Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 A TUTORIA COMO UM PROCESSO FORMATIVO/COLABORATIVO DE PROFESSORES EM CONTEXTO ESCOLAR – DA INTERVENÇÃO À REFLEXÃO SANTOS, Maria Manuela Ventura ([email protected]) Escola Secundária Cacilhas -Tejo Os desafios colocados aos professores, hoje em dia, evocam a necessidade de envolvimento em processos colaborativos de formação (Hargreaves, 1998), com vista a superar muitos dos problemas enfrentados no quotidiano. Vários estudos salientam a necessidade de promover a colaboração e a reflexão entre os professores (Garcia, 1995; Hargreaves, 2001; Caetano, 2003), de modo a proporcionar a análise em torno de experiências e processos de formação/investigação/acção. Esta comunicação visa abordar o conceito e a prática de tutoria e traçar a sua importância como estratégia na formação de professores. Acentua-se a necessidade de um processo de formação que possibilite o desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre a prática profissional, a construção e consolidação de espaços de partilha de saberes. Apresenta-se um estudo de caso realizado no seio de um grupo de professores de uma turma PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação), centrado no processo colaborativo que aí se desenvolve entre pares de professores - tutorias de pares - de forma regular e sistemática, na planificação do processo de ensinoaprendizagem que desenvolvem na turma. Pretende-se descrever e compreender as dinâmicas de formação que um trabalho colaborativo entre pares pode proporcionar e perceber como cada sujeito as interpreta e as integra nas suas próprias práticas. PALAVRAS-CHAVE Formação em contexto de trabalho; Processo colaborativo; Tutoria de pares; Reflexão/mudança/desenvolvimento profissional. I. FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO I.1. As dinâmicas colaborativas Num tempo de plena mudança a nível curricular e educativo, cada vez mais se torna imperioso o trabalho colaborativo como estratégia promotora de aprendizagens Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 efectivas dos alunos e como estratégia de trabalho para o caminho de uma escola reflexiva (Alarcão, 2001). O trabalho colaborativo diz respeito ao trabalho conjunto entre docentes - análise e reflexão conjunta das situações concretas da acção docente (Roldão, 2007). É necessário, pois, encontrar mecanismos que permitam não só o desenvolvimento de competências de trabalho colaborativo, como também de hábitos de reflexão. É através do trabalho em equipa e colaborativo que a formação acontece: a decisão sobre as estratégias a utilizar, as actividades a desenvolver, enfim, sobre o que, a pouco e pouco, se concretiza e desenvolve na sala de aula. A colaboração é, sem dúvida, um processo dinâmico onde são essenciais a partilha de objectivos e a co-colaboração e constrói-se a partir de processos que estimulem a comunicação entre os diferentes agentes educativos, de modo a fomentar uma cultura de escola onde exista a prática reflexiva colaborativa. Com vista a superar muitos dos problemas enfrentados no quotidiano pelos professores, é necessário implementar - hábitos de trabalho em equipa – “processos colaborativos de formação assentes em processos de colegialidade ou em dinâmicas planeadas e estruturadas em articulação com as instâncias de gestão escolar” (Freire, 2001: 132). Acentua-se, portanto, a necessidade dos professores se formarem num processo formativo-colaborativo de modo a contribuir para o seu desempenho profissional – processo de formação que possibilite o desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre a prática profissional. Reconhece-se que o professor tem um conhecimento próprio e uma capacidade reflexiva e de acção quanto à sua prática e ao seu desenvolvimento profissional (Elbaz, 1983; Schön, 1983) e que a participação institui-se como um requisito do profissionalismo responsável. Deve-se, pois, apostar no desenvolvimento de dispositivos de formação, que tenham em conta as necessidades dos professores, que visem articular produção e prática, a reflexão e a análise em torno de experiências e processos de formação/investigação/acção. Consideramos que os professores devem, efectivamente, reflectir sobre a prática pedagógica, de modo a que ela seja continuamente reconstruída; essa postura reflexiva promove o diálogo, propicia momentos de partilha e cria espaços de troca de experiências (Perrenoud, 2002a; Amado, 2001a). O professor prático-reflexivo reflecte sobre as práticas e analisa os seus efeitos, no sentido de superar muitas situações problemáticas vividas nas escolas. “Muitos dados evidenciam que uma característica Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 2 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 das escolas eficazes consiste na importância que concedem aos professores para reflectirem sobre a sua prática” (Ainscow & all, 2001: 104). Os efeitos da prática reflexiva são, sem dúvida, a mudança, a qual não pode ser forçada, mas, pelo contrário, interiorizada (Day, 2001). A reflexão desenvolvida pelos professores em torno da sua actividade profissional - desde a sua prática lectiva até aos grandes objectivos da educação - é considerada por diversos autores (Kelchtermans, 1995, Mezirow, 1991, Schön, 1983, 1987, Day, 2005) fundamental para um melhor conhecimento de si mesmos e para o seu desenvolvimento profissional. Day (2005) refere ainda que a investigação-acção colaborativa possibilita aos professores a participação no seu desenvolvimento profissional mediante a investigação sistemática da prática. Ross e Regan (1993, cit., Lima, 2002) afirmam também que a partilha de experiências profissionais em grupos colegiais estimula a progressão dos professores ao longo dos diferentes estádios do seu desenvolvimento profissional. I.2. A tutoria como estratégia formativa I.2.1. O conceito de tutoria A tutoria como estratégia formativa, além de contribuir para uma melhor consecução das aprendizagens, propicia um ambiente de cordialidade e confiança, um espaço para o encontro a análise e a reflexão interpessoal e um marco educativo para a participação e o diálogo (García Fernández, 2006). Permite também a discussão dos conteúdos, a procura de soluções para a realização das actividades e o acompanhamento de pessoas ou equipas para o desenvolvimento dos seus potenciais e dos saber-fazer no quadro de objectivos profissionais. É uma actividade colectiva orientada para uma mesma direcção, para um objectivo partilhado por todos, trazendo mais-valias a cada membro do grupo (Johnson & Johnson, 1990a). A tutoria de pares – uma forma de aprendizagem cooperativa – promove a reflexão em pares/pequeno grupo potencializando (i) a troca de conhecimentos, (ii) os esforços individuais de forma partilhada, (iii) a reflexão subsquente em torno dos processos e resultados obtidos e (iv) um compromisso mútuo para atingir o mesmo objectivo. Segundo Johnson & Johnson (1990a) os grupos colaborativos promovem a aprendizagem de todos os elementos do grupo adquirindo um compromisso pessoal e Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 3 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 com os outros para cumprir objectivos comuns. Graças a uma participação activa, os membros dos grupos podem melhorar os seus conhecimentos e adquirir novos saberes (Braudit, 2005); as discussões e tomadas de decisão no seio dos grupos faz com que as pessoas se impliquem mais nos problemas a tratar ou nas tarefas a realizar (Lewin, 1947). A tutoria de pares funciona como uma estratégia pedagógica que consiste num sistema organizado de apoio pedagógico e socio-afectivo entre várias pessoas. Mais do que privilegiar um caminho, a tutoria consiste na definição de um caminho, de um trajecto e no acompanhamento de uma viagem a prosseguir. Antes de iniciar a referida viagem é necessário iluminar a situação de partida - uma fase de exploração do real, do problema, da necessidade - e determinar a situação de chegada - colaborar na consecução de objectivos que partilham, caminhar juntos rumo à resolução de problemas. Durante o caminho a percorrer - uma fase de realização em que o ritmo e a duração serão em função dos objectivos definidos - é necessário clarificar (i) situações aspectos positivos e negativos, dificuldades encontradas para, em função destas, introduzir correcções oportunas, questionar, reformular - uma fase de balanço. Estas experiências de aprendizagem colectivas - situações de trabalho em comum geradoras de conhecimento, dinamismo e descoberta – funcionam como momentos cruciais para a exploração de novas vias – para pôr em causa as práticas habituais e ousar construir o novo (Gilles Amado, 2002). É desejável que os professores trabalhem em equipa, já que é difícil inovar sozinho e essa dificuldade pode ser atenuada se forem vários a empreendê-la. Se os animar um objectivo comum: (i) aprender a organizar-se (ii) aprender a interagir (iii) aprender a procurar soluções em conjunto - um modo de funcionamento implicando cada um na tarefa comum, de modo a que esta implicação seja um meio de acesso para o objectivo que se propõe atingir (Meirieu, 1996b). A tutoria de pares dá a possibilidade ao professor, de, em conjunto com outros colegas, questionar, transformar, enriquecer e melhorar as suas práticas educativas pondo em comum as experiências. «Estrutura-se como um processo de trabalho articulado e pensado em conjunto, que permite alcançar melhor os resultados visados, com base no enriquecimento trazido pela interacção dinâmica de vários saberes específicos e de vários processos cognitivos em colaboração» (Roldão, 2007: 27). Que papel assume, pois, o investigador – “colaborador”? Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 4 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Ao planear actividades, ao identificar recursos ou estratégias necessárias a actividades de aprendizagem bem-sucedidas, ao estruturar aulas que integrem estratégias de aprendizagem participativa, auxilia os professores-pares a: (i) desenvolver as estratégias para implementar em sala de aula, (ii) discutir e compartilhar práticas de ensino e (iii) enriquecer a aprendizagem do aluno pelo uso da aprendizagem participativa. Deve ainda ser capaz de: (i) grangear a confiança dos professores-pares (ii) criar soluções para as necessidades sentidas (iii) acompanhar o trabalho que está a ser desenvolvido em contexto de sala de aula (iv) proporcionar um ambiente acolhedor de aprendizagem em parceria. E que características, com vista ao sucesso, devem possuir os professores-pares? (i) sentir a necessidade e o propósito do trabalho a desenvolver. (ii) comprometer-se com a aprendizagem, desejando experimentar coisas novas. (iii) interessar-se por novas aprendizagens que incorporem a procura de novas estratégias. II. UM PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO EM CONTEXTO DE ESCOLA – UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA Com o projecto de investigação em curso procuramos implementar, no âmbito da Formação Contínua, em contexto de escola, centrado num Conselho de Professores de uma turma PIEF. - um processo colaborativo/formativo, dinâmicas formativas entre pares de professores que colaboram sistematicamente na planificação do processo de aprendizagem que desenvolvem na turma; os professores, ao indagarem sobre a sua própria prática, reflectindo, poderão melhorar a acção e os seus conhecimentos e competências como resultado da formação (Russ-Eft & Preskill, 2001) e adoptar uma atitude investigativa, como construtores de conhecimento. II. 1. Tutoria de Pares – aprendizagem colaborativa As sessões tutoriais entre pares de professores contribuem para o desenvolvimento de competências colaborativas, através de uma construção participada – a partilha, a reflexão e as interacções profícuas. O momento de tutoria semanal visa, em conjunto, planificar e desenvolver actividades de aprendizagem, assim como reflectir sobre as mesmas. Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 5 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Aquando da preparação de uma unidade de aprendizagem em “Viver em Português”, numa das primeiras sessões de tutoria, os professores decidiram em conjunto, numa perspectiva colaborativa, trabalhar um tema: a escrita colaborativa. Começaram então a planificar-se as actividades relacionadas com o objectivo a atingir e a discutir estratégias a implementar em sala de aula. A discussão orientou-se por alguns critérios fundamentais, a saber: 1. tornar os conteúdos apelativos e interessantes do ponto de vista do aluno; 2. utilizar estratégias diversificadas e criativas; 3. implementar o trabalho colaborativo – recurso a actividades de trabalho de grupo; 4. promover a participação activa do aluno na construção da aprendizagem. Nas sessões de tutoria foi-se passando, gradualmente, de um nível descritivo, para um nível em que se interpretava a acção e os seus resultados, procurando justificações, sugerindo alternativas, num pleno e consequente exercício da capacidade reflexiva - “capacidade de pensar autónoma e sistematicamente” (Alarcão, 2003: 46). Sem dúvida que a tutoria de pares propicia o desenvolvimento profissional incentivando a reflexão e a análise da prática de ensino, encorajando a colaboração entre os professores. É elaborado um plano de trabalho - esse plano é executado e os seus resultados são avaliados; dessas avaliações surgem muitas vezes novas ideias para novos projectos e novas investigações. Todas as oportunidades de mobilizar saberes e experiências devem ser tidas como fundamentais, tornando-se como referenciais da formação e investigação Qualquer caminho é um caminho conjunto que partilha preocupações e sentidos. O quadro da página seguinte mostra as etapas do processo de formação, em parceria, que se constituiu em espaço de análise, investigação, reflexão, intercâmbio de experiências, cooperação e integração entre teoria e prática: Aprendizagem em parceria: As etapas do processo: Unidade de Aprendizagem “A escrita colaborativa” 1- preparar e explicitar o trabalho a As professoras em tutoria: desenvolver – Caracterização da situação Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 6 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 1. Identificam objectivos que consideram problema importantes - definem os objectivos fundamentais da sua intervenção: - Desenvolver competências de escrita; - Fomentar a colaboração entre os alunos; - Desenvolver tarefas variadas e criativas de escrita. 2. Conceber um plano de trabalho – 2. Elaboram um plano de trabalho para discussão conjunta, intercâmbio de ideias atingir os objectivos definidos – conjunto - fazer o caminho e reflectir de actividades para os alcançar: continuamente sobre o mesmo Planificação das aulas – actividades a desenvolver em contexto de sala de aula – actividades lúdicas: - Construção de um texto alusivo a ima imagem; - Produção de texto com condicionantes; - Acrósticos; - Elaboração de um anúncio publicitário. Construção de um dossiê de escrita criativa. 3. Executar o plano – desenvolvimento 3. Compartilham estratégias de ensino dos trabalhos - Discutir o que se faz como bibliografias ou relatos de experiências e porque se faz – operacionalizar (sobre a colaboração) que ajudem a detalhadamente os procedimentos - passo construir significados, aproximações e pontos de reflexão para as suas práticas a passo pedagógicas. Elaboração do plano de intervenção 4. Reflectir sobre o trabalho realizado - 4. síntese do trabalho desenvolvido Fornecem feedback das aulas ou actividades de aprendizagem - exemplos Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 7 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 de actividades desenvolvidas e materiais construídos - apresentação de alguns trabalhos que estão a ser elaborados pelos alunos na sala de aula. A regulação depende das actividades de reflexão e de planificação feitas em conjunto (preparação da aula, organização da sequência…) (Observei vantagem de estarem duas professoras em parceria pedagógica a conduzir a aula, traduzindo-se numa clara optimização da gestão pedagógica, do tempo e do espaço). 5. Identificar novas questões para 5. Trabalho de pares ou de grupo foi investigação – Planeamento de novas benéfico para a dinâmica das aulas e para acções a melhoria da qualidade educativa? II. 2. TESTEMUNHOS DAS PROFESSORAS As professoras consideram a experiência colaborativa muito rica pela aprendizagem que proporciona, destacando como fundamental a partilha, a entreajuda, a prática da reflexão em grupo. Salientam ainda que este trabalho implica uma interacção contínua, permitindo uma troca e partilha de ideias e experiências sistemática, contribuindo para o seu desenvolvimento profissional e pessoal: “(…) temos as horas de tutoria para nos reunirmos (o par pedagógico) para planificar ” - P1; “(…) nas tutorias planificamos e construímos os materiais, tais como fichas, textos, preparamos filmes, acetatos, projecção de powerpoint” - P2. Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 8 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Na opinião das professoras os alunos também colhem benefícios, uma vez que têm duas professoras em sala de aula, para o esclarecimento de dúvidas - para um acompanhamento individual e centrado nas necessidades específicas de cada aluno. “(...) nós partilhamos. Não há aquela posição de uma estar a dar a matéria e outra a acompanhar as dificuldades… Não é isso, somos as duas professoras da disciplina. E é isso que os alunos sentem, penso eu” – P1; As professoras da tutoria salientam, ainda, as seguintes mais – valias do trabalho colaborativo: (i) Repercutir-se na aprendizagem dos alunos, contribuir para o sucesso dos alunos (“Conseguimos apoiar mais os alunos” – P1; “O trabalho colaborativo tem mais valias junto dos alunos, porque o trabalho é muito mais enriquecido” – P2). (ii) Proporcionar melhor ambiente de ensino, uma maior satisfação do professor e dos alunos (“Proporciona melhor ambiente de ensino, uma maior satisfação do professor e dos alunos; potencia os interesses e as habilidades que os alunos todos têm” – P2). (iii) Potenciar o desenvolvimento pessoal e profissional (“é um enriquecimento pessoal e profissional ímpar, que não se pode comparar com nada; acho que crescemos muito, muito, a nível pessoal e profissional” – P2; “ficamos melhor preparados para enfrentar situações novas…!”– P1; “esta experiência já é um factor de desenvolvimento profissional!” – P2; “eu acho que a nível da equipa, as coisas a funcionarem da maneira como já funcionam, em conjunto, já proporcionam esse desenvolvimento profissional” – P2). EM SÍNTESE Esta experiência está a ser muito gratificante e há já um conjunto de indicadores que levam a crer que está a conseguir alcançar os objectivos que a orientaram – desenvolver competências de trabalho colaborativo e reflexivo entre professoras e, ao mesmo tempo, traduzi-las na optimização do processo de ensino-aprendizagem. Penso que a formação colaborativa pode contribuir para a mudança ajudando os professores a desenvolver capacidades de trabalho colaborativo, reflexivo. Para que a mudança se comece a operar nas práticas dos professores é necessário praticá-la, incentivá-la e reflectir sobre ela em conjunto. É necessário estarmos todos predispostos a aprender, podendo responder assim ao desafio da nossa era, “a sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem” (Alarcão, 2003: 15-16). É necessário investir em processos de desenvolvimento profissional dos professores, incentivar a Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 9 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 reflexão das suas acções pedagógicas, a discussão colaborativa de práticas possíveis e a produção de conhecimentos colectivos (Garcia, 1999). As escolas devem garantir espaços para isso, dando oportunidade ao educador para estar sempre a aprender, a aperfeiçoar-se, a mudar e, assim, a melhorar o ensino e a escola. Apenas uma formação gerada na escola, que envolva e comprometa os professores a trabalharem em grupo, é capaz de conduzir a mudanças e a conquistas significativas. Assim, o traço fundamental de todo o processo investigativo que temos vindo a levar a cabo prenuncia um desenvolvimento de uma cultura colaborativa/reflexiva e do trabalho em equipa, em contexto escolar, partindo-se do pressuposto de que a vivência de uma experiência de formação contínua pela investigação-acção, poderá contribuir para o desenvolvimento do contexto escolar, dos alunos e dos professores. É neste sentido que se torna pertinente, na investigação que estamos a efectuar, apostar na partilha de experiências e de vivências, no confronto de processos e de resultados. Temos também como meta contribuir para conceber e praticar a formação numa dimensão reflexiva. E manifestar espírito de abertura a processos formativos centrados num trabalho de reflexão sobre a prática e o contexto em que a mesma se realiza. Consideramos que as dificuldades, os problemas, as expectativas debatidas e reflectidas em grupo são momentos de formação muito importantes pelas trocas e vivências que propiciam. É fundamental reflectir, de forma contínua, sobre a experiência e sobre o contexto em que a prática ocorre, para se conseguir adaptar e reformular (Day, 2004), pois apenas “a revalorização do conhecimento que brota da prática inteligente e reflectida”, tal como salientam Schön, (1983) e Alarcão (1991), poderá dar respostas às questões educativas que surgem no dia-a-dia das escolas, contribuindo também para desenvolvimento profissional dos professores. A escola terá de funcionar como um lugar de aperfeiçoamento onde se discuta e reflicta sobre a construção do conhecimento, onde os educadores não transmitam apenas conhecimentos, mas que se preocupem também com a formação global dos alunos, de modo a que a educação se torne um processo de formação comum e permanente (Paulo Freire, 1995). Esta concepção de educador pressupõe uma formação contínua e continuada baseada na reflexão crítica, na partilha da prática, num continuum que se estenda por toda a carreira dos professores (Tardif, 2002) e que contribua para uma mudança pessoal e profissional significativa. Maria Manuela Ventura Santos “A tutoria como um processo formativo/colaborativo de professores em contexto escolar – da intervenção à reflexão” 10 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Bibliografia ALARCÃO, I. (1991). “Reflexão crítica sobre o pensamento de Schön e os programas de formação de professores”. In: Cadernos CIDINE, nº1, pp. 5-22. ALARCÃO, I. (2001). A Escola Reflexiva. in Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. São Paulo: Artmed Editora Ltda. ALARCÃO, I. (2003). Professores Reflexivos Em Uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez Editora. AINSCOW, M. & all. (2001). Hacia escuelas eficaces para todos. 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