PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Helena Tavares de Souza Um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA SÃO PAULO 2013 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Helena Tavares de Souza Um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA SÃO PAULO 2013 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Helena Tavares de Souza Um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em ENSINO DE MATEMÁTICA, sob orientação da Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini. SÃO PAULO 2013 Banca Examinadora __________________________________ __________________________________ __________________________________ Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura:_______________________________Local e Data:_____________ DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu grande amor, meu marido Francisco, que há duas décadas se alegra com as minhas alegrias e enxuga as minhas lágrimas nos momentos tristes. A esse homem encantador que durante todos estes anos têm me apoiado para que os meus sonhos e metas sejam reais e vivenciados com plenitude. AGRADECIMENTOS A Deus pelo seu grande, infinito e incondicional amor e cuidado em todos os meus dias. À minha orientadora Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini por todos os seus ensinamentos, os quais contribuíram para o meu amadurecimento como pesquisadora e profissional. Aos professores que ministraram disciplinas durante o curso de Mestrado Profissional, proporcionando-me momentos de reflexões e experiências. Aos Professores Doutores Gerson Pastre Oliveira e Marcos Roberto Celestino que gentilmente fizeram parte da Banca Examinadora, contribuindo com sugestões riquíssimas para a minha pesquisa. Aos meus colegas de sala Adriana, Cláudia, Eliane, Jefferson, Nalva, Nilza, Neto, Maria Tereza, Regina, Regina Lúcia, Raquel, Ronaldo, Silvana, Silvia e Thereza e aos colegas do GPEA que, em muitos momentos me deram força e ajudaram em diversas tomadas de decisão. Ao meu marido Francisco por toda cumplicidade durante todo o curso. Aos meus pais (in memorian) pelos infinitos ensinamentos. Que saudade de vocês! Ao meu irmão Raul que continua com o mesmo instinto protetor de quando eu era criança, pelo apoio e credibilidade e por sempre pronunciar que sou o seu orgulho. Ao meu cunhado Cícero e minhas cunhadas Dora, Edna e Ninha pela credibilidade. E em especial, à minha cunhada Teca por todo carinho, cuidado e por todos os almoços e jantares que me ofereceu em sua casa, fazendo com que eu remisse o tempo para os estudos. Aos meus sobrinhos pelo apoio e credibilidade. Em especial, Andréia, Alexandre e Vanessa. Aos meus afilhados Anna Clara e Nycollas Eduardo por terem chegado à minha história trazendo mais brilho e alegria. Aos meus padrinhos Adenilson, Andreia e Santino por todo o carinho, cuidado e amizade durante todos estes anos. Aos meus amigos Cláudio, Débora Binja, Débora Flores, Elias Binja, e Selma pela credibilidade e apoio. Ao meu amigo Agnaldo por todas as ajudas. Ao casal Tião e Neneca pelo carinho e apoio e por terem me hospedado em sua casa quando participei do XI EPEM em 2012. Ao meu amigo cubano Professor Doutor Lino Sanchéz Telléz por seus conselhos sábios e por todo incentivo para que eu voltasse ao Brasil para esta formação. À Universidade Óscar Ribas em Angola por ter me acolhido durante quatro anos, fazendo vivenciar momentos ímpares e pelo consentimento do meu retorno ao Brasil para a formação no Mestrado Profissional em Ensino de Matemática da PUC-SP. A todos muito obrigada! “De tudo só ficam três coisas: A certeza de que estamos sempre começando. A certeza de que é preciso continuar. A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar”. Fernando Pessoa SOUZA, Helena Tavares de. 2013. Um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática (Orientadora: Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini). RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar possíveis contribuições a Educação Básica para o ensino de função modular. Para atender tal objetivo, as investigações foram delineadas de forma a responder à questão de pesquisa: De que forma o uso de uma estratégia pedagógica baseada em Resolução de Problemas com o emprego do software GeoGebra concorre para ampliar a compreensão de professores do Ensino Médio sobre o tema função modular dos pontos de vista algébrico e geométrico? A pesquisa tem uma abordagem qualitativa com análise de conteúdo realizada com quatro professores do Ensino Médio de escolas da rede pública e privada de São Paulo e que também são estudantes do curso de PósGraduação em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. Os instrumentos aplicados correspondem a um questionário semiestruturado dividido em quatro partes e entrevistas não-estruturadas. As análises são descritas na perspectiva da Resolução de Problemas sob à luz da Educação Matemática. A pesquisa não tem como foco principal analisar o uso das tecnologias, mas propõe a utilização do software GeoGebra como estratégia pedagógica para o ensino do tema em questão. Os resultados apontam que há diferenças nas concepções dos sujeitos da pesquisa quanto a exercícios e problemas matemáticos (o que é exercício matemático para alguns professores para outros é problema matemático) e também mostram que o emprego do software GeoGebra concorre para ampliar a compreensão de alguns professores do Ensino Médio quanto ao tema função modular. Palavras-chave: Educação Algébrica; Resolução de Problemas; Função Modular; GeoGebra. SOUZA, Helena Tavares de. 2013. A Study with High School Teachers about Modular Function by solving problems using the software GeoGebra as a pedagogical strategy. Thesis (Masters Degree in Mathematic Education). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: Program of postgraduate studies in Mathematic education (Orientadora: Professora Doutora Barbara Lutaif Bianchini). ABSTRACT The purpose of the present paper is to investigate possible contributions to the Basic Education in the teaching of Modular function. To attend such purpose, the investigations were designed in a way so they answer to the research question: In what way the use of a pedagogical strategy based on the problem solving approach of with the software GeoGebra concur to amplify the understanding of High Schools teachers about the Modular Function theme under the algebraic and geometric points of view? This research has a qualitative approach with a content analysis made with four public and private High School teachers, who are also students of a Mathematic Education postgraduate course from a São Paulo’s University. The instruments applied to this paper correspond to a semi structured questionnaire divided in four parts and non-structured interviews. The analyses are described under the light of Mathematic Education perspective by solving problems. This research does not focus mainly in the use of technologies, howeveroffers the software GeoGebra as a pedagogical strategy to the teaching of the issue in question. The results point to no differences in the investigated people’s ideas related to mathematic problems and exercises; mathematic exercises, for some teachers are exercises, and for others they are mathematic problems, so this also shows that the use of the GeoGebra software concurs to amplify the understanding of some High School teachers about the Modular Function theme. Key-words: Algebraic Education; Solving Problems; Modular Function; GeoGebra. LISTA DE QUADROS Quadro 1-Diferenças entre exercícios e problemas matemáticos.............................40 Quadro 2-Critérios para transformar as tarefas escolares em problemas.................41 Quadro 3-Método de resolução de problemas...........................................................51 Quadro 4-Tipologia de ações para resolução de problemas na teoria das Situações....................................................................................................................56 Quadro 5-Similaridades entre as ideias de Polya e Brousseau.................................57 Quadro 6-Distribuição dos conteúdos sobre Relação e Função propostos nos Guias Curriculares para o Ensino da Matemática do Estado de São Paulo(1976)....64 Quadro 7-Níveis de utilização para a tecnologia........................................................84 Quadro 8-Apresentação de um esquema da situação-problema 2- autora.............110 Quadro 9-Exercícios de Funções Modulares - professor A......................................112 Quadro10 -Resolução da situação-problema 1 algebricamente - professor A........113 Quadro 11-Resolução da situação-problema 2 algebricamente - professor A........114 Quadro 12-Exercícios sobre Funções Modulares pelo professor B.........................115 Quadro 13-Resolução da situação-problema 1 algebricamente - professor A........116 Quadro 14-Resulução da situação-problema 2 algebricamente - professor B........117 Quadro 15-Exercícios de Funções Modulares - professor C...................................118 Quadro16-Resolução das situações – problema 1 e 2 algebricamente – professor C...............................................................................................................119 Quadro 17-Exercícios sobre Funções Modulares pelo professor D........................120 Quadro 18-Resolução das situações - problema 1 e 2 algebricamente – professor D...............................................................................................................121 Quadro 19-Respostas da atividade B pelo professor A..........................................123 Quadro 20-Respostas da atividade B pelo professor B.........................................127 Quadro 21-Resolução da situação-problema 2 noGeoGebra-professor B..............130 Quadro 22-Respostas da atividade B pelo professor C...........................................131 Quadro 23-Resolução da situação-problema 2 no GeoGebra-professor C.............134 Quadro 24-Respostas da atividade B pelo professor D..........................................135 Quadro 25-Resolução da situações-problema 1 e 2 no GeoGebra -professor D....137 Quadro 26-Questões sobre as contribuições do GeoGebra – professor A..............139 Quadro 27-Questões sobre as contribuições do GeoGebra – professor B..............140 Quadro 28-Questões sobre as contribuições do GeoGebra – professor C.............141 Quadro 29-Questões sobre as contribuições do GeoGebra – professor D.............141 Lista de Figuras Figura 1-Gráfico da Função Modular f dada por f(x)=|x|............................................73 Figura 2-Apresentação de um esquema da situação-problema 1 no GeoGebra.....109 Figura 3-Apresentação de um esquema da situação-problema 2 no GeoGebra.....111 Figura 4-Gráfico de f, dada por f(x)=|x+a| no GeoGebra pelo professor A..............124 Figura 5-Gráfico de f, dada por f(x)=|x|+a no GeoGebra pelo professor A..............124 Figura 6-Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor A.........125 Figura 7-Resolução da situação-problema 2 no GeoGebra pelo professor A.........126 Figura 8-Gráfico de f, dada por f(x)=|x| no GeoGebra pelo professor B..................128 Figura 9-Gráfico de f, dada por f(x)=|x+a| no GeoGebra pelo professor B..............128 Figura10-Gráfico de f, dada por f(x)=|x|+a no GeoGebra pelo professor B.............129 Figura11-Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor B........130 Figura12-Função Modulares no GeoGebra pelo professor C.................................132 Figura13-Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor C........133 Figura14-Função Modulares no GeoGebra - professor D........................................136 SUMÁRIO Introdução.................................................................................................................17 Capítulo I - Resolução de Problemas.....................................................................30 1.1 Breve histórico sobre a Resolução de Problemas..................................30 1.1.1 Ensinar sobre Resolução de Problemas................................................33 1.1.2 Ensinar Matemática para resolver problemas........................................34 1.1.3 Ensinar Matemática através da resolução de problemas.......................35 1.2 A Resolução de Problemas nos documentos oficiais brasileiros...........36 1.3 Conceitos de exercícios e problemas matemáticos...............................39 1.4 A Resolução de Problemas à luz da Educação Matemática..................43 1.4.1 Resolução de Problemas como contexto...............................................44 1.4.2 Resolução de Problemas como habilidade............................................45 1.4.3 Resolução de Problemas como arte......................................................45 1.5 Ensinar e aprender com ideias de Polya................................................46 1.6 Ensinar e aprender com ideias de Brousseau........................................52 1.7 Similaridade entre as ideia de Polya e Brousseau.................................57 Capítulo II- Função e a sua importância na Matemática.................................60 2.1 Breve histórico do ensino de função no Brasil........................................60 2.2 Conceito de Função................................................................................68 2.3 Conceito de Módulo.................................................................................71 2.3.1 Conceito de Função Modular..................................................................72 2.4 O uso de tecnologias na Educação Matemática.....................................75 2.5 Niveis do ciclo de apropriação de TiCs na Educação Matemática..........80 Capítulo III- Referencial Teórico- Metodológico..............................................85 3.1 Pesquisa Qualitativa................................................................................85 3.2 A descrição na abordagem qualitativa....................................................88 3.3 Coleta de dados......................................................................................88 3.4 Análise dos dados...................................................................................89 3.5 Plano de análise da pesquisa..................................................................92 3.6 Descrição dos sujeitos da pesquisa........................................................94 3.7 Descrição dos instrumentos da pesquisa................................................96 3.8 Descrição dos sujeitos da pesquisa........................................................99 Capítulo IV- Descrição e Análise dos dados..................................................101 4.1 Organização das análises dos dados coletados...................................101 4.2 Concepções dos professores A,B,C e D sobre exercícios e problemas matemáticos.......................................................................................................102 4.2.1 Concepções dos professores A e D sobre exercícios e problemas matemáticos.......................................................................................................104 4.2.2 Concepções dos professores B e C sobre exercícios e problemas matemáticos.......................................................................................................104 4.3 Concepções dos professores A, B, C e D sobre as situaçõesproblema.............................................................................................................106 4.4 Compreensão da Função Modular........................................................107 4.4.1 Resolução apresentada pelo professor A..........................................112 4.4.2 Resolução apresentada pelo professor B..........................................115 4.4.3 Resolução apresentada pelo professor C..........................................118 4.4.4 Resolução apresentada pelo professor D..........................................120 4.5 Uso do GeoGebra para resolução de problemas no âmbito de situações didáticas.............................................................................................122 4.5.1 O uso do GeoGebra – professor A.......................................................123 4.5.2 O uso do GeoGebra – professor B.......................................................127 4.5.3 O uso do GeoGebra – professor C.......................................................131 4.5.4 O uso do GeoGebra – professor D.......................................................135 4.6 Estratégias pedagógicas com o GeoGebra..........................................139 4.6.1 Contribuições apresentadas pelo professor A......................................139 4.6.2 Contribuições apresentadas pelo professor B......................................140 4.6.3 Contribuições apresentadas pelo professor C.....................................141 4.6.4 Contribuições apresentadas pelo professor D.....................................141 4.7 Síntese dos dados coletados dos professores A, B, C e D..................143 Considerações finais.......................................................................................146 Referências.......................................................................................................150 Anexos..............................................................................................................155 17 INTRODUÇÃO “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino... Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo”. PAULO FREIRE Trajetória Profissional Minha primeira formação acadêmica foi em Licenciatura Plena em Matemática na Fundação Santo André (FSA) em 1993. Nos dois anos consecutivos, na mesma faculdade, continuei sendo discente no curso Lato Sensu em Metodologia do Ensino Superior e em 2003 conclui o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia e Supervisão Escolar na UNIABC- Universidade do Grande ABC. Em junho de 2012 completei vinte e um anos de experiência na docência, pois comecei a lecionar quando ainda cursava o segundo ano da faculdade da primeira formação. Durante todos esses anos lecionei no ensino fundamental II, ensino médio, ensino técnico e ensino superior. Em 2008, solicitei afastamento das escolas pública e particular nas quais trabalhava, ambas localizadas na região de Santo André, São Paulo, e aceitei um convite para lecionar no continente africano, em Angola, na Universidade Óscar Ribas, instituição particular que acabara de começar os seus processos acadêmicos. Meu contrato de trabalho naquele momento era de um ano; entretanto, com o envolvimento intenso no processo de ensino e aprendizagem em outra cultura, e com experiências ímpares, permaneci em terras angolanas por quatro anos consecutivos. Lecionei as disciplinas de Matemática e Estatística nos cursos de Psicologia, Gestão em Administração e Marketing e Engenharia. E em agosto de 2011, ainda vinculada à universidade em Talatona (Luanda) retornei ao Brasil, pois era momento de sentar novamente nas cadeiras da academia como discente para aprender o aprender e também aprender o ensinar. Entendo que a docência é uma profissão que pede sempre a busca por aprendizado. Assim, iniciei meu momento como aluna no mestrado profissional em 18 Ensino da Matemática do Programa de Estudos da Pós-Graduação em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. Motivações da Pesquisa No princípio, eu tinha poucas ideias sobre as investigações que faria em minha pesquisa. Conforme fui participando a cada semana do Grupo de Pesquisa em Educação Algébrica (GPEA) e observando as investigações dos outros orientandos, temas foram despontando. O aluno João Pereira Viana Filho, do grupo, relatou, em um dos nossos encontros, que em suas buscas e levantamentos de dissertações e teses sobre “ensino e aprendizagem de função por meio da modelagem matemática”, em 2012 notou haver poucas investigações com os temas valor absoluto, função modular, equação modular e inequação modular, inclusive, não encontrou nenhuma pesquisa abordando esse tema e a modelagem matemática. Diante desta observação, iniciei as investigações sobre função modular. Meu próximo passo foi decidir: o que pesquisar sobre função modular? Participando das aulas Tecnologia de Informação e Comunicação de Educação Matemática (TIC) fui observando que alguns colegas de turma não dominavam os conteúdos de alguns exercícios e problemas matemáticos, e também, a utilização das ferramentas de alguns softwares, inclusive o GeoGebra. O que mais ressaltou nesta observação é que esses alunos são professores do Ensino Fundamental, Médio e Superior. Assim, me fiz as seguintes perguntas: será que nestas dificuldades apresentadas estão presentes dúvidas quanto às diferenças entre exercícios e problemas matemáticos? Existem caminhos para a resolução de tais exercícios ou problemas matemáticos? Desta pergunta surgiu outra indagação: quais são estas etapas? Ao investigar vários autores, uma das leituras feitas nas aulas de Teoria e Prática de Educação Matemática, deste mesmo Programa, o artigo de Cury (1988) chamou-me a atenção, quando cita Polya, explicando que um problema, para ser bem resolvido, deve seguir quatro fases: compreensão do problema, estabelecimento de um plano, execução do plano e retrospecto (POLYA, 2006). 19 O caminho sugerido por Polya trouxe-me a seguinte questão: estas quatro fases para a resolução de um problema também podem ser aplicados em exercícios matemáticos? Esta investigação poderia acontecer por dois caminhos: com estudantes ou docentes do Ensino Médio ou do Ensino Superior. Considerando que o professor é um elemento fundamental no processo de ensino e aprendizagem e é ele quem cria estratégias para que o aluno acesse o conhecimento, passei a investigar a função modular por meio da resolução de problemas utilizando as TICs, mais especificamente, o software GeoGebra, com professores do Ensino Médio. É importante destacar que a investigação foi realizada com docentes, exclusivamente, do Ensino Médio de escolas públicas e particulares, que também são alunos de um curso de Pós-Graduação em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. Desta forma, nossa investigação passou a ser um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. Esta pesquisa está inserida no projeto “A aprendizagem de Álgebra com a utilização de ferramentas tecnológicas”, do Grupo de Pesquisa em Educação Algébrica (GPEA) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Justificativa do tema, problemática e objetivos Polya (2006) afirma que para o aluno desenvolver a capacidade de resolver problemas, o professor deve despertar em sua mente algum interesse, proporcionando-lhe oportunidades de imitar e praticar tais problemas. Além disso, o professor deve colocar-se na posição do aluno, em relação às suas dificuldades de compreensão, interpretação e resolução, ou seja, deve pensar nas suas próprias experiências, dificuldades e sucessos obtidos ao resolver problemas. O trabalho com resolução de problemas amplia os valores educativos do saber matemático e do desenvolvimento dessa competência, além de contribuir na 20 capacitação do aluno para melhor enfrentar os desafios do mundo contemporâneo (PAIS, 2008). Encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (BRASIL,1998, p.112) que a “resolução de problemas é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios”. A palavra problema nos faz pensar em algo que necessita ser resolvido, superado e que exige um pensar consciente para solucioná-lo. “O que é problema para alguns pode não ser para outros, ou o que é um problema num determinado contexto pode não ser em outro” (DANTE, 2010, p.23). Para Onuchic (1999, p.215) problema é “tudo aquilo que não se sabe fazer, mas que se está interessado em resolver”. Quando pensamos em problemas matemáticos, como podemos defini-los ou conceituá-los? De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental “um problema matemático é uma situação que demanda a realização de uma sequência de ações ou operações para obter um resultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, mas é possível construí-la” (BRASIL, 1998, p.82). Onuchic e Allevato (2004) afirmam que problemas de Matemática têm ocupado um lugar central no currículo escolar há muito tempo, fato que atualmente é muito mais significativo. A necessidade de se “entender” e “ser capaz” de usar Matemática na vida diária e nos locais de trabalho nunca foi tão grande. A resolução de problemas é considerada uma metodologia que pode ser aplicada a qualquer tema matemático, desta forma, optamos por função modular. Friedlander e Hadas (1995) propõem o ensino de valor absoluto numa abordagem associada à interação com a Geometria Analítica e sugerem a aplicação de três etapas: descrever em palavras (usar notação1 de distância); achar o conjunto solução (usar a reta numérica2) e escrever o conjunto solução (usar notação algébrica). Uma das aplicações do conceito de função modular consiste em resolver 1 2 Original do texto. A descrição dos autores significa usar o conceito de distância. Original do texto. A descrição dos autores significa usar a reta real. 21 geometricamente equações e inequações modulares no plano cartesiano. Segundo Friedlander e Hadas (1995, p.252): O sistema de coordenadas cartesianas, contudo tem algumas vantagens: Permite-nos resolver inequações com valor absoluto de maior complexidade [...]. Utiliza mais ou menos a mesma estratégia em todos os casos. Ademais, ela poderá ser utilizada posteriormente para resolver inequações de qualquer tipo. Para os autores Friedlander e Hadas (1995) é estabelecida a análise entre Álgebra e Geometria destacando um aporte à propriedade que, normalmente, são melhores observadas na parte gráfica, tal como ocorre quando se analisam as funções do ponto de vista geométrico. A função modular por ser estudada posteriormente às funções do 1º e 2º grau, exponencial, logarítmica e trigonométrica, consolida o conhecimento das representações algébricas e gráficas dessas, coroando, então, o conhecimento sobre o conceito de função. Além dessas propriedades, a interpretação geométrica da interseção entre gráficos de duas ou mais funções e o conceito de distância estão presentes neste tipo de resolução integrada entre Álgebra e Geometria. Quanto à visualização e compreensão dos gráficos referentes às funções investigadas, utilizamos as Tecnologias de Informação e Comunicação como estratégia pedagógica para o desenvolvimento das atividades aplicadas. O GeoGebra3 foi o software utilizado como interface mediadora para o aprendizado da função modular. Vale à pena ressaltar que os softwares por mais que sejam considerados os elementos essenciais para o funcionamento de tecnologias digitais, não são os elementos mais relevantes, visto que, os programas em si, não são elementos didáticos. Podemos constatar na afirmação de Oliveira (2009a, p.6) que: O termo software didático é meramente relativo, no máximo a uma intenção, mas sua efetividade didática depende de estratégia, planejamento, crítica, debate e significação. Não há software didático, por si, assim como não há tecnologias que educam. 3 Criado em 2001 por Markus Hohenwarter da Universidade de Salzburg, na Áustria. O software GeoGebra é gratuito e vêm ao encontro de novas estratégias de ensino e aprendizagem de conteúdo de geometria, álgebra, cálculo e estatística, permitindo professores e alunos à possibilidade de explorar, conjecturar, investigar tais conteúdos na construção do conhecimento matemático. Informações contidas no site www.pucsp.br/geogebrasp. 22 O foco, para o autor, não são as tecnologias, mas os conteúdos e as pessoas que aprendem, servindo às tecnologias como interfaces mediadoras entre situaçõesproblema e o conhecimento que se pretende consolidar. No âmbito desta problematização torna-se importante mencionar a visão de Brousseau (citado por Oliveira, 2009a), relativa às situações adidáticas, parte fundamental do estudo das situações didáticas, e que refletem de maneira bastante completa a pretensão desta pesquisa. Brousseau (2008) menciona a possiblidade de criação de situações nas quais o professor constrói ambientações ideais para a estruturação do conhecimento matemático dos estudantes, sem que os mesmos percebam a intenção do docente. Para Oliveira (2009a, p.3): [...] em relação à problematização proposta, a questão matemática envolvida deve ser tal que a figura do aluno assuma maior centralidade no processo, à medida que, autonomamente, materialize suas reflexões em declarações e ações voltadas à própria aprendizagem. Para BROUSSEAU (1997), o professor tem o papel de criador das situações de aprendizagem, uma vez que, como mediador, “cria condições para o aluno ser o principal ator da construção de seus conhecimentos a partir da(s) atividade(s) proposta(s)”. Conforme levantamento realizado no período de outubro de 2011 a dezembro de 2012 no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes4, observamos que a produção acadêmica em Educação Matemática no Brasil, no que diz respeito ao ensino e aprendizagem de valor absoluto, função modular, equação modular e inequação modular, apresenta poucos trabalhos sobre o tema, despertando-nos ainda mais interesse para tal investigação. Encontramos 260 investigações que abordam o tema “resolução de problemas” de conteúdos da Matemática e da Física no período de 1994 a 2011; sobre o tema “software GeoGebra” há 45 pesquisas entre os anos de 2008 a 2011; com o tema “função modular” não há, então buscamos com as palavras módulo e valor absoluto e encontra-se no site apenas 1 pesquisa. Encontramos ainda um artigo que trata sobre a função modular nos livros didáticos segundo os registros de representação semiótica publicado em uma universidade do Estado de São Paulo. 4 www.capes.gov.br 23 Diante desta quantidade de teses, dissertações e artigo encontrados adotamos os seguintes critérios para a escolha de pesquisas correlatas: Pesquisas realizadas nos últimos quatro anos, no período de 2008 a 2011. Pesquisas realizadas em outras instituições, como também da PUC-SP, por estarmos em formação continuada no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática. Destacamos e justificamos, então, a escolha de cada investigação correlata a nossa pesquisa: Júnior (2008) da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) por ser a pesquisa mais recente encontrada sobre módulo e valor absoluto. Botta (2010) da Universidade Estadual Paulista de Rio Claro (UNESP) em função do tema “Resolução de Problemas no ensino de conceito de função ao Ensino Médio”, e também por estar inserida no Grupo de Trabalho e Estudo em Resolução de Problemas (GTERP) da UNESP - Rio Claro. Santos (2010) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) por ter investigado a utilização do software GeoGebra como estratégia pedagógica com professores e também pela metodologia escolhida ter sido a mesma da nossa pesquisa. Silva (2011) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) por ter abordado algumas pesquisas que investigaram o tema Resolução de Problemas como metodologia de ensino da Matemática. Apresentamos a seguir um resumo das pesquisas escolhidas. Júnior (2008) em sua pesquisa qualitativa de mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, realizada na PUC-MG, despertou interesse pelo tema ensino e aprendizagem de valor absoluto e função modular, tendo em vista que a produção 24 acadêmica em Educação Matemática no Brasil apresenta poucos trabalhos específicos sobre este assunto. A pesquisa teve o objetivo de investigar como a elaboração de uma sequência didática, aplicada ao estudo de valor absoluto e função modular, usando a concepção e organização de currículo em rede (PIRES, 2000) poderia estabelecer relações e interações com os diversos saberes envolvidos na aprendizagem de função no Ensino Médio. Foram propostas quatro atividades investigativas utilizando o software GeoGebra para construção e exploração dos gráficos de função modular a doze alunos voluntários do Ensino Médio de uma escola Federal de Belo Horizonte. As informações obtidas durante a elaboração da sequência comparadas com os dados obtidos na aplicação das atividades contribuíram para a consolidação do produto da pesquisa. As contribuições na aprendizagem de valor absoluto foram percebidas no estabelecimento da rede por meio da interação entre álgebra, a representação na reta real e a representação gráfica. A investigação também mostrou que a ordem entre os tipos de resolução possíveis no estudo de determinado tema não segue a coerência rígida presente no currículo linear e compartimentado, antes, segue a flexibilidade condicionada à organização curricular em rede. Botta (2010) em sua pesquisa qualitativa de mestrado em Educação Matemática, realizada na UNESP – Rio Claro investigou o ensino e aprendizagem do conceito de função, no Ensino Fundamental e Ensino Médio, fazendo uso da metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática por meio da Resolução de Problemas segundo os trabalhos de Onuchic (1999), Onuchic e Allevato (2004), e também, fazendo uso de análise de erros e concepções errôneas. O trabalho teve o objetivo de investigar as seguintes questões: É possível antecipar o conceito de função para as diversas séries do Ensino Fundamental II com o uso da metodologia Resolução de Problemas? Como o estudo dos erros cometido pelos alunos pode ajudar no processo de ensino e aprendizagem? Foram analisados trabalhos de alunos das diferentes séries dos ensinos Fundamental e Médio, realizados em sala de aula, sob a orientação da professora-pesquisadora. As respostas a essas questões se apoiaram em pontos-chave da pesquisa, referentes a diferentes concepções da álgebra, a princípios da aprendizagem e estudo de erros. As análises concluem que é possível antecipar o ensino do conceito de função para a 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental, de forma intuitiva, ao invés de, como é 25 usual, introduzi-lo formalmente na 1ª série do Ensino Médio, mas ressalta que o professor não deve esperar dos alunos de 5ª série/6º ano muito mais do que uma compreensão intuitiva da relação funcional. A pesquisa também revelou que para a seleção de problemas envolvendo o conceito de função, destinados aos alunos do Ensino Médio, o professor deve dar atenção ao tema Resolução de Problemas como Prática, em que os problemas fornecem a prática necessária para reforçar habilidades e conceitos ensinados previamente. Santos (2010), em sua pesquisa qualitativa de mestrado profissional em Ensino da Matemática, realizada na PUC-SP, utilizou a metodologia análise de conteúdo e verificou quais são as dificuldades e possibilidades de professores de Matemática ao utilizarem o software GeoGebra em atividades que envolvem o Teorema de Tales. Subsidiariamente, pretendeu-se, também, investigar qual seria o papel das tecnologias no eventual trabalho didático dos professores em relação ao Teorema de Tales. Tomaram parte desta investigação quatro professoras da rede pública do Estado de São Paulo do Ensino Fundamental II, que participaram de uma oficina didática na qual se propunha a elaboração de estratégias pedagógicas com o uso do software GeoGebra como tema da investigação. A partir das descrições das professoras, distintos perfis de uso da tecnologia e de atuação docente, em relação às estratégias pedagógicas, foram identificados, com destaque para conexão entre o grau de conhecimento do saber matemático de referência e as abordagens propostas como mediação da interface computacional. Além disto, foi possível detectar estratégias didáticas do professor a partir das quais, ao usar o software, possibilidades de maior experimentação das construções e de autonomia são criadas. E ainda, o conhecimento matemático do professor é essencial para que a estratégia seja efetiva, ou seja, professores com maior segurança nos conteúdos matemáticos tendem a explorar melhor as potencialidades do software. Silva (2011) em sua pesquisa de mestrado profissional em Ensino da Matemática, realizada na PUC-SP, considerando a importância do tema Resolução de Problemas no processo de ensino e aprendizagem em matemática, teve por objetivo investigar qual a abordagem teórica e quais as diferenças na forma de entendimento do termo “resolução de problemas” nas dissertações e teses produzidas por alunos do Programa de Estudo de Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC-SP, no período de 1992 a 2009 que possuíam o foco no objeto 26 Resolução de Problemas ou na metodologia de ensino por Resolução de Problemas. Metodologicamente a pesquisa se caracteriza como um estudo documental denominado metanálise qualitativa na qual se procurou fazer uma revisão sistemática de um conjunto de pesquisas visando à produção de novos resultados ou sínteses. A pesquisa fundamentou-se nos trabalhos de Ponte (2004) e Dante (2009), buscando confrontar as formas diferenciadas que a Resolução de Problemas tem sido abordada nas pesquisas; assim, verificou-se que de dez dissertações analisadas, sete caracterizam-se pelo ensino POR MEIO da Resolução de problemas. Portanto, a pesquisa conclui que o ensino POR MEIO de Resolução de Problemas nem sempre oferece um método específico para encontrar soluções dos problemas propostos, mas a interação da pessoa com o problema e a relação professor-aluno é mais intensa que no ensino PARA Resolução de Problemas, assim, ambas as abordagens colaboram com o encontro das possíveis alternativas e a efetivação do processo de ensino e aprendizagem. Consideramos que as pesquisas descritas geram ambiência à nossa investigação. Botta (2010) e Silva (2011) tratam da Resolução de Problemas e citam teorias pertinentes aos objetivos da pesquisa aqui relatada. Júnior (2008) trata de um dos temas específicos da nossa pesquisa: módulo e valor absoluto. Santos (2010) aborda a metodologia análise de conteúdo e também utiliza o software GeoGebra como estratégia pedagógica, contribuindo assim, com dados relevantes ao tema presente. A intenção desta pesquisa é desenvolver reflexões sobre o ensino de função modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. A intenção é a de que, ao final dessa investigação, o professor vislumbre a possiblidade de atuar como facilitador, mediador, desafiador e elabore atividades de aprendizagem a fim de que a interação do aluno com o conhecimento em construção seja desenvolvida no decorrer do aprendizado. Segundo Pais (2008), o trabalho do professor é recontextualizar o conteúdo na tentativa de expor ao aluno situações mais compreensíveis. Com a aplicação de atividades que abordam função modular, o esperado é que seja valorizado o raciocínio lógico e argumentativo, e para isso, se torna necessário a busca de problemas que permitam tal abordagem. 27 Em relação à utilização de TICs nas aulas, Borba e Penteado (2007) salientam que o professor precisa ser flexível à organização de suas aulas e ter a ousadia de inovação em sua prática, há necessidade de encontrar formas para oferecer um suporte constante no seu trabalho. Neste aspecto, relativo à sua formação continuada, pode-se dizer que as oficinas são boas oportunidades para uma progressão nesse sentido. Desta forma, a partir destes pressupostos, a questão desta investigação é: De que forma o uso de uma estratégia pedagógica baseada em Resolução de Problemas com o emprego do software GeoGebra concorre para ampliar a compreensão de professores do Ensino Médio sobre o tema função modular dos pontos de vista algébrico e geométrico? A investigação tem por foco principal utilizar o software GeoGebra como uma estratégia pedagógica para o ensino do tema em questão e não analisar as expressões do ponto de vista algébrico e geométrico da função modular com o uso das tecnologias. Desta forma, torna-se importante ressaltar conforme argumenta Oliveira (2007) que os computadores não substituem os seres humanos ou simplesmente os complementam, mas auxiliam na reorganização do pensamento com outras formas de proceder à formulação e a resolução de problemas. Nesta pesquisa são destacas algumas finalidades: Propor uma abordagem de Função Modular dos pontos de vista algébrico e geométrico por meio de Resolução de Problemas, de modo a aproximar o processo de construção do conhecimento do aluno, usando estratégias pedagógicas com as TICs. Estudar diferentes abordagens para o ensino de Função Modular por meio de Resolução de Problemas com professores de Matemática do Ensino Médio de escolas da rede pública e particular do Estado de São Paulo, a partir de situações-problema. 28 Buscar condições que contribuam para o ensino, possibilitando ao professor do Ensino Médio, a oportunidade de conjecturar, refletir e resolver atividades com Função Modular, propostas pela pesquisadora, para compreensão do tema. Estrutura do Trabalho O relato desta pesquisa encontra-se estruturado em uma introdução, quatro capítulos, as considerações finais e as referências. O Capítulo I apresenta abordagens relevantes de alguns teóricos sobre Resolução de Problemas: Stanic e Kilpatrick (1990), Onuchic (1999), Onuchic e Allevato (2004), Schoroeder e Lester (1989), Van de Walle (2001). São trazidas as diferenças entre exercícios e problemas matemáticos segundo os autores Vila e Callejo (2006) e Pozo e Echeverría (1998). Trata também da Resolução de Problemas à luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, 1999, 2002, 2006). Além disso, é descrito o referencial teórico com base nas ideias de Polya (2006) e também as similaridades entre as teorias de Polya (2006) e Brousseau (2008). O Capítulo II discorre sobre o ensino de função no âmbito brasileiro com base em Doria (1997), Braga (2006), Roxo (1929), Pires (2009) e os Guias Curriculares para o Ensino de Matemática do Primeiro Grau (SÃO PAULO, 1976). Apresenta uma breve trajetória do conceito de função no universo matemático segundo Eves (2011) e Caraça (2005). Trata ainda dos conceitos de módulo e função modular relevantes a Friedlander e Hadas (1995), Lima (1997), Stewart (2009) e Júnior (2008). Aborda o uso de tecnologias como estratégia pedagógica segundo Kenski (2003, 2007), Borba e Penteado (2007), Oliveira (2007, 2008, 2009a,b) para o ensino do objeto matemático estudado. No Capítulo III são descritos os aportes metodológicos segundo a visão de Appolinário (2009), Borba (2004), Oliveira (2007), Bogdan e Biklen (1994), Laville e Dionne (1999), Fiorentini e Lorenzato (2009), Ludke e André (1986) e Bardin (2011). Apresenta também a descrição dos sujeitos da pesquisa, juntamente com os instrumentos utilizados na investigação. 29 O Capítulo IV apresenta a análise das respostas dadas pelos professores do Ensino Médio de escolas da rede pública e privada do Estado de São Paulo na atividade aplicada. Em seguida, são trazidas as considerações finais, com recomendações de novas pesquisas relativas ao tema, alinhando as principais observações resultantes da análise. 30 CAPÍTULO I “Isto é, em resumo, a minha esperança para a resolução de problemas. Se nós fizermos o nosso trabalho corretamente, talvez as escolas se tornem lugares onde os alunos realmente aprendam a pensar”. ALAN SCHOENFELD Resolução de Problemas O objetivo deste capítulo é apresentar um breve histórico sobre a Resolução de Problemas, diferenciar os conceitos de exercícios e problemas matemáticos, descrever o conceito à luz dos documentos oficiais brasileiros e de teóricos que se dedicam a este tema e destacar a importância da Resolução de Problemas no ensino e aprendizagem da Matemática. 1.1 Breve histórico sobre a Resolução de Problemas Iniciamos este capítulo esclarecendo que usaremos Resolução de Problemas quando nos referirmos à teorização e resolução de problemas quando nos referirmos ao processo. O ensino da matemática por meio da Resolução de Problemas é também relatado por George Polya (Universidade de Stanford), com a sua obra A Arte de Resolver Problemas (1944), publicado a primeira edição em 1945, argumentando que existem quatro etapas para a resolução de problemas. O autor faz relação de “como pensar” para a Resolução de Problemas por meio do raciocínio heurístico, que tem por objetivo estudar os métodos e regras da descoberta e da invenção, na qual grandes matemáticos e filósofos, como Pappus, Descartes, Leibnitz, Bolzano e outros, pesquisaram sobre tais indagações heurísticas (POLYA, 2006). 31 Stanic e Kilpatrick (1990) afirmam que o papel da resolução de problemas na Matemática escolar é o resultado do conflito entre forças ligadas as ideias antigas e persistentes acerca das vantagens do estudo da Matemática e uma variedade de acontecimentos que se influenciaram uns aos outros ocorridos no início do século XX. Os autores ainda descrevem que em certo sentido, a resolução de problemas nos currículos foi simplesmente um meio de conseguir que os alunos estudassem Matemática. Os problemas foram um elemento do currículo de Matemática que contribuiu, tal como outros elementos, para o desenvolvimento do poder de raciocinar. Nas décadas de 60 e 70 o ensino de Matemática no Brasil e em outros países foi influenciado por um movimento de renovação – a Matemática Moderna. Ela apresentava uma estrutura lógica, algébrica, topologica e de ordem, e enfatizava a teoria dos conjuntos. Tinha preocupações excessivas com abstrações Matemáticas, o ensino era trabalhado com um excesso de formalização, distanciando-se das questões práticas. Concomitantemente, no início da década de 70, iniciaram as investigações sobre Resolução de Problemas e suas implicações curriculares. Apenas nesta década os educadores matemáticos passaram a aceitar a ideia de que o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas merecia mais atenção. No fim dos anos 70, a Resolução de Problemas ganha espaço no mundo inteiro (ONUCHIC; ALLEVATO, 2004). A proposta de Resolução de Problemas passou por várias modificações e aperfeiçoamentos, sendo que o Nacional Council of teachers of mathematics (NCTM) - Conselho Nacional de Professores de Matemática, entidade norteamericana, apresentou o documento “An Agenda for Action” (Uma Agenda para Ação), recomendando que “resolver problemas deveria ser o foco da matemática escolar nos anos 80” (NCTM, 1980, p.1). Havia entre os educadores matemáticos, um grande interesse em fazer da resolução de problemas um foco do currículo de matemática, com isso desenvolveram materiais por meio de coleções de problemas, listas de estratégias, sugestões de atividades, os quais ajudaram muitos professores a fazer da Resolução de Problemas o ponto central do seu trabalho (Ibid). 32 Em abril do ano 2000, nos EUA, o NCTM após uma década defendendo às ideias nos Standards5, publica o Standards 2000 que possuem reformulações contendo seis Princípios: Equidade, Currículo, Ensino, Aprendizagem, Avaliação e Tecnologia, sendo estes ligados aos programas da Matemática escolar e divididos em dois grupos: Padrões de Conteúdo – Números e Operações; Álgebra; Geometria; Medida e análise de Dados e Probabilidade. Padrões de Processo – Resolução de Problemas; Raciocínio e Prova; Comunicação, Conexões e Representação (ONUCHIC; ALLEVATO, 2004). No Brasil, na década de 90, foram implementados os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, semelhantes às ideias dos Standards 2000. Tais Parâmetros indicaram a Resolução de Problemas como ponto de partida da atividade matemática e discutiram caminhos para “fazer matemática” na sala de aula, destacando a importância da História da Matemática e das Tecnologias de Informação e Comunicação. Apontaram também a importância de estabelecer conexões entre os blocos de conteúdos, entre a matemática e as outras áreas do conhecimento e suas relações com o cotidiano e os Temas Sociais Urgentes (como meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, ética, etc) (PIRES, 2009). Durante a década de 1980, muitos recursos em resolução de problemas foram desenvolvidos, visando o trabalho na sala de aula, na forma de coleções de problemas, listas de estratégias, sugestões de atividades e orientações para avaliar o desempenho em resolução de problemas. Muito desse material passou a ajudar os professores a fazerem da resolução de problemas o ponto central de seu trabalho, entretanto, não teve coerência e nem a direção necessária para um bom resultado, porque havia pouca concordância no objetivo. Essa falta de aceitação ocorreu possivelmente, pelas grandes diferenças existentes entre as concepções que pessoas e grupos tinham sobre o significado de resolução de problemas ser o objetivo principal da matemática escolar (ONUCHIC, 1999). Schroeder e Lester (1989) apresentam três caminhos para abordar Resolução de Problemas, que ajudam a refletir sobre essas diferenças: ensinar sobre Resolução de Problemas matemáticos; ensinar para resolver problemas de 5 Documentos com objetivos e princípios das práticas curriculares, de ensino e de avaliação para ajudar professores e educadores a desenvolverem uma Matemática forte para todos (ONUCHIC; ALLEVATO, 2004). 33 matemática e ensinar Matemática através da resolução de problemas. Os autores ressaltam que, embora na teoria estes três caminhos de trabalhar Resolução de Problemas possam ser separados, na prática eles se superpõem e podem acontecer em várias combinações e sequências. Apresentaremos, separadamente, a explicação dos três caminhos da Resolução de Problemas. 1.1.1 Ensinar sobre Resolução de Problemas O ensino, durante o período em que se assumia a Matemática Moderna no Brasil, preocupava-se excessivamente com as abstrações matemáticas e apresentava uma linguagem matemática precisamente universal que, embora concisa e precisa, caracterizava-se por adotar uma terminologia complexa que comprometia o aprendizado, no sentido de que os alunos não conseguiam lhe atribuir significados (ONUCHIC, 1999). Segundo a autora, o quadro de insucesso configurado na Matemática Moderna levou pesquisadores e educadores matemáticos a buscar alternativas para o ensino da Matemática. Voltaram-se, então, os olhos para a resolução de problemas. As heurísticas ganharam força, constituindo-se em listas de sugestões e estratégias gerais, independente do assunto particular. Elas auxiliavam a fazer aproximações, compreender um problema e dispor, eficientemente, os recursos para resolvê-lo. Portanto, foi sedimentada a crença de que era preciso ensinar os estudantes a resolver problemas, ou o que é o mesmo, ensinar sobre Resolução de Problemas. Para Schroeder e Lester (1989) o professor que ensina sobre Resolução de Problemas realça o modelo de Polya de 1944, ou alguma variação dele. Este modelo descreve um conjunto de quatro fases interdependentes no processo de resolver problemas matemáticos: compreender o problema; elaborar um plano; levar avante esse plano e olhar de volta o problema original para analisar a validade da solução encontrada. 34 1.1.2 Ensinar Matemática para resolver problemas Segundo Schroeder e Lester (1989, pp.32-33) “ao ensinar para resolver problemas de Matemática”, o professor se concentra sobre modos em que a Matemática que está sendo ensinada pode ser aplicada na resolução tanto de problemas rotineiros como de não rotineiros. Embora a aquisição do conhecimento matemático seja de primeira importância, o propósito essencial para aprender Matemática é ser capaz de usá-la. Portanto, aos estudantes são dados muitos exemplos de conceitos e de estruturas matemáticas sobre o que eles estão estudando e muitas oportunidades para aplicar aquela Matemática estudada na resolução de problemas. Posteriormente, o professor que ensina para resolver problemas está preocupado com a habilidade dos estudantes em transferir o que eles aprenderam num contexto de um problema para outros. Van de Walle (2001, p.42) nomeia este caminho de “paradigma teach-thensolve (ensine-então-resolva)”, no qual há uma nítida separação entre o que é ensinar Matemática e o que é resolver problemas. O autor afirma que, neste caminho, tradicionalmente o professor inicia o trabalho apresentando o novo conteúdo, e mostrando, em seguida, algumas aplicações por meio de exemplos. Depois o professor dá uma imensa lista de exercícios de fixação no qual o aluno deverá aplicar o novo conhecimento. O aluno não fixando bem os conceitos, pois tem somente uma absorção passiva de ideias, depende exclusivamente da ação do professor. Este caminho de ensino está separado do aluno e de seu aprendizado. A aprendizagem, segundo o autor, deveria começar “onde o aluno está”, isto é “partindo do que ele já sabe”. Para Onuchic (1999) os usos e aplicações da Matemática merecem a atenção de professores e estudantes, entretanto, não pode ser ensinada como uma ferramenta, dependendo dos seus campos de aplicação. A autora também argumenta que a repetição de uma estratégia ou técnica operatória, mesmo que realizada corretamente, não garante a compreensão do conceito ou conteúdo envolvido. 35 1.1.3 Ensinar Matemática através da resolução de problemas Para Schroeder e Lester (1989) ensinar Matemática através da resolução de problemas é a abordagem mais consistente, pois conceitos e habilidades matemáticas são aprendidos no contexto da resolução de problemas. Os problemas são avaliados não somente como um propósito para aprender Matemática, mas também, como um meio importante de fazê-lo. Os autores argumentam que a aprendizagem de Matemática deve ser vista como um movimento do concreto (um problema do mundo real serve como exemplo do conceito ou técnica matemática) para o abstrato (uma representação simbólica de uma classe de problemas e técnicas para operar com esses símbolos). Em seu texto, dirigido especificamente aos professores, Van de Walle (2001) afirma, assim como Schroeder e Lester (1989), que é difícil ensinar através da resolução de problemas. Entretanto, os últimos autores apresentam algumas razões que justificam o esforço e entre elas estão: A resolução de problemas coloca o foco da atenção dos estudantes sobre as ideias e sobre o “dar sentido”. A resolução de problemas envolve os estudantes nos cinco padrões de processo problemas, descritos raciocínio nos e Standards prova 2000: comunicação, resolução de conexões e representação. A resolução de problemas desenvolve nos estudantes a crença de que eles são capazes de fazer Matemática e de que ela faz sentido, isto é, aumenta a confiança e a auto-estima. A resolução de problemas fornece, ao professor, dados de avaliação que lhe permite tomar decisões sobre o ensino e ajudar os estudantes a ter sucesso com a aprendizagem. 36 Os alunos se entusiasmam com o desenvolvimento da capacidade de compreensão que experimentam através de seu próprio raciocínio. Quando os professores ensinam matemática através da resolução de problemas, eles estão dando aos seus alunos um meio poderoso e muito importante de desenvolver a sua própria compreensão. À medida que a compreensão dos alunos se torna mais profunda e mais rica, sua habilidade em usar matemática para resolver problemas aumenta consideravelmente (ONUCHIC, 1999). Vale destacar que a resolução de problemas como metodologia de ensino, defendida pelos autores supramencionados, não exclui as demais concepções. Isto significa que, quando o professor adota essa metodologia, os alunos podem aprender tanto sobre Resolução de Problemas, quanto aprendem Matemática para resolver novos problemas, enquanto aprendem Matemática através da resolução de problemas. No que se refere à Matemática, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998) indicam a Resolução de Problemas como ponto de partida das atividades Matemáticas e apresentam caminhos para se fazer Matemática na sala de aula. Veremos no próximo item quais são estes caminhos dados pelos documentos oficiais brasileiros para a Resolução de Problemas. 1.2 A Resolução de Problemas nos documentos oficiais brasileiros No Brasil foram estabelecidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): PCN - Matemática - 1º e 2º ciclos - 1ª a 4ª séries - 1997. PCN - Matemática - 3º e 4º ciclos - 5ª a 8ª séries - 1998. PCN - Matemática - Ensino Médio - 1999. PCN+ - Matemática - Ensino Médio - 2002. Orientações Curriculares – Ensino Médio - 2006. 37 Os objetivos gerais da área de Matemática contidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais tem como propósito fazer com que os alunos possam pensar matematicamente, levantar ideias Matemáticas, estabelecer relações entre elas, saber se comunicar ao falar e escrever sobre elas, desenvolver formas de raciocínio, estabelecer conexões entre temas matemáticos e fora da Matemática e desenvolver a capacidade de resolver problemas, explorá-los, generalizá-los e até propor novos problemas a partir deles (ONUCHIC; ALLEVATO, 2004). Quanto à resolução de problemas os educadores matemáticos brasileiros apontam-na como ponto de partida da atividade matemática. A questão é descrita da seguinte forma nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental: A resolução de problemas, na perspectiva indicada pelos educadores matemáticos, possibilita aos alunos mobilizar conhecimentos e desenvolver a capacidade para gerenciar as informações que estão ao seu alcance. Assim, os alunos terão oportunidade de ampliar seus conhecimentos acerca de conceitos e procedimentos matemáticos bem como de ampliar a visão que têm dos problemas, da Matemática, do mundo em geral e desenvolver sua autoconfiança (BRASIL, 1998, p.40). Os princípios da resolução de problemas, como eixo organizador do ensino e aprendizagem de Matemática, são especificados também nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental conforme descrição a seguir: A situação-problema é o ponto de partida da atividade matemática e não a definição. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las. A resolução de problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação de aprendizagem, mas uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas (Ibid., pp.40-41). Em relação às Competências em Matemática entendemos que as situações envolvendo problemas matemáticos, na maioria das vezes, podem ser indispensáveis ao processo de ensino e aprendizagem. Esta ideia é afirmada nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: A resolução de problemas é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios. Essa competência não se desenvolve quando propomos apenas exercícios de aplicação dos conceitos e técnicas matemáticas, pois, neste caso, o que está em ação é 38 uma simples transposição analógica: o aluno busca na memória um exercício semelhante e desenvolve passos análogos aos daquela situação, o que não garante que seja capaz de utilizar seus conhecimentos em situações diferentes ou mais complexas (BRASIL, 1999, p.112). Na resolução de problemas as situações complexas e diversificadas oferecem ao aluno a oportunidade de pensar por si mesmo, construir estratégias de resolução e argumentações, relacionar diferentes conhecimentos, ou seja, persistir na busca da solução e, para isso, os desafios devem ser reais e fazer sentido (Ibid). As Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio também apontam sugestões quanto à forma de trabalhar os contéudos, destacando a resolução de problemas e descartando as exigências de memorização, as apresentações de “regras”, desprovidas de explicações, a resolução de exercícios repetitivos de “fixação” ou a aplicação direta de fórmulas. Conforme indicado abaixo (BRASIL, 2006): No trabalho com Números e operações deve-se proporcionar aos alunos uma diversidade de situações, de forma a capacitá-los a resolver problemas do cotidiano (p.70). Também é preciso proporcionar aos alunos uma diversidade de problemas geradores da necessidade de ampliação dos campos numéricos e suas operações, dos números naturais para contar aos números reais para medir (p. 71). O estudo da função quadrática pode ser motivado via problemas de aplicação, em que é preciso encontrar um certo ponto de máximo (clássicos problemas de determinação de área máxima) (p.73). Problemas de cálculos de distâncias inacessíveis são interessantes aplicações da trigonometria, e esse é um assunto que merece ser priorizado na escola (p.74). O estudo da Geometria deve possibilitar aos alunos o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas práticos do cotidiano (p.75). Os apontamentos acima sobre a Resolução de Problemas trazem amplo significado quanto à preparação no cotidiano do aluno além da sala de aula, tornando-o um cidadão com autonomia para desenvolver a todo momento suas competências e habilidades nos vários papéis que assumirá na sociedade. 39 Para se aprender a resolver problemas é preciso conhecer os conceitos e diferenças entre problemas e exercícios matemáticos. Portanto, propomos no item a seguir estas explicações. 1.3 Conceitos de exercícios e problemas matemáticos Do ponto de vista educacional o termo problema para Vila e Callejo (2006, p.6) é visto da seguinte forma: Reservaremos, pois, o termo problema para designar uma situação, proposta com finalidade educativa, que propõe uma questão matemática, cujo método de solução não é imediatamente acessível ao aluno/resolvedor ou ao grupo de alunos que tenta resolvê-la, porque não dispõe de um algoritmo que relaciona os dados e a incógnita com conclusão e, portanto, deverá buscar, investigar, estabelecer relações e envolver sua emoções para enfrentar uma situação nova. Percebemos que esta definição traz a informação no que se constitui um problema para um determinado indivíduo pode ser apenas exercício para outro. Assim, é necessário que o professor tenha clareza quanto à diferenciação de exercícios e problemas matemáticos para que o aluno não resolva exercícios de fixação, após a teoria apresentada, deixando de estabelecer relações importantes e mecanizando todo o processo de resolução. Conforme afirmam Pozo e Echeverría (1998, p.160): A realização de tarefas em contextos muito definidos e fechados – por exemplo, como ilustração ou aplicação dos conceitos explicados num ponto determinado – faz com que os alunos realizem mecanicamente as atividades, sem problematizar a questão. Para tornar mais clara à diferenciação de exercícios e problemas matemáticos, o quadro a seguir destaca algumas características de ambos. 40 Quadro 1: Diferenças entre exercícios e problemas matemáticos EXERCÍCIOS MATEMÁTICOS PROBLEMAS MATEMÁTICOS 1. Ao ler um exercício, vê-se imediatamente em 1. Diante de um problema não se sabe, à que consiste a questão e qual é o meio de resolvê- primeira vista, como atacá-lo e resolvê-lo; às la. vezes, nem se quer se vê com clareza em que consiste o problema. 2. O objetivo que o professor persegue quando 2. O objetivo que o professor persegue ao propõe um exercício é que o aluno aplique de propor um problema é que o aluno busque, forma mecânica conhecimentos de algoritmos já investigue, utilize a intuição, aprofunde o adquiridos e fáceis de identificar. conjunto de conhecimentos e experiências anteriores e elabore uma estratégia de resolução. 3. Em geral, a resolução de um exercício exige 3. Em geral, a resolução de um problema pouco tempo e este pode ser previsto de antemão. exige um tempo que é impossível de prever de antemão. 4. A resolução de um exercício não costuma 4. A resolução de um problema supõe um envolver os afetos. forte investimento de energia e afeto. Ao longo da resolução, é normal experimentar sentimentos de ansiedade, de confiança, de frustração, de entusiasmo, de alegria etc. 5. Em geral, os exercícios são questões fechadas. 5. Os problemas estão abertos a possíveis variantes e generalizações e a novos problemas. 6. Os exercícios são abundantes nos livros 6. Os problemas costumam ser escassos nos didáticos. livros didáticos. Fonte: VILA; CALLEJO, 2006, adaptado. É preciso que o professor tenha a clareza que a habilidade de resolver problemas não é inata, muito pelo contrário, pode e deve ser desenvolvida. Os alunos precisam ser estimulados e amparados durante a resolução de uma situação a fim de que possam estabelecer os vínculos necessários entre o que já sabem e o que se pretendem desenvolver. Segundo Vila e Callejo (2006) os alunos costumam valorizar mais o produto que o processo, porque observam o mesmo ato nos seus professores, razão pela qual destacam a necessidade de mudança na postura do 41 professor. Os autores relatam ainda que os sistemas de crenças dos professores quanto à ideia de problema e os seus papéis na educação matemática levam-os a tomar decisões, em alguns casos de modo inconsistente, sobre a tipologia de problemas que propõem. Segundo os autores, um estudo realizado na Catalunha com quatro professores mostrou grande discrepância em relação ao que cada um considera como problema em Matemática. Eles ainda destacam que as crenças dos alunos em torno da resolução de problemas não são modeladas apenas na escola, tendo uma grande importância a família e outros espaços de socialização. Sugerem como forma de auxiliar os alunos a desenvolver crenças adequadas a respeito da resolução de problemas: - Começar logo a propor problemas. - Assegurar-se de que os problemas propostos sejam verdadeiros. - Apresentar-se aos alunos como resolvedores de problemas que não conhecem todas as respostas. - Centrar-se nos processos de resolução, não só nos resultados. - Incentivar-se seguidamente os alunos a trabalharem em pequenos grupos, animando-os a discutir e a buscar soluções alternativas. - Ajudar os alunos a reconhecerem tanto os seus próprios bloqueios quando se deparam com problemas difíceis e a superá-los como a satisfação e prazer que experimentam quando encontram a solução. - Valorizar os processos, as explicações e as estratégias dos alunos, além de suas respostas, e animá-los a dar conta de seu trabalho. - Não enfatizar o cálculo (VILA; CALLEJO, 2006, p.77). Pozo e Echeverría (1998) identificam alguns critérios que permitem transformar as tarefas escolares em problemas, ao invés de exercícios, como se expõe no quadro 2 a seguir: Quadro 2: Critérios para transformar as tarefas escolares em problemas Na proposição do problema 1. Propor tarefas abertas que admitam vários caminhos possíveis de resolução e, inclusive, varias soluções possíveis, evitando as tarefas fechadas. 2. Modificar o formato ou a definição dos problemas, evitando que o aluno identifique uma forma de apresentação com um tipo de problema. 3. Diversificar os conteúdos nos quais se propõe a aplicação de uma mesma estratégia, fazendo com que o aluno trabalhe os mesmos tipos de problemas em diferentes momentos do currículo, 42 diante de conteúdos conceituais diferentes. 4. Propor as tarefas não só como um formato acadêmico mais também dentro de cenários cotidianos e significativos para o aluno, procurando fazer com que o aluno estabeleça conexões entre ambos os tipos de situações. 5. Adequar à definição do problema, as perguntas e a informação proporcionada aos objetivos da tarefa, usando, em diferentes momentos, formatos mais ou menos abertos, em função desses mesmos objetivos. 6. Usar os problemas com fins diversos durante o desenvolvimento ou sequência didática de um tema, evitando que as tarefas práticas apareçam como ilustração, demonstração ou exemplificação de alguns conteúdos previamente apresentados pelos alunos. Durante a solução do problema 7. Habituar o aluno a adotar as suas próprias decisões sobre o processo de resolução, assim como a refletir sobre esse processo, dando-lhe uma autonomia crescente nesse processo de tomada de decisões. 8. Fomentar a cooperação entre os alunos na realização das tarefas, mas também incentivar a discussão e os pontos diversos, que obriguem a explorar o espaço do problema para comparar as soluções ou caminhos de resolução alternativos. 9. Proporcionar aos alunos a informação que precisarem durante ao processo de resolução, realizando um trabalho de apoio, dirigido mais a fazer perguntas ou fomentar nos alunos o hábito de perguntar-se do que a dar resposta às perguntas dos alunos. Na avaliação do problema 10. Avaliar mais os processos de resolução seguidos pelo aluno do que a correção final da resposta obtida. Ou seja, avaliar mais do que corrigir. 11. Valorizar especialmente o grau em que esse processo de resolução envolve um planejamento prévio, uma reflexão durante a realização da tarefa e uma auto-avaliação pelo aluno do processo seguido. 12. Valorizar a reflexão e a profundidade das soluções alcançadas pelos alunos e não a rapidez com que são obtidas. Fonte: POZO; ECHEVERRÍA, 1998, adaptado. Conforme vimos no quadro 2, a proposta dos problemas pode variar em função dos objetivos do professor no desenvolvimento dos tópicos em Matemática. Desta forma, cabe ao docente selecionar os problemas ou exercícios para atingir da 43 melhor forma possível os objetivos específicos ou gerais referente a determinado conteúdo matemático, mas sempre destacando que a proposta essencial para o ensino e aprendizagem da Matemática é a sua utilização dentro e fora da sala de aula. A Resolução de Problemas vai muito além de resolver problemas. Para vários autores o tema traz alguns destaques no ensino e aprendizagem da Matemática, como por exemplo: relevância, significado e reflexão. O próximo tópico abordará as ideias de alguns teóricos sobre o assunto. 1.4 A Resolução de Problemas à luz da Educação Matemática As pesquisas mostram que muitos investigadores em Educação Matemática escrevem sobre Resolução de Problemas. Entendemos que o objetivo maior na resolução de problemas é aprender a aprender, portanto, dentre tantos autores, citaremos às ideias de Polya (2006) e Brousseau (2008) junto às suas relevâncias, reflexões e significados do presente tema no ensino da Matemática. O pensamento de González (2005, p.9) nos traz o seguinte alerta: Investigar sobre a resolução de problemas parece ser uma atividade constante entre os educadores matemáticos que assumem este assunto como preocupação prioritária de seu trabalho investigativo [...] os problemas e sua didática serão tema de investigação sempre vigente num âmbito da Educação Matemática como campo para a produção do conhecimento de 6 saberes . Nossa proposta é apontar nas ideias de Polya (2006) sobre Resolução de Problemas e nas de Brousseau (2008) sobre a Teoria das Situações Didáticas os problemas e seu ensino na Educação Matemática como espaço para a produção profissional de saberes, conforme citado por González (2005). Stanic e Kilpatrick (1990) apontam três temas gerais caracterizando o papel da resolução de problemas nos currículos de Matemática: 1º) resolução de problemas como contexto; 2º) resolução de problemas como habilidade; 3º) resolução de problemas como arte. 6 Investigar acerca de la resolución de problemas parece ser una actividad permanente entre los educadores matemáticos que assumen este asunto como preocupación prioritaria de su quehacer investigador [...] los problemas y su didáctica serán un tema de investigación siempre vigente en el âmbito de la Educación Matemática como campo para la producción profesional de saberes (GONZÁLEZ, 2005, p.9). 44 1.4.1 Resolução de Problemas como contexto Os autores Stanic e Kilpatrick (1990) apresentam cinco subtemas sobre Resolução de Problemas, todos baseados na ideia que tanto os problemas quanto as suas resoluções são meios para atingir fins importantes. Resolução de problemas como justificação: Historicamente, resolução de problemas tem, em parte, sido incluída no currículo de Matemática porque os problemas dão justificativa ao ensino de Matemática como um todo. Resolução de problemas como motivação: Este subtema está relacionado com o da justificação, em que os problemas justificam a Matemática que está sendo ensinada. Entretanto, no caso da motivação, a conexão é muito mais específica e a finalidade buscada é a de ganhar o interesse do aluno. Resolução de problemas como atividade lúdica: Este está relacionado com a motivação porque o interesse do aluno está envolvido, mas, no caso da atividade lúdica, problemas são dados não tanto para motivar os alunos a aprenderem como para lhes permitirem ter alguma alegria com a Matemática que já aprenderam. Resolução de problemas como um veículo: Problemas são frequentemente dados não apenas para motivar os alunos a se interessarem no ensino direto sobre um tópico, mas como um veículo através do qual um novo conceito ou habilidade deve ser aprendido. Em parte, descobrir técnicas reflete a ideia de que resolver problemas pode ser um veículo para aprender novos conceitos e habilidades. Resolução de problemas como prática: Dos cinco subtemas, resolver problemas como prática, tem tido a maior influência no currículo de Matemática. Neste subtema, os problemas não providenciam justificação, 45 motivação, atividade lúdica, ou veículo, mas visam à prática necessária para reforçar habilidades e conceitos ensinados. 1.4.2 Resolução de Problemas como habilidade Stanic e Kilpatrick (1990) afirmam que a resolução de problemas é frequentemente vista como uma das muitas capacidades a serem ensinadas no currículo escolar. Embora a resolução de problemas como contexto permaneça um tema forte e persistente, como habilidade tem se tornado dominante para aqueles que a veem como um valioso fim curricular merecendo atenção especial, mais do que simplesmente um meio para alcançar outros fins ou um inevitável resultado do estudo da Matemática. Estabelecer a resolução de problemas na hierarquia das habilidades a serem adquiridas pelos alunos conduz a certas consequências: uma delas é que dentro das capacidades gerais da resolução de problemas, fazem-se distinções hierárquicas entre resolver problemas de rotina e não rotineiros. E que, a resolução de problemas não rotineiros é caracterizada como uma habilidade de nível elevado a ser adquirida depois da habilidade de resolução de problemas de rotina (que, por sua vez é adquirido depois de os alunos apreenderem conceitos e capacidades matemáticas básicas). Esta visão retarda a atenção à resolução de problemas não rotineiros e, como resultado, apenas alguns alunos que conseguiram dominar os pré-requisitos chegam a ser expostos a tais problemas. Mais do que para todos os alunos, a resolução de problemas não rotineiros torna-se então uma atividade para os estudantes especialmente capazes. 1.4.3 Resolução de Problemas como arte Para Stanic e Kilpatrick (1990) a resolução de problemas como arte é a visão mais profunda e compreensiva nos currículos escolares de Matemática. Emergiu do trabalho de George Polya, em 1944, revivendo no nosso tempo a ideia da heurística (a arte da descoberta). Matemáticos antigos como Euclides e Pappus e mais 46 recentes como Descartes, Leibnitz e Bolzano, discutiram métodos e regras para a descoberta e invenção em Matemática, mas as suas ideias nunca tiveram grande eco nos currículos escolares. Ficou para Polya a tarefa de reformular, continuar e ilustrar várias ideias acerca da descoberta matemática de tal modo que os professores as pudessem compreender e usar. A resolução de problemas, segundo Polya (2006, p.4), é como praticar natação: Ao tentarmos nadar, imitamos o que os outros fazem com as mãos e os pés para manterem suas cabeças fora d´água e, afinal, aprendemos a nadar pela prática da natação. Ao tentarmos resolver problemas, temos de observar e imitar o que fazem outras pessoas quando resolvem os seus problemas e, por fim, aprendemos a resolver problemas, resolvendo-os. [...] o professor que deseja desenvolver nos estudantes a capacidade de resolver problemas deve incutir em suas mentes algum interesse por problemas e proporcionar-lhes muitas oportunidades de imitar e de praticar. Na formulação do autor, o professor é o personagem principal sobre ensinar, pois ninguém pode programar ou mecanizar o ensino de resolução de problemas. Deve ter a sensibilidade para escolher bem o problema a ser resolvido, “nem muito difícil, nem muito fácil, natural e interessante”. Também precisa auxiliar o aluno na medida equilibrada, “nem demais, nem de menos”. Se o professor ajudar demais, nada restará para o aluno fazer; se deixá-lo sozinho, sem auxílio suficiente; o aluno poderá não ter nenhum progresso. Portanto, “o professor deve auxiliá-lo de tal modo que tenha uma parcela razoável do trabalho” (Ibid., pp.1-2). A seguir veremos com mais detalhes as ideias e sugestões de Polya para o ensino e aprendizagem com a resolução de problemas. 1.5 Ensinar e aprender com as ideias de Polya George Polya foi um dos estudiosos no assunto sobre resolução de problemas. Publicou algumas de suas principais ideias, as quais estão descritas no seu livro clássico A arte de resolver problemas, de 1944. Essa obra, além da análise de estratégias, de padrões e analogias, identifica quatro etapas fundamentais que ocorrem na resolução de problemas: compreensão do problema, estabelecimento de um plano, execução do plano e retrospecto. Nas duas primeiras etapas o autor mostra a importância dos processos de descoberta, que ele mesmo denominou 47 heurística, ressaltando a importância de explorar analogias, identificar padrões e analisar problemas correlatos mais simples. Por outro lado, nas outras duas etapas, o enfoque é dado para a execução e a garantia que a solução está correta. Destacamos a seguir as quatro etapas da resolução de problemas sugeridas por Polya (2006, pp.xix-xx): 1) Compreensão do problema: é preciso compreender o problema, ou seja as primeiras descobertas com os seguintes passos: Qual é a incógnita? Quais são os dados? Qual é a condicionante? É possível satisfazer à condicionante? A condicionante é suficiente para determinar à incógnita? Ou é insuficiente? Ou redundante? Ou contraditória? Trace uma figura. Adote uma notação adequada. Separe as diversas partes da condicionante. É possível anotá-las? 2) Estabelecimento de um plano: encontre a conexão entre os dados e a incógnita. É possível que seja obrigado a considerar problemas auxiliares se não puder encontrar uma conexão imediata. É preciso chegar afinal a um plano para a resolução por meio dos seguintes passos: Já o viu antes? Ou já viu o mesmo problema apresentado sob uma forma ligeiramente diferente? Conhece um problema correlato? Conhece um problema que lhe poderia ser útil? Considere a incógnita! E procure pensar num problema conhecido que tenha a mesma incógnita ou outra semelhante. Eis um problema correlato e já antes resolvido. É possível utilizá-lo? É possível utilizar o seu resultado? É possível utilizar o seu método? Deve-se introduzir algum elemento auxiliar para tornar possível a sua utilização? É possível reformular o problema? É possível reformulá-lo ainda de outra maneira? Volte às definições. 48 Se não puder resolver o problema proposto, procure antes resolver algum problema correlato. É possível imaginar um problema correlato mais acessível? Um problema mais genérico? Um problema mais específico? Um problema análogo? É possível resolver uma parte do problema? Mantenha apenas uma parte da condicionante, deixe a outra de lado; até que ponto fica assim determinada a incógnita? Como pode ela variar? É possível obter dos dados alguma coisa de útil? É possível variar a incógnita, ou os dados, ou todos eles, se necessário, de tal maneira que fiquem mais próximos entre si? Utilizou todos os dados? Utilizou toda a condicionante? Levou em conta todas as noções essenciais implicadas no problema? 3) Execução do plano: execute o seu plano usando os seguintes passos: Ao executar o seu plano de resolução, verifique cada passo. É possível verificar claramente que o passo está correto? É possível demonstrar que ele está correto? 4) Retrospecto: examine a solução obtida com os seguintes passos: É possível verificar o resultado? É possível verificar o argumento? É possível chegar ao resultado por um caminho diferente? É possível perceber isto num relance? É possível utilizar o resultado, ou o método, em algum outro problema? Cada uma das etapas apresentadas tem a sua importância. Deixar de lado qualquer uma das quatro fases sem dela ter uma perfeita noção, acarretará em resoluções sem compreensões do problema, não existirá uma percepção quanto à conexão principal da variável. Muitos enganos acontecerão na execução de um plano, caso não seja verificado cada passo e muitos dos melhores efeitos podem 49 ficar perdidos se não for reexaminado (o plano) e reconsiderado em relação à solução completa. Desta forma, Polya (2006) reforça por meio de um diálogo com o leitor, o ensino e aprendizagem da resolução de problemas, explicando com minúcias simples e objetivas a utilização dos métodos de como resolver um problema: a) Familiarização: Comece pelo enunciado do problema. Visualize o problema como um todo, com tanta clareza e nitidez quanto possível. É preciso compreender o problema, familiarizar-se com ele, gravar na mente o seu objetivo. A atenção concedida ao problema pode também estimular a memória e propiciar a recordação de pontos relevantes. b) Aperfeiçoamento da compreensão: Comece de novo pelo enunciado do problema, quando estiver tão claro e tão bem gravado em sua mente que poderá até perdê-lo de vista por um momento sem temor de deixá-lo por completo. Isole e verifique as partes principais do problema, a hipótese e a conclusão, considerando-as uma a uma, em seguida examine-as em várias combinações, relacionando cada detalhe com os outros detalhes e cada um com a totalidade do problema. c) Procura da ideia proveitosa: Considere o problema sob diversos pontos de vista. Destaque as diferentes partes, examine repetidamente os diversos detalhes de maneiras diferentes. Procure perceber algum significado novo em cada detalhe, alguma nova interpretação do conjunto. Mesmo que, por algum tempo, não lhe ocorra qualquer nova ideia apreciável, deverá ficar agradecido se a sua concepção do problema tornar-se mais completa, coerente, homogênea ou equilibrada. 50 d) Execução do plano: Comece da ideia feliz que o levou à resolução. Principie quando se sentir seguro de que dominou a conexão principal e confiante em que pode proporcionar os detalhes menores que faltam. Realize detalhadamente todas as operações algébricas e geométricas que já verificou serem viáveis. Verifique a correção de cada passo, pelo raciocínio formal ou pela intuição, ou de ambas as maneiras. Se o problema é muito complexo, pode distinguir passos “grandes” e “pequenos”, constituindo-se cada grande passo de diversos pequenos. Verifique primeiro os grandes e passe depois para os pequenos. e) Retrospecto: Considere os detalhes da resolução e procure torná-los tão simples quanto possível; examine as partes mais amplas da resolução e procure abreviá-las; perceba toda a resolução num relance. Procure modificar vantajosamente as partes maiores e menores da resolução, melhorá-la toda e inseri-la tão naturalmente quanto for possível, nos seus conhecimentos anteriormente adquiridos. Examine o método que o levou à resolução, para caracterizá-lo e utilizá-lo em outros problemas. Examine o resultado e procure utilizá-lo em outros problemas. É possível que encontre outra resolução melhor, que descubra fatos novos e interessantes. De qualquer maneira, se adquirir o hábito de verificar e examinar desse modo as suas resoluções, obterá alguns conhecimentos bem ordenados e prontos a serem utilizados e assim desenvolverá a sua capacidade de resolver problemas. Todas as etapas mostram que o grande objetivo de Polya é enfatizar que na resolução de um problema deve-se ter sempre começo, meio e fim. Considerar sempre a variável, os meios e maneiras para encontrá-las e por fim, considerar a conclusão, ou seja, a validação da resolução. O autor faz a seguinte observação: Não esqueça a sua meta. Pense naquilo que deseja obter. Tenha em mente aquilo para que está a trabalhar. Considere a incógnita [...]. Ao focalizar a atenção e concentrar a vontade no nosso objetivo, pensamos em meios e maneiras de alcançá-lo. Quais os meios para este fim? Como podemos 51 chegar a ele? Que causas poderiam produzir este resultado? [...]. Considere a conclusão (POLYA, 2006, p.42). Para uma melhor aplicação destes métodos à resolução de problemas, Polya indica caminhos aos professores e alunos. Tais instruções aos “estudantes” tanto podem ser para um aluno de curso básico ou superior como qualquer pessoa que esteja estudando Matemática. Da mesma forma, o “professor” pode ser do ensino básico ou universitário, ou qualquer pessoa interessada no ensino da Matemática. Propomos um quadro com alguns destes caminhos apresentados por Polya correspondentes aos professores e alunos. Quadro 3: Método de resolução de problemas Professor Aluno 1.Auxiliar seus alunos discretamente, sem dar 1.Adquirir tanta experiência pelo trabalho na vista. independente quanto lhe for possível. 2.Não ajudar demais nem de menos o seu aluno 2.Adquirir uma parcela razoável do trabalho. 3.Colocar-se no lugar do aluno, perceber o 3.Não se sentir sozinho, sem ajuda ou com auxílio ponto de vista deste, procurar compreender o insuficiente. Experimentar qualquer progresso na que se passa em sua cabeça. compreensão. 4.Fazer uma pergunta ou indicar um passo que 4.Desenvolver a capacidade de resolver futuros poderia ter ocorrido ao próprio estudante. problemas por si próprio. 5.A cada problema fazer as mesmas perguntas 5.Se o aluno conseguir resolver o problema que lhe e indicar os mesmos passos: Qual é a é apresentado, terá acrescentado alguma coisa à incógnita? Do que se precisa? O que se deve sua capacidade de resolver problemas. procurar? 6.Fazer indagações proveitosamente repetidas. 6.Chegar a ideia certa pela repetição da indagação. 7.Provocar a operação mental, útil para a 7.Assimilar a maneira correta para apresentar a si resolução de problemas por meio da indagação próprio realizando com naturalidade e vigor a e da sugestão. operação mental correspondente. 8.Ao resolver um problema em aula, fazer a si 8.Descobrir o uso correto das indagações e próprio as mesmas indagações que utiliza para sugestões e, ao fazê-lo, adquirirá algo mais 52 ajudar o aluno. importante que o simples conhecimento de um fato matemático qualquer. 9.Trabalhar para um fim que se deseja. 9.Desejar resolver o problema. 10.Escolher bem o problema: nem muito difícil 10.Estar em condições de identificar as partes nem muito fácil. O enunciado verbal precisa principais do problema, a incógnita, os dados, a ficar bem entendido. condicionante. 11.Transmitir ao aluno o conceito de que 11.Escrever a resolução, verificar cada passo e problema algum fica completamente esgotado. acreditar que resolveu corretamente o problema, É sempre possível aperfeiçoar a compreensão mas assim mesmo perguntar: É possível verificar o da resolução. resultado? 12.Não dar ao aluno a impressão de que os 12.Investigar as relações de um problema ao fazer problemas matemáticos têm pouca relação uns o retrospecto de sua resolução. com os outros. Fonte: POLYA, 2006, adaptado. Entendemos que o quadro acima indica que a ação do professor é encorajar o aluno a pensar, questionar, resolver problemas e discutir suas ideias, estratégias e soluções. As atividades do docente e do aluno podem compor as situações didáticas, teoria sistematizada por Brousseau. No próximo item apresentaremos uma síntese sobre a Teoria das Situações Didáticas. 1.6 Ensinar e aprender com as ideias de Brousseau A Teoria das Situações Didáticas foi sistematizada em 19707, por Guy Brousseau, pesquisador francês da Universidade de Bordeaux. O objetivo da teoria é estudar os fenômenos que interferem no processo de ensino e aprendizagem da matemática e propor um modelo teórico para a 7 Neste ano os primeiros elementos da teoria das situações foram comunicados numa conferência do Congresso da Associação dos Professores de Matemática do Ensino Público (Apmep) de ClermontFerrand. No final dos anos 70 desempenhou um papel preponderante no desenvolvimento da didática da matemática como disciplina científica. Apesar dos primeiros elementos da teoria das situações didáticas terem se tornado públicos em 1970, os conceitos que forjou no decorrer de 20 anos de pesquisa foram apresentados de forma organizada como um quadro coerente em sua tese de doutorado de Estado (BROUSSEAU, 2008). 53 construção, a análise e a experimentação de situações didáticas. Um dos pontos fundamentais que dão suporte a essa teoria é a noção do milieu, que foi introduzida por Brousseau para analisar, de um lado, as relações entre os alunos, os conhecimentos ou saberes e as situações e, por outro lado, as relações entre os próprios conhecimentos e as situações (ALMOULOUD, 2010). Esta teoria caracteriza todo o contexto que cerca o aluno, nele incluídos o professor e o sistema educacional, ou seja, baseia-se no princípio de que "cada conhecimento ou saber pode ser determinado por uma situação", entendida como uma interação entre duas ou mais pessoas com um meio determinado. Desta forma, interpreta-se a relação didática como uma comunicação de informações: “o professor organiza o conhecimento a ser transmitido em uma série de mensagens, das quais o aluno toma para si o que deve adquirir” (BROUSSEAU, 2008, p.16). Para Brousseau (2008) o objeto central de estudo nessa teoria não é o sujeito cognitivo, mas a situação didática na qual são identificadas as interações estabelecidas entre professor, aluno e saber. O autor procura teorizar os fenômenos ligados as interações, buscando a especificidade do conhecimento ensinado. Para isto, considera fundamental a estrutura formada pelo sistema minimal: sistema didático stricto sensu, ou seja, as interações entre professor e alunos mediadas pelo saber nas situações do ensino. A situação didática é definida como: O conjunto de relações estabelecidas explicitamente e/ou implicitamente entre um aluno ou grupo de alunos, certo milieu (contendo eventualmente instrumentos ou objetos) e um sistema educativo (o professor) para que esses alunos adquiram um saber constituído ou em constituição (Ibid., p.53). Esta série de mensagens transmitidas pelo professor devem ser problemas que propõem adaptações desejáveis ao aluno, tais como fazê-lo atuar, falar, refletir e evoluir. Assim, o professor passa a ser um não fornecedor dos conhecimentos. Tal situação denomina-se adidática conforme descrição abaixo: Do momento em que o aluno aceita o problema como seu até aquele em que se produz a resposta, o professor se recusa a intervir como fornecedor dos conhecimentos que quer ver surgir. O aluno sabe que o problema foi escolhido para fazer com que ele adquira um conhecimento novo, mas 54 precisa saber, também, que esse conhecimento é inteiramente justificado pela lógica interna da situação e que pode prescindir das razões didáticas para construí-lo. Não só pode como deve, pois não terá adquirido, de fato, esse saber até que o consiga usar fora do contexto de ensino e sem nenhuma indicação intencional. Tal situação denomina-se adidática (BROUSSEAU, 2008, p.35). Considerar as situações adidáticas como necessárias no desenvolvimento do aluno elimina a ideia de que o professor possa ser somente um transmissor de conhecimentos. O problema escolhido pelo professor é parte de uma situação mais ampla e tem por objetivo ser mais um dispositivo, ou seja, um meio que responde ao sujeito. O autor argumenta ainda: O único meio de “fazer” matemática é procurar e resolver determinados problemas específicos e, a este propósito, colocar novas questões. O professor tem, pois, de efetuar, não a comunicação de um conhecimento, mas a devolução do problema adequado. Se esta devolução se opera, o aluno entra no jogo e, se ele acaba por ganhar, a aprendizagem teve lugar (Ibid., p.49). Observamos, que para o autor, o aprendiz é desafiado a adaptar os seus conhecimentos anteriores às condições de solução de um novo problema. O problema inicialmente propostos sempre terá a finalidade de desenvolver as habilidades de autonomia e a busca de elos entre o que já é sabido e aquilo que se deseja saber. Na Teoria das Situações Didáticas (TSD) “bons problemas” compõem uma situação que depende de três dialéticas adidáticas (ação, formulação e validação) e uma didática (interações entre professor, aluno e o saber), e de retroações em relação ao milieu (material, social, tecnológico), necessariamente antagônicas ao sujeito, ou seja, o aprendiz é o responsável pelo processo de sua aprendizagem (ALMOULOUD, 2010). Brousseau (2008) salienta que o milieu sem intenções didáticas é manifestamente insuficiente para induzir no aluno todos os conhecimentos que ele deseja adquir. A relação didática tem por finalidade desaparecer, e o sujeito deverá então, utilizar os conhecimentos assim construídos fora de todo contexto com intenção didática. 55 Segundo Almouloud (2010) as quatro dialéticas da Teoria das Situações Didáticas são descritas das seguintes formas: 1º) Situação de ação: é aquela em que o aluno realiza procedimentos mais imediatos para a resolução de um problema, resultando na produção de um conhecimento de natureza mais experimental e intuitiva do que teórica. Nessa etapa busca-se que o aluno resolva o problema sem a preocupação de explicitar todos os argumentos utilizados na elaboração. Almouloud (2010, p.37) comenta que: Uma boa situação de ação não é somente uma situação de manipulação livre ou que exija uma lista de instruções para o seu desenvolvimento. Ela deve permitir ao aluno julgar o resultado de sua ação e ajustá-lo, se necessário, sem a intervenção do mestre, graças à retroação do milieu. Assim, o aluno pode melhorar ou abandonar seu modelo para criar um outro: a situação provoca assim uma aprendizagem por adaptação. 2º) Situação de formulação: é aquela em que o aluno passa a utilizar na resolução de um problema algum esquema de natureza teórica, contendo um raciocínio mais elaborado do que um procedimento experimental. O aluno troca informações com uma ou várias pessoas, que serão os emissores e receptores, trocando mensagens escritas ou orais. A situação de formulação proporciona ao aluno condições para que este construa, progressivamente, uma linguagem compreensível por todos, que considere os objetos e as relações matemáticas envolvidas na situação adidática. O autor afirma que: O objetivo da dialética de formulação é a troca de informações. Por exemplo, se o aluno deve agir e não dispõe de toda a informação e se seu parceiro no jogo dispõe das informações que lhe faltam, pode haver, nessas trocas, julgamentos, debates de validade, sem que isto constitua necessariamente uma situação de formulação (Ibid., p.38). 3º) Situação de validação: é aquela em que o aluno já utiliza mecanismos de provas e o saber já elaborado por ele passa a ser usado com uma finalidade de natureza essencialmente teórica, ou seja, vincular de forma segura um conhecimento a um campo de saberes já consolidados. 56 É a etapa na qual o aprendiz deve mostrar a validade do modelo por ele criado, submetendo a mensagem matemática (modelo de situação) ao julgamento de um interlocutor. De um lado, o emissor deve justificar a exatidão e a pertinência de seu modelo e fornecer, se possível, uma validação semântica e sintática. O receptor, por sua vez, pode pedir mais explicações ou rejeitar as mensagens que não entende ou de que discorda, justificando sua rejeição. Assim, a teoria funciona, nos debates científicos e nas discussões entre alunos, como milieu de estabelecer provas ou de refutá-las (ALMOULOUD, 2010, p.39). 4º) Situação de institucionalização: tem a finalidade de buscar o caráter objetivo e universal do conhecimento estudado pelo aluno. O professor fixa convencionalmente e explicitamente o estatuto cognitivo do saber. O autor complementa o pensamento de Brousseau afirmando que: “depois da institucionalização, feita pelo professor, o saber torna-se oficial e os alunos devem incorporá-los a seus esquemas mentais, tornando-o assim disponível para utilização na resolução de problemas matemáticos” (Ibid., p.40) O quadro a seguir traduz de forma mais clara e resumida as diferenças entre cada uma das situações apresentadas por Brousseau. Quadro 4: Tipologia de ações para resolução de problemas na Teoria das Situações Fases Investigação do Professor Fase de ação Trabalho dos Alunos Os O professor propõe o problema. alunos trabalham individualmente ou em grupo. O Fase de formulação Fase institucionalização estimula, Os alunos explicitam oralmente ou desbloqueia, mas deve evitar intervir por escrito como resolveram os sobre o conteúdo. problemas e a solução encontrada. O Fase de validação de professor professor anima, as Os alunos devem argumentar em intervenções dos alunos, mas deve favor da validação de sua solução, evitar intervir sobre o conteúdo. tentando convencer seus colegas. O professor deve identificar o novo Os alunos reestruturam os seus saber, saber-fazer e precisar as conhecimentos. convenções. intermedia Trata-se de homogeneizar os conhecimentos da turma e de identificar quais dos saberes construídos devem ser 57 retidos e de que forma. Fase de seguida exercício de uma O professor ajuda os alunos a se Os familiarizarem problemas e aplicam os novos conhecimentos, avaliação com a os usá-los novos em alunos resolvem novos conhecimentos. diferentes situações para que se conscientizem de seu campo de aplicação. Fonte: VILA; CALLEJO, 2006, adaptado. Cada situação pode fazer com que o sujeito progrida de tal forma que ocorra uma sucessão (espontânea ou não) de novas perguntas e respostas. Nesses processos, as sucessões de situações de ação, formulação e validação podem conjugar-se para acelerar as aprendizagens e ao final com a institucionalização, constituir uma ordem para a construção dos saberes (BROUSSEAU, 2008). 1.7 Similaridades entre as ideias de Polya e Brousseau Neste item procuramos identificar os pontos de contato entre as ideias de Polya (2006) e Brousseau (2008) sobre a resolução de problemas. Propomos abaixo o quadro com as quatro divisões das etapas da resolução de problemas e as dialéticas da teoria das situações didáticas. É importante ressaltar que as teorias não são correspondentes umas as outras, conforme a ordem descrita. O objetivo é apenas a visualização resumida de ambas. Quadro 5: Similaridades entre as ideias de Polya e Brousseau POLYA BROUSSEAU Compreender o problema Situação de ação Estabelecimento de um plano Situação de formulação Execução do plano Situação de validação Retrospecto Institucionalização Fonte: Elaborado pela autora. 58 Brousseau (2008) afirma que a base para a criação de situações didáticas interessantes, que coloquem o aluno no trabalho investigativo e que o faça imitá-lo, é justamente a existência de bons problemas. Para o autor, o docente é apenas o mediador, não se encontra no âmbito do problema e o aluno não resolve tal questão com o objetivo de dar satisfações ao professor, mas, justamente, para criar expectativas de validade para a solução que está propondo. Polya (2006) no seu estudo sobre Resolução de Problemas, não se preocupa com o milieu e as retroações a partir dele; o papel do professor é auxiliar o aluno com discrição, naturalidade, fazendo sempre as mesmas perguntas e indicando os mesmos passos para a solução da questão. Brousseau (2008) menciona as diversas abordagens e caminhos na dialética de formulação, para ele este processo não é estático, resume-se em aplicação para problemas novos. Nesta dialética é encontrada a etapa retrospecto, a qual Polya (2006, p.13) sugere ao “aluno verificar se é possível chegar num resultado por caminhos diferentes”, expressão essa que Brousseau (2008, p.29) descreve como “busca de informações no milieu”. Vale à pena destacar que: As quatro etapas da resolução de problemas, sempre os mesmos passos, são consideradas como solução completa para novos problemas. Nestas fases o professor auxilia o aluno durante todo o processo, desenvolvendo nesse a capacidade de resolver futuros problemas por si próprio (POLYA, 2006). As quatro dialéticas na Teoria das Situações Didáticas são vários ciclos interligados, pois o conhecimento é substrato para novos problemas com novas complexidades. Nessas fases o professor trabalha como mediador, de forma a criar condições para que o aluno seja o ator principal no processo de construção do conhecimento proposto pela atividade (BROUSSEAU, 2008). 59 Na teoria das situações a prática da validação é de fundamental importância no aprendizado da matemática. Os autores nas duas primeiras fases mostram a importância dos processos de descoberta e compreensão, ou seja, o principal objetivo é encontrar soluções do problema. Por outro lado, nas etapas seguintes, o enfoque é dado para a execução e a garantia destas soluções argumenta a necessidade da verificação e demonstração de cada passo executado, ou seja, a validação pode possibilitar conjecturas se os passos, etapas, procedimentos e a própria proposta estão corretos, mas o erro pode ocorrer, e esse, pode ser tratado e compreendido no âmbito do trabalho didático. (POLYA, 2006; BROUSSEAU, 2008). As etapas da resolução de problemas podem ser aplicadas a qualquer problema de ordem algébrica, geométrica ou até mesmo a um simples enigma. Polya (2006, pp.2-3) afirma que: O nosso problema pode ser algébrico ou geométrico, matemático ou não, um problema científico importante ou um mero enigma. Não há diferença, as indagações fazem sentido e podem auxiliar-nos a resolver o problema. [...] Tem um problema qualquer? Deseja então encontrar uma certa incógnita e pensar em maneiras conhecidas de encontrar essa ou outra incógnita semelhante. Se fizer isso, estará seguindo exatamente a sugestão que citamos [...]. E estará assim no caminho certo, pois a sugestão é boa e indica um procedimento que frequentemente apresenta bons resultados. No momento das análises dos dados coletados dos sujeitos da pesquisa abordaremos as ideias de Polya (2006) sobre Resolução de Problemas e as de Brousseau (2008) quanto ao estudo das situações didáticas. 60 CAPÍTULO II “Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que estudam seriamente esta ciência acabam tomados de uma espécie de paixão pela mesma. Em verdade, o que propicia o máximo de prazer não é o conhecimento e sim a aprendizagem, não é a posse, mas a aquisição, não é a presença, mas o ato de atingir a meta”. CARL FRIEDRICH GAUSS Função e a sua importância na Matemática O objetivo deste capítulo é apresentar um breve histórico do ensino de função no Brasil, como também os conceitos de função, módulo e função modular. E também abordar as tecnologias como mediadoras ao ensino e aprendizagem de função modular. 2.1 Breve histórico do ensino de função no Brasil Entendemos ser importante iniciarmos este capítulo discorrendo sobre o ensino de função no âmbito nacional brasileiro para situarmos a pesquisa no tempo, explicitando as transformações ocorridas ao longo de sua implementação e possibilitando a constatação das tendências do ensino. Segundo Doria (1997) da proclamação da República, em 1889 até 1925, o governo brasileiro promoveu cinco reformas educacionais que buscavam implantar propostas e alterações no ensino brasileiro. Criado o Decreto 16.782-A, conhecido por Reforma Rocha Vaz, fazia constar que no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seria ensinado apenas o estabelecido no programa de aulas, incluindo a aritmética, a álgebra e a geometria, conforme descrição a seguir: 61 Decreto 16.782-A [...]. Art. 3º Neste collegio serão ensinadas as linguas latina, grega, franceza, ingleza, rhetorica e os principios de geographia, história, philosophia, zoologia, mineralogia, botânica, chimica e phisyca, arithmetica, álgebra, geometria e astronomia (COLÉGIO PEDRO II, 1914, p.44). Na década de 20 do século XX, os professores de matemática do Colégio Pedro II propuseram ao Conselho Nacional de Ensino, uma mudança no currículo do ensino secundário que era composto pela aritmética, álgebra e geometria (no qual era incluída a trigonometria). Não existia uma disciplina intitulada “matemática”, pois o seu ensino era realizado de forma fragmentada por meio de seus diferentes ramos. Por intermédio do professor catedrático Euclides de Medeiros Guimarães Roxo, Diretor do Externato do Colégio Pedro II, em 29 de janeiro de 1929 unificaram as três áreas, ocorrendo assim, a criação da disciplina chamada Matemática (BRAGA, 2006). Tal constatação pode ser extraída do seguinte trecho do Relatório concernente aos anos letivos de 1927 a 1929, encaminhado por Euclides Roxo ao Diretor do Departamento Nacional de Ensino: Na cadeira de Matemática fez-se uma completa renovação, de acordo com as atuais diretivas pedagógicas dominantes, quanto a essa disciplina, em quase todos os países civilizados. Adotados somente para o 1º ano em 1929, será a nova orientação estendida, em 1930, ao 2º ano e, assim sucessivamente, a todos os anos do curso. Em conseqüência dessa reforma, deverão os alunos, ao invés de um exame final de Aritmética, outro de Álgebra e um terceiro de Geometria, fazer, no 4º ano, um exame final único de Matemática, sendo os do 1º, 2º e 3º de simples promoção (ROXO, 1929, p.2). Comenta Braga (2006) que nas 1ª e 2ª séries, a criação da disciplina Matemática trouxe modificações substanciais em relação ao currículo adotado na Reforma Rocha Vaz (1925), então vigente, em que os dois primeiros anos eram dedicados exclusivamente ao estudo da aritmética. De maneira geral, fundiram-se a aritmética, a álgebra e a geometria; foi eliminado o estudo da aritmética teórica; incluído um conjunto de noções geométricas que os alunos deveriam adquirir de maneira intuitiva; e reintroduzido o estudo da função (“reintroduzido” porque esse assunto já havia feito parte do programa de matemática do Colégio Pedro II, quando da Reforma Benjamin Constant, ocorrida em 1890). O conceito de função não 62 ocupava lugar destacado nem era trabalhado de forma mais elaborada como hoje. Seu ensino se resumia a um “compartimento” no campo da álgebra, isolado de qualquer relação mais profunda com outros temas, abordados somente em alguns manuais. Com o objetivo de introduzir o Cálculo Diferencial e Integral no curso secundário da Alemanha, Felix Klein, catedrático de matemática e membro do Conselho da Universidade de Erlanger, no início do século XIX, estabelece um princípio para o movimento reformista que é a aplicações práticas da matemática, sustentando que o conceito de “função é a alma da matemática”. Com este ideário, Roxo elabora em 1929, seus princípios na defesa do conceito de função como centralizador do ensino de Matemática. Tratava-se não de eleger tal conceito como aquele a ser estudado de forma isolada, mas de que o pensamento funcional pudesse ser utilizado como “pano de fundo” no estudo de outros objetos matemáticos, com preocupações em privilegiar mais os processos e conceitos do que o treino de resolução de exercícios (BRAGA, 2006). Tal descrição é encontrada na obra Matemática na Escola Secundária: A noção de função deve ser adotada como ideia axial no ensino da matemática, capaz de estabelecer um elo unificador dos vários assuntos tratados na escola secundária e de modo a ser a alma do corpo em que se organiza toda a matéria. [...] a ideia de função vem ainda dar ao ensino de matemática secundária mais vida e mais interesse permitindo não só tratar de questões de maior realidade para o aluno, como estabelecer conexões a outras matérias mais concretas (ROXO, 1937, pp.193-194). O autor ressalta que na reforma, os catedráticos de matemática do Colégio Pedro II deveriam seguir duas concepções modernizadoras: Sempre que possível dever-se-iam fazer entrelaçamentos e paralelos entre a aritmética, a álgebra e a geometria. A segunda concepção delegava à noção de função com suas representações algébrica, geométrica e tabular o papel de coordenadora dos diversos assuntos da matemática do secundário (BRAGA, op.cit., p.69). De acordo com os documentos apresentados o tema função constava do programa do então, ensino secundário, além de figurar como conteúdo importante na estrutura matemática. De 1931 até o final da década de 1970, os autores de livros didáticos procuravam atender às especificações, não de forma plena, mas 63 reservando os últimos capítulos para o tema, o que possibilitava aos professores o não cumprimento do assunto, e muitas vezes, sequer a abordagem (BRAGA, 2006). Entre os anos de 1965 a 1980, o ensino da Matemática sofre uma grande renovação, sem sombra de dúvidas, tendo como principal marco da reforma o Movimento Matemática Moderna. Este movimento valorizava as grandes estruturas e a linguagem da teoria dos Conjuntos, caracterizado por uma excessiva preocupação com o formalismo, provocando assim, alterações curriculares em vários países com sistemas educativos e realidades diversas (PIRES, 2009). No Brasil, em 1976, no sistema de ensino público do Estado de São Paulo, a presença da Matemática Moderna ficou especialmente registrada na elaboração dos documentos oficiais, chamados Guias Curriculares, organizados para orientar as escolas de 1º grau, que se estruturavam em cursos de oito anos, por força de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A preocupação da Secretaria da Educação era oferecer sugestões de caráter metodológico, definir objetivos e apresentar os conteúdos (Ibid). O documento retratava as seguintes orientações: O que deve ser feito, e isso é importante, é uma reformulação radical dos programas, para adaptá-los às novas concepções surgidas, reformulação essa que deve atingir as técnicas e estratégias utilizadas para a obtenção dos objetivos propostos. [...] a orientação dada a um curso de Matemática deve ser moderna e, parar isso, é necessário que se dê ênfase no estudo da matéria, a certos aspectos que visam destacar a indiscutível unidade da Matemática, mostrando-a como uma construção única sem compartimentos estanques. Dentre esses aspectos, gostaríamos de evidenciar dois deles, que consideramos de importância fundamental: o papel central desempenhado pelas estruturas matemáticas, estruturas essas que podem ser evidenciadas no estudo dos campos numéricos bem como na geometria, e o importantíssimo conceito de relação e, mais especificamente, o conceito de função, que pode ser abordado não só no estudo das funções numéricas, como também no estudo das transformações geométricas. Além disso, é de importância primordial destacar o papel do raciocínio matemático (SÃO PAULO, 1976, p.171). O documento explicava ainda: Para a apresentação do programa foi adotado um agrupamento dos assuntos que, por ser um programa de transição, não atinge a unidade completa que consideramos ideal, mas que pode ser sentida principalmente no primeiro tema, que é indiscutivelmente o fator unificador da Matemática. A divisão foi feita em quatro temas enumerados a seguir: I. Relações e funções. II. Campos numéricos. III. Equações e Inequações. IV. Geometria (Ibid., p.172) 64 Para cada tema citado anteriormente, os guias curriculares apresentavam o conceito de relação e especificamente o de função, como temas fundamentais para o ensino de matemática. O primeiro tema que tratava o documento era sobre “relações e funções”, em que o conteúdo de relações aparecia indicado para o ensino de 1ª à 5ª série e o de aplicações ou funções à 5ª, 6ª e 8ª séries. Apresentaremos a seguir os objetivos e a distribuição dos níveis e séries referentes ao tema “Relações e funções”, vigentes em 1976. Tema I: Relações e Funções Objetivos Adquirir uma linguagem e conceitos que se constituem em elementos unificadores da matemática e aplicá-los sempre que necessário. Desenvolver habilidades de construir e interpretar gráficos cartesianos e diagramas de relações. Quadro 6: Distribuição dos conteúdos sobre Relação e Função propostos nos Guias Curriculares para o Ensino de Matemática do Estado de São Paulo (1976) Nível I Conteúdo Nível II 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª X x (*) X x Igualdade e inclusão (*) (*) (*) (*) x Reunião e intersecção (*) (*) (*) (*) x Partição (*) (*) (*) (*) x (*) (*) (*) (*) x X x X X x Conjuntos; elementos; pertinência; diagramas Par ordenado; Produto cartesiano Relações 6ª 7ª 8ª 65 Propriedades das relações: (*) (*) (*) X x (*) (*) (*) (*) x Aplicações ou funções (*) (*) (*) (*) x Equipotência (*) (*) (*) (*) x reflexiva, simétrica e transitiva, relações de equivalência Propriedade antissimétrica. Relação de ordem x (*) X Fonte: SÃO PAULO, 1976, p.568. Talvez seja possível afirmar que o esforço realizado por Roxo em 1929 constitui as raízes do que se verifica a partir da década de 1970. Com muitas discussões sobre o Movimento da Matemática Moderna e também sob as tensões acerca do fim da ditadura militar, os anos 80 no Brasil foram marcados com um novo contexto político e social favorável à apresentação de propostas para a construção de uma escola inspirada em valores democráticos e de grande inspiração da sociedade brasileira. As Secretarias Estaduais e Municipais de Educação foram motivadas a elaborarem novas propostas curriculares para o ensino de matemática. Em 1985, a rede pública estadual de São Paulo, inicia o processo de elaboração da Proposta Curricular para o ensino de 1º grau (PIRES, 2009). O documento que teve sua primeira publicação em 1986 e reeditado em 1988, 1991 e 1997 não há nenhuma orientação quanto ao ensino de função. O referido conteúdo aparece apenas nos documentos destinados ao 2º grau. Somente nas orientações sobre o conteúdo da 7ª série há conceitos que estão relacionados, como proporcionalidade entre grandezas e representação gráfica de uma equação a duas incógnitas. Ainda assim, sem nenhuma menção à função ou mesmo relação. 8 X: indica que o conteúdo é trabalhado explicitamente e (*): indica que o conteúdo é trabalhado implicitamente nas atividades. 66 No final da década de 1990, tendências modernas expressas em vários documentos, dentre eles os Parâmetros Curriculares Nacionais, reconhecem o estudo da álgebra no ensino da matemática. De acordo com Lopes (2006, p. 30): A partir da década de 1990, tendências modernas expressas em vários documentos, dentre eles os PCN, consideram a Álgebra “um espaço bastante significativo para que o aluno desenvolva e exercite sua capacidade de abstração e generalização”. Assim sugerem a exploração de situações que levem os alunos a construir noções algébricas pela observação de regularidades: em tabelas, gráficos e outros registros de representação, estabelecendo relações que sejam mais significativas e não apenas um trabalho de “manipulações” com expressões e equações como acontece na maioria das vezes. Com o declínio da Matemática Moderna, em todo o mundo buscou-se construir currículos de matemática mais ricos, contextualizados e socialmente, com possibilidades de estabelecimento de “relações intra e extramatemática”, com a conceituação e os rigores matemáticos apropriados e acessíveis aos estudantes, evidenciando o poder explicativo da matemática, com estruturas mais criativas (PIRES, 2009). O incentivo ao ensino da Matemática, como algo essencial na formação básica da sociedade, passa a ser objeto de trabalho dos governamentais brasileiros, conforme apresentado nos PCN+: Em nossa sociedade, o conhecimento matemático é necessário em uma grande diversidade de situações, como apoio a outras áreas do conhecimento, como instrumento para lidar com situações da vida cotidiana, ou ainda, como forma de desenvolver habilidades de pensamento (BRASIL, 2002, p.111). A comunicação do indivíduo moderno gera demanda de formação mais abrangente e atenta às necessidades da sociedade contemporânea. A linguagem científica torna-se uma necessidade no conhecimento do indivíduo comum segundo os PCN+: “alunos que não falam sobre matemática e não têm a oportunidade de produzir seus próprios textos nessa linguagem, dificilmente serão autônomos para se comunicarem nessa área” (Ibid., p.120). Desta forma, o estudo de funções parece se firmar como uma necessidade na formação básica do cidadão. As pretensões de Roxo, no passado, se constituem como as raízes desta transformação no presente. Esta consolidação do ensino de função como articulador da formação matemática do indivíduo, e também, como 67 conceito fundamental na articulação das diversas áreas do conhecimento, é apresentada nos PCN+ da seguinte forma: O estudo das funções permite ao aluno adquirir a linguagem algébrica, como a linguagem das ciências, necessária para expressar a relação entre grandezas e modelar situações-problema, construindo modelos descritivos de fenômenos e permitindo várias conexões dentro e fora da própria matemática (BRASIL, 2002, p.121). Em outro texto encontramos a afirmação de Lopes (2006, p.31) sobre o mesmo assunto: O ensino de função precisa garantir que os alunos trabalhem com problemas e que os mesmos possam dar significado à linguagem e às ideias matemáticas, promovendo assim, uma maior integração das ciências que fazem uso desse objeto matemático. O tema função também é indicado na nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo, elaborada em 2008, para a 8ª série do ensino fundamental, atual nono ano, sob os tópicos: noções básicas sobre funções; a ideia de variação e construção de tabelas e gráficos para representar funções do 1º e 2 graus. No nível médio, essa proposta apresenta o conteúdo distribuído entre os três anos, introduzindo o assunto a partir da primeira série, com o estudo das funções afim, quadrática, exponencial e logarítmica, prosseguindo no segundo ano, em que propõe a abordagem das funções trigonométricas e, finalizando no terceiro ano, propondo o estudo e análise das propriedades das funções trigonométricas, exponenciais, logarítmicas e polinomiais. As Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio apontam que: O ensino pode ser iniciado diretamente pela noção de função para descrever situações de dependência entre duas grandezas, o que permite o estudo a partir de situações contextualizadas, descritas algébrica e graficamente (BRASIL, 2006, p.121). O mesmo documento ainda aponta que: O estudo de funções permite ao aluno adquirir a linguagem algébrica como a linguagem das ciências, necessária para expressar a relação entre grandezas e modelar situações-problema, construindo modelos descritivos de fenômenos e permitindo várias conexões dentro e fora da própria matemática. Assim, a ênfase do estudo das diferentes funções deve estar no conceito de função e em suas propriedades em relação às operações, na interpretação de seus gráficos e nas aplicações dessas funções (Ibid). 68 Entendemos, portanto, que os documentos oficiais brasileiros entram em conformidade com um caminho que teve início em 1931, no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Considerando os argumentos citados e a importância do conceito de função na Educação Matemática, descreveremos nos próximos itens tal assunto. 2.2 Conceito de Função Com o intuito de apresentar a trajetória do conceito de função no universo matemático, abordaremos a evolução do conceito de função ao longo da história e a sua definição. Para nos referirmos ao conceito matemático de função nos valeremos de algumas considerações iniciais. A palavra função, na forma latina equivalente, parece ter sido introduzida por Leibniz em 1694, segundo afirma Eves (2011, p.660): A palavra função, na forma latina equivalente, parece ter sido introduzida por Leibniz em 1694, inicialmente para expressar qualquer quantidade associada a uma curva, como por exemplo, as coordenadas de um ponto da curva, a inclinação de uma curva e o raio da curvatura de uma curva. Eves (2011) ainda relata que após duas décadas, Bernoulli considera uma função sendo uma expressão qualquer formada por uma variável e algumas constantes. À medida que atribuíam significado o conceito de função foi sendo “aperfeiçoado”. Pouco tempo depois Euler considerou uma função como uma equação ou fórmula qualquer envolvendo variáveis e constantes, até que Joseph Fourier, estudando profundamente a natureza, que considerava ser a fonte mais rica de descobertas matemáticas, estudou a propagação do calor como um fluído sutil, que podia ser expresso por uma equação matemática contínua. Considerou, portanto, a temperatura como uma função de duas variáveis: o tempo e o espaço. Desenvolveu então, as chamadas séries trigonométricas. O autor descreve que: Em 1807 Fourier apresentou um artigo sobre a teoria analítica do calor, à Academia de Ciências da França que deu início a um novo e extremamente frutífero capítulo da história da matemática. O artigo trata do problema 69 prático da propagação do calor em barras, chapas e sólidos metálicos. No desenvolvimento do artigo, Fourier fez a surpreendente afirmação de que toda função definida num intervalo finito por um gráfico descrito arbitrariamente pode ser decomposta numa soma de funções seno e coseno (EVES, 2011, p.526). No século XIX, Dirichlet formula uma definição de função e as variações que surgiram em torno dela. Estas atenderam e contribuíram para o desenvolvimento da matemática, embora não apresentasse nenhuma definição geral de função: Uma variável é um símbolo que representa qualquer dos elementos de um conjunto de números; se duas variáveis x e y estão relacionadas de maneira que, sempre se atribui um valor a x, corresponde automaticamente, por alguma lei ou regra, um valor a y, então se diz que y é uma função (unívoca) de x. A variável x, à qual se atribuem valores à vontade, é chamada variável independente. Os valores possíveis que x pode assumir constituem o campo de definição da função e os valores assumidos por y constituem o campo de valores da função (Ibid., p.661). Tal definição, apesar de bastante abrangente, se limitava à relação entre números. No final do século XIX com o surgimento da Teoria dos Conjuntos de Georg Cantor, uma função passa a ser representada por meio de correspondência entre dois conjuntos A e B. Assim, foi possível ampliar este conceito para relações entre conjuntos de elementos quaisquer, de natureza diferente da numérica. Com a contribuição da Teoria dos Conjuntos foi inserida a estruturação e formalização simbólica do conceito de função e também os termos produto cartesiano, domínio e imagem de uma função (Ibidem). O conceito de função que hoje pode parecer tão simples foi resultado de um processo de evolução histórica lenta e progressiva, iniciado há muitos anos, cuja utilização data de milênios, rendendo um grande impulso para a Matemática, principalmente à sua aplicabilidade em outras ciências. A necessidade dos matemáticos nos séculos XVIII e XIX em descreverem os fenômenos naturais, procurando quantificar e estabelecer relações entre grandezas variáveis, uma dependendo da outra, foi que tornou o conceito de função um instrumento fundamental para a ciência em geral. Desta forma, diante da ideia de relação entre dois conjuntos de números, Caraça (2005) afirma que a relação de um conjunto numérico a um conjunto de 70 imagens simbólicas pode ser denominada variável e esta pode ser definida como sendo o símbolo que representa os elementos de um conjunto qualquer de números reais ou complexo. O autor ainda descreve que: Seja E um conjunto qualquer de números, conjunto finito ou infinito, e convencionemos representar qualquer de seus elementos por um símbolo, por exemplo, x. A este símbolo, representativo de qualquer dos elementos do conjunto E, chamamos variável. [...] uma variável é o que for determinado pelo conjunto numérico que ela representa (CARAÇA, 2005, p.127). Define ainda o autor: Sejam x e y duas variáveis representativas de conjuntos de números; diz-se que y é função de x e escreve-se y=f(x), se entre as duas variáveis existe uma correspondência unívoca no sentido x→y. A x chama-se variável independente, a y variável dependente (Ibid., p.121). O conceito de função pode ser um guia natural e efetivo para textos matemáticos e é inquestionável que quanto mais familiarizado o aluno estiver com tal conceito, melhor será a sua formação matemática, conforme afirma Eves (2011): O conceito parece representar um guia natural e efetivo para a seleção e desenvolvimento do material de textos de matemática. Enfim, é inquestionável que quanto antes se familiarize um estudante com o conceito de função, tanto melhor para a sua formação matemática (p.661). Segundo Bianchini e Puga (2006, p.6) “o conceito de função inicia no ensino infantil quando a criança começa a estabelecer correspondência entre conjuntos de certos objetos”. Esta afirmação vem a corroborar com a ideia que o aluno deve estar familiarizado o quanto antes com o conceito de função, melhorando assim, a sua formação matemática e até mesmo em outras áreas do conhecimento que permitem a aplicação de tal conceito, como por exemplo, a Física, Química, Informática, Biologia entre outras. Diante do exposto, apontamos o campo matemático do estudo de funções como um importante ramo da educação matemática básica, em que a pesquisa se faz necessária. 71 A importância de pesquisas que busquem sintetizar estudos realizados sobre temas mais específicos evitando as grandes generalizações, é uma tendência trazida pela ascendência das pesquisas qualitativas em Educação Matemática, como destacam Fiorentini e Lorenzato (2009, p.42): “a principal mudança verificada nos últimos anos é que estes estudos [...] passam a centrar foco na aprendizagem de conteúdos matemáticos mais específicos”. Partindo desta afirmação, abordaremos especificamente o estudo da função modular com o objetivo de contribuir ainda mais com as pesquisas na Educação Matemática e também com o ensino e aprendizagem na Educação Básica. Desta forma, trataremos no próximo item sobre os conceitos de módulo, função modular e suas expressões dos pontos de vista algébricos e geométricos. 2.3 Conceito de Módulo O conceito de módulo pode ser abordado de diversas maneiras de acordo com o nível escolar. Friedlander e Hadas (1995) relatam que a maioria dos livros didáticos define valor absoluto de um número como a distância do ponto correspondente da reta real a origem, mas essa abordagem gráfica rapidamente é abandonada em favor de uma definição aritmética. Os autores ainda destacam que o valor absoluto é estudado em várias etapas do ensino de Álgebra, e em cada etapa é desenvolvida a capacidade do aluno em compreender e visualizar situaçõesproblema de complexidade crescente. Afirmam ainda que: Traduzir em palavras e distância considerações sobre a reta numerada incentiva os alunos a ter em mente um quadro completo da questão, em vez de enveredar por manipulações mecânicas de sentenças algébricas. A tradução da forma matemática em palavras é uma aptidão das mais necessárias, frequentemente negligenciada em sala de aula. Em geral, nosso enfoque se limita a problemas que requerem uma tradução para a álgebra e não vice-versa (Ibid., p. 248). Outra forma de definição do valor absoluto de um número é apresentada por Lima (2009), o qual propõe que o módulo de um número x é o maior dos números x e – x. Segundo o autor, a interpretação de valor absoluto como distância no eixo 72 real, entre dois pontos de coordenadas estabelecidas permite visualizar intuitivamente o significado e as respostas de algumas questões envolvendo módulos, como a resolução de equações e inequações modulares. Com o conceito de módulo é possível expressar algébrica e geometricamente a função modular. Abordaremos esse assunto a seguir. 2.3.1 Conceito de Função Modular A definição de função modular permite a aplicação do conceito de módulo no plano cartesiano. Esta aplicação abre perspectivas para inúmeras relações e aplicações do conceito de módulo com o conceito de função, gráfico de uma função, função composta, translação de eixos, distância, resolução de equações e inequações na reta numérica e no plano cartesiano. A definição de função modular decorre diretamente da definição de módulo. Portanto, a função f, de IR em IR, que a todo número x associa o seu módulo é denominada função modular, ou seja, f: IR→ IR então x ↦ |x|. Torna-se essencial compreender que em certas funções é necessário o uso de duas ou mais sentenças. De forma abreviada, costuma-se dizer que a função modular9 é definida por y = |x| ou f(x) = |x|, no qual o seu domínio é IR. Neste caso a função modular é descrita por: x para x ≥ 0 f(x) = |x| = -x para x<0 Por se tratar de uma função definida por duas sentenças, a representação gráfica desta função no plano cartesiano é para y=x, com x≥0, o gráfico dessa função é a bissetriz do 1º quadrante para valores positivos do domínio da função f e 9 As informações foram retiradas da obra: STEWART, J. Cálculo volume 1. 6 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 73 para y=-x, com x<0, o gráfico dessa função é a reta bissetriz do 3º quadrante para valores negativos do domínio da função f. Assim, o gráfico cartesiano de y=|x|, de domínio IR, é a reunião das bissetrizes do 1º e 2º quadrantes. Logo, a imagem da função é formada por todos os números reais não negativos. Portanto: Im(f)= IR+= [0, +∞[. Figura 1: Gráfico da Função Modular f, dada por f(x)=|x| Fonte: STEWART, 2009, p.120. A função modular é aplicada em outras funções transformadas. Para estudar essas transformações é possível fazer a aplicação do conceito de valor absoluto de uma função. Se y=|f(x)|, então, de acordo com a definição de valor absoluto, y = f(x) quando f(x) ≥ 0 e y=-f(x) quando f(x)<0. Isso nos mostra como obter o gráfico de y=|f(x)| a partir de y=f(x): a parte do gráfico que está acima do eixo permanece a mesma, enquanto a parte que está abaixo do eixo x é refletida em torno do eixo de x10. Para justificar a importância da construção do gráfico de uma função modular em outras funções transformadas, Friedlander e Hadas (1995) apontam suas aplicações na resolução de equações e inequações modulares por meio da 10 STEWART, J. Cálculo volume 1. 6 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 74 representação gráfica no plano cartesiano além da utilização significativa das habilidades em trabalhar com simetria, reflexão e translação. Uma das aplicações do conceito de função modular consiste em resolver geometricamente equações e inequações modulares no plano cartesiano. Sobre este tipo de resolução os autores afirmam que: O sistema de coordenadas cartesianas, contudo tem algumas vantagens: Permite-nos resolver inequações com valor absoluto de maior complexidade [...]. Utiliza mais ou menos a mesma estratégia em todos os casos. Ademais, ela poderá ser utilizada posteriormente para resolver inequações de qualquer tipo [...]. É um dos poucos casos do currículo matemático em que uma resolução gráfica é menos tediosa e consome menos tempo que a resolução algébrica [...]. Utiliza de maneira significativa a habilidade em trabalhar com simetria, reflexão e translação (FRIEDLANDER; HADAS, 1995, pp.252-253). Para resolver uma inequação modular, os autores propõem separar cada desigualdade em duas partes, separadas pelo sinal da desigualdade e representar o gráfico das funções individualmente. A partir dos pontos de interseção entre os gráficos, caso existam, se determina a solução. Se não existir ponto de interseção, basta fazer uma comparação direta entre as funções e determinar se ambas satisfazem a inequação modular. Quanto à aplicação do conceito de módulo e função modular na reta numérica possibilitada em equações do tipo |x-a|= b com b≥0, destacamos que na reta real, esta igualdade significa que o número x está a uma distância b do número a. Nesta linha de aplicação, Lima (2009, pp.73-74) afirma que: “Se tivermos uma desigualdade, como |x-a|<ε, com ε>0, isto significa que a distância de x ao ponto a é menor do que ε, logo x deve estar entre a - ε e a+ε. Portanto, o conjunto {x ϵ IR; |x-a|< ε} é o intervalo aberto (a-ε, a+ε)”. A partir da interpretação na reta real de problemas que envolvem igualdades e desigualdades modulares, é possível determinar o conjunto solução de equações e inequações que envolvem adição de módulos sem a necessidade de recorrer à resolução algébrica por casos. Abordagens geométricas, tanto na reta real como no plano cartesiano contribuem ao estudo de definições e aplicações em Matemática, tais como: conceito de distância na Geometria Analítica e suas aplicações para casos como distância entre um ponto e uma reta, a definição de limite de uma 75 função e a interpretação geométrica da solução de sistemas lineares em IR 2 e IR3 (JÚNIOR, 2008). Desta forma, o estudo do conceito de módulo e função modular é uma oportunidade para estabelecer ligações entre as funções estudadas, em especial, no primeiro ano do Ensino Médio, e aplicação de propriedades de função e as propriedades geométricas, como simetria, reflexão e translação, usadas também em Geometria Analítica. Ao associar a Álgebra e a Geometria, especialmente pela construção de gráficos e sua análise interpretativa, a função modular estabelece um conhecimento que se interliga as diversas funções, suas aplicações e propriedades geométricas à definição de valor absoluto de um número real (Ibid., 2008). Dentre outros assuntos sobre o estudo gráfico de funções, tais reflexões de função modular encontramos na obra de Silva et al. (2002): Atividades para o estudo de Funções em ambiente computacional. O objetivo dos autores é explorar as concepções de professores e alunos do Ensino Médio e do Ensino Superior quanto às suas dificuldades relacionadas à função. Desta forma, propõem atividades envolvendo funções (domínio, contra-domínio, distinção entre a variável dependente e a independente, registros de representação quanto à linguagem natural, simbólica e gráfica, bem como à mudança entre os registros) que podem ser exploradas em um ambiente informático, favorecendo a formulação de conjecturas, os questionamentos e a validação ou não dos resultados, por parte do sujeito. Para auxiliar na compreensão de função modular, propomos o uso das tecnologias, mas especificamente, a utilização do software GeoGebra como uma estratégia pedagógica para o ensino algébrico e geométrico do tema em questão. 2.4 O uso de tecnologias na Educação Matemática Quando abordamos o assunto “tecnologias”, logo identificamos os objetos relacionados como sendo computadores, filmadoras, televisões, celulares, iphone, ipad, tablets e equipamentos eletrônicos em geral. Porém, a tecnologia não precisa ser vista somente em processos que utilizam equipamentos, mas também, de forma independente dos artefatos. Kenski (2007, p.23) afirma que: 76 [...] existem outras tecnologias que não estão ligadas diretamente a equipamentos e que são muito utilizadas pela raça humana desde o início da civilização. A linguagem, por exemplo, é um tipo específico de tecnologia que não necessariamente se apresenta através de máquinas e equipamentos. A linguagem é uma construção criada pela inteligência humana para possibilitar a comunicação entre os membros de determinado grupo social. Estruturada pelo uso, por inúmeras gerações e transformadas pelas múltiplas interações entre grupos diferentes, a linguagem deu origem aos diferentes idiomas existentes e que são característicos da identidade de um determinado povo, de uma cultura. A vida cotidiana traz uma série de ferramentas tecnológicas, como livros, canetas, sabonetes, fogão, sapatos, entre outros, e, “quando falamos da maneira como utilizamos cada ferramenta para realizar determinada ação, referimo-nos à técnica. A tecnologia é o conjunto de tudo isso: as ferramentas e as técnicas que correspondem aos usos que lhes destinamos, em cada época” (KENSKI, 2003, p.19). A autora em outro texto relata que o desenvolvimento tecnológico de cada época da civilização marcou a cultura e a forma de compreender a sua história. O homem transita mediado pelas tecnologias que lhe são contemporâneas (Id., 2007). Oliveira (2007) corrobora com essa ideia quando comenta que as tecnologias são mediadoras, agentes das conexões. Programas, máquinas, redes das mais diversas topologias e assentadas sobre os mais diversos meios de transmissão e recepção, constituem a ambientação, permitindo a extensão de possibilidades das pessoas, que passam a alcançar mais longe, projetando-se à distância. Kenski (2007) afirma que as tecnologias são utilizadas como auxiliares na educação, presentes todo tempo no processo pedagógico desde o planejamento até a formação dos alunos. E, em outro texto, a autora ainda comenta que: [...] não são as tecnologias que vão revolucionar o ensino e, por extensão, a educação em geral, mas a maneira como essa tecnologia é utilizada na mediação entre professores, alunos e a informação. Essa maneira pode ser revolucionária, ou não. Os processos de interação e comunicação no ensino sempre dependeram muito mais das pessoas envolvidas no processo do que das tecnologias utilizadas, seja o livro, o giz, o computador e as redes (Id., 2003, p.121). Borba (2001) apoiado na visão de Levy (1993) e Tikhomirov (1981) quando afirmam que não deve haver uma dicotomia entre a técnica e os seres humanos, 77 pois a história das mídias sempre esteve entrelaçada com a história da própria humanidade, traz para o âmbito da Educação Matemática uma perspectiva de que o conhecimento é produzido por um coletivo formado por seres-humanos-com-mídias. Para o autor a informática é uma nova extensão da memória com diferenças qualitativas em relação às outras tecnologias permitindo que a linearidade de raciocínios seja desafiada por modos de pensar, baseados na simulação, na experimentação, e uma “nova linguagem” que envolve escrita, oralidade, imagens e comunicação instantânea. Ainda argumenta que os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam seu raciocínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente transformando essas técnicas, desta forma, o conhecimento só é produzido com uma determinada mídia, ou com uma tecnologia da inteligência. Borba (2001, p.139) relata que: Do meu ponto de vista, creio que essa metáfora [seres-humanos-commídias] sitetiza uma visão de cognição e de história das técnicas que permite que seja analisada a participação de “novos atores” informáticos nesses coletivos pensantes de uma forma que não julgamos se há “melhorias” ou não, mas sim de uma forma que identifica transformações em práticas. [...] tal noção é adequada para mostrar como o pensamento se reorganiza com a presença das tecnologias da informação e que tipos de problemas são gerados por coletivos que incluem lápis e papel e diversas facetas das tecnologias da informação (grifos do autor). O autor ainda destaca que não existe uma mídia melhor ou pior, mas sim, diferentes tipos de mídias que têm ao longo da história condicionada a produção de conhecimentos qualitativamente diferentes, ou seja, os seres humanos ao interagirem com as mídias, reorganizam o pensamento de acordo com múltiplas possibilidades e restrições que elas oferecem. Oliveira (2007, p.35) corrobora com essa perspectiva teórica quando afirma que “os computadores não substituem os seres humanos nem os complementam simplesmente, mas auxiliam na reorganização do pensamento com outras formas de proceder à formulação e à resolução de problemas”. 78 Os documentos oficiais brasileiros apontam a importância da utilização dos computadores para integrar muito mais experiências educacionais no ensino e aprendizado de Matemática. Eles podem ser utilizados para as finalidades: Como fonte de informação, poderosos recurso para alimentar o processo de ensino e aprendizagem. Como auxiliar no processo de construção de conhecimento. Como meio para desenvolver autonomia pelo uso de softwares que possibilitem pensar, refletir e criar soluções. Como ferramenta para realizar determinadas atividades de uso de planilhas eletrônicas, processadores de textos, banco de dados etc (BRASIL, 1998, p.44). O Ministério da Educação no Brasil também entende que o impacto da tecnologia sobre a sociedade atual é essencial para o aprendizado de matemática e sua aplicação em situações cotidianas, conforme consta nas Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Não se pode negar o impacto provocado pela tecnologia de informação e comunicação na configuração da sociedade atual. Por um lado, tem-se a inserção dessa tecnologia no dia-a-dia da sociedade, a exigir indivíduos com capacitação para bem usá-la; por outro lado, tem-se nessa mesma tecnologia um recurso que pode subsidiar o processo de aprendizagem da Matemática. É importante contemplar uma formação escolar nesses dois sentidos, ou seja, a Matemática como ferramenta para entender a tecnologia, e a tecnologia como ferramenta para entender a Matemática (Id., 2006, p.87). Vários autores mencionam o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) integradas à prática dos professores e ao movimento de construção do conhecimento dos alunos, sugerindo a elaboração de novas formas de pensar e fazer matemática, com as tecnologias digitais como extensões pessoais e/ou como elementos integradores de estratégias pedagógicas inovadoras (OLIVEIRA, 2008). Em outro texto Oliveira (2007, p.40) ainda afirma que: As TICs por si só são insuficientes como elementos que proporcionam ambiência à construção do conhecimento. Os processos de interação e comunicação entre os sujeitos do ensino e aprendizagem e as estratégias pedagógicas dos professores são mais importantes que as tecnologias em questão. Assim, valendo-nos destas afirmações, propomos em nossa pesquisa a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) como mediadoras do 79 estudo da função modular, tendo por alvo construir conhecimentos e promover a autonomia dos estudantes e também auxiliar o professor em seu papel de orientação e promoção de interações, segundo indica Oliveira (2009a, p.4): Os artefatos tecnológicos presentes nas situações didáticas podem ter um caráter mediador, permanecendo a serviço de uma estratégia didática que têm o aprendiz como foco, que busca entender e planejar de acordo com as mais diversas propostas que lhe permitam ampliar a autonomia diante do desafio de aprender. Optamos então, pelo software GeoGebra como componente de uma estratégia pedagógica para o ensino da função modular, devido ser um software gratuito, multiplataforma para todos os níveis de ensino e voltado para a educação. Criado em 2001 como tese de doutorado de Markus Hohenwarter da Universidade de Salzburg, na Áustria, sua popularidade tem crescido desde então. O GeoGebra é usado em 190 países, traduzido para 55 idiomas, com mais de 300000 downloads mensais, 62 Institutos de GeoGebra em 44 países para dar suporte para o seu uso, é instalável nos ambientes Windows, no Linux ou no Mac. Por ser livre, o software vem ao encontro de novas estratégias de ensino e aprendizagem de conteúdo de geometria, álgebra, cálculo e estatística, permitindo que professores e alunos tenham a possibilidade de explorar, conjecturar, investigar tais conteúdos na construção do conhecimento matemático11. O software GeoGebra é um sistema de geometria dinâmica e permite realizar construções com pontos, vetores, segmentos, retas paralelas, perpendiculares, bissetrizes, mediatrizes, medianas, alturas, circunferências, polígonos, gráficos e outros conteúdos pertinentes à Matemática. As construções geométricas virtuais não ficam estáticas, podem ser movimentadas. Os pontos geométricos iniciais de uma construção podem ser arrastados com o mouse sem destruir as relações matemáticas que vigoram entre eles e os demais objetos. Além disso, possui dois ambientes: uma janela de geometria e outra de álgebra. Uma expressão na janela algébrica corresponde a um objeto na janela geométrica e vice-versa (SÁ, 2010). Vale à pena ressaltar que mesmo com todas essas vantagens que o software oferece, ele não ensina nada sozinho, segundo Araújo e Nóbrega (2010): 11 Informações contidas no site www.pucsp.br/geogebrasp. 80 O Geogebra não ensina nada sozinho. Para que haja aprendizagem, é necessário que o aluno reflita durante a execução das atividades, buscando experimentar diferentes maneiras, percebendo as propriedades, conjecturando e justificando. O papel do professor é fundamental nesse processo, pois precisa criar novos mecanismos para fazer com que os alunos reflitam e percebam o que de fato está por trás das construções que eles estão fazendo, além de auxiliá-los nas justificativas das construções (ARAÚJO; NOBREGA, 2010, pp.1-2). Em relação à determinada estratégia os recursos tecnológicos não são autossuificentes. Portanto, o professor não será substituído por computadores, segundo os autores Borba e Penteado (2007), Kenski (2007) e Oliveira (2007). Para os autores, o professor deve saber lidar com as mudanças tecnológicas, ou seja, não se imunizar da possibilidade de uso dos recursos tecnológicos. Desta forma, as inovações educacionais implicam em mudanças na prática docente, na ampliação dos seus conceitos sobre estratégias pedagógicas em sala de aula e na reflexão sobre a própria prática. 2.5 Níveis do ciclo de apropriação de TICs na Educação Matemática Segundo Borba e Penteado (2007) a informática na educação matemática deve ser vista como um direito que inclui a alfabetização tecnológica, não sendo apenas um simples curso de informática, mas sim um aprender e interpretar a nova mídia. Para os autores a informática na educação justifica-se em dois momentos: alfabetização tecnológica e direito ao acesso. Argumentam ainda que é necessário que os professores assumam a incorporação das novas mídias em suas práticas, sendo esse um objetivo a ser alcançado, o que implica em fugir de certa “zona de conforto”, no qual muitos docentes se colocam, não aceitando os riscos de mudar, aprender e assumir uma nova prática. Para Frota e Borges (2004) o uso efetivo de tecnologias nas escolas depende de dois momentos que seguem paralelos. No primeiro momento, o professor é visto como sujeito, mas especificamente na sua formação, para incorporar as tecnologias. No segundo momento, foca-se o sistema educacional, que deve fornecer as condições de incorporação das tecnologias nas escolas. 81 Apoiados nas ideias de Goos et al. (2003), os pesquisadores Frota e Borges (2004) analisam os documentos oficiais brasileiros e identificam duas concepções em relação ao uso de tecnologias na Educação Matemática: consumir tecnologias e incorporar tecnologias. Os autores também propõem uma terceira abordagem, que diz respeito à matematização das tecnologias. Tais concepções são esclarecidas da seguinte forma: Consumir tecnologia: os resultados tecnológicos são reconhecidos como poderosos para ensinar e aprender matemática. Neste passo, o sujeito acredita que os processos tecnológicos são capazes de modificar o ensino, tornando-o mais atrativo e motivador. Além disso, há o encantamento pela automatização das tarefas. Incorporar tecnologia: a tecnologia é tomada como ferramenta e instrumento cognitivo. Matematizar tecnologia: a tecnologia torna-se fonte de renovação para novas abordagens curriculares em Matemática, correlacionando os conteúdos matemáticos com as produções sociais e vice-versa. Quanto ao ato de “consumir tecnologias”, segundo os autores, as pessoas podem tornar-se dependentes das ferramentas para realizar tarefas que já resolviam sem estes recursos. Para essa afirmação, Frota e Borges (2004) apontam dois níveis: Consumir tecnologia para automatização das tarefas: as tecnologias são utilizadas apenas como um recurso para promover a mesma concepção didática que vinha tendo, ou seja, muda-se o suporte e continua-se sem avançar no processo de ensino da Matemática. Representa da mesma forma uma maneira de automatizar cálculos e algoritmos, permanecendo a mesma dimensão didática. Consumir tecnologia para mudar o foco das tarefas: uso das tecnologias para realizar tarefas antigas, mas focalizando aspectos que não eram valorizados 82 manualmente. Entretanto, o foco permanece na leitura e materialização de roteiros predefinidos, sem qualquer autonomia, refinando a fluência no recurso tecnológico sem atenção ao desenvolvimento do saber matemático. Para Frota e Borges (2004) a fase de incorporação da tecnologia, no qual o ensino de matemática com o uso das TICs pode ampliar a possibilidade de compreensão, também pode gerar obstáculos didáticos ao entendimento de diversos conceitos. Desta forma, os autores subdividem essa fase em dois níveis. Tecnologia como parceria: a incorporação da tecnologia se acentua e as formas de fazer matemática se modificam, o que implica em assumir tarefas em versões mais complexas. Neste nível a tecnologia assume o papel de mediadora, e permite explorar diferentes perspectivas do problema. Tecnologia como extensão do self: a incorporação da competência tecnológica faz parte do processo, o que implica em entender que maneiras novas de fazer matemática implicam no desenvolvimento de novas formas de pensar e solucionar problemas. A fase matematizar a tecnologia aborda a mesma como objeto curricular, desta maneira Frota e Borges (2004) subdividem essa fase em dois níveis. Matematizar a tecnologia enquanto fonte de temas matemáticos: há o reconhecimento de que a matemática pode ser incorporada aos objetos tecnológicos, bem como os processos tecnológicos, ou seja, implica ver a matemática semelhante à realidade social. Neste nível o indivíduo já tomou posse da tecnologia e transcendeu a capacidade de críticas ao uso de cada tecnologia que utiliza. Matematizar a tecnologia modelando objetos e processos: visa o desenvolvimento da habilidade de elaborar modelos matemáticos e novas tecnologias mais eficazes e adequadas para cada problema abordado. 83 No que diz respeito ao uso de recursos tecnológicos por professores de Matemática, Oliveira (2009b) sintetiza e completa as definições de Borba e Penteado (2007), Frota e Borges (2004) e Goos et al. (2003), indicando quatro níveis pelos quais os docentes precisariam passar para utilizar de forma crítica as tecnologias em suas práticas. Apropriação das interfaces e dos recursos desenvolvendo fluência na manipulação das ferramentas. Inclusão das tecnologias como partes integrantes do seu fazer didático. Exploração dos elementos matemáticos envolvidos nos problemas e contextos trabalhados em sala de aula, do ponto de vista do desenvolvimento de tecnologias. Criação de estratégias pedagógicas que integrem todas as tecnologias, novas e velhas, como suportes e elementos de mediação em relação ao aprendizado dos estudantes e ao conteúdo matemático (esta dimensão permite empregar de forma integrada as anteriores). Para Oliveira (2009b) estas quatro concepções podem representar um ciclo – e deveriam fazê-lo, idealmente – de modo que o professor de Matemática transite de uma para outra conforme refina seu entendimento teórico-prático sobre o uso das tecnologias em seu trabalho. Segundo o autor à medida que avança apropriação destes níveis e dos conhecimentos correspondentes, o ciclo se repete para uma instância superior. O quadro a seguir sintetiza os quatro níveis do ciclo de apropriação de TICs para o docente. 84 Quadro 7: Níveis de utilização para a tecnologia Desenvolver Fluência Incorporar Tecnologia Elaborar Estratégias Pedagógicas com Tecnologia Explorar e Desenvolver Matemática a Partir de Tecnologia Fonte: OLIVEIRA, 2009b, adaptado. Considerando as Tecnologias de Informação e Comunicação como possibilidades mediadoras e pertinentes na Educação Matemática, entendemos que a ideia descrita acima pode ser aplicada à nossa pesquisa no momento em que analisarmos a interação dos sujeitos com o software GeoGebra. 85 CAPÍTULO III “A pesquisa científica exige criatividade, disciplina, baseando-se no confronto permanente entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e a ignorância”. MIRIAM GOLDENBERG Referencial Teórico-Metodológico O objetivo deste capítulo é apresentar o referencial teórico-metodológico, bem como descrever os procedimentos metodológicos desenvolvidos na pesquisa. 3.1 Pesquisa Qualitativa A opção metodológica desta pesquisa foi a metodologia qualitativa, na qual, segundo Appolinário (2009, p.155), “os dados são coletados através de interações sociais e analisados subjetivamente pelo pesquisador”. Acreditamos que a pesquisa qualitativa é a mais indicada para atingir os nossos objetivos, pois não nos interessa apontar a quantidade de erros ou acertos dos professores quando expressarem algébrica e geometricamente a função modular, mas quais foram as condições propiciadas aos sujeitos da pesquisa que permitiram a eles desenvolver um raciocínio para chegar a tais respostas, e também, se a abordagem por nós utilizada na investigação, propicia, ou não, um entendimento sobre o assunto, quais foram as dificuldades encontradas e os avanços percebidos. Uma questão importante que justifica a abordagem qualitativa é a sua essência descritiva, fundamental para a compreensão dos fenômenos que surgirão nesta pesquisa. Para Oliveira (2007) tal característica pode ser resumida da seguinte forma: 86 Uma pesquisa de caráter qualitativo é descritiva, sendo que palavras e/ou imagens são mais adequadas à descrição do que os números. São comuns na apresentação dos resultados, excertos retirados dos dados, de forma a “ilustrar e substanciar a apresentação”, procurando respeitar a forma pela qual foram obtidos. Os relatórios resultantes podem, desta maneira, surgir de forma minuciosa, considerando que nenhuma visão de mundo pode ser reduzida à trivialidade e nenhum detalhe é vazio de significado (OLIVEIRA, 2007, p.30). Sobre o mesmo assunto Borba (2004, p.3) comenta que: Desta forma, quando falo de pesquisa qualitativa, estou falando de uma forma de conhecer o mundo que se materializa fundamentalmente através dos procedimentos conhecidos como qualitativos, que entende que o conhecimento não é isento de valores, de intenção e da história de vida do pesquisador, e muito menos das condições sócio-políticas do momento. Como já dizia Paulo Freire: da escolha da pergunta de pesquisa já é em si um ato embebido de subjetividade. Outros autores apoiam as ideias supramencionadas. Para Ludke e André (1986, p.18) “o estudo qualitativo [...] é o que se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”. As autoras também afirmam que o foco deste gênero de pesquisa é muito mais o processo do que o produto: “o interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas [...], os estudos qualitativos permitem iluminar o dinamismo interno das situações” (Ibid., p.12). Neste aspecto, Godoy (1995) argumenta que a pesquisa qualitativa tem caráter descritivo, possui enfoque indutivo, permanece atenta para os significados que as pessoas atribuem aos elementos que cercam a própria vida e adota o que a autora nomeia de “ ambiente natural”, como fonte direta dos dados, bem como analisa o pesquisador como instrumento primordial. Além disso, o caráter da pesquisa qualitativa não é o da comparação, seja entre grupos, seja entre momentos “antes versus depois”, ou seja, não pretende estabelecer relações causais entre ocorrências, coisas ou fenômenos; por outro lado permite ao pesquisador atentar para os diversos fatores ligados a um problema para compreender-lhes o jogo e, uma vez adquirida esta compreensão, torna-se conhecida esta relação (LAVILLE e DIONNE, 1999). 87 Para Bogdan e Biklen (1994) algumas características marcam a pesquisa qualitativa de forma bastante intensa. São elas: a) O pesquisador é o instrumento mais relevante nesta modalidade de investigação, sendo o “ambiente natural” o local de onde surgem, de forma direta, os dados de interesse. Mesmo quando do uso de aparelhos de registro de falas ou imagens, por exemplo, cabe ao pesquisador o trabalho de revisar as descrições de forma constante. Sendo assim, o contexto é de importância fundamental na pesquisa, influenciando o comportamento das pessoas, o que deve levar o investigador a frequentá-lo, na tentativa de compreendê-lo em suas diversas perspectivas. b) O processo é o foco da pesquisa qualitativa, muito mais do que resultados ou produtos. Como não se trata de, simplesmente, verificar se uma mudança ocorreu, por exemplo, e em que percentual, mas de que forma, em que contexto, o processo serve mais à descrição do que os resultados em si. c) O método indutivo é usado de preferência por pesquisadores qualitativos, o que faz com que os dados recolhidos não tenham por base confirmar ou rejeitar hipóteses previamente conjecturadas. Para os autores, aqui, deve-se “construir um quadro que vai ganhando forma à medida que se recolhem e examinem as partes”, O recorte, então, vai sendo definido ao longo do estudo, como argumentado pelos autores, em um funil. d) Na abordagem qualitativa, o significado possui importância ímpar. Para desvendá-lo, o pesquisador se põe em contato e analisa as diferentes perspectivas de determinados fatos ou descrições, sob o ponto de vista dos diversos sujeitos. 88 3.2 A descrição na abordagem qualitativa De acordo com Oliveira (2007) descrever é importante, pois segundo Bachelard (2004, p.13) “conhecer é descrever para re-conhecer. [...] é preciso ser exaustivo, mas é preciso manter a clareza. É preciso manter o contato, um contato cada vez mais estreito com o real, mas o espírito deve estar alerta, ciente de suas perspectivas, seguro de seus pontos de referência”. Para Martins (1999, p.57) a descrição é vista da seguinte forma: No que se refere à descrição em si, porém não há lugar, para uma distinção branco-preto dizendo-se que ela é verdadeira ou falsa. Descrição, descrever implicam sempre um sucesso. Quando X descreve algo para Y isto implica dizer-se que sua emissão satisfaz as condições para uma descrição, isto é, que ela é suficientemente ampla, justa, precisa e equilibrada. Se sentirmos que este não seja o caso, o máximo que podemos dizer é que X não descreve a coisa – o que ele disse é uma interpretação má, nunca que está errada, falsa ou que não seja verdadeira. Para Ludke e André (1986, p.12) os dados coletados nesta modalidade de pesquisa são predominantemente descritos, envolvendo pessoas, situações e acontecimentos, o que pode envolver “transcrições de entrevistas e depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos”. Assim, para os autores supramencionados, há uma importância significativa quanto à descrição na abordagem qualitativa. 3.3 Coleta de dados Segundo Demo (2000) as maneiras de apropriação de dados devem ser coerentes em relação aos pressupostos da pesquisa qualitativa, contemplando, desta forma, a flexibilidade quanto à dinâmica, ela mesma marcada pela subjetividade, pela intensidade, permeada pelas ideologias e com características de profundidade e provisoriedade. Os autores Fiorentini e Lorenzato (2009) também argumentam que a coleta de dados deve estar de acordo com a questão de investigação e dos objetivos da pesquisa. Ainda afirmam que: 89 Se o pesquisador pretende investigar o movimento do pensamento dos alunos na resolução de problemas matemáticos, terá de escolher um instrumento que permita explicar as estratégias e heurísticas utilizadas pelos alunos. Ou seja, pedir, nesse caso, que os alunos pensem em voz alta, durante a resolução do problema, ou registrem no caderno como construíram sua resolução. Esse levantamento pode ser complementado como registros em áudio e em vídeo (FIORENTINI e LORENZATO, 2009, p Especificamente nesta pesquisa a coleta de dados foi realizada com dois instrumentos: questionário semiestrututado e entrevista não-estruturada, ambos aplicados a alunos de um curso de Pós-Graduação em Educação Matemática de uma universidade de São Paulo, os quais também são professores de escolas da rede pública e privada de São Paulo. A investigação procurou evidenciar a forma como os professores compreendem as expressões dos pontos de vista algébrico e geométrico da função modular por meio de Resolução de Problemas, bem como a influência das TICs e de estratégias a elas ligadas na compreensão e na propositura de métodos mais interativos e experimentais de construção do conhecimento. 3.4 Análise dos dados É controverso este ponto da abordagem metodológica. Gomes (1994, p.68) afirma: Há autores que entendem a análise como descrição dos dados e a interpretação como articulação dessa descrição com conhecimentos mais amplos e que extrapolam os dados específicos da pesquisa. Outros autores compreendem a análise num sentido mais amplo, abrangendo a interpretação. Neste estudo, adotamos o último posicionamento, por entendermos, assim como o autor menciona, que “a análise e a interpretação estão no mesmo movimento: o de olhar atentamente para os dados da pesquisa” (Ibid., p.69). Bogdan e Biklen (1994, pp.205-206) argumentan sobre a mesma abordagem e afirmam que a tarefa analítica consiste no trabalho de “interpretar e tornar compreensíveis os materiais recolhidos [...]. E que a tarefa de análise pode ser concomitante em 90 relação à coleta de dados, sendo esta a abordagem mais frequentemente utilizada pelos pesquisadores qualitativos”. Para Ludke e André (1986) analisar os dados equivale a utilizar o material apreendido no decorrer da investigação por meio das diversas técnicas de coletas eventualmente empregadas. As autoras afirmam que as diversas fases da pesquisa comportam a análise, de modo a encontrar, preliminarmente, “tendências e padrões”, que, mais tarde, são reavaliados, de modo a permitir que se encontre “relações e interferências num nível de abstração mais elevado”. Apesar de ser mais sistemática e formal após a coleta de dados, o trabalho de análise, permeia todo o estudo, o que, em uma abordagem qualitativa, é extremamente importante, já que o objeto, as hipóteses, as categorias não permanecem engessadas, mas submetemse às variações constantes em quaisquer elementos presentes no tecido social em foco. Assim, procedemos nesta investigação, inclusive quanto à formação das categorias de análise, as quais trataremos a seguir. Nossa pesquisa, portanto, tem a abordagem qualitativa de análise, sendo este método chamado por alguns autores de “análise de conteúdo”, considerada como uma técnica de tratamento de dados em pesquisa. A análise de conteúdo surgiu no início do século XX nos Estados Unidos e é concebida, hoje, como uma técnica que tem como principal função descobrir o que está por trás de uma mensagem, de uma comunicação, de uma fala, de um texto, de uma prática (FIORENTINI e LORENZATO, 2009). Segundo Rizzini, Castro e Sartor (1999, p.91): É uma técnica de investigação que tem por objetivo ir além da compreensão imediata e espontânea, ou seja, ela teria como função básica a observação mais atenta dos significados de um texto, e isso pressupõe uma construção de ligações entre as premissas de análise e os elementos que aparecem no texto. Essa atividade é, assim, essencialmente interpretativa. Fiorentini e Lorenzato (2009) argumentam que a análise de conteúdo exige a utilização de critérios claramente definidos sobre registros fornecidos pelas pessoas interrogadas; tais critérios consideram as palavras utilizadas nas respostas, as ideias ou opiniões expressas e as interpretações e justificativas apresentadas. Para tanto, todos os registros devem ser atentamente lidos, vistos e revistos a fim de efetuar-se 91 um levantamento das principais informações neles contidas. Em seguida, elas devem ser organizadas em categorias. Dessa forma, as categorias de análise desta pesquisa estão organizadas em: Compreensão da função modular. Uso do GeoGebra para resolução de problemas no âmbito de situações didáticas. Estratégias pedagógicas com o GeoGebra. Laville e Dionne (1999, p.214) descrevem o princípio da análise de conteúdo: “consiste em desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação”. Para que o processo de análise do conteúdo seja bem-sucedido, Bardin (2011) recomenda que o pesquisador faça reiteradas leituras dos registros escritos (textos), de modo que evidencie os elementos comuns e divergentes subjacentes aos discursos, os quais permitem estabelecer relações e promover compreensões acerca do objeto de estudo. A autora argumenta que análise de conteúdo é a “manipulação de mensagem (conteúdo e expressão desse conteúdo) para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem” (Ibid., p.48). Segundo a autora os procedimentos que o pesquisador deve utilizar no desenvolvimento da investigação são: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados; interferência e interpretação. A primeira fase da análise de contéudo é a pré-análise, que é a fase de organização propriamente dita. Bardin (2011) argumenta que geralmente esta fase possui três missões: a escolha dos documentos, a formulação das hipóteses e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. A autora destaca que: Estes três fatores, não se sucedem, obrigatoriamente, segundo uma ordem cronológica, embora se mantenham estreitamente ligados uns aos outros: A escolha de documentos depende dos objetivos, ou inversamente, o objetivo só é possível em função de documentos disponíveis; os indicadores serão construídos em função das hipóteses, ou, pelo contrário, as hipóteses serão 92 criadas na presença de certos índices. A pré-análise é a fase de organização propriamente dita. Corresponde a um período de intuições, mas, tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise (BARDIN, 2011, p.121). A segunda fase da análise de conteúdo é a exploração do material e o tratamento dos resultados. A autora argumenta que: Se as diferenças operacionais da pré-análise foram convenientemente concluídas, a fase de análise propriamente dita não é mais do que a administração sistemática das decisões tomadas. Quer se trate de procedimentos aplicados manualmente ou de operações efetuadas pelo ordenador, o decorrer do programa completa-se mecanicamente, esta fase longa e fastidiosa, consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração em função de regras previamente formuladas. [...] a exploração do material é a etapa em que se realiza a codificação das informações e sua organização. No tratamento dos resultados ocorre a síntese e a seleção dos resultados para confronto com o referencial teórico, síntese e interpretações (Ibid., p.128). A terceira fase da análise de contéudo é a interferência e interpretação. A autora comenta que nesta fase: O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas. [...] por outro lado, os resultados obtidos, a confrontação sistemática com o material e o tipo de inferências alcançadas, podem servir de base a uma outra análise disposta em torno de novas dimensões teóricas ou praticada graças a técnicas diferentes (Ibidem). 3.5 Plano de análise da pesquisa Bardin (2011) afirma que a primeira fase da análise de conteúdo não é preciso acontecer segundo uma ordem cronológica, porém, em nossa pesquisa descreveremos a seguir, as etapas desenvolvidas para o plano de análise após a escolha do tema. Levantamento no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) das pesquisas de mestrado e doutorado correlatas aos assuntos: função modular, resolução de problemas e tecnologia de informação e comunicação. 93 Destacamos as pesquisas de Júnior (2008), Botta (2010), Santos (2010) e Silva (2011). Posteriormente, escolhemos o referencial teórico: Polya (2006) e delimitamos os aportes teóricos: Borba (2004), Borba e Penteado (2007), Braga (2006), Brousseau (2008), Caraça (2005), Eves (2011), Friedlander e Hadas (1995), Lima (2009), Oliveira (2007, 2008, 2009a,b), Onuchic (1999), Onuchic e Allevato (2004), Pires (2009), Pozo e Echeverría (1998), Stanic e Kilpatrick (1990), Stewart (2009), Van de Walle (2001), Vila e Callejo (2006). E também os aportes metodológicos: Appolinário (2009), Bardin (2011), Bogdan e Biklen (1994), Borba (2004), Demo (2000), Fiorentini e Lorenzato (2009), Godoy (1995), Gomes (1994), Laville e Dionne (1999), Ludke e André (1986), Martins (1999) e Oliveira (2007). Abordamos também os documentos oficiais brasileiros: Guias Curriculares para o Ensino de Matemática Primeiro Grau (SÃO PAULO, 1976), Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998), Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999, 2002), Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006). Para analisarmos as respostas dos sujeitos da pesquisa junto às categorias organizadas, fizemos uma pré-análise a partir de um piloto composto por um questionário semiestruturado e uma entrevista nãoestruturada, tendo por objetivo o levantamento das concepções e dos perfis dos professores sobre o uso de tecnologias, diferenças entre exercício e problema matemático e o próprio perfil profissiográfico dos docentes. Quanto à segunda fase da análise de conteúdo, que se refere a exploração do material e o tratamento dos resultados, a análise interpretativa da questão de 94 pesquisa a partir das categorias, motivado pelo instrumento, abordamos duas situações- problema com função modular para analisarmos as vantagens com o uso do software GeoGebra a partir da teoria das situações didáticas e das etapas de resolução de problemas apresentadas por Polya. A terceira fase da análise de conteúdo, descrevemos, interpretamos, conjecturamos, concluímos e generalizamos os dados coletados, tendo em vista os objetivos previstos junto ao tema da pesquisa. Com base na proposta de Bardin (2011), quanto ao método de pesquisa “análise de conteúdo”, nos próximos itens descrevemos os sujeitos investigados, os instrumentos aplicados e as respectivas análises dos dados coletados. 3.6 Descrição dos sujeitos da pesquisa Para a escolha dos sujeitos da pesquisa estabelecemos os seguintes critérios: Os professores investigados deveriam lecionar no Ensino Médio, em escola da rede pública ou privada, porque apenas neste grau da Educação Básica é visto o tema função modular. Escolhemos professores que também são discentes de um curso de PósGraduação em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. A seleção dos sujeitos foi conforme o interesse pessoal e a disponibilidade de cada um quanto ao dia e hora para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados das atividades A, B, C e D. A seguir faremos uma breve explicação cronológica da aplicação dos instrumentos da pesquisa. 95 Conversamos aleatóriamente com 18 mestrandos e 5 doutorandos, desses, 12 são professores do Ensino Médio, sendo que apenas 4 aceitaram fazer parte da nossa pesquisa: 1 doutorando e 3 mestrandos. Por termos agendado a aplicação dos instrumentos no mês de julho de 2012, os outros 8 sujeitos justificaram não terem disponibidades nas férias e nem em outro momento, por motivos pessoais e por estarem também envolvidos com as suas pesquisas. Antes do dia marcado para a aplicação dos instrumentos, conversamos e explicamos individualmente aos sujeitos voluntários o objetivo da nossa pesquisa e pedimos que cada um levasse o conversa, seu notebook. Nessa os professores disseram ter conhecimento do software GeoGebra e também terem o software instalado em seus computadores, isto fez com que não utilizássemos o laboratório de informática da universidade. Os instrumentos foram aplicados na biblioteca da universidade em dois dias com o tempo estimado de 3 horas no primeiro dia e de 4 horas no segundo dia. No primeiro dia aplicamos as atividades A (levantamento de dados quanto ao perfil profissional), B (levantamento de dados quanto ao conhecimento e a familiarização do docente com os softwares matemáticos e o software GeoGebra), C (concepções dos docentes quanto a exercícios e problemas matemáticos e as expressões de algumas funções modulares do ponto de vista algébrico e geométrico). No segundo dia aplicamos a atividade D (duas situações-problema envolvendo função modular para serem expressas do ponto de vista algébrico e geométrico). 96 Pedimos aos sujeitos que utilizassem o software GeoGebra para expressar geometricamente os exercícios e os problemas com função modular. Tais resultados foram salvos no pen drive da pesquisadora. Em ambos os encontros durante o procedimento não houve comunicação tanto entre os sujeitos como entre a pesquisadora e esses. O segundo instrumento da pesquisa foi entrevista não-estruturada, gravada em um aparelho MP4, com o objetivo de complementar as respostas dadas que entendemos ser insuficientes nas comunicações escritas. Tais intervenções ocorreram após a aplicação do questionário. Por termos como objetivo de análise os protocolos recolhidos, as gravações e as observações feitas durante as aplicações, segue a descrição das respostas dadas pelos professores do Ensino Médio nos instrumentos. Adotamos como critério que os sujeitos pesquisados seriam citados como professores e não como alunos da Pós-Graduação em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. Portanto, nomeamos cada um deles por professor A, B, C e D. 3.7 Descrição dos instrumentos da pesquisa A pesquisa abrangeu dois instrumentos: questionário semiestruturado e entrevista não-estruturada. O primeiro instrumento da pesquisa foi a aplicação de um questionário semiestruturado dividido em quatro atividades (A, B, C e D) com os seguintes objetivos: 1º) A atividade A abrangeu sete perguntas fechadas e uma pergunta aberta. O objetivo foi conhecer o perfil profissional dos sujeitos por meio dos seguintes itens: as titularizações em graduação e especialização, o tempo de profissão, experiências anteriores em quais níveis de ensino, experiências atuais em quais níveis de 97 ensino, as séries que leciona atualmente, a escola que leciona (pública ou privada) e a sua localização, as disciplinas lecionadas e a formação continuada da PósGraduação. 2º) A atividade B foi composta por três perguntas fechadas, elaboradas por categorias e objetivando o conhecimento e a familiarização do docente com os softwares matemáticos e também com o software GeoGebra. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula. O conhecimento do software GeoGebra. A utilização do software GeoGebra nas práticas docentes. Para complementar o assunto sobre tecnologias, propusemos mais duas perguntas abertas, objetivando identificar as contribuições de softwares matemáticos, em específico o software GeoGebra. Entendemos ser importante justificar a escolha das funções modulares descritas adiante: Antes de decidirmos qual seria o objeto matemático investigado, conversamos informalmente com colegas professores do Ensino Médio e esses relataram que os seus alunos tem dificuldades em expressar algumas funções modulares algébrica e geometricamente tais como: f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a. Assim, decidimos analisar como o professor, sujeito da pesquisa, compreende tais expressões. No primeiro momento, não optamos por situações-problema com função modular para assim analisarmos quais as concepção de problema e exercício matemático para os sujeitos investigados. Queremos analisar se esses sujeitos entendem problema matemático como uma situaçãoproblema ou não. 98 As funções modulares propostas no questionário foram retiradas da obra de Stewart (2009). 3º) A atividade C continha três perguntas abertas. A primeira pergunta teve por objetivo verificar se para o docente do Ensino Médio, sujeito da investigação, há diferenças ou não entre exercícios e problemas matemáticos. A segunda pergunta teve por objetivo complementar a pergunta anterior, sendo que o sujeito deveria classificar em exercício ou problema matemático cada questão envolvendo as funções modulares: f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a. A terceira pergunta teve por objetivo analisar as expressões do ponto de vista algébrico e geométrico dessas funções modulares descritas pelos sujeitos. 4º) A atividade D objetivou a utilização do software GeoGebra como estratégia pedagógica para a expressão do ponto de vista algébrico e geométrico de duas situações-problema, bem como analisar, segundo os sujeitos da pesquisa, as contribuições do software GeoGebra para o ensino da função modular, para o docente e para o processo didático. Tais questões foram divididas em: 1) a) Há dois fios pendurados no teto de uma sala a certa distância um do outro. Segurando um deles com a mão, não se consegue alcançar o outro com a outra mão. Como amarrar as extremidades dos dois fios? 12 Com os conceitos de módulo e função modular, expresse o problema algébrica e geometricamente. Utilize o software GeoGebra. 12 Adaptado da obra: BROLEZZI, A.C. Problemas e criatividade: uma breve introdução. São Paulo: Factash, 2008. 99 b) Classifique a questão acima em exercício ou problema matemático. 2) a) Quatro pessoas chegam a um rio no meio da noite. Há uma ponte estreita, mas ela só pode aguentar duas pessoas ao mesmo tempo. Porque é noite, a tocha deve ser usada para atravessar a ponte. A pessoa A pode atravessar a ponte em um minuto, a B em 2 minutos, a C em 5 minutos, e a D em 8 minutos. Quando duas pessoas atravessam a ponte juntos, devem se mover no ritmo da pessoa mais lenta. A questão é: todos poderão atravessar a ponte em 15 minutos ou menos?13 Com os conceitos de módulo e função modular, expresse o problema algébrica e geometricamente. Utilize o software GeoGebra. b) Classifique a questão acima em exercício ou problema matemático. 3) Descrever as contribuições do software GeoGebra para o ensino da função modular. 4) Descrever as contribuições do software GeoGebra para o docente e o processo didático. 3.8 Descrição dos sujeitos da pesquisa Descreveremos a seguir, a atividade A do questionário, que diz respeito ao perfil profissional de cada sujeito. O professor A tem entre 15 anos a 20 anos de profissão na área docente nos níveis de ensino Fundamental, Médio e Superior em escolas da rede pública e privada do Estado de São Paulo. Leciona a disciplina de Matemática para os primeiros, segundos e terceiros anos do Ensino Médio e a disciplina de Cálculo para o curso de Engenharia Civil no ensino Superior, ambas as escolas da rede privada em São Paulo. Em 1994 cursou Licenciatura Plena em Matemática e em 2005 13 Adaptado de: GRIBAKIN, G. Some simple and not so simple maths problems. Disponível em: www.am.qub.ac.uk/users/...gribakin/problem.ht. 100 concluiu o mestrado em Ciências Matemática. Atualmente é aluno doutorando em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. O professor B tem entre 15 anos a 20 anos de profissão na área docente nos níveis de ensino Fundamental e Médio em escolas da rede pública e privada do Estado de São Paulo. Leciona as disciplinas de Matemática e Física para os primeiros, segundos e terceiros anos do Ensino Médio na rede pública e privada, ambas no Grande ABCDM - São Paulo. Em 1993 cursou Licenciatura Plena em Matemática e em 2004 uma especialização Latu Sensu em Ensino e Aprendizagem de Matemática. Atualmente é aluno mestrando em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. O professor C tem entre 15 anos a 20 anos de profissão na área docente nos níveis de ensino Fundamental e Médio em escolas da rede pública estadual e municipal de São Paulo. Leciona a disciplina de Matemática para os segundos anos do Ensino Médio em uma escola da rede pública no Grande ABCDM - São Paulo. Em 1995 cursou Licenciatura Plena em Matemática e em 2006 uma especialização Latu Sensu em Educação Matemática. Atualmente é aluno mestrando em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. O professor D tem mais de 20 anos de experiência na docência nos níveis de ensino Fundamental e Médio em escolas da rede pública e particulares do Estado de São Paulo. Leciona a disciplina de Matemática para os primeiros e segundos anos do Ensino Médio em uma escola da rede pública em São Paulo. Sua primeira formação na graduação foi em 1995 em Licenciatura Plena em Matemática, a segunda formação no ano de 2000 em Pedagogia. Atualmente é aluno mestrando em Educação Matemática de uma universidade do Estado de São Paulo. 101 CAPÍTULO IV “Erros são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que ela não é”. CARL JUNG Descrição e Análise dos dados O objetivo deste capítulo é descrever e analisar os dados coletados do questionário aplicado, bem como as entrevistas e as observações no decorrer da experimentação. 4.1 Organização das análises dos dados coletados Segundo Bardin (2011) na primeira fase da análise de conteúdo, as ideias devem ser organizadas e sistematizadas, conduzindo assim, um esquema do desenvolvimento das operações. Desta forma, para as análises dos dados coletados organizamos o questionário aplicado da seguinte forma: Concepções dos professores sobre exercícios e problemas matemáticos. Expressão do ponto de vista algébrico de exercícios e situações-problema com função modular. Familiarização dos professores com os softwares matemáticos. Expressão do ponto de vista geométrico de exercícios e situações-problema com função modular utilizando o software GeoGebra. Estratégias pedagógicas com o software GeoGebra e suas contribuições ao ensino de função modular, à docência e ao processo didático. 102 Apresentaremos a seguir a análise dos dados coletados, selecionados, codificados e organizados dos sujeitos participantes da investigação, segundo o referencial e os aportes teóricos. Vale à pena lembrar que o objetivo não será analisar os erros ou os acertos das descrições dos sujeitos da pesquisa, e sim, fazer análises de acordo com as seguintes categorias: Compreensão da função modular. Uso do GeoGebra para resolução de problemas no âmbito de situações didáticas. Estratégias pedagógicas com o GeoGebra. 4.2 Concepções dos professores A, B, C e D sobre exercícios e problemas matemáticos Por terem similaridades às respostas dos professores A, B, C e D na primeira pergunta da atividade C, optamos em “organizá-las de acordo com a codificação dos dados em relação a um tema, uma palavra ou uma frase” (BARDIN, 2011, p.127). 1) Existe diferença entre exercícios e problemas matemáticos? Justifique. Sim. Exercício matemático é algo prático, rápido, resolução imediata e segue-se um modelo, já um problema matemático precisa pensar mais para responder, ter mais argumentações, ter pré-requisitos, a resposta não é imediata (PROFESSOR A). Sim. Exercício matemático é somente aplicação de algum conteúdo visto. Não apresenta desafio para o aluno. Problema matemático é uma situação desafiadora. O aluno dependerá de algumas relações anteriores e seu conhecimento de mundo para determinar a solução (PROFESSOR B). Sim. Exercício é uma atividade onde são utilizados alguns conhecimentos matemáticos. Problemas são situações que apresentam desafios e exige envolvimento e metodologia para resolver (PROFESSOR C). Sim. O exercício é apenas prática do que se aprende e o problema exige pensamento e provas de conjecturas e até demonstrações (PROFESSOR D). Analisamos que os professores A, B, C e D tem clareza sobre a diferença entre exercício e problema matemático, suas respostas condizem com a ideia de Onuchic 103 (1999, p.215) ao afirmar que problema é “tudo aquilo que não se sabe fazer, mas que se está interessado em resolver”. Tais respostas: “problema não tem uma resposta imediata é preciso pensar mais, ter mais argumentações”(PROFESSOR A), “problema é uma situação desafiadora” (PROFESSOR B), “problema exige envolvimento e metodologia” (PROFESSOR C), “problema exige provas de conjecturas e até demonstrações” (PROFESSOR D) estão inseridas na mesma definição de problema para a autora “ é tudo que não se sabe fazer”,ou seja,revela interesse em buscar uma resposta, “interessado em resolver”. Conforme os relatos dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental “a solução não está disponível de início, mas é possível construí-la” (BRASIL, 1998, p.82). Os sujeitos, ao afirmarem que para resolver um problema matemático “precisa pensar mais para responder” (PROFESSOR A), “o aluno dependerá de algumas relações anteriores e seu conhecimento de mundo para determinar a solução” (PROFESSOR B), “apresentam desafios e exige envolvimento” (PROFESSOR C), “exige pensamento” (PROFESSOR D), estabelecem similaridades com Vila e Callejo (2006) quando comentam que o aluno, para resolver um problema, deve estabelecer relações e envolver suas emoções para enfrentar uma situação nova. Estas “relações anteriores” e o “conhecimento de mundo”, os “envolvimentos e os pensamentos”, citados pelos professores, podem ser as “relações e as emoções” que o aluno necessite buscar para a resolução de um problema. As mesmas citações podem estar inseridas na afirmação de Brousseau (2008, p.19): “problema matemático faz o sujeito agir, falar, refletir e evoluir [...]”. As respostas dos sujeitos codificam-se em frases semelhantes ao descreverem que para a resolução de exercícios matemáticos seguem-se “modelos já feitos anteriormente” (PROFESSOR A), “algum conteúdo já resolvido antes” (PROFESSOR B), “uma atividade onde são utilizados alguns conhecimentos matemáticos” (PROFESSOR C), é prática do que se aprende (PROFESSOR D). Podemos inferir que, para os professores, resolver exercícios matemáticos é o mesmo que “realizar tarefas em contextos definidos e fechados, atividades mecânicas” (POZO; ECHEVERRÍA,1998, p.160). 104 4.2.1 Concepções dos professores A e D sobre exercícios e problemas matemáticos Quanto à segunda questão da atividade C, as respostas dos professores A e D apresentam similaridades na classificação das funções modulares f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a em exercício ou problema matemático. f(x)=|x| é exercício matemático; f(x)=|x+a| é exercício matemático; f(x)=|x|+a é exercício matemático (PROFESSOR A). f(x)=|x| exercício matemático; f(x)=|x+a| exercício matemático; f(x)=|x|+a exercício matemático (PROFESSOR D). Os professores A e D classificam as funções modulares f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a em exercícios matemáticos, ou seja, compreendem o conteúdo em questão e conhecem os algoritmos necessários para uma resposta imediata, segundo Souza e Bianchini (2012a,b,c). Os sujeitos A e D entendem que tais funções modulares são exercícios matemáticos, por serem questões fechadas. 4.2.2 Concepções dos professores B e C sobre exercícios e problemas matemáticos Ainda em relação à segunda questão da atividade C, as respostas dos professores B e C também apresentam similaridades. f(x)=|x| exercício matemático; f(x)=|x+a| problema matemático; f(x)=|x|+a problema matemático (PROFESSOR B). f(x)=|x| problema matemático; f(x)=|x+a| problema matemático; f(x)=|x|+a problema matemático (PROFESSOR C). O professor B classifica apenas a função modular f(x)=|x| como exercício matemático, conforme ele mesmo explica na pergunta 1 da mesma atividade C, “é somente aplicação de algum conteúdo visto”, neste caso, refere-se ao conteúdo de módulo. As funções f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a são classificadas como problemas matemáticos, ou seja, uma “situação desafiadora”, definição sobre problemas dada pelo próprio na pergunta 1 da atividade C. Descreve ainda que para a resolução de um problema matemático “o aluno depende de algumas relações anteriores”. Por 105 meio da entrevista pedimos ao sujeito B que relatasse por que as funções modulares são problemas matemáticos na sua concepção. Na segunda e terceira função modular entendo que a expressão é “a unidades”, portanto, são necessárias outras argumentações para o seu desenvolvimento, como por exemplo, deslocamento da unidade a na vertical ou horizontal referente à função f(x)=|x|. Por este motivo penso que podem ser classificadas como problemas matemáticos (PROFESSOR B). Desta forma, para o professor B, as funções modulares f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a são “situações desafiadoras” envolvem “argumentações sobre deslocamento da unidade a na vertical ou na horizontal referente à função f(x)=|x|”, ou seja, tal afirmação classifica as funções em “problemas matemáticos” para esse sujeito. A atividade C contém perguntas sobre as concepções tanto de exercícios quanto de problemas matemáticos com função modular, desta forma, o professor B classifica ambas as opções (exercício e problema), justificando ainda sua interpretação quanto à unidade a relativa à função f(x)=|x|. Esta descrição indica que o professor evita incorrer em um efeito do contrato didático14 (o Topázio), previsto por Brousseau (2008), por meio dos quais, o professor não pode dizer explicitamente, e de antemão, o que o aluno deverá fazer diante de uma questão matemática, sem tirar-lhe, ao fazê-lo, a possibilidade de manifestar ou adquirir o conhecimento correspondente. Já o professor C classifica as três funções modulares como problemas matemáticos. As funções apresentam “desafios e exigem envolvimento e metodologia”, conforme suas concepções descritas na pergunta 1 da mesma atividade C. Na entrevista o sujeito C justifica o porquê da classificação em problemas matemáticos as funções modulares: Problemas matemáticos são desafios no sentido de serem mais difíceis de resolver, portanto exige maior dedicação, investigação, tomada de decisão, ou seja, maior envolvimento com métodos de resolução. Nas três funções modulares, depende de quem vai resolver, pode ser um problema para quem não tem conhecimento do assunto e tem que fazer demonstrações e validar a questão. Se o indivíduo já conhece função modular, pode ser 14 “Conjunto de comportamentos específicos do professor esperado pelos alunos, e o conjunto de comportamentos dos alunos esperado pelo professor. O professor e o aluno imaginam o que o outro espera dele e o que cada um pensa do que o outro pensa... e essa ideia cria as possibilidades de intervenção, de devolução da parte adidática das situações e de institucionalização” (BROUSSEAU, 2008, p.74). 106 apenas um exercício, pois vai utilizar demonstrações e definições já feitas (PROFESSOR C). Entendemos que a argumentação do professor C também está inserida no “efeito do contrato didático” (BROUSSEAU, 2008) e, da mesma forma que o professor B, teve a necessidade de dar uma resposta à pesquisadora, classificando as três funções modulares como “problemas”. Desta forma, podemos concluir neste item que as concepções dos professores A, B, C e D sobre os conceitos de exercícios e problemas matemáticos possuem similaridades em relação aos conceitos do tema investigado (exercícios e problemas). No entanto, para os professores B e C não há associação entre as suas respostas sobre os conceitos de exercícios e problemas matemáticos e as classificações dos exercícios com funções modulares contidas na atividade C. 4.3 Concepções dos professores A, B, C e D sobre as situações-problema Quanto à letra b das situações-problema da atividade D, as repostas dos professores A, B, C e D apresentam similaridades na classificação das questões em exercícios ou problemas. Situação- problema 1: Problema matemático (PROFESSOR A) Problema matemático (PROFESSOR B) Problema matemático (PROFESSOR C) Problema matemático (PROFESSOR D) Situação-problema 2: Problema matemático (PROFESSOR A) Problema matemático (PROFESSOR B) Problema matemático (PROFESSOR C) Problema matemático (PROFESSOR D) Nesta atividade D os professores A, B, C e D classificam ambas as questões como problema matemático. Perguntamos a todos na entrevista qual a justificativa 107 desta classificação e com frases semelhantes argumentaram: “preciso pensar muito para resolvê-los” (PROFESSOR A), “tenho que encontrar estratégias matemáticas para a solução dos dois” (PROFESSOR B), “não tenho nem ideia de respostas” (PROFESSOR C), “não sei nem se consigo resolver, aparentemente são difíceis” (PROFESSOR D). Tais justificativas corroboram com a afirmação dos autores Vila e Callejo (2006) quanto à problema quando descrevem que a solução não é imediata ao resolvedor porque não dispõe de um algoritmo que relaciona os dados e a variável com a conclusão. 4.4 Compreensão da Função Modular Neste item abordaremos a terceira questão da atividade C e as situaçõesproblema da atividade D. Entendemos ser relevante apresentarmos possíveis soluções das situações-problema. 3) Expresse algebricamente as funções modulares: f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a. x para x ≥ 0 f(x) = |x| = -x para x<0 x+a ≥ 0 então x≥ -a f(x)=|x+a| = -x+a < 0 então x<-a x+a se x≥ 0 f(x)=|x+a| = -x+a se x< 0 108 Situação-problema 1: Há dois fios pendurados no teto de uma sala a certa distância um do outro. Segurando um deles com a mão, não se consegue alcançar o outro com a outra mão. Como amarrar as extremidades dos dois fios? Com os conceitos de módulo e função modular, expresse algebricamente a questão15. Solução algébrica Hipóteses do problema: a) O problema não informa a distância entre os dois fios e nem os seus comprimentos. Supomos que são do mesmo tamanho. b) Um dos fios não se alcança com uma das mãos, então supomos que é necessário algum objeto que complete esta distância que falta, por exemplo, um alicate. c) Expressaremos a distância em módulo. Consideremos |x|: a distância do 1º fio até uma das mãos. |x+a|: a distância do objeto que está na outra mão até o 2º fio. Com a ϵ IR*. Portanto teremos: f(x)= |x|+|x+a| Solução geométrica Utilizando o software GeoGebra visualizamos a resolução da situaçãoproblema 1. 15 Lembrando que a questão foi adaptada da obra: BROLEZZI, A.C. Problemas e criatividade: uma breve introdução. São Paulo: Factash, 2008. 109 Figura 2: Apresentação de um esquema da situação-problema 1 no GeoGebra Fonte: Elaborado pela autora Situação-problema 2: Quatro pessoas chegam a um rio no meio da noite. Há uma ponte estreita, mas ela só pode aguentar duas pessoas ao mesmo tempo. Porque é noite, a tocha deve ser usada para atravessar a ponte. A pessoa A pode atravessar a ponte em um minuto, a B em 2 minutos, a C em 5 minutos, e a D em 8 minutos. Quando duas pessoas atravessam a ponte juntos, devem se mover no ritmo da pessoa mais lenta. A questão é: todos poderão atravessar a ponte em 15 minutos ou menos? Com os conceitos de módulo e função modular, expresse algebricamente e geometricamente a questão. Utilize o software GeoGebra16. Solução algébrica Hipóteses do problema a) Na ponte só passam no máximo duas pessoas ao mesmo tempo e uma delas deve estar com a tocha. 16 Este problema foi adaptado de: GRIBAKIN, G. Some simple and not so simple maths problems. Disponível em: www.am.qub.ac.uk/users/...gribakin/problem.ht. 110 b) A travessia deve ser no tempo da pessoa mais lenta. c) Consideramos o sentido da ida como valor positivo e o da volta como valor negativo. Devido não existir tempo negativo indicaremos por módulo a distância do retorno. d) A pessoa A atravessa em 1 minuto, a B em 2 minutos, a C em 5 minutos e a D em 8 minutos. e) Retornará com a tocha a pessoa mais rápida. Sugerimos o esquema abaixo: Quadro 8: Apresentação de um esquema da situação-problema 2 Estão no início da Ponte A, B,C e D Saem juntos A e B Ficaram C e D Chega A Travessia do tempo de B que é o mais lento: 2 minutos Travessia de volta é de 1 minuto Chegam A e B Fica A Saem juntos C e D Ficou A Chega B Travessia do tempo de D que é o mais lento: 8 minutos Travessia de volta é de 2 minutos Agora estão B, C e D Saem juntos A e B Travessia do tempo de B que é o mais lento: 2 minutos Ficaram C e D Chegaram A e B Fica B Retorna A Ficam C e D Retorna B Fonte: Elaborado pela autora Portanto: x = 2+|-1|+8+|-2|+2 x = 15 Resposta: 15 minutos Solução geométrica Utilizando o software GeoGebra podemos expressar o problema por meio de segmento com comprimento fixo. 111 Figura 3: Apresentação de um esquema da situação-problema 2 no GeoGebra Fonte: Elaborado pela autora 112 4.4.1 Resolução apresentada pelo professor A Quadro 9: Exercícios de Funções Modulares pelo professor A Protocolo do professor A - atividade C O professor A mostra no desenvolvimento dos exercícios de funções modulares que compreende as definições de módulo e função modular expressando-as algebricamente. 113 Quadro 10: Resolução da situação-problema 1 algebricamente pelo professor A Protocolo do professor A- atividade D O professor A inicia a solução da situação-problema 1 conjecturando a ideia de distância com o significado de módulo e depois considera duas hipóteses e as expressa de forma algébrica. Entendemos que o sujeito possui compreensão dos conceitos de módulo e de função modular, conforme associa Lima (2009) a aplicação do conceito de módulo com distância. Sua observação quanto à necessidade de algum objeto entre a distância da mão esquerda até o fio B, mostra uma visualização detalhada no entendimento do problema. Tal solução corrobora os apontamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998) quando afirmam que a resolução de problemas é uma orientação para a aprendizagem que proporciona o contexto para se apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas. 114 Quadro 11: Resolução da situação-problema 2 algebricamente pelo professor A Protocolo do professor A – atividade D O professor A inicia a solução da situação-problema 2 conjecturando os dados da questão com os conceitos de módulo, definindo, claramente, que módulo significa distância (STEWART, 2009). O sujeito adota suas próprias decisões sobre a expressão algébrica do problema e segundo afirmam Pozo e Echeverría (1998) reflete tendo autonomia crescente neste processo de tomada de decisões. 115 4.4.2 Resolução apresentada pelo professor B Quadro 12: Exercícios sobre Funções Modulares pelo professor B Protocolo do professor B – atividade C 116 O professor B possui compreensão quanto à definição de função modular, a qual decorre diretamente do conceito de módulo, ou seja, é definida por y=|x| ou f(x)=|x| e que em certas funções é necessário o uso de duas ou mais sentenças (STEWART, 2009). Em cada função modular, o sujeito B descreve e mostra conexões quanto às condições que satisfazem as variáveis. Quadro 13: Resolução da situação-problema 1 algebricamente pelo professor A Protocolo do professor B – atividade D A descrição do professor B não é esclarecedora quanto à sua compreensão dos conceitos de módulo e função modular expressos algebricamente na questão. Perguntamos na entrevista ao sujeito B porque solucionou apenas geometricamente a situação-problema 1. Respondeu que “a resolução geométrica era suficiente para compreensão do problema”. Não significa que o professor não compreenda o problema, ou não saiba expressá-lo algebricamente, pois mostra no quadro anterior, referente a atividade C, um conhecimento satisfatório quanto aos conceitos e definições de módulo e função modular. Segundo Vila e Callejo (2006) talvez não dispunha no momento de um algoritmo que relacionasse os dados, as variáveis e a conclusão, desta forma, não conseguiu estabelecer relações. 117 Quadro 14: Resolução da situação-problema 2 algebricamente pelo professor B Protocolo do professor B – atividade D Na situação-problema 2, o professor B compreende as informações da questão e consegue dispor de um algoritmo que relaciona os dados, a variável e a conclusão, conforme afirmam Vila e Callejo (2006). Mostra também entender o significado de módulo enquanto distância (LIMA, 2009) e expressa o problema algebricamente a partir de hipóteses descritas no enunciado. 118 4.4.3 Resolução apresentada pelo professor C Quadro 15: Exercícios de Funções Modulares pelo professor C Protocolo do professor C – atividade C O professor C mostra nos exercícios de funções modulares que compreende, segundo Stewart (2009) a notação de módulo e suas propriedades, bem como a definição de função modular e a sua expressão algébrica. 119 Quadro 16: Resolução das situações-problema 1 e 2 algebricamente - professor C Protocolo do professor C – atividade D Com a afirmação do professor C, registrada no protocolo, não podemos analisar sua compreensão quanto aos conceitos de módulo e função modular referentes às expressões algébricas das situações-problema 1 e 2. Perguntamos na entrevista por que não solucionou algebricamente as questões, e ele respondeu: “não tenho nem ideia por onde começar nenhum desses problemas”. 120 4.4.4 Resolução apresentada pelo professor D Quadro 17: Exercícios sobre Funções Modulares pelo professor D Protocolo do professor D – atividade C O professor D mostra não ter compreensão total da definição de módulo e de função modular, não apresenta a definição por duas setenças, ou seja, y=|x| ou f(x)=|x| descrevendo que f(x)=|x|= x para x≥0 e –x para x<0. 121 Quadro 18: Resolução das situações-problema 1 e 2 algebricamente – professor D Protocolo do professor D – atividade D O professor D não expressa algebricamente as situações-problema 1 e 2, conforme registrado no protocolo, desta forma, não podemos analisar sua compreensão quanto à definição de módulo e função modular. 122 Desta forma, podemos concluir neste item que os professores A e B mostram em suas expressões algébricas de exercícios e situações-problema com função modular que compreendem o conceito de módulo e função modular. Nas respostas do professor C é possível analisar sua compreensão sobre conceito de módulo e função modular apenas nos exercícios da atividade C. O professor D mostra no exercício da atividade C que compreende parcialmente o conceito de módulo e função modular e nas situações-problema, por não apresentar soluções algébricas não podemos analisar sua compreensão sobre o tema. Vale à pena destacar que: O professor A apresenta soluções algébricas para os exercícios com função modular e para as duas situações-problema. O professor B também apresenta solução algébrica para os exercícios com função modular e para a situação-problema 2. Os professores C e D apresentam soluções algébricas para os exercícios com função modular e não apresentam nenhuma solução para as duas situaçõesproblema. 4.5 Uso do GeoGebra para resolução de problemas no âmbito de situações didáticas Apresentaremos para cada sujeito da pesquisa: a) As respostas da atividade B quanto à familiarização com softwares matemáticos, especificamente, o GeoGebra. b) As respostas da atividade C sobre a expressão do ponto de vista geométrico das funções modulares f(x)=|x|; f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a com o software GeoGebra. c) As respostas da atividade D que contêm as situações-problema 1 e 2 no GeoGebra. 123 4.5.1 O uso do GeoGebra - professor A Quadro 19: Respostas da atividade B pelo professor A 1. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula. Nunca utilizou. 2. Caso tenha dificuldades, especifique se são com todos os recursos tecnológicos ou apenas com softwares matemáticos. Justifique a sua resposta. Não tenho segurança nas ferramentas dos softwares. 3. Conhece o software GeoGebra? Sim. 4. Utiliza o software GeoGebra em suas práticas docentes? Nunca utilizou. 5. Caso tenha dificuldades com o software GeoGebra, especifique quais são. Também tenho difculdades com algumas ferramentas. Fonte: Professor A 124 Figura 4: Gráfico de f, dada por f(x)=|x+a| no GeoGebra pelo professor A Protocolo do professor A – atividade C Figura 5: Gráfico de f, dada por f(x)=|x|+a no GeoGebra pelo professor A Protocolo do professor A – atividade C 125 O professor A não tem contato usual com softwares matemáticos e nem mesmo com o GeoGebra, nunca utilizou nenhum desses em suas aulas, por falta de habilidades com as ferramentas. Afirmam Borba e Penteado (2007) que esta dificuldade de manuseio coloca o sujeito numa “zona de conforto”, deixando, então, de aprender e assumir uma nova prática na docência com as tecnologias. O sujeito A registra com caneta esferográfica no papel informações sobre as funções modulares: a unidade a representa um deslocamento horizontal ou vertical em relação à função de origem. Expressa geometricamente as funções no software GeoGebra, conforme apresentadas no protocolo. Segundo Frota e Borges (2004), o professor enquadra-se na categoria de consumidor de tecnologias para automatização das tarefas, ou seja, usa a tecnologia, no caso o software GeoGebra, apenas como um recurso para promover a concepção didática já obtida sobre função modular, desta forma, automatiza os cálculos e algoritmos das funções permancendo na mesma dimensão didática. Figura 6: Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor A Protocolo do professor A – atividade D O professor A compreende o problema e a atenção dada ao enunciado estimula a sua memória a ponto de recordar algo relevante (POLYA, 2006), ou seja, 126 quando descreve que os pontos A e B representam certa distância entre os fios, está dando indícios das primeiras ideias do conceito de módulo. Para Brousseau (2008) o sujeito A expressa a solução da situação-problema 1, estabelecendo as trocas e buscas de informações dos seus conhecimentos matemáticos com o milieu, no caso o GeoGebra, trazendo uma validação geométrica da função modular. Com o uso do software GeoGebra e a validação da situação-problema 1, o professor A, segundo Frota e Borges (2004) matematizou a tecnologia e também a matemática foi incorporada aos objetivos tecnológicos. Neste aspecto, afirma Oliveira (2009b) que o sujeito A domina o recurso tecnológico, incorpora ao conhecimento que possui, mostrando-se apto para transformar suas limitações da tecnologia para a capacidade de criação, o que indica que consegue avançar do nível de consumidor tecnológico para a incorporação da tecnologia na prática. Figura 7: Resolução da situação-problema 2 no GeoGebra pelo professor A Protocolo do professor A – atividade D De acordo com Polya (2006) o professor A possui clareza, compreensão e familiarização com o enunciado da situação-problema 2, focalizando a atenção no objetivo do problema e em meios para a solução, de modo que registra as setas na 127 figura justificando ser as idas e voltas das pessoas atravessando a ponte, ou seja, relaciona a distância ao conceito de módulo. Segundo Brousseau (2008) o sujeito A chega ao resultado por caminhos diferentes quando busca informações no milieu, neste caso o GeoGebra, e assim, torna-se o ator principal no processo de construção do conhecimento proposto no problema. O professor A chega a uma interpretação da situação-problema 2, ampliando os seus conhecimentos sobre módulo e função modular. Para Frota e Borges (2004) o sujeito A está caracterizado na incorporação tecnológica, ou seja, a tecnologia é tomada como ferramenta e instrumento cognitivo. Para Oliveira (2009b) o sujeito desenvolve a fluência na manipulação da interface e explora os elementos matemáticos envolvidos no problema, o que pode lhe permitir incorporar as tecnologias digitais e sua prática. 4.5.2 O uso do GeoGebra - professor B Quadro 20: Respostas da atividade B pelo professor B 1. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula. Utiliza às vezes. 2. Caso tenha dificuldades, especifique se são com todos os recursos tecnológicos ou apenas com softwares matemáticos. Justifique a sua resposta. A dificuldade maior é utilizar o recurso na escola, pois não podemos contar com a sala de informática que está sem monitor desde o início do ano e o data show nem sempre está disponível. Procuro incentivar os alunos a instalarem em seus computadores os softwares matemáticos, mas nem todos completam as atividades. 3. Conhece o software GeoGebra? Sim. 4. Utiliza o software GeoGebra em suas práticas docentes? Às vezes. 5. Caso tenha dificuldades com o software GeoGebra, especifique quais são. Nenhuma. Fonte: Professor B 128 Figura 8: Gráfico de f, dada por f(x)=|x| no GeoGebra pelo professor B Protocolo do professor B - atividade C Figura 9: Gráfico de f, dada por f(x)=|x+a| no GeoGebra pelo professor B Protocolo do professor B – atividade C 129 Figura 10: Gráfico de f, dada por f(x)=|x|+a no GeoGebra pelo professor B Protocolo do professor B – atividade C O professor B às vezes utiliza em suas aulas softwares matemáticos, inclusive o GeoGebra, pois justifica que nem sempre pode contar com o monitor e também com o data show da sala de informática da escola que leciona, mas comenta que procura incentivar os seus alunos a instalarem em seus computadores os softwares matemáticos. Tal atitude, para Borba e Penteado (2007) é vista como direito de inclusão na alfabetização tecnológica, ou seja, um direito a aprender e interpretar a nova mídia. O sujeito B, segundo Oliveira (2009b) enquadra-se no nível de “desenvolver fluência” na manipulação de ferramentas. Quanto à figura 11 e o quadro 21 a seguir destacamos que fizemos uma cópia fiel das resoluções das situações-problema 1 e 2 no GeoGebra pelo professor B, conforme salvo em nosso pen drive no dia da aplicação das atividades. 130 Figura 11: Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor B Considerando uma pessoa no meio da distância entre os dois fios pendurados no teto e que segurando um deles com uma mão, ela consiga trazer a outra extremidade, amarrando-os. Mantendo os fios puxados, o gráfico formado lembra uma função modular, que no GeoGebra fica assim: Protocolo do professor B – atividade D O professor B realiza, segundo Brousseau (2008) procedimentos imediatos, o quais resultam na produção de conhecimento intuitivo, sem explicar todos os argumentos utilizados na elaboração, busca informações com o GeoGebra, ou seja, com o milieu, validando a solução. Quanto ao uso das tecnologias o sujeito encontra-se no primeiro nível de incorporar tecnologia, no qual, segundo Frota e Borges (2004) a tecnologia é tomada como ferramenta e instrumento cognitivo. Quadro 21: Resolução da situação-problema 2 no GeoGebra – professor B AB cruzam tempo 2 min ficam no final da ponte AB A volta tempo -1 fica no final da ponte B CD cruzam tempo 8 min ficam no final da ponte BCD B volta tempo -2 min ficam no final da ponte AB cruzam tempo 2 min ficam no final da ponte ABCD Protocolo do professor B – atividade D CD 131 O professor B compreende a situação-problema 2, estabelece relações dos dados com a variável, conjectura os dados com os conceitos matemáticos e chega ao resultado que entende ser o correto (POLYA, 2006). O sujeito B não utiliza o software GeoGera para expressar alegebricamente o problema, ou seja, não busca informações com o milieu, conforme sugere Brousseau (2008). Segundo o autor, o sujeito cria outro modelo para tal situação, provocando uma aprendizagem por adaptação e validando suas ideias na linguagem matemática. Os processos de interação, comunicação e a aprendizagem para o professor foram mais importantes que as tecnologias em questão (OLIVEIRA, 2007). 4.5.3 O uso do GeoGebra - professor C Quadro 22: Respostas das atividade B pelo professor C 1. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula. Utiliza raramente. 2. Caso tenha dificuldades, especifique se são com todos os recursos tecnológicos ou apenas com softwares matemáticos. Justifique a sua resposta. Não utilizo por falta de recursos da unidade em que trabalho. 3. Conhece o software GeoGebra? Sim. 4. Utiliza o software GeoGebra em suas práticas docentes? Às vezes. 5. Caso tenha dificuldades com o software GeoGebra, especifique quais são. Não tenho. Fonte: Professor C 132 Figura 12: Funções Modulares no GeoGebra pelo professor C Protocolo do professor C – atividade C O professor C utiliza raramente em suas aulas softwares matemáticos, mas às vezes o GeoGebra, justifica tal fato por falta de recursos na unidade escolar que trabalha. Mesmo afirmando não ter dificuldades com o software GeoGebra, optou expressar geometricamente as funções modulares com caneta e régua, consideradas outras tecnologias, segundo Kenski (2007) e quando perguntamos na entrevista qual a justificativa para tal registro, disse que “sentia-se mais confortável na resposta”. Para Borba e Penteado (2007) o professor C parece estar na “zona de conforto tecnológico” tendo a necessidade de assumir que a incorporação das novas mídias 133 em sua prática docente é um objetivo a ser alcançado, ou seja, alfabetizar-se tecnologicamente Figura 13: Resolução da situação-problema 1 no GeoGebra pelo professor C Protocolo do professor C – atividade D O professor C novamente nos disse na entrevista que não usaria o software GeoGebra para expressar geometricamente a situação-problema 1, justificando ser mais fácil colocar no papel o que entendeu do enunciado da questão. O sujeito não busca informações com o software, o milieu, (BROUSSEAU, 2008) mas alcança os processos de interação e comunicação no ensino, que segundo Kenski (2003) depende muito mais de pessoas envolvidas do que das tecnologias utilizadas. 134 Quadro 23: Resolução da situação-problema 2 no GeoGebra pelo professor C Protocolo do professor C – atividade D O professor C não expressa geometricamente a situação-problema 2 no GeoGebra, desta forma não é possível analisarmos o uso do software no âmbito de situações didáticas. Para Oliveira (2007, 2008, 2009a) o sujeito C não utiliza as tecnologias como mediadoras na elaboração de novas formas de pensar e fazer matemática. E segundo os autores Frota e Borges, o professor C, nesta atividade D, não enquadrase nas concepções de consumidor e incorporador de tecnologias, ou seja, não mostra nesta atividade que os processos tecnológicos são atrativos e motivadores para ensinar e aprender matemática. 135 4.5.4 O uso do GeoGebra - professor D Quadro 24: Respostas da atividade B pelo professor D 1. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula. Utiliza às vezes. 2. Caso tenha dificuldades, especifique se são com todos os recursos tecnológicos ou apenas com softwares matemáticos. Justifique a sua resposta. Tenho dificuldades com os recursos tecnológicos, pois minha escola não está preparada para utilização de sala de aula de 40 alunos . 3. Conhece o software GeoGebra? Sim. 4. Utiliza o software GeoGebra em suas práticas docentes? Às vezes. 5. Caso tenha dificuldades com o software GeoGebra, especifique quais são. Não sou conhecedor profundo do software, porém um conhecedor com prática para ministrar aulas com conteúdos elementares. Fonte: Professor D 136 Figura 14: Funções Modulares no GeoGebra pelo professor D Protocolo do professor D – atividade C O professor D às vezes utiliza em suas aulas softwares matemáticos e também o GeoGebra, por motivos de sua escola não estar preparada com recursos tecnológicos para 40 alunos. Relata não ser um conhecedor profundo do software, entretanto, possui a prática para ministrar aulas com conteúdos elementares. Não utiliza o GeoGebra para expressar geometricamante as funções modulares, registrando-as, conforme o protocolo, com caneta e régua, consideradas para Kenski (2007) como outras tecnologias. Perguntamos na entrevista qual a justificativa para a não utilização do software GeoGebra. Ele respondeu: “consigo entender melhor no papel a resolução do que no GeoGebra”. O sujeito D, segundo Borba e Penteado (2007) encontra-se na “zona de conforto tecnológico” e necessita assumir que a incorporação das novas mídias em 137 sua prática docente é um objetivo a ser alcançado, ou seja, deve fazer parte da alfabetização tecnológica. Quadro 25: Resolução das situações-problema 1 e 2 no GeoGebra – professor D Protocolo do professor D – atividade D Perguntamos na entrevista ao professor D qual a justificativa de não ter utilizado o software GeoGebra para expressar geometricamente as situaçõesproblema 1 e 2. Respondeu: “eram apenas hipóteses sobre a resolução dos problemas e por não ter certeza se seria o certo, preferi não utilizar o software”. Para Brousseau (2008) o sujeito D não busca retroagir com o milieu, ou seja, com o software GeoGebra. O professor D não utiliza o software GeoGebra em nenhuma das atividades do questionário aplicado. Para Borba e Penteado (2007), Kenski (2007) e Oliveira (2007) o professor deve saber lidar com as mudanças tecnológicas, ou seja, não se 138 imuniza da possibilidade de uso dos recursos tecnológicos, pois as inovações educacionais implicam em mudanças na prática docente, na ampliação dos seus conceitos sobre estratégias pedagógicas em sala de aula e na reflexão sobre a própria prática. Desta forma, podemos concluir neste item sobre a familiarização dos professores com os softwares matemáticos e a expressão do ponto de vista geométrico de exercícios e situações-problema com função modular utilizando o software GeoGebra que: O professor A nunca utilizou tecnologias na sala de aula, conhece o software GeoGebra, mas não utiliza com seus alunos por não ter segurança com as ferramentas. Expressou do ponto de vista geométrico no software GeoGebra os exercícios e as situações-problema 1 e 2 com função modular. O professor B utiliza às vezes as tecnologias na sala de aula, inclusive o software GeoGebra, devido a sala de informática da escola que trabalha estar sem monitor e sem data show. Descreve que não possui dificuldades com o GeoGebra, expressando do ponto de vista geométrico os exercícios e a situação-problema 1 com função modular. O professor C utiliza raramente as tecnologias na sala de aula e às vezes o software GeoGebra, por falta de resursos na sua escola. Descreve não ter dificuldades com o software e não expressa do ponto de vista geométrico os exercícios e as situações-problema 1 e 2 no GeoGebra, apresentando no papel com caneta esferográfica. O professor D emprega às vezes as tecnologias na sala de aula, inclusive o software GeoGebra, por motivos da escola em que trabalha não estar preparada para 40 alunos na sala de informática. Não é conhecedor profundo do software, porém conhece as ferramentas do mesmo para lecionar conteúdos elementares da matemática. Não expressa do ponto de vista geométrico os exercícios e as situações-problema 1 e 2 no GeoGebra, apresenta apenas no papel com caneta esferográfica. 139 4.6 Estratégias pedagógicas com o GeoGebra A continuação da atividade D do questionário aborda as estratégias pedagógicas com o software GeoGebra. Para cada sujeito apresentaremos as perguntas e as respostas das questões: 4.6.1 Contribuições apresentadas pelo professor A Quadro 26: Questões sobre as contribuições do GeoGebra pelo professor A 3.Quais são as contribuições do software GeoGebra para o ensino de função modular? Trabalhar com o software Geogebra é muito mais fácil para a compreensão dos gráficos das funções, mas é preciso preparar muito bem o conteúdo para agregar ao software para não ficar sem significado a atividade. 4.Quais são as contribuições do software GeoGebra ao docente e ao processo didático? Penso que o software GeoGebra ajuda o professor no processo didático quanto a visualização dos gráficos, devido o software oferecer movimento nas funções após a construção. Fonte: Professor A – atividade D O professor A descreve que o software GeoGebra contribui para o ensino de função modular, ao docente e ao processo didático na visualização das construções geométricas. O sujeito apresenta as soluções geométricas no GeoGebra dos exercícios e das situações-problema 1 e 2, desta forma, enquadra-se nos níveis de utilização para a tecnologia segundo Oliveira (2009b): desenvolvimento de fluência e incorporação de tecnologia. Quando o sujeito afirma “é preciso preparar muito bem o conteúdo para agregar ao software para não ficar sem significado a atividade” significa que “o GeoGebra não ensina sozinho e para que haja aprendizagem o professor precisa criar novos mescanismos para fazer com que os alunos reflitam e percebam o que há por trás das construções que estão fazendo” (ARAÚJO; NÓBREGA, 2010, pp.1-2). 140 4.6.2 Contribuições apresentadas pelo professor B Quadro 27: Questões sobre as contribuições do GeoGebra pelo professor B 3. Quais são as contribuições do software GeoGebra para o ensino de função modular? Acredito que aumenta as possibilidades de reflexão e observação do aluno, pois não ficará somente em atividades de construção de gráficos mais na sua análise pessoal. 4. Quais são as contribuições do software GeoGebra ao docente e ao processo didático? O software GeoGebra quando inserido na prática e no contexto pedagógico do professor é um recurso eficiente e se bem conduzido pode provocar no aluno uma posição de reflexão, crítica, não somente um expectador mas a construção de sua própria aprendizagem. Fonte: Professor B – atividade D O professor B descreve que o software GeoGebra contribui para o ensino de função modular, ao docente e ao processo didático, aumentando as possibilidades de reflexão, observação e análise das construções geométricas. O sujeito B apresenta geometricamente no GeoGebra as funções modulares da atividade C a situação-problema 1 da atividade D. Então, enquadra-se parcialmente nos níveis de utilização para a tecnologia segundo Oliveira (2009b): desenvolvimento de fluência, incorporação de tecnologia, exploração e desenvolvimento matemático a partir da tecnologia e elaboração e estratégias pedagógicas com a tecnologia. O sujeito afirma que o software GeoGebra “quando inserido no contexto pedagógico do professor é um recurso eficiente e se bem conduzido pode provocar no aluno uma posição de reflexão”, significa que o software didático depende de estratégia, planejamento, crítica e significação. “Não há software didático, por si só, como não há tecnologias que educam” (OLIVEIRA, 2009a, p.6). 141 4.6.3 Contribuições apresentadas pelo professor C Quadro 28: Questões sobre as contribuições do GeoGebra pelo professor C 3. Quais são as contribuições do software GeoGebra para o ensino de função modular? A praticidade, a visualização dos gráficos das funções e a agilidade para as construções. 4. Quais são as contribuições do software GeoGebra ao docente e ao processo didático? O professor pode propor diferentes situações-problema e o software facilita a visualização, possibilitando o entendimento. Fonte: Professor C – atividade D O professor C descreve que o software GeoGebra contribui para o ensino de função modular, ao docente e ao processo didático, trazendo praticidade, visualização e agilidade nas construções geométricas, mas por não utilizar o software GeoGebra em nenhuma das atividades do questionário, não é possível analisarmos em quais níveis de utilização para a tecnologia enquadra-se. 4.6.4 Contribuições apresentadas pelo professor D Quadro 29: Questões sobre as contribuições do GeoGebra pelo professor D 3. Quais são as contribuições do software GeoGebra para o ensino de função modular? Contribui significativamente para que o aluno visualize as definições gráficas das funções modulares, mas acho necessária a construção manual para a fixação do aprendizado. 4. Quais são as contribuições do software GeoGebra ao docente e ao processo didático? Contribui ao docente para fazer demonstrações de seus ensinamentos e no desenvolvimento de construções gráficas e algébricas. Destaco também, a importância da construção com régua e do uso da prática algébrica manual no fortalecimento do conhecimento. Fonte: Professor D – atividade D 142 O professor D descreve que o software GeoGebra contribui para o ensino de função modular, ao docente e ao processo didático, na forma de visualização de definições gráficas. Por não utilizar o software GeoGebra em nenhuma das atividades do questionário, não é possível analisarmos em quais níveis de utilização para a tecnologia enquadra-se. Quando destaca a importância da construção com régua, afirmando que o uso da prática algébrica manual é um fortalecimento do conhecimento, ainda não se valeu das tecnologias de informação e comunicação (TICs) como mediadoras nas situações didáticas, de forma a utilizar uma estratégia didática que têm o aprendiz como foco (OLIVEIRA, 2009a). Desta forma, podemos concluir neste item sobre estratégias pedagógicas com o software GeoGebra e suas contribuições ao ensino de função modular, a docência e ao processo didático que: Para o professor A, trabalhar com o software GeoGebra é facilitar a compreensão e a visualização dos gráficos de funções modulares. Destaca ainda que é preciso preparar bem o conteúdo matemático a ser desenvolvido com os alunos e agregar ao software para não ficar sem signifcado a atividade. Quanto aos quatro níveis de utilização para a tecnologia enquadra-se apenas no desenvolvimento de fluência e na incorporação de tecnologia. Para o professor B, o software GeoGebra se for bem conduzido pelo professor, possibilita reflexão, observação e crítica do aluno, não fazendo com que ele seja apenas um expectador, mas construindo a sua própria aprendizagem. Quanto aos níveis de utilização para a tecnologia enquadra-se no desenvolvimento de fluência, na incorporação de tecnologia, referente aos exercícios e a situação-problema 1 com função modular. O sujeito não apresentou solução da situação-problema 2 no GeoGebra. Para o professor C o software GeoGebra possui praticidade e agilidade para as construções dos gráficos das funções facilitando a visualização e a compreensão. O sujeito não utiliza o software GeoGebra para expressar do ponto de vista geométrico os exercícios e as situações-problema 1 e 2 com função modular, desta forma, não é possível enquadrá-lo nos níveis de utilização para a tecnologia. 143 Para o professor D o software GeoGebra contribui significativamente para o aluno visualizar os gráficos e para o docente nos seus ensinamentos. Destaca que a construção manual de gráficos com régua fortalece o conhecimento. O sujeito não utiliza o software GeoGebra para expressar do ponto de vista geométrico os exercícios e as situações-problema 1 e 2 com função modular, desta forma, não é possível enquadrá-lo nos níveis de utilização para a tecnologia. 4.7 Síntese dos dados coletados dos professores A, B, C e D De acordo com os dados coletados nesta investigação destacamos as seguintes análises dos sujeitos da pesquisa. 1. Os professores A, B, C e D possuem concepções similares sobre exercícios e problemas matemáticos. Vale à pena destacar que os sujeitos B e C classificam como problemas matemáticos as mesmas funções modulares f(x)=|x+a| e f(x)=|x|+a e as expressam do ponto de vista algébrico como exercícios matemáticos. Conforme analisamos, o professor evita incorrer em um efeito do contrato didático (o Topázio), previsto por Brousseau (2008). 2. O professor A mesmo descrevendo ter dificuldades com algumas ferramentas dos softwares matemáticos, inclusive o GeoGebra, desenvolveu todas as atividades com função modular apresentadas nos protocolos mostrando estar inserido nos quatro níveis de utilização para a tecnologia, segundo Oliveira (2009b): desenvolve fluência na manipulação das ferramentas e incorpora as tecnologias como partes integrantes do seu fazer didático. 3. O professor B também descreveu não ter nenhuma dificuldade com os softwares matemáticos, nem mesmo com o GeoGebra, apresentando do ponto de vista algébrico os protocolos dos exercícios e da situação-problema 2 com função modular e do ponto de vista geométrico os resultados dos exercícios e da situaçãoproblema 1. Mostrou estar inserido nos dois primeiros níveis de utilização para a tecnologia, segundo Oliveira (2009b) apenas nas atividades que utilizou o software GeoGebra, as quais são os exercícios e a situação-problema 1. 144 4. Vale à pena destacar que os resultados dos professores A e B trazem semelhanças com os resultados do sujeito D da pesquisa de Santos (2010) quanto ao reconhecimento das interfaces tecnológicas como elementos mediadores do processo de ensinar e aprender, mantendo o foco no conteúdo matemático. Em ambas as investigações os sujeitos mostram que a interface computacional representava uma extensão dos seus conhecimentos. 5. O professor C descreveu não ter dificuldades com os softwares matemáticos, inclusive o GeoGebra, porém, não desenvolveu todas as atividades. Os exercícios com função modular não utilizou o GeoGebra para expressá-los do ponto de vista geométrico, registrando-os no papel com caneta esferográfica e régua. A situaçãoproblema 1 apresentou algebricamente também no papel e não utilizou o software GeoGebr. A situação-problema 2 não apresentou algébrica e nem geometricamente no papel e no GeoGebra. Desta forma, mostrou não estar inserido em nenhum dos níveis de utilização para a tecnologia. 6. O professor D descreveu ser conhecedor com prática para ministrar aulas com conteúdos elementares com os softwares matemáticos, até mesmo o com GeoGebra, porém, não realizou nenhuma das atividades no software, portanto, não está inserido em nenhum dos níveis de utilização para a tecnologia. 7. Os professores A e B quanto ao uso da estratégia pedagógica com o software GeoGebra baseado na Resolução de Problemas, ampliaram os seus conhecimentos em todas as atividades aplicadas sobre função modular expressas do ponto de vista algebrico e geometrico, segundo Polya (2006) compreendendo, estabelecendo, executando um plano e examinando a solução obtida. E nas mesmas atividades desenvolveram o processo das situações didáticas, de acordo com Brousseau (2008): ação, formulação e validação, buscando informações no milieu, ou seja, no software GeoGebra. 8. Os professores C e D por terem deixado de responder algumas atividades do questionário de acordo com o objetivo das questões, não completaram o caminho da resolução de problemas, quanto à compreensão, estabelecimento, execução de um plano e examinação das soluções obtidas (POLYA, 2006). Também não desenvolveram totalmente o processo das situações didáticas: ação, formulação e validação, não retroagiram com o milieu, ou seja, o software GeoGebra 145 (BROUSSEAU, 2008). Desta forma, entendemos que não ampliaram completamente os seus conhecimentos sobre a função modular do ponto de vista algébrico e geométrico. 9. Vale à pena destacar professores A, B, C e D desenvolveram o processo das situações didáticas da seguinte maneira: a) Ação: as primeiras leituras para compreensão das atividades que continham os exercícios e as situações-problema 1 e 2 com função modular para as tomadas de decisões. Houve neste momento a troca de informações e as decisões orientadas pelo milieu, no caso o software GeoGebra. b) Formulação: neste momento os professores explicitaram em linguagem natural, algébrica ou geométrica das soluções encontradas fazendo a troca de informações com o milieu, o software GeoGebra. c) Validação: os professores validaram as asserções que foram formuladas nos momentos de ação e de formulação com o milieu. Os professores são os responsáveis de gerenciar suas relações com o saber nas fases de ação, formulação e validação. A fase de institucionalização não foi desenvolvida nesta pesquisa. 146 CONSIDERAÇÕES FINAIS “Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpretam a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são os seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim fica evidente que cada leitor é um co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita”. LEONARDO BOFF A águia e a galinha Antes de iniciarmos esta investigação, consultamos o banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes e observamos conforme descrevemos na introdução, que a produção acadêmica em Educação Matemática no Brasil, sobre o ensino e aprendizagem de valor absoluto, função modular, equação e inequação modular, apresenta poucos trabalhos. Desta forma, para contribuirmos com o aumento desses dados realizamos um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. A pesquisa buscou investigar: as concepções de professores do Ensino Médio sobre exercícios e problemas matemáticos; a familiarização dos docentes com os softwares matemáticos, inclusive o GeoGebra; a utilização do software GeoGebra como estratégia pedagógica para o ensino de duas situações-problema com função modular. 147 As investigações foram orientadas pela seguinte questão de pesquisa: “De que forma o uso de uma estratégia pedagógica baseada em Resolução de Problemas com o emprego do software GeoGebra concorre para ampliar a compreensão de professores do Ensino Médio sobre o tema função modular e sua expressão, dos pontos de vista algébrico e geométrico?” A pesquisa também destacou algumas finalidades: Propor uma abordagem de Função Modular e sua expressão algébrica e geométrica por meio de Resolução de Problemas, na qual aproxime o processo de construção do conhecimento do aluno, usando estratégias pedagógicas com as TICs. Estudar diferentes abordagens para o ensino de Função Modular por meio de Resolução de Problemas com professores de Matemática do Ensino Médio de escolas das redes pública e particular do Estado de São Paulo, a partir de situações-problema. Buscar condições que contribuam para o ensino, possibilitando ao professor do Ensino Médio, a oportunidade de conjecturar, refletir e resolver atividades com Função Modular, propostas pela pesquisadora, para compreensão do tema. Para responder estas questões aplicamos um questionário semiestruturado a quatro professores do Ensino Médio que também são alunos de Pós-Graduação em Educação Matemática de uma universidade de São Paulo. As análises foram descritas de acordo com as seguintes categorias: compreensão da função modular; uso do GeoGebra para resolução de problemas no âmbito de situações didáticas e estratégias pedagógicas com o GeoGebra. A pesquisa teve como foco principal a utilização do software GeoGebra como estratégia pedagógica para o ensino de função modular e não analisar o uso das tecnologias. 148 Segundo Vila e Callejo (2006) o professor necessita ter clareza que a habilidade de resolver problemas não é inata e pode ser desenvolvida. Para Borba e Penteado (2007) a informática na educação matemática deve ser vista como um direito de inclusão de alfabetização tecnológica, ou seja, o aprender e o interpretar a nova mídia. Os autores Borba e Penteado (2007), Kenski (2007) e Oliveira (2007) afirmam que o professor não deve se imunizar da possibilidade de uso dos recursos tecnológicos. As inovações educacionais implicam em mudanças na prática docente, na ampliação dos seus conceitos sobre estratégias pedagógicas em sala de aula e na reflexão sobre a própria prática. Com os resultados obtidos dos sujeitos da pesquisa entendemos que o perfil de cada professor que utiliza elementos tecnológicos em suas práticas influi decisivamente nas vantagens que pode auferir para si e para seus alunos, bem como nas dificuldades que podem ser encontradas na trajetória que eventualmente proponham para as suas aulas. Assim, como possibilidades relacionadas às estratégias pedagógicas com uso de tecnologias em aulas de Matemática, mais precisamente, na abordagem do tema Função Modular destacamos: A possibilidade na criação de aulas mais dinâmicas, estabelecidas com o propósito de incentivar a experimentação e a análise investigativa das construções obtidas, no âmbito da abordagem geométrica do conteúdo. Desenvolvimento da autonomia do aluno, à medida que o mesmo é convidado a experimentar e a usar os resultados das conjecturas que faça na obtenção de novos conhecimentos relativos ao tema matemático em estudo. Finalmente, podemos concluir que a principal relevância do uso do software GeoGebra para o ensino de Função Modular baseada em Resolução de Problemas não reside no software em si, mas de planejamento dos professores para utilizá-lo como elemento mediador das aprendizagens, ou seja, a estratégia didática do professor é que, ao utilizar o software, cria possibilidades de maior experimentação das construções de autonomia. Vale destacar que o conhecimento matemático do professor é essencial para que a estratégia seja efetiva: problemas relativos aos 149 conteúdos de referência tendem a fragilizar a estratégia, transformando-a em apêndices de práticas tradicionais. Entendemos que os professores precisariam se apropriar mais das ferramentas tecnológicas e utilizar com mais frequência os softwares matemáticos nas suas aulas, pois só assim muitos alunos também terão acesso e estímulo para praticar o uso desta ferramenta na escola. Não basta os docentes participarem de formações continuadas, adquirirem conhecimentos sobre as TICs, terem instalado em seus computadores softwares matemáticos e não fazerem prática com seus alunos. É preciso haver uma conscientização do professor quanto à sua própria relação do aumento gradativo de colocar em prática com poucos ou muitos alunos todo o aprendizado que obteve. Deixamos como sugestões de pesquisas futuras, sejam de mestrado ou de doutorado investigações sobre: o ensino de equação ou inequação modular por meio de Resolução de Problemas; o ensino de função modular no Cálculo Diferencial e Integral com professores do Ensino Superior, um comparativo desta pesquisa com sujeitos que não estão em formação continuada. Vale destacar que a Resolução de Problema e a utilização das TICs como estratégia pedagógica, podem ser investigadas com qualquer tema matemático. Esperamos que esta pesquisa contribua para o grupo de pesquisa GPEA, bem como para o Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e que sirva à comunidade científica que investiga a Resolução de Problemas e as tecnologias como estratégias para o ensino e aprendizagem na Educação Básica. Esta dissertação contribuiu para a nossa formação acadêmica como pesquisadora em Educação Matemática enriquecendo os nossos conhecimentos, e nos levou a compreender de forma mais crítica e consciente certos fenômenos que permeiam este campo do conhecimento, como também contribuiu para reformular as nossas compreensões quanto ao ensino de função modular baseada em Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. Certamente, ao final desta pesquisa melhoramos tanto como pesquisadora quanto como professora. 150 REFERÊNCIAS ABAR, C.A.A.P.(org). Instituto São Paulo Geogebra. www.pucsp.br/geogebrasp. Acesso: 02 de julho de 2012. Disponível em: ALMOULOUD, S. A. Fundamentos da didática da matemática. Curitiba: UFPR, 2010. APPOLINÁRIO, F. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para a produção do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2009. ARAÚJO, L. C. L.; NÓBREGA, J.C.C. Aprendendo Matemática com o Geogebra. São Paulo: Exato, 2010. BACHELARD, G.. Ensaio sobre o conhecimento aproximado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. BIANCHINI, B. L.; PUGA, L. Z. Função: diagnosticando registros de representação semiótica. REREMAT – Revista eletrônica de republicação em Educação Matemática: UFSC, pp.5-16, 2006. BOGDAN, R. C; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994. BORBA, M. C. Coletivos Seres-humanos-com-mídias e a Produção de Matemática. In: I Simpósio Brasileiro de Psicologia da Educação Matemática, Curitiba, 2001. ___________. A pesquisa qualitativa em educação matemática. In: Anais da 27ª reunião anual da Anped. Caxambu, Nov. 2004. CD-ROM. ___________; PENTEADO, M. G. Informática e educação matemática. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. BOTTA, E. S. O ensino do conceito de função e conceitos relacionados a partir da resolução de problemas. Dissertação de Mestrado em Educação Matemática. Rio Claro: UNESP, 2010. BRAGA, C. Função: a alma do ensino da matemática. São Paulo: Annablume, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica: orientações curriculares para o ensino médio aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 1999. 151 ______. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2002. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica: orientações curriculares para o ensino médio aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006. BROLEZZI, A. C. Problemas e criatividade: uma breve introdução. São Paulo: Factash, 2008. BROUSSEAU, G. Introdução ao estudo das situações didáticas: conteúdo e métodos de ensino. São Paulo: Ática, 2008. CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da matemática. 6 ed. Lisboa: Gradiva, 2005. COLÉGIO, Pedro II, Annuário. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 1914. CURY, H. N. Análise de Erros em Demonstrações de Geometria Plana: Um Estudo com Alunos de 3º Grau. Porto Alegre: UFRGS, 1988. DANTE, L. R. Formulação e resolução de problemas de matemática: teoria e pratica. São Paulo: Ática, 2010. DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000. DORIA, E. Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo: 1837-1937. Brasília: INEP, 1997. EVES, H. Introdução à história da matemática. Tradução Hygino H. Domingues. 5 ed. Campinas: UNICAMP, 2011. FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2009. FRIEDLANDER, A.; HADAS, N. Ensinando valor absoluto numa abordagem em espiral. In: COXFORD, A. F., SHULTE, A. P. (org). As ideias da álgebra. São Paulo: Atual, pp.244-254,1995. FROTA, M. C. R.; BORGES, O. N. Perfis de Entendimento sobre o uso de Tecnologias na Educação Matemática. In: Encontro da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educaçã, Caxambu, MG. Sociedade Democrática e Educação. Rio de Janeiro: ANPED, 2004. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. São Paulo: Revista Administração de Empresa, v.35, n.2, pp.57-63, 1995. GOMES, R. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria C. S. (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Petrópolis: Vozes, 1994. 152 GONZÁLEZ, F. E. Cómo desarrollar clases de matemática centrada em resolución de problemas. Cuardernos Educare. Cuaderno nº 5. Serie Roja, 2 ed. Escuela de Educación. Universidad de Los Andes. Mérida, Venezuela: Editorial Programa de Perfeccionamiento y actualización Docente (PPAD), 2005. GOOS, M., et al. Perspectives technology mediate learning in secondary school mathematics classrooms. Mathematical Behavior, n.22, pp.73-89, 2003. GRIBAKIN, G. Some simple and not so simple maths problems. Disponível em: www.am.qub.ac.uk/users/...gribakin/problem.ht . Acesso: 28 de outubro de 2012. JÚNIOR, D. C. N. Elaboração de uma sequência didática para a aprendizagem de valor absoluto e da função modular utilizando a organização curricular em rede. Dissertação de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. Belo Horizonte: PUCMG, 2008. KENSKI, V. M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: Papirus, 2003. ____________. Educação e Tecnologias: O novo ritmo da informática. Campinas, SP: Papirus, 2007. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Tradução Heloísa Monteiro e Francisco Settieri. Porto Alegre: Artes Médicas/UFMG, 1999. LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da Informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. LIMA, E. L. (org). A Matemática do Ensino Médio volume 1. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2009. LOPES, D. Função do 1º grau: um estudo sobre os seus registros de representação semiótica por alunos da 1ª série do Ensino Médio. Dissertação de Mestrado em Educação. Campo Grande: UFMS, 2006. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MARTINS, J. A pesquisa qualitativa. In: FAZENDA, I. C.A. (org). Metodologia da pesquisa educacional. 5 ed. São Paulo: Cortez, 1999. NCTM. National Council of Teachers of Mathematics. An Agenda for Action. Reston: NCTM, 1980. OLIVEIRA, G. P. Colaboração e multidimensionalidade como elementos para a avaliação da aprendizagem em curso on-line. Revista de Ciências Exatas e Tecnologia, v. II, pp.30-45, 2007. 153 ______________. Generalização de padrões, pensamento algébrico e notações: o papel das estratégias didáticas com interfaces computacionais. São Paulo: Educação Matemática Pesquisa, v.10, n.2, pp.295-312, 2008. ______________. Estratégias didáticas em educação matemática: as tecnologias de informação e comunicação como mediadoras. Anais do IV Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática – IV SIPEM. Brasilia: SBEM, 2009a. CD-ROM. ______________. Transposição didática: aportes teóricos e novas propostas. In: WITTER, G. P.; FUJIWARA, R. (Org). Ensino de ciências e matemática: análise de problemas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009b. ONUCHIC, L. R. Ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani (Org). Pesquisa em Educação Matemática. São Paulo: UNESP, pp.199-220, 1999. _____________; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensinoaprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Org). Educação Matemática pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, pp. 213-231, 2004. PAIS, L. C. Transposição Didática. In: Sílvia Dias Alcântara Machado (org). Educação Matemática: uma (nova) introdução. 3 ed. São Paulo: EDUC, 2008. PIRES, C. M. C. P. Implementações de inovações curriculares em matemática: embates com concepções, crenças e saberes de professores. In: MARANHÃO, C. (Org). Educação matemática nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio: pesquisas e retrospectivas. São Paulo: Musa, 2009. POLYA, G. A Arte de Resolver Problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. POZO, J. I.; ECHEVERRÍA, M. D. P. P. A solução de problemas: aprender a resolver problemas e resolver problemas para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998. RIZZINI, I; CASTRO, M.R.; SARTOR, C.D. Pesquisando...: Guia de metodologias de pesquisa para programas sociais. Rio de Janeiro: USU, 1999. ROXO, E. Colégio Pedro II – Externato, Relatório concernente aos anos letivos de 1927 a 1929. Apresentado ao Exmº Sr. Diretor Geral do Departamento Nacional de Ensino pelo prof. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo – Diretor do mesmo Externato. Rio de Janeiro, 1929. ________. A matemática na educação secundária. Rio de Janeiro Companhia Editora Nacional, 1937. SÁ, I. P. Primeiros passos com o Software Livre – GeoGebra. Curso de Matemática. Rio de Janeiro: Centro Universitário da Serra dos Órgãos, 2010. Disponível em: 154 www.magiadamatematica.com/diversos/apostilas/GEOGEBRA.pdf. Acesso: 02 de julho de 2012. SANTOS, R. P. As dificuldades e possibilidades de Professores de Matemática ao utilizarem o Software GeoGebra em atividades que envolvem o Teorema de Tales. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUCSP, 2010. SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Guias Curriculares para o Ensino de Matemática: Primeiro grau. São Paulo, SE/CENP, 1976. SCHROEDER, T. L.; LESTER, F. K. Developing Understanding in Mathematics. In: TRAFTON, P. R.; SHULTE, A. P. (Ed.) New Directions for Elementary School Mathematics. Reston: NCTM, pp.31-42, 1989. SILVA, A. C. A. Resolução de Problemas: metanálise das dissertações produzidas no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC-SP. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUCSP, 2011. SILVA, B. A. (et. al.). Atividades para o estudo de funções em ambiente computacional. São Paulo: Iglu, 2002. SOUZA, H. T.; BIANCHINI, B. L. A visão de alunos de mestrado em Educação Matemática sobre Resolução de Problemas. Anais do XI Encontro Paulista de Educação Matemática – XI EPEM. São Paulo: UNESP, pp.1-12, 2012a. _________________________. A visão de professores do Ensino Médio sobre Resolução de Problemas com Função Modular. II Encontro de produção discente. São Paulo: PUCSP/UNICSUL, 2012b. _________________________. Um estudo com professores do Ensino Médio sobre Função Modular por meio de Resolução de Problemas utilizando o software GeoGebra como estratégia pedagógica. Anais do XVI Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática – XVI EBRAPEM. RGS: ULB, 2012c. STANIC, G. M. A.; KILPATRICK, J. Historical Perspectives on Problem Solving in the Mathematics Curriculum. In: CHARLES, R. I.; SILVER, E. A. (Ed.) The Teaching and Assessing of Mathematical Problem Solving. Reston: NCTM, pp.1-22, 1990. STEWART, J. Cálculo volume 1. 6 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. TIKHOMIROV, O. K. The Psychological consequences of computerization. In: WERTSCH, J. V. The concept of activity in soviet psychology. New York: M. E. Sharpe, 1981. VAN DE WALLE, J. A. Elementary and Middle School Mathematics. New York:Longman, 2001. VILA, A.; CALLEJO, M. L. Matemática para aprender a pensar: o papel das crenças na resolução de problemas. Porto Alegre: Artmed, 2006. 155 ANEXOS Atividade A 1. Qual a sua titularização na graduação? E o ano de conclusão? ( ) Licenciatura Plena em Matemática – Ano:_______ ( ) Bacharelado em Matemática – Ano: ___________ ( ) Outros: _________________________________ Ano: ________ 2. Possui titularização em Especialização? Qual? E o ano de conclusão? ______________________________________________ Ano: ______ 3. Tempo de profissão na Educação: ( ) menos de 5 anos ( ) 5 anos a 10anos ( ) 10 anos a 15 anos ( ) 15 anos a 20 anos ( ) mais de 20 anos 4. Durante todo o tempo de profissão já lecionou para: ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior 5. Atualmente leciona para quais séries: ( ) 1º ano do Ensino Médio ( ) 2º ano do Ensino Médio ( ) 3º ano do Ensino Médio 6. Escola que leciona: ( ) Escola Pública Estadual ( ) Escola Pública Municipal ( ) Escola particular 7. Localização da escola que leciona: ( ) São Paulo Capital ( ) São Paulo Interior ( ) Grande ABCDM Paulista ( ) Outros 8. Disciplinas que leciona: ( ) Matemática ( ) Física ( ) Outras 9. Formação Continuada no curso de Pós-Graduação: ( ) Mestrado ( ) Doutorado. 156 Atividade B 1. Quanto ao uso de tecnologias (softwares matemáticos) em sala de aula: ( ) faz uso frequentemente. ( ) faz uso regular. ( ) utiliza às vezes. ( ) utiliza raramente. ( ) nunca utilizou. 2. Caso tenha dificuldades, especifique se são com todos os recursos tecnológicos ou apenas com softwares matemáticos. Justifique a sua resposta. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 3. Conhece o software GeoGebra? ( ) sim ( ) não 4. Utiliza o software GeoGebra em suas práticas docentes? ( ) frequentemente. ( ) regularmente. ( ) às vezes. ( ) raramente. ( ) nunca utilizou. 5. Caso tenha dificuldades com o software GeoGebra, especifique quais são. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 157 Atividade C 1. Existe diferença entre exercícios e problemas matemáticos? Justifique ( ) Sim ( ) Não _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _________________________________________________________________ _______________________________________________________ 2. a) Classifique em exercício ou problema matemático cada função modular: f(x)=|x| _____________________________ f(x)=|x+a| _____________________________ f(x)=|x|+a _____________________________ 3. Expresse algébrica e geometricamente cada função modular a seguir. Utiliza o software GeoGebra. f(x)=|x| f(x)=|x+a| f(x)=|x|+a 158 Atividade D 1. a) Há dois fios pendurados no teto de uma sala a certa distância um do outro. Segurando um deles com a mão, não se consegue alcançar o outro com a outra mão. Como amarrar as extremidades dos dois fios? Com os conceitos de módulo e função modular, expresse algébrica e geometricamente a questão. Utilize o software GeoGebra. b) Classifique a questão acima em exercício ou problema matemático. 2. a) Quatro pessoas chegam a um rio no meio da noite. Há uma ponte estreita, mas ela só pode aguentar duas pessoas ao mesmo tempo. Porque é noite, a tocha deve ser usada para atravessar a ponte. A pessoa A pode atravessar a ponte em um minuto, a B em 2 minutos, a C em 5 minutos, e a D em 8 minutos. Quando duas pessoas atravessam a ponte juntos, devem se mover no ritmo da pessoa mais lenta. A questão é: todos poderão atravessar a ponte em 15 minutos ou menos? Com os conceitos de módulo e função modular, expresse algébrica e geometricamente a questão. Utilize o software GeoGebra. b) Classifique a questão acima em exercício ou problema matemático. 159 3. Quais são as contribuições do software GeoGebra para o ensino da função modular? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 4. Quais são as contribuições do software GeoGebra ao docente e ao processo didático? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________