Noções de Direito do Trabalho e Formação para o Cooperativismo de Moradores do Bairro Bosques do Lenheiro Autores Raquel Flores Dos Santos Orientador Eva Dubrini Massi Apoio Financeiro Fae 1. Introdução O Projeto “Economia Popular Solidária” consiste na formação para o cooperativismo, de moradores do Bairro Bosques do Lenheiro, através de esclarecimento e capacitação profissional, bem como a apresentação de noções de Direito do Trabalho. Foi aplicado no 2º semestre de 2.005 e no 1º semestre de 2.006, onde diversas aulas foram ministradas por alunos bolsistas e voluntários da UNIMEP, provenientes de vários cursos de graduação. Este Projeto de Extensão foi desenvolvido em parceria com outros dois projetos, em andamento: Projeto Formação de Situação Fundiária, Habitacional e Direitos de Posse dos Moradores do Bosque do Lenheiro e Projeto Capacitação Popular Solidária. O foco da “Economia Popular Solidária” era enfatizar, para a comunidade do bairro, a importância de um preparo maior para se exercer qualquer atividade remunerada e as inúmeras vantagens em se formar um grupo organizado, com espírito cooperativista, mesmo objetivos a serem alcançados e vontade e afinco para o trabalho. O bairro “Bosques do Lenheiro” pertence à periferia do município de Piracicaba/SP, com 1.350 domicílios populares e cerca de 7.500 moradores. Aproximadamente 450 famílias são moradores ilegais, invasores ou famílias vindas de áreas de risco da cidade. Seu loteamento, criado em 1999, se deu de maneira problemática, principalmente pela situação política do município naquele momento. Ocorreu sem que houvesse sido concluída a infra-estrutura mínima do bairro e das residências. Isso resultou na desistência dos moradores de algumas casas, que as abandonaram e, conseqüentemente, possibilitando a ocupação de outras famílias ainda mais necessitadas. Apresenta altos índices de violência e desemprego. 2. Objetivos O NEPEP, participando desde 2.004 da problemática enfrentada pela comunidade do bairro “Bosques do Lenheiro” procurou, através deste projeto, realizar a capacitação junto às lideranças do bairro sobre seus aspectos fundiários, habitacionais e também alternativas para a promoção do bem-estar e a construção da cidadania. Entre os objetivos deste Projeto, estão: anunciar alternativas autônomas e emancipadoras de geração de renda, capacitar os participantes para que gerenciem e se organizem em prol da comunidade. Isso significa, entre outras 1/8 coisas, transmitir noções sobre cooperativas, sua formação e do quanto estas podem beneficiar um grupo social unido e com idéias a se aplicar. Por fim: promover a formação, tanto pessoal como profissional, de universitários que buscam atuar socialmente e que utilizam seus conhecimentos, práticos e teóricos, de forma transformadora, dentro da sociedade em que vivem; ressaltar a participação ativa de professores como agentes sociais; e produzir conhecimentos, dialetizados pela prática transformadora, pelo saber popular e pelo saber acadêmico, de maneira a apontar alternativas coletivas emancipadoras. 3. Desenvolvimento A primeira reunião do grupo ocorreu nas dependências do NEPEP, em agosto de 2005. Naquela oportunidade apresentou-se aos alunos bolsistas do Projeto FAE uma introdução a respeito dos trabalhos e atividades a serem desenvolvidos pelos grupos. Resolveu-se pela divisão de aulas para a comunidade em dois módulos (I e II), pela apresentação do projeto à comunidade em 27 de outubro de 2.005, no Centro Comunitário do Bairro, bem como pela abertura para inscrições na mesma data (ANEXO 1). Esse evento contou com a presença de um grande número de moradores da comunidade, que participaram ativamente. Na ocasião, foram inscritas 224 pessoas, sendo 35 jovens menores de 16 anos e 189 acima de 17 anos. A aproximação do NEPEP com a comunidade do bairro ocorre a alguns anos, de forma gradual e continuada. Para iniciá-los nessa empreitada, foi apresentada a proposta de um ciclo de cursos, com o intuito de agregar os interessados numa futura formação de cooperativas. Para o Módulo I, resolveu-se pela realização de 24 horas/aula de cursos básicos de: “Direito e Segurança do Trabalho”, “Saúde”, “Relação e Comunicação Pessoal” e “Matemática Para Uso Diário”. Professores, alunos bolsistas e alunos voluntários foram divididos para atuar por curso, conforme as afinidades com a graduação de cada um e, assim organizados, elaborarem as apostilas. O Curso de “Direito e Segurança do Trabalho” teve duração de 8 horas, ministradas de novembro a dezembro de 2.005. Teve como professores os alunos bolsistas Raquel Flores dos Santos e Fábio Luís Lopes, bem como a aluna voluntária Sabrina Mac Fadden. Seu conteúdo abrangia: informações sobre direitos trabalhistas básicos, a importância e as diferenças do trabalho formal e informal, seus direitos previdenciários e noções de segurança do trabalho. O método utilizado foi: abordagem introdutória sobre o assunto, discussão sobre características e pontos principais e discussão em grupo. Seu objetivo principal era informar, conscientizar e prevenir a comunidade, além de introduzir noções de cooperativismo, principal foco deste projeto. Para o Módulo II, resolveu-se pela realização de aulas sobre Cooperativismo, as quais tiveram carga horária de 6 horas, ministradas de abril a junho de 2.006. Teve como professores as alunas bolsistas Raquel Flores dos Santos e Patrícia Aparecida Duarte (ANEXO 2). Seu conteúdo abrangia: noções básicas e avançadas sobre cooperativismo e de como realizar a sua implantação numa comunidade. 2/8 O método utilizado foi: abordagem introdutória sobre o assunto, discussão sobre características e pontos principais, exemplos e discussão em grupo. Seu objetivo principal era trabalhar os conceitos de cooperativismo e seus benefícios aos moradores do “Bosques do Lenheiro”, fornecendo-lhes ferramentas para o trabalho em grupo. Importante ressaltar-se que, em conjunto com os cursos fornecidos pelos outros Projetos, a possibilidade de sucesso na formação das cooperativas é uma realidade. 4. Resultados As inscrições da primeira etapa do Projeto FAE (Módulo I) foram realizadas nos dias 24, 25 e 27 de outubro de 2005, no salão do Centro Comunitário do Bairro Bosques do Lenheiro. Na ocasião, foram inscritas 224 pessoas nos cursos oferecidos. O Módulo I foi desenvolvido no segundo semestre de 2.005 (de novembro a dezembro) e o módulo II, no primeiro semestre de 2.006 (de abril a junho). Infelizmente, um número muito abaixo dos inscritos, inicialmente, participou efetivamente dos cursos ministrados, tanto no Módulo I, quanto no módulo II. No entanto, todo o esforço da comunidade foi percebido quando nos deparávamos, durante o desenvolvimento das aulas, com mães e seus bebês de colo ou filhos pequenos, assistindo assiduamente às aulas, bem como pessoas desempregadas e adolescentes, ainda iniciantes no mercado de trabalho, buscando se preparar e se informar. Das 224 pessoas, de diversas faixas etárias (inicialmente inscritas para os diversos cursos de capacitação: ajudantes de cozinha, garçons ou copeiros, recepcionistas, acompanhantes, camareira, zelador, manipuladores de alimentos, serviços domésticos e pedreiros), cerca de 89 pessoas iniciaram o Módulo I. O Módulo II, de caráter mais profissionalizante, ministrado principalmente pelos alunos do Projeto “Capacitação Popular Solidária”, iniciou-se com aproximadamente 40 alunos e terminou com 29 concluintes, os quais receberam certificado de qualificação (ANEXO 3). A disposição dos professores e alunos do Projeto FAE foi fundamental para o processo de crescimento dos alunos da comunidade. A troca de experiências foi um processo contínuo. Uma maior intimidade entre professores e comunidade foi possível no módulo II, o que resultou em discussões que iriam além dos temas abordados. Temas como saúde e comportamento, temas atuais como política e conflitos mundiais, muitas vezes eram discorridos durante as aulas e em seus intervalos. Entre os obstáculos mais freqüentes estavam as desistências das aulas e, estando nelas, a falta de compreensão para questões simples, como exemplos apresentados durante as mesmas. Estes obstáculos foram superados com a persistência dos professores, sempre incentivando à continuidade, e dos alunos, fortalecidos pelo interesse em comum. 5. Considerações Finais 3/8 A experiência proporcionada foi de excelente aprendizado. A importância dos cursos oferecidos pôde ser observada no retorno da própria comunidade durante as aulas. O resultado do envolvimento entre alunos e professores do Projeto “Economia Popular Solidária” com a comunidade dos moradores do Bairro Bosques do Lenheiro foi, inegavelmente, positivo. Os Projetos de Extensão da UNIMEP, com sua comunidade de entorno, são de suma importância para o crescimento e para o desenvolvimento, tanto daqueles quanto dos alunos e professores envolvidos. Para a comunidade, quando se propõe à formação de cooperativas de trabalho, pois há a possibilidade de crescerem profissionalmente e de se estabelecerem econômica e socialmente. Para alunos e professores, pois passam a colocar em prática muito do que aprendem nas universidades e por aproximá-los da real necessidade desta e de outras comunidades. Caracteriza-se, assim, a necessidade e a importância desta troca social entre universidade e seu entorno. A Unimep, através do NEPEP, é pioneira em atuar socialmente nas diversas comunidades em que está inserida, movimento a ser respeitado e imitado por outras instituições. Ao sonhamos com um futuro melhor e com mais oportunidades para todos, devemos interferir e buscar o melhor para essas comunidades, aliando os conhecimentos que a universidade fornece e a prática adquirida em atividades extracurriculares, respeitando, porém, sua cultura e particularidades. A maior preocupação do grupo envolvido no Projeto Economia Popular Solidária era de mostrar à comunidade seus direitos enquanto trabalhador (módulo I) e as vantagens e desvantagens de ser um empregado comum, em contrapartida a participar de uma cooperativa (Módulo II), com possibilidade de maiores ganhos, geração de renda, conforme o afinco com o trabalho e afinidade do grupo envolvido. Abriu-se o leque de possibilidades para comunidade do “Bosques do Lenheiro” e permitiu-se aos alunos bolsistas e professores responsáveis participantes, uma maior sensibilização às causas sociais, bem como à criação de um sentimento mais altruísta e, também, a uma maior conscientização a respeito do mundo em que estamos inseridos, de pessoas que precisam de nosso apoio e de um pouco de nosso tempo para que também cresçam e se desenvolvam. A importância desta troca social, entre universidade e comunidade do seu entorno, é o que faz nosso desenvolvimento social e humanitário. A Unimep dá um exemplo altamente positivo ao atuar socialmente, preocupando-se não apenas em ensinar, mas a se envolver com a comunidade, procurando caminhos para resolver pendências sociais. Entendo que, se há uma preocupação da sociedade acadêmica com a comunidade que nos cerca, se atuamos para “construir as pontes que faltam”, se “ensinamos a pescar”, só podemos vislumbrar um futuro mais digno a todos. Apesar de, efetivamente, não se ter formado uma cooperativa junto ao grupo de moradoras do bairro com os quais se trabalhou, em razão do curto espaço de tempo laborado, plantou-se a semente inicial para que a mesma possa ser iniciada a qualquer tempo pelos indivíduos do grupo de moradores envolvidos. Essa semente consiste no esclarecimento das vantagens e desvantagens na formação de uma cooperativa, em contrapartida a outro emprego qualquer, seja formal ou informal. Nossa esperança é ver, no futuro, os frutos dessa experiência grandiosa. 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