
• Volta à rima e aos metros tradicionais;
• Desenvolvimento do teatro.
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Poesia de 45:
• Subjetividade em crise;
Um grupo de poetas assumiu uma atitude crítica em
relação à poesia brasileira das duas fases anteriores
do Modernismo: João Cabral de Melo Neto, Ledo Ivo,
Péricles Eugênio da Silva Ramos e outros. Esses poetas
desejavam renovar a poesia brasileira. Continuadores
das outras fases: Carlos Drummond de Andrade,
Cassiano Ricardo e outros. Sobressaiu-se a
criatividade poética de João Cabral de Melo Neto.
• Contínuo denso de experiência existencial;
ESCRITORES (FICCIONISTAS) DE 45: Guimarães
Rosa - 1a fase (Sagarana, 1946); Clarice Lispector - 1a
fase (Perto do Coração Selvagem - 1944, O Lustre 1946).
Características:
• Prosa intimista;
• Fluxo da consciência;
• Uso da metáfora insólita;
• Textos complexos e abstratos;
• Palavra neutra;
• Experiência metafísica;
• Crise da personagem-ego;
• Procura consciente do supra-individual;
• Artista-demiurgo;
• Metamorfose no âmbito da criação literária;
• Alquimia criativa;
• Alteração profunda no modo de enfrentar a palavra;
• Palavra como feixe de significações;
• Signo estético portador de sons e de formas
(relações íntimas entre o significante e o significado);
• Abolição das fronteiras entre ficção e lirismo;
• Exacerbação do momento interior;
2.4.2.11.5 – Concretismo / Poesia (1956)
Em 1956, em São Paulo, Augusto de Campos, Haroldo
de Campos e Décio Pignatari divulgam o Manifesto
Concretista por intermédio da Revista “Noigandres”.
Características da poesia concreta:
• Novas estruturas: associação formal dos
vocábulos;
• Disposição espacial: alinhamentos geométricos
(valorização do poema figurativo);
• Sintaxe analógica, ideográmica: justaposição dos
conceitos; as palavras não têm ordem lógica e ficam
soltas, completamente livres;
• Expressão sintética e objetiva;
• Etc.
Ficção (Anos 50)
A produção em prosa continuou por intermédio dos
escritores da segunda e terceira fases do Modernismo
e outros que foram surgindo: Jorge Amado, João
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas, 1956),
Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Mário Palmério (Vila
dos Confins, 1956), Adonias Filho (Memórias de
Lázaro, 1952); J. J. Veiga (Os cavalinhos de
Platiplanto, contos, 1959) e outros.
2.4.2.11.6 – Movimento Praxis (1961)
Em 1961, Mário Chamie lança o “Manifesto Didático”
da poesia-práxis no posfácio de sua obra poética
“Lavra-lavra”. Ele afirmava que o poema deveria
organizar e montar, esteticamente, uma realidade
situada de acordo com três condições de ação: a) ato
de compor; b) área de levantamento da composição;
c) ato de consumir. O espaço em preto, resultante do
conjunto de palavras constitutivo do poema, torna-se
importante (espaço formado por palavras dispostas
em versos formando um desenho não arbitrário).
poético). Poderemos destacar os seguintes poetas
dessa fase:
• Marli de Oliveira (Cerco da Primavera, Explicação
de Narciso, A Vida Natural);
• Laís Correia de Araújo (O Signo e Outros Poemas,
Cantochão);
• Renata Pallottini (A Casa, Livro de Sonetos, A Faca
e a Pedra, Noite Afora);
Características:
• Dissidência da Vanguarda Concretista;
• Poética que vincula a palavra ao contexto extralingüístico;
• Não escreve sobre temas (procura conhecer todos
os significados e contradições).
• Foed Castro Chamma (Melodias do Estio, Iniciação
ao Sonho, O Poder da Palavra);
• Stella Leonardos (Poesia em Três Tempos, Poema
da Busca e do Encontro);
• Edison Moreira (Tempo de Poesia);
• Walmir Ayala (Antologia Poética);
Outra Vertente da Poesia nos Anos 50 e 60:
No Brasil dos anos 50 a 60 existiu uma vertente
poética alheia aos programas experimentalistas que
marcaram o concretismo e a poesia-práxis. Esta vertente
lírica situou-se entre o moderno e o tradicional,
desenvolvendo um discurso metrificado, submetido a
um imaginário neo-romântico ou, talvez, surrealista,
somado a uma forte consciência lírica (existencialismo
• Carlos Nejar (Sélesis, Livro de Silbion, Livro do
Tempo, O Campeador e o Vento);
• Gilberto Mendonça Teles (Poemas Reunidos);
• Adélia Prado (Coração Disparado, O Pelicano);
• E outros.
2.4.2.11.7 – Tropicalismo (1967)
Tropicália, Tropicalismo, Movimento Tropicalista
Foi um movimento cultural que nasceu sob a
influência das correntes de vanguarda artísticas e da
cultura pop nacionais e estrangeiras (como o pop-rock
e a poesia concreta) e mesclou manifestações
tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas
radicais.
Tinha também objetivos sociais e políticos, mas
principalmente comportamentais, que encontraram eco
em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no
final da década de 1960.
Pesquisar: Antecedentes, influências, características, nomes ligados à Tropicália.
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2.4.2.11.8 – Geração de 70 / Início de 80
“O historiador do século XXI que, ajudado pela
perspectiva do tempo, puder ver com mais clareza as
linhas-de-força que atravessam a ficção brasileira neste
fim de milênio, talvez divise, como dado recorrente,
certo estilo de narrar brutal, se não intencionalmente
brutalista (que difere do ideal de escrita mediado pelo
comentário psicológico e pelo gosto das pausas
reflexivas)” (BOSI, op. cit.: 435-5).
Características da geração de 70 / 80 (prosa):
• Narrativa de Acontecimento: Narrativa de RealismoMágico, Narrativa de Absurdo, Narrativa Fantástica;
• Atuação do Insólito;
• Narrador Pós-Modernista se utilizando da técnica
do “bem ver” a realidade (realidade fragmentada, caos);
Narrador centralizando o ato de narrar, uma vez que,
ao invés de narrar algo ficcional ou mesmo
memorialista, é ele que tem o poder de “ver” todos os
ângulos desse realidade (como participante ativo);
• Bem ver = bem narrar
• Técnica narrativa: colagem, intertextualidade
(diversos discursos que se interpolam, interagem:
jornalístico, confissional, ficcional, etc.).
Ficcionistas que se destacaram:
• Lygia Fagundes Telles (As Meninas - romance);
• Murilo Rubião (O Convidado - contos);
• Roberto Drummond (A Morte de D. J. em Paris contos);
• Sônia Coutinho (Os Venenos de Lucrécia - contos).
A poesia brasileira nos anos 70 / 80
Vanguarda Pós-68:
Poetas:
• Nauro Machado;
• Ana Cristina César (Cenas de Abril, Luvas de
Pelica, A Teus Pés);
• Antônio Carlos Brito - Cacaso (Grupo Escolar);
• Paulo Leminski (Caprichos e Relaxos, Distraídos
Venceremos, La Vie em Close).
2.4.2.11.9 – Geração de 80 / 90
Poetas (Gênero Lírico / Poesia Pós-Moderna):
Ficcionistas (anos 90):
• Rogel Samuel (120 Poemas);
• Rogel Samuel (O Amante das Amazonas - 1990);
• Verônica de Aragão (Enigmas);
• Sônia Coutinho (O Caso Alice - 1991);
• Elisa Lucinda (A Menina Transparente).
• Roberto Drummond (Hilda Furacão);
Tendência a uma retomada épica:
• Chico Buarque de Holanda (Benjamim, Estorvo).
• Adriano Espínola (Táxi - poema épico pós-moderno
(1986), Metrô – poema épico pós-moderno de 1990 –
Editora Global, São Paulo).
2.4.2.11.10 – Pós-Moderno / Pós-Modernismo:
Pós-Moderno
Liga-se a um momento da História Contemporânea:
término da Era Moderna e início da Era Pós-Moderna.
Ainda não há como avaliar o momento certo do início
da Era Pós-Moderna. Presume-se que o século XX (as
duas grandes guerras, a ida do homem à Lua, o avanço
tecnológico, a globalização, a finalização do milênio e
outros acontecimentos políticos e sociais em termos
universais) seja o marco que, futuramente, indicará o
momento de cisão entre as duas Eras em questão.
Pós-Modernismo:
“Pós-Modernismo é um nome geralmente dado para
formas culturais de um período que aparece desde os
anos 60. Abrange certas características como reflexão,
ironia e um tipo de arte que mistura o popular e o
erudito. Embora o termo tenha sido primeiramente
usado em arquitetura (Jenckes), hoje descreve a
literatura, artes visuais, música, dança, filme, teatro,
filosofia, crítica, historiografia, teologia e qualquer
atividade de cultura em geral. É visto ora como uma
continuação dos aspectos mais radicais do
modernismo, ora, ao contrário, como marcando uma
ruptura com o modernismo, como um modernismo nãohistórico que anseia por acabar. O pós-modernismo
uniu “a lógica cultural do capitalismo tardio” (Jameson)
à condição geral de conhecimento em tempos de
tecnologia da informação (Lyotard), a substituição de
um foco da epistemologia modernista por uma
ontologia (McHale) e a substituição do simulacro pela
realidade (Baudrillard)” (SAMUEL, 2005: 121).
2.5 - Literatura Compromissada e a Teoria da Arte
pela Arte
Literatura Compromissada
Exemplos:
• O realismo pregava a arte (segundo Domício Proença
Filho, 1994) compromissada com a realidade.
• Literatura feita por negros: “Se por força de
características peculiares, a literatura feita por negros
ou por descendentes assumidos de negros concretizar
linguagens geradoras de cânones de uma poética nova,
essa dimensão se inserirá no processo da literatura
brasileira e não no núcleo discriminatório de uma
literatura ‘negra’ ou ‘marrom’. // A arte literária
compromissada precisa ser arte literária antes de ser
compromissada, sob pena de descaracterizar-se e
perder seu poder de repercussão mobilizadora.”
• Crônica: literatura compromissada (relação entre
realidade, história, atualidade e ficção).
• A literatura brasileira dos anos 60/70 (momento da
ditadura militar, momento da censura): os escritores
criaram novas formas literárias – ficcionais e poéticas –
de compromisso com a realidade e, graças à imposição
da censura, nos legaram verdadeiras obras de arte
literárias, o que os críticos chamam de “literatura pósmoderna” ou “literatura insólita”, literatura esta que
exige um reconhecimento teórico-crítico das
mensagens que estão ocultas nas entrelinhas do texto
literário.
A literatura sempre revelará um compromisso com o
seu momento histórico, mas a verdadeira literaturaarte terá de transcender seu próprio tempo e espaço
cultural. Por exemplo: O texto ficcional Dom Quixote
de Miguel de Cervantes, considerado hoje o texto que
marcou o segundo milênio.
67
68
2.6 - A Literatura-Arte e a Indústria Cultural
Literatura-Arte (ponto de vista
fenomenológico)
O literário, como um valor, não pode ser ajuizado.
Ele vigora na escrita enquanto conotado. Não é um
dado objetivo, nem subjetivo, mas algo que subsiste
na escrita. O literário existe na escrita como potência.
Essa energia não se vê no que é dito, mas é a
concentração do dizer. Para falarmos dela,
precisaríamos colocar-nos fora do discurso, isto é,
fora da capacidade de pensar. Pensar o literário da
escrita só é possível quando se falar a ambigüidade.
Ou quando a linguagem deixa falar, na escrita, a força
de sua manifestação. A riqueza da escrita tanto se
faz mais criadora, quanto mais profundo for o nível
de onde ela fala e silencia” (SAMUEL, 2005: 21).
A maioria das médias e pequenas cidades brasileiras
só dispõe de pequenas bibliotecas e livrarias e,
apesar de o público leitor ter crescido muito nos
últimos anos, o número de livrarias em algumas
cidades diminuiu, ou estacionou. Há uma relação
direta entre crise econômica e mercado editorial.
Um livro aparece na livraria quando “começa a ser
pedido”, e o leitor começa a pedir o livro quando o
livro aparece nos jornais. (...) O consumidor médio
brasileiro não entra na livraria, exceto quando se
encontram nos Shopping Centers. (...) Alguns
dependem da propaganda dos jornais para se decidir
a ler, vendo no jornal um critério de valor. Desta
forma se fecha o círculo: quanto mais livro vende,
mais é falado; e quanto mais falado é, mais vende.
Algumas empresas chegam a lançar um pacote
cultural: livro, filme, vídeo, disco, camisas, chaveiros,
etc (Ibidem: 107).
Indústria Cultural
Qual é o processo que faz com que um livro apareça
no balcão da livraria?
Leitura Complementar
Para um conhecimento mais amplo, leia: SAMUEL, Rogel, Novo Manual de Teoria Literária. Petrópolis:
Vozes, 2005.
Unidade III
69
A NA
TUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO
NATUREZA
(Cf. CASTRO, Manuel Antônio de. In.: SAMUEL,
Rogel. Manual de Teoria Literária, 12 ed.
Petrópolis: Vozes, 1999.)
ESPECIFICIDADE: essência, substância, aquilo que
faz com que uma coisa seja aquilo e não outra. (Manuel
Antônio de Castro)
ESPECIFICIDADE DO LITERÁRIO (Ponto de vista
hermenêutico)
FENÔMENO: aquilo que se manifesta [o já
manifestado (estático)] / [o que ainda está se
manifestando (dinâmico)].
NATUREZA: preocupação de compreender a
especificidade do literário.
3.1- O Texto: Texto-Formato
Texto
1o ) O que é um texto?
• Texto vem do verbo tecer: entrelaçamento de linhas
(orações, períodos);
X
Texto-Forma
3o ) TEXTO = TECIDO DE SIGNOS “expressa a
relação do homem com as realidades e dos homens
entre si.”
TEXTO = HOMEM + REALIDADE + EXPRESSÃO
o
2 ) TEXTO-FORMATO
• A disposição das linhas e seu entrelaçamento;
• A ocupação e disposição espacial.
FORMATO = FORMA
(diferente)
Formato
Explicitamente, podemos fazer um corte e determonos em um dos referentes, mas implicitamente os
outros dois sempre estariam obrigatoriamente
presentes. Isto é importante para penetrar no
entendimento de um texto literário, embora qualquer
texto implique sempre os três referentes.
TODO TEXTO É RESULTADO DE UMA LEITURA
• Diagramação + Ilustração = Harmonia (Exemplo:
Literatura Infantil)
• É a obra enquanto APRESENTAÇÃO.
• APRESENTAÇÃO DA OBRA / TEXTOFORMATO: “surge como um esforço de integração
entre as facetas do formato e da forma.
LEITOR + TEXTO
relação objetiva e subjetiva
LEITOR - PRODUTIVIDADE
(“enquanto modalidade de relação radical
do homem com a realidade”)
TEXTO: ELABORAÇÃO HUMANA, TRABALHO
LEITURA
70
TRABALHO: AÇÃO HUMANA
(pela qual o homem textualizando, significando o real
se significa)
• supõe colaboração, porque o texto não se lê, o
instrumento não se lê;
• pressupõe o outro;
Por um lado:
Esta elaboração humana só encontra sua plenitude
na medida em que ao elaborar ele colabora (pressupõe
o outro, socializa).
ação
humana:
o
homem
textualizando, significando o real se
significa
Por outro lado:
Tal noção evidencia que o texto não se limita ao
escrito, implicando sobretudo o oral.
Uma fotografia, uma estátua, um instrumento, etc., é
um texto / expressa uma relação do homem com o real.
TEXTO
Ação significativa
• pressupõe colaboração.
=
Entre tantas modalidades de texto, quando um
texto é especificamente literário?
( LITERÁRIO = LITERATURA - ARTE )
TRABALHO
ação humana: ao elaborar (o texto
como trabalho) o homem co-labora
(pressupõe o outro, socializa-se)
3.2- Texto-Objeto
X
Texto-Obra
Texto-Objeto (realidade + imaginação =
juízos preestabelecidos: certo X errado)
• Prima pela objetividade;
• Próprio para ensinamentos;
• Próprio para entretenimento;
• É linear (sintagmático, horizontal);
• Não permite ambigüidade;
• Conhecido, atualmente, como TEXTO PARALITERÁRIO.
Para os estudiosos da literatura, que seguem a linha
cientificista, qualquer texto será considerado literário.
Posteriormente, o analista fará a separação,
descobrindo as características formais e, em
conseqüência, a categoria em que o texto analisado se
enquadra: texto-objeto (texto técnico) ou texto-obra
(literatura-arte).
políticos, livros de anedotas, ensaios, monografias,
etc.
• Paraliteratura de Imaginação: novelas (ficção linear),
crônicas, narrativas de memórias, estórias infantis,
literatura fantástica (contos de fantasmas, de
cemitérios, mitologias – maravilhoso pagão e
maravilhoso cristão, literatura de cordel, etc.)
TEXTO-OBRA (realidade + imaginação +
imaginário-em-aberto =juízo de
descoberta)
• Maior porcentagem de subjetividade X pouca
objetividade;
• Predomínio do lúdico (mas, serve também para
ensinar);
• Exige a reflexão do leitor (não se adéqua ao
entretenimento telúrico);
• É complexo (paradigmático, vertical);
Paraliteratura
• Porcentagem maior de ambigüidade;
Há duas vertentes paraliterárias:
• Paraliteratura de Informação: livros escolares, livros
de receitas, textos jornalísticos, sermões, discursos
• Conhecido, atualmente, como LITERATURA-ARTE
(romances, contos, poesias).
3.3- Discurso Metonímico
X
Discurso Metafórico
Discurso Metonímico X Discurso Metafórico
• Discurso: Qualquer manifestação concreta da
língua; qualquer manifestação por meio da linguagem,
em que há predomínio da função poética; etc.
• Discurso Metonímico: Discurso próprio de um tropo
que consiste em designar um objeto por palavra
designativa doutro objeto que tem com o primeiro uma
relação de causa e efeito. Por exemplo: trabalho por
obra; copo por bebida, etc.
• Discurso Metafórico: Discurso figurado. Discurso
próprio de um tropo que consiste na transferência de
uma palavra para um âmbito semântico que não é o do
objeto que ela designa, e que se fundamenta numa
relação de semelhança subentendida entre o sentido
próprio e o figurado. Por exemplo: Chamar uma pessoa
astuta de raposa; nomear a juventude como primavera
da vida, etc.
3.4- Mimésis Platônica x Mimésis Atual (Recriação)
Mimésis Platônica
(reprodução da realidade, cópia - ponto de vista
sintagmático, horizontal)
MIMÉSIS
Mimésis Atual
(recriação da realidade - ponto de vista paradigmático,
vertical)
A mimésis é um termo grego geralmente traduzido
como imitação. Imitação em que sentido? Até hoje
são controvertidas as interpretações. E isso não é
tão difícil de entender, uma vez que é um conceito
que faz parte dos dois maiores sistemas filosóficos
gregos: o platônico e o aristotélico. Assim sendo,
qualquer interpretação implica sempre um
determinado posicionamento a respeito e dentro de
tais sistemas. Não é um conceito literário, porém
um conceito filosófico para explicar a arte
(CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.),
1999: 56-7).
A mimese inventa, na ambigüidade do literário, uma
problematização profunda sobre o que seja verdade.
Em outras palavras, põe uma relação inseparável
entre discurso e espaço: o mundo. (...) // As
chamadas proposições elementares descrevem o
mundo e a totalidade dos fatos. O que aparece e o
que o possibilita. O mundo, totalmente descrito nos
estados de coisas, a mimese. O fato (o que ocorre)
existe nos estados de coisas, compreendidos como
ligações entre coisas. Põe a realidade inteira e
possibilita qualquer realidade. O mundo se constitui
pelos fatos e se descreve pelas proposições, mas,
por outro lado, as proposições constroem o mundo
com a ajuda da “forma lógica”. A totalidade dos fatos
empíricos se representa como estado de coisas, ou
conjunturas, no espaço lógico pelos outros fatos do
discurso. (...) Esta “forma lógica” é a capacidade
mimética do discurso (Ibidem: 16).
71
72
3.5- Catársis Direta
X
Catársis Indireta
CATÁRSIS DIRETA
CATÁRSIS INDIRETA
• Relacionada com o Gênero Dramático (texto literário
para ser representado em um palco)
• O espectador recebe a mensagem diretamente, não
há tempo para reflexões.
• Relacionada com a matéria ficcional (Gênero
Narrativo em Prosa) e com os textos dramáticos para
serem lidos (e não para serem apresentados em um
palco, por exemplo: a leitura do “Rei Édipo” de
Sófocles).
“A catársis está profundamente relacionada com a
mimésis, daí também ser uma questão controvertida e
com múltiplas interpretações.
• O leitor entra em contato (racionalmente falando)
com o texto literário, passa a refletir, a analisar e a
interpretar o texto que o interessa.
O problema surge quando Aristóteles na Poética,ao
definir a tragédia, alude aos efeitos que ela produz
nos espectadores: A tragédia é uma imitação da ação,
elevada e completa, dotada de extensão, numa
linguagem temperada, com formas diferentes em cada
parte, atuando os personagens, e não mediante
narração, e que, por meio da compaixão e do temor,
provoca a purificação de tais paixões (Aristóteles)”
(Ibidem: 59).
“Como o efeito da catársis se dá no leitor, tende-se a
encaminhar o seu entendimento por esse referente.
Ora, para que produza algum efeito, a catársis deve
necessariamente fazer parte da natureza do fenômeno
literário e como tal deve ser pensada” (Ibidem: 59).
3.6- Estudo de Textos: Poesias, Narrativas e
Ensaios
Este item do Conteúdo Programático será esclarecido
no primeiro encontro do CEAD. São os textos de
Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária, oferecidos
pelo tutor, e os textos de literatura que serão analisados
e interpretados no decorrer do curso.
73
Se você:
1)
2)
3)
4)
concluiu o estudo deste guia;
participou dos encontros;
fez contato com seu tutor;
realizou as atividades previstas;
Então, você está preparado para as
avaliações.
Parabéns!
74
Gabarito
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 14)
Sugestões:
1- A impossibilidade de se definir a literatura deve-se ao objeto dela - a obra literária. Sendo um objeto que vai
ser apreendido subjetivamente por quantos que tiverem contato com ele, delineia-se a impossibilidade da
definição, impondo-se a conceituação, uma vez que o ato de conceituar está ligado à ação de emitir parecer
relacionado com a visão pessoal.
2 - Porque a linguagem com que é elaborada a obra literária cria seu próprio mundo, uma vez que ela já é
invenção. Representar com palavras é criar. É evidente que essa criação não é arbitrária. Ela parte do mundo em
que vivemos para criar seu próprio mundo.
3 - Como se viu, o leitor desempenha o papel do mediador (ponte) entre o mundo da obra literária e o nosso
mundo, suplementando os espaços do texto. A importância desse papel está em que o leitor como que se
reconhece na criação, uma vez que estará diante de seres humanos iguais a ele. Aqui ecoam as palavras de
Clarice Lispector: “criar (...) é correr o grande risco de se ter a realidade”.
4 - Porque o trabalho ficcional é construído com palavras, e estas devem ajustar-se numa estrutura para
mostrarem o que está sendo criado, o que acaba dificultando o processo da imaginação. Essa resistência da
palavra termina por obrigar o autor a voltar-se para o real, estabelecendo um jogo de vaivém entre o imaginário
artístico e o real natural.
5 - Imagem mental é aquela que simplesmente evoca o objeto, que já está diretamente composto, não
acrescentando nenhum saber para aquele que faz a evocação. Imagem ficcional, por ser criada, resulta de uma
lenta elaboração de um trabalho feito com palavras.
6 - Quando se diz da resistência oferecida pela palavra, quer-se afirmar que a palavra “só significa na rede de
relações que compõe no interior da frase. Daí a idéia saussuriana de língua como um sistema que existe na
medida em que cada emprego da palavra pode sujeitá-lo a uma nova e distinta configuração”. A palavra é algo
de indeterminado e imponderável. Por isso é que ela não se entrega pronta ao pensamento. E quando dizemos
que ela integra o próprio tecido do pensamento, colocamos a invenção ao nível mesmo da linguagem. Por essa
razão, por ser algo que não apenas faz a invenção (a criação) mas que é a própria invenção, é que a palavra
oferece uma natural resistência quando do ato criador.
Observação: As respostas são pessoais (mas dependem de conhecimento teórico-crítico). Caso o aluno
encontre alguma dúvida, deve entrar em contato com o tutor.
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 26)
1- Note-se que a disposição dos versos da primeira estrofe sugere a torre de uma igreja. Pode-se, também,
considerando uma outra perspectiva espacial, ver-se o corpo de uma igreja de perfil.
2- Todas elas referem-se a materiais de construção. É interessante observar que entre os tijolos, a água e a
areia está colocada a palavra andaime, numa sugestão da subida da torre em construção, já que essa peça é
utilizada quando não se consegue mais trabalhar com os pés no chão.
3- ( X ) ágil. Veja-se a quase total ausência de pontuação, o que sugere a rapidez.
4- ( X ) árduo e cansativo.
5- Sugere a subida da torre, o trabalho continuado e, finalmente, a conclusão, principalmente por causa do
verso 9 (“mais”) em que já não aparece o elemento “perto”, tudo indicando a conclusão do trabalho como aliás
mostra o último verso dessa estrofe, em que a palavra “torre” caracteriza o final da construção.
6- Esse travessão como que representa a interrupção do que vinha tendo significado, ou seja, a construção da
igreja, para mostrar o elemento novo – a torre – e a conclusão do trabalho.
7- A contraposição do ritmo desse verso (lento) como o dos versos da primeira estrofe (ágil) sugere, de início,
um descompasso entre o trabalho árduo e a “moleza indolente” da prática religiosa feita, no mais das vezes,
mecanicamente, sem um aprofundamento interior maior. Além do mais, pode sugerir a colocação da seguinte
pergunta: “De que vale a construção tão difícil de um templo se, nos domingos, vai surgir uma litania dos
perdões ou seja, gente querendo se desculpar dos seus erros? O verso parece-nos uma crítica ferina a um certo
conceito de religião que funciona na base da transação comercial, seria algo parecido com a proposição: “peco
agora e busco o perdão depois”. De qualquer modo, o verso tem uma abertura de significação muito grande.
Inúmeras outras respostas, desde que coerentemente estruturadas, podem servir.
8- Tais versos caracterizam a ironia com que Drummond critica aqueles que se entregaram ao sacerdócio sem
nenhuma vocação religiosa. “O padre que fala do inferno sem nunca ter ido lá” representa o indivíduo que diz
coisas sem estar convicto de que deveria dizê-las.
9- ( X ) o espírito exibicionista das mulheres.
10- Retirando-se a primeira sílaba da palavra “geolhos” temos a palavra “olhos”. Com isso o poeta critica
também aqueles que vão à igreja para observar as mulheres. Evidencia-se a conclusão de que os olhos estão
fixos nos joelhos. Esta é a razão pela qual o poeta preferiu o arcaísmo, sem dúvida bem achado e bastante
expressivo.
11- Adro é a parte externa que fica defronte à igreja. Com isso o poeta parece sugerir que o ateu participa
socialmente, festivamente dos acontecimentos religiosos. Ele não entra na igreja, o que significa que sua
presença na frente do templo tem a caracterização de um hábito social.
12- A forma bão representa uma deturpação de bom. Quer dizer, encara-se o domingo como algo bom, mas esse
aspecto positivo quase nunca está relacionado com a consciência religiosa e sim com os divertimentos que o
domingo pode oferecer.
Atividades Complementares
As respostas dos números 1 , 2 e 3 são pessoais. O aluno deve ler bem o capítulo solicitado. Se assim o fizer,
terá plenas condições de responder com clareza e eficiência o que lhe foi pedido. O objetivo, aqui, é desenvolver
o senso crítico, partindo de leituras básicas e essenciais. As possibilidades de respostas encontram-se no
próprio capítulo do livro indicado.
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 36)
1 - (c); (d); (d); (b); (a); (a); (b); (c); (c); (b).
2 - A coexistência de valores opostos.
3 - Conceptismo - emprego de raciocínios rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa.
Cultismo - jogo de palavras, emprego de uma constelação de figuras, tornando quase impossível o
entendimento do texto.
4 - Antítese e paradoxo.
5 - O romântico - inspirador das importantes catedrais.
6 - Gozar o dia de hoje” - entregar-se intensamente ao presente, já que não se tem certeza do amanhã.
7 - a) Barroca.
b) Antítese e paradoxo.
75
76
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 41)
1- (c); (c); (a); (b); (c); (a); (a); (b); (b); (b).
2- Procurando retornar às “virtudes clássicas”: equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade.
3- O bucolismo.
4- Valorização das coisas do campo, dos senários naturais.
5- “Século das luzes”.
6- Estímulo à cópia dos modelos gregos e romanos.
7- “O homem é bom, a socidade o corrompe.”
8- Provocará o surgimento do culto do “Bom Selvagem”.
9- Tornaram-se românticos.
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 44)
1- a) Fugindo dos velhos temas como o bucolismo e a mitologia.
b) A fuga e a evasão.
c) Com objetivo nacionalista de exaltar as tradições nacionais e os heróis da pátria.
d) O poeta revela-se ao mundo, constrói uma poesia calcada em sua vivência e em suas emoções pessoais.
e) É um herói individual, corajoso, leal, dotado de poderes quase sobrenaturais, capaz de desafiar forças
contrárias e determinado a morrer pelo amor ideal, ou pelo ideal de amor.
2- a) Presença de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular.
b) “... esse adorado sonho / acalentei em meu delírio ardente” etc.
c) Ex.: “...sonho acalentei = em delírio insano”
d) Substantivos: anelo, ardor, sonho, delírio, noite, desvelo, alento etc.
Adjativos: ardente, adorado, doce etc.
O conjunto de todos esses elementos evidencia o clima de imaginação, de pessimismo e de insatisfação.
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 48)
1- (b); (a); (c); (c); (b); (d); (d); (c); (a); (d).
2- Por exemplo: as personagens realistas são degradadas; as naturalistas são animalizadas.
3- Porque predomina a sinestesia, valorizando-se as impressões sensoriais.
4- Como um animal, dominado pelo instinto.
5 - Enquanto os românticosvalorizam o gosto popular, os parnasianos o desprezam, voltando a sua arte para
a elite.
6- (c); (a); (b);
Exercícios de Auto-Avaliação (P. 52)
1- Porque o poeta apenas sugere, cabendo ao leitor decodificar a mensagem.
2- Valoriza o inconsciente, a poesia pura, antes de passar pelo crivo da razão.
3- O Parnasianismo foi um estilo objetivo e impessoal; já o Simbolismo foi subjetivo e dramático.
4- Preocupação com o Além- Matéria, com as coisas do espírito.
5- Valorização dos recursos sonoros e do ritmo.
6- O que importa são as impressões instantâneas. Valorização das cores, da luz, das cenas ao “ar livre”; dos
momentos efêmeros e fugazes.
7-Praticamente todo o texto nos remete a tal afirmação. O aluno deverá reconhecer a idéia de continuidade, de
passagem, de coisas efêmeras e passageiras que descortinam ao longo da paisagem. Ex: “casas de moradores,
homens, tudo ia passando, rolando mansamente..., etc”.
Atividades Complementares (P. 58)
1Sugestões:
O Cubismo: Revela-se como um trabalho artístico que compõe a fragmentação do objeto, ao contrário da
concepção clássica da pintura que sempre propôs que o objeto fosse apresentado na sua forma precisa, com
linhas contínuas.
O Dadaísmo: Tinha como proposta a negação dos valores artísticos, morais e sociais, pois seu objetivo era
demolir os demolir os valores de uma civilização que eles entendiam como brutal, sanguinária e selvagem.
O Surrealismo: Teve como proposta uma perspectiva artística mais voltada para as profundezas do psiquismo.
Contrários ao racionalismo cientificista, entendiam que a razão e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo
parte da realidade do indivíduo.
2- (a); (b);
(d);
(c).
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78
Referências Bibliográficas
AUERBACH, Eric. Mimesis. São Paulo: Perspectiva, 1987.
CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. São Paulo: Ática, 1995.
COSTA LIMA, Luiz. Por que literatura? Petrópolis: Vozes, 1969.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
CULLER, Jonathan. Teoria Literária. Tradução: Sandra Guardini T. de Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. S. Paulo: Mestre Jou, 1982.
____. Maneirismo. São Paulo: Perspectiva, 1976.
ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Melhoramentos, 1968.
PORTELLA, Eduardo (Org.). Teoria Literária. 1. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
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SAMUEL, Rogel (org.). Manual de teoria literária. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
SAMUEL, Rogel. Novo Manual de Teoria Literária. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
SILVA, Vitor Manuel Aguiar. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1969.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1986.
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80
Download

Teoria da Literatura I.p65 - Universidade Castelo Branco