PROVA PARA AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE PARA FREQUÊNCIA DO ENSINO
SUPERIOR DOS MAIORES DE 23 ANOS
2014/2015
Componente de Língua Portuguesa
Informações e instruções gerais
1. Este enunciado tem 3 páginas.
2. A componente de língua portuguesa está cotada para um total de 20 (vinte) valores.
3. A cotação encontra-se no fim de cada pergunta.
4. Apenas é permitido utilizar caneta ou esferográfica, de tinta azul ou preta.
5. Não é permitido o uso de dicionários, gramáticas ou de qualquer outra fonte de informação.
6. Não é permitido o uso de corretor.
7. Na primeira linha da folha de resposta, deve ser indicado se foi ou não usada a ortografia estabelecida no último acordo ortográfico.
8.
8.1. Aos textos que infringirem a limitação do número de palavras indicada no Grupo II
e que tenham uma extensão inferior a 120 (cento e vinte) ou superior a 230 (duzentas
e trinta) palavras, será atribuída a classificação de 0 (zero) valores.
8.2. Aos textos que infringirem a limitação do número de palavras indicada no Grupo II
e que tenham uma extensão entre 120 (cento e vinte) e 149 (cento e quarenta e nove)
palavras ou entre 201 (duzentas e uma) e 230 (duzentas e trinta) palavras, será descontada 0,1 (uma décima) de valor por cada palavra a menos ou a mais em relação
aos limites estabelecidos.
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Grupo I
Leia o seguinte texto e responda às perguntas que se lhe seguem:
O QUE É COMPREENDER
Não sei se chegamos realmente a compreender. Temos experiências, temos acesso à
catadupa dos factos, possuímos milhentas explicações. Recorremos a fórmulas que
encaixam e desencaixam. Baseamo-nos em pareceres. Vivemos com ansiedades que
o tempo modela, fazendo-nos pensar que as modera. Tudo isso. Mas não sei se che5
gamos a compreender verdadeiramente. Talvez porque compreender seja outra coisa,
peça de nós outro tempo, distinto daquele que estamos habituados a usar, nos exponha na nossa pobreza, encaminhe a nossa inteligência e o nosso coração por territórios porventura mais próximos do silêncio do que da palavra. Penso muitas vezes naquela pintura de Goya que retrata um cão. Não sabemos exatamente o que é que o
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cão está ali a fazer: apenas vemos o seu focinho que sobressai, solitário, projetado
num céu vazio. Dir-se-ia que ele fareja não já o mundo, mas a fronteira do mundo, à
maneira de um detetive metafísico. Quando penso nesse cão de Goya acontece-me
associá-lo a uma frase da escritora Maria Gabriela Llansol sobre o trabalho de compreensão de um texto (que não há de ser diferente do trabalho de compreensão do
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mundo e de nós próprios). A frase diz: “Compreender um texto é como compreender
um cão…, / ou seja, / é aceitar que não se fala, / que não se compreende, exceto
pela companhia.” Armámo-nos de instrumentos sofisticados de análise, estratificamos,
decompomos, observamos através de lentes que reputamos infalíveis, e esquecemonos desta verdade básica: a compreensão passa, necessariamente, por um avizinha-
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mento, por uma descoberta mútua que só a reciprocidade vai tecendo e aclarando. A
compreensão é um jogo jogado na consciência de que estamos perante o vivo, que se
dá a ver na dobra, no intervalo, na interação afetiva, na dedução incalculável daquilo
que cada um traz escondido, sem nos deixarmos capturar pelas expectativas, sem impormos nada do que sabemos ou pretendemos saber. Llansol tem razão: não
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compreendemos nada nem ninguém, exceto pela companhia. Há três dimensões
fundamentais (e esquecidas) na arte [da] companhia que importa recordar: a
gratuidade, a aceitação e a capacidade de partilhar o silêncio. De facto, a companhia
pode até ter finalidades secundárias que dependem das circunstâncias, mas ela
precisa, no fundo, de não ter outro fim que ela mesma. “Foi o tempo que perdeste com
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a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti.” Quer dizer: temos de aceitar
“perder” para que a relação valha. E perder é mesmo perder: não só tempo, mas
também representações prévias, aspirações, projetos, utilidade, vida. O objetivo é
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poder alcançar aquela plena liberdade da definição que Montaigne propõe: “Se me intimam a dizer porque o amava, sinto que só o posso exprimir respondendo: Porque
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era ele. Porque era eu.” A companhia constrói-se, em seguida, na aceitação. Aceitar,
aceitar – que exercício tão difícil. Aceitar a noite e o nada, o silêncio e a demora,
aceitar a graça e a fraqueza, a diferenciação e o desapego. De tudo fazer caminho.
Aceitar ver o todo apenas na parte, na visão incompleta, no gesto inacabado. A
ansiedade de dominar é um equívoco. A companhia é outra coisa: é aceitar que tudo é
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passagem, epifania, revelação que não se toca. E, por fim, a partilha do silêncio.
Como é que percebemos que duas pessoas se acompanham? Pela forma como
conversam? Certamente. Mas talvez ainda mais pela forma como acolhem o silêncio
uma da outra. Entre conhecidos o silêncio é um embaraço, sentimos imediatamente a
necessidade de fazer conversa. Mas quando nos acompanhamos, o silêncio é uma
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compreensão que une.
José Tolentino Mendonça, Expresso − Atual, 29 de junho de 2013, p. 5.
1. O texto refere «três dimensões» da «arte [da] companhia» (ll. 25-26).
1.1. Identifique-as. (1 valor)
1.2. Caracterize-as. (3 valores)
2. Quais os obstáculos à compreensão que são apresentados? (3 valores).
3. Na opinião do autor, o que é compreender? Responda utilizando, se preferir,
palavras do texto. (3 valores)
GRUPO II
Num texto que tenha entre 150 (cento e cinquenta) e 200 (duzentas) palavras, trate
um e apenas um dos dois itens que se seguem. No início da sua resposta, indique o
item que escolheu. (10 valores).
A. Elabore um texto argumentativo, explicando de que forma, na sua opinião, as novas
tecnologias da informação modificam a nossa compreensão do mundo.
B. Elabore um texto argumentativo, no qual apresente a sua opinião sobre o contributo
da universidade, para melhorar a capacidade de nos compreendermos a nós próprios
e de compreendermos o que nos rodeia.
Nota: Para efeito de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por
um espaço em branco, mesmo quando essa palavra integre elementos ligados por hífen
(exemplo: contar-lhe-ei). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente
dos algarismos que o constituam (exemplo: 2014).
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