AMBIENTES DE APRENDIZAGEM COOPERATIVA APOIADOS POR COMPUTADOR PARA A EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA Julio Alberto Nitzke1 e Mára Lúcia Fernandes Carneiro2 ULBRA – Faculdade de Informática2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Pós-Graduação em Informática na Educação Av. Paulo Gama, 110 – Prédio 12201 – sala 810 90046-900 - Porto Alegre, RS [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Tecnologia de Alimentos1 Pós-Graduação em Informática na Educação Av. Bento Gonçalves, 9500 - Campus do Vale 91540-000 – Porto Alegre – RS [email protected] Entre as tendências para a educação de terceiro grau, destaca-se a abordagem construtivista, baseada na Teoria da Epistemologia Genética de Jean Piaget. Este novo paradigma fundamenta-se na noção de que a aprendizagem ocorre pela ação do sujeito sobre o objeto de seu conhecimento, através de sucessivos processos de assimilação. Acrescendo-se a importância das interações sociais para o crescimento cognitivo, tem-se a chamada abordagem socialconstrutivista. Concomitantemente, as tecnologias de informática criaram diversas ferramentas que permitem interações com o próprio equipamento ou com outros usuários, possibilitando o desenvolvimento de uma área de pesquisa conhecida como Aprendizagem Cooperativa Apoiada por Computador (ACAC),a qual pressupõe que se atinge uma aprendizagem de melhor qualidade quando os alunos são expostos a conflitos cognitivos criados a partir de interações sociais entre eles e entre eles e o professor, que assume um novo papel neste processo. Neste trabalho são expostos os fundamentos básicos desta nova abordagem educativa, principalmente no que concerne ao ensino de engenharia. Apresentam-se alguns ambientes de ACAC, bem como os resultados de alguns trabalhos, tanto com educação à distância como no ensino presencial. Além disto, os principais problemas encontrados na implantação destas novas metodologias e algumas sugestões para solucioná-los são discutidos sumariamente. Resumo. Palavras-chave: Aprendizagem cooperativa, Construtivismo, Ambientes de aprendizagem NTM - 400 1. INTRODUÇÃO Depois de passarmos pela revolução copérnica, pela cartesiana e pela darwinista, alguns estudiosos consideram estarmos na era da revolução sistêmica (que acabou com a fragmentação, a compartimentalização e ditadura do enciclopedismo) porém, outros como o futurólogo Joel de Rosnay [1], Diretor de Perspectiva da “Cite dês Sciences et de l’Industrie de La Villete”, em Paris, já buscam um quinto paradigma para a gestão, falando em um “homem simbiótico”. Embora a previsão de Nicholas Negroponte [2] de que no ano 2000 haveria mais gente se divertindo na Internet do que assistindo redes de televisão não se tenha concretizado, é impossível negar-se que estamos no que ele chamou de “vida digital”, caracterizada pela mudança do átomo para o “bit”. Estes são apenas alguns exemplos das grandes modificações que vêm ocorrendo em nossa sociedade, influenciadas sobretudo pelo grande avanço das tecnologias de informática em todos os campos da vida atual. Teorias que refletem estas modificações, como a da Ecologia Cognitiva de Pierre Lévy ou do Pensamento Complexo de Edgar Morin são amplamente discutidas e aceitas no meio acadêmico, principalmente nas instituições que lidam com o “social”. Esta departamentalização é justamente uma das principais críticas destes pensadores ao sistema atual. Para o Professor Michael Gibtion [3], secretário geral da Associação das Universidades do Commonwealth, os maiores avanços científicos hoje em dia são conseqüência não da colocação de um tijolo sobre o outro dentro de uma disciplina única, mas da resolução de problemas complexos que trespassam diversas disciplinas. Para ele, ou as universidades modificam-se, adaptando-se às mudanças, ou elas serão empurradas para a margem da ciência. Nesta mesma linha, Edgar Morin [4] prega a necessidade de uma “reforma do pensamento”, a qual “permitiria o pleno emprego da inteligência para responder a esses desafios e permitiria a ligação de duas culturas dissociadas. Trata-se de uma reforma não programática, mas paradigmática, concernente a nossa aptidão para organizar o pensamento” (p.20); e para que a reforma do pensamento seja possível, é necessária a reforma da Universidade. No Brasil, o MEC já percebeu a necessidade de realizar estas modificações no sistema universitário do País e tem tentado enquadrá-las em suas diretrizes para os diversos cursos. Em Engenharia, apesar de encontrar-se apenas ao nível de proposta, percebe-se uma tendência de encampar uma formação mais “complexa”. Paralelamente às competências e habilidades convencionais [5], espera-se que o engenheiro também seja capaz de : comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; atuar em equipes multidisciplinares; compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais; avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental. A ABENGE [6] também já atentou para as características da nova sociedade, e conseqüentemente do futuro mercado para os engenheiros, e inclui diversas aptidões não tradicionalmente associadas ao ensino de engenharia como fundamentais ao perfil do engenheiro deste século. Vários trabalhos [7];[8];[9] têm mostrado que o ensino tradicional de engenharia, com todas suas nuances, não consegue dar conta das novas exigências da sociedade e do mercado. Uma nova postura frente aos alunos, novas relações entre alunos–alunos e alunos-professores, uma “didática” atualizada, o incorporar das novas tecnologias, em suma, um novo paradigma para a engenharia está sendo demandado. A aplicação da Teoria da Epistemologia Genética de Jean Piaget à educação, e as posteriores abordagens social-construtivistas, que resultaram na Aprendizagem Cooperativa e posteriormente na Aprendizagem Cooperativa Apoiada por Computador (ACAC) são algumas das alternativas de resposta a este problema, e serão discutidas nas próximas seções. 2 APRENDIZAGEM COOPERATIVA APOIADA POR COMPUTADOR (ACAC) 2.1 Aprendizagem x Ensino A expressão ensino-aprendizagem é um dos jargões mais freqüentemente utilizado nos trabalhos que discutem pedagogia ou didática, não só em engenharia, mas em qualquer área do conhecimento. Porém, o que realmente significa ensino-aprendizagem? Por muitos séculos tem-se acreditado que o conhecimento é como algo fluído, que possa ser repassado de um professor de “magno saber” para um aluno que nada sabe. Em outras palavras, acredita-se que é possível um professor ensinar (da origem latina “insignare”, que significa a transmissão do conhecimento, de informação ou de esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação e à instrução) um aluno, sendo esta a base epistemológica da educação, em todos os níveis, na maioria das instituições atuais. Os estudos científicos de Jean Piaget, realizados no século passado, sobre a maneira pela qual o ser humano adquire conhecimento, apontam para outra direção. Em sua Epistemologia Genética [10], Piaget considera que o desenvolvimento cognitivo ocorre como conseqüência de uma interação entre o sujeito e o objeto fruto de seu interesse. O cérebro humano funciona baseado em esquemas de significação, os quais estão em permanente adaptação através de processos contínuos e simultâneos de assimilação (os esquemas do sujeito modificam-se para incorporar os elementos do objeto) e acomodação (os elementos do objeto são modificados pela ação do sujeito). Assim, para o crescimento cognitivo é necessário que ocorra um desequilíbrio neste processo, o que ocasionará o aparecimento de novos esquemas a partir daqueles já existentes, desencadeando uma espiral crescente ligada a inúmeras outras, através das teias de significação individuais. Neste contexto, a aprendizagem surge como um processo individual que ocorre internamente no sujeito. NTM - 401 Traduzindo-se estes conceitos para o plano pedagógico, percebe-se que a figura de um professor que “ensina” um aluno torna-se incoerente e um novo papel é designado ao professor. Nesta visão, o professor passará a auxiliar, incentivar e proporcionar ao aluno a “construção” de seu conhecimento, razão pela qual a aplicação da teoria piagetiana à educação leva o nome de Construtivismo. Considerando-se serem basicamente estas as duas principais correntes pedagógicas existentes no momento, em nossa sociedade ocidental, o termo ensino-aprendizagem somente justifica-se como uma espécie de “caminho do meio”, o qual não será trilhado no presente trabalho. Em função de sua base construtivista, será adotada a promoção da aprendizagem, como vista pela teoria de Piaget, como principal função da educação, neste caso, especificamente em engenharia. 2.2 A Aprendizagem Cooperativa Na sociedade em que vivemos, tenhamos uma “vida digital” ou não, o peso da influência do social, ou da cultura no desenvolvimento pessoal é cada vez mais considerado. Os pensadores atuais, entre os quais podem ser citados Pierre Lévy, Edgar Morin e Humberto Maturana classificam como fundamental esta importância. No estabelecimento de sua teoria sobre a Ecologia Cognitiva, Lévy [11] chega a afirmar que: “a inteligência ou cognição são o resultado de redes complexas onde interagem um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos. Não sou "eu" que sou inteligente, mas "eu" com o grupo humano do qual sou membro, com minha língua, com toda uma herança de métodos e tecnologias intelectuais (dentre as quais o uso da escrita)(p.135).” Piaget, que tem sido criticado por não ter privilegiado o social no desenvolvimento cognitivo, também considerava a importância das interações; para ele, “é precisamente a permuta constante de pensamentos com os outros que nos permite descentrar e assegurar a possibilidade de coordenar interiormente as relações que emanam de pontos de vista distintos”. Em seu livro Estudos Sociológicos[12], Piaget busca uma explicação sociológica em contraposição à explicação psicológica do crescimento cognitivo. Permanece o conceito básico da ação do sujeito sobre o objeto, com a diferença que agora o “eu” transforma-se em “nós” e que as ações dão lugar a interações ou “condutas se modificando umas às outras, ..., ou formas de cooperação, quer dizer operações efetuadas em comum ou em correspondência recíproca” (p. 22). Prosseguindo com os trabalhos de Piaget, Perret-Clermont [13] concentrou-se na influência das interações sociais no desenvolvimento cognitivo , a partir dos resultados de Doise & Mugni [apud Dillembourg, 14], que mostraram que, em certas condições, o trabalho de pares era melhor do que dos indivíduos. Destas considerações, podese depreender que a aprendizagem acontece no interior de cada indivíduo, mas que pode ser incentivada pelas trocas sociais, isto é, atribui às interações sociais ou à cultura um papel preponderante no desenvolvimento cognitivo do sujeito. Este é o princípio básico da Aprendizagem Cooperativa, que neste caso segue uma abordagem sócioconstrutivista [Ref.14]. Existe uma grande polêmica, tanto a nível internacional [15], como no Brasil [16], sobre a utilização do termos aprendizagem cooperativa e aprendizagem colaborativa. Aparentemente, na língua inglesa, os principais pesquisadores têm utilizado o equivalente a aprendizagem colaborativa, deixando cooperativa para a área do trabalho. Nossa opção atual recaiu sobre aprendizagem cooperativa em virtude da forte base piagetiana de nossos trabalhos, uma vez que o construto “cooperação” tem um significado específico nesta teoria. Como já discutido anteriormente, o termo cooperação enfatiza a realização de um trabalho em conjunto, não a simples aglutinação de trabalhos individuais. Esta definição é fundamental pois pressupõe que o sujeito encontre-se em um estágio de desenvolvimento no qual ele seja capaz de realizar operações de reciprocidade, sem as quais ele não é capaz de descentrar-se. E, para Piaget [17], enquanto os sujeitos não ultrapassarem seu período de pensamento egocêntrico, estaremos “em presença de dois indivíduos, incapazes de se compreenderem, na medida em que cada um tem o hábito de pensar e de falar para si mesmo” (p.73), tornando impossível a cooperação. É importante salientar-se, que mesmo utilizando um outro termo, o que se pretende é o mesmo significado atribuído por Roschelle [apud Ref.14] à colaboração: “...uma atividade coordenada e síncrona que é o resultado de uma tentativa contínua de construir e manter uma concepção compartilhada de um problema”. Com esta definição fica explícita a necessidade de algo a ser realizado em comum, para o que será necessária uma intensa negociação, uma vez que a solução deverá ser compartilhada e não “colada”. 3. AMBIENTES DE ACAC As seções anteriores tiveram a intenção de sublinhar a importância da opção por uma determinada epistemologia na criação ou escolha de uma determinada metodologia ou ambiente de trabalho para a educação. Consideramos isto de suma importância, principalmente ao tratar-se da formação de engenheiros, que, na maior parte dos casos, é realizada por outros engenheiros. Estes, muito raramente tiveram alguma formação pedagógica, ou até mesmo dedicaram alguns instantes de seu tempo para avaliar qual o seu papel como professor ou o que significa aprendizagem. O quadro mais comum é uma grande preocupação com a quantidade de material a ser repassado a seus alunos, com algumas tentativas de aperfeiçoamento do padrão estético das informações transmitidas. As tecnologias da informática servem perfeitamente para esta finalidade, com sua capacidade de acrescentar cores, movimento e sons ao NTM - 402 repasse de informações. Para nós, no entanto, esta é uma grande sub-utilização das potencialidades oferecidas para o aprimoramento da aprendizagem. Justamente pensando numa utilização inteligente das tecnologias de computação têm sido desenvolvidos os ambientes de ACAC – Ambientes de Aprendizagem Cooperativa Apoiada pelo Computador. Estes ambientes usufruem não só da armazenagem de informações mas principalmente, da comunicação e interação entre pessoas a uma velocidade, eficiência e custo não alcançados pelos outros meios existentes, para promover a aprendizagem cooperativa. Neste contexto, os ambientes ACAC caracterizar-se-iam por uma abordagem social-construtivista, cujos pressupostos básicos podem ser sumarizados pela importância da contribuição do grupo na construção individual do conhecimento pelo sujeito. Os ambientes de ACAC têm sido mais empregados para suporte à educação a distância (EAD), mas a utilização para o ensino presencial também está prevista. Visando-se o ensino de graduação de engenharia foram selecionados, entre os inúmeros disponíveis, ambientes em português e de acesso livre para as universidades. A Figura 1 apresenta uma ilustração baseada no modelo para o processo de aprendizagem proposto por Souza [18] para ambientes com uma abordagem construtivista de aprendizagem. As ferramentas e recursos mais utilizados são editores de textos e hipertextos, fóruns de discussão, correio eletrônico, quadros compartilhados (whiteboards), aplicativos de vídeo, etc, e variam em cada ambiente, para atingirem-se as finalidades propostas, e a adequação de cada ambiente, de acordo com este modelo será o enfoque da análise a seguir. Identificação do problema ß Exposição do problema ou desafio ß Eliminação de dúvidas ß Confirmação da compreensão Busca ou coleta de dados ß Consulta e busca de materiais ß Contacto com especialistas ß Manipulação dos dados Análise ß Filtragem das informações ß Tomada de conclusões Síntese ß Construção da síntese ß Discussão interna dos resultados Formalização ß Disponibilização do trabalho ß Discussão dos resultados Validação ß Realização de experimentos ß Avaliação final Figura 1- Modelo para o processo de aprendizagem 3.1 Descrição dos ambientes AulaNet. O AulaNet (http://guiaaulanet.eduweb.com.br) é um ambiente de aprendizagem cooperativo baseado na Web, desenvolvido no Laboratório de Engenharia de Software (LES) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que tem como objetivo a criação e assistência de cursos a distância. Segundo seus idealizadores, o ambiente foi construído sob uma abordagem cooperativa para a instrução baseada na Web, procurando migrar para um modelo de “comunidade dinâmica para aprendizagem”. Figura 2 -Tela inicial do ambiente AulaNet NTM - 403 No AulaNet existem três classes de “atores” participantes do processo de aprendizagem: Administrador, Aluno (denominado Aprendiz) e Professor (Autor). Os recursos do ambiente (Didáticos, de Avaliação, Administrativos e Fixos), ao serem selecionados pelo autor, são convertidos em serviços suportados pelo sistema. O AulaNet integra um conjunto de ferramentas de software, algumas do tipo freeware (a maioria disponível na Internet), outras desenvolvidas pela equipe do LES. Os mecanismos do AulaNet, vêm classificados em três grupos: • Mecanismos de Comunicação: proporcionam recursos para a comunicação entre o professor e os alunos e entre alunos, através de correio eletrônico, grupo de discussão, grupo de interesse e debate (via videoconferência com o programa CuSeeMe). • Mecanismos de Coordenação: propiciam recursos para o planejamento de tarefas e Avaliação. Utilizando os recursos de agenda, notícias do curso (ambos baseados em tempo), prova, trabalho e exercício (baseados em competência). • Mecanismos de Cooperação: provêm os meios para a cooperação entre o professor e os alunos e entre alunos. Nesse caso, cooperação deve ser entendida como a preparação do material que os alunos consumirão e também, como a permissão para que outras pessoas (outros professores e alunos) possam preparar materiais que poderão ser incorporados ao curso. Eureka. O Eureka (http://www.lami.pucpr.br/eureka/paginainicial.asp) é um projeto de pesquisa desenvolvido no Laboratório de Mídias Interativas (LAMI) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com o objetivo de implementar um ambiente baseado na Web para aprendizagem cooperativa. Tem o objetivo de promover educação e treinamento à distância usando a Internet como meio de criação de comunidades virtuais que participam de cursos que tradicionalmente são presenciais. Ele integra diversas funções em um mesmo ambiente: Fórum de discussões, Chat-room, Conteúdo, Correio eletrônico, Edital, Estatísticas, Links, Participantes e outros, permitindo a comunicação, administração e suporte ao conteúdo. Na opinião de seus criadores, esses módulos possibilitam a interatividade entre o grupo de participantes do curso, permitindo a construção conjunta do conhecimento e o ensino colaborativo.A administração e a coordenação do sistema são divididas em três níveis de usuários: Administradores, Tutores e Participantes. O Eureka possui um usuário Administrador padrão, que tem a função de criar outros administradores e de criar cursos e respectivos tutores de cursos. Os tutores são responsáveis pelo gerenciamento das informações do Curso, como Edital, Conteúdo, Programa e Descrição. Os participantes podem acessar todos os módulos do sistema, interagindo e cooperando com os demais para o desenvolvimento do Curso (Fig.3) Eureka - Ambiente cooperativo de aprendizagem baseado na Web FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO Figura 3 - Módulos disponíveis no Eureka (versão 2.1) Figura 4 – Tela de apresentação do ambiente A Feira NTM - 404 Funções Administrativas e Ajuda CBT WBT Perfil do Participante Links de Interesse Fórum de Discussões Estatísticas Participantes Correio Eletrônico ASSÍNCRONA Informações do curso Sala de Chat SÍNCRONA CONTEÚDO A Feira. Diferentemente dos descritos anteriormente, este ambiente (http://www.ufrgs.br/tecvege/feira/) foi criado para dar suporte a aulas presenciais (Fig.4), e não à EAD. Na realidade é mais uma metodologia [19] do que um ambiente pronto, pois apresenta apenas uma estrutura básica de suporte à domínios de conhecimento transdisciplinares, que vai sendo construída cooperativamente pelos usuários. As seções da versão atual são: Matérias-primas, Produtos, Operações Unitárias, Feirantes, Links e Ajuda, disponibilizadas através de hipertextos. A única ferramenta de comunicação é uma lista de discussão disponibilizada por correio eletrônico. Ambiente ProInfo. O ambiente para o Curso a Distância do Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo) do MEC (http://cursoead.proinfo.gov.br/) (Fig. 5) foi desenvolvido para apoiar a Formação Continuada dos Multiplicadores vinculados ao projeto, mas atualmente está disponível para outras utilizações. O ambiente é estruturado nos seguintes Módulos: Biblioteca, Oficinas e Seminários e Projetos de Aprendizagem. Diversos grupos participam deste ambiente: os alunos (multiplicadores ou futuros multiplicadores), orientadores (professores que acompanham os alunos nos Seminários e na construção dos Projetos de Aprendizagem), oficineiros (professores responsáveis pela elaboração e acompanhamento das atividades desenvolvidas nas Oficinas) e plantonistas (monitores para apoio às atividades desenvolvidas pelos alunos). Figura 5 – Tela inicial de acesso ao ambientes Proinfo Um grupo, denominado Articulação, foi especialmente criado para gerenciar o ambiente, tendo a responsabilidade de não só garantir o andamento do curso, através da manutenção dos recursos oferecidos, mas também trabalhar como equipe de suporte aos docentes e alunos. Dentro de uma ótica construtivista, o ambiente tem seu principal ponto de apoio na elaboração de projetos pelos alunos. As oficinas e seminários servem, então, para dar suporte para a realização dos projetos pelos participantes. TelEduc. O TelEduc (http://hera.nied.unicamp.br/~teleduc) (Fig.6) é um ambiente para a criação, participação e administração de cursos na Web. Ele foi concebido tendo como alvo o processo de formação de professores para informática educativa, baseado na metodologia de formação contextualizada desenvolvida por pesquisadores do NIED (Núcleo de Informática Aplicada à Educação) da Unicamp. O ambiente TelEduc foi desenvolvido de forma participativa, ou seja, todas as suas ferramentas foram idealizadas, projetadas e depuradas segundo necessidades relatadas por seus usuários. Figura 6 - Tela de abertura do ambiente TelEduc O elemento central do TelEduc é a ferramenta que disponibiliza Atividades. Isso possibilita a ação, onde o aprendizado de conceitos em qualquer domínio do conhecimento é realizado a partir da resolução de problemas. Como subsídio, podem ser utilizados diferentes materiais didáticos como textos, software, referências na Internet, dentre NTM - 405 outros, que podem ser disponibilizados para o aluno através das ferramentas Material de Apoio, Leituras, Perguntas Freqüentes, etc. A intensa comunicação entre os participantes do curso e ampla visibilidade dos trabalhos desenvolvidos também são pontos importantes. Para apoiar esta comunicação, foi desenvolvido um amplo conjunto de ferramentas de comunicação como o Correio Eletrônico, Grupos de Discussão, Mural, Portfólio, Diário de Bordo, Bate-Papo etc., além de ferramentas de consulta às informações geradas em um curso como a ferramenta Intermap, Acessos, etc. 3.2 Análise dos ambientes Os cinco ambientes apresentados podem ser divididos em três categorias considerando suas características e recursos oferecidos. O Aulanet e o Eureka poderiam ser caracterizados como ambientes para learningware, termo que combina as características de courseware com as várias formas de interação (interação entre aprendizes e a interação aprendiz/instrutor). O principal enfoque destes ambientes é permitir uma interação entre os participantes na discussão de materiais previamente preparados pelo professor. O ambiente é muito eficaz e fácil para operacionalizar dentro de um contexto de ensino, que privilegia a exposição de materiais e o repasse de informações. Uma abordagem construtivista da aprendizagem, porém, encontra dificuldade em moldar-se ao sistema. No Aulanet, a participação dos alunos ocorre quase que somente através da realização de trabalhos, exercícios e provas, não compartilhados com os colegas, como seria esperado em uma aprendizagem cooperativa. Estes recursos são utilizados essencialmente como forma de avaliação, centrados em certo x errado. Já no Eureka, é possível uma maior participação, porém ainda dentro de um contexto de “treinamento”, como explicitado nos módulos de conteúdo (“WBT” e “WCT”). O Proinfo e o TelEduc possuem uma estrutura mais aberta, que também poderia ser utilizada para o instrucionismo, porém possibilita um processo de aprendizagem mais de acordo com o previsto no modelo apresentado na Fig.1. Ambos partem das construções dos alunos, disponibilizadas a todos os participantes, como fonte para os debates e inspiração para outros trabalhos. Os recursos de Webfólios (ou Portfólios) são utilizados para a publicação dos trabalhos, e fóruns de discussão para apoiar os debates. Apesar de todos os ambientes poderem ser utilizados como suporte às aulas presenciais, a Feira é o único projetado para isto, o que fica bem caracterizado pela ausência de ferramentas computacionais, excetuando-se o correio eletrônico. Isto, todavia, não impede a cooperação entre os alunos e a construção de um conhecimento compartilhado. Nas experiências realizadas com a utilização destes ambientes, em metodologias presenciais ou mistas, percebe-se que os alunos ainda preferem muito mais o contato pessoal a recorrer aos fóruns e mensagens eletrônicas, demonstrando que, apesar de relativamente bem familiarizados com as novas tecnologias, elas ainda não os constituem. Nesta mesma linha, percebe-se, nos cursos essencialmente desenvolvidos a distância, o prazer proporcionado pela possibilidade de “ver” ou mesmo “ouvir” o seu interlocutor, daí a importância da inclusão de mais recursos para apoiar uma comunicação multimídia, como a videoconferência. O apego aos antigos paradigmas também é percebido na introdução das práticas construtivistas, que obrigam o aluno a pensar e tomar decisões ao invés de copiar, memorizar e repetir informações. Os primeiros momentos são sempre traumáticos, porém, após um período de adaptação, o resultado tem sido sempre favorável. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática com os diferentes ambientes de ACAC demonstrou a importância do planejamento prévio no sucesso da introdução de uma nova metodologia. O professor deve ter muito claro quais são os objetivos a serem atingidos com sua disciplina. Ele também deve definir qual a visão epistemológica sobre sua prática educativa, o que significa ensinar/aprender e procurar conhecer as características e particularidades de seus alunos. De posse de todas estas informações é que ele poderá optar por uma determinada abordagem pedagógica e escolher que tipo de ambiente melhor se adapta a suas intenções. Do contrário o professor estará realizando uma “pseudo-modernização”, que muito facilmente seduz pelo glamour a ela associado, mas que na realidade não provoca nenhum ganho cognitivo nem para ele, muito menos para seus alunos. 5 [1] [2] [3] [4] [5] [6] REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS J. D. ROSNAY and J. N. RODRIGUES, "À procura do 5º paradigma para a gestão", disponível na Internet: http://www.janelanaweb.com/digitais/rosnay.html, 23/01/2001 N. S. NEGROPONTE, A vida digital. São Paulo: Companhia das letras, 1996. The Economist, “The knowledge factory - a survey of universities,” in The Economist. Londres, 1997. E. MORIN, A cabeça bem-feita, 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 200. MEC, "Diretrizes Curriculares para os cursos de Engenharia", disponível na Internet: http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/curdiretriz/engenharia/eng_dire.rtf, 01/06/2001 ABENGE, “Perfil do engenheiro que o Brasil deve formar,” Jornal da ABENGE, vol. Ano 3, no.26 - julho/1995. 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