ANÁLISE DE LIQUIDEZ NAS EMPRESAS DE TRANSPORTE
COLETIVO DE PASSAGEIROS
Salézio Dagostim
Professor do Unilasalle
Presidente do Sindicato dos Contadores do
Estado do Rio Grande do Sul
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Analisar uma demonstração contábil não é somente comparar índices. A análise
deve ser feita levando em consideração também o tipo de operação que a pessoa jurídica
desenvolve.
Essa afirmação vem da observação do que acontece no dia-a-dia da prática contábil.
Em muitas licitações, o agente licitador tem solicitado que as empresas de transporte
coletivo de passageiros, para habilitarem-se como concorrentes a uma determinada
licitação, apresentem, em seu balanço patrimonial, um índice de liquidez superior a um.
Tal exigência de índice de liquidez (comparando o ativo circulante com o passivo
circulante) superior a um, de uma empresa que presta serviço de transporte coletivo de
passageiros e que, portanto, não vende mercadorias, sendo que o que gera como crédito em
seu fluxo de caixa é fruto da utilização de sua frota de ônibus, bens do ativo imobilizado,
demonstra um grande desconhecimento a respeito dos conceitos básicos da estrutura do
ativo e do passivo e das funções que as contas que compõem essa demonstração
patrimonial exercem sobre os seus elementos operacionais.
A análise de liquidez indica a capacidade que as pessoas jurídicas têm de saldarem
seus compromissos nos prazos estabelecidos. Ao analisar os índices de liquidez, o contador
deve levar em consideração diversos aspectos. Um deles, conforme referido anteriormente,
é o tipo de atividade econômica que a pessoa jurídica desenvolve. Por exemplo: se a
empresa opera com comércio atacadista, certamente necessitará de um capital de giro maior
em comparação com o comércio varejista. A quantidade de mercadorias que girará no
atacado certamente será maior do que a do varejo.
De igual modo, dependendo do tipo de produto, os valores também se alterarão.
Porque, na verdade, a empresa deve ter uma quantidade de ativos em condições de pagar os
passivos nos seus respectivos prazos.
A análise de liquidez pelo método estático não é a mais recomendada para medir a
capacidade que uma empresa tem de pagar seus compromissos. Esse método informa
coeficientes para que sejam feitas comparações com outras empresas do mesmo ramo.
Assim, existindo variações acentuadas, busca-se saber quais foram as causas dessas
variações.
Existem revistas especializadas que publicam os índices das empresas por tipo de
atividade. São analisadas diversas empresas de um mesmo ramo e do mesmo porte. A partir
dessas análises, são publicados os índices médios por tipo de empresa. Como foi afirmado,
o método de análise pela forma estática do balanço não é o mais indicado para medir a
quantidade que uma empresa deve possuir de capital de giro para manter-se em equilíbrio
financeiro. Se uma empresa possuir um ativo circulante de R$ 100,00 e um passivo
circulante de R$ 50,00, pela análise estática, a empresa apresentará um índice de liquidez
de 2,0 (dois) (100 ÷ 50 = 2). Nesse ponto, surge uma indagação: esse índice é suficiente?
A resposta dependerá da velocidade que o ativo leva para transformar-se em
dinheiro, e o tempo que a empresa precisa para pagar os seus compromissos. Se os R$
100,00 levarem 75 dias para transformar-se em dinheiro, e os R$ 50,00 tiverem de ser
pagos em 30 dias, a resposta será negativa. Para ser suficiente, o índice deveria ser de 2,5
(dois inteiros e cinco décimos), já que o ativo é transformado em 75 dias e o passivo é pago
em 30 dias (75 ÷ 30 = 2,5). Note-se que não é o valor do índice que dirá se ele próprio é
suficiente ou não, mas o tempo de realização e o montante de recursos em operação.
Portanto, o método mais recomendado para medir a capacidade de liquidez de uma empresa
é o método dinâmico do balanço.
Deve-se examinar o tempo que o ativo leva para ser transformado em dinheiro e o
tempo que a empresa tem para pagar os compromissos. O tempo é comparado ao montante
apurado e transformado em quantidade de capital de giro necessário. É pelo equilíbrio entre
tempo e valor que se conhecerão os índices de liquidez necessários. Aplicando a teoria ao
caso prático de uma empresa de transporte coletivo de passageiros, que recebe o fruto de
suas vendas à vista e até mesmo antecipadamente (venda de vales-transporte), e não possui
estoque de mercadorias para revenda, por que ela necessitaria de um ativo circulante maior
do que o passivo circulante? Sabe-se que a sua mercadoria de venda é representada pelos
seus ônibus, que são um ativo imobilizado, e não um ativo circulante. Ela não precisa
apresentar um ativo circulante maior do que o passivo circulante. O que precisa é
apresentar um bom fluxo de caixa e não assumir compromissos diários que totalizem
valores maiores do que as receitas do dia.
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