3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DOS ATRATIVOS QUE COMPÕEM O COMPLEXO TURÍSTICO LARGO SÃO SEBASTIÃO: A ACESSIBILIDADE SOB A ÓTICA DA PESSOA COM NECESSIDADES ESPECIAIS JOSÉ GONÇALVES DE MENEZES – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS-FAPEAM LILEANE PRAIA PORTELA DE AGUIAR – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO AMAZONAS MARIA ROSEANE GONÇALVES DE MENEZES – FACULDADE TÁHIRIH-SEMED JOCILENE MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA – FACULDADE TÁHIRIH-SEMED MARIANA MORAES DOS SANTOS – UNINORTE-SEDUC Resumo O presente estudo propõe discutir sobre processos de inclusão, destacando os aspectos referentes à área do turismo Manauara. Abordarmos questões referentes aos direitos do cidadão, refletindo sobre a inclusão de pessoas com deficiência nos atrativos turísticos do Centro Cultural Largo São Sebastião. Descrevemos a composição arquitetônica do referido Complexo Turístico, bem como apresentamos as dificuldades de acesso da pessoa com deficiência aos atrativos. Sabemos que o turismo é um dos maiores setores da economia brasileira, porém nem todos podem se beneficiar com as atividades deste setor. Destacamos os pontos de contradições que se configuram em processos de exclusão da participação positiva de pessoas com deficiência pela falta de acessibilidades que permita a contemplação do espaço como um todo. Assim, na fala de nossos entrevistados percebemos o quanto a exclusão ainda faz parte de uma sociedade pós-moderna. Dessa forma suscitamos um olhar atendo a uma política inclusiva, voltada ao contexto turístico. Palavras chaves: inclusão, exclusão, turismo, acessibilidade. Introdução A partir do contato com pessoas com deficiência, foi possível entendermos melhor o grau de dificuldades de locomoção, comunicação, visualização dentre outras que os mesmos apresentam. No entanto percebemos também que muitas vezes tais dificuldades são criadas pela sociedade o que nos faz acreditar que se trata de um problema também de ordem pública e social. Diante dessa problemática, acreditamos na necessidade de fazer serem cumpridos pelo menos os direitos básicos do cidadão. Sabemos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) ao proclamar que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” (Brasil, 2001), conseguiu unir os povos do mundo todo, isto é todos são iguais perante a lei e devem viver e agir respeitando as diferenças. A Constituição Federal Brasileira (1988) que em seu Título I Dos Princípios Fundamentais, trata da cidadania e da dignidade da pessoa humana, (art. 1º). E como um dos seus objetivos fundamentais visa à construção de uma sociedade livre, justa e solidária para a promoção do bem-estar, sem preconceitos [...] (art. 3º), garante ainda reconhecidamente o direito à igualdade de que trata o art. 5º. A C.F. é bem enfática em seu Título II Dos Direitos e Garantias Fundamentais, em seu Capitulo II Dos Direitos Sociais o art. 6º proclama que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança [...]. ( Brasil, 2001). Com relação ao lazer podemos incluir as atividades turísticas foco de nosso estudo. 776 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Reconhecer e garantir os direitos das pessoas deficientes (sensoriais, físicas e mentais) é uma questão de conscientização e ainda uma tarefa que requer o envolvimento de uma equipe diversificada de profissionais, porém, não se pode privar ou até mesmo, segregar essas pessoas às escolas ou instituições especializadas, ou somente ao seio familiar, segundo melhor lhes convier. Para isto, a sociedade precisa trabalhar com dignidade respeitando as diferenças. Neste sentido, concordamos com Menezes (2005), quando cita: Não basta somente a elaboração de leis para que a inclusão social aconteça satisfatoriamente, é preciso mudanças de atitudes das pessoas. São as pessoas envolvidas no quadro social que poderão fazer acontecer à inclusão, ou mesmo promover a acessibilidade. Sobre esse enfoque nos questionamos: E no Turismo? O que se tem feito pelas pessoas com deficiência? Sabemos que o turismo tem sido tema de grandes reuniões de especialistas mais preocupados com quanto uma das atividades mais lucrativas vem faturando por ano, esquecendo os aspectos sociais, entre eles a inclusão das pessoas com deficiência que também querem participar desses processos. Concordamos com Zermiani, Cruz e Wohlke ao afirmar que: O tema "Inclusão Social" tem gerado inúmeras discussões, mas muito pouco foi feito. (...) A integração constitui em formas de inserção social também das pessoas com deficiência, e a prática da inclusão vem seguindo o modelo social, no qual nossa tarefa é modificar a sociedade para torná-la capaz de acolher a todas as pessoas com deficiências ou não. (2003, p. 780). Entretanto, é notório que o turismo tem se convertido em um fenômeno de transformação das sociedades modernas, principalmente no que se referem aos aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais. De acordo com Henriques e Lima (2003). “O crescimento do turismo no Brasil é uma realidade. E dentro desta concepção de turismo inclusivo precisamos rever posições estratégicas que ainda não contemplam um turismo para todos”. Ainda, segundo Henriques e Lima (2003.) “O lazer é uma prerrogativa básica como fator revitalizador das tensões do cotidiano do ser humano”. Entretanto, pode-se afirmar que existe uma parcela de pessoas que estão privadas dessas prerrogativas por conta de suas deficiências. De acordo com o Decreto nº. 3298, de 20 de dezembro de 1.999, (Subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República), em seu art. 3º considera deficiência: “Toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. Diante destes discursos nos preocupamos com os deficientes residentes principalmente na cidade de Manaus que não participam de eventos turísticos por não terem acesso. Desta forma, nossa preocupação vem de encontro ao processo de acessibilidade das pessoas com deficiência aos atrativos que compõem o complexo turístico Largo São Sebastião da cidade de Manaus – AM. Procedimentos Metodológicos 777 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Reconhecemos que a busca do conhecimento dar-se principalmente por meio da pesquisa. Na tentativa de se compreender os entraves referentes à acessibilidade que dificulta a participação de alguns deficientes no Complexo Turístico Largo São Sebastião, o presente artigo objetiva descrever a composição arquitetônica do referido Complexo Turístico, bem como refletir sobre as dificuldades de acesso da pessoa com deficiência a esses atrativos. Com relação ao método da pesquisa nos referenciamos a Bianchi (2002), quando cita que: “método é o caminho utilizado para a realização da pesquisa”. Portanto consiste em uma pesquisa social essencialmente qualitativa para o qual (Minayo 2001, p15) cita que: “A abordagem qualitativa considera a relação dinâmica que há entre o mundo real e o sujeito”. Quanto aos meios utilizamos em um primeiro momento a pesquisa bibliográfica, e em um segundo momento foi realizado a pesquisa de campo. Realizamos visitas ao local (Largo São Sebastião) onde registramos toda a parte arquitetônica por meio de fotos e observamos também o comportamento dos colaboradores para o atendimento dessas pessoas. Aplicamos entrevista semi-estruturada. Os sujeitos da pesquisa foram 12 (doze) pessoas que apresentam deficiência sendo 4 (quatro) com deficiência física, 4 (quatro) surdos, e 4 (quatro) cegos. Optamos por escolher pessoas com idade acima de 18 anos e com escolaridade mínima do ensino fundamental completo. No entanto neste artigo apresentaremos apenas a fala 7 (sete) entrevistados. O que é o Largo São Sebastião? É um complexo turístico nomeado de Centro Cultural Largo de São Sebastião, fica na cidade de Manaus-AM foi inaugurado em 2004 e é um espaço criado e mantido pelo Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura, com a finalidade de resgatar a cidadania através da arte. Tal empreendimento, além de democratizar a arte, e de se tornar um local de entretenimento e lazer, há o resgate da memória local com a revitalização da área. Compõe esse espaço turístico: o Teatro Amazonas - patrimônio histórico tombado em 28 de novembro de 1966 - passou por algumas restaurações. Mesmo assim não foi feita nenhuma adaptação que possa dá acesso à pessoa com deficiência, observou-se apenas uma rampa provisória e fora dos parâmetros antropométricos dando acesso somente à bilheteria, localizada na lateral direita do Teatro. A Casa Ivete Ibiapina, a Casa J.G. Araújo, a Casa do Restauro a Casa das Artes após terem sido completamente restauradas como parte das ações desenvolvidas pelo governo do Estado através do “Projeto Manaus Belle-Époque”, não oferecem nenhuma estrutura física nem humana para atender as pessoas com deficiência. Porém são todas de interesse histórico para cidade de Manaus dos idos períodos áureos da borracha. O Largo São Sebastião é um espaço distinto e traz uma composição bem comum. Pode-se observar a Praça São Sebastião de uma forma quadrada com pontas arredondadas nas quais, em cada uma foi observado declive na calçada, que não se sabe se são rampas de acesso do deficiente físico, ou mero designe visto que não há nenhuma sinalização ou identificação. Acessibilidade do Centro Cultural Largo de São Sebastião segundo a óptica da pessoa com deficiência. 778 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Na a Lei 10.089 de 19 de dezembro de 2000, em seu artigo 1º parágrafo I tem a definição acessibilidade como: Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida; Em tempos de inclusão não é possível aceitar que o deficiente fique as margens da sociedade por conta da falta de acessibilidade para participar com dignidade dos processos sociais. O fato é que a exclusão existe desde muito tempo, e como aborda Castel (1997, p.19 e 20), a exclusão não é uma noção analítica, para entendermos a exclusão é preciso automizar situações-limite que só tem sentido quando colocadas no processo considerando que a exclusão se dá efetivamente pelo estado de todos os que se encontram fora dos circuitos vivos das trocas sociais. A exclusão que nega ao outro ser pessoa torna-se ao mesmo tempo destrutiva para o excludente, que se desumaniza e que deixa de perceber seus próprios limites e de se enriquecer com a convivência do outro. Almeida nos adverte que: A existência dos excluídos acompanha a história da humanidade, já que sempre existirão pessoas vitimadas por processos de dominação e segregação, motivados por problemas relacionados com religião, política, saúde, etnia, economia, etc., que tiveram predominância exclusiva ou combinada em cada momento histórico (2002, p. 62 e 63). A existência de diversas formas de exclusão constitui-se nas faltas de condições sociais dignas para que determinados grupos possam usufruir e participar das ações políticas de sua sociedade. Objetivando entender os processos de exclusão na área do turismo, questionamos nossos entrevistados sobre o ato de frequentar o Complexo Turístico Largo São Sebastião: Sou deficiente físico, usuário de cadeira de roda não freqüento o Largo São Sebastião, pois com a cadeira de rodas não consigo passar para ficar na frente do Teatro Amazonas. (Entrevistado A - deficiente físico). Não gosto de ir ao Lago São Sebastião porque não tem rampas para a minha cadeira de rodas passar. (Entrevistado B - deficiente físico). Realmente nossos entrevistados têm razão. Os possíveis acessos desses deficientes encontram-se bloqueados, visto que em volta do Complexo Turístico há bolas de concreto que remetem à conotação de bolas de látex (borracha), estas são compreendidas como barreira arquitetônica ambiental. Como posso freqüentar o Centro Cultural Largo São Sebastião se não há nenhuma informação histórica escrita em Braile, não há folderes e nem um tipo de sinalização. (Entrevistado C - deficiente visual). Confesso que as poucas vezes que fui ao Largo São Sebastião não aproveitei muita coisa, somente o que os meus amigos me transmitiam. Além de não ter nenhum 779 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X material em braile os funcionários não sabem receber um deficiente, são mal informados e acabam discriminando agente. (Entrevistado D - deficiente visual). É notória a ausência de placas informativas, bem como material de divulgação com escritas em braile e um serviço de áudio descrição em todos os atrativos. Caso houvesse facilitaria a comunicação dessas pessoas. As entrevistas seguintes ocorreram com a presença de um professor de língua de sinais que serviu como intérprete de dois alunos surdos de uma escola pública. Conheço o Largo São Sebastião, mas não sou freqüentador assíduo, as vezes que visitei o Largo foi por conta de visitas programadas pela escola e todas as informações foram passadas na sala de aula. Os professores nos orientam sobre os aspectos históricos de lá. (Entrevistado E – deficiente auditivo). Fui ao Largo São Sebastião para assistir a algumas peças teatrais no famoso Teatro Amazonas, pois gosto de teatro, mas, fico tentando entender as cenas, não tem nada em Libras para nossa comunicação até na bilheteria a moça não sabe nos atender (...). (Entrevistado F - deficiente auditivo). Lá no Largo São Sebastião tem muito que se apreciar, tem todo ano o Festival de Ópera, só que nem na abertura eles lembram que os surdos podem assistir, não colocam nem um intérprete para interpretar o que vai acontecer em cada ato. (Entrevistado G – deficiente auditivo). Conclusão Dar acesso às pessoas com deficiência significa respeitar as diferenças. E no setor turístico não é diferente, desta forma, construções para possibilitar a acessibilidade, bem como colaboradores treinados e capacitados se fazem necessárias no complexo como um todo. Para proporcionar as facilidades de acesso da pessoa com deficiência, pressupõe-se que os colaboradores que atuam nesses atrativos sejam pessoas que gostem de produzir serviço com qualidade. Eles devem conhecer o que fazem e devem fazê-lo com perfeição. Conclui-se então, que o complexo turístico Largo São Sebastião é uma atração turística muito importante, porém não oferece condições de acessibilidade de pessoas com deficiência. O sucesso do desenvolvimento do turismo obrigatoriamente está condicionado a respeitar o turista independente do segmento a que ele pertença. Portanto é preciso que os administradores do Centro Cultural Largo São Sebastião revejam as condições específicas de acessibilidade das pessoas com deficiência, tendo em vista que na atualidade o mundo todo, discuti e promove ações inclusivas que atendam todo e qualquer cidadão. Referências ALMEIDA, Fernando José de. Política Pública de Inclusão de Minorias e Maiorias. In: Ana Cláudia B. Lodi, Kathyn M. P. Harrison, Sandra R. L. De Campos, Ottmar Teske (Orgs). Letramento e Minorias – Porto Alegre: Mediação, 2002. 780 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X BRASIL - MEC (Ministério da Educação e Cultura). Direito à Educação: Necessidades educacionais especiais: Subsídios para a atuação do Ministério Público, 2001. CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão. In: Bôrgus, Lúcia. YASBEK, Maria Carmelita. WANDERLEY, Mariângela Belfore (Orgs). Desigualdades e a Questão Social. EDUC. São Paulo 1997. BIANCHI, Anna Cecília; et. All. 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