Plano de Manejo Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Olho-de-fogo-rendado São Sebastião do Passé, Bahia, Brasil, 20 de Janeiro de 2014 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 1 PLANO DE MANEJO DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN) OLHO-DE-FOGO-RENDADO CRÉDITOS AUTORAIS: Coordenação Geral: Eliomar Assunção Montenegro – Proprietário. Coordenação Técnica: Sidnei Sampaio dos Santos - CRBio 59.176/05 D. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN. HISTÓRICO DA REGIÃO ONDE ESTÁ A RPPN: Alberto Cerqueira Valente – Historiador. Licenciatura em História – FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências. HISTÓRICO DE AQUISIÇÃO DA ÁREA, CRIAÇÃO DA RPPN e HIDROGRAFIA. Eliomar Assunção Montenegro – Proprietário. Marlene de Oliveira Montenegro – Proprietária. MAPAS Sidnei Sampaio dos Santos FOTOS Eliomar Assunção Montenegro e Sidnei Sampaio dos Santos Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 2 Sumário LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. 6 LISTA DE TABELAS. ............................................................................................................ 8 LISTA DE MAPAS. ............................................................................................................... 9 LISTA DE SIGLAS. ............................................................................................................. 10 AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... 11 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 12 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13 1. INFORMAÇÕES GERAIS .............................................................................................. 14 1.1 - LOCALIZAÇÃO E ACESSO. ...................................................................................... 14 1.1.1 - Primeiro Trajeto: .................................................................................................. 15 1.1.2 - Segundo Trajeto: ................................................................................................. 16 2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN ....................................... 17 2.1 - HISTÓRICO DA REGIÃO ONDE ESTÁ A RPPN ....................................................... 17 2.2 - HISTÓRICO DE AQUISIÇÃO DA ÁREA E CRIAÇÃO DA RPPN. ............................ 21 3. FICHA RESUMO DA RPPN. ........................................................................................... 23 4. DIAGNÓSTICO - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN OLHO-DE-FOGO-RENDADO .......... 24 4.1 - CLIMA. ......................................................................................................................... 24 4.2 – RELEVO ...................................................................................................................... 25 4.3. GEOMORFOLOGIA E SOLO ....................................................................................... 25 4.4 – HIDROGRAFIA. .......................................................................................................... 28 4.4.1 - RIO JACUÍPE. ....................................................................................................... 29 4.4.2 - RIO POJUCA. ........................................................................................................ 30 4.4.3 - RIO JOANES ......................................................................................................... 31 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 3 4.5 – VEGETAÇÃO. ............................................................................................................. 32 4.6 – FAUNA. ....................................................................................................................... 36 4.7 – VISITAÇÃO. ................................................................................................................ 47 4.8 - PESQUISA E MONITORAMENTO. ............................................................................ 47 4.9 - OCORRÊNCIA DE FOGO. .......................................................................................... 48 4.10 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA RPPN. ........................................................... 48 4.11 - SISTEMA DE GESTÃO. ............................................................................................ 49 4.12 - PESSOAL................................................................................................................... 49 4.13 – INFRAESTRUTURA. ................................................................................................ 49 4.14 - EQUIPAMENTO E SERVIÇOS. ................................................................................ 50 4.15 - RECURSOS FINANCEIROS. .................................................................................... 50 4.16 - FORMAS DE COOPERAÇÃO. ................................................................................. 50 5 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE. .................................................................... 51 6 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO. ........................................................... 52 7 - POSSIBILIDADE DE CONECTIVIDADE. ....................................................................... 53 8 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA. ............................................................................ 54 9 - PLANEJAMENTO. ......................................................................................................... 56 9.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO DA RPPN. .............................................. 56 9.2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. .................................................................. 56 9.3 - ZONA DE PROTEÇÃO. ............................................................................................... 56 9.3.1 - NORMAS PARA ZONA DE PROTEÇÃO. ........................................................... 57 10 - PROGRAMAS DE MANEJO. ....................................................................................... 58 10.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO. ....................................................................... 58 10.1.1 – Objetivos: ........................................................................................................... 58 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 4 10.1.2 – Ações, atividades e normas: ........................................................................... 58 10.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO. .................................................. 58 10.2.1 – Objetivo. ............................................................................................................. 59 10.2.2 - Ações, atividades e normas. ............................................................................ 59 10.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO. ............................................. 60 10.3.1 – Objetivo. ............................................................................................................. 60 10.3.2 – Ações, atividades e normas. ........................................................................... 60 10.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO. .................................................................................. 60 10.4.1 – Objetivos. ........................................................................................................... 61 10.4.2 – Ações, atividades e normas. ........................................................................... 61 10.5 - PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA. ......................................... 61 10.5.1 – Objetivos. ........................................................................................................... 61 10.5.2 - Ações, atividades e normas. ............................................................................ 61 10.6 - PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO. .......................................................................... 62 10.6.1 – Objetivos. ........................................................................................................... 62 10.6.2 – Ações, atividades e normas. ........................................................................... 62 11 - PROJETOS ESPECÍFICOS. ........................................................................................ 63 11.1 - Projeto de Educação Ambiental. ............................................................................ 63 12 - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES E CUSTOS............................................................ 64 13 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ............................................................................ 65 14 - ANEXOS. ..................................................................................................................... 68 14.1 – LISTA DE AVES........................................................................................................ 68 14.2 – “Diálogos de Vária História”; no Diálogo Quinto, de Pedro Mariz. ................... 75 14.3 – PORTARIA DE CRIAÇÃO DA RPPN OLHO-DE-FOGO-RENDADO..................... 76 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Medições georrefeenciadas da RPPN Olho-de-fogo-rendado. Técnicos e proprietário da RPPN (Camisa com imagem do Olho-de-fogo) em campo e no laboratório discutindo os dados....................................................................................... 22 Figura 2. Área de vegetação secundária na RPPN Olho-de-fogo-rendado. ................... 33 Figura 3. Dossel florestal onde há estágio de sucessão secundário avançado. .......... 33 Figura 4. A biriba Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex (Lecythidaceae) e a aroeira Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae). ............................................................ 34 Figura 5. Da esquerda para direita: Cordia nodosa Lam. (Boraginaceae), Heliconia psittacorum L.f. (Heliconiaceae), Lantana camara L., Lantana fucata Lindl (Verbenaceae), palmeira Geonoma sp (Arecaceae), áreas onde esta palmeira é comum, sucupira-azul Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae) e uma das melastomatáceas. RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............................................................ 35 Figura 6. Alguns endêmicos que ocorrem na RPPN. O miudinho Myiornis auricularis (Vieillot, 1818), a cambada-de-chaves Tangara brasiliensis (Linnaeus, 1766), a chocade-sooretama Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 e o picapauzinhoavermelhado Veniliornis affinis (Swainson, 1821)........................................................... 36 Figura 7. Espécies ameaçadas registradas na RPPN. A jandaia-de-testa-vermelha Aratinga auricapillus (Kuhl, 1820), apuim-de-cauda-amarela Touit surdus (Kuhl, 1820). Abaixo macho e fêmea do olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra (Swainson, 1825). .... 37 Figura 8. A andorinha-serradora Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817), andorinha-docampo Progne tapera (Vieillot, 1817). Espécies que realizam movimentos regionais. RPPN Olho-de-fogo-rendado. ........................................................................................... 38 Figura 9. O cardeal-do-nordeste Paroaria dominicana e o chorão Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) espécies cobiçadas na região para a criação em cativeiro. 39 Figura 10. Distribuição da avifauna em relação a sensitividade a distúrbios antrópicos e dependência a habitat florestal (segue Stotz et al., 1996). ........................................... 39 Figura 11. RPPN Olho-de-fogo-rendado em relação a Área Prioritária segundo MMA (2007) e Importante Bird Area (IBAs) (BirdLife International and NatureServe, 2013). . 40 Figura 12. Gato-do-mato Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) fotografado durante os estudos para o Plano de Manejo. ..................................................................................... 42 Figura 13. Preguiça-de-coleira Bradypus torquatus Illiger, 1811 e o mico-de-tufobranco Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) fotografados na RPPN. .............................. 42 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 6 Figura 14. Raposa Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) fotografada durante os estudos para o Plano de Manejo. Havia predado um sapo. .......................................................... 42 Figura 15. Tamandua-mirim Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) registrado pelas Câmeras Trap durante os estudos para o plano de Manejo. .......................................... 43 Figura 16. Tatu-peba Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), também fotografado durante os estudos para o Plano de manejo. .................................................................. 43 Figura 17. Anolis fuscoauratus e o teiú Tupinambis teguixin registrados na RPPN Olho-de-fogo-rendado (Fotos Eliomar Assunção). ......................................................... 44 Figura 18. Chironius fotografada na RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............................... 44 Figura 19. Anfíbios documentados na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Dendrophryniscus proboscideus (Boulenger, 1882), Pristimantis paulodutrai (Bokermann, 1975) e Dendropsophus elegans (Wied-Neuwied, 1824). ............................................................. 45 Figura 20. Borboletas registradas na RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............................. 46 Figura 21. Fotógrafos de aves e visitantes na RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............... 47 Figura 22. Polígono em vermelho propriedade, amarelo RPPN e azul área não coberta por vegetação natural. Sede da Fazenda Montenegro. ................................................... 51 Figura 23. Sede da Fazenda Montenegro rodeada por árvores frutíferas e nativas. ... 52 Figura 24. Parte da paisagem no entorno da Fazenda Montenegro. .............................. 53 Figura 25. Poligonais e traçado para religar a RPPN Olho-de-fogo- aos maiores blocos florestais na região. ........................................................................................................... 54 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 7 LISTA DE TABELAS. Tabela 1. Lista das espécies endêmicas a Mata Atlântica observadas na RPPN Olhode-fogo-rendado. Tabela 2. Lista das espécies indicadas em alguma categoria de ameaça (IUCN, 2014; MMA, 2003). Tabela 3. Relação de mamíferos registrados na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 8 LISTA DE MAPAS. Mapa 1. Primeiro acesso a partir de Salvador a RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............. 15 Mapa 2. Segundo acesso a partir de Salvador a RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............ 16 Mapa 3. Distribuição das Isoietas e Clima (Classificação de Koppen) na região onde está a RPPN Olho-de-fogo-rendado. .................................................................................... 24 Mapa 4. Distribuição da altitude na área da RPPN Olho-de-fogo-rendado e arredores. 25 Mapa 5. Mapa geomorfológico da região onde está a RPPN Olho-de-fogo-rendado. ... 26 Mapa 6. Mapa da litografia na região de influência da RPPN Olho-de-fogo-rendado.... 26 Mapa 7. Mapa de solos de acordo com a nova classificação da Embrapa (2011). ........ 27 Mapa 8. Hidrografia na região onde está inserida a RPPN Olho-de-fogo-rendado........ 28 Mapa 9. Mapa da vegetação segundo IBGE e Vegetação da Bahia segundo DDF (2005). RPPN Olho-de-fogo-rendado. ............................................................................................... 32 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 9 LISTA DE SIGLAS. A ABCRN - Associação Baiana para Conservação dos Recursos Naturais 11 APA - Área de Proteção Ambiental 30 APP - Área de Proteção Permanente 54 C CIA - Centro Industrial de Aratu 21 COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia 49 D DOU - Diario Oficial da União 21 I IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 48 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica 32 P PIB - Produto Interno Bruto 52 R RL - Reserva legal 54 RMS - Região Metropolitana de Salvador 14 RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural 11 S SIAA - Sistema Integrado de Abastecimento de Água de Salvador 30 SIMBIO - Sistema de Monitoramento da Biodiversidade em Unidades de Conservação Federais 60 T TNC - The Nature Conservancy 11, 50 U UC - Unidade de Conservação 62 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 10 AGRADECIMENTOS Nós, proprietários da RPPN Olho-de-fogo-rendado, Eliomar Assunção Montenegro e Marlene de Oliveira Montenegro, agradecemos ao nosso filho Eduardo Oliveira Montenegro por demonstrar profundo interesse na continuidade deste projeto. Agradecemos a todos os nossos familiares que muito nos incentivaram e a todos os envolvidos na realização deste Plano de Manejo e na criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural RPPN Olho-defogo-rendado. Agradecemos à ABCRN - Associação Baiana para Conservação dos Recursos Naturais, especialmente ao biólogo Sidnei Sampaio dos Santos e ao Instituto Amuirandê – Desenvolvimento e Conservação da Biodiversidade, na pessoa de Marcelo Cardoso de Sousa, que, através do projeto “Aliança Guigó/Olho-de-fogo-rendado - Criando RPPNs para proteger a Mata Atlântica” e tendo o apoio do Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica (Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica e TNC - The Nature Conservancy), contribuíram com a criação da reserva e a possibilidade de realização deste trabalho que servirá para orientar as ações da RPPN Olho-de-fogo-rendado. Agradecimento especial aos amigos Alberto de Cerqueira Valente, Evandro da Conceição e Emerson Andrade Teixeira que muito contribuíram com a disponibilização de seus preciosos momentos acompanhando os passos que levaram a criação da RPPN Olhode-fogo-rendado e muito tem ajudado na elaboração deste plano. Agradecemos a Emanuela Petersen da Silva Moraes por disponibilizar as informações da sua dissertação sobre os lagartos que ocorrem na região e a Milena Camardelli pela identificação dos anfíbios. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 11 APRESENTAÇÃO Quando decidimos pela criação da RPPN Olho-de-fogo-rendado pensávamos na destinação de uma área para proteção em caráter permanente. Era um compromisso com a preservação e conservação de um remanescente florestal com enorme riqueza ecológica. Ainda não tínhamos ideia da presença do elevado número de espécies da fauna e flora, bem como de espécies raras e ameaçadas. Num levantamento preliminar, realizado pelo biólogo Sidnei Sampaio dos Santos, mais de 150 espécies de aves foram localizadas na RPPN e no seu entorno (Anexo 1). Destas, quatro encontram-se ameaçadas: a jandaia-de-testa-vermelha Aratinga auricapillus (Kuhl, 1820), o apuim-de-cauda-amarela Touit surdus (Kuhl, 1820), o olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra (Swainson, 1825) (ave que denomina a RPPN) e o anambé-de-asa-branca Xipholena atropurpurea (Wied, 1820). Além destas aves foi localizado dentro da RPPN, e nas matas do entorno, o macaco guigó-de-coimbra Callicebus coimbrai, Kobayashi & Langguth, 1999, um dos primatas da lista nacional e global de espécies ameaçadas de extinção (JERUSALINSKY, 2008, VEIGA et al, 2014). O objetivo básico da RPPN Olho-de-fogo-rendado é a preservação e conservação da biodiversidade na região e, para atingir estes objetivos, iremos proporcionar interação com instituições de pesquisas públicas ou privadas. A elaboração deste plano de manejo apresenta as informações básicas necessárias que irão direcionar nossas ações. Desta forma apresentamos o Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado com o diagnóstico inicial da RPPN e da propriedade, que é o resultado dos levantamentos preliminares de dados em campo e o planejamento proposto para a RPPN. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 12 INTRODUÇÃO A sociedade humana está centrando o seu desenvolvimento em áreas urbanas. Os maiores centros urbanos concentram parcela considerável da população e da economia do planeta. A preservação e a conservação da biodiversidade dos diferentes ecossistemas foram colocadas em segundo plano em nome do desenvolvimento humano. Construção de estradas, avenidas, prédios e toda a infraestrutura urbana foram tomando corpo sem a devida preocupação com o meio ambiente. A sociedade hoje sofre as consequências do desenvolvimento a qualquer custo sem o devido planejamento sustentável. A chegada de Tomé de Souza em 1549 e a construção da cidade de Salvador iniciaram o processo de colonização do Recôncavo Baiano. Nos anos seguintes a colonização foi sendo intensificada e foi-se adentrando cada vez mais ao interior. A necessidade de colonização do Recôncavo Baiano determinou a expulsão, morte e catequização dos índios existentes na região para a construção da economia colonial. A descoberta de solos adequados ao plantio da cana-de-açúcar e outras culturas determinou a devastação de enormes áreas de mata para suprir as necessidades de plantio e o intenso fluxo de pessoas para a região. O intenso impacto ao meio ambiente não foi considerado, já que esta não era uma preocupação para aquele momento histórico e todos os recursos naturais foram atingidos. As matas, os rios, o solo e as espécies animais e vegetais foram explorados até sua quase exaustão. A necessidade de ocupação da região determinou o avanço indiscriminado sobre os recursos naturais e quando a sociedade acordou para o problema pouco tinha sobrado. A ocupação da região praticamente privatizou todos os espaços existentes e as RPPNs são umagarantia para aqueles que enxergam a preservação e a conservação da biodiversidade como uma responsabilidade de todos. A RPPN Olho-de-fogo-rendado está localizada no Município de São Sebastião do Passé, Bahia, possui 103 hectares de um total de 150 hectares da propriedade Fazenda Montenegro. Os objetivos de elaboração do Plano de Manejo é reunir as orientações e ações para auxiliar os proprietários a gerenciar a RPPN com condições de permitir a preservação e conservação da biodiversidade, possibilitando a difusão da ideia de um desenvolvimento baseado em métodos, técnicas e soluções sustentáveis. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 13 1. INFORMAÇÕES GERAIS 1.1 - LOCALIZAÇÃO E ACESSO. A RPPN Olho-de-fogo-rendado está inserida na propriedade Fazenda Montenegro, situada no município de São Sebastião do Passé, Bahia, aproximadamente a 60 km de Salvador, capital do estado. O aeroporto internacional Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, é o maior e mais próximo da RPPN. Em São Sebastião do Passé o acesso a Fazenda Montenegro é realizado a partir da localidade Km 70 da BA 512, que fica a cerca de 3 km da sede do município e seguindo mais 5 km por estrada vicinal até à localidade conhecida como Mata do Curió. A sede da Fazenda Montenegro tem as seguintes coordenadas: Latitude: 12º 30’ 53.86” S e Longitude: 38º 26’ 47.79” O. O município de São Sebastião do Passé está localizado na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e é atendido por duas linhas regulares de transporte coletivo saindo da Estação Rodoviária e do terminal rodoviário conhecido como Terminal da França. Saindo de Salvador, existem dois trajetos rodoviários para chegar à RPPN Olho-de-fogo-rendado: Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 14 1.1.1 - Primeiro Trajeto: A partir da cidade de Salvador utilizando a BR 324 até o Km 574 e acessando a direita a BR 110 até a sede do município de São Sebastião do Passé. Chegando a cidade entra-se a direita pela Avenida Ernane de Oliveira Rocha até o encontro com a BA 512, também conhecida neste trecho como Rua Albino Emílio Abraão, seguindo a direita por aproximadamente 3 km em direção ao distrito de Lamarão do Passé até a localidade conhecida como Km 70 (coordenadas aproximadas: Lat. 12° 32’ 04” S e Long. 38° 28’ 16” O). Deste ponto vira-se a esquerda e segue por estrada vicinal por aproximadamente 5 km até região conhecida como Mata do Curió (Mapa 1). Mapa 1. Primeiro acesso a partir de Salvador a RPPN Olho-de-fogo-rendado. Fonte: GOOGLE MAPAS, 2013. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 15 1.1.2 - Segundo Trajeto: A partir da cidade de Salvador utilizando a BR 324 até o km 603 e acessando a BA 093. Percorrer aproximadamente 18 km e acessar a BA 512 em direção ao distrito de Lamarão do Passé (coordenadas aproximadas: Latitude - 12° 38’ 19.24” S e Longitude - 38° 20’ 59,96” O), passando por este e distante aproximadamente 20 km do acesso pela BA 093, até a localidade conhecida como Km 70 (coordenadas aproximadas: Latitude - 12° 32’ 04” S e Longitude - 38° 28’ 16” O). Deste ponto vira-se à direita e segue por estrada vicinal por aproximadamente 5 km até região conhecida como Mata do Curió (Mapa 2). Mapa 2. Segundo acesso a partir de Salvador a RPPN Olho-de-fogo-rendado. Fonte: GOOGLE MAPAS, 2013. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 16 2. HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN 2.1 - HISTÓRICO DA REGIÃO ONDE ESTÁ A RPPN Na época colonial o termo Recôncavo era um topônimo pouco conhecido popularmente. A primeira vez que ele foi encontrado está vinculado à Bahia de Todos os Santos (MARIZ, 1597), foi no texto impresso em 1597 (Diálogos de Varia História) de Pedro de Mariz. No Diálogo Quinto acha-se a narração da expedição de Cristovam Jacques: “que foi dar a Bahia, que chamou de Todos os Santos, entrando por ela e especulando os seus recôncavos” (Anexo 2). Até o ano de 1548 vivera a colônia ao sabor das vacilações da Corte Portuguesa, entregue à ação ronceira dos donatários incapacitados de criar valores, tal a disparidade de elementos que entram na formação dessas unidades. Com a chegada de Tomé de Souza em 1549 deu-se o início da construção da cidade de Salvador, sede do Governo Geral e da colonização do Recôncavo Baiano. A conquista de todo o Recôncavo, deveu-se, primeiramente, a Duarte da Costa, que em pessoa, comandava a expulsão dos índios que ali habitavam. Mas foi no governo de Mem de Sá que se firmaram as diretrizes da conquista e colonização de toda esta região. Localizado inicialmente na foz do rio Petinga ao lado de Sergipe do Conde (atual São Francisco do Conde), onde construiu um engenho popularmente conhecido como “Engenho do Conde”, Mem de Sá iniciou o trabalho de colonização através do aldeamento das tribos indígenas sob a tutela do trabalho de catequese e civilizador dos Missionários Jesuítas (AMARAL, 1937). As terras do Recôncavo foram divididas em sesmarias em meados do século XVI. Os primeiros movimentos atingiram as ilhas, lugares seguros onde os povoadores levantaram as suas bases de irradiação. Conquistadas as ilhas Grande, Pequena e Cajaíba, passaram para a foz dos rios Traripe e Pitanga. Nas cartas geográficas mais remotas, as terras de Paripe, Matuim e Freguesia, se destacam como as áreas populacionais mais antigas do Recôncavo Baiano (SCHWARTZ, 1988). A partir da segunda metade do século XVI, quando povoados começaram a desenvolver-se no Recôncavo, com uma população fixa nas imediações dos engenhos, a Igreja reconheceu essa realidade através da criação de paróquias distintas, mantidas por estipêndio régio. As divisões paroquiais não permaneceram fixas, sendo criadas novas paróquias para acompanhar o crescimento ou deslocamento populacional (SCHWARTZ, 1988). A criação de uma nova paróquia por meio da subdivisão de outras mais antigas, Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 17 geralmente acarretava manifestações de desagrado por parte das unidades afetadas. Os habitantes de Nossa Senhora da Encarnação do Passé queixaram-se ao perder um distrito contendo cinco engenhos e 2.500 almas, devido à criação da nova paróquia de São Sebastião das Cabeceiras do Passé. As paróquias instituídas pela Igreja estabeleceram a forma básica de organização no Recôncavo por aproximadamente duzentos anos, entretanto, em fins do século XVII um sistema de organização secular, baseado em municipalidades, também começou a formarse. Em 1698 foram criadas no Recôncavo as vilas de São Francisco, Cachoeira e Jaguaripe que em 1724 foi subdividida para a criação da vila de Maragogipe. Em cinco de janeiro de 1727 foi criada a vila de Santo Amaro. Logo que os portugueses descobriram as virtudes do massapé e do clima tropical, transplantaram para o Recôncavo a experiência de cultivo da cana de açúcar adquirida na Ilha de Madeira e nos Açores. O ciclo da cana-de-açúcar foi o grande responsável pela construção do acervo que se constitui, hoje, no perfil cultural e artístico do Recôncavo. A economia do açúcar fixou aqui os grupos humanos e foi marcando as diretrizes da ocupação da terra, ao mesmo tempo em que contribuiu para a condensação demográfica. A unidade do Recôncavo provinha das relações mantidas de longa data entre suas várias porções com vocação e atividades diferentes: o Recôncavo canavieiro; o Recôncavo fumageiro; o Recôncavo mandioqueiro; o Recôncavo da cerâmica e o Recôncavo da pesca (SANTOS, 1959). O território do atual município de São Sebastião do Passé pertenceu na sua origem à vila de São Francisco da Barra de Sergipe do Conde, atual São Francisco do Conde. A história do município se confunde com a do Recôncavo Baiano em seus aspectos econômicos, políticos e sociais, fruto da exploração dos portugueses que a partir do século XVI deu início ao seu projeto de colonização através da catequização, morte e expulsão dos índios que aqui habitavam. Para esta região os portugueses transplantaram a cana-deaçúcar que ao longo dos séculos firmou-se como a sua principal fonte de riqueza. Para alimentar esta economia foram trazidos da África milhares de negros em regime de escravidão. Vários engenhos foram instalados nestas terras formando uma gleba de senhores de engenhos, que, mais tarde, ficou conhecida como sociedade patriarcal. Através do Alvará Régio de 11 de abril de 1718, o povoado foi elevado à categoria de Freguesia de São Sebastião das Cabeceiras do Passé, desmembrada da Freguesia de Nossa Senhora da Encarnação do Passé. Através da Lei nº 1.870 de 19 de julho de 1926 a Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, elevou à condição de Vila o arraial de São Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 18 Sebastião, criando assim o Município de São Sebastião, instalado em 12 de outubro do mesmo ano. No alvorecer do século XX foi instalada em São Sebastião do Passé a Usina Cinco Rios, que por longas décadas muito contribuiu para o engrandecimento desta terra, dando origem a criação da vila de Maracangalha com seus cantos e encantos traduzidos na musicalidade de Dorival Caymmi. A era ferroviária, iniciada na segunda metade do século XIX teve uma importância decisiva no processo de elaboração urbana desta região. A estrada de Ferro Santo Amaro que fazia a ligação com a vila do Bom Jardim, atualmente Teodoro Sampaio, cortava a zona açucareira do Recôncavo e a partir do início do século XX teve seus trilhos entroncados pela Estrada de Ferro Centro Oeste, ligando-se a Salvador, ocupando assim novos espaços e melhorando a comunicação e o desenvolvimento nesta faixa de terra, acrescendo novas estações de trem como as de Maracangalha e Pouco Ponto, além das já existentes a exemplo de Jacuípe e Buranhém (SANTOS, 1959). A aprovação do Plano Rodoviário Estadual em 1917 e a unificação pelo Governo Federal, décadas mais tarde das redes ferroviárias, vieram contribuir para o movimento e consequentemente ao desenvolvimento de São Sebastião do Passé. A Estrada de Rodagem (antiga Bahia/Feira), atual BA 512, inaugurada em 1927 cortava o centro da cidade e inseriu uma nova rota como ponto de apoio do eixo capital/interior, possibilitando que São Sebastião do Passé fizesse parte do novo pólo dinâmico da economia. A descoberta do petróleo e a consequente instalação, sobre o Recôncavo tradicional do açúcar, de um complexo para prospecção, extração, transporte e industrialização do produto, provocou grandes transformações em sua paisagem. Para a Petrobrás o Recôncavo, como área geológica, não se confunde com o Recôncavo histórico, caracterizando-se apenas, como zona produtora de petróleo. Desde a chegada da Petrobrás, na década de 1950, nesta área tradicional do Recôncavo Baiano que suas atividades foram sobrepondo-se as exercidas pelos habitantes de uma região com nítida vocação agropastoril e agroindustrial, o que determinou o convívio forçado de plantadores de cana, proprietários de roças e fazendas, pescadores, criadores, donos de usinas, fabricantes de azeite de dendê, dentre outras atividades, com uma gente nova que chegava e pouco tinha a ver com antigos valores culturais ali gerados e conservados ao longo do tempo. A sonda pioneira foi instalada no poço Taquipe e iniciada a perfuração em setembro de 1958. Centenas de quilômetros de estradas foram abertas na área rural permitindo o Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 19 acesso para a pesquisa de novos poços nos arredores do município e provocando uma maior fragmentação dos remanescentes florestais. No ano 1960 a produção local já ultrapassava os 3.500.000 barris/ano (PETROBRAS, 1961). A presença desta produção dinamizou a vida social e econômica dos sebastianenses, houve um maior investimento em melhorias no setor de serviços, como saúde, educação, saneamento e acelerou o processo de devastação dos recursos naturais. Na atualidade o município de São Sebastião do Passé se insere num novo contexto regional, passando a fazer parte da RMS. O município procura novos caminhos para o seu desenvolvimento e a grande biodiversidade existente nos remanescentes florestais, as potencialidades econômicas ambientalmente sustentáveis das suas bacias hidrográficas, a possibilidade de recuperação de grandes áreas degradadas por séculos de exploração irracional e outras podem inserir o município na vanguarda das ações ambientais. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 20 2.2 - HISTÓRICO DE AQUISIÇÃO DA ÁREA E CRIAÇÃO DA RPPN. A região onde está localizada a RPPN Olho-de-fogo-rendado (criada pela Portaria nº 28, de 10 de maio de 2011, publicada no DOU – Diário Oficial da União, nº 93, de 17/05/2011, páginas 98 e 99 - Anexo 3) foi, durante décadas, a principal fornecedora de água para a cidade de São Sebastião do Passé. O represamento do riacho Água Boa, que possui suas nascentes dentro da RPPN Olho-de-fogo-rendado e no seu entorno, garantia praticamente 100% do fornecimento de água a sede do município. Com a perfuração de poços artesianos de grande profundidade captando água do aquífero São Sebastião, as águas do Riacho Água Boa deixaram de ser aproveitadas e as matas que protegiam as nascentes e o riacho começaram a ser derrubadas de forma mais intensa. A família Montenegro chegou em 1970, vinda do município de Camaçari para trabalhar na indústria do petróleo e a família Oliveira chegou em 1975, vinda de São Paulo, para trabalhar na região do Polo Petroquímico de Camaçari e do Centro Industrial de Aratu. A partir da consolidação dessas duas etapas de desenvolvimento, houve na região o abandono da economia de subsistência, praticada na zona rural do município, com a respectiva migração da população para a sede de São Sebastião do Passé e dos municípios limítrofes. As pequenas propriedades foram vendidas e incorporadas pelos pecuaristas como pastagens. A devastação das florestas foi acompanhada de uma degradação cada vez mais acentuada das condições ambientais. Foi nesse ambiente que crescemos. Foi percebendo a mudança ocorrendo no meio ambiente da região que nasceu a vontade de realizar alguma ação. A Fazenda Montenegro, onde fica localizada a RPPN Olho-de-fogo-rendado, está inserida na Serra do Curió, limítrofe a RPPN Curió, sendo que as duas ficam nas proximidades da RPPN Panema. A preservação deste remanescente de floresta somente aconteceu devido à aquisição dele por parte de uma grande empresa florestal que iria utilizar a área para o plantio de eucalipto e desistiu do projeto. Quando tomamos conhecimento do fato resolvemos adquirir um lote de 150 hectares e passamos a estudar qual a melhor forma de utilização. Decidimos pela criação da RPPN pensando na destinação da área para preservação ambiental e foi neste momento que conhecemos o biólogo Sidnei Sampaio dos Santos, que trabalhava numa pesquisa para localização do pássaro Olho-de-fogo-rendado (Pyriglena atra). Após contatos iniciais conseguimos localizar o pássaro na área da Fazenda Montenegro e passamos ao Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 21 monitoramento do mesmo. Quando finalmente conseguimos apoio para criação da RPPN o nome Olho-de-fogo-rendado foi o primeiro a ser lembrado. As tentativas de criação da RPPN sempre esbarravam na falta de recursos próprios necessários para o cumprimento das exigências legais dos órgãos ambientais e pelo motivo da região onde está situada a Fazenda Montenegro não ser incluída nos programas de incentivos para criação de reservas particulares. Apenas com o lançamento do sétimo edital do Programa de Incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN da Mata Atlântica (Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica e TNC - The Nature Conservancy) e contando com o apoio de Sidnei Sampaio dos Santos, Marcelo Cardoso de Sousa, da Associação Baiana para Conservação dos Recursos Naturais - ABCRN, e o Instituto Amuirandê – Desenvolvimento e Conservação da Biodiversidade, através do projeto “Aliança guigó/Olho-de-fogo-rendado - Criando RPPNs para proteger a Mata Atlântica”, conseguimos os recursos necessários para realização do levantamento georreferenciado e da documentação necessária para criação da RPPN Olho-de-fogo-rendado (Figura 1). Figura 1. Medições georrefeenciadas da RPPN Olho-de-fogo-rendado. Técnicos e proprietário da RPPN (Camisa com imagem do Olho-de-fogo) em campo e no laboratório discutindo os dados. Este é o histórico resumido de como chegamos à criação da RPPN Olho-de-fogorendado. Sabemos que é somente o começo de uma longa caminhada e, até conseguirmos demonstrar a grande importância das ações que estamos tomando, devemos passar por muitos acontecimentos ainda. Até agora muitas negativas nos foram dadas, muitos desinteresses foram demonstrados, tanto por pessoas como por instituições, mas a nossa insistência já tem nos dados alguns poucos mais preciosos frutos. Muitos amigos e algumas instituições, já citados neste trabalho, tem demonstrado uma grande satisfação pelo trabalho realizado e nos encorajam a continuar nesta brava luta. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 22 3. FICHA RESUMO DA RPPN. Nome da RPPN: RPPN Olho-de-fogo-rendado Nome da propriedade: Fazenda Montenegro Município e estado abrangido e Coordenadas (geográficas ou UTM): São Sebastião do Passé – Bahia - Brasil. Latitude: 12º30’48” S. Longitude: 38º27’09” O. Nomes dos Proprietários: Data e número do ato legal de criação: ELIOMAR ASSUNÇÃO MONTENEGRO E MARLENE DE OLIVEIRA MONTENEGRO Portaria nº 28, de 10 de maio de 2011, publicada no DOU nº 93, 17/05/2011. Endereço da RPPN: Marcos e referências importantes nos limites e confrontantes: NORTE: Copener Florestal Ltda; SUL: Jorge José dos Santos Filho e Salvador Albino de Oliveira; LESTE: Anísio Celso dos Santos e José dos Santos; OESTE: Agripino de Carvalho e Maria Eugênia Araújo dos Santos. Rodovia BA-512, Localidade Km 70, Mata do Curió, São Sebastião do Passé - Bahia. Endereço para Correspondência: Biomas: Mata Atlântica Rua Roberto Bispo dos Santos, 85, Centro, São Sebastião do Passé – Bahia – Brasil. CEP: 43.850-000 Telefone/fax/e-mail/página da internet: Telefones – (71) 3655.3151 - 9601.2649 (71) 9958.2755 (Marlene) E-mail – [email protected] [email protected] Site em criação: http://rppnolhodefogorendado.eco.br Centros urbanos mais próximos: Sebastião do Passé: 8 km Candeias: 21 km Catu: 25 km Mata de São João: 27 km Pojuca: 34 km Salvador: 60 km Feira de Santana: 67 km Meio principal de chegada a UC: Rodoviário Área da RPPN – 103,7342 ha. Área da Propriedade – 150,00 ha. Principal município de acesso à RPPN: São Sebastião do Passé – Bahia – Brasil. Atividades ocorrentes (pesquisa, fiscalização, visitação, trilhas, acampamento, oficinas de educação ambiental e outras): Pesquisa para localização do pássaro Olho-de-fogo-rendado realizada pelo biólogo Sidnei Sampaio dos Santos; Dissertações de mestrado desenvolvidas por alunos da Universidade Federal da Bahia. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 23 4. DIAGNÓSTICO - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN OLHO-DE-FOGO-RENDADO 4.1 - CLIMA. Ensaios conduzidos na Estação Experimental da CEPLAC Sósthenes de Miranda (ESOMI), localizada no município de São Sebastião do Passé, no Recôncavo Baiano, definiram o clima do município, segundo a classificação de Köppen, como do tipo Af1, com precipitação média anual em torno de 1600 mm e distribuição irregular, ocorrendo cerca de 66% desse total em seis meses (março a julho e em novembro) e os 34% restante nos meses de agosto a outubro e dezembro a fevereiro (MÜLLER, 2003). Ao considerar a distribuição original da classificação de Koppen verifica-se que a RPPN está na faixa identificada como Am (Clima de Monção), quase em uma zona de transição. Sob essa classificação teríamos uma precipitação máxima anual > 1500 mm, sendo que o mês mais seco com < de 60 mm. A RPPN Olho-de-fogo-rendado encontra-se mais precisamente numa zona pluviométrica entre 1300 mm a 1400 mm (Mapa 3). Mapa 3. Distribuição das Isoietas e Clima (Classificação de Koppen) na região onde está a RPPN Olhode-fogo-rendado. 1 Af - Clima tropical úmido ou super úmido, sem estação seca, sendo a temperatura média do mês mais quente superior a 18º C. O total das chuvas do mês mais seco é superior a 60 mm, com precipitações maiores de março a agosto, ultrapassando o total de 1.500 mm anuais. Nos meses mais quentes (janeiro e fevereiro) a temperatura é de 24 a 25º C. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 24 4.2 – RELEVO . Na região o relevo apresenta-se retalhado em interflúvios pequenos, ondulados, de modo geral convexados, com ocorrências de residuais de topo tabulares. Estes são quase sempre limitados por ressaltos ou pequenas escarpas, predominando encostas côncavoconvexas (CUNHA et al., 2000). A altitude está pouco acima do nível do mar, não ultrapassando os 270 metros (Mapa 4). A RPPN Olho-de-fogo-rendado apresenta uma variação de altitude de aproximadamente 80 metros, no seu lado leste, a 165 metros, no sul, norte e oeste, acima do nível do mar. Mapa 4. Distribuição da altitude na área da RPPN Olho-de-fogo-rendado e arredores. 4.3. GEOMORFOLOGIA E SOLO A RPPN está sobre a Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano (Mapa 5). Chamada de Tabuleiros do Recôncavo. A região engloba os relevos da parte Centro-Norte de Salvador. Trata-se de um tabuleiro em sua maior parte dissecado, constituído pelos arenitos, folhelhos, siltitos e calcáreos das formações São Sebastião, das formações Candeias e Itaparica, que compõe o grupo Santo Amaro e areias e argilas da formação Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 25 Marizal, incluindo localmente manchas de material da formação Barreiras. Na área da RPPN seu aspecto litográfico é classificado como Argilito Arenoso, Arenito conglomerático, Arenito, Folhelho, Arenito, Argilito, Siltito (Mapa 6). Mapa 5. Mapa geomorfológico da região onde está a RPPN Olho-de-fogo-rendado. Mapa 6. Mapa da litografia na região de influência da RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 26 Na área da RPPN os solos são pobres, possuem pouca capacidade de armazenamento de água, são profundos e de baixa fertilidade natural. Possuem vales abertos com encostas suaves. De acordo com a nova classificação de solos brasileira (SANTOS et al, 2011), a RPPN está sobre Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos + Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos + Latossolos Amarelos Distróficos (PVAd43) (Mapa 7). JACOMINE (2009) descreve os solos argilosos como aqueles “constituídos por material mineral, que têm como características diferenciais a presença de horizonte B textural de argila de atividade baixa, ou alta conjugada com saturação por bases baixa ou caráter alético. O horizonte B textural (Bt) encontra–se imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o hístico, sem apresentar, contudo, os requisitos estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos Luvissolos, Planossolos, Plintossolos ou Gleissolos”. Mapa 7. Mapa de solos de acordo com a nova classificação da Embrapa (2011). RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 27 4.4 – HIDROGRAFIA. A RPPN Olho-de-fogo-rendado está localizada na bacia hidrográfica do Rio Jacuípe, mais precisamente no seu afluente chamado riacho Água Boa (Mapa 8). Entretanto, ela sofre influência de toda a Região Hidrográfica das Bacias do Recôncavo Norte, que é formada por um conjunto de bacias hidrográficas independentes e os seguintes rios têm uma influência direta sobre a RPPN: Pojuca, Jacuípe, Joanes. Seus mananciais de águas doces são abundantes e abastecem parte da região metropolitana de Salvador. Destaca-se, também, a presença das águas subterrâneas representadas pelo Aquífero São Sebastião, que consiste numa das maiores reservas de água potável do Estado da Bahia (SANDES-SOBRAL, 2008) e que, atualmente, é responsável por 100% do abastecimento humano na sede do município de São Sebastião do Passé. Mapa 8. Hidrografia na região onde está inserida a RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 28 4.4.1 - RIO JACUÍPE. As nascentes do Rio Jacuípe se localizam entre os municípios de Conceição do Jacuípe e Amélia Rodrigues e suas águas percorrem cerca de 140 quilômetros entre a nascente e a foz, formando uma bacia hidrográfica de aproximadamente 1.275 km². O Rio Jacuípe é represado a 35 km da desembocadura pela Barragem Santa Helena (BSH), que drena uma área de 880 km2. A barragem foi construída com o propósito de ampliar o suporte ao abastecimento de água da Região Metropolitana de Salvador. Sua construção foi concluída em 1981, mas rompeu-se em maio 1985. Em 2000 voltou a ser operacional após a sua reconstrução. Sua capacidade de acumulação é de 240,6x106 m3, com um espelho d’água de 40,3 km2 (LIMA, 2007). A bacia do Rio Jacuípe apresenta um alto gradiente de redução da precipitação da faixa litorânea, com alta pluviosidade, em relação à cabeceira da bacia. Apresenta características de clima do tipo tropical chuvoso, segundo a classificação de Köppen. Sendo assim, seus tributários permanecem perenes a maior parte do ano. A precipitação média acumulada (isoietas) na bacia do Rio Jacuípe varia entre 1900 mm/ano (próximo do litoral) e 1100 mm/ano (na cabeceira) (LIMA, 2007). Os principais usos do solo ao longo da bacia do Rio Jacuípe referem-se à exploração mineral, exploração de petróleo, atividades industriais com o Polo Petroquímico de Camaçari e Usinas de Cana de Açúcar, além de áreas urbanas, agricultura e pecuária. Os impactos mais relevantes com referência aos recursos hídricos da bacia do Rio Jacuípe são o lançamento de efluentes domésticos “in natura”, lançamento de efluentes industriais quando ocorre operação de usinas de cana de açúcar e álcool, deposição de resíduos sólidos ao longo das margens dos mananciais, assoreamento de mananciais associado aos processos erosivos desencadeados pela remoção da cobertura vegetal (matas ciliares) e contaminação do lençol freático (Aquífero São Sebastião) pelas atividades industriais do Polo Petroquímico, podendo levar ao comprometimento da qualidade dos mananciais superficiais (LIMA, 2007). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 29 4.4.2 - RIO POJUCA. A Bacia Hidrográfica do Rio Pojuca representa a maior área geográfica dentre as bacias do Recôncavo Norte, com 4.341 km², percorrendo aproximadamente 200 km e abrangendo o território de 18 municípios. A nascente do rio situa-se na Serra de Mombaça, no Município de Santa Bárbara. O Rio Pojuca é o rio de maior extensão e área de drenagem dentre as bacias hidrográficas inseridas na região do Recôncavo Norte. Desemboca no Oceano Atlântico nas proximidades do Distrito de Praia do Forte (município de Mata de São João) em meio à APA do Litoral Norte (BRITTO, 2009; SANDES-SOBRAL, 2008). A Bacia Hídrica do Rio Pojuca é utilizada no desenvolvimento de atividades agrícolas, existindo grandes áreas de agricultura de subsistência, principalmente no seu alto curso. No seu médio curso, além da agricultura, a silvicultura é uma atividade importante. O turismo é a principal atividade na sua foz. O Rio Pojuca é considerado um importante manancial pertencente ao Sistema de Abastecimento de Águas de Barra do Pojuca, responsável pelo atendimento das localidades e municípios do Litoral Norte da RMS. Pela proximidade da RMS, este rio é um significativo manancial de reserva para abastecimento dos municípios circunvizinhos, e considerado como reserva estratégica para o atendimento do Sistema Integrado de Abastecimento de Água de Salvador – SIAA –, quando esgotar a capacidade de outros mananciais, como o Rio Jacuípe (SANDES-SOBRAL, 2008). A exploração petrolífera da bacia do Rio Pojuca é a atividade que traz maiores problemas de poluição, ao seu curso principal e seus afluentes da margem esquerda os mais suscetíveis a este tipo de contaminação. Os impactos associados a essa atividade são a contaminação do lençol freático (devido à injeção de água salgada utilizada na recuperação secundária de poços petrolíferos e dos diques de armazenamento de borras oleosas e água salgada), desmatamento de matas ciliares ao longo das margens, erosão dos topos e encosta dos morros propiciando o desenvolvimento processo de assoreamento e turbidez dos cursos d’água, poluição de origem industrial, além do lançamento de esgotos domésticos e acidentes com veículos que transportam cargas perigosas, ocorrendo derrames acidentais de substâncias químicas (BRITTO, 2009). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 30 4.4.3 - RIO JOANES A Bacia do Rio Joanes constitui-se no principal manancial hídrico para o abastecimento da RMS, tendo suas nascentes em terras dos Municípios de São Francisco do Conde e São Sebastião do Passé. A bacia estende-se até a orla oceânica, desembocando no município vizinho de Lauro de Freitas, drenando uma região de aproximadamente 1.200 km², com um curso d’água de 245 km de extensão, que percorre seis municípios da Região Hidrográfica do Recôncavo Norte (SANDES-SOBRAL, 2008). No trecho próximo aos pontos de nascente encontram-se atividades de exploração petrolífera: gás e óleo bruto pela Petrobrás, além de atividades de criação de gado bovino e bubalino. Outras ocorrências importantes são: o Centro Industrial de Aratu – CIA e o Polo Petroquímico de Camaçari, além da exploração mineral através de instalação de pedreiras e lavras de cascalhos, caulim e arenoso. Em sua bacia desenvolvem-se intensas atividades antrópicas, potencializadas pela sua densa malha viária, que transporta cargas perigosas – como os produtos das indústrias químicas e petroquímicas localizadas no Polo Industrial de Camaçari – e outros produtos poluentes e tóxicos produzidos nessa região. No contexto da Bacia Hidrográfica do Rio Joanes, destaca-se a sub-bacia do seu principal tributário, o rio Ipitanga, inserida em uma área parcialmente urbanizada, que se estende desde o CIA, situada no município de Simões Filho, até a orla marítima (SANDES-SOBRAL, 2008). As suas margens encontram-se submetidas à forte pressão antrópica e com sérios riscos ambientais, como a supressão da mata ciliar em trechos próximos às áreas urbanizadas ou em processo de crescimento desordenado, erosão das margens, assoreamento da calha fluvial e lançamento de resíduos industriais, apenas para citar alguns. Configura-se aqui o Cenário de Sérios Riscos Ambientais (SANDES-SOBRAL, 2008). A bacia hidrográfica do Rio Joanes e Ipitanga abastece parte da cidade do Salvador, bem como: Candeias, Lauro de Freitas, Simões Filho, Dias D’Ávila, Madre Deus e São Francisco do Conde. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 31 4.5 – VEGETAÇÃO. De acordo com a classificação da vegetação brasileira pelo IBGE a RPPN Olho-defogo-rendado abriga Floresta Ombrófila Densa (Mapa 9) (IBGE, 2012). De acordo com a hierarquia topográfica é possível classificá-la como Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, onde um dos elementos típicos, o pau-pombo Tapirira guianensis Aubl, é comum na RPPN. Mapa 9. Mapa da vegetação segundo IBGE e Vegetação da Bahia segundo DDF (2005). RPPN Olho-defogo-rendado. As interferências antrópicas seculares desenvolvidas nas áreas do Recôncavo alteraram a paisagem florestal original. Essas modificações foram significativas. Devido às condições de solo, clima, relevo e proximidade de Salvador e outros aspectos históricoculturais, São Sebastião do Passé foi e continua sendo bastante utilizada por atividades de pecuária, principalmente a criação de gado bovino, e agricultura. Destacam-se as atividades relacionadas ao plantio de mandioca, frutas e hortaliças. Como esperado, todas as florestas remanescentes na região estão em sua quase totalidade em estágio inicial a médio de sucessão. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 32 A vegetação na RPPN Olho-de-fogo-rendado está em estágio inicial de recuperação (Mapa 9, Figura 2), mas há alguns trechos onde é possível identificar claramente estágio secundário avançado de regeneração (Figura 3). Essa estado mais avançado de recuperação na RPPN é fruto da ausência de exploração na área, o que infelizmente não é observado em fragmentos próximos na região. Ainda há muito corte de madeira. Figura 2. Área de vegetação secundária na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Figura 3. Dossel florestal onde há estágio de sucessão secundário avançado. RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 33 Ainda não há inventário detalhado sobre a flora na RPPN. Estamos empenhados em incentivar as pesquisas acadêmicas na propriedade, principalmente com a aplicação dos recursos disponibilizados pela SOS Mata Atlântica para os estudos do Plano de Manejo. Contudo, há algumas espécies que se destacam e já foi possível identificá-las. No estrato mais alto podemos encontrar o Ingauçu Sclerolobium densiflorum Benth. (Fabaceae), a taipoca-preta Trichilia lepidota Mart. (Meliaceae), o pau-paraíba Simarouba amara Aubl. (Simaroubaceae), o embiruçu Eriotheca macrophylla (K.Schum.) (Malvaceae), a umbaúba Cecropia pachystachya Trécul (Urticaceae) e a matataúba Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al (Araliaceae). A matatauba é uma das espécies importantes para as aves frugívoras da RPPN. Algumas espécies são comuns nas áreas de borda, onde é possível encontrar o paupombo Tapirira guianensis Aubl. (Anacardiaceae), a biriba Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex (Lecythidaceae) (Figura 4), a aroeira Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae) (Figura 4), a sucupira-azul Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae) e o murici Byrsonima sericea DC. (Malpighiaceae). Figura 4. A biriba Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex (Lecythidaceae) e a aroeira Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae). No sub bosque é possível encontrar Cordia nodosa Lam. (Boraginaceae), Heliconia psittacorum L.f. (Heliconiaceae), melastomatáceas (Miconia sp), rubiáceas (Psychotria sp) e myrtaceas (Myrcia sp). As melastomatáceas e myrtaceas também integram o grupo de plantas que são importantes para as aves na RPPN. Próximo às áreas mais úmidas há palmeiras do gênero Geonoma (Arecaceae) (Figura 5). Entre as espécies mais ruderais podemos encontrar as verbenáceas Lantana camara L. e Lantana fucata Lindl, muito visitadas pelos beija-flores, borboletas e abelhas. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 34 Figura 5. Da esquerda para direita: Cordia nodosa Lam. (Boraginaceae), Heliconia psittacorum L.f. (Heliconiaceae), Lantana camara L., Lantana fucata Lindl (Verbenaceae), palmeira Geonoma sp (Arecaceae), áreas onde esta palmeira é comum, sucupira-azul Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae) e uma das melastomatáceas. RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 35 4.6 – FAUNA. Entre a fauna que ocorre na área da RPPN Olho-de-fogo-rendado as aves é o grupo melhor inventariado. São 167 espécies, distribuídas em 17 ordens e 42 famílias. Desse total 12 espécies são consideradas endêmicas a Mata Atlântica (Tabela 1). Tabela 1. Lista das espécies endêmicas a Mata Atlântica observadas na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Nome do Táxon Nome em Português English Name Veniliornis affinis (Swainson, 1821) Touit surdus (Kuhl, 1820) Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 Pyriglena atra (Swainson, 1825) Dendrocincla turdina (Lichtenstein, 1820) Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788) Machaeropterus regulus (Hahn, 1819) Schiffornis turdina (Wied, 1831) Xipholena atropurpurea (Wied, 1820) Myiornis auricularis (Vieillot, 1818) Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766) Tangara brasiliensis (Linnaeus, 1766) picapauzinho-avermelhado apuim-de-cauda-amarela choca-de-sooretama papa-taoca-da-bahia arapaçu-liso beija-flor-de-fronte-violeta tangará-rajado flautim-marrom anambé-de-asa-branca miudinho tiê-sangue cambada-de-chaves Red-stained Woodpecker Golden-tailed Parrotlet Sooretama Slaty-Antshrike Fringe-backed Fire-eye Plain-winged Woodcreeper Violet-capped Woodnymph Striped Manakin Thrush-like Schiffornis White-winged Cotinga Eared Pygmy-Tyrant Brazilian Tanager White-bellied Tanager Figura 6. Alguns endêmicos que ocorrem na RPPN. O miudinho Myiornis auricularis (Vieillot, 1818), a cambadade-chaves Tangara brasiliensis (Linnaeus, 1766), a choca-de-sooretama Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 e o picapauzinho-avermelhado Veniliornis affinis (Swainson, 1821) Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 36 Quatro espécies observadas na RPPN estão em alguma categoria de ameaça, quer ao nível global (IUCN - International Union for Conservation of Nature and Natural Resource, 2013) ou nacional (MMA, 2003) (Tabela 2). O Olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra (Swainson, 1825) é a espécie ameaçada mais importante que ocorre na RPPN. Tabela 2. Lista das espécies indicadas em alguma categoria de ameaça (IUCN, 2014; MMA, 2003). Nome do Táxon Nome em Português Aratinga auricapillus (Kuhl, 1820) English Name IUCN MMA jandaia-de-testa-vermelha Golden-capped Parakeet Near Threatened Touit surdus (Kuhl, 1820) apuim-de-cauda-amarela Golden-tailed Parrotlet Vulnerable Pyriglena atra (Swainson, 1825) olho-de-fogo-rendado Fringe-backed Fire-eye Endangered Em perigo Xipholena atropurpurea (Wied, 1820) anambé-de-asa-branca White-winged Cotinga Endangered Em perigo Figura 7. Espécies ameaçadas registradas na RPPN. A jandaia-de-testa-vermelha Aratinga auricapillus (Kuhl, 1820), apuim-de-cauda-amarela Touit surdus (Kuhl, 1820). Abaixo macho e fêmea do olho-de-fogorendado Pyriglena atra (Swainson, 1825). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 37 Não há nenhuma espécie considerada exótica na RPPN. Algumas espécies realizam movimentos regionais, como a andorinha-serradora Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817), andorinha-do-campo Progne tapera (Vieillot, 1817) (Figura 8). São espécies de ambientes abertos e frequentam as áreas de borda da RPPN. A andorinha-serradora já foi observada forrageando nas estradas que cortam a RPPN. Duas espécies, a tesourinha Tyrannus savana Vieillot, 1808 e a saí-andorinha Tersina viridis (Illiger, 1811), realizam movimentos migratórios. Permanecem na região durante o período seco, entre final de agosto a início de março. A tesourinha reproduz na região. A saí-andorinha já foi observada alimentando-se de frutos de melastomatáceas, matataúba e myrtaceas na área da RPPN. Grupos com até oito indivíduos já foram observados. Figura 8. A andorinha-serradora Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817), andorinha-do-campo Progne tapera (Vieillot, 1817). Espécies que realizam movimentos regionais. RPPN Olho-de-fogo-rendado. Algumas espécies são procuradas na região para a criação em cativeiro, entre as mais cobiçadas estão o cardeal-do-nordeste Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) (Figura 9), o canário-da-terra-verdadeiro Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766), o papa-capim Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) e o chorão Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) (Figura 9). Ainda ocorre a captura em áreas limítrofes a RPPN. Não há fiscalização na região e até mesmo na feira municipal há o comércio de aves. Outras espécies são cobiçadas por caçadores, como a jacupemba Penelope superciliaris Temminck, 1815, a aracuã-de-barriga-branca Ortalis aracuan (Spix, 1825), a pomba-galega Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) e a juriti-pupu Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 38 Figura 9. O cardeal-do-nordeste Paroaria dominicana e o chorão Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) espécies cobiçadas na região para a criação em cativeiro. A maior parcela da avifauna na RPPN é de baixa sensitividade a distúrbios antrópicos, de acordo com critérios de classificação de Stotz et al., 1996 (Figura 10). Essa classificação em relação a dependência das aves ao habitat florestal indica que na RPPN há mais espécies dependentes e semi dependentes. Esse é um quadro esperado, já que quase a totalidade da RPPN é coberta por floresta. 120 100 80 60 40 20 Sensitividade Semi Dependente Independente Dependente Média Baixa Alta 0 Dependência ao habitat florestal Figura 10. Distribuição da avifauna em relação a sensitividade a distúrbios antrópicos e dependência a habitat florestal (segue Stotz et al., 1996). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 39 A RPPN é uma das áreas mais importantes no município para o grupo das aves. É um dos últimos remanescentes protegidos e sem atividade de corte de madeira. Se o desmatamento não cessar na região, a área da RPPN será uma ilha para muitas espécies. Espera-se que as atividades de educação ambiental que serão promovidas pela RPPN possam reverter esse quadro. Há um projeto em discussão da ABCRN para, em conjunto com a RPPN, conectar a área a outros remanescentes. A importância da RPPN é ressaltada quando verificamos sua proximidade com uma das Áreas Prioritárias para Conservação, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007) e sobreposição a uma das Important Bird Areas (IBAs) (BENKE ET AL., 2006), BIRDLIFE INTERNATIONAL and NATURESERVE, 2013) (Figura 11) Quatro entre cinco espécies de aves que serviram como base para a criação da IBA Mata da Campina e Fragmentos Adjacentes também ocorrem na RPPN Olho-de-fogo-rendado: a jandaia-detesta-vermelha Aratinga auricapillus (Kuhl, 1820), apuim-de-cauda-amarela Touit surdus (Kuhl, 1820), olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra (Swainson, 1825) e o anambé-de-asabranca Xipholena atropurpurea (Wied, 1820). Figura 11. RPPN Olho-de-fogo-rendado em relação a Área Prioritária segundo MMA (2007) e Importante Bird Area (IBAs) (BirdLife International and NatureServe, 2013). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 40 Entre os vertebrados os mamíferos representam o segundo grupo com melhor conjunto de dados na RPPN. São 13 espécies registradas até o momento (Tabela 3). Nesse grupo três espécies estão na Lista Brasileira da Fauna Ameaçada de Extinção: o guigó-decoimbra Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth, 1999, na categoria Criticamente ameaçado, a preguiça-de-coleira Bradypus torquatus Illiger, 1811 é Vulnerável, e o gato-domato Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) também Vulnerável. Espera-se que outra espécie também ameaçada de extinção, o ouriço-preto Chaetomys subspinosus (Olfers, 1818), seja registrado na RPPN. Já observamos a espécie em fragmentos menores, e degradados, na região. Tabela 3. Relação de mamíferos registrados na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Espécie Nome popular Registro Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) mico-de-tufo- branco Observação Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth, 1999 guigo-de-coimbra Observação Euphractus sexcinctus(Linnaeus, 1758) tatu-peba Observação Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 tatu-galinha Observação Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) saruê Observação Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) tamanduá-mirim Camera Trap Bradypus torquatus Illiger, 1811 preguiça-de-coleira Observação Cerdocyon thous(Linnaeus, 1766) raposa Camera Trap Cuniculus paca(Linnaeus, 1766) Paca Observação Dasyprocta sp cutia Observação Guerlinguetu alphonsei (Thomas, 1906) esquilo Observação Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) gato-do-mato Camera Trap Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798 mão-pelada, guaxinim Pegadas A espécie mais comum entre os mamíferos é o mico-de-tufo-branco Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758). Já observamos grupos com até 12 indivíduos. O outro primata, o guigóde-coimbra Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth, 1999, tem sido escutado na vertente norte da RPPN. O gato-do-mato fotografado pelas Câmeras Trap foi sempre flagrado durante toda a amostragem. Parece que é o mesmo indivíduo que utiliza uma grande área de vida. Sem sombra de dúvidas apenas três espécies entre as registradas não devem sofrer com a caça: o mico-de-tufo-branco, o esquilo e o mão pelada. Ainda há intensa caça na região. A proximidade dos últimos remanescentes florestais com a cidade de São Sebastião do Passé, Catu, Mata de São João e Pojuca, são facilitadores para os caçadores. Trabalhos de educação ambiental, aliados a fiscalização, são fundamentais para mudar esse quadro. A RPPN é um importante refúgio na região para os mamíferos. Um dos desafios de conservação na região é conectar a RPPN a outros fragmentos florestais. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 41 Figura 12. Gato-do-mato Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) fotografado durante os estudos para o Plano de Manejo. Figura 13. Preguiça-de-coleira Bradypus torquatus Illiger, 1811 e o mico-de-tufo- branco Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) fotografados na RPPN. Figura 14. Raposa Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) fotografada durante os estudos para o Plano de Manejo. Havia predado um sapo. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 42 Figura 15. Tamandua-mirim Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) registrado pelas Câmeras Trap durante os estudos para o plano de Manejo. Figura 16. Tatu-peba Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), também fotografado durante os estudos para o Plano de manejo. Os dados sobre os repteis na RPPN em sua maior parte são fruto de uma dissertação de mestrado (Moraes, 2011). Foram identificados nesse estudo cinco lagartos: Coleodactylus meridionalis (Boulenger, 1888), Anolis fuscoauratus D'Orbigny, 1837, Enyalius catenatus (Wied, 1821), Gymnodactylus darwinii (Gray, 1845) e o Phyllopezus pollicaris (Spix, 1825). Os dois primeiros foram as espécies mais abundantes. O estudo investigou os efeitos da fragmentação sobre os lagartos. O destaque entre essas espécies, segundo Moraes (2011) é que Enyalius catenatus é uma restrita a áreas florestais e sensível a fragmentação florestal. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 43 Outras espécies já observadas na RPPN são: o teiú Tupinambis teguixin (Linnaeus, 1758), Tropidurus hispidus (Spix, 1825) a Iguana iguana (Linnaeus, 1758), Kentropyx calcarata Spix, 1825, e uma espécie de Mabuya. Isso significa que a RPPN abriga, pelo menos, 10 espécies de lagartos. O estudo de Moraes (2011) na região, amostrando 20 fragmentos, identificou um total de 13 espécies. Figura 17. Anolis fuscoauratus e o teiú Tupinambis teguixin registrados na RPPN Olho-de-fogo-rendado (Fotos Eliomar Assunção). Além dos lagartos já foi observados na RPPN Olho-de-fogo uma serpente papa-pinto Drymarchon corais (Boie, 1827), uma salamandra Epicrates cenchria (Linnaeus, 1758) e uma cobra-cipó do gênero Choronius (Figrua 18). Estudos com este grupo devem revelar outras espécies para a RPPN. Figura 18. Chironius fotografada na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 44 Ainda não temos em mãos os dados da dissertação de mestrado que investigou os anfíbios na RPPN. Contudo, temos o registro de pelo menos três espécies: Dendropsophus elegans (Wied-Neuwied, 1824), Dendrophryniscus proboscideus (Boulenger, 1882) e Pristimantis paulodutrai (Bokermann, 1975) (Figura 19). São todas espécies florestais. D elegans vive sobre a vegetação e as demais sobre o solo. Figura 19. Anfíbios documentados na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Dendrophryniscus proboscideus (Boulenger, 1882), Pristimantis paulodutrai (Bokermann, 1975) e Dendropsophus elegans (WiedNeuwied, 1824). Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 45 Entre os invertebrados há uma grande variedade de Lepidopteros, Coleopteros, Odonatas, entre outros. Alguns estudos estão sendo planejados para o grupo de borboletas, principalmente com as frugívoras. Uma pequena parcela desse grupo é exibida abaixo. Figura 20. Borboletas registradas na RPPN Olho-de-fogo-rendado. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 46 4.7 – VISITAÇÃO. A área tem visitação esporádica de observadores de aves e fotógrafos. Membros do COA-BA (Clube de Observadores de Aves) já fizeram visitas a RPPN. Inclusive no Guia Observando aves Bahia (SOUZA, 2013) a RPPN está indicada como uma das áreas para visitação pelos observadores. Além desse público a RPPN tem sido visitada por fotógrafos com outros olhares. O fotógrafo de macro fotografia Marlon Porto fez vários registros de invertebrados na RPPN (http://www.macroinsetos.com.br/2013/02/reserva-olho-de-fogorendado.html). As atividades de visitação são controladas por nós, os proprietários, e ocorrem geralmente nos fins de semana e feriados. Essa é uma atividade que está sendo avaliada se será desenvolvida como uma das fontes de renda da RPPN. Em caso positivo, pretendemos estimular essas práticas para outras atividades, como contemplação da paisagem e atividades educacionais. Para esse fim as trilhas no interior da RPPN receberão sinalização e manutenção periódica (pelo menos a cada seis meses). Será estudado nesse caso se haverá impactos da visitação a RPPN. Esses estudos serão delineados a partir da escolha do público e atividades a serem desenvolvidas na RPPN. Figura 21. Fotógrafos de aves e visitantes na RPPN Olho-de-fogo-rendado. 4.8 - PESQUISA E MONITORAMENTO. Desde 2005 a área é utilizada para estudos com o Olho-de-fogo-rendado. Informações mais sistemáticas foram coletadas pelo biólogo Sidnei Sampaio dos Santos entre 2005 e 2007 mediante o projeto apoiado pela Fundação o Boticário (Sobre a biologia do olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra Swainson, 1825 (Aves:Thamnophilidae) e ações de conservação ao longo de sua área de ocorrência"). Os estudos desse projeto foram realizados quando a área ainda não era uma RPPN. Desde então as visitas foram Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 47 esporádicas, mas está em análise a possibilidade da inclusão da área da RPPN como uma unidade de monitoramento da espécie. A área da RPPN foi incluída como unidade amostral de duas dissertações de mestrado desenvolvidas por alunas do Instituto de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biomonitoramento da UFBA - Universidade Federal da Bahia. De modo geral as pesquisas tinham como objetivo investigar os “Efeitos da heterogeneidade local e área per se sobre a composição das comunidades de anfíbios e répteis em fragmentos de Mata Atlântica”. A área tem potencial de estudos para o grupo de vertebrados e entre os invertebrados os destaques são borboletas, besouros e libélulas. Não há dados sobre a flora, principalmente de coleta para depósito em herbários. 4.9 - OCORRÊNCIA DE FOGO. A prática do fogo não é utilizada na RPPN Olho-de-fogo-rendado e nem na fazenda Montenegro. Entretanto as fazendas vizinhas já utilizaram tal prática de manejo de pastagens algumas vezes. Eventuais ocorrências de fogo podem acontecer acidentalmente, não sendo registrado, no entanto, tal fato nos últimos cinco anos. A única ação que desenvolvemos na propriedade é a manutenção de aceiros em toda extensão da cerca de divisa e nas estradas no interior da RPPN. Como a propriedade é cercada de pastagens a possibilidade de ocorrer um incêndio é preocupante. Infelizmente não existe Corpo de Bombeiros no município, não contamos com orientação do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do IBAMA, da policia ambiental do Estado da Bahia e nem existem brigadas voluntárias ou de empresas vizinhas para as quais possamos recorrer. 4.10 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA RPPN. Atualmente nenhuma atividade sistemática e específica é realizada na área da RPPN. As visitas ainda são ocasionais e esporádicas. Espera-se desenvolver atividades educacionais, principalmente para o corpo de alunos do ensino fundamental do município de São Sebastião do Passé e municípios vizinhos. A fiscalização na propriedade é feita por nós (proprietários) e por um colaborador. A criação da RPPN parece ter influenciado positivamente sobre a pressão de caça e corte de madeira. A presença dos visitantes e pesquisadores também é outro fator positivo. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 48 Segundo moradores da região a RPPN sugere que órgãos ambientais (ICMBIO, IBAMA ou INEMA) sempre estão na região (embora isso não ocorra). Essa expectativa afugenta principalmente caçadores e pegadores de passarinho. 4.11 - SISTEMA DE GESTÃO. A RPPN não possui um sistema ordenado de gestão, sendo que esta é feita conforme as necessidades que se apresentam cotidianamente através de ações dos proprietários com auxílio de amigos e pessoas contratadas especificamente para realização de serviços eventuais. Desta forma, o planejamento e gestão das atividades na unidade vinculam-se às ações da fazenda, visto que a RPPN propriamente dita não dispõe de instalações e nem infraestrutura administrativa. 4.12 - PESSOAL. Atualmente não existe pessoal contratado com funções específicas destinadas a gestão da RPPN. Quando é necessária a realização de qualquer serviço contratamos pessoal de forma eventual ou efetuamos as ações nós mesmos. 4.13 – INFRAESTRUTURA. Apesar de seu potencial científico, a RPPN não dispõe de infraestrutura como alojamento, mas, na sede da propriedade, iremos dispor de uma área para acomodar os pesquisadores. As cercas existentes cobrem o perímetro total da Fazenda Montenegro, incluindo a RPPN Olho-de-fogo-rendado. Na Fazenda Montenegro não existe atividade pecuária e, por isso, não existem cercas internas. Nas vias internas da propriedade será providenciada sinalização adequada para possibilitar o trânsito das pessoas. Neste momento está sendo instalada pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) a rede elétrica na região. A Fazenda Montenegro será contemplada nessa instalação. O sistema de saneamento será formado por fossas biodigestoras que se localizarão a cerca de 400 metros do limite mais próximo da RPPN. O abastecimento de água é realizado por fonte natural existente na propriedade. Contamos com recursos do Programa de Incentivo as RPPNs da Mata Atlântica para viabilizar despesas de logística com os estudos de biodiversidade, principalmente botânica. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 49 4.14 - EQUIPAMENTO E SERVIÇOS. A RPPN ainda não dispõe de equipamentos específicos à pesquisa, educação ambiental ou à visitação turística. Quando da realização das pesquisas já informadas e das visitas dos observadores de aves e fotógrafos, os equipamentos pertenciam aos mesmos. O sistema de comunicação é realizado por telefonia móvel da operadora Vivo, mas, infelizmente, existem alguns pontos cegos em algumas áreas. A propriedade dispõe de ferramentas básicas utilizadas para manutenção e limpeza das trilhas e contorno da RPPN, como roçadeira, serras e outros equipamentos necessários à manutenção. 4.15 - RECURSOS FINANCEIROS. Todo e qualquer recurso financeiro atualmente destinado a RPPN provém de seus proprietários. Não existem convênios e/ou parcerias para suprir suas necessidades financeiras. Entretanto, para criação da RPPN e elaboração deste Plano de Manejo obtivemos apoio do Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica (Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica). Quanto ao gasto anual da RPPN, de acordo com as atuais ações realizadas, varia entre valores superiores a R$ 7.000,00 e inferiores a R$ 10.000,00, por ano, dependendo dos serviços que são necessários. 4.16 - FORMAS DE COOPERAÇÃO. Não existe qualquer forma de cooperação firmada entre a RPPN e seu sistema de gestão com demais órgãos ou entidades públicas ou privadas. Após a aprovação deste plano temos a intenção de procurar os órgãos ou entidades públicas e privadas para uma parceria que venha fomentar a pesquisa e a educação ambiental, se for do interesse de alguma instituição educacional ou órgão governamental. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 50 5 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE. A Fazenda Montenegro não possui nenhuma atividade econômica. Ela possui quase sua totalidade recoberta de floresta (Figura 22). Somente uma pequena área em volta da sede da fazenda não possui a vegetação natural. Existe uma pequena área de um hectare que, quando da aquisição da área, tentamos implantar a cultura da palmeira açaí fora da área da RPPN. Era uma tentativa de demonstrar ao poder público municipal a viabilidade econômica da cultura e tentar implantá-la no município. Infelizmente a recepção da proposta não foi positiva e o projeto não foi adiante. Ressalte-se que o plantio foi realizado dentro da mata, apenas tivemos que raleá-la um pouco. Não existe nenhuma atividade em desenvolvimento na RPPN e no restante da propriedade que promovam risco ambiental, condicionem ou ponham em risco os seus objetivos de criação e a sua categoria de manejo. Figura 22. Polígono em vermelho propriedade, amarelo RPPN e azul área não coberta por vegetação natural. Sede da Fazenda Montenegro. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 51 Figura 23. Sede da Fazenda Montenegro rodeada por árvores frutíferas e nativas. 6 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO. A RPPN Olho-de-fogo-rendado localiza-se no município de São Sebastião do Passé, estado da Bahia, com uma área territorial de 538,324 Km², com densidade demográfica de 78,30 hab./Km². Segundo o IBGE – Censo Demográfico 2010 possui uma população de 42.153 habitantes (20.708 homens e 21.445 mulheres), sendo que a população urbana corresponde a 33.112 habitantes (15.941 homens e 17.171 mulheres) e a população rural a 9.041 habitantes (4.767 homens e 4.274 mulheres). Segundo Censo Educacional realizado pelo Ministério da Educação existiam 6.626 pessoas matriculadas no ensino fundamental, 1.677 matriculadas no ensino médio e 1.186 matriculadas na pré-escola no ano de 2012. A população distribui-se da seguinte forma por faixa etária: 22.013 habitantes entre 0 a 24 anos; 16.461 habitantes entre 25 a 49 anos; 3.707 habitantes entre 50 a 59 anos e 3.807 habitantes com 60 anos ou mais. O PIB encontra-se em R$ 9.548,96. De acordo com o IBGE - Censo Agropecuário 2006, o município possui aproximadamente 2.300 estabelecimentos agropecuários com um total de 30.916 hectares de área, sendo que deste total, as áreas de lavouras permanentes ocupam 2.194 hectares, as áreas de lavouras temporárias ocupam 1.178 hectares, as áreas de pastagens ocupam 21.382 hectares, e as áreas de mata e floresta nativa ocupam um total de 4.321 hectares. O entorno da RPPN Olho-de-fogo-rendado, de um modo geral, se caracteriza pela pecuária. A criação de bovinos no entorno da RPPN prevalece sobre qualquer outra atividade Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 52 econômica. A caça ilegal é mais um fator de influência negativa na integridade ambiental da RPPN. Figura 24. Parte da paisagem no entorno da Fazenda Montenegro. No município existem 24 estabelecimentos públicos de saúde e um hospital público com 46 leitos. São oito estabelecimentos particulares de saúde. O município é atendido por três bancos: Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal. O município possui várias pousadas e dois hotéis com um total de 112 leitos a disposição de visitantes. Existem vários supermercados de médio porte, algumas lojas de eletrodomésticos e outras de roupas, calçados e etc. 7 - POSSIBILIDADE DE CONECTIVIDADE. A RPPN Olho-de-fogo-rendado é limítrofe a RPPN Curió, que distam aproximadamente 4 km da RPPN Panema no sentido sudeste. Um grande remanescente que fica a aproximadamente 7 km das RPPNs é a mata da Fazenda Campina. A integração com a RPPN Curió é plena devido à proximidade existente. A possibilidade de conexão com a mata da RPPN Panema tem se mostrado difícil devido à falta de sensibilidade dos proprietários existentes entre elas. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 53 Apesar de existir uma Secretaria do Meio Ambiente no município, não verificamos uma política pública que exija a manutenção de áreas de APP (áreas de preservação permanente) e de RL (reservas legais) nas propriedades. Somente as RPPNs Olho-de-fogorendado, Curió, Panema e um remanescente florestal a margem do riacho Jacumirim possuem tal registro. Não tomamos conhecimento de outras áreas registradas no município nestas categorias. Figura 25. Poligonais e traçado para religar a RPPN Olho-de-fogo- aos maiores blocos florestais na região. 8 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA. A RPPN Olho-de-fogo-rendado, apesar de possuir uma área pequena, é de grande importância no contexto ambiental do município de São Sebastião do Passé e região. Como na maior parte da Mata Atlântica brasileira, a RPPN está em um contexto onde a perda de habitat e as fragmentações da mata resultaram em menos de 10% de cobertura original. Sua significância pode ser ressaltada pelos seguintes argumentos: a) A RPPN ainda abriga espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da Mata Atlântica; b) Sobrepõe-se a uma Área Importante para Conservação das AVES (IBA); c) Está próxima a uma das áreas prioritárias para conservação, segundo o Ministério do Meio Ambiente; Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 54 d) É um dos poucos fragmentos florestais na região onde não há corte de madeira para serrarias ou outra atividade comercial; e) É uma área referencial no município em termos de conservação e proteção a biodiversidade; f) Foi identificada como uma área promissora para a observação de aves; g) Tem potencial de atrair parceiros públicos e privados para atividades de pesquisa e contemplação, e com isso incentivar a proteção de outras áreas na região. De outros modos, de acordo com o previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a RPPN pode: Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos na região; Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica. É importante ressaltar a integridade da área da RPPN em uma paisagem altamente fragmentada. Ainda não dispomos de dados sistemáticos para caracterizar a vegetação de acordo a RESOLUÇÃO CONAMA nº 4, de 4 de maio de 1994. Mas com base na experiência de campo do biólogo Sidnei Sampaio dos Santos a área está em estágio de sucessão avançado. Os futuros estudos de fitossociologia irão confirmar essa assertiva. Ressaltamos que em relação às espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, há dois destaques: o primata Guigó-de-Coimbra (Callicebus coimbrai) e o pássaro Olho-defogo-rendado (Pyriglena atra), ambos de distribuição restrita a faixa atlântica entre os rios Paraguaçu (Bahia) São Francisco (extremo norte de Sergipe) (JERUSALINSKY ET AL., 2006; SANTOS, 2008). Na região a área da RPPN é essencial para a manutenção dessas espécies na paisagem. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 55 9 - PLANEJAMENTO. Uma RPPN define-se como uma área privada com o objetivo de conservar a biodiversidade. Neste tipo de Unidade de Conservação serão permitidas apenas a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. 9.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO DA RPPN. Considerando a ocorrência de espécies ameaçadas e endêmicas encontradas na RPPN, a devastação que ocorre em toda a região com a derrubada das matas, o descaso público e da sociedade para com os problemas ambientais, concluímos que para preservar o remanescente florestal, protegendo as diversas espécies existentes na região, os objetivos específicos do manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado serão: Promover a conservação e preservação ambiental da área, considerando a biodiversidade e os recursos genéticos locais, assim como dos ecossistemas; Garantir a preservação do habitat da espécie Pyriglena atra, também conhecida com o Olho-de-fogo-rendado e que denomina a RPPN; Proteger outras espécies endêmicas, raras, vulneráveis ou ameaçadas de extinção; Preservar bancos genéticos tanto da fauna quanto da flora para sua possível utilização pelas gerações futuras; Possibilitar que a RPPN seja área de estudo para pesquisa científica e monitoramento ambiental. 9.2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. Para a confecção do Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado foram adotados os procedimentos metodológicos da publicação do IBAMA “Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural”. 9.3 - ZONA DE PROTEÇÃO. Com os objetivos específicos da RPPN Olho-de-fogo-rendado determinados acima está claro que o zoneamento adequado para toda a área é o classificado como o de ZONA DE PROTEÇÃO. A criação da zona de proteção irá atender aos propósitos estabelecidos dentro deste plano de manejo, permitindo que a RPPN Olho-de-fogo-rendado possibilite a preservação e conservação da área e permita que esta experiência possa ser difundida por toda região e venha a sensibilizar mais pessoas para a necessidade de criação de mais áreas com o mesmo propósito. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 56 As destinações referentes a este tipo de zona quanto à conservação e preservação serão plenamente atendidas e as atividades de visitação, administração e a instalação de infraestrutura, equipamentos e etc., serão atendidas pela área da Fazenda Montenegro que não foi destinada a RPPN. 9.3.1 - NORMAS PARA ZONA DE PROTEÇÃO. No entanto, vale destacar que, apesar do zoneamento elaborado para proteção da RPPN, algumas pressões antrópicas ainda são bastante preocupantes e, deste modo, destacamos algumas normas e ações que não serão permitidas: A entrada de sementes e mudas de plantas exóticas na área da RPPN; A circulação de veículos automotores movidos a combustíveis fósseis; A circulação de pessoas sem autorização dos proprietários na área da RPPN; O acendimento de fogueiras, fogão, lareira, forno, cigarro, charuto, cachimbo e provocar qualquer tipo de chama ou labareda na área da RPPN sem autorização dos proprietários da RPPN; A construção de qualquer infraestrutura que não obedeça às normas e parâmetros socioambientais estabelecidos em lei ou portarias e regulamentos dos órgãos fiscalizadores e ambientais competentes. Poluição sonora; Presença de animais domésticos, de gado bovino, ovino, caprino e outras espécies exóticas; Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de quaisquer outros produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente; Não será permitida a soltura de animais e plantio de espécies exóticas; Invasões ou instalação de assentamentos. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 57 10 - PROGRAMAS DE MANEJO. Os programas de manejo agrupam as atividades semelhantes e serão elaborados visando o cumprimento dos objetivos da RPPN Olho-de-fogo-rendado. De acordo com o Roteiro Metodológico (FERREIRA et. al., 2004) os programas de manejo englobam cada atividade a ser desenvolvida na RPPN, definindo as ações que poderão ser gerais ou por áreas. O objetivo maior da RPPN Olho-de-fogo-rendado é contribuir para a preservação e conservação da Mata Atlântica. Este objetivo irá guiar e estabelecer dentro deste plano de manejo nossas ações. 10.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO. A condução da RPPN será feita pelos proprietários e esse programa visa a garantir a funcionalidade da reserva através da implantação do sistema de administração e manutenção, construção da infraestrutura e aquisição de equipamentos, de modo a fornecer a estrutura necessária para o desenvolvimento de todos os programas. Como já foi definido, todas as atividades e infraestrutura administrativa serão realizadas fora dos limites da RPPN, mas dentro da propriedade e, em alguns casos, na residência dos proprietários. 10.1.1 – Objetivos: Isolamento da área da RPPN; Implantação de Infraestrutura; Administração adequada. 10.1.2 – Ações, atividades e normas: Manutenção do sistema de isolamento da área da RPPN através de cercas; Instalar estruturas de apoio à visitação com o mínimo impacto de tal atividade; Manter registro das atividades realizadas; Desenvolver projeto e implantação de sinalização turística, de sistemas de trilhas e criação de material informativo impresso e digital; Fomentar ou criar parcerias com entidades de cunho ambiental; Destinar, captar e solicitar recursos financeiros para o gerenciamento e manutenção da RPPN. 10.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO. O principal objetivo deste programa é o de garantir a integridade da RPPN e a manutenção de sua biodiversidade. Atividades específicas que poderão levar a degradação Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 58 da RPPN Olho-de-fogo-rendado serão coibidas através das ações contempladas neste item. Este programa visa, também, garantir a proteção do patrimônio e dos equipamentos existentes no interior da área. 10.2.1 – Objetivo. Proteção da Unidade contra ações que ameacem sua integridade; Prevenir a entrada de caçadores na RPPN; Prevenir cortes de madeira ou coleta de material vegetal. 10.2.2 - Ações, atividades e normas. Integridade da RPPN Olho-de-fogo-rendado garantida; Fauna e flora da RPPN Olho-de-fogo-rendado protegida, especialmente as espécies ameaçadas; Ações degradantes, como a incidência de fogo, por exemplo, impedida; Proibição da caça, da pesca, da coleta e da apanha de espécimes da fauna e da flora, ressalvadas aquelas com finalidades científicas, desde que aprovadas em projeto específico; Implantação de torre de observação em local adequado que possibilite vistoria panorâmica da área da RPPN de acordo com as diretrizes do Plano de Manejo; Fixar placas de advertência nos limites da propriedade, informando tratar-se de uma RPPN e as proibições legais; Adquirir e/ou receber em doação materiais e equipamentos destinados à manutenção das condições de segurança na RPPN, conforme as necessidades. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 59 10.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO. Pela dificuldade encontrada para achar dados sobre o meio ambiente da região do Recôncavo Baiano, mais precisamente, sobre São Sebastião do Passé, acreditamos que exista um grande potencial para pesquisas na RPPN Olho-de-fogo-rendado, que poderá acrescentar informações preciosas para o conhecimento cientifico da região. 10.3.1 – Objetivo. Levantamento da flora e fauna na RPPN; Estabelecer conexão das pesquisas e estudos da RPPN com o Sistema de Monitoramento da Biodiversidade em Unidades de Conservação Federais (SIMBIO); Permitir a realização de estudos referentes à potencialidade de educação ambiental; Permitir a realização de parcerias com instituições de pesquisa; Criar um banco de dados sobre a biodiversidade na região. 10.3.2 – Ações, atividades e normas. Gerar informações sobre a biodiversidade e ecossistemas da RPPN Olho-de-fogorendado que subsidiem o manejo da área; Promover o aprofundamento dos conhecimentos de espécies da flora e da fauna local e regional; As pesquisas deverão considerar o menor impacto ao meio ambiente e qualquer tipo de coleta deve obedecer à legislação vigente quanto à necessidade de autorizações; As pesquisas deverão ser coordenadas por profissionais especializados no tema. 10.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO. A área tem visitação esporádica de observadores de aves e fotógrafos especializados em macro fotografias. Estas atividades ocorrem, geralmente, nos fins de semana e feriados. Pretendemos estimular essas práticas e as visitas com o intuito de contemplação da paisagem e de cunho educacional. Considerando os potenciais ecológicos e turísticos diagnosticados na área de estudo a RPPN tem capacidade de desenvolver atividades de visitação, desde que estejam de acordo com o zoneamento e os objetivos do Plano de Manejo. Assim, este programa tem como objetivo promover o desenvolvimento de atividades sustentáveis de baixo impacto, como trilhas ecológicas, observação de fauna e flora, entre outras modalidades. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 60 10.4.1 – Objetivos. Implantação de trilhas ecológicas; Conscientizar os visitantes quanto à importância da conservação e preservação ambiental; 10.4.2 – Ações, atividades e normas. Delimitar fisicamente a trilha ecológica; Desenvolver e implantar materiais informativos sobre a área; Possibilitar a visitação de caráter técnico-científico para estudantes, explorando as diferentes possibilidades da RPPN; Disponibilizar para consulta aos visitantes o plano de manejo e todos os resultados de pesquisa e monitoramento; Caminhadas na reserva, para os visitantes conhecerem e estudarem a biodiversidade da RPPN. 10.5 - PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA. Todo e qualquer recurso financeiro atualmente destinado a RPPN provém de seus proprietários. Não existem convênios e/ou parcerias para suprir suas necessidades financeiras. Entretanto, com a criação da RPPN e elaboração deste Plano de Manejo tentaremos viabilizar a obtenção de recursos financeiros junto a instituições privadas ou governamentais. O gasto anual da RPPN, de acordo com as atuais ações varia entre valores superiores a R$ 7.000,00 e inferiores a R$ 10.000,00, por ano, dependendo dos serviços que são necessários. 10.5.1 – Objetivos. Elaborar orçamento anual com previsão de gastos para manutenção da RPPN; Criar campanha de doação de recursos por cartão de crédito e débito para pessoas físicas; Buscar fontes de recursos para implantação dos programas de manejo e projetos específicos. 10.5.2 - Ações, atividades e normas. Elaborar o orçamento anual prevendo despesas para as demandas da RPPN; Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 61 O orçamento deverá incluir custos com manutenção, fiscalização, monitoramento, comunicação e demais despesas associadas, sendo atualizado anualmente; Elaboração de projetos para captação de recursos direcionados à gestão da RPPN, principalmente para manejo, pesquisa, instalações e etc.; Manter atualizada uma lista de financiadores que apoiam projetos e ações em UC. 10.6 - PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO. Empresarialmente fala-se que a propaganda é a alma do negócio. Para uma RPPN a divulgação de sua existência é a sua própria sobrevivência. Despertar o interesse da sociedade para a importância de determinadas áreas torna-se essencial; prioridade máxima e urgente de uma sociedade que relegou por muito tempo os problemas ambientais. De nada adiantará a criação de unidades de conservação se não despertarmos na sociedade o desejo de manter estas áreas. Precisamos criar um sentimento de necessidade e de verdadeiro amor pelas coisas da natureza. Somente quando a sociedade despertar do seu sonho utópico de desenvolvimento sem preocupação com o meio ambiente, poderemos atingir um status de sociedade plena. 10.6.1 – Objetivos. Tornar a RPPN Olho-de-fogo-rendado conhecida da comunidade em geral, como exemplo de proteção de conservação da natureza e uso indireto de recursos naturais; Criação de site na INTERNET e páginas nos diversos sites de relacionamento; Elaboração da Logomarca e projeto de sinalização da RPPN. 10.6.2 – Ações, atividades e normas. Confeccionar materiais de divulgação da RPPN, como folders, informativos, etc.; Divulgar a imagem e as atividades desenvolvidas na RPPN no intuito de relacionarse com a sociedade em geral; Divulgar a RPPN junto aos clubes de observadores da fauna, fotógrafos da natureza e etc.; Disponibilização para visitas técnicas de potenciais doadores e formadores de opinião; Divulgação das oportunidades de uso público, pesquisa e outros serviços; Criação e manutenção do site da RPPN; Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 62 Criação e manutenção de páginas no Facebook, Orkut, Google+, etc.; Compor acervo fotográfico, sonográfico e videográfico da RPPN Olho-de-fogorendado; Elaborar a logomarca da RPPN. 11 - PROJETOS ESPECÍFICOS. Este item é para aqueles projetos futuros, pois não puderam ser desenvolvidos durante a elaboração do plano de manejo, por falta de tempo e recursos financeiros adicionais e, ainda, devido à necessidade de contratação de técnicos especializados no tema específico. São projetos que poderão ser desenvolvidos em momentos mais oportunos para o proprietário. 11.1 - Projeto de Educação Ambiental. A implantação do Programa de Educação Ambiental visa criar condições para a participação da sociedade na melhoria da qualidade de vida individual e coletiva. Os principais objetivos do Programa de Educação Ambiental são: Conscientizar os visitantes quanto à importância da conservação e preservação ambiental; Criação de um Centro de Educação Ambiental da Fazenda Montenegro externa a RPPN; Disseminar os conhecimentos da fauna e flora da região aos visitantes; Integrar e compatibilizar as diversas ações do projeto com os visitantes que envolva educação ambiental. O Programa de Educação Ambiental prevê o desenvolvimento das seguintes atividades: Promover reuniões com órgãos governamentais e não governamentais vinculados à educação, à saúde e ao meio ambiente, visando discutir estratégias para o desenvolvimento das atividades; Implantação de placas de sinalização interpretativas e consultivas na trilha ecológica; Possibilitar a visitação de caráter técnico-científico para público específico, como estudantes de diferentes áreas do conhecimento, explorando as diferentes possibilidades vocacionais da RPPN. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 63 12 - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES E CUSTOS. ATIVIDADES E CUSTOS RPPN OLHO-DE-FOGO-RENDADO CUSTO PRIORIDADE ANUAL ANO 1 2 3 4 5 PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO. Manutenção do sistema de isolamento. R$ 5.000,00 MÉDIA X X X X X Instalação de estruturas para visitação. R$ 50.000,00 BAIXA - - X X X Projeto de sinalização, trilhas. R$ 10.000,00 MÉDIA X X X X X MÉDIA X X X X X PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO. Contratação de funcionários R$ 25.000,00 PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO. Levantamento da flora e fauna. R$ 20.000,00 BAIXA - - X X - Criação de banco de dados. R$ 25.000,00 BAIXA - - X X X R$ 15.000,00 MÉDIA X X - - - R$ 25.000,00 ALTA X - - - - Criação de informativo sobre a RPPN R$ 5.000,00 MÉDIA X X X X X Criação de acervo fotográfico e R$ 10.000,00 MÉDIA X X X X X MÉDIA X X - - - PROGRAMA DE VISITAÇÃO. Criação do programa de visitação. PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA. Elaboração de projeto para captação de recursos. PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO. videográfico. PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Criação do projeto de educação R$ 50.000,00 ambiental. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 64 13 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. AMARAL, B. DO. (1937). Memórias históricas e políticas da província da Bahia do cel. Ignácio Acioli de Cerqueira e Silva. Volume V, ed. 1937. 1 – 648. BENCKE, G. A. et al. 2006. Áreas Importantes para a Conservação das Aves do Brasil. 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Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 75 14.3 – PORTARIA DE CRIAÇÃO DA RPPN OLHO-DE-FOGO-RENDADO. Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 76 Plano de Manejo da RPPN Olho-de-fogo-rendado 77