Produção de cultivares de morangueiro polinizados pela abelha jataí em ambiente protegido1. Odirce Teixeira Antunes2; Eunice Oliveira Calvete3; Hélio Carlos Rocha3; Dileta Cechetti3; Ricardo E. Maran4; Ezequiel Riva4; Cristiane de L. Wesp4; Franciele Mariane4. 1 Universidade de Passo Fundo - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, c. postal 611, 99.001-970 Passo Fundo RS; 2Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal/UPF – FAMV, [email protected]; 3 Professores da UPF - FAMV, [email protected]; 4Acadêmicos/bolsistas do Curso de Agronomia da UPF-FAMV. RESUMO A cultura do morangueiro, inicialmente, foi produzida à campo. Atualmente, esse cultivo é obtido em ambientes protegidos. Entretanto, utilizando essa tecnologia poderá ocorrer frutos deformados, pois a polinização poderá ser prejudicada. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade e a qualidade dos frutos comerciáveis no morangueiro, em ambiente protegido, utilizando a abelha jataí como agente polinizador. Para tanto, avaliou-se o comportamento de quatro cultivares de morangueiro (Oso Grande, Tudla, Chandler e Dover) na presença da Tetragonisca angustula (abelha jataí) utilizando duas e quatro colméias e também, na sua ausência. Os tratamentos foram compostos de um fatorial 4 x 3, dispostos em um delineamento inteiramente casualizado, com sete repetições. Cada parcela constituiu-se de 20 plantas. Foram avaliados os seguintes componentes de produtividade: massa total dos frutos, número e massa média dos frutos por área e por planta, número e massa de frutos comerciáveis e defeituosos. A presença da Tetragonisca angustula mostrou eficiência na polinização das cultivares Oso Grande, Tudla e Chandler, em ambiente protegido. A presença desse polinizador aumentou a porcentagem dos frutos comerciáveis nas quatro cultivares estudadas em 37,89%, na média das quatro cultivares em 2003 e 18,95% em 2004. Palavras-chaves: Fragaria X ananassa Duch., componentes do rendimento, produtividade. ABSTRACT Production of strawberry cultivars polinized by jataí bee in protected environment. The strawberry culture was initially produced in the field. Nowadays, this cultivation is carried out in protected environments. However, on using this technology there can be the occurrence of deformed fruit, once the polinization can be damaged. The objective of this work was to evaluate the productivity and quality of commercial fruit in the strawberry crop, in protected environment, by using Jatai bee as a pollinizator agent. Consequently, the behavior of the four strawberry cultivars (Oso Grande, Tudla, Chandler and Dover) were evaluated in the presence of Tetragonisca Angustula (Jatai bee) using two or four beehives and also, in its absence. The treatments were composed of a 4x3 factorial, laid in randomized experimental design, with seven repetitions. Each one constituted of 20 plants. The following components were evaluated: Total fruit mass, number and average fruit mass considering the area and individual plants, number and fruit mass of the commercial and damaged ones. The presence of Tetragonisca angustula showed efficiency in pollination of cultivars Oso grande, Tudla and Chandler in protected environment. The presence of these pollinattor increased the percentage of the fruit commercial in the four cultivars studied if 37,89% in the average of four cultivars in 2003 and 18,95% in 2004. Key-Words: Fragaria X ananassa Duch., yeld components, productivity. INTRODUÇÃO No Brasil a cultura do morangueiro (Fragaria X ananassa Duch.) concentra-se principalmente nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Distrito Federal. Estima-se em 3.500 ha a área cultivada. (PAGOT e HOFFMANN, 2003). No Rio Grande do Sul, quando iniciou o cultivo de morangueiro a média atingida era insignificante (ao redor de 3 t.ha-1). A partir dos anos 80, com utilização de novas tecnologias, principalmente cultivares mais adaptadas, passou a ser obtida produtividades em torno de 20 t.ha-1. Atualmente, pode ser conseguido produtividades superiores a 30 t.ha-1, dependendo da tecnologia empregada (PAGOT e HOFFMANN, 2003). A utilização do ambiente protegido na cultura do morangueiro proporciona uma série de vantagens, entre elas, a proteção da cultura contra ventos, granizo, chuvas, geadas, baixas temperaturas e menor ataque de pragas e doenças, quando bem manejadas. Segundo Brazanti (1989), a grande maioria das cultivares comerciais de morangueiro, com raras excessões, possuem flores hermafroditas, necessitando de uma fecundação cruzada. Portanto, para produzir frutos de qualidade, comerciáveis, necessitam de uma perfeita polinização nas suas flores, o que é possível na presença de agentes polinizadores, principalmente insetos. Geralmente em ambiente protegido esta ação fica prejudicada. Braga (2001) concluiu que a abelha jataí se adaptou bem às condições da cultura de morangueiro, à temperatura e a umidade relativa do ar, características de estufa, assim como à quantidade limitada de alimento. As flores visitadas por essa abelha originaram morangos bem formados e o número de frutos deformados caiu de 85 para 5%. Godoy et al. (2004) verificaram que a polinização entomófila desempenhou um papel muito importante, aumentando o índice de frutos comerciáveis conseqüentemente, diminuindo o índice de frutos não polinizados em 16,4%. em 14,9% e, Calvete et al. (2003) realizaram experimento com duas cultivares (Oso Grande e Tudla) de morangueiro, em ambiente protegido, utilizando a abelha jataí (Tetragonisca angustula L.) como polinizadora. Constataram que a presença da abelha jataí foi positiva em todas as variáveis estudadas (frutos comerciáveis e defeituosos, peso médio, número total de frutos e produtividade), quando comparados com a testemunha (ausência de abelha). Desta forma, o objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da abelha jataí (Tetragonisca angustula L.) como agente agente polinizador, sobre a produtividade e qualidade dos frutos de morangueiro, em ambiente protegido. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado nos períodos de 05 e 06 de maio a 23 e 20 de dezembro de 2003 e 2004, respectivamente. A pesquisa foi conduzida em uma estufa plástica, com teto semicircular, com área de 510 m2, coberta com filme de polietileno de baixa densidade (PEBD). A parte interna foi dividida em três compartimentos, para isolamento dos diferentes tratamentos com a abelha jataí. A temperatura e a umidade relativa do ar, no interior da estufa e na parte externa, foram registradas diariamente, através de termohigrógrafo. A irrigação foi realizada por sistema de gotejamento localizado e a adubação foi através da fertirrigação, semanal. O transplante foi efetuado em 05 e 06 de maio de 2003 e 2004, respectivamente, com espaçamento de 0,30 m entre plantas e 0,30 m entre fileiras, em área contendo mulching preto. As colméias de jataí foram introduzidas na estufa em 04 e 19 de julho/2003 e 2004, respectivamente, quando as cultivares apresentavam cerca de 10% de floração. Os tratamentos foram constituídos de um fatorial 4 x 3, compostos pelas cultivares Oso Grande, Tudla, Chandler e Dover e pela espécie Tetragonisca angustula (Jataí) em três densidades, sem abelha, com duas e com quatro caixas de abelhas, dispostos em DCC, com 7 repetições. Cada parcela constituiu-se de 20 plantas. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e ao teste Tukey a 5%. Foram analisadas as seguintes variáveis: massa média dos frutos (g), número médio de frutos x planta-1, rendimento médio por planta (g x planta-1), rendimento médio por área (kg x m-2), frutos comerciáveis e defeituosos. Logo após a colheita foi realizada a análise física e química dos frutos. RESULTADOS E DISCUSSÂO Em relação a massa fresca total de frutos por planta e por área, observadas em 2003 e 2004, verificou-se efeito positivo da polinização pela abelha jataí sobre as plantas de morangueiro, considerando a média das 4 cultivares analisadas (Tabela 1). Free (1968), Moore (1969), Changnon et al. (1996) e Couto (1996) demonstraram que a produção de frutos de morangueiro tem alta correlação com a polinização, quanto ao peso, formato e tamanho. Em relação ao número médio de frutos por planta, evidenciou uma superioridade na presença do agente polinizador em relação a ausência. Na variável frutos comerciáveis, considerando a média das 4 cultivares, observou-se um acréscimo 37,89%, na presença de 4 colméias de abelha em relação a testemunha e de 17,35% em relação a densidade com 2 colméias, no ano de 2003. Já no ano de 2004 o acréscimo foi de 18,95%, na densidade com 4 colméias em relação a testemunha e de 10,16% em relação a densidade com 2 colméias. Segundo Sudzuki (1988), a polinização por abelhas no morangueiro resulta em 20,7% de frutos defeituosos, enquanto sem abelhas esse valor passa para 48,6%. Na variável frutos defeituosos constatou-se que a presença da abelha jataí diminuiu a porcentagem dos frutos defeituosos em relação a ausência de abelha. LITERATURA CITADA BRAGA, K. S. M. (2001). Abelhas melhoram qualidade de morangos. Disponível em: htpp:/www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n444.htm. Acessado em: 15 de setembro de 2004. BRAZANTI, E. E. La fresa. Madri: Mundi-prensa, 1989. 386p. CHAGNON, M.; GINGRAS, J.; OLIVEIRA, D. Complementary aspects of strawberry pollination by honey and indiginous bee (Hymenoptera). Journal of economic entomology, College Park, n. 2, v. 86, p. 416-420, 1993. COUTO, R. H. N. de. Uso de atrativos e repelentes como reguladores da polinização. In: SIMPÓSIO ESTADUAL DE APICULTURA DO PARANÁ, 11, 1996. Pato Branco, Anais...Curitiba: Champagnat, 1996. p. 61-65. FREE, J. B. The pollination of strawberries by honey bees. Journal of horticultural science, Ashford Kent, v. 43, p. 107-111, 1968. GODOY, W. I.; BARROS, I. B. I. de. Importância da polinização na cultura do morangueiro (Fragaria X ananassa Duch.) In: SIMPÓSIO NACIONAL DO MORANGO, 2, Pelotas, 2004. Anais... Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. p.60-62. MOORE, J. N. Insect pollination of strawberries. Journal of the American Society for Horticultural Science, Alexandria, v. 94, p. 362-364, 1969. PAGOT, E.; HOFFMANN, A. Produção de pequenas frutas no Brasil. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE PEQUENAS FRUTAS, 1, Vacaria, 2003. Anais... Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2003. p.9-18. (Documentos 37). SUDZUKI, F. Cultivo de Frutales Menores. Chile: Ed. Universitaria. 4. ed. 1988. 123 p.