DAIANA APARECIDA DOS SANTOS
TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL:
ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E
RENDA NO
MUNICÍPIO DE ROSANA-SP
ROSANA
2007
DAIANA APARECIDA DOS SANTOS
TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL:
ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E
RENDA NO
MUNICÍPIO DE ROSANA-SP
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado por Daiana Aparecida dos
Santos, como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. Ms. André Luís Vizzaccaro-Amaral
ROSANA
2007
DAIANA APARECIDA DOS SANTOS
TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL:
ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E
RENDA NO
MUNICÍPIO DE ROSANA-SP
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do grau de
Bacharel em Turismo e aprovado em sua forma final pelo Curso de Turismo da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Rosana - SP, ____/____/2007
______________________________________________________
Prof. Ms. André Luís Vizzaccaro-Amaral
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
______________________________________________________
Prof. Ms. Sergio Augusto Vizzaccaro Amaral
FAP-Tupã-SP / FCM-Unicamp
______________________________________________________
Prof. Fernando Luiz Zanetti
FCLAs-Unesp-Assis-SP
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Ms. André Luís Vizzaccaro-Amaral, por todos os conhecimentos
compartilhados, pelas experiências vivenciadas ao longo de todos os projetos de
extensão (Empresa Júnior, Geração Pontal, GESSC, Vocação) e a iniciação científica
que nos possibilitou várias publicações, além da relação amigável, respeitosa e das
palavras de incentivo vivenciadas ao longo da graduação.
Aos Meus Pais, pela confiança, credibilidade e incentivo de todos os anos e por serem
exemplos de luta e coragem.
Aos Amigos do Campus Experimental de Rosana que muito me ensinaram e ajudaram,
em especial a minha república (Thaisa, Priscila, Mariana, Ingrid e Mayne) que foram
minha Família durante os anos de graduação.
Aos Amigos de Primavera que nos recepcionaram e acolheram com muito carinho em
sua cidade, em especial aos Calangos do Cerrado.
Aos Funcionários e Professores do Campus Experimental de Rosana.
A Todas as Pessoas com as quais convivi durante esses anos, pelos bons momentos.
RESUMO
Este trabalho de Conclusão de Curso é fruto das vivências ao longo da graduação, no
curso de Turismo da Unesp de Rosana, além da experiência adquirida com a realização
da pesquisa de iniciação científica financiada pela Fundação de Ãmparo a Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP). O objeto de estudo desta monografia é a alegada
potencialidade turística que o município de Rosana-SP possui e que, aparentemente, não
desenvolve adequadamente. Seu objetivo geral foi o de aprofundar a compreensão do
contexto sócio-econômico em que se encontra o município em questão, a partir dos
dados da Fundação Estadual de Análise de Dados (SEADE), além de analisar a
perspectiva que a população local possui em relação ao desenvolvimento municipal,
questionando se o turismo pode vir a ser uma alternativa frente à exclusão social no
município. Tal objetivo geral foi dividido em alguns objetivos específicos. O primeiro
procurou analisar os dados SEADE do período de 2002 a 2007, referentes ao município,
à sua região e ao estado, para fins comparativos. O segundo objetivo buscou aprofundar
os dados estatísticos por meio de entrevistas com representantes de entidades
significativas do município e com moradores locais. O terceiro e último objetivo
específico referiu-se a uma análise geral do conteúdo pesquisado frente à discussão
bibliográfica, com o intuito de fazer uma reflexão sobre o turismo como uma alternativa
à exclusão social no município. Para a realização do estudo foi utilizado o método
qualitativo de pesquisa, com elementos da dialética marxista para a coleta e análise dos
dados, de modo que pudéssemos ter um melhor contato com a realidade local e
contribuir para ações futuras de inclusão social por meio do turismo.
Palavras-Chave: Turismo; Geração de Trabalho e Renda; Inclusão Social.
LISTA DE SIGLAS
AAPP: Associação Atlética Porto Primavera
ACE: Associação Comercial e Empresarial de Primavera e Rosana
CAPTUR: Cadeia Produtiva do Turismo Regional
CESP: Companhia Energética de São Paulo
CESPRI: Centro de Ensino Superior de Primavera
CONDEFATE: Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e
Turístico do Estado, nesse caso, do estado de São Paulo
CRASE: Centro de Referência de Assistência Social
DADE: Departamento de Apoio ao Desenvolvimento de Estâncias
FAEC:
FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ITESP: Instituto de Terras do Estado de São Paulo
OMT: Organização Mundial do Turismo
REC:Rosana Esporte Clube
SABESP:Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SDTS: Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade
SEADE: Fundação Estadual de Análise de Dados
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio as Pequenas e Médias Empresas
CETESB: Companhia Estadual de Saneamento Ambiental
UNESP: Universidade Estadual Paulista
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Localização do Município de Rosana (Mapa do Estado de São Paulo).
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2004.
Figura 02: Ponta do Estado de São Paulo – Divisão entre três Estados Brasileiros
(MS, SP e PR). Fonte: LIANG, 2005.
Figura 03: Pôr do Sol em Primavera (Rosana-SP). Fonte: LIANG, 2007.
Tabela 04: Imagem do Rio Paraná (Município de Rosana – SP) – Fonte: LIANG,
2005.
Figura 05: Pôr do Sol no Rio Paraná (Município de Rosana) – Fonte: LIANG,2005.
Figura 06: Balneário de Rosana. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE
ROSANA, 2004.
Figura 07: Grêmio em Primavera – Município de Rosana. Fonte: LIANG, 2007.
LISTA DE TABELAS
TABELA 01: Número de estabelecimentos e trabalhadores formais que ocupam os
diversos setores da economia no município de Rosana referentes ao ano de 2003.
TABELA 02: Número de estabelecimentos e trabalhadores formais que ocupam os
diversos setores da economia no município de Rosana referente ao ano de 2003.
TABELA 03: Rendimentos do município de Rosana, de sua região governamental e da
totalidade do Estado de São Paulo referente ao ano de 2000.
TABELA 04: Condições de vida do município de Rosana, de sua região governamental
e da totalidade do Estado de São Paulo referente aos anos de 2000 a 2002.
TABELA 05: Instituições representativas abordadas para realização das entrevistas e o
que se objetivava saber com cada uma delas.
TABELA 06: Representantes das instituições representativas, indicado por seus pares
para participarem das entrevistas.
TABELA 07: Pessoas abordadas nas incursões e suas respectivas localizações
TABELA 08: População do município de Rosana referente aos anos de 2002 a 2005.
TABELA 09: Empregos ocupados nos diferentes setores, referente aos anos de 2002 e
2003.
TABELA 10: Participação dos empregos nos diferentes setores e rendimento médio nos
empregos ocupados nos diferentes setores referente ao ano de 2003.
TABELA 11: Projetos e programas da Divisão de Assistência Social da Prefeitura
Municipal de Rosana.
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE 01: Entrevista com a coordenadora da Divisão de Assistência Social da
Prefeitura, Sraº Deize Cristina Silva Nunes.
APÊNDICE 02: Entrevista com a secretária executiva da Associação Comercial de
Primavera e Rosana, a Sraº Marlene Aparecida de Carvalho.
APÊNDICE 03: Entrevista com o presidente da Associação dos Moradores de
Primavera “Amoprimavera”, o Sr. Cícero Simplício.
APÊNDICE 04: Entrevista com o presidente da Associação dos Aposentados da CESP,
o Sr.º Ranufe Batista Leite.
APÊNDICE 05: Entrevista com a coordenadora de eventos da Divisão de Turismo,
Cultura e Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana, a Sra.º Daniela Marques
Antoniolo.
APÊNDICE 06: Entrevista com o Sr. Joabinadabe Gomes Mendes, morador do
município.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................... 11
Objetivos .............................................................................................. 13
Justificativa........................................................................................... 14
CAPÍTULO I: SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL . 19
CAPÍTULO II: METODOLOGIA........................................................ 30
Modelo do Estudo................................................................................. 30
Coleta de Dados do SEADE ................................................................. 32
Elaboração e Realização das Entrevistas ............................................... 33
Elaboração e Realização das Incursões ................................................. 35
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS .........................................................................................39
Detalhamento Descritivo dos Dados Sistematizados ............................. 39
Análise Final da Pesquisa ..................................................................... 70
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................ 76
APÊNDICES .......................................................................................... 79
Figura 01 – Localização do Município de Rosana (Mapa do Estado de São Paulo).
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2004.
INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso é fruto das pesquisas, dos
questionamentos e das análises realizadas ao longo da graduação, no curso de Turismo
da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rosana-SP, tendo como base a
realização de pesquisa de iniciação científica financiada pela Fundação de Âmparo a
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Voltado para a área de Turismo e Inclusão Social, seu objeto de
estudo é a alegada potencialidade turística que o município de Rosana, localizado no
extremo oeste paulista, numa região conhecida como Pontal do Paranapanema, possui e
que, aparentemente, não desenvolve adequadamente.
O município pertence à Região Administrativa de Presidente
Prudente, constituída por 20 municípios que integram o extremo oeste do Estado de São
Paulo. (VALLADARES; FARIA, 2002)
Em termos demográficos, no ano de 2006, a população de Rosana
contava com 26.581 habitantes (SEADE, 2007) e a localidade apresentou uma taxa de
urbanização bastante abaixo das médias da Região Governamental e do Estado. Sua
taxa de crescimento populacional, no entanto, mostrou-se acima das médias dessas
regiões. (SEADE, 2007)
No que tange à mortalidade geral e ao número de homicídios por
agressões, no ano de 2003 o município apresentou taxas inferiores e superiores,
respectivamente, em comparação com a sua Região Governamental. (SEADE,2007)
12
A região e o município são marcados por intensos conflitos sociais no
campo, bem como por graves problemas de desemprego e subemprego urbanos, mas
são, também, detentores de um significativo potencial turístico natural, justificando,
assim, um estudo exploratório que englobe a relação entre esses dois aspectos
(problemas socioeconômicos e riquezas naturais), de maneira sistematizada, a fim de
vislumbrar possíveis alternativas para a transformação da realidade local e regional.
Essa realidade advém de um passado atravessado por atividades
ligadas à cultura do café, às estradas de ferro, às áreas de preservação ambiental e às
usinas hidrelétricas.
Tais atividades eram responsáveis pela geração de trabalho e renda
para a localidade, entretanto, atualmente, não são suficientes para suprir as necessidades
da população. Esse quadro se agrava na medida em que a região é inserida em uma área
repleta de conflitos entre proprietários rurais e organizações sociais de trabalhadores
sem terra.
Ao mesmo tempo em que é marcado por contradições sócioeconômicas, o município é dotado de potencial turístico. O Pontal do Paranapanema é
rico em recursos naturais que podem ser explorados, de maneira sustentável, a fim de
possibilitar um maior desenvolvimento econômico e social, extensível a toda região.
De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Turismo com
Ênfase em Meio Ambiente, elaborado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP),
antes da implantação do mesmo no município, em 2003, os locais “exploráveis”
turisticamente, necessitando de recursos humanos local e, conseqüentemente,
movimentando a economia regional são: a confluência dos Rios Paraná e
Paranapanema; o marco geodésico (ponto mais distante da Praça da Sé em São Paulo,
dado como marco zero do município de São Paulo); a eclusa da Usina Hidrelétrica
13
Engenheiro Sérgio Motta no Rio Paraná, no município de Rosana, e todo o potencial
que esses rios “caudalosos e piscosos” podem proporcionar em termos de esportes
aquáticos, tais como: mergulho, pescaria, natação ou, simplesmente, a “tranqüilidade”
de suas praias. Além disso, há na região áreas de refúgio da fauna e da flora regional,
um núcleo habitacional urbano planejado (Primavera) que possui uma das mais
atraentes e preservadas áreas verdes do estado, entre outros atrativos. (UNESP, 2002)
No entanto, em pesquisa de iniciação cientifica realizada durante a
graduação, foi possível perceber que, atualmente, não há a crença, iniciativa e nem
tampouco preparo técnico por parte dos órgãos públicos e privados e da população local
em desenvolver tais atividades. Em termos técnicos e os dados apresentados talvez até
apontem a viabilidade de desenvolvimento de um turismo na localidade, mas o
questionamento a ser realizado deve ser levado mais além, levado as relações pessoais,
será que a população está preparada e quer esse desenvolvimento?
Diante de tal informação, o presente trabalho traz dados e informações
que corroboram e auxiliam na compreensão desse contexto, com o intuito de
proporcionar reflexões que possam colaborar com o processo de mudança da realidade
local.
Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é aprofundar a compreensão do
contexto socioeconômico em que se encontra o município de Rosana-SP, a partir dos
dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), com o propósito
14
de analisar o turismo como uma alternativa frente à exclusão social do município.
Tal objetivo geral divide-se em outros mais específicos, a fim de um
melhor desenvolvimento do trabalho. O primeiro deles é o de analisar os dados do
SEADE, referentes ao período de 2002 a 2007, pertinentes ao município, à sua região e
ao Estado de São Paulo, para fins comparativos. Tal objetivo visa à compreensão mais
detalhada da realidade e do contexto socioeconômico em que o município de Rosana, e
sua população rural e urbana, estão inseridos.
A partir de tais dados, este trabalho objetiva, também, correlacioná-los
com informações acerca do desemprego no município, por intermédio de representantes
de instituições significativas de Rosana-SP, como secretarias municipais, associação
comercial e de moradores e sindicato de trabalhadores, a fim de elaborar parâmetros
comparativos frente aos dados do SEADE.
Com base nesse estudo, temos como objetivo específico, ainda,
analisar a viabilidade do desenvolvimento de um turismo sustentável e participativo
para o município e por meio da revisão bibliográfica subsidiar, com informações
sistematizadas, ações e estudos futuros que vislumbrem alternativas de geração de
trabalho e renda para a população local.
Justificativa
Como vemos, vários são os fatores que fazem do município de Rosana
um local com relevantes problemas sociais e, outros vários, são os recursos turísticos
existentes na localidade que podem transformar essa realidade.
15
Problemas relativos ao desemprego e subemprego urbano são frutos
da retração das atividades econômicas (cultura do café, estradas de ferro, áreas de
preservação ambiental e usinas hidrelétricas) do município e que, hoje, já não
conseguem suprir as necessidades da população. O problema no campo intensifica ainda
mais esse quadro.
Em meio a esse contexto, o turismo pode ser compreendido como uma
ferramenta promissora no processo de inclusão social no município de Rosana. Ações
relacionadas a ele poderão favorecer não apenas a população do município, mas
também a da região do Pontal do Paranapanema. Mas vale lembrar que as relações
pessoais devem sempre ser serem colocadas em discussão e compreensão.
A viabilidade dessa proposta consiste nos principais atrativos da
região como atrativos naturais, além de infra-estrutura básica, áreas de entretenimento e
lazer e locais para realização de eventos. A seguir uma tabela listando tais recursos:
!
$
! "
#
%
&
$
!
'
(!
! )* )
.
/
#
0 (!
!
+
# .
" .
3
!
6
Fonte: UNESP, 2002
+
,
&!"
.
0
1)
$
2 "
.
!
. 4
5 &
. 4
.
&
&!
&
&
" . !
(
(
(
(
.
0
&
&
"
7
8
16
Outro aspecto relevante para o processo de implantação do turismo no
município, é o fato da atividade turística estar inserida no setor de serviços que, por sua
vez, emprega o maior número de trabalhadores formais do município, atualmente,
mesmo não sendo o setor que possui o maior número de estabelecimentos, como mostra
a tabela a seguir:
1
!
"
#$$%
&
'
3 9
1
:
&
1
8 04
1
*
;
1
11$
!
1
1,1
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE)
(
!
*
$,$
)*1
1) :
Toda a estrutura existente no setor de serviços e de infla-estrutura
turística, no entanto, embora apresente-se quantitativamente de maneira interessante,
apresenta, também, por outro lado, algum tipo de problema relativo à sua qualidade
(seja no produto/serviço, seja no atendimento), denotando clara necessidade de
aperfeiçoamento nesse sentido, mostrando a possibilidade do turismo vir a se tornar
uma alternativa para a exclusão social no município promovendo a geração de trabalho
e renda à população local.
Diante disso, é justificada a necessidade de estudos exploratórios que
possibilitem a melhor compreensão dos elementos envolvidos nesse contexto e que
contribuam para a minimização dos efeitos dele decorrentes.
Figura 02: Ponta do Estado de São Paulo – Divisão entre três Estados Brasileiros
(MS, SP e PR). Fonte: LIANG, 2005.
CAPÍTULO I: SÍNTESE DA
BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL
Após apresentado os objetivos e justificativas para a pesquisa,
partiremos para dados já estudados, dando mais embasamento ao nosso trabalho.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001), o
turismo possui uma ausência de definições conceituais claras que delimitem a atividade
turística e a distinga de outros setores.
Isso acontece devido à relativa “juventude” da área do turismo
enquanto campo de saber e de atividade socioeconômica, em geral, e a seu complexo
caráter multidisciplinar, pois o turismo engloba uma grande variedade de setores
econômicos e de disciplinas acadêmicas. (OMT, 2001)
No entanto, é necessário criar um marco conceitual que atue
como ponto de referência para que, entre outras coisas, possa
elaborar boas estatísticas turísticas internacionais, pois com a
grande pluralidade de sistemas estatísticos que existem
atualmente, torna-se difícil expressar a importância da
atividade turística em toda a sua amplitude. (OMT, 2001, p.
35)
Contudo, a definição adotada pela OMT (1994 apud OMT, 2001)
aponta, ao menos, certos aspectos da atividade turística: “o turismo compreende as
atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes
ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade
de lazer, negócios ou outras”. (OMT, 1994 apud OMT, 2001, p.38)
20
Assim como a OMT, outros autores também tentam conceituar o
turismo, criando várias outras definições, cada qual com uma visão particularizada a
respeito da atividade, dadas as diferenças de suas formações.
Robert McIntoch (apud BENI, 2003) definiu o turismo como sendo “a
ciência, a arte e a atividade de atrair e transportar visitantes, alojá-los e cortesmente
satisfazer suas necessidades e desejos”. (McINTOCH apud BENI, 2003, p.12)
Já para o economista austríaco Herman Von Schullard (1910 apud
BENI, 2003), o turismo pode ser compreendido como “a soma das operações,
especialmente, as de natureza econômica, diretamente relacionada com as entradas, a
permanência e o deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país,
cidade ou região”. (SCHULLARD, 1910 apud BENI, 2003, p.34)
Jafar Jafari (apud BENI, 2003) incorpora no estudo turístico, teorias e
conceitos de campos afins como o da antropologia, sociologia, economia, geografia,
ciências políticas, ecologia e estudos urbanísticos, construindo, assim, uma definição
mais holística do turismo. Segundo ele, o turismo é “o estudo do homem longe de seu
local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que
ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da
área receptora”. (JAFARI apud BENI, 2003, p.36)
Ainda nessa tendência holística da explicação do turismo, os
professores suíços Hunziker e Krapf (1942 apud BENI, 2003), definem o turismo como
sendo “a soma dos fenômenos e das relações resultantes da viagem e da permanência de
não-residentes, na medida em que não leva à residência permanente e não está
relacionada a nenhuma atividade remuneratória”. (HUNZIKER; KRAFT, 1942 apud
BENI, 2003, p.36)
Desta forma, essas definições fazem do turismo um campo de saber e
21
uma atividade pertencente a várias perspectivas: econômica, pragmática, cultural,
social, etc. Tal pluralidade pode ser compreendida, então, como dissemos, levando-se
em conta a formação de cada um dos estudiosos da área.
Para Lage (2001), especialista em economia do turismo e teoria da
comunicação
e
Milone
(2001),
especialista
em
economia
internacional
e
desenvolvimento econômico, o turismo é uma das áreas que mais cresce no país,
oferecendo uma grande oferta de empregos diretos e indiretos, que muitas vezes acabam
sendo ocupados por pessoas não-qualificadas. (LAGE; MILONE, 2001)
Já para Beni (2003), doutor, livre-docente e professor titular em
turismo, esta atividade pode ser utilizada como uma fonte de geração de emprego e
renda, e como um instrumento de prática social. No entanto, ainda consiste em uma
atividade com defasagem na área de pesquisa, fazendo com que, muitas vezes, os
recursos que poderiam ser utilizados para o desenvolvimento turístico não sejam
utilizados de maneira adequada, sem o parecer da população local, que deveria ser a
mais beneficiada.
Beni (2003) acredita que para a atividade turística ocorrer com
sucesso é necessário que haja uma associação entre a matéria-prima turística local
(patrimônio histórico, paisagem natural, etc.) e a infra-estrutura urbana e de acesso
(hotéis, restaurantes, estradas, etc.). Assim, é possível integrar-se a um processo capaz
de transformar a atividade turística em produto acabado para o consumo.
Ainda acerca do conceito de turismo, Portuguez (2002) traz-nos uma
contribuição importante:
Durante muitos anos, o turismo foi encarado como atividade
exclusiva das classes mais afortunadas, sendo, portanto,
símbolo de status social e de uma maneira elegante de viver,
desejada pela imensa maioria da população, sobretudo nos
países ocidentais onde iniciou sua projeção como atividade
22
econômica.
A partir da segunda metade do século, o turismo passou a
galgar novos degraus na escala de valores sociais, uma vez que
inúmeros fatores proporcionaram sua popularização. O turismo
atual caracteriza-se por crescente massificação, mas também
vem sendo planejado para atender a um público cada dia mais
diversificado e exigente, com oferta de modalidades mais
elitizadas.
Essa atividade social projetou-se tanto que se costuma dizer
que ela ocupa hoje posição de relevo no cenário produtivo
internacional, tendo mesmo ultrapassado os rendimentos do
petróleo e do comércio de armamentos. Em função da escassez
de dados confiáveis, não se pode posicioná-lo em relação a
duas outras atividades sociais também relevantes: o
narcotráfico e a movimentação financeira das religiões. No
entanto, acredita-se que até em relação a elas o setor seja
privilegiadamente situado.
E foi justamente pelo fato de ter alcançado tal patamar,
logicamente como fruto de sua inclusão artificial no rol das
necessidades humanas (A. B. Rodrigues, 1997: 26),
pressuposto para sua massificação, que o turismo despertou o
interesse de numerosos empresários e gestores públicos, que
nele vislumbraram a oportunidade de grandes conquistas
financeiras. (PORTUGUEZ, 2002, p. 21)
Portuguez (2002) comenta, ainda, sobre a existência do artigo nº 180
da Constituição Brasileira de 1988: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os
municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social
e econômico” (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988: 123 apud
PORTUGUEZ, 2002, p.22). A redação desse artigo revela o grau de comprometimento
do governo federal com o setor, mostrando ainda o quanto o turismo ganhou respeito
nas várias instâncias da gestão territorial.
Com base nisso, o turismo se mostra como uma alternativa de
desenvolvimento regional sustentável e de inclusão social, reconhecido pela própria
constituição federal brasileira. No entanto, é questionável o papel do turismo como
salvação dos problemas econômicos nacionais, seu crescimento é significativo, mas as
questões humanas muito influenciam no bom andamento da atividade e devem sempre
ser levadas a um patamar de discussão relevante.
Porém a questão que se nos apresenta, diz respeito à viabilidade do
23
desenvolvimento do turismo no município de Rosana, levando em consideração a
riqueza natural do município e, ao mesmo tempo, sua realidade socioeconômica,
marcada pela exclusão social, e os impactos ambientais de seu desenvolvimento.
Sobre uma reflexão pautada na importância da participação da
sociedade na discussão sobre o turismo, Trigo & Netto (2003) apontam que o turismo
no Brasil exige uma discussão ampla sobre o modelo de desenvolvimento que está por
trás da economia e da sociedade como um todo. Essa discussão envolve outras questões
como a cidadania, o meio ambiente, a ética, a sustentabilidade e a necessidade de uma
inclusão maciça de pessoas. A responsabilidade das universidades, segundo os autores,
é de tratar teoricamente essas questões, exatamente o oposto das críticas de alguns que
encaram os cursos superiores de turismo como muito “teóricos” e pouco direcionados
ao “mercado”. (TRIGO; NETTO, 2003)
Se a intenção é produzir um turismo responsável, que gere lucro, mas,
em contrapartida, promova a inclusão, muito deve ser feito. O turismo, por ser uma
atividade jovem e em expansão, ainda possui um longo percurso até chegar a um
patamar de consolidação que atue em prol do meio ambiente, da população local e do
turista como uma atividade que cause o mínimo impacto e traga benefícios:
A academia está se conscientizando dos problemas estruturais do turismo
mundial e nacional. Turismo é um fenômeno que não cria apenas empregos,
impostos e desenvolvimento. Se mal planejado e implementado, é fator de
poluição, exclusão social, concentração de renda, aumento da prostituição,
incremento da exploração sexual infantil e comprometimento em projetos
mal elaborados. (TRIGO; NETTO, 2003. p. 98)
Um outro fator relevante nesse contexto diz respeito à pouca
credibilidade que o turismo possui em relação à população como um todo. Vivemos em
um país onde ainda não se criou a cultura da prática turística, onde a valorização da
cultura, dos hábitos, de elementos físicos, naturais, ainda não são levados em
24
consideração tanto quanto poderiam.
Mas isso é algo que só poderá ser solucionado se for realizado um
trabalho de base com todos os setores, como o público, o privado e as populações locais,
sobretudo, também, se for realizado a longo prazo.
A responsabilidade pelas questões relacionadas ao turismo não é exclusiva
dos governos, mas da sociedade organizada como um todo. Empresários,
profissionais, organizações não-governamentais, sindicatos e comunidades
organizadas devem participar e se comprometer com os resultados
decorrentes dos projetos turísticos. Evidentemente isso implica acesso à
educação e à informação para que as pessoas possam discutir as questões
relativas ao turismo com maior conhecimento. O problema é que não há o
costume de respeitar as comunidades como atores legítimos que devem ser
ouvidos e, por outro lado, algumas organizações partidarizam as questões e
tratam de bloquear boas iniciativas por causa do posicionamento político
partidário particular, ou seja, por politicalha. São precisos investimento
maciço em educação básica, planejamento coletivo eficiente e canais de
comunicação entre empresas/governo/sociedade. (TRIGO; NETTO, 2003. p.
98)
É nesse contexto que pensamos um turismo para o município de
Rosana, em que haja investimentos, a busca constante por conhecimento, a valorização
dos recursos, a interação entre todos os setores em direção a um mesmo ideal, que
venha de encontro com as necessidades e pretensões de todos. É justamente nessa
compreensão que se insere o nosso trabalho.
Dados da fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE),
referentes ao ano de 2000, revelam que 10,17% da população de Rosana não obtiveram
nenhuma fonte de renda ao longo do ano, número este acima dos valores detectados na
Região Governamental e no Estado, conforme sinaliza a tabela 03.
De acordo com a mesma tabela, há grande parcela da população com
renda insuficiente para suprir, até mesmo, suas necessidades básicas, precisando, assim,
de novas formas de geração de trabalho e renda.
25
"
'
"
+
)
*
" *
"
"0
! /
<
!
1
= !
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
=
!
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
1 !
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
1
!
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
, !
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
,
!
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
?
!
) )
>
#
"0
! /
<
!
1
)
>
#
"0
! /
<
!
1
! 4@
#
)
>
#
6
#
"0
1
! /
<
! )
#
B!
1
)
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE).
*
#$$$
,
"
.
#
.
#
.
#
.
#
.
#
.
#
.
#
.
#
.
&
'
-
#
1
,
1
,
$
1,
*
, $
1
$
: :,
,
: $:
* $
$
$
*
: $*
A
A
: 1 :
Além disso, Rosana vem sofrendo um declive nas condições de vida
da população local, pois, segundo a tabela 04, o município caiu do grupo 03, de
condição de vida, em 2000, para o grupo 05, em 2002, o que indica que saiu do nível
baixo de riqueza (mas com bons indicadores nas outras dimensões — nível 03) para a
posição de município desfavorecido, tanto em riqueza como nos outros indicadores
(nível 05).
Desta forma, é possível perceber que há uma parcela significativa da
população do município vivendo em condições precárias, realidade esta que pode ser
comparada com outras áreas do território nacional.
De acordo com Pochmann & Amorim (2002), o Brasil, no terceiro
milênio, está inserido em um contexto repleto de problemas decorrentes de questões
sociais. Ao longo do território do quinto maior país do mundo há alguns
“acampamentos” de inclusão social em meio a uma ampla “selva” de exclusão, que se
estende por praticamente todo o território nacional.
,:
A
)
1
26
*
.
*
/
"
'
#$$$
.
/
/
@ #? C
/
/
@
0
@
!
,
1
1
2
1
*
*:
*
2
1
" *
"
1
1
2
*
#$$#
0
1
1
1
1
1
1
)
+
&
D6
E )
,D6
? C
<
*
*$
*$
<
0!
<
3
/'6 D G
1
: *
3
/'6 D
# H
1
:$
6
!
Fonte: Fundação Sistema estadual de Análise de Dados (SEADE)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
? C - %
F0
)
'
,
,
**
,1
A
A
A
A
)
)
)
: *
)
)
)
I
Para os autores, essa “selva” de exclusão social abrange 2.290
municípios que possuem índices de exclusão social até 0,4 (índice que exprime uma
situação de maior exclusão social). Dentre esses municípios, 72,1% (1.652 municípios)
estão localizados na região Nordeste, 13,9% (318 municípios) na região Norte, 10,4%
(239 municípios) no Sudeste, 2% (45 municípios) no Centro-Oeste e 1,66% (36
municípios) na região Sul.
Segundo Baltar, Dedecca & Henrique (1996), no decorrer de todo o
processo de desenvolvimento do Brasil, houve uma substituição dos empregos
industriais e de serviços formalizados por empregos não formalizados, permitindo a
consolidação de uma nova forma de exclusão social, tornando profundas as
desigualdades sociais nacionais.
Seguindo os estudos de Márcio Pochmann, entramos em contato com
outras três obras: Desenvolvimento, trabalho e solidariedade: novos caminhos para a
inclusão social, Outra cidade é possível: alternativas de inclusão social em São Paulo e
Políticas de inclusão social: resultados e avaliação voltadas para as políticas de
27
inclusão social.
As obras, resguardadas suas especificidades, abordam experiências
municipais de combate à exclusão social. Na oportunidade de nossa pesquisa de
iniciação científica, optamos por conhecer as ações que foram realizadas na prefeitura
de São Paulo, no Governo Marta Suplicy, gestão 2001/2004, a fim de termos condições
de abstrair modelos práticos de inclusão social sem perder de vista um olhar mais crítico
acerca das políticas públicas de “combate” à exclusão social.
Segundo Pochmann (2002), as diretrizes do trabalho da administração
do governo de Marta Suplicy (gestão 2001/2004), a partir de 2001, procurou superar
dois grandes “constrangimentos” estabelecidos no exercício de definir e implementar
uma ampla estratégia de inclusão social. De um lado, tratou-se de estabelecer uma nova
concepção de gestão administrativa para permitir o desencadeamento do conjunto de
ações voltadas para a inclusão social. De outro, procurou-se organizar uma estratégia de
políticas públicas municipais ampla o suficiente para o enfrentamento simultâneo da
pobreza, de desemprego e da desigualdade de renda.
Ainda, segundo o autor, para a concretização de tal estratégia, a
solução encontrada foi a criação e a instituição de uma secretaria de projetos que fosse
ágil, enxuta e eficaz, capaz de articular o conjunto do governo municipal (secretaria e
empresas públicas) e organismos não-governamentais. Essa foi a diretriz definida pela
prefeitura de forma a integrar um amplo conjunto de programas sociais e do trabalho,
tanto interna e externa quanto territorialmente. Surgia, naquela ocasião, a Secretaria do
Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade (SDTS) no município de São Paulo.
Uma opção tomada no âmbito da SDTS foi repensar a estrutura de
decisões, de gestão e de coordenação para as ações do governo. Esse foi o caminho
adotado tendo em vista a urgência de se criar, do nada, uma nova secretaria municipal
28
(diferente das demais) com todas as estruturas administrativas.
Até
o
presente
momento
de
nossa
discussão
bibliográfica
apresentamos informações gerais do turismo, do município de Rosana, da realidade
social a qual estamos inseridos, além de exemplo de políticas públicas que vêm
ocorrendo.
Diante disso, vimos que uma alternativa para minimizar os problemas
sociais mostrados pode ser o desenvolvimento do turismo, em áreas com potencial,
como é o caso do município de Rosana. Mas para que seja possível tal ação, os órgãos
públicos, privados e população local devem estar integrados e preparados para o
desenvolvimento da atividade.
Figura 03: Pôr do Sol em Primavera (Rosana-SP). Fonte: LIANG, 2007.
CAPÍTULO II:
METODOLOGIA
Modelo do Estudo
Para a realização da pesquisa foi utilizado o paradigma qualitativo de
pesquisa, de modo a permitir uma análise das relações entre as opiniões e demandas da
população local e o contexto socioeconômico no qual está inserida, a fim de realizar um
trabalho mais próximo da realidade local a partir de nuanças específicas que uma
abordagem mais subjetiva possibilita.
A pesquisa foi desenvolvida em três fases. Na primeira fase foram
realizadas, concomitantemente, a coleta de dados junto ao site da Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados (SEADE), a fim de aprofundar a compreensão do
contexto socioeconômico em que se encontra o município de Rosana, e a pesquisa
bibliográfica e documental para a revisão da literatura.
Na segunda etapa, foi dado ênfase à pesquisa de campo e, com isso,
foi realizada a abordagem de representantes, de cada uma das instâncias sociais
(governo, capital e trabalho) e a realização de entrevistas semi-diretivas com os
representantes selecionados. Os representantes foram selecionados por seus pares, cada
qual em sua instituição de filiação, num total de cinco entrevistados. A tabela a seguir
discrimina quais foram as instituições representativas e o que se objetivou compreender
com cada um dos representes.
31
,
/
1
/
/0 @
. F
J
6
/0 @
. F
.
.
"
4@ &
0
!
8
#
!
A8.
&!
! #
6
!
A8.
!
#
4@
6
0
N
0
&
0
O
4@
& 8.
2
1
'
•1 . F!
K
•2 ;
@ ! !C
< K
•3 L
@
M
!
4@
-!
?
< 0
%
)
•1 .
!
<
<
!
6
K
•2 L
M
!
%
< )
•1 ; ?
"
<
04 K
•2 &
%
?
@
< K
•3
-!
!
0!
0
<
!
0
! @
!
<
#
)
•1 L !
-! ?
4@
!C
< K
•2 &
4@
%
?
@
! !
K
•3 &
4@
%
?
@
< )
•1 L
•2 &
•3 &
!
-! ?
4@
4@
%
%
4@
?
?
!C
@
@
!
!
K
#
K
< )
A terceira fase dedicou-se à execução de incursões nos núcleos
habitacionais do município (perímetro urbano de Rosana e de Primavera e os bairros
Campinho e Beira Rio) com o intuito de entrarmos em contato mais direto com a
população local, procurando, ao mesmo tempo, avançarmos em relação aos discursos
dos representantes de instituições públicas ou privadas referidas e compararmos o
conteúdo de suas falas com o que a população em geral, de certa forma, compreende a
respeito do tema. Além disso, realizamos uma entrevista semi-dirigida com um morador
específico do município, bastante envolvido com a história e com os problemas
existentes na localidade.
Para a execução deste trabalho foram necessários materiais como
aparelho gravador e materiais de escritório, sobretudo para a realização das entrevistas,
além de um computador com programas para a edição de texto e de planilhas e com
acesso à Internet, para a realização da pesquisa em bases de dados.
O trabalho de campo (entrevistas e incursões) foi realizado nas
proximidades da unidade universitária a que estamos vinculados e nos perímetros
urbanos do município, englobando assim, um universo de pessoas restrito, porém
32
acessível.
Coleta de Dados do SEADE
A primeira etapa da pesquisa foi a realização de uma coleta de dados
no sítio eletrônico da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), a fim
de, como já mencionamos, aprofundar a compreensão do contexto socioeconômico em
que se encontra o município de Rosana, e com o propósito de analisar o turismo como
uma alternativa frente à exclusão social do município.
O SEADE, em seu sistema de fornecimento de dados, proporciona aos
pesquisadores elaborarem suas próprias tabelas, de acordo com o cruzamento de
informações que julgarem necessários. Foi a partir dessa ferramenta que preparamos o
material que será discutido mais a frente.
Trabalhamos com os dados disponíveis no sítio eletrônico do SEADE,
mais especificamente com os contidos no link “informações municipais” e nos sub-links
“informações dos municípios paulistas” e “perfil municipal”. Dentro desses sub-links
selecionamos o município de Rosana, juntamente com sua região administrativa e
governamental, Presidente Prudente, e a totalidade do Estado de São Paulo, para fins
comparativos.
Além das seleções realizadas, selecionamos, também, os períodos os
quais julgávamos mais interessantes trabalhar, que foi de 2002 a 2005. Lembramos,
contudo, que poucas foram as variáveis que apresentavam, de fato, dados de 2002 a
2005.
33
Finalizando a coleta de dados junto ao SEADE, selecionamos as
variáveis que nos proporcionaram uma visão do contexto socioeconômico do município.
Após a obtenção desses dados tentamos sistematizá-los em tabelas
para facilitar a visualização e a análise dos mesmos. As informações, na íntegra, estão
apresentadas no item detalhamento descritivo dos dados tabulados deste trabalho.
Elaboração e Realização das Entrevistas
A técnica utilizada para o trabalho de campo da nossa pesquisa foram
as entrevistas semi-dirigidas e incursões realizadas nos núcleos habitacionais do
município. Nesse sentido, é importante apresentarmos como se deram a realização das
entrevistas. Para a elaboração de tais entrevistas foram seguidas, em princípio, as
informações presentes na tabela apresentada no item modelo de estudos, item
componente do segundo capítulo dessa pesquisa, constando as instituições
representativas as quais gostaríamos de abordar e o conteúdo a ser pesquisado junto às
mesmas.
A seguir, uma tabela, contendo os representantes indicados por cada
uma das instituições para as entrevistas e os cargos que ocupavam dentro das mesmas.
34
"
/
)
)
/
"
"
.
*
/
/0 @
. F
/0 @
. F
.
.
J
6
4@ &
0
6
8
!
! #
A8.
&!
0
! #
A8.
!
!
#
4@
6
0
N
4@
&
0
O
& 8.
8 P/ C &
8 P/
!6 ?
8!
0 I
&
!
&
8 P6 !
& 0! 8 !
0
8
8 )&<
8< !
<
.
F
.
8 )#
0
"
%
0
Levamos para a realização das entrevistas os objetivos listados na
tabela 05, em forma de um roteiro de perguntas. No decorrer da entrevista, no entanto,
foram elaboradas outras questões, conforme as informações prestadas pelos
entrevistados, a fim de enriquecer a coleta de dados, conforme os preceitos da entrevista
semi-dirigida.
Em relação aos entrevistados, abordamos as entidades e solicitamos o
nome de um representante que nos foi passado imediatamente. Ainda que tenha havido
a pronta indicação dos nomes a serem entrevistados, tivemos um pequeno contratempo
na realização da entrevista com a Amoprimavera e com a Divisão de Turismo, Cultura e
Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana.
Com relação à Amoprimavera, o contratempo referiu-se ao não
comparecimento do representante a 03 (três) agendamentos realizados com
antecedência. Já com a Divisão de Turismo, Cultura e Eventos, o contratempo se deu
em função do afastamento da coordenadora da Divisão por motivos jurídicos (Lei do
Nepotismo), tendo a entrevista sido realizada, então, com a coordenadora de eventos da
Divisão, indicada pelo órgão, uma vez que o cargo de Coordenadora Geral da Divisão
se encontrava, temporariamente, vago.
Além das entrevistas realizadas com representantes de instituições
significativas do município, fizemos, também, uma entrevista com um morador local, já
35
citado anteriormente.
Os
contratempos
referidos,
embora
tenham
atrasado
o
desenvolvimento da pesquisa, não influenciaram, todavia, no resultado final do trabalho.
As entrevistas realizadas encontram-se transcritas e presentes no final deste trabalho,
como apêndice.
Elaboração e Realização das Incursões
O interesse por essa estratégia de pesquisa se deu a partir do
questionamento que nos fizemos a respeito da representatividade dos entrevistados.
Notamos em seus discursos elementos, muitas vezes, pessoais que colocaram em dúvida
se de fato o conteúdo era uma expressão da categoria ou do grupo representado ou,
simplesmente, um posicionamento pessoal do representante. Com isso, sentimos a
necessidade de mantermos um contato mais direto com a população local, ou seja, com
os moradores do município de Rosana.
Os procedimentos utilizados para o trabalho de campo foram as
incursões nos núcleos habitacionais do município, onde realizamos visitas a
determinados locais pré-programados estabelecendo uma conversa informal com as
pessoas que neles se encontravam naqueles momentos e circunstâncias.
Em cada visita conversamos com os moradores de maneira informal,
objetivando compreender melhor suas impressões do município e dos temas de nossa
pesquisa, sem a imposição de ferramentas para o registro das informações (como
gravador, papel e caneta) e sem roteiros diretivos.
36
No perímetro urbano de Primavera, escolhemos um local onde é
comum os moradores se reunirem para conversar e passar o tempo, e sentamos com eles
a fim de participarmos do “bate papo”. Deparamos-nos com um grupo de três
moradores locais, com o qual conversamos por um período de aproximadamente uma
hora.
No perímetro urbano de Rosana, conversamos com uma senhora, exmoradora da gleba XV de Novembro, desempregada e com várias dificuldades para
sobreviver no município.
Além da senhora, falamos com outros dois moradores do perímetro
urbano de Rosana, ambos aposentados das empresas que atuaram na construção das
usinas hidrelétricas de Primavera e de Rosana, um deles funcionário da empresa
Camargo Corrêa, e que permaneceram no município após o término das obras.
Já no bairro Campinho, falamos com um morador do município há 22
anos, atualmente desempregado, que também trabalhou na construção das usinas e se
manteve no município a partir de então, e que, atualmente, mantém-se fazendo “bicos,
quando aparecem”.
A última incursão realizada foi ao bairro Beira-Rio, onde conversamos
com um pescador antigo do bairro, que relatou os problemas que ele e os demais
pescadores do local vêm passando em relação às leis ambientais.
A seguir uma tabela com a relação das pessoas abordadas nas
incursões e os respectivos bairros de cada um.
37
+
/
!
.
/
+
0
J
%A
#
)
2!- QR
I 0
-
)
&
6
#
<
"11
)
.
Como dissemos, as abordagens foram feitas de maneira informal com
a intenção de estabelecer um contato mais próximo com a população municipal. Duas
das pessoas com as quais conversamos (o morador do bairro Campinho e o do BeiraRio) nos convidaram para entrar em suas residências, onde conversamos durante um
período de aproximadamente 30 minutos.
As incursões ao perímetro urbano de Rosana, bairros Campinho e
Beira Rio foram realizadas em um mesmo dia, devido à nossa dificuldade de locomoção
aos núcleos habitacionais, dada a distância entre eles. Não há opções de transporte
público para os bairros Campinho e Beira-Rio, somente para o perímetro urbano de
Rosana, distante 13 (treze) quilômetros de Primavera, o que dificultou bastante a
presença nos locais.
Tabela 04: Imagem do Rio Paraná (Município de Rosana – SP) – Fonte: LIANG,
2005.
CAPÍTULO III:
APRESENTAÇÃO E
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Detalhamento Descritivo dos Dados
Sistematizados
Neste item, apresentaremos, detalhadamente, os dados obtidos no
decorrer da pesquisa, a partir das ferramentas metodológicas escolhidas e já descritas no
capitulo anterior, no que tange aos dados obtidos nas etapas iniciais da pesquisa, ou
seja, durante a coleta de dados do SEADE, da realização das entrevistas e das incursões,
procurando correlacionar as informações obtidas.
Inicialmente faremos a análise da população do município de Rosana,
em termos demográficos e de ocupação, e com o perfil dos moradores residentes. Os
dados demográficos e de ocupação estão presentes na TABELA 08.
40
-!
#$$3
:
+
+
"
#$$#
#$$#
+
'
&
" *
" *
+
+
+
.
!4@
.
!4@ S -
.
!4@ #
+
!
!
,
+
+
:
)
"
1
1
:)1 )$,
,
)
* :
1
1
,) 1)
:$
:$)
1*
*:*)
*1
1
1
1)
*, )
: 1
):
)*
1*)
$
)
,*
)
*
#$$%
+
'
&
" *
" *
+
+
+
.
!4@
.
!4@ S -
.
!4@ #
+
!
1
!
,
-
:) :)
1
)
1, )
,,
1
1)
* *)*:
+
+
:
)
"
,
$)
)
1,)
*$ )
:
:)
11
,)
:
),
$)
,$:
#$$4
" *
" *
-
'
+
.
!4@
.
!4@ S -
.
!4@ #
+
&
+
!
!
1
*
$)1 )
1
*
)
:*,)
*
1
*
+
+
+
+
: *),,
"
,
)
1
1)
*: )*,
,
)
::$
1,):,
*$$)
1$
)
:*,
:)
$$
*)
,$1
)
:
#$$3
" *
" *
-
'
+
.
!4@
.
!4@ S -
.
!4@ #
&
+
!
!
1
,
$)
$*$)
*:
1
,
)
* 1)
1,
1
,
1)
,
+
+
)
1
+
+
:1 )
:$,
)
:
)1$
,
"
,: )
1
1 )$$
, 1)
$*
) $
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE)
A partir da visualização das tabelas, é possível constatarmos que a
população de Rosana vem crescendo anualmente, chegando ao ano de 2005 com 26.199
habitantes. Sua população rural em todos os anos analisados é, significativamente,
maior que sua população urbana.
Devemos ressaltar, porém, que o núcleo habitacional de Primavera é
considerado, pela estatística, uma área rural. Para entendermos um pouco melhor a
inserção desse núcleo ao município, segue um trecho da entrevista realizada com o
),
$)*$
41
presidente da Associação dos Aposentados da CESP, um dos pioneiros na construção do
núcleo:
Quando nós chegamos aqui, a cidade não existia. A cidade foi construída
para construir a obra, pois não tinha local para morar e em Rosana não tinha
condições. Tinha que viajar muito, então a CESP fez um estudo. Era mais
barato comprar um canteiro e construiu um núcleo residencial para os
funcionários ficarem mais perto da obra. Era mais viável a construção desse
núcleo. Surgiu, então, Primavera. (LEITE, 2006)
Esse relato nos mostra o motivo da construção do núcleo de
Primavera. A seguir um outro relato, também, do Sr. Leite a respeito de como foi o
repasse do núcleo para o município.
Mas quando a CESP resolveu privatizar, o que aconteceu? Ela tinha que
ficar livre da cidade, então, ela tinha que vender a cidade, vender não, mas
passar a cidade para um órgão municipal. Foi quando passou para a
prefeitura. Com isso a CESP tem um prazo de 72 a 78 meses para ajudar a
manter a cidade, inclusive esse prazo está terminando agora. (LEITE, 2006)
Como pudemos notar, Primavera é um núcleo urbano que foi
construído para abrigar os funcionários durante a construção da Usina Hidrelétrica
Engenheiro Sérgio Motta. Ao término da construção, o núcleo foi doado ao município,
mas, mesmo sendo uma área mais desenvolvida que o núcleo urbano de Rosana, é
considerado uma área rural. Por isso, o motivo da disparidade tão grande do número de
moradores da área rural e urbana. Mas mesmo que Primavera seja incluída como área
rural, ainda existe no município um grande contingente de pessoas vivendo nos bairros
rurais (Campinho e Beira Rio, por exemplo) e nos assentamentos, sendo essas últimas
efetivamente rurais.
Uma prova de que o núcleo habitacional de Primavera é uma área
urbana e mais desenvolvida que o núcleo habitacional de Rosana é o fato da Associação
Comercial do Município ter sede em Primavera. A seguir o relato da secretária
42
executiva da Associação Comercial de Primavera e Rosana a respeito do motivo da
Associação ter se instalado em Primavera: “a Associação Comercial abrange o
município todo. Instalou-se em Primavera pelo fato de que Primavera possui maior
número de comerciantes do que Rosana.” (CARVALHO SILVA, 2006)
Um outro fator interessante, que nos chamou a atenção, foi em relação
à percepção que as pessoas, principalmente da área urbana, possuem, em relação à idéia
de esvaziamento da cidade. Elas relatam que a cidade está “acabando” e que as pessoas
“estão indo embora”, o que contradiz com os dados apresentados pelo SEADE, onde há
um aumento da população a cada ano. Essa visão, pelo que podemos afirmar a partir dos
dados da tabela 08, é da população dos núcleos urbanos, pois dados comprovam que há
uma oscilação de número de habitantes de um ano para o outro, principalmente de 2004
para 2005 que há uma queda de mais de 1.000 habitantes na área urbana.
O último aspecto a ser discutido, ainda dentro desse assunto, é em
relação ao perfil da população residente no município. Hoje, a impressão é de que os
residentes da localidade são, na sua maioria, os aposentados, os poucos estudantes
advindos da implantação do curso de turismo da Unesp que contabilizam, atualmente,
aproximadamente 200 alunos e os comerciantes. A seguir um relato da secretária
executiva da Associação Comercial de Rosana e Primavera em relação a tal colocação.
“Os que mantêm o município, hoje, são os aposentados que ficaram.
Estes têm gerado um dinheiro para a localidade. Eles recebem e gastam aqui mesmo.”
(CARVALHO SILVA, 2006)
Após análise da população do município em relação à demografia,
localização e perfil partiremos para uma visão ampla da realidade social em que se
encontra o município. Veremos a situação do emprego e do desemprego municipal e
como andam os mais diversos setores como comércio, indústria, serviços, entre outros.
43
Com relação aos empregos oferecidos no município, na TABELA 09
consta o número de empregos ocupados no município divididos por setores nos anos de
2002 e 2003.
O site do SEADE não traz dados em relação aos empregos ocupados
referentes aos anos posteriores a 2003, fato que impossibilita atendermos o proposto no
trabalho que era analisar os dados dos anos de 2002 a 2005, nesse quesito.
Analisando os dados apresentados, todavia, e notamos que o setor que
mais emprega pessoas, tanto no município, quanto na região governamental, na região
administrativa e em todo o estado é o setor de serviços, setor que inclui o turismo.
Isso, além dos recursos naturais do município, mostra-nos uma
oportunidade para a implantação do turismo, já que o setor ao qual ele está inserido
possui certo volume em relação aos demais.
44
-! $ '
*
)
#$$#
(
!
#$$%
#$$#
" *
" *
-
'
(
!
&
+
9
04
+
+
+
+
,
"
1
1
)
* ,)
*
1 )
$:$
)
,1:
1
1
)
$ 1)
,
1 ) ,
)
1
1
*)
*$,)
: *
, )
$1
)
1 ,
1
1
:1)
1
1
1 $
:
$$
/
):*
*) :
)
*)$$
,)::
) :
!
(
!
:)1 )
,1
#$$%
" *
" *
-
'
(
!
1
1
9
04
/
1
1
!
&
+
1
+
+
)
,,,)
:
+
+
1,)
1) :)
: 1
1*)1,
*)
, :)
1*
,*)
,$,)
:)*:),1
,),1
$)
::
,
"
) $
:),*
* )
*$
)
:*
: )
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE)
Uma outra constatação realizada, a partir da exposição de tais dados,
específica do município de Rosana, é o fato de que enquanto os setores da indústria e do
comércio aumentaram o número de ocupações no período de 2002 a 2003, o setor de
serviços teve esse número reduzido, ainda que de forma muito pequena. Além do setor
de serviços, houve uma queda também nos demais empregos ocupados e no total de
empregos ocupados. Fato este que não ocorreu nem nas regiões governamental e
administrativa do município e nem no estado como um todo.
*
$,$
)*1
1) :
45
O fato de ter havido redução nesse quesito pode designar o aumento
do desemprego, uma vez que a população não diminuiu, nem houve absorção da mãode-obra noutros setores.
Uma outra questão importante e que merece atenção é em relação à
participação dos empregos ocupados dos diversos setores no total de empregos
ocupados e o rendimento médio dos empregos ocupados nos setores. A TABELA 10
apresenta tais dados. O SEADE a partir de 1999, só apresenta os dados referentes a
2003, por isso, a tabela elaborada refere-se a dados desse período.
46
-!
5
#$$%
(
+
*
*
!
(
#$$%
!
'
&
" *
" *
+
+
+
.
4@
;
,
-
1
$
"
+
+
1
$
1 1
&
!
;
>
#
6
;
&
.
4@
;
1
:*
,
1
1
:
1
)
*,
:
, $:
1
,*
1
,1
1,
1 :
11
3 9
!
;
>
#
6
;
3 9
.
8
!
4@
;
04
1
;
,1
1
: ,
*, :
*
1)
,*
* *
,
,
>
#
6
;
8 04
.
4@
;
"
!
;
>
#
1
)
1:
:
:*1 ,
1
6
1
4@
;
4@ &0!
!
;
1
6
1
: :
$
,1$:
*
$*
: ,*
:
* *
1
*
*
;
"
.
&
1
1
$
,:
>
#
;
&
$
:1, $
:
1
)
1
$
)
4@ &0!
#
6
1
)
1 1 $,
!
;
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE)
$
:*
47
A participação dos empregos ocupados no setor de serviços frente ao
total de empregos ocupados é maior que os demais setores em se tratando das regiões
governamental e administrativa em que se encontra o município de Rosana e da
totalidade do estado de São Paulo, mas há uma diferença em relação ao município,
somente. Na TABELA 09 não constava o item construção civil (dado não oferecido
pelo SEADE), mas no ano de 2003 temos a relação da participação e rendimentos dos
empregos ocupados em cada setor em relação a sua totalidade e nessas variáveis aparece
a construção civil, estando ela acima da participação dos empregos e rendimento do
setor de serviços. Isso se dá pelo fato do município de Rosana abrigar duas usinas
hidrelétricas.
Em se tratando de rendimento médio nos empregos ocupados nos
setores considerados, analisamos que no município de Rosana, e no estado como um
todo, o setor de serviços apresenta um rendimento menor que a indústria, mesmo que
ele ofereça um número maior de empregos e tenha a maior participação nos empregos
ocupados em relação a esse setor. No município de Rosana, talvez isso ocorra devido ao
grande número de empregos domésticos.
A procura por esse tipo de emprego pode ser confirmada a partir da
entrevista com a coordenadora da Divisão de Assistência Social da Prefeitura Municipal
de Rosana. Foi-nos relatado que essa divisão realizou uma pesquisa sobre a frente de
trabalho onde participaram aproximadamente 3.000 pessoas cujo perfil dominante era
de mulheres, amasiadas ou separadas, com idade de 25 a 40 anos, com filhos,
escolaridade até oitava série do ensino fundamental e procurando emprego de auxiliar
de serviços gerais. Dessa forma, mesmo que haja um grande número e participação
desses empregos, o rendimento não será alto, sendo assim ultrapassado pelo rendimento
das indústrias, ainda que estes ocorram em um número menor.
48
Ainda durante a análise das ocupações, questionamos, nas entrevistas,
o que vem sendo feito pelos setores públicos e privados do município em relação à
geração de trabalho e renda para a população.
Na Divisão de Assistência Social questionamos sobre o número de
desempregados no município, mas a coordenadora da divisão não detinha essa
informação. Além disso, indagamos sobre os programas que vêm sendo realizados pela
prefeitura que visem à geração de trabalho e renda. Em relação ao assunto, a Sra. Nunes
falou-nos dos projetos e programas de iniciativa federal, estadual e municipal e dos
programas e projetos assistencialistas e de geração de trabalho e renda. A TABELA 11
mostra a sistematização desses dados.
-!
,
2 *
+ 1
+ *
+ 1
+ *
,
+ 1
"
*
+ 1
•
•
•
6
+ *
(
!
"
/ .
K
/ &
K
( !
7
+ 1
•
•
•
•
•
•
•
+ 1
+ *
'
+ 1
•
#
&
@K
•
•
•
•
+ *
& FK
&
4 &
@K
&
& 00J
3
K
B0 &
@K
6 @
8 K
&
6
&
#F
J
8
!
)
4@ B 0 K
R0
)
8
!K
! ( <
!)
&
+
+ 1
•
•
+ *
•
•
/ &
K
&
& 00J
3
K
&
6
K
&
4 &
@K
•
•
•
•
#
&
@K
4@ B 0 K
R0
)
! ( <
!)
A partir desses dados é possível perceber que poucos são os projetos
efetivamente em andamento que não são de caráter essencialmente assistencialistas.
Essas práticas passadas à população local desde a implantação da CESP, no município,
para a construção das Usinas, foram questionadas durante a entrevista com o presidente
da Amoprimavera, o Sr. Cícero Simplício, cujo relato foi o seguinte:
49
Realmente essa é a situação do município, mas nós não podemos continuar
dando o peixe. Não pode ter um continualismo. Nós temos que parar com o
assistencialismo. Nós temos que ensinar as pessoas a pescar, então, em vez
de dar o peixe, ensinar as pessoas a pescar e como? Trazendo fontes de
renda para que cada um busque seu sustento. (SIMPLÍCIO, 2006)
Em relação às ações dos setores públicos e privados do município em
prol da geração de trabalho e renda, tivemos o depoimento, ainda, do Sr. Cícero
Simplício, a respeito de iniciativas da Associação dos Moradores de Primavera na luta
pela melhoria da vida do grupo que representa. A seguir ele cita o trabalho realizado
pela associação neste sentido.
Em relação ao desemprego, nós sempre estamos buscando parcerias com a
prefeitura para gerar emprego para a população. Nós conseguimos a vinda
de uma fábrica para cá. A fábrica Triacon (confecções), em Primavera, que
atualmente emprega 65 pessoas e pretende chegar ao número de 200
empregados. Na visão geral, a gente busca o desenvolvimento através de
empregos e de frentes de trabalho junto ao prefeito. Nesse sentido nós temos
um bom relacionamento com o prefeito. (SIMPLÍCIO, 2006)
Prosseguindo na discussão e direcionando-a para o turismo, fomos
analisar as ações que estão sendo realizadas na Divisão de Turismo, Cultura e Eventos,
também, com o intuito de desenvolver a atividade e gerar trabalho e renda para a
população local. Sendo assim, os projetos apresentados por essa divisão foram os
seguintes:
•
Projeto do portal e do posto de informações turísticas: esse projeto
visa a implantação de um portal receptivo na entrada da cidade
juntamente a um posto de informações. O projeto, proposto como
obra compensatória da CESP, foi concluído, porém há longa
espera pelo envio do mesmo à CESP pelo prefeito para que o
50
capital necessário seja liberado. O prazo para o encaminhamento
do projeto era até julho deste ano.
•
Projeto bela cidade: este projeto consiste na colocação de placas
de conscientização ambiental e de preservação da natureza por
toda a cidade. O mesmo já está sendo realizado.
•
Projeto para o município tornar-se estância turística: este projeto
encontra-se em fase final. O recebimento do título de estância
turística está previsto para julho de 2007.
•
Inserção da disciplina Turismo no ensino fundamental e médio:
este projeto já está formatado e já foi encaminhado para a Divisão
de Educação. No momento, estão no aguardo de resposta e, após
obtê-la, pretendem firmar uma parceria com o Ministério da
Educação para a efetivação do projeto, ainda sem previsão.
•
Projeto de conscientização da população: este projeto visa a
publicação de um folheto informativo contendo os benefícios e
malefícios oriundos da prática do turismo, e suas conseqüências,
cuja entrega seria de casa em casa do município a fim de atingir
toda a população. O projeto não foi iniciado e também não tem
previsão para isso.
•
Projeto guia mirim: este projeto visa a preparação de adolescentes
de 14 a 18 anos, com o recebimento de uma bolsa de 150 a 200
reais, para orientarem e informarem os turistas que virem a visitar
o município. O projeto, considerado de geração de emprego e
renda, encontra-se em fase terminal, porém sem previsão para a
parte prática.
51
•
Projeto da trilha que liga o balneário de Rosana à pedreira: apenas
uma idéia. Estão aguardando o término do zoneamento ambiental.
Em todos os projetos a Divisão de Turismo, Cultura e Eventos diz
utilizar a mão-de-obra local nos trabalhos a fim de gerar trabalho e renda para a
população, além de trazer pessoas de fora para treinar essa população. A seguir o trecho
que condiz com essa afirmação. Em resposta à pergunta: “as pessoas empregadas seriam
da própria comunidade?”, Antoniolo comenta: “Seriam pessoas da própria comunidade,
mas trazendo pessoas de fora, porque é importante isso. Dá mais credibilidade trazer
pessoas de fora.” (ANTONIOLO, 2006)
Em relação à demanda em trazer pessoas de fora para treinar a
população local, acreditamos que essa mão-de-obra possa ser captada dentro do próprio
município, afinal, o município conta com um curso de turismo, mantido por uma
universidade pública e que pode ser aproveitado para esse fim.
Partindo para a análise do desemprego municipal, vimos que em 2003
foi detectado que o número de empregos ocupados no município de Rosana era de
2.738, sendo que a população local tirando a população com menos de 15 anos
(aproximadamente 7.170 habitantes) e a população maior de 60 anos (aproximadamente
1.590 habitantes), ou seja, a população economicamente ativa do município era de
aproximadamente 17..800 habitantes, isso mostra a quantidade de desempregados
existentes no município.
O desemprego no município é um problema grave. Na maioria das
entrevistas realizadas, os representantes foram questionados em relação ao assunto e
relataram que o desemprego em Rosana é significativamente alto e que não há opções
para a população. O término da construção da usina não deixou alternativas para a
52
população. A seguir relatos dos entrevistados em relação ao desemprego e à falta de
alternativas de geração de trabalho e renda para o município.
O primeiro relato é da Srª. Marlene Aparecida de Carvalho Silva,
secretária executiva da Associação Comercial de Primavera e Rosana:
Não existem alternativas de emprego no município. O que mais emprega
pessoas é o comércio. Têm outras pessoas que trabalham na usina, mas são
bem poucas. O movimento que tínhamos na época da construção da usina
era bastante intenso, mas atualmente, com a finalização das obras, não tem
mais oportunidades de emprego. As pessoas que trabalhavam na usina e que
perderam seus empregos com o seu término estão deixando suas famílias
aqui e indo trabalhar em outros lugares e muitos foram embora
definitivamente. Assim, as famílias estão tendo de ficar sozinhas no
município e seus maridos se deslocarem para outros lugares para poderem
sustentar suas famílias. Isso devido à falta de alternativas de geração de
emprego e renda no município. (CARVALHO SILVA, 2006)
Outro trecho da entrevista com a Srª Carvalho Silva, onde ela aponta a
questão do desemprego e a falta de oportunidade:
O desemprego aqui é muito grande. As pessoas não têm onde arrumar
emprego. Não tem lugar para trabalhar. Eu mesma tenho um filho, ele tem
17 anos e não tem onde colocá-lo para trabalhar. Mas isso em se tratando de
menores de idade, imagina o restante que é maior e que não conseguem
arrumar emprego também. Só se consegue emprego se for embora, porque
aqui não tem. Onde vão arrumar emprego aqui? No comércio? O comércio
que tem é pouco, que são mantidos pelas próprias famílias e quando
empregam é um ou dois funcionários, a não ser os mercados que são maiores
e contratam um pouco mais de pessoas. Em relação a emprego aqui, a
situação está muito difícil. Não tem onde ficar esperando surgir uma vaga.
Não existe essa possibilidade. Precisamos que comece a desenvolver
atividades de geração de emprego e renda. (CARVALHO SILVA, 2006)
A próxima entrevista que apresenta questões sobre o desemprego é
com o Sr. Cícero Simplício, presidente da Amoprimavera:
Emprego aqui é muito escasso. Não tem emprego e a vida útil da cidade está
muito precária. O homem hoje não tem onde trabalhar. Essa é a realidade.
Com o término da obra, não têm mais empregos. As pessoas que moravam
aqui tinham duas opções, ou era a obra ou era a prefeitura, tinha que ter
acabado a prefeitura Se continuasse a obra teria mais emprego [risos].
(SIMPLÍCIO, 2006)
53
Segundo dados das entrevistas, o município sofre muito com o
desemprego e a falta de alternativas, mas além do questionamento em relação à situação
de vida dos munícipes, procuramos questionar, também, a causa desse fenômeno e o
que acham que poderia ser feito para mudar essa realidade. Posteriormente perguntamos
se o turismo poderia ser uma saída para amenizar tais problemas.
A seguir os fragmentos que dizem respeito a tais questões. O Sr.
Cícero Simplício apresenta alternativas de criação de empregos no município:
A estância turística eu vejo ela como uma ótima saída para o momento. O
próprio pólo nosso hoje, ele pode ser um pólo industrial de grande
significância, devido ao território que estamos que abrange três estados (PR,
MS e SP), Assim, a matéria prima fica muito mais barata. Imagina o
transporte que por aqui passa vindo do PR ou MS. Então, temos condições
de centralizar uma grande fábrica no município como, por exemplo, a
implantação de uma indústria de óleo combustível (o transporte de soja
passa pra Presidente Prudente que é 200 Km daqui e para Maringá que são
200 KM também), e ficaria aqui em um raio de 200 Km. O ganho com o
transporte que seria viável. Agora, precisa de uma administração que tenha
visão para fazer o povo caminhar na prosperidade dessas negociações e
parar com o assistencialismo. (SIMPLÍCIO, 2006)
Além do Sr. Simplício, o Sr. Leite da Associação dos Aposentados da
CESP também aponta algumas causas e soluções:
O desemprego aqui é falta de vontade política, porque a nossa região é
carente. Nós somos duas regiões no estado de São Paulo carentes: o Pontal
do Paranapanema e o Vale do Ribeira. Mas nós temos um potencial que o
Vale do Ribeira talvez não tenha. Nós temos aqui uma área turística muito
grande. Temos condições de implantar hortaliças de qualidade no varjão e
tudo isso cria emprego. A indústria é um pouco difícil de vir aqui, mas a
prefeitura tem muito serviço, tem a usina que ainda dá emprego. Está
faltando os políticos serem mais atentos, terem mais vontade de criar
emprego. Área para criar, nós temos, principalmente, no turismo. Não é
qualquer lugar que tem uma área turística igual a nossa, mas não se
aproveita. Onde uma cidade desse tamanho tem uma faculdade do Estado?
Onde tem duas faculdades? É só querer. O importante é ter contato com
vereador, prefeito e cobrar dos deputados. Potencial para empregos, nós
temos bastante, não era para ter ninguém desempregado aqui. (LEITE, 2006)
54
O Sr. Leite continua:
O turismo é muito importante, a agricultura também. Temos muitas áreas
férteis, mas falta uma coisa, falta vontade e acabar com a corrupção. Acabar
com o desvio de dinheiro, porque o desvio de dinheiro aqui no município é
grande. Nós temos uma arrecadação de 04 milhões por mês e ninguém sabe
cadê esse dinheiro. Ele poderia ser aplicado em emprego e em um monte de
coisas e com isso o município está parado. Muitos desempregados e em
condições precária de viver. Tudo o que falta, sem a política não tem jeito, e
cabe às autoridades ir atrás. Eu já fui vereador e sei como é. Depende muito
da câmara e do prefeito. Mas hoje o município está muito mal. (LEITE,
2006)
E qual a expectativa dessas pessoas em relação ao turismo? Alguns
trechos das entrevistas que tratam desse assunto.
O Sr. Simplício diz:
O turismo é uma grande saída para o município. A gente acredita no turismo
e porque o turismo? Porque o turismo faz gerar renda para o município. O
próprio estado se compromete a mandar verba a mais para o município por
causa do turismo. Assim, a gente começa a implantar os hotéis fazenda, os
pesque e pagues, enfim, o lazer como atração para os turistas, as marinas
podendo ser realizados campeonatos de pesca, de jet ski. A geração de renda
se multiplica rapidamente com o turismo. (SIMPLICIO, 2006)
O Sr. Leite expõe:
O que se fala muito aqui é em relação ao turismo, porque existe potencial
turístico muito grande e pode criar muito emprego. Cria o caseiro, o zelador,
cria renda para o município do pessoal que vem aqui aproveitar da área
turística. Aqui é tudo longe. Para o pessoal de Prudente é muito mais fácil
vir para cá que está a 200 KM do que ir para praia que fica a 1000 KM,
então, aqui é a área certa. A indústria eu acho um pouco mais difícil, porque
a indústria tem que trazer a matéria prima e depois tem que levar a produção
para vender em outro lugar porque aqui não vende. Mas tem outra coisa que
poderia criar muito emprego aqui é uma região que se chama varjão. É uma
área de 3.994 alqueires. Se conseguir através do meio ambiente, do Ibama
fazer horta ali. Nós temos uma região mais produtiva do Brasil quase igual
Franca, Campinas, porque a área é fértil. Dá para produzir e exportar
verdura e num é entregar para 3 ou 4 pessoas é para 2 ou 3 mil pessoas, além
de ser uma prática barata. (LEITE, 2006)
55
A Srª Carvalho Silva relata:
O Turismo seria uma opção de desenvolvimento. Para isso precisaria que os
órgãos responsáveis pelo município ajudassem a desenvolver essa atividade.
Tanto que já existe um projeto, o Captur, pelo Sebrae que está auxiliando no
desenvolvimento do Turismo local, mas mesmo assim, necessita do
compromisso dos órgãos competentes do município para desenvolver essa
área e através desse desenvolvimento, trazer o pessoal de fora para melhorar
a região. Esse projeto já está oferecendo cursos para a população da região
(ex: curso de gastronomia em Teodoro Sampaio), porém, esses cursos teriam
que ser trazidos para o município, pois é complicado o deslocamento das
pessoas daqui do município até Teodoro. Acredito que esse curso vai ajudar
bastante no desenvolvimento do Turismo regional. Uma outra coisa muito
importante e que deve ser feita é a estruturação das atividades e depois
divulgá-las, pois se as pessoas não conhecerem o município não virão visitálo. O turista precisa conhecer o local. Acho que o importante é tentar
desenvolver essa atividade se tivermos o apoio da prefeitura e de segmentos
interessados. O poder público precisa parar de deixar as coisas somente no
papel e começar a agir. O nosso município tem muito potencial a ser
desenvolvido. Têm uns artesãos que fazem um trabalho muito bonito, temos
os rios. Talvez seja interessante criar coisas relacionadas a esportes. Temos
as trilhas. Basta que esses atrativos sejam estruturados. Fazer um
levantamento dos pontos turísticos e montar infra-estrutura para o turismo.
Assim, se tivermos apoio e vontade, é algo que pode ser desenvolvido sim.
(CARVALHO SILVA, 2006)
E o papel da Unesp nesse processo? O que as entidades falam a
respeito? Alguns trechos das entrevistas sobre o assunto.
A Srª Antoniolo:
“O papel da Unesp é fundamental. A gente vê a Unesp como uma grande
parceira para desenvolver pesquisa, projetos, os próprios alunos estagiarem
com a gente, realizarem atividades dentro do município.” (ANTONIOLO,
2006)
O Sr. Leite:
“A Unesp sabe como que faz para desenvolver o turismo, inclusive a Unesp
já tem alguns projetos bastante avançados para desenvolver o turismo aqui.
A Unesp tem um papel principal, ela está ministrando o curso de turismo e
conhece toda a região.” (LEITE, 2006)
56
O Sr. Simplício:
Veja bem, qual a contribuição da Unesp? A Unesp é uma faculdade e
quando a gente conta com uma faculdade contamos com estudos. Nós temos
uma carência muito grande de estudos no meio rural e a Unesp pode nos
ajudar, no turismo e a Unesp pode nos ajudar, no comércio e a Unesp pode
nos ajudar, pois não temos ainda esses cursos avançados. Mas as grandes
faculdades trabalham em projetos voluntários para os municípios que
elevam muito o município. O campo aqui é muito grande, depende de um
avanço, também, nos cursos da Unesp, um curso técnico em agricultura,
cursos na parte agrícola (análise do solo, diagnóstico do que precisa na
lavoura para que a gente possa produzir mais, cuidados com a terra), assim
como vocês irão cuidar do meio ambiente e cuidar do turismo. O ponto
básico hoje no município é o turismo. Óbvio. Temos potencial e isso é
interessante, mas é interessante os pontos que estou colocando também, a
parte da agricultura. (SIMPLÍCIO, 2006)
Após os depoimentos e coleta de dados, percebemos que o município
possui problemas sociais, alto índice de desemprego, mas também possui recursos e
opções de ações para melhorias. Posteriormente à apresentação detalhada dos dados,
teremos espaço em um item dessa pesquisa para uma análise mais minuciosa dos dados
apresentados.
Como explanado em outro momento da pesquisa, após termos feito a
análise socioeconômica do município, a partir da coleta de dados do SEADE e das
entrevistas com representantes de instituições do município, surgiu a necessidade e a
curiosidade de um contato mais direto, e informal, com a população local.
Dessa forma, foram realizadas as incursões e uma entrevista com um
morador local, o Sr Joabinadabe, residente no município há 24 anos e envolvido com os
acontecimentos, problemas e alternativas para a localidade.
No que tange às incursões, estas foram realizadas sem nenhum
material de gravação e não fizemos anotações durante a conversa com os moradores. A
entrevista semi-dirigida com o morador local, envolvido com os problemas do
município, porém, seguiu o mesmo padrão das demais entrevistas apresentadas em
outros momentos da pesquisa.
57
Durante a conversa com moradores do núcleo habitacional de
Primavera, notamos que as pessoas, ao mesmo tempo em que estão muito descontentes
com a vida em Primavera, pois relatam que na localidade não há opções de emprego, de
lazer, de oportunidades, elas gostam do local em que vivem, dizem ser um lugar
agradável, calmo, bonito e sem violência. Nessa abordagem, no entanto, tivemos maior
contato com um grupo de pessoas de uma faixa etária mais elevada, na maioria
aposentados.
Mas a falta de empregos e opções é sempre lembrada nas falas. E um
outro aspecto que notamos foi em relação às causas e soluções desses problemas. Eles
colocam toda a culpa na administração pública. Segundo eles “é tudo culpa do prefeito”.
E as soluções também depositam na prefeitura. Acham que as coisas só irão mudar
quando “entrar” um prefeito competente que trabalhe em prol da população.
Ainda durante a incursão na área urbana de Primavera, as pessoas
relataram que se tivessem turistas visitando a localidade, seriam bem recebidos e isso já
é um grande passo para o desenvolvimento do turismo no município.
No perímetro urbano de Rosana tivemos contato com uma senhora,
moradora do local há 10 anos e com outros dois senhores, um residente no perímetro há
36 anos e o outro há 45 anos, ambos ex-funcionários das empresas que atuavam no
município durante a construção das usinas hidrelétricas, hoje aposentados.
Para facilitar a apresentação dos relatos, iremos dar nomes fictícios
aos moradores com os quais falamos. Usaremos nomes fictícios, pois Rosana é uma
cidade pequena e qualquer menção as iniciais de nomes, por exemplo, poderia
identificar as pessoas consultadas.
O primeiro relato diz respeito à moradora do perímetro urbano de
Rosana, cujo nome fictício é Maria. A conversa ocorreu no dia 19 de abril de 2007 em
58
um ponto de ônibus quando estávamos a caminho de Rosana para a realização do
trabalho de campo desta pesquisa.
Como dissemos, a senhora Maria mora na região urbana de Rosana há
10 anos, mas, antes, era moradora da gleba XV de Novembro, onde possuía um lote de
terra. Não tendo condições de cultivo (compra de insumos e de materiais necessários
para a lavoura), vendeu seus direitos na gleba e veio morar no perímetro urbano de
Rosana.
Tal fato confirma, na prática, o que foi dito em entrevista pelo
morador do município Joabinadabe. A seguir, trecho de sua fala:
Aqui é muito grande o êxodo rural, as pessoas do campo vêm pra cidade e as
pessoas da cidade já não têm emprego. As pessoas do campo dependem
totalmente da prefeitura e do governo, o número não chega a 2% que não
dependem da prefeitura e do governo e eles vêm pra cidade. Na cidade
alguns, que é um absurdo você vê. Nós temos um grande número das
pessoas que tem terras aqui no Pontal do Paranapanema, elas estão
empregadas na cidade e deixam seus lotes a mercê de nada, então o que
acontece? Não existe um programa de trabalho. Bom, você é do campo,
você ganhou a terra, é do governo, então o que nós vamos fazer? Nós vamos
pegar essa terra que você tem e você vai cultivar ela e vai ter que aprender
com o recurso e não é falar que não tem recurso então não vai cultivar,
cultivar sim, porque é muito melhor, assim nós teríamos um pouco mais de
empregos, porque o pessoal do campo está vindo trabalhar na cidade e os da
cidade como não sabem mexer com o campo ficam na cidade e cria aquele
problema social enorme. (MENDES, 2007)
A senhora Maria relatou, ainda, que não há alternativas de emprego
em Rosana. Os únicos cargos existentes são os cargos da prefeitura. Até os pescadores
estão sofrendo, pois a falta de peixe é algo que vem piorando a cada dia, desde a
construção das usinas. Os peixes que ainda restam, os turistas levam tudo. A senhora
Maria e sua família, atualmente, conseguem sobreviver com a pensão de um parente e
ajuda do governo (bolsa escola, da neta).
Ainda segundo a senhora Maria, ela diz que cuida de uma neta porque
sua filha (mãe da criança) teve que se mudar para o Mato Grosso do Sul para trabalhar,
59
fato que vem interferindo na criação e na educação da criança. A criança encontra-se
com “problemas psicológicos” (sic), não quer mais estudar e enfrenta crises nervosas,
demonstrando, por vezes, até um comportamento violento, além de possuir “vontades de
crianças” (por doces, balas, etc.). Como a avó não tem condições de saciar as vontades
da neta, cria-se conflitos constantes entre ambas.
A mãe da criança teve que se mudar para outra localidade por falta de
emprego no município, situação essa muito comum atualmente entre outros moradores
da cidade.
Esse fato aparece, também, na entrevista com o morador Joabinadabe
e na conversa com os moradores aposentados do perímetro urbano de Rosana e com o
morador do bairro Campinho.
Todos relatam a falta de emprego na localidade, criando a necessidade
dos moradores terem de se dirigir a outras localidades em busca de trabalho para
poderem se manter e manter suas famílias residindo no município de Rosana, já que o
mesmo não proporciona condições de trabalho a essa população.
Durante a conversa com a senhora Maria questionamos se o turismo é
benéfico ao município e se poderia ajudar em algo para a melhora das condições de vida
da população e ela afirmou que os turistas que visitam o município não colaboram com
nada. Além disso, os relatos demonstram uma antipatia em relação a essa visitação e o
pouco conhecimento que possui em relação a essa atividade não desperta na senhora
Maria uma esperança de melhora. A senhora Maria expressou que “apenas Deus”
poderia fazer alguma coisa para melhorar a situação municipal, relato este que
demonstra a conformidade com a situação, ao mesmo tempo que a falta de perspectivas
e de atitudes para melhorias na localidade por parte da moradora.
60
Após o diálogo com a senhora Maria, dirigimo-nos ao perímetro
urbano de Rosana, onde conversamos com dois moradores aposentados do núcleo,
também no dia 19 de abril.
Durante a incursão, falamos, primeiramente, com um senhor, morador
do município há 36 anos, tendo como nome fictício João. Este relatou a falta de
alternativas de trabalho no núcleo e que a maioria das pessoas que residem na localidade
é de aposentados da obra e as que não são aposentadas têm a necessidade de se
deslocarem para outras cidades a procura de emprego, devido à inexistência destes no
local.
Citou o grande número de pessoas se deslocando para Terra Rica-PR,
município próximo, para trabalharem em uma usina de cana-de-açúcar recentemente
instalada na localidade. As pessoas saem pela manhã, trabalham o dia todo e, no final do
dia, retornam a Rosana, fazendo desta uma cidade dormitório.
Além disso, mencionou os grandes problemas relacionados ao setor
público, o grande descaso desse setor com o município em geral. O senhor João
demonstrou ter ciência da alta arrecadação financeira do município, citou até valores
(cinco milhões de reais por mês, dando um total de sessenta milhões ao ano), mas que
praticamente quase nada desse recurso é investido no próprio município, deixando o
município abandonado, sem opções de emprego (os poucos empregos existentes são os
oferecidos pela prefeitura, que também estão com seus salários atrasados) e com
condições precárias de saúde e de limpeza da cidade.
Ainda durante a conversa, o senhor João nos contou que as condições
de vida durante a construção das usinas hidrelétricas (quando a CESP estava mais
presente no município) eram bem melhores. Havia emprego para a população,
atendimento médico de qualidade. Mas, com o término das obras, o município
61
encontrou-se “sem administração”. A única esperança de mudança, segundo ele, é com
a entrada de bons administradores na localidade. Na atual circunstância, no entanto, tal
como se encontra atualmente a cidade, não há esperança de nenhuma modificação,
segundo ele.
O senhor João comentou, ainda, sobre a vinda de turistas ao núcleo,
dizendo que, mesmo estes possuindo habitações próprias (ranchos) na cidade, ainda
assim, suas visitações são benéficas para a cidade, pois eles trazem dinheiro e
movimentação, deixando a cidade alegre.
Relatou, também, que em se tratando de aposentados (pessoas que já
possuem uma renda fixa), o município de Rosana é um local muito bom pra se morar,
tranqüilo, ainda não muito violento, bonito, um local realmente agradável, mas para
manter uma família é praticamente impossível, devido aos grandes problemas sociais, à
falta de empregos e recursos.
Ele nos contou, também, que a prefeitura nada vem fazendo para
trazer novas oportunidades de trabalho para o município. Ao contrário, às vezes ela até
dificulta a vinda de indústrias para a localidade.
O outro senhor, denominado senhor Sebastião, também aposentado e
morador do município há 45 anos, tendo passado, assim, por todo o processo evolutivo
e participando da história do local, fez um comparativo entre a renda arrecadada no
município de Rosana e a do município de Presidente Prudente-SP, alegando que em
termos proporcionais, a arrecadação do município de Rosana é maior do que a de
Presidente Prudente.
Segundo ele, os aposentados possuem uma vida tranqüila na
localidade, passam a maior parte do dia em grupos, conversando na praça, jogando e
alguns se engajam em alguma atividade voluntária. O primeiro senhor que
62
conversamos, o senhor João, colabora voluntariamente em um projeto de futebol para as
crianças do perímetro urbano de Rosana, “criando assim ocupação para suas vidas” (sic)
e colaborando de alguma forma com a população local. No entanto, essa realidade só se
enquadra aos aposentados. Visualizamos que aos demais moradores, não aposentados,
que têm a necessidade de manter suas famílias, a realidade é bastante diferente, pois
estes enfrentam todos os problemas já citados anteriormente, tendo uma vida bastante
difícil.
Outro ponto visitado por nós, foi o bairro Campinho. Também no dia
19 de abril. Na ocasião, pegamos uma carona com o ônibus responsável pelo transporte
de estudantes dentro do município e nos dirigimos ao bairro Campinho. Naquele local
conversamos com um senhor, cujo o nome fictício é José, morador do município há 22
anos.
No início ele era funcionário da empresa Camargo Corrêa, e atuou
também em outras empresas que prestavam serviços na época da construção das usinas,
mas, após o término das obras, tornou-se desempregado.
Atualmente, ele sobrevive de “bicos”, trabalhos temporários e sem
regulamentação. Segundo ele, essa é a realidade da maioria das pessoas que vivem no
bairro.
Assim como as demais pessoas com as quais dialogamos, o senhor
José também, alegou que os problemas do município são decorrentes da má
administração pública, que o setor público não faz nada em prol da população. Mostrou,
também, falta de perspectivas e de esperança em relação a melhorias. Para ele, “só se
houvesse uma mudança muito grande, uma troca total dos administradores municipais é
que poderia haver uma melhora, mas, por enquanto, a situação está muito ruim”.
63
Em relação ao turismo, o senhor José alegou que tem conhecimento de
pessoas que visitam a localidade e o bairro, mas tal movimentação não afeta em nada
sua vida. Ele não tem contato, lucro e nem benefícios com essa visitação.
O senhor José não demonstrou interesse algum pela atividade e relatou
não ter conhecimento de alguém que tivesse contato com esses visitantes, que
demonstrasse interesse ou vissem alguma esperança de mudança a partir do
desenvolvimento do turismo.
Tais relatos, até aqui, ilustram a falta de conhecimento sobre a
atividade turística que a população dos núcleos habitacionais do município possui. O
turismo, por enquanto, é algo muito distante da realidade dessas pessoas.
Durante a conversa com o senhor José nos foi relato, ainda, que apesar
dele viver em um casebre no bairro, ele não tem intenção de se deslocar para outro
local. Segundo ele, “está conformado com a vida que leva”. A justificativa para tal
conformação é o fato do senhor José ser viúvo, morar sozinho, mas possuir sua família
morando próximo a ele. Segundo ele, ainda, o pouco dinheiro que consegue ganhar com
os “bicos” que faz é suficiente para se manter. Ele diz gostar da tranqüilidade do local.
Em contrapartida, disse-nos que esta não é a realidade de todos os
moradores do bairro. Há pessoas no bairro em situação muito difícil, pessoas que
necessitam sustentar suas famílias e enfrentam muita dificuldade para sobreviver.
Assim, como outros moradores do município com os quais falamos,
ele nos relatou, também, que muitas pessoas têm que sair do bairro, e até mesmo da
cidade, para conseguir trabalho e manter suas famílias. Citou, também, o exemplo das
pessoas que estão trabalhando na usina de cana-de-açúcar de Terra Rica-PR.
64
A última incursão que fizemos foi no bairro Beira Rio. Após a visita
ao bairro Campinho, conseguimos uma carona com um morador local e nos dirigimos
ao Beira Rio, também, no dia 19 de abril.
Ao chegarmos ao bairro Beira Rio conseguimos conversar com um
antigo pescador do local, chamado aqui de Antônio. O senhor Antônio é pescador,
possui uma casa na beira do rio e vem enfrentando grandes problemas com a lei
florestal devido a essa posse. O senhor Antônio já foi multado, repetidas vezes, por sua
construção, e vem sofrendo ameaças constantes de desapropriação da área.
O morador se mostrou bastante preocupado com a situação em que se
encontra, pois investiu todo o dinheiro que possuía na construção de sua casa na beira
do rio e, agora, não tem condições de demolir sua casa e ir para outro lugar. A lei
florestal, segundo ele, e o município, não cogitaram a intenção de indenizá-lo, caso ele
deixe a área. Dessa forma, continua habitando a área, “levando sua vida e esperando o
que irá acontecer”. Segundo ele, essa é uma realidade não só para ele, mas para muitas
pessoas do bairro.
O senhor Antônio nos disse também, que em nenhum momento foram
orientados em relação a não poderem construir naquela área e que foi feito um acordo
entre a justiça florestal e a prefeitura local de que esta reflorestaria uma área próxima ao
bairro Beira Rio para compensar a área desmatada no bairro, fazendo com que, assim,
os moradores do bairro pudessem continuar no local. No entanto, esse acordo não foi
cumprido por parte da prefeitura e a pressão aos moradores vem aumentando a cada dia
para desapropriarem a área, tornando “cada vez mais difícil a situação deles” que, na
sua maioria, “não possuem condições de se deslocarem para outras áreas”, visto que,
naquele espaço, encontram-se não apenas suas habitações, mas sobretudo, sua fonte de
renda: a pesca.
65
Foi-nos relatado, também, que o bairro não possui saneamento básico,
água encanada e asfalto. Segundo o senhor Antônio, “o bairro encontra-se abandonado
pelo setor público municipal”.
No bairro, segundo o senhor Antônio, existe uma espécie de
cooperativa dos pescadores, mas que não trabalha em prol dos interesses comuns. O
senhor Antônio até faz um comparativo com a cooperativa existente em Três LagoasMS, local onde já trabalhou em outro momento. Disse que, lá, os pescadores não têm
custos com quase nada, pois a cooperativa consegue “várias coisas para a comunidade
pescadora e a prefeitura atua bastante em prol desse público”.
Diferente do que ocorre no município de Rosana, ainda segundo ele,
em que tudo o que é feito pela cooperativa ou na cooperativa é cobrado, até mesmo para
começarem a receber o seguro desemprego (que recebem na época da piracema, de
novembro a fevereiro) necessitaram pagar cerca de 100 reais para resolverem as
questões burocráticas.
O senhor Antônio relatou, ainda, o problema que vem ocorrendo com
a CESP. Disse que depois do término da construção da barragem houve uma
proliferação de mexilhões dourados no lago. Tais mexilhões, segundo ele, entram nas
turbinas da usina causando danos à mesma. Para combater os mexilhões, a CESP joga
veneno no reservatório e o veneno, além de matar os mexilhões, vem matando também
“toneladas e toneladas de peixes”, que são recolhidos do reservatório e enterrados em
outra área, sem ninguém fazer nada contra isso.
Por tais razões, segundo o senhor Antônio, surge uma “revolta nos
pescadores”, pois a lei ambiental quer puni-los por um número a mais de peixes que
retiram do lago, ou por usarem um determinado tipo de isca ou de material de pesca.
66
Querem desabrigá-los, também, mas, contudo, “nada fazem contra essa empresa que
vem matando uma quantidade absurda de peixes”.
Há pessoas no bairro trabalhando com o turismo. O senhor Antônio.
afirmou haver um fluxo razoável de turistas visitando a localidade e de piloteiros
executando essa atividade. Mencionou, também, que as pessoas que possuem seu
próprio material de pesca, seu barco, conseguem se manter com essa atividade. Se não
conseguem fazer uma boa pescaria, dentro do reservatório da usina, têm a possibilidade
de se dirigirem para outras áreas próximas e executarem seus trabalhos.
No entanto, há muitas pessoas no bairro que não possuem tais
condições, tornando a situação bastante difícil, segundo o senhor Antônio. Todos os
pescadores do bairro e da região estão enfrentando constantes problemas com a lei
florestal, “os peixes diminuíram bastante e a prefeitura nada faz para minimizar os
problemas”.
Tal como outros diálogos realizados com as demais pessoas com
quem tivemos contato, o senhor Antônio afirmou, também, que o bairro Beira Rio, e o
município no geral, já foi um local muito bom para se morar na época em que a CESP
estava mais presente na localidade, mas que, com o término da obra, a situação de vida
da população piorou bastante e, desde então, o setor público não tem colaborado para
que haja melhoras.
O senhor Antônio levantou algumas possibilidades de iniciativas que
poderiam ser tomadas pelo município, como a vinda de pequenas indústrias e fábricas.
Porém, “a prefeitura nada faz para incentivar essa vinda e, pior que isso, dificulta o
processo”.
Ele citou um exemplo que ele mesmo pôde presenciar. Veio ao
município um empresário com a intenção de implantar uma fábrica de bonés, mas,
67
quando foi negociar com a prefeitura, esta já queria de cara ter posse de metade dos
lucros da firma em troca de ceder o terreno para construção da fábrica. Sendo assim, o
negócio não foi fechado e o município deixou de ter uma fabrica de bonés que iria gerar
empregos para a população local (sic).
Mas o senhor Antônio também, afirmou que mesmo com todos esses
problemas, o local é tranqüilo, com boa qualidade de vida e as pessoas continuam
levando suas vidas, mesmo que ameaçadas pelas leis ambientais. E como não há nada
que possa ser feito por parte deles, já que não têm condições de se deslocarem para
outras áreas, continuam suas vidas e esperando que uma hora sejam solucionados os
problemas.
Voltando a entrevista com o Sr Joabinadabe, dentre os assuntos
levantados durante a entrevista, pedimos ao Sr. Nadabe, assim conhecido no município,
que explanasse para nós como era a vida na localidade durante e depois da construção
das usinas, ou seja, quando o município contava com a presença da CESP e hoje com o
término da obra. A seguir, os trechos da entrevista que relatam tal explanação:
A CESP, quando ela veio pra cá, ela foi uma mãe pra tudo que você
precisasse. Se caísse uma telha da casa podia chamar a CESP que ela vinha e
colocava no lugar. Esse era o fator de trabalho mesmo, ela sempre fez tudo
por Primavera, até a construção planejada da cidade. Foi um trabalho muito
bem feito e a CESP pensava. (MENDES, 2007)
Questionamos, também, a respeito da relação entre Primavera e
Rosana. A respeito desse assunto foi colocado que em Primavera havia alojamentos e
casas que abrigavam somente os funcionários da CESP. Os demais funcionários da obra
(de outras empresas prestadoras de serviço) não podiam se alojar em Primavera, tendo
que morar em Rosana ou em outras cidades da região.
68
Além disso, foi-nos explanado que havia, nessa época, muita
discriminação, até mesmo por parte da CESP, chegando até a serem delimitadas
divisões sociais dentro da localidade, um “apartheid”. Posteriormente, seguimentos da
entrevista que explicam um pouco como se davam tais divisões:
A divisão de nível acontecia assim: nós tínhamos do nível um ao nível seis.
Então, o nível um, eram as pessoas sem qualificação, ou seja, as pessoas
desse nível que ficava na cidade, não tinham direito nem a moradia dentro
da cidade. As que ficavam, o que acontecia? Elas tinham que ficar na casa
de parentes porque não tinha onde ficar. E tinha os lugares, por exemplo,
nós tínhamos os clubes. A cidade é divida em leste, oeste, norte e sul, então
as escolas foram divididas assim, nós tínhamos o clube, por exemplo, o REC
(Rosana Esporte Clube). No Rosana Esporte Clube somente pessoas com o
nível acima do nível quatro, isso que o nível quatro tinha que ter indicação
pra poder ser sócio, e era nível quatro, cinco e seis e não todos os níveis
quatro podiam ir para esse clube. O nível um até o nível quatro, alguns do
nível quatro podiam estar na AAPP (Associação Atlética Porto Primavera),
que era um outro clube, mas nada impedia que os níveis cinco e seis também
fossem lá, só que o nível um ao quatro que não era indicado, eles não
podiam ir ao REC. E todas essas construções, as casas, por exemplo, nós
tínhamos casas que eram divididas em níveis. Conforme o nível você
morava num lugar mais próximo do centro ou num lugar melhor, asfaltado.
A cidade é em forma de um barco. E eu sempre digo, que nesse barco nós
tínhamos a sala de comando e conforme o nível seu você ficava num lugar
na cidade, então você olhando o mapa da cidade que é em forma de um
barco vai ver que todas as pessoas bem situadas na cidade ficavam na parte
de cima, na sala de comando mesmo e não na classe econômica, e os outros
iam para a classe econômica. Então, isso foi muito triste. Até em mercado,
nós tínhamos um mercado chamado FAEC que era dos funcionários da
CESP e pra você comprar no mercado, mesmo tendo dinheiro se você não
tivesse o nível, você não poderia nem entrar no mercado. (MENDES, 2007)
Questionamos também a respeito de como é a visão do Sr. Nadabe em
relação a questão do desemprego no município. Assim como nos demais relatos dos
moradores com quem tivemos contato, os relatos apresentados na entrevista confirmam
que após a finalização das obras das usinas, cessaram também as opções de emprego,
ficando a cargo da prefeitura os poucos empregos existentes no município. As pessoas
que não conseguem emprego na prefeitura e não são aposentadas são obrigadas a se
deslocarem para outras áreas a procura de trabalho. A seguir um trecho da entrevista
com o senhor Nadabe:
69
Tudo o que você fala de emprego, hoje, nós sabemos que emprego é um
problema mundial. As pessoas falam: “olha, acabou a barragem e nós não
vamos ter mais empregos”, de fato, haja visto que 90% da mão de obra que
tem Primavera e Rosana, no município de Rosana, é da prefeitura. Essa é a
mão de obra que ficou e nós temos mais um número que deve passar dos
70% das pessoas que tem residência no município de Rosana, mas que estão
trabalhando fora por falta de emprego, ou você é da prefeitura ou você vai
embora. (MENDES, 2007)
O próximo questionamento foi a respeito do que poderia ser feito para
melhorar as condições municipais, e se é possível visualizar melhoras nesse sentido. Em
relação a isso o Sr. Nadabe se mostrou bastante otimista. Ele compreende os graves
problemas municipais, mas reconhece suas potencialidades, alegando ser necessários
bons gestores municipais que trabalhem em prol da comunidade. Além disso, colocou
que as mudanças só serão possíveis a longo prazo.
Finalizando a entrevista, perguntamos se o turismo poderia ser uma
alternativa de geração de trabalho e renda para o município e qual seria o papel da
UNESP nesse processo.
Diante disso, o entrevistado disse que o turismo é hoje para o
município, não somente uma possibilidade, mas a única alternativa. O papel da UNESP,
segundo ele, já está sendo executado, haja visto os professores e alunos que vão aquém
das salas de aulas e se integram com a comunidade. Mas embora ele acredite que o
turismo seja a única solução para o município, acredita também que isso só terá retorno
a longo prazo e isso só ocorrerá “quando a população, os gestores municipais e todos os
envolvidos no processo se despertarem para isso e começarem a valorizar o potencial do
município”. E em potencial, ele não fala somente dos atrativos naturais ou atrativos
físicos, mas também dos atrativos culturais, a cultura da população, a história do local.
70
Análise Final da Pesquisa
A partir dos dados apresentados no decorrer desta pesquisa, o que
constatamos foi que o problema do desemprego e do subemprego está presente em
todos os núcleos habitacionais do município. As reclamações referem-se, em via de
regra, à falta de alternativas de emprego na localidade e ao descaso da administração
pública com o município. As pessoas encontram-se descontentes, porém, sentem-se
impotentes perante tal situação. Essa é uma visão, também, dos representantes de
entidades locais.
Estes relatam a falta de oportunidades de emprego e de alternativas
que gerem trabalho e renda aos moradores locais. Mas acreditam que o turismo pode vir
a suprir essa necessidade, no entanto a partir da realização de um trabalho de base e
planejado. Atualmente o município não encontra-se com em condições de oferecer um
serviço turístico de qualidade.
As pessoas ouvidas na pesquisa têm ciência da alta arrecadação
municipal, mas não conseguem observar a reversão disso em ações práticas para a
melhoria dos problemas do município.
Criou-se no município, acreditamos que provocado até por uma
empresa estatal (CESP), uma cultura assistencialista muito forte nas relações entre
população e órgãos públicos, talvez advindos de um paternalismo exacerbado dessa
mesma empresa na época da construção das usinas no município.
Há um grande número de pessoas se deslocando para outras áreas em
busca de emprego, pois não conseguem manter financeiramente suas famílias residindo
no município.
71
A pesquisa possibilitou-nos o contato com a perspectiva da população
em relação ao desenvolvimento do turismo como alternativa de geração de trabalho e
renda para o município, e pudemos perceber que pessoas com maior qualificação
profissional (os moradores aposentados e o Sr. Joabinadabe, por exemplo) se
pronunciaram otimistas em relação à atividade turística. Eles compreendem o turismo
como algo promissor para a cidade.
Já as pessoas com menor qualificação, possuem pouco conhecimento
sobre a atividade turística e, embora percebam pessoas diferentes visitando o município,
não enxergam nessas visitas, nenhuma possibilidade de mudança e ganho para o
município. Afirmam que os turistas que visitam a localidade nada interferem nas suas
vidas e que nunca pensaram em trabalhar com esse segmento.
Fato a ser pensado, pois se a intenção é desenvolver o turismo como
uma alternativa para exclusão social municipal, essa população com menor qualificação
deve ser incluída e participar do processo, mas será que é isso que ela quer? Esse
desenvolvimento será útil a ela?
Notamos, também, que apesar das pessoas vivenciarem os problemas
sociais existentes na localidade e expostos ao longo de nossa pesquisa, muitos
manifestam um sentimento positivo em relação a residir no município. Encontram em
Rosana, segundo eles, uma tranqüilidade que em outros locais não teriam.
Figura 05: Pôr do Sol no Rio Paraná (Município de Rosana) – Fonte: LIANG,2005.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base em todo o trabalho apresentado, concluímos que a
população de Rosana, por meio dos relatos que obtivemos não se encontra preparada
para o desenvolvimento de atividades turísticas no local.
O município possui potencial turístico, no entanto, deve ser realizado
um trabalho a longo prazo com a população local, de modo a garantir-lhe o acesso e a
participação no levantamento de informações sobre o município, como o diagnóstico de
seus problemas, suas potencialidades e as possíveis alternativas.
A maioria dos moradores contatados não enxerga a atividade turística
como uma alternativa para a localidade. Só consegue visualizar melhoras partindo de
ações dos órgãos públicos.
Com base em tais constatações, acreditamos que o turismo só poderá
ser desenvolvido no local quando a população puder participar mais ativamente de um
processo de conscientização, dos problemas e das potencialidades da região e do
município, o que só pode ser iniciado por meio de mudanças significativas de postura
tanto do poder público quanto do poder privado e da sociedade civil organizada.
Destarte, concluímos que a atividade turística só poderá se
desenvolver de maneira substancial, em Rosana, após esse processo de participação e de
conscientização da população local, aliando, posteriormente, o investimento em infraestrutura à visitação.
Nota-se, de maneira geral, que as pessoas só se envolverão com as
atividades turísticas na medida em que perceberem, por exemplo, que poderão ter
74
trabalho e renda, portanto sustentar financeiramente suas famílias, recepcionando
pessoas que virão visitá-los.
A administração pública do município, o setor privado e a sociedade
civil organizada possuem papéis fundamentais nesse processo e a Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) pode contribuir de maneira significativa,
não apenas formando recursos humanos qualificados na área, mas, sobretudo,
produzindo conhecimento sobre o tema, por meio de pesquisas, e estreitando sua relação
com a comunidade, por meio de projetos de extensão.
Figura 06: Balneário de Rosana. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSANA,
2004.
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BALTAR, Paulo E. A.; DEDECCA, Cláudio S.; HENRIQUE, Wilnês. Mercado de
trabalho e exclusão social no Brasil. In: OLIVEIRA, C. A. B.; MATTOSO, J. E. L.
(Org). Crise e trabalho no Brasil. São Paulo: Scritta, 1996.
BENI, Mário C. Análise estrutural do turismo. 8. Ed. São Paulo: SENAC, 2003.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 7 Ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
FUNDAÇÃO SISTEMA DE ANÁLISE ESTADUAL DE DADOS (SEADE), 2005.
Apresenta
o
perfil
do
município
de
Rosana.
Disponível
em:
http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/index.php/. Acesso em agosto de 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), 2005.
Apresenta dados estatísticos do município de Rosana. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 03 abril 2005.
LAGE, Beatriz H. G.; MILONE, Paulo C. (Org.). Turismo: teoria e prática. São Paulo:
Atlas, 2000.
LAGE, Beatriz H. G.; MILONE, Paulo C. Economia do turismo. 7 ed. São Paulo:
Atlas, 2001.
MERCADANTE, Aloizio. Mapa de inclusão: um guia de acesso às políticas sociais.
Brasília: Senado Federal, 2004.
MINISTÉRIO DO TRABALHO. 2005. Apresenta dados econômicos e sociais do
município
de
Rosana.
Disponível
em:
http://www.mte.gov.br/Empregador/caged/default.asp. Acesso em 16 maio 2005.
MOESCH, Marutschka M. A produção do saber turístico. 2 ed. São Paulo: Contexto,
2002.
NETTO, Alexandre Panosso; TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Reflexos sobre um novo
turismo: política, ciência e sociedade. São Paulo: Aleph, 2003.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Introdução ao turismo. Trad.
77
Dolores M. R. Corner. São Paulo: Roca, 2001.
POCHMANN, Marcio... [et. al]., (Org.). Atlas da exclusão social: a exclusão no
mundo. Vol. 04. São Paulo: Cortez, 2004.
POCHMANN, Marcio... [et. al]., (Org.). Atlas da exclusão social: agenda não liberal
da inclusão social no Brasil. Vol. 05. São Paulo: Cortez, 2005.
POCHMANN, Marcio... [et. al]., (Org.). Atlas da exclusão social: os ricos no Brasil.
Vol. 03. São Paulo: Cortez, 2004.
POCHMANN, Marcio; AMORIM, Ricardo (Org.). Atlas da exclusão social no Brasil.
2 Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
POCHMANN, Marcio; CAMPOS, André (Org.). Atlas da exclusão social no Brasil:
dinâmica e manifestação territorial. Vol.02. São Paulo: Cortez, 2003.
POCHMANN, Marcio (Org.). Desenvolvimento, trabalho e solidariedade: novos
caminhos para a inclusão social. 1º Ed. São Paulo: Cortez e Fundação Perseu Abramo,
2002.
POCHMANN, Marcio (Org.). Outra cidade é possível: alternativas de inclusão social
em São Paulo. São Paulo: Cortez, 2003.
POCHMANN, Marcio (Org.). Políticas de Inclusão Social: resultados e avaliação. 1º
Ed. São Paulo: Cortez. 2004.
PORTUGUEZ, Anderson P. Agroturismo e desenvolvimento regional. 2º Ed. São
Paulo: Hucitec, 2002.
PREFEITURA MUNICIPAL DE ROSANA. Historia de Rosana. Disponível em:
http://www.rosana.gov.br/Municipio/HistoriaRosana.asp/. Acesso em: 30 set. 2004.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. 1a Ed. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2002.
UNESP. A infra-estrutura de Rosana e seu potencial turístico. In: UNESP. Projeto
pedagógico do curso de bacharelado em turismo - Unesp – Rosana. Rosana: Unesp,
2002. Relatório.
UNESP. Caracterização do Pontal do Paranapanema. In: UNESP. Projeto pedagógico
do curso de bacharelado em turismo - Unesp – Rosana. Rosana: Unesp, 2002.
Relatório.
VALLADARES, Pádua C.; Faria Helder H. Plano de manejo do Parque Estadual do
Morro do Diabo. Instituto Florestal, 2002.
ZIMMERMANN, Adonis. Relatório da assessoria realizada ao município de
Rosana. Rosana. Zimmermann: Assessoria Gerencial e Eventos LTDA, 2004.
Relatório.
Figura 07: Grêmio em Primavera – Município de Rosana. Fonte: LIANG, 2007.
APÊNDICES
APÊNDICE 01: Entrevista com a coordenadora da Divisão de Assistência
Social da Prefeitura, Sraº Deize Cristina Silva Nunes.
Entrevista realizada no dia 18 de junho às 15h:00, na sede da Divisão
de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Rosana com a
coordenadora da Divisão, a Srª Deise Cristina Silva Nunes.
A Sr. Deise Cristina Silva Nunes é, atualmente, é coordenadora da Divisão de
Assistência Social da Prefeitura Municipal de Rosana-SP, na gestão 2004/2007,
prefeito Jurandir Pinheiro.
Qual o número de desempregados do município de Rosana?
R: Não tenho ao certo o número de desempregados do Município de Rosana, essa
pesquisa não foi realizada ainda. O que foi feito pela prefeitura no inicio da gestão
foram entrevistas para frente de trabalho, no núcleo urbano de Rosana e Primavera,
onde participaram cerca de 3.000 pessoas.
Qual foi o perfil das pessoas que participaram dessas entrevistas?
R: Foram na maioria mulheres, amasiadas ou separadas, com filhos, com idade de 25 a
40 anos, escolaridade até oitava série do ensino fundamental, procurando emprego de
auxiliar de serviços gerais.
A prefeitura empregou algumas dessas pessoas?
R: A prefeitura empregou aproximadamente 700 pessoas.
80
Como se deu esse processo de contratação?
R: A prefeitura contrata empresas terceirizadas para que estas contratem pessoas do
município para trabalharem em suas firmas, terceirizando assim o trabalho. Isso ocorre
porque a prefeitura não pode, devido ao orçamento dela, contratar pessoal a não ser que
seja por concurso ou por cargo e comissão ou por teste seletivo. Além de ter um valor
máximo que deve ser usado para contratação de pessoal, valor este que não pode
ultrapassar 30% do orçamento total (porcentagem estipulada por lei), então para
contratar mais pessoas, a prefeitura utiliza essa ferramenta de terceirização.
Além dessa ferramenta de terceirização, existem outros projetos ou programas da
prefeitura que visem à geração de trabalho e renda para a população local?
R: Tem. Tem o projeto da padaria.
O que é o projeto da Padaria?
R: É a implantação de uma padaria em um dos assentamentos, o assentamento Santa
Marina. O projeto será gerenciado por uma associação de mulheres do próprio
assentamento.
Quem financiará o projeto?
R: A prefeitura irá entrar com a parte de infra-estrutura, materiais e preparação para a
fabricação dos produtos. Mas o projeto ainda não foi implantado, nós enviamos agora
para São Paulo, estamos aguardando resposta.
Nós temos, também o projeto da costura.
O que é o projeto da Costura?
R: É um projeto onde as mulheres estão aprendendo a costurar com profissionais da
área, contratados pela prefeitura. Durante esse processo de aprendizagem, fábricas de
jeans e bonés da região estão vindo fazer a captação de mão-de-obra. A prefeitura é
responsável por ir atrás dessas fábricas e apresentar o projeto. Esse processo já está
acontecendo, a capacitação acontece numa estrutura logo na entrada de Rosana.
Possui mais algum projeto de geração de trabalho e renda no município?
R: Tem um projeto do Sr. Zé Galli, onde ele está fazendo plantação de árvores frutíferas
e hortaliças em terreno que não tem muita utilidade para o município. Mas não tenho
informações precisas sobre o projeto. Para maiores informações teria que conversar
diretamente com o Sr. Zé Galli, ele é funcionário da prefeitura, no setor de agricultura.
De geração de emprego e renda, o prefeito também está mexendo na fecularia, com o
intuito de retomar as atividades da mesma, mas ainda não é nada certo.
81
Em relação aos programas do governo, com quais a população do município é
beneficiada?
R: Nós temos aqui no município o Bolsa Família, que é um programa federal e atinge
média de 10%da população do município (cerca de 2.400 famílias). Depois nós temos o
Renda Cidadã, este é um programa estadual que beneficia 200 famílias com a quantia de
R$ 60,00 por família todo mês. Temos também uma parcela do estado com intuito de
trabalhar as famílias. Esta verba é destinada à realização de oficinas de artesanato,
culinária, etc. e ao fornecimento de cestas-básicas a algumas famílias do município.
Essas atividades ocorrem eventualmente.
Como funcionam essas oficinas?
R: A prefeitura contrata as pessoas para dar as oficinas.Durante as oficinas são
ensinados coisas bem atuais, proporcionando a possibilidade de comercialização de tais
produtos por parte dos participantes, sendo assim uma ajuda na renda mensal de
algumas famílias. Mas lembrando que as atividades ocorrem eventualmente.
As pessoas que já se beneficiam por algum outro programa podem participar das
oficinas ou alguma outra atividade advinda dessa parcela do governo?
R: Sim, as pessoas podem participar das atividades, mesmo participando de outros
programas. Nós temos também, o Ação Jovem. Trata-se de um programa estadual. Ele
beneficia 100 jovens de 15 a 24 anos com a quantia de R$ 60,00 por mês. Porque que o
governo pensou nisso? Porque essa é uma faixa etária que ficava descoberta de
atendimento. Esse programa tem o objetivo de incentivar o jovem a se manter na escola.
Também temos o Viva Leite, é um programa estadual que beneficia 800 crianças de 6
meses a 5 anos e 11 meses, através do recebimento de 1 litro de leite por dia. Para todos
os programas tem uma assistente social acompanhando.
Dentre os programas, a população das glebas também podem se beneficiar?
R: Não, eles não têm direito. Nas glebas há um programa municipal de apoio, porque lá
eles têm mais recursos, é um outro perfil, eles têm terra, têm gado, têm plantação, então
é diferente. Agora para os acampamentos, que são aqueles que ainda vão receber a terra,
o prefeito através de um projeto de lei, manda leite para as crianças carentes. È um
projeto municipal, o Projeto Leite para o Café.
As pessoas que residem nas glebas e nos acampamentos podem participar dos
projetos da costura, das oficinas?
R: Podem, eles podem se beneficiar de todos esses programas, melhor dizendo, eles só
não podem participar do programa do leite, mas dos demais programas eles podem se
beneficiar também.
82
Possui mais programas do governo que a população de Rosana se beneficia?
R: Do governo não. Tem mais alguns programas municipais. O projeto Criança Cidadã,
ele atende 200 crianças de 07 a 14 anos, no período contrario ao de aula, oferecendo
atividades de artesanato e recreação. Esse programa só ocorre no núcleo urbano de
Rosana. Em Primavera tem o Jovem Cidadão, atividades parecidas ao projeto criança
Cidadã, só que para os adolescentes, mas este programa está parado no momento. Nessa
nova gestão os jovens deram uma dispersada, devido a situação critica do município em
se tratando das questões políticas. Tem também, o Centro de Convivência do Idoso.
Atende idosos do núcleo urbano de Primavera e Rosana, oferecendo atividades de lazer
(hidroginástica, caminhadas, prática de esportes, etc.) e viagens.
Essas atividades são custeadas pela prefeitura?
R: Uma parte é custeada pela prefeitura e uma outra é arrecadada por eles mesmos. Eles
pagam uma mensalidade de R$ 5,00 por mês e realizam eventos para arrecadar fundos
para o projeto. Eles funcionam como se fosse uma associação, constituída de uma
diretoria. É bem organizada.
Seriam praticamente esses projetos, mas estamos criando agora o projeto para as
gestantes, Mamãe Sabe Tudo, onde as gestantes do município irão receber orientação no
seu período de gestação e aprenderão a confeccionar enxoval dos bebês, e ao final do
período de gestação irão receber uma banheira e o enxoval básico para o bebê. Esse
projeto ainda não foi implantado. E por último, tem o projeto Comida na Mesa, onde as
pessoas desempregadas ou com renda per capita inferior a R$ 100,00 recebem uma
cesta básica mensal.
Tem conhecimento de algum projeto na área de turismo para geração de trabalho
e renda para a população?
R: Não tenho conhecimento de nenhum projeto de turismo. Apesar de não ter nada a
ver, a gente tem uma preocupação muito grande com os turistas em relação ao turismo
sexual no município, mais especificamente no núcleo urbano de Rosana. Existe a
prostituição de adolescentes. Os turistas que vêm ao município desfrutam dessa pratica,
e o pior é muitas vezes a família dessas adolescentes têm conhecimento e permitem,
pois com isso elas ganham um “dinheirinho” para levar para casa.
A prefeitura não possui nenhum um projeto de combate ao turismo sexual no
município?
R: Por enquanto não. Nós estamos tentando um projeto que chama-se CRASE (Centro
de Referencia de Assistência Social), que irá trabalhar nos bairros, com as famílias. E
também estamos tentando um outro projeto federal que se chama Sentinela, será
composto por um psicólogo, uma assistente social, um pedagogo e um advogado e irá
trabalhar com a prostituição infantil. Inclusive uma sugestão seria você levar essa
preocupação para a Unesp com o intuito de captar interessados em pesquisas
relacionados ao assunto, pois precisamos de dados concretos para tentar, junto aos
ministérios, recursos para trabalhar o problema.
83
Sistematização dos dados
A entrevista com a coordenadora da Divisão de Assistência Social da
Prefeitura Municipal de Rosana – SP nos proporcionou um maior contato com a
realidade do Município de Rosana.
A partir dos programas e projetos apresentados foi possível ter uma
noção do que o município vem fazendo para sua população. Pudemos perceber que o
município possui certa preocupação com os problemas sociais, mas que muito ainda tem
que ser feito em prol da população menos favorecida.
Há a falta de mais projetos de geração de trabalho e renda, e existem
projetos importantes somente no papel. É importante lembrar que a entrevistada se
mostrou preocupada com turismo sexual infantil que ocorre no município, mais
especificamente no núcleo urbano de Rosana, atividade esta que vem a contribuir com a
importância de se criar alternativas geradoras de trabalho e renda a população local.
A seguir uma tabela como os programas e projetos citados no decorrer da entrevista:
Origem dos
Projetos e
Programas
Projetos e Programas
de Geração de
Trabalho e Renda
Projetos e Programas
Assistencialistas
Projetos e Programas
efetivamente em
funcionamento
Projetos e
Programas
Municipais
•1 Da Padaria;
•2 Da Costura;
•3 Fecularia
•4 Leite para o
Café;
•5 Criança Cidadã;
•6 Centro
de
Convivência dos
Idosos;
•7 Jovem Cidadão;
•8 Mamãe
Sabe
Tudo;
•9 Comida na Mesa
•10 Centro
de
Referencia
de
Assistência
Social.
•11 Da Costura;
•12 Centro
de
Convivência dos
Idosos;
•13 Comida
na
Mesa;
•14 Criança Cidadã;
Projetos e
Programas
Estaduais
•1 Renda Cidadã;
•2 Ação Jovem;
•3 Viva Leite.
Projetos
Federais
•1 Bolsa Família;
•2 Sentinela
•4
•5
•6
•3
Renda Cidadã;
Ação Jovem;
Viva Leite.
Bolsa Família.
84
APÊNDICE 02: Entrevista com a secretária executiva da Associação
Comercial de Primavera e Rosana, a Sraº Marlene Aparecida de Carvalho.
Entrevista realizada no dia 12 de junho às 14h:30, na sede da
Associação Comercial de Primavera com a secretaria executiva da
associação, a Srª Marlene Aparecida de Carvalho Silva.
A Sra. Marlene atualmente é secretária executiva da Associação Comercial de
Primavera.
Como a associação comercial enxerga o mercado de trabalho do município de
Rosana?
R: Em relação a isso, está meio parado. Nós não temos aqui indústrias, só temos o
comércio e o que tem é pequeno. Estamos precisando de empregos na região, porque,
além daqueles que possuem seu comércio e a prefeitura, não existe uma outra fonte de
renda no município, tirando o pessoal das glebas que possuem seu plantio, mas que
atualmente, não tem muita coisa também. Eles diminuíram sua produção, pois alegam
não ter para quem vender. Então, está muito parado, teria que haver alguma coisa,
desenvolver o turismo, por exemplo, para trazer pessoas para visitar nossa região e com
isso mais recursos para o município. Podendo ter a possibilidade de gerar empregos na
hotelaria, restaurante, para os barqueiros e com a visitação em geral (usina, rios, áreas
naturais). Porém, isso é complicado, porque a gente não tem uma estrutura para o
turismo ainda, não temos um hotel ou uma pousada, se fosse necessário receber um
grande número de turistas, não teria como. No casso, deveria haver um investimento
nessa área, e para a concretização disso, teria que ser realizado um trabalho, tanto na
parte de estruturação da cidade, quanto na parte rural para atrair assim, um público, não
só para o turismo ecológico, mas para o turismo rural também, pois nossa área é
propícia para o turismo, só falta o desenvolvimento dessa atividade.
A associação comercial cuida somente da cidade de Primavera ou abrange o
município todo?
R: A Associação comercial abrange o município todo. Instalou-se em primavera pelo
fato de que Primavera possui maior número de comerciantes do que Rosana.
85
Como a associação enxerga a parte de recursos humanos do município? As pessoas
são qualificadas?
R: Sobre esse assunto, eu não sei direito, pois os comerciantes não usam a associação
para contratar esse pessoal. Há o contato direto entre a empresa e o trabalhador, então,
não sei o que eles exigem de qualificação para esses funcionários.
A associação comercial possui em convenio com o Sebrae, o qual procura trazer cursos
e palestras para os associados. As palestras geralmente são gratuitas e os cursos de
baixo custo. Procuramos trazer cursos e palestras tanto para os empresários quanto para
os funcionários. Mas pela situação de baixa geração de emprego, as pessoas não se
interessam muito. Teve época de trazer cursos gratuitos e a população não se
interessarem, mas a situação está um pouco melhor agora, hoje, os empresários parecem
estar mais preocupados, mas a maioria das pessoas que estão fazendo os cursos agora
são os alunos da faculdade de Administração (CESPRI), pois, têm alguns empresários
do município que estudam na faculdade. Assim, é de interesse deles, não só para ajudar
nos empreendimentos comerciais, mas, também, pela faculdade (conta como
extracurricular para os alunos).
No geral acho até que os demais comerciantes e funcionários têm até vontade de fazer
os cursos, mas a situação financeira está tão difícil no município que a população e
comerciantes não se estimulam para fazer os cursos.
Então você acha que o principal motivo do desinteresse, é o fato da população não
ter para quem vender seus produtos e isso causa um desestímulo na mesma?
Sim, principalmente na agricultura. Agora, nós estamos desenvolvendo um projeto que
é o projeto da feira-livre. A população está bem contente com o projeto, estão contentes
porque estão vendendo seus produtos.
São as pessoas das glebas que trazem os produtos?
Então, foi criado para trazermos o pessoal das glebas principalmente, pois a partir do
momento que eles começassem a produzir e vender, começaria a girar o capital e
desenvolver o município, mas nós não conseguimos ônibus para trazer esse pessoal. Nós
solicitamos ônibus para a prefeitura, mas não conseguimos nada. Mas mesmo assim,
tem um pessoal que vêm por conta própria. E tirando essas pessoas, a maioria é do
bairro Campinho e do Cinturão verde, eles produzem hortaliças, mandioca e outros
produtos. Esse foi um projeto que a gente criou que está dando certo.
De uma maneira geral, como vocês analisam o desemprego no município?
R: Não existe alternativas de emprego no município, o que mais emprega pessoas é o
comércio, tem umas outras pessoas que trabalham na usina, mas são bem poucas. O
movimento que tínhamos na época da construção da usina era bastante intenso, mas
atualmente, com a finalização das obras, não tem mais oportunidades de emprego. As
pessoas que trabalhavam na usina e que perderam seus empregos com o seu término
estão deixando suas famílias aqui e indo trabalhar em outros lugares e muitos foram
embora definitivamente. Assim, as famílias estão tendo de ficar sozinhas no município e
86
seus maridos se deslocarem para outros lugares para poderem sustentar suas famílias,
isso devido à falta de alternativas de geração de emprego e renda no município.
Os que mantêm o município, hoje, são os aposentados que ficaram, estes tem gerado um
dinheiro para a localidade, eles recebem e gastam aqui mesmo. Tirando isso, nós não
temos mais nada.
E tem muito desempregados no município?
R: Tem. Nós tivemos notícias que saiu um ônibus para o Sul do país à procura de
emprego, mas a maioria acabou voltando pelo fato de não terem arrumado nada.
O desemprego aqui é muito grande, as pessoas não têm onde arrumar emprego, não tem
lugar para trabalhar.
Eu mesma tenho um filho, ele tem 17 anos e não tem onde colocá-lo para trabalhar, mas
isso em se tratando de menores de idade, imagina o restante que é maior e que não
conseguem arrumar emprego também. Só se consegue emprego se for embora, porque
aqui não tem. Onde vão arrumar emprego aqui? No comércio? O comércio que tem é
pouco, que são mantidos pela própria família e quando empregam é um ou dois
funcionários, a não ser os mercados que são maiores e contratam um pouco mais de
pessoas.
Em relação a emprego aqui, a situação está muito difícil. Não tem onde ficar esperando
surgir uma vaga, não existe essa possibilidade. Precisamos que comece a desenvolver
atividades de geração de emprego e renda.
Há um tempo atrás teve a construção de uma fábrica de costura, teve uma vez uma
oportunidade dessa, mas não deu certo e foi embora do município e agora abriram uma
outra, essa gerou até bastante emprego, mas é para um público muito especifico
também, só para quem trabalha com costura. E o restante das pessoas que trabalhavam
na construção civil e continuaram no município, hoje sobrevivem com os chamados
“bicos” (reforma de casas, e outros serviço), mas que é muito difícil aparecer também.
Como a associação comercial enxerga o Turismo para o município? Vocês acham
que essa atividade pode ser uma alternativa?
R: O Turismo seria uma opção de desenvolvimento. Para isso precisaria que os órgãos
responsáveis pelo município ajudassem a desenvolver essa atividade. Tanto que já
existe um projeto, o Captur, pelo Sebrae que está auxiliando no desenvolvimento do
Turismo local, mas mesmo assim, necessita do compromisso dos órgãos competentes do
município para desenvolver essa área e através desse desenvolvimento, trazer o pessoal
de fora para melhorar a região, esse projeto já está oferecendo cursos para a população
da região (ex: curso de gastronomia em Teodoro Sampaio), porém, esses cursos teriam
que ser trazidos para o município, pois é complicado o deslocamento das pessoas daqui
do município até Teodoro. Acredito que esse curso vai ajudar bastante no
desenvolvimento do Turismo regional. Uma outra coisa muito importante e que deve ser
feita é a estruturação das atividades e depois divulgá-las, pois se as pessoas não
conhecerem o município não virão visitá-lo., o turista precisa conhecer o local. Acho
que o importante é tentar desenvolver essa atividade, se tivermos o apoio da prefeitura e
de segmentos interessados. O poder público precisa parar de deixar as coisas somente
no papel e começar a agir, o nosso município tem muito potencial a ser desenvolvido,
tem uns artesão que fazem um trabalho muito bonito, temos os rios, talvez seja
87
interessante criar coisas relacionadas a esportes, temos as trilhas, basta que esses
atrativos sejam estruturados, fazer um levantamento dos pontos turísticos e montar
infra-estrutura para o turismo. Assim, se tivermos apoio e vontade, é algo que pode ser
desenvolvido sim.
Sistematização dos dados
A entrevista com a Secretária Executiva da Associação Comercial e
Empresarial de Primavera e Rosana – SP nos proporcionou um maior contato com a
realidade dos comerciantes do Município de Rosana.
Vimos que o município é muito carente em se tratando de
oportunidades de emprego, necessita de novas alternativas de geração de emprego e
renda para a população local. Além, disso foi possível notar o grande êxodo que houve a
partir da finalização da construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta e a
visão do setor de comércio municipal em relação ao Turismo. Eles acreditam que o
turismo possa ser uma alternativa de desenvolvimento local, mas têm a consciência que
para isso se tornar realidade, deve haver a iniciativa dos órgãos responsáveis pelo
município, destacando bastante a atuação do setor público.
Houve, também, a preocupação com implantação de infra-estrutura
para receber turistas e com a divulgação da localidade.
88
APÊNDICE 03: Entrevista com o presidente da Associação dos Moradores
de Primavera “Amoprimavera”, o Sr. Cícero Simplício.
Entrevista realizada no dia 23 de outubro às 14h:00, na sede da
Associação dos Moradores de Primavera “Amoprimavera” com o
presidente da associação, o Sr. Cícero Simplício.
O Sr. Cícero é, atualmente, presidente da Associação dos Moradores de Primavera
“Amoprimavera”.
Qual o trabalho da associação dos moradores aqui no município?
R: O nome mesmo diz, associação de moradores, então, ela engloba todo e qualquer
problema que venha atingir os moradores. A partir do momento que a pessoa fica sócia,
ela outorga o direito da gente cuidar dos seus direitos.
Os moradores são sócios da associação? Eles pagam para ficarem sócios?
R: Eles ficam sócios e para ficarem sócios, segundo o estatuto, eles teriam que pagar um
taxa de cinco reais, mas eles não pagam.
Os sócios da associação possuem benefícios no comércio como descontos, por exemplo.
Nessa nova gestão, nós ainda não conseguimos nosso objetivo, mas na outra gestão os
sócios tinham desconto em farmácias, laboratórios, padarias e em outros
estabelecimentos básicos do comércio.
Se não há o pagamento das taxas por parte dos sócios, como a associação
sobrevive?
R: A associação tem um ônibus da prefeitura e a maioria dos problemas nós
encaminhamos para a prefeitura. E despesas como água, luz, telefone é a prefeitura que
paga também. Além da prefeitura, o comércio local ajuda muito.
Em relação ao desemprego no município, como a associação enxerga esse
problema?
R: Em relação ao desemprego, nós sempre estamos buscando parcerias com a prefeitura
para gerar emprego para a população. Nós conseguimos a vinda de uma fábrica para cá.
A fábrica Triacon (confecções), em Primavera, que atualmente emprega 65 pessoas e
pretende chegar ao número de 200 empregados. Na visão geral, a gente busca o
desenvolvimento através de empregos e de frentes de trabalho junto ao prefeito. Nesse
sentido nós temos um bom relacionamento com o prefeito. Mas mesmo assim, emprego
aqui é muito escasso. Não tem emprego e a vida útil da cidade está muito precária. O
89
homem hoje não tem onde trabalhar. Essa é a realidade, com o término da obra, não tem
mais emprego. As pessoas que moravam aqui tinham duas opções, ou era a obra ou era
a prefeitura, tinha que ter acabado a prefeitura, se continuasse a obra teria mais emprego
(risos). Atualmente, temos só o comércio e a prefeitura, e não temos muitos empregos
não, mas estamos lutando para buscar. Não vamos deixar nossa cidade morrer, não.
Como a associação dos moradores enxerga o Turismo para o município? Vocês
acham que essa atividade pode ser uma alternativa?
R: O turismo é uma grande saída para o município. A gente acredita no turismo e por
que o turismo? Porque o turismo faz gerar renda para o município. O próprio estado se
compromete a mandar verba a mais para o município por causa do turismo. Assim, a
gente começa a implantar os hotéis-fazenda, os pesque e pagues, enfim, o lazer como
atração para os turistas, as marinas podendo ser realizados campeonatos de pesca, de jet
ski. A geração de renda se multiplica rapidamente com o turismo.
O Sr. acha que as pessoas possuem essa consciência de que o turismo pode ser uma
alternativa de geração de trabalho e renda para o município?
R: Na verdade é difícil falar que todas as pessoas possuem essa consciência até porque
eles não possuem o costume. É uma coisas mais cultural, então eles teriam que ver para
crer. Isso sem falar da elevada equitação de preços que vai ganhar cada residente daqui.
E como o Sr. enxerga essa cultura assistencialista que foi criada na população do
município?
R: Realmente essa é a situação do município, mas nós não podemos continuar dando o
peixe. Não pode ter um continualismo. Nós temos que parar com o assistencialismo.
Nós temos que ensinar as pessoas a pescar, então, em vez de dar o peixe, ensinar as
pessoas a pescar e como? Trazendo fontes de renda para que cada um busque seu
sustento e a estância turística eu vejo ela como uma ótima saída para o momento. O
próprio pólo nosso hoje, ele pode ser um pólo industrial de grande significância, devido
ao território que estamos que abrange três estados (PR, MS e SP), assim, a matéria
prima fica muito mais barata. Imagina o transporte que por aqui passa vindo do PR ou
MS. Então, temos condições de centralizar uma grande fábrica no município como por
exemplo, a implantação de uma industria de óleo combustível (o transporte de soja
passa pra Presidente Prudente que são 200 Km daqui e para Maringá que são 200 KM
também), e ficaria aqui em um raio de 200 Km. O ganho com o transporte seria viável.
Agora, precisa de uma administração que tenha visão para fazer o povo caminhar na
prosperidade dessas negociações e parar com o assistencialismo.
O que poderia ser feito para melhorar a situação do município?
R: A implantação de indústrias que sejam viáveis como, por exemplo, nos moldes da
que já comentamos (óleo combustível para o transporte) e a implantação do turismo que
seria de última hora, a salvação do município. Até porque não pode vir para cá uma
90
indústria que jogue o óleo na terra e a fumaça no ar. É complicado. Temos que ter a
preocupação com o meio ambiente, mas existem hoje, órgãos competentes que cuidam
dessa parte e temos, também, o zoneamento ambiental que diz onde pode ser implantada
a indústria que joga fumaça e a indústria que joga o óleo no chão, por isso que digo que
não é proibido utilizar-se do meio ambiente, mas sim de degradar o meio ambiente e
para tudo se tem um jeito.
Em relação a Unesp no município? Em que ela poderia contribuir para o
município, já que possui um curso de turismo?
R: Veja bem, qual a contribuição da Unesp? A Unesp é uma faculdade e quando a gente
conta com uma faculdade, contamos com estudos. Nós temos uma carência muito
grande de estudos no meio rural e a Unesp pode nos ajudar, no turismo e a Unesp pode
nos ajudar, no comércio e a Unesp pode nos ajudar, pois não temos ainda esses cursos
avançados. Mas as grandes faculdades trabalham em projetos voluntários para os
municípios que elevam muito o município. O campo aqui é muito grande, depende de
um avanço, também, nos cursos da Unesp, um curso técnico em agricultura, cursos na
parte agrícola (análise do solo, diagnóstico do que precisa na lavoura para que a gente
possa produzir mais, cuidados com a terra), assim como vocês irão cuidar do meio
ambiente e cuidar do turismo. O ponto básico hoje no município é o turismo, óbvio,
temos potencial e isso é interessante, mas é interessante os pontos que estou colocando
também, a parte da agricultura.
Qual é a visão do Sr. como morador do município? O Sr. possui expectativa de
mudanças?
R: Eu tinha uma visão diferenciada do município ao término da obra. Eu tinha uma
visão que ao término da obra ficariam aqui muitas empresas, muitas indústrias e foi
assim que nos enganamos. Mas não vou dizer que o município não tenha jeito, ele tem
jeito sim. Ele tem futuro. Ele tem prosperidade. Ele é um município fácil de manusear o
seu desenvolvimento, haja vista que nós temos condições e capacidade de montar um
porto inter-modal aqui. Nosso potencial aqui é muito grande. A visão do
desenvolvimento aqui é ampla.
E o Sr. tem alguma idéia de como poderiam ser feitas essas mudanças?
R: Hoje, a gente não consegue fazer nada sem a chamada política. Infelizmente, nós
vivemos e sobrevivemos da política, então é necessário que alguém encare os problemas
e projetos de perto junto a estância maior, a esfera, até mesmo de governados e
presidente da república para que venha investir de fato no nosso município. E chegar a
essa esfera através do prefeito, dos vereadores, dos deputados, pois só a população, só o
comércio ou só a faculdade não conseguem chegar ao desenvolvimento. Tem que ter
uma parceria forte. O papel da gente é buscar o crescimento, sonhar alto, grande e de
tentar buscar alguma coisa, pois a vinda da faculdade pra cá, nós estávamos lutando e
conseguimos, uma grande conquista. O dia que derem as mãos, a faculdade, o comércio
e o órgão público, o que temos aqui da pra gente viver muito bem.
91
Sistematização dos dados
A entrevista com o presidente da Associação dos Moradores de
Primavera “Amoprimavera” nos proporcionou um maior contato com a realidade dos
moradores do Município.
Com a entrevista, o que nos pareceu é que a associação é bastante ativa
em seus trabalhos, buscando sempre parcerias com a prefeitura e lutando pelos direitos
dos moradores, mas dentro de suas possibilidades.
Vimos, como nas outras entrevistas realizadas, que o município é muito carente em se
tratando de oportunidades de emprego, necessita de novas alternativas de geração de
trabalho e renda para a população local. Além disso, enxergam que a cultura
assistencialista do município necessita de mudanças, é necessário ensinar a pescar e não
somente dar o peixe.
A visão da associação dos moradores em relação ao turismo é bastante
positiva, eles acreditam na potencialidade turística municipal, mas relatam que a
população não tem a cultura para a prática turística, tendo que ver os acontecimentos
para acreditar nas mudanças a partir dessa atividade e ressaltam ainda, o investimento
que pode ser feito no município por parte do estado quando o mesmo iniciar seus
investimentos turísticos (aumento de verba, por exemplo).
Além do turismo, colocaram que uma alternativa para geração de
trabalho e renda para a população local também seria a vinda de indústrias como de óleo
combustível e o investimento na agricultura.
Mostraram a necessidade da política no processo de desenvolvimento e
a preocupação com o trabalho em conjunto entre poder público, privado, população
local, universidade, ressaltando a importância das universidades em estudos nos mais
diversos setores.
92
04: Entrevista com o presidente da Associação dos
Aposentados da CESP, o Sr.º Ranufe Batista Leite.
APÊNDICE
Entrevista realizada no dia 24 de outubro às 09h:00, na sede do
Associação dos Aposentados da CESP localizada no Município de
Rosana-SP, o Sr. Ranufe Batista Leite
O Sr. Ranufe Batista Leite é, atualmente, presidente da Associação dos
Aposentados da CESP localizada no município de Rosana-SP.
Qual o trabalho da associação dos aposentados da CESP no município?
R: Nosso trabalho aqui é em relação ao lazer. É dar lazer aos aposentados. Eles ficam
ociosos, então, vêm aqui para se divertir, jogar um baralho, tomar um café, um chá, essa
é a primeira finalidade. A segunda finalidade é defender os direitos dos aposentados
através de ações sociais, com reuniões com empresas. E uma outra finalidade é manter o
diálogo para que o aposentado tenha mais tempo de vida, pois manter a cabeça ocupada
aumenta a qualidade de vida do aposentado.
Como foi a mudança de vida de quando chegaram aqui, no inicio da construção da
usina, e atualmente?
R: No início, quando chegamos aqui e começamos a desbravar tudo para a construção
da obra, foi bem difícil. Não havia nada, era só mato, enfrentamos muitas cobras, mas a
CESP deu todo apoio para nós e logo nos acostumamos e hoje não queremos mais ir
embora. Quando nós chegamos aqui, a cidade não existia. A cidade foi construída para
construir a obra, pois não tinha local para morar, em Rosana não tinha condições, Tinha
que viajar muito, então a CESP fez um estudo. Era mais barato comprar um canteiro e
construir um núcleo residencial para os funcionários ficarem mais perto da obra. Era
mais viável a construção desse núcleo, surgiu então Primavera. Quando Primavera era
da CESP, a CESP assumia toda a responsabilidade, o compromisso era manter ela mais
limpa possível. Ela tinha a obrigação de manter e trazer firmas para cá, também, depois
veio a Unesp, tem essa outra faculdade (Cespri). Foi criado aqui o fórum, pois aqui
ainda é distrito, o município é Rosana. A CESP fez um hospital bom, porque aqui é
muito longe, a cidade mais perto é a 200 KM daqui (Presidente Prudente, Maringá),
então tinha um hospital para socorrer pelo menos de imediato, então era tudo mantido
com aparelhagem nova. Mas, depois que a CESP resolveu privatizar, o que aconteceu?
Ela tinha que ficar livre da cidade, então ela tinha que vender a cidade, vender não, mas
passar a cidade para um órgão municipal, foi quando passou para a prefeitura. Com isso
a CESP tem um prazo de 72 a 78 meses para ajudar a manter a cidade, inclusive esse
prazo está terminando agora. Mas depois que passou para a prefeitura a situação piorou
muito. A prefeitura não tem condições de manter o hospital decente e se a CESP parar
de ajudar, não sei como vai ficar. Mas nós estamos tentando passar o hospital para
regional agora. O projeto já foi passado pela assembléia regional através do deputado
Bragato e vai ser regional, provavelmente com 43 leitos, assim, o hospital melhora. A
CESP vai dar o dinheiro para fazer o restante das coisas que faltam, aqui tem o projeto
da CESP de fazer a vila olímpica, o ginásio de esportes, a rodoviária e o restante do
asfalto.
93
Tudo isso são as obras compensatórias da construção da Usina?
R: É obra compensatória, mas ainda não foi repassado. Falta um restante e esse restante
vai cobrir o que falta. E o hospital se tornando regional, quem vai manter ele é o
regional, só que quem vai tocar é o município e o dinheiro que vem é do estado e assim,
o município tem condições de manter ele. Pois se fosse o município, não teria condições
de manter. Se não começar agora, até janeiro começa, eu tenho contato direto o
deputado Bragato e ele está empenhado nisso. As coisas vão melhorar, agora não está
bom não, mas vai melhorar.
E a questão do desemprego no município? Como anda?
R: O desemprego aqui é falta de vontade política, porque a nossa região é carente,
então, nós somos duas regiões no estado de São Paulo carentes: o Pontal do
Paranapanema e o Vale do Ribeira, mas nós temos um potencial que o Vale do Ribeira
talvez não tenha, nós temos aqui uma área turística muito grande, temos condições de
implantar hortaliças de qualidade no varjão e tudo isso cria emprego. A indústria é um
pouco difícil de vir aqui, mas a prefeitura tem muito serviço, tem a usina que ainda dá
emprego. Está faltando os políticos serem mais atentos, terem mais vontade de criar
emprego. Área para criar nós temos, principalmente no turismo. Não é qualquer lugar
que tem uma área turística igual a nossa, mas não se aproveita. Onde uma cidade desse
tamanho tem uma faculdade do Estado? Onde tem duas faculdades? É só querer, o
importante é ter contato com vereador, prefeito e cobrar dos deputados. Potencial para
empregos nós temos bastante, não era para ter ninguém desempregado aqui.
E a questão do turismo no município? Acha que pode ser uma oportunidade?
R: O que se fala muito aqui é em relação ao turismo, porque existe potencial turístico
muito grande e pode criar muito emprego. Cria o caseiro, o zelador, cria renda para o
município do pessoal que vem aqui aproveitar da área turística. Aqui é tudo longe. Para
o pessoal de Prudente é muito mais fácil vir para cá que está a 200 KM do que ir para
praia que fica a 1000 KM, então, aqui é a área certa. A indústria eu acho um pouco mais
difícil, porque a indústria tem que trazer a matéria prima e depois tem que levar a
produção para vender em outro lugar porque aqui não vende. Mas tem outra coisa que
poderia criar muito emprego aqui é uma região que se chama varjão, é uma área de
3.994 alqueires. Se conseguir através do meio ambiente, do Ibama, fazer horta ali. Nós
temos uma região mais produtiva do Brasil, quase igual Franca, Campinas, porque a
área é fértil. Dá para produzir e exportar verdura e não é entregar para 3 ou 4 pessoas é
para 2 ou 3 mil pessoas, além de ser uma prática barata.
Onde está localizada essa área?
R: É no Panema, ele começa na altura da ponte da barragem de Rosana e vai até no
Pontal.
94
Essa área não é utilizada?
R: Não é usada para nada. O meio ambiente não deixou, mas eu já conversei com
autoridades e eles disseram que se for pela coletividade a área seria liberada para
plantação. Eles já plantaram coisas nessa área, o meio ambiente parou, mas a barranca
do rio já está toda danificada, então se recuperar o varjão, a barranca do rio também
seria recuperada.
O que o Sr. acha que poderia ser feito para melhorar a situação do município?
R: Como eu já disse, o turismo é muito importante e a agricultura, também. Temos
muitas áreas férteis, mas falta uma coisa, falta vontade e acabar com a corrupção, acabar
com o desvio de dinheiro, porque o desvio de dinheiro aqui no município é grande. Nós
temos uma arrecadação de 04 milhões por mês e ninguém sabe cadê esse dinheiro. Ele
poderia ser aplicado em emprego e em um monte de coisas e com isso o município está
parado. Muitos desempregados e em condições precárias de viver. Tudo o que falta sem
a política não tem jeito, e cabe às autoridades ir atrás. Eu já fui vereador e sei como é.
Depende muito da câmara e do prefeito. Mas hoje o município está muito mal.
Qual o papel da Unesp no município?
R: A Unesp sabe como que faz para desenvolver o turismo, inclusive a Unesp já tem
alguns projetos bastante avançados para desenvolver o turismo aqui. Existe um projeto
da Camargo Correia sobre o turismo. Na época esse projeto ficou em 01 milhão e 200
reais e eles deram de graça e nunca prefeito nenhum foi atrás desse projeto. Eles deram
um projeto mastigado de como implantar o turismo aqui e está precisando pegar um
projeto desse para desenvolver o turismo. A Unesp tem um papel principal, ela está
ministrando o curso de turismo e conhece toda a região. O turismo aqui é o seguinte,
todo mundo sabe que aqui tem um potencial muito grande que não existe em nenhum
lugar, mas o que está faltando? Está faltando vontade das autoridades, porque as
autoridades sabem que recebem muito dinheiro da obra, então não tão pensando em
mais nada. Eles sabem que tem e nunca vai acabar. Eles têm que começar a desenvolver
o turismo, mas nós não temos nenhuma propaganda, ninguém conhece aqui. Se tiver
propaganda as pessoas viriam para cá e iriam gostar porque todo mundo que vem para
cá gosta.
Como é feito esse repasse de verba da CESP para o município?
R: Durante os 78 meses, a CESP repassa uma base de 600 a 800 mil reais mensais para
manter o hospital e mais 300 a 400 mil reais mensais para manutenção da vila e, além
disso, tem a verba das obras de compensação. É um dinheiro que vem a parte. É o
dinheiro para construir a vila olímpica, o ginásio de esporte, o hospital, a rodoviária, um
restante de asfalto que não foi terminado, um exemplo, o dinheiro para construir o
hospital está avaliado em 11 a 13 milhões de reais.
95
Mas esse dinheiro já está disponível no município?
R: Esse dinheiro já está disponível para fazer as construções, mas a CESP exige que
esse dinheiro não seja entregue de uma só vez. Eles entregam o dinheiro de acordo com
que as coisas vão sendo construídas. Parece que eles entraram em um acordo e o
hospital vai sair agora. O projeto é feito pela CESP, mas as obras não foram realizadas
ainda. O início das obras provavelmente será iniciada a partir do início da construção do
hospital. A CESP tem seu papel de culpa, pois já havia ter realizado as obras, mas a
partir do momento em que a vila foi repassada para a prefeitura, as obras deveriam ter
sido realizadas pela prefeitura com o dinheiro da CESP, então cabe ao prefeito a
cobrança à CESP em relação à concretização das obras. Mas isso não é só função do
prefeito, é dele, dos vereadores, do presidente da câmara.
Sistematização dos dados
A entrevista com o presidente da Associação dos Aposentados da
CESP nos proporcionou um maior contato com a realidade das pessoas que chegaram
aqui no início da construção do núcleo de Primavera. Contaram-nos um pouco da
história de como foi desbravar e construir uma vila que hoje é mais desenvolvida que o
núcleo habitacional de Rosana. Além disso, foi possível termos conhecimento de como
foi o trabalho da CESP no município quando aqui se instalaram para a construção das
usinas hidrelétricas.
Com a entrevista, o que nos pareceu é que a associação é bastante
preocupada, primeiramente com seus associados, com a qualidade de vida dos
aposentados que aqui residem, mas se preocupam também com os problemas
municipais, indo atrás dos representantes públicos a fim de fazer cobranças de
melhorias e ações.
Vimos, como nas outras entrevistas realizadas, que o município é
muito carente em se tratando de oportunidades de emprego, necessita de novas
alternativas de geração de trabalho e renda para a população local, mas colocam que o
município possui muito potencial e citam o turismo e a agricultura como alternativas
potenciais.
A visão da associação dos aposentados em relação ao turismo é
bastante positiva, eles acreditam na potencialidade turística municipal.
Mostraram a necessidade da política no processo de desenvolvimento, julgando-a
essencial para que as ações sejam efetivadas e ressaltam a importância da Unesp no
processo de desenvolvimento turístico.
96
APÊNDICE 05: Entrevista com a coordenadora de eventos da Divisão de
Turismo, Cultura e Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana, a Sra.º
Daniela Marques Antoniolo.
Entrevista realizada no dia 23 de outubro às 15h:30, na sede da Divisão
de Turismo, Cultura e Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana-SP,
a Sra.º Daniela Marques Antoniolo
A Sr. Daniela Marques Antoniolo, atualmente é coordenadora de eventos da
Divisão de Turismo, Cultura e Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana-SP, na
gestão 2004/2007, prefeito Jurandir Pinheiro.
Quais projetos vêm sendo realizados pela Divisão de Turismo, Cultura e Eventos
no município de Rosana?
R: O projeto que a gente tava trabalhando e que está em andamento é o Projeto do
Portal junto com o posto de informação (tais projetos serão custeados pela CESP como
obra compensatória). Tem um outro projeto em andamento é o Bela Cidade que já
começou a ser desenvolvido. Não sei se você viu as placas espalhadas pela cidade, mas
o projeto é a colocação de placas pela cidade com frases de educação ambiental e
preservação da natureza.
Como anda o projeto do portal e do posto de informações?
R: Está estacionado. Nada definido até agora. A única coisa que falta, na verdade, é o
prefeito encaminhar o projeto para a CESP para a liberação do dinheiro para iniciar as
obras que no caso, entrará como obra compensatória.
Possui previsão para o envio do projeto, já que o projeto já está pronto?
R: A previsão que o prefeito tinha passado para nós era até julho desse ano e até agora
ele não retornou. Estamos no aguardo. E um outro projeto que está em andamento e está
em fase final é em relação ao título de estância turística. O pessoal da SETESB está para
vir fazer os laudos agora em novembro. O de balneabilidade já saiu que é o da SABESP,
da água, esgoto, planejamento da cidade, em relação ao abastecimento, isso tudo já está
sendo providenciado. O de laudos turísticos, a parte de equipamentos turísticos que tem
no município também já está sendo feito, inclusive nós fizemos uma parceria com a
professor Edson Piroli da Unesp. Ele que nos deu os dados, agora estamos terminando
de formatá-los e provavelmente o título deva sair em julho de 2007. Porque
encaminharemos o projeto até o final do ano para o DADE (Departamento de Apoio ao
Desenvolvimento de Estâncias). Ele que vai definir. A gente passa o projeto para o
DADE e ele repassa para o governo federal e o governo junto com a câmara dos
deputados e o poder legislativo que vão ver se o município merece ou não o título, por
isso que a gente fala que até julho do ano que vem, pois é um processo demorado.
97
E qual é a expectativa em relação à conquista do título de estância turística?
R: Está grande. O título vai sair, porque a gente tem toda a infra-estrutura. A gente pode
achar que é pequeno, que ainda falta, realmente falta. Tem que melhorar várias coisas,
só que temos a possibilidade, principalmente, por causa dos atrativos naturais, e a gente
pode trabalhar com eles. Eles podem ser lapidados, já outros municípios tem a principal
dificuldade é a poluição, nós temos o exemplo de Panorama que não conseguiu o título
por causa das olarias e aqui nós temos um ambiente mais saudável que contribui para
conseguirmos o título.
Como foram realizadas as pesquisas em relação ao levantamento dos atrativos
turísticos do município e infra-estrutura?
R: Essa pesquisa a gente fez junto com a Unesp que está nas mãos do professor Edson
Piroli, ele fez junto com a aluna Luciana Moura e outros alunos que fizeram várias
partes da pesquisa. A pesquisa a gente já tem, só falta terminar de formatar.
Qual é a preocupação da prefeitura em relação à população local?
R: A principal idéia é trabalhar com a consciência dessas pessoas. Fazer com que elas
entendam quais são os benefícios. A gente já tem até uma palestra que está pronta.
Estamos só esperando a aprovação porque a gente quer fazer uma parceria já com o
MEC e com a divisão de educação para inserir a matéria Turismo nas escolas de ensino
fundamental e médio. Assim, facilitaria nosso trabalho, pois a partir do momento que
você passa a educar essas pessoas, começa a disseminar as informações (porque o
turismo vai ser bom pra mim? O que eu vou ganhar com os turistas?).
Esse projeto por enquanto é só uma idéia ou já está em andamento?
R:Ele já está todo formatado. A gente já passou para o professor Nivaldo da divisão de
educação e agora a gente está aguardando, pois não é uma coisa fácil, não é de um dia
para o outro que a gente consegue mudar a grade curricular de uma escola. Mas é
possível, Presidente Epitácio já conseguiu, eles fizeram até uma cartilha e nós pegamos
o exemplo deles.
E em relação à população que não está mais na escola? Tem algum projeto
direcionado a conscientização dessas pessoas?
R: Esse é uma idéia, não é um projeto em andamento, mas o trabalho é montar um
folheto informativo e explicar quais são os benefícios, os malefícios, o que vai
acontecer com o município se tiver à prática turística, informar um pouco o que é o
turismo, o básico mesmo e ir fazendo um trabalho de casa em casa com essas pessoas.
Será um trabalho longo que a gente vai sentar, vai explicar, vai ser ouvido, vai receber
risadas, um trabalho bem difícil, mas assim a gente pega todo mundo. Pois só o pessoal
das escolas de inicio é muito bom, mas e as outras pessoas, assim a gente falaria com
todas as pessoas.
98
Em relação a projetos de geração de trabalho e renda para o município com o
turismo, a prefeitura tem algum projeto?
R: Também é um projeto que a gente tem, a gente está terminando de fazer. Está
fazendo eu junto com a Martinha do meio ambiente que é com relação a guia mirim,
que é trabalhar com os adolescentes de 14 a 18 anos para eles orientar e informar os
turistas. Eles irão ganhar uma bolsa, nem que seja de R$150,00 ou R$200,00, mas já é
uma contribuição, uma forma de incentivar os adolescentes e gerar uma renda mínima.
Eesse projeto já está em andamento.
A partir do momento em que o município receber o título de estância turística ou
se consolidar a implantação do portal e do centro de informações turísticas, qual
será a mão de obra utilizada nos serviços?
R: A idéia é que com a verba da estância turística a gente preparar as pessoas daqui do
município. As pessoas que já lidam com o turista e depois preparar as pessoas de outros
segmentos, porque às vezes acontece que um turista chega à cidade e precisa de um
chinelo, ele vai a uma loja de calçados, como essa pessoa será atendida? Ela precisa ter
um atendimento diferenciado, os turistas não podem ser tratados como a população. O
primeiro de tudo é a gente mostrar para a população como ela tem que gostar de sua
cidade, porque não adianta nada a gente vender a cidade para fora e a população não
estar bem. Estar faltando água, esgoto, gente passando fome. Então, isso é uma das
maiores dificuldades para desenvolver o turismo. Tem até uma cartilha que a gente
montou que é “olhe a sua cidade com o olhar do turista”. Que é você passar a enxergar a
sua cidade com outra cara, saber que tem uma mata e essa mata tem que ser preservada,
mas porque ela deve ser preservada? Qual o motivo? Porque ela é importante? As
pessoas tem que aprender a valorizar o que elas tem aqui.
Essas pessoas que serão preparadas para trabalhar com o turismo seriam pessoas
da própria comunidade ou não?
R: Seriam pessoas da própria comunidade, mas trazendo pessoas de fora. Porque é
importante isso. Dá mais credibilidade trazer pessoas de fora. Ainda mais, de inicio, em
uma cidade que é tão rica. A gente brinca que aqui é um diamante bruto. Porque aqui
está só começando. Nem começando está. O município está sendo gerado ainda.
Mas porque você acha que seria mais interessante trazer pessoas de fora, porque
isso daria mais credibilidade?
R: No caso que eu falo em trazer pessoas de fora, seria pra instruir. Dar um curso, um
treinamento, porque aqui a gente até tem essas pessoas, mas como diz o ditado “santo
de casa não faz milagre” e quando a gente trás alguém de fora, com um certo renome da
mais credibilidade.
Seriam pessoas em que áreas?
R: Já profissionais, na área de atendimento, na recepção, no hotel. Quem trabalha no
99
hotel? Aqui tem camareira que é camareira, que á governanta, que limpa, que faz
comida, que faz tudo de uma vez e o próprio pessoal do hotel tem que entender que cada
pessoa tem sua função. Para que? Até para gerar mais emprego. Porque, é muito fácil
contratar alguém que tem mil e uma utilidades, a pessoa quer fazer tudo e faz mal feito.
Às vezes vai atender a pessoa de mau humor porque está cansada, isso não pode
acontecer. O atendimento nas lanchonetes, pois, às vezes tem só uma pessoa para ser
atendida e o atendimento demora. Temos que trabalhar tudo isso, são pequenos detalhes
que vai fazer a diferença.
E como será o trabalho com o comércio quando vier o título de estância turística?
R: A idéia é preparar as pessoas. Preparar as pessoas que já estão no mercado e procurar
inserir mais pessoas, gerar mais empregos. E há muita possibilidade nisso pelo fato que
o dinheiro da estância turística é bem grande. Então, sendo bem aplicado, ele vai dar
diferença.
A verba para a implantação da estância turística vem do Estado?
R: É uma verba federal. O governo federal distribui para os estados e o estado distribui
para as estâncias. Com esse dinheiro, o interessante dele e que talvez dificulte o desvio
dessa verba é com relação à montagem do projeto, pois a gente monta um projeto como,
por exemplo, um projeto de atendimento ao turista direcionado ao comércio local. Ele é
especifico para isso. Esse projeto vai custar 30 mil reais ou 100 mil reais, após ele é
encaminhado ao DADE e o DADE vai ver o que está faltando e vai aprovar ou não,
aprovando o projeto, é aberta uma conta no nome desse projeto e o dinheiro vai sendo
depositado de acordo com o que for usado até chegar a quantia do projeto. Então, não
cai a verba. Se for um milhão por ano, é um milhão por ano que tem que ser usado, mas
essa verba tem que ser usada de acordo com os projetos. Não é simplesmente, vamos
fazer o carnaval? Ah, vamos usar 200 mil dessa verba? Tem que ser especificado como
será utilizado esse dinheiro.
Todos os projetos realizados com a verba da estância turística devem ser
aprovados pelo DADE?
R: Sim, deve ser aprovado pelo DADE e pelo CONDEFATE (Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado, no caso o nosso, o
estado de São Paulo). O CONDEFATE trabalha junto com o DADE para avaliar os
projetos. O DADE cuida mais da parte burocrática e o CONDEFATE vem avaliar.
Quando a gente manda o projeto para lá e diz que aqui tem como atrativo: o encontro
dos rios, as ilhas, o rio Paraná, o rio Paranapanema, as glebas com o turismo rural.
Então, o CONDEFATE vem junto com o técnico da área e eles vão avaliar se existe
mesmo a possibilidade de ser aprovado o projeto. Eles vêm e depois mandam toda a
documentação se for aprovado. Eles vêm verificar se é real. Se existe. E não precisam
ser atrativos que já existam, podem ser atrativos em potencial, também.
100
E o papel da Unesp nesse processo?
R: O papel da Unesp é fundamental. A gente vê a Unesp como uma grande parceira
para desenvolver pesquisa, projetos, os próprios alunos estagiarem com a gente,
realizarem atividades dentro do município.
E em relação a trazer pessoas de fora para capacitar a população?
R: Podemos até trazer pessoa da Unesp, eu falo de fora, mas não precisa
necessariamente, ser de fora, mas ter um conhecimento mais amplo, mais vasto. As
pessoas acreditam mais, pois quando vem alguém de fora dá mais credibilidade,
principalmente com as pessoas mais simples. Inclusive, nós temos um projeto piloto que
estará acontecendo agora, é uma parceria com o ITESP de desenvolver o turismo rural
no assentamento Nova Pontal, é o pessoal da Unesp que está fazendo com a gente. E é
assim que faz a diferença, pois não tem como ir até lá e usar termos totalmente técnicos
com essas pessoas. A idéia é chegar lá e conversar numa boa com elas, explicar qual a
importância de implantar o turismo rural na sua propriedade, o que ela vai ganhar com
isso e tratar elas do jeito que elas tratam, com a educação que elas têm e simplicidade.
Existe mais algum projeto que a divisão está realizando?
R: Tem a idéia da trilha que liga o Balneário de Rosana até a formação da pedreira. Mas
isso é apenas uma idéia por enquanto, pois estamos esperando a finalização do
zoneamento ambiental, ele que vai definir onde pode e não pode ser realizado o turismo.
Esse zoneamento ambiental está sendo refeito? Porque, já existia o zoneamento
ambiental no município?
R: Ele está sendo refeito. O zoneamento ambiental que existia no município foi um
projeto inacabado, além disso, as coisas mudam, o espaço, o ambiente está sempre se
modificando, então resolveram refazer para ficar uma coisa mais correta e definida.
A prefeitura que está refazendo o zoneamento?
R: Sim, foi a prefeitura que teve a idéia de refazer o zoneamento junto com a Divisão de
Meio Ambiente.
Sistematização dos dados
A entrevista com a coordenadora de eventos da Divisão de Turismo,
Cultura e Eventos da Prefeitura Municipal de Rosana-SP proporcionou um maior
contato com a realidade turística do município.
Tivemos contato com os projetos que vêm sendo realizados dentro do
município em relação ao turismo. Vimos que a Divisão tem posse de idéias e projetos
interessantes, mas poucos possuem uma estimativa de inicio de funcionamento, estão
101
até em andamento, mas sem previsão de prática.
Percebemos, também, que a divisão tem objetivo de trazer pessoas de
fora do município para treinar, oferecer cursos e treinamento para a população local,
mesmo tendo uma universidade pública, com curso de turismo dentro do município
(UNESP).
No entanto, colocaram a importância da Universidade em relação às
pesquisas, inclusive já há pesquisas sendo desenvolvidas por alunos e professores da
instituição de ensino que vem sendo utilizada para a prefeitura local (levantamento de
atrativos e infra-estrutura, turismo rural).
102
APÊNDICE 06: Entrevista com o Sr. Joabinadabe Gomes Mendes, morador
do município.
Entrevista realizada no dia 16 de abril de 2007 às 09h:30, na casa da
cultura do município de Rosana com o morador do município
Joabinadabe Gomes Mendes.
O Sr. Joabinadabe, conhecido no município como Nadabe é morador do município
há 24 anos.
Como era a vida no município antes, quando a CESP ainda estava presente no
município, e agora, período após a finalização da construção da Usina, já que
vivenciou de perto todo esse processo?
R: A CESP veio para cá para que os trabalhadores pudessem construir as usinas. Nós
sabemos que as pessoas que moram no município de Rosana, grande parte veio com a
construção da ferrovia que é o ramal Dourados, a chamada ferrovia Sorocabana. E
posteriormente, com todos os estudos, eles perceberam a viabilidade de se construir
duas usinas hidrelétricas aqui. Foram realizados vários estudos. Em 1970 começaram
alguns estudos e em 1974, parte de alguns desses estudos foram aprovados e assim
iniciou em 1980, em 1979, 1980 iniciou-se os trabalhos.
A CESP veio pra cá. Na chegada, na verdade não era pra ser aqui, a cidade de primavera
não era pra ser no município de Rosana, cogitou-se em fazer no município de Nova
Londrina, no PR e depois na cidade de Rosana, ou seja, começaria de Rosana pra cá,
indo pra Prudente. Porém, o barrageiro era muito famoso. As pessoas acreditavam que o
barrageiro iria trazer para essa cidade a prostituição, porque eram, na sua maioria,
homens que viriam trabalhar e pessoas de todos os recantos do país. Eles acreditavam
que traria prostituição, enfim, não seria bom para a região. Porém, como o estado é o
grande detentor, fatia maior das terras, então foi definido que seria construído a
barragem aqui e que a cidade ficaria nesse espaço, na fazenda que antigamente era
chamada fazenda Pirapó Santo Anastácio, onde o proprietário era o Hélio Pepino. O
proprietário foi o Dom Pedro II também, então ela tem uma história muito grande. Mas
a CESP quando ela veio pra cá ela foi uma mãe, tudo que você precisasse. Se caísse
uma telha da casa podia chamar a CESP que ela vinha e colocava no lugar. Esse era o
fator de trabalho mesmo, ela sempre fez tudo por Primavera, até a construção planejada
da cidade. Foi um trabalho muito bem feito e a CESP pensava.
E na cidade de Rosana isso também acontecia?
R: Não. Era só em Primavera. E dentro da própria Primavera existia a descriminação
que era o que a gente mais cobrava, em todos os trabalhos que a gente faz como
escritor, que o que eu sou, o livro que a gente está a anos escrevendo, a gente fala que o
estado trouxe tudo. Existe uma cobrança enorme do estado, eu cobro pessoalmente e
espero que no futuro as pessoas também possam cobrar, lembrar desse espaço. Rosana
103
não tinha nada. As pessoas vinham trabalhar aqui quando a CESP começou, então se ele
tivesse uma profissão, dependendo a profissão que ele tinha ele conseguia ficar no
alojamento. Foram montados alojamentos aqui, ele conseguia ficar nos alojamentos,
mas dependendo da função, ele não tinha nem lugar pra morar, não podia nem ficar na
cidade. Então, o que acontecia? Essas pessoas, na grande maioria como nós sabemos, no
Brasil ainda existe uma grande fatia de pessoas não qualificadas. Essas pessoas que nós
chamamos de não qualificadas iam para Rosana, Nova Londrina e Terra Rica. Então, a
população de Rosana, por exemplo, cresceu absurdamente.
Mas essas pessoas eram funcionários da CESP?
R: Eles vinham para trabalhar na barragem, mas como não tinha lugar para eles ficarem
aqui, então eles iam pra Rosana, pro Paraná. E na verdade, nós temos que colocar duas
situações: CESP e empreiteiras. Na CESP mesmo, eram somente os funcionários. Por
exemplo, eu era funcionário de um empreiteiro, eu prestava serviço pra CESP. Existia
uma grande descriminação. Existia briga de quem era CESP, quem era Camargo, eles
brigavam, porque um falava: “a CESP não faz nada, quem trabalhava era o
camargueiro”, então, existia uma rixa, sem contar a rixa social, divisão de níveis que é
uma vergonha total pra um estado do tamanho de São Paulo.
O Sr. pode explicar um pouco como era essa divisão de níveis?
R: A divisão de nível acontecia assim, nós tínhamos do nível um ao nível seis. Então, o
nível um, eram as pessoas sem qualificação, ou seja, os que ficavam na cidade, não
tinham direito nem a moradia dentro da cidade, quem ficava, o que acontecia, elas
ficavam na casa de parentes porque não tinha onde ficar. E tinha os lugares, por
exemplo, nós tínhamos os clubes. A cidade é divida em leste, oeste, norte e sul, então as
escolas foram divididas assim, nós tínhamos o clube, por exemplo, o REC (Rosana
esporte clube), o Rosana Esporte Clube iam somente pessoas com o nível acima do
nível quatro, mas ainda assim, para o nível quatro tinha que ter indicação pra poder ser
sócio, e era nível quatro, cinco e seis e não todos os níveis quatro podiam vir para esse
clube. O nível um até o nível quatro, alguns do nível quatro podiam estar na AAPP
(Associação Atlética Porto Primavera), que era um outro clube, mas nada impedia que
os níveis cinco e seis também fossem lá, só que o nível um ao quatro que não era
indicado, eles não podiam ir ao REC e todas essas construções, as casa, por exemplo,
nós tínhamos casas que eram divididas em níveis. Conforme o nível você morava num
lugar mais próximo do centro ou num lugar melhor, asfaltado. A cidade é em forma de
um barco, e eu sempre digo que nesse barco nós tínhamos a sala de comando e
conforme o nível seu você ficava num lugar na cidade, então você olhando o mapa da
cidade em forma de um barco vai ver que todas as pessoas bem situadas na cidade
ficavam na parte de cima, na sala de comando mesmo e não na classe econômica, e os
outros iam para a classe econômica, então, isso foi muito triste. Até em mercado, nós
tínhamos um mercado chamado FAEC que era dos funcionários da CESP e pra você
comprar no mercado, mesmo tendo dinheiro se você não tivesse o nível, você não
poderia nem entrar no mercado.
104
Quem estipulou esses níveis?
R: Hoje a CESP, em algumas conversas, inclusive a própria diretoria CESP não admite
essa forma que eu coloco. Eles dizem, o seguinte, que eles colocaram o nível como em
qualquer empresa, mas a idéia não foi dividir as pessoas, era uma questão hierárquica
mesmo da empresa, você tem a diretoria e você coloca o cara mais simples com o mais
simples que ele vai até viver melhor por isso. Até isso a gente entendia, mas o problema
é quando partia para a vida social da pessoa, um clube, por exemplo, reflete isso, a vida
econômica, o mercado reflete isso, se você pode vender, você vende ao mesmo preço
em qualquer lugar, é um estabelecimento comercial não tem porque você discriminar
quem pode ou não comprar. As escolas, nós tínhamos em algumas escolas, por
exemplo, os alunos que tinham os país em um determinado nível eles ficavam, por
exemplo, eles ficavam entre os corredores, onde fazia sombra, onde era mais tranqüilo e
os alunos como eu (eu to contando isso porque eu passei toda essa história), e os alunos
que não tinham esse nível eles ficavam num lugar que dava nove, dez horas da manhã o
sol batia e não tinha nem cortina e os outros tinham até cortina, sem contar dentro das
salas de aula, alguns professores discriminavam mesmo o aluno, a conversa era
diferente, a forma de ensinar era diferente. Então, o próprio de nível baixo preferia, às
vezes, ficar separado, eu rompi muito isso porque às vezes eu ia lá no pátio onde os
outros estavam brincando então a gente sentia essa discriminação. Mas a CESP trouxe
muitos benéficos pro município de Rosana, como trouxe, também, muitas perspectivas.
Ela trouxe muita perspectiva de vida, hoje, por exemplo, quando a gente fala em pólo
turístico, não só pela estrutura que a natureza deixou, mas pela própria estrutura da
cidade de Primavera, você tem espaço de pólo turístico. Mas essa discriminação de
pessoas, de raça e cor que é uma vergonha para o estado de São Paulo e ninguém busca
contar essa história. Hoje, você percebe ela com uma facilidade muito grande, é só
andar dentro de Primavera e dentro de Rosana, você percebe a diferença cultural e que
existe muito forte ainda o que a gente chama de bairrismo, algumas pessoas de
Primavera sentem superiores em relação às de Rosana e as de Rosana em relação às
pessoas daqui, antão cria uma briga muito grande. Infelizmente, não houve nenhum tipo
de trabalho social, a nível social e cultural mesmo que pudesse mover essa montanha,
essa parede que existe entre o fator cultural, porque nós temos em Rosana os pioneiros,
as pessoas que vieram com a ferrovia, que lutaram, muitos já faleceram e nós temos em
Primavera os pioneiros da barragem, as pessoas que vieram construir a barragem. Então,
são duas culturas diferentes, mas com um trabalho social bem feito, um trabalho cultural
bem feito elas se integrariam, mas não se integram, é muito difícil, você vê os
vereadores, ninguém olha pra nada, depois que a CESP saiu, apesar dela ter promovido
tudo isso ela ainda fazia alguma coisa pra Primavera, pra Rosana nada, mas ninguém
olha pra nós, o vereador, o prefeito, ele olha pra Rosana com dó, “ah vou fazer isso aqui
porque tenho dó de Rosana” e olha pra Primavera com desprezo “ah não, Primavera já
tem muito, não precisa fazer” e porém a gente não sabe pra onde vai o bolo dos
recursos, a gente até busca saber, mas fica essa coisa, um olha com dó e o outro com
desprezo, então forma um choque cultural tão grande que parte das próprias pessoas que
deveriam incentivar a inserção das pessoas como cidadãos mesmo.
105
Como o Sr. vê a questão do desemprego e subemprego no município? E a questão
econômica?
R: Tudo o que você fala de emprego, hoje, nós sabemos que emprego é um problema
mundial. As pessoas falam: “olha”, acabou a barragem e nós não vamos ter mais
empregos, de fato, haja visto, que 90% da mão de obra que tem Primavera e Rosana, no
município de Rosana é da prefeitura. Essa é a mão de obra que ficou e nós temos mais
um número que deve passar dos 70% das pessoas que tem residência no município de
Rosana, mas que estão trabalhando fora por falta de emprego, ou você é da prefeitura ou
você vai embora. Não existe um meio termo aqui. Agora tudo isso veio dessa mesma
responsabilidade social, cultural que ninguém se importa quando você fala de
administração pública. Administração pública tem que ser entendida como gestão
pública, você faz administração quando você tem recursos e você precisa ter uma certa
lucratividade e onde você tem recursos e você não vive de lucro, que é só investimentos
você fala em gestão pública e ninguém que passou por aqui até hoje fez o que nós
chamamos de gestão pública. E o que é gestão pública? É você dar a cara à tapa e
mostrar para o universo do estado de São Paulo as belezas que nós temos aqui. Não
houve nenhum investimento capaz de trazer, capaz de instigar os investidores, os
empreendedores a estarem aqui no município de Rosana, por isso o desemprego. Não
existe uma culpa da CESP, não existe uma culpa das pessoas que vieram e estão
desempregadas, existe uma culpa de um sistema de gestão pública. As pessoas
acreditavam sempre, como a barragem funcionava assim, ela ficava um ano no pico,
sete, oito mil pessoa direto e de repente aquilo ali ia embora uma parte e dois, três
meses depois fichavam mais um tanto de gente e as pessoas acreditavam que aquilo
nunca ia acabar e acabou, infelizmente acabou. E hoje não resta nenhuma alternativa,
até pelo número de pessoas, apesar de nós termos uns dos maiores números de
universitários no estado de São Paulo, eu acredito nisso, per capta da região, mas aqui é
o seguinte ou você é estudado ou você não sabe nada. Aquele trabalho de educação pra
você profissionalizar, nós temos cursos profissionalizantes, por exemplo, nós temos
institutos que fazem cursos profissionalizantes aqui que têm prédios que são da própria
prefeitura, porém são mal feitos os contratos e você não consegue inserir a comunidade
dentro de uma faculdade e outra coisa é a própria discriminação das pessoas que dizem
“ah” se a faculdade ou o curso técnico é Primavera eu não vou fazer, vou fazer lá fora e
acaba dificultando, mas o desemprego é um caos social do mundo. Mas se falar em
região, foi falta de vergonha na cara, falta de empreendedorismo. As pessoas quererem
empreender com as outras, lembrar que os recursos que eram milhões e milhões de reais
que sempre entrou no município de Rosana nós poderíamos estar fomentando,
qualificando as pessoas. Hoje, quando você fala de turismo, que é o que vai render
alguma coisa para o município, você tem que falar muito em capacitação. Se você não
capacitar as pessoas, e essa capacitação começa a partir da própria história que é o que
nós estamos fazendo a vida toda. Se as pessoas não conhecerem a história do local
dificilmente você vai conseguir que elas sejam gestoras do próprio bem delas, se eu não
me conheço como eu vou ser gestora do bem. E capacitação começa a partir disso, ter
interesse em fazer as pessoas contarem as histórias. Se você ver em Aracaju tem um
menino que faz a propaganda de um pé de caju, onde tem vários pés de caju e aquilo ali
chama muita gente, vira propaganda de televisão e você vê o que um pé de caju faz. E
nós temos aqui a exuberância da natureza, porém os investimentos que não são poucos,
esse ano de 2007 ultrapassou um milhão e meio de reais e você não consegue entender,
você não vê esse investimento de fato chegando nos meios de comunicação. Às vezes
você tem pouca coisa, mas quando você divulga e bem divulgado e que as pessoas
106
conhecem a história daquilo é muito mais fácil. E aqui o desemprego, ele vai ser um dos
piores fantasmas, ainda não esse ano, mas daqui dois ou três anos vai ser muito pior, e
porque a gente ta prevendo isso? Porque você vê que ainda o poder público, em todas as
suas três esferas do poder público se encontram inertes em relação às questões do
município de Rosana, até as agências que lidam com o meio ambiente elas são inertes,
ou seja, elas proíbem o que poderia fazer um projeto sustentável e acabam deixando o
que não daria pra fazer nenhum tipo projeto sustentável. Você fecha uma porta de
quatro metros e deixa uma de dez metros aberta. E o que é fazer o sustentável aqui? É
você investir na própria cultura das pessoas, se o cara lá planta amendoim porque eu
vou trazer maracujá pra cá? E porque eu que eu tenho que diversificar cultura? Eu vou
ter vários tipos de produtos, mas em pouca escala, eu não vou conseguir transporte pra
levar o produto. Quando você fala da agricultura, porque ele não é em larga escala.
Então, qual é o correto? Era criar empregos, assim, independente dos problemas que
tem, se o que dá dinheiro é a mamona, então vai todo mundo plantar mamona, cria um
vínculo com essas pessoas, não um planta mamona e o outro não, senão um cara planta
uma tonelada de mamona e para o cara que vem de Prudente não compensa vir até aqui
pra buscar uma tonelada de mamona. Então, se todo mundo fizesse o mesmo tipo de
cultivo, pelo menos pra tentar, no campo, você já criaria um vínculo, porque aqui é
muito grande o êxodo rural, as pessoas do campo vêm pra cidade e as pessoas da cidade
já não têm emprego e as do campo dependem totalmente da prefeitura e do governo. O
número que não chega a 2% que não dependem aqui da prefeitura e do governo. Eles
vêm pra cidade e na cidade alguns, que é um absurdo você vê, nós temos um grande
número das pessoas que tem terras aqui no Pontal do Paranapanema, elas estão
empregadas na cidade e deixam seus lotes a mercê de nada, então o que acontece? Não
existe um programa de trabalho. Bom, você é do campo, você ganhou a terra, é do
governo, então o nós vamos fazer? Nós vamos pegar essa terra que você tem e você vai
cultivar ela e vai ter que aprender com o recurso e não é falar que não tem recurso então
não vai cultivar, cultivar sim, porque é muito melhor, assim nós teríamos um pouco
mais de empregos, porque o pessoal do campo estão vindo trabalhar na cidade e os da
cidade como não sabem mexer com o campo ficam na cidade e cria aquele problema
social enorme.
O que o Sr. acha que poderia ser feito para melhorar a situação da município? O
Sr. consegue visualizar uma melhora para as condições municipais?
R: Eu consigo. Eu consigo visualizar melhora, não em curto prazo, mas em longo prazo,
nem em médio prazo funciona. Porque aqui é o seguinte, você vai ter que criar essa
gestão pública e isso não é importante para outros políticos fazer gestão pública. E você
vai ter que criar mecanismos, primeiro, pra fazer com que as pessoas do campo fiquem
lá no campo, produzindo no campo e o pouco de emprego que sobra na cidade você tem
empregar a mão de obra que vive na cidade. Porque qualidade de vida nós temos,
poucos os lugares no Brasil tem a qualidade de vida que temos. Só que, o que há é a
falta de programação. Porque se nós vamos investir no turismo, primeiro nós temos que
investir nas pessoas, fazer com que o turismo aconteça. Segundo, se você investiu nas
pessoas, você tem que investir em infra-estrutura, você tem que ter estruturas para que
esse turismo possa ser alavancado de fato, porque não adianta, eu divulgar que tenho
uma cidade bela, eu tenho uma excelente prainha, um excelente balneário e o cara vem
dois, três dias e ta uma beleza, ele fica lá no rancho e depois ele quer vir pra cidade. Ele
vai passar o dia no rio e a noite ele quer vir pra cidade, se você não oferecer o mínimo
107
pra essas pessoas, só que tem que ser uma estrutura boa pra ele sair da cidade dele e
falar assim, olha, eu fui numa cidade muito pequena e cheguei lá ela tem uma estrutura
legal. Não precisa ser melhor ou igual a da cidade dele, mas que seja legal, bem feita,
que as pessoas sejam sorridentes, porque você só consegue formar um bom município
se todo mundo estiver sorridente, estiver feliz, se conhecendo. É o que não acontece no
município de Rosana hoje. As pessoas criam a falta de perspectiva e isso vem da onde?
Vem do muito pouco investimento, porque se tem aqui investimento é você catar lixo, é
limpar a cidade e não é só limpar a cidade, mesmo assim é mal feita a limpeza. Mas se
você faz um investimento pra mostrar a grandiosidade, acontece. Porque as pessoas
falam que aqui não tem condições de a gente ter um estádio grande?. Tem! Nós temos o
espaço, nós temos algumas arquibancadas, só aparecer um gestor que aumente. Hoje pra
você ter uma partida de futebol, por exemplo, estadual pelo menos, você precisa ter pelo
menos dez mil lugares, então é só fazer, mas cinco mil lugares ali, com arquibancadas e
você vai ver se as pessoas não vêem, não começam a vir.
O Sr. conhecendo as pessoas que aqui vivem e a cultura gestora do município, o Sr.
acredita que isso pode se tornar realidade?
R: Acredito. Acredito porque as pessoas estão esperando isso. Elas não acreditam, mas a
gente vê que com poucas ações que a gente tem promovido e que a gente tem buscado
fazer em parceria com vocês, a gente vê que as pessoas acreditam, elas querem. Elas
não acreditam, assim, se elas não vêem começar a acontecer, mas quando elas vêem as
coisas acontecendo, elas falam, puxa, é possível e quando você acredita é que você
torna as coisas possíveis. Quando nós acreditamos que poderíamos ter a Unesp aqui, ter
um campus aqui, que começou em 1991 a briga, muita gente dizia: - ah não vem nunca,
mas nós acreditamos e veio. Quando eu acreditei que eu poderia escrever um livro,
muita gente dizia: - ah você nunca vai escrever um livro, mas eu acreditei e escrevi
onze. Então, essa que é a coisa, as pessoas vão acreditar se o gestor público passar
credibilidade. Um pouquinho que ele fizer, mas fizer com credibilidade, as pessoas
passam a acreditar. O grande problema do Brasil inteiro é credibilidade, gerar emprego
se gera com credibilidade, porque o empresário vem pra cá montar uma indústria
pequena, média ou de grande porte só se ele perceber que o político tem credibilidade,
se o que ele ta falando vai acontecer e se não acontecer da forma como foi planejada,
houvera, pelo menos um esforço para acontecer. Tudo gera em cima de moral, de
legalidade, credibilidade. Se você tiver moral, fizer coisas legais, conforme a lei prevê e
tiver credibilidade, as pessoas acreditam e elas passam a fazer parte. Se fala muito, que
muita gente vai falar mal, então, vamos colocar na ponta dos dedos quantas vão falar
mal e quantas vão falar bem. Então, há perspectiva, não em curto prazo. Começa com a
criação de estrutura, com fazer as pessoas conhecerem o local onde vivem. Hoje eu
acredito que alguns alunos da Unesp, os alunos que estão sempre procurando a gente,
conhecem mais Rosana do que a própria comunidade, porque a comunidade não procura
e a gente ta aqui se mostrando, dando a cara, falando o tempo todo: - olha, a história é
essa. Então tem gente que conhece muito mais.O que eu to falando é de
desconhecimento pra grande maioria e de pessoas que se dizem representantes do povo
e que não conhecem a sua história e pra elas também não importa saber disso porque
elas querem estar no momento e acabou e vão embora e pra nós não, nós queremos ta
sempre e isso é que gera emprego, gera renda e começa da própria história. Se você não
conhece o pé que tem, então como você vai pisar no chão?
108
E como o Sr. vê o turismo no município? O Sr. acha que ele pode ser uma
alternativa de geração de trabalho e renda para a localidade?
R: O turismo aqui, não é que ele pode ser, ele é a única alternativa que nós temos, não
existe outra. Você começa a imaginar em todos os campos, em todos os campos dessa
sociedade rosanense, você observa. Observe as pessoas! Você como chegou a pouco
tempo aqui, você vai perceber que é isso, que não existe outra alternativa que não seja o
turismo. Mas o turismo, ele não pode ser feito de qualquer jeito. Turismo não é você
chegar no final do ano e fazer uma festa carnavalesca e dizer que você ta desenvolvendo
o turismo, que é uma coisa de quatro dias, o aniversário da cidade, que é obrigação de
você fazer uma vez por ano. Turismo é o novo, é tudo o que você faz de novo e que
você mantém pra vida inteira e aquilo cria vínculo, cria raízes, isso que é turismo, é
você fazer de uma coisa muito feia, você fazer as pessoas enxergarem ela muito bonita
ou enxergarem muito feio porque não tem em lugar nenhum tão feio quanto ela, você
entendeu? Eu ganhei esse prêmio aqui lá em Salto, é um premio internacional de poesia,
o que acontece? Esse prêmio aqui é uma pedra rochosa da era glacial, a montone, que só
existe dois exemplares, um no Canadá, e um aqui em Salto em São Paulo, não existe
outro exemplar. E eles criaram lá, o Parque Montone, tudo lá é feito com esse tipo de
pedra, é uma rocha rosada e leva cerca, parece, que dez, vinte mil pessoas por mês pra
cidade, pra visitar a rocha, além de pesquisadores. Você vê os holofotes, é uma pedra,
mas como? Ela fica embaixo, o parque fica em cima e embaixo fica a pedra com vários
holofotes coloridos mostrando pra ela, pra mostrar que ela é uma pedra diferenciada e
levam muitos turistas pra cidade. O parque é todo formado de pedra, parece que você ta
entrando na cidade dos Flinstones e a pedra é muito feia, mas eles acreditaram. O
secretario de turismo, quando eu estive lá, ele tinha acabado de chegar dos EUA pra dar
uma palestra sobre a pedra. E aqui nós temos o maior lençol freático do estado de São
Paulo, nós temos dois rios, o encontro do Paraná e do Paranapanema, uma ponta de um
rio que está ali se acabando e a gente tentando ver se os caras acordam, porque daqui a
pouco aquela ponta vai ficar quadrada por conta da construção da barragem, que a água
é muita e ta assoreando, ta acabando com o rio, que ta caindo e aquilo ali tem que ser
visto como um patrimônio histórico do estado de São Paulo, porque ali que começa o
mapa, e os caras não querem fazer um trabalho nesse sentido, eles não tão enxergando
que se eles chegarem lá com meia dúzia de caminhões de rocha e fecharem direitinho,
fazerem um trabalho bonito, vão preservar o início do estado de São Paulo. Othon Blue,
que foi o cartógrafo que fez o mapa cartográfico do estado, onde ele começou a
desenhar o estado de São Paulo. É isso que a gente não consegue entender. E se você
pergunta quem começou, pra essas pessoas que dizem hoje fomentadores do turismo
local, quem que desenhou o mapa cartográfico de São Paulo? Eles não vão saber te
responder, da onde começou o desenho do mapa de São Paulo? Não vão saber, é só
você ver que é impossível começar da direita pra esquerda. Tem que saber fazer as
coisas. Então o mapa começou dali, e eu sempre digo que aqui começa São Paulo, não
tem como começar o mapa de São Paulo que não seja por Rosana, mesmo que você for
canhoto, você vai começar por Rosana, entendeu? E ali ta se acabando, e nós temos ali
uma pedra que todo mundo, o mundo inteiro vai lá ver a pedra. Então, as perspectivas
de turismo, o caminho pro turismo começa pela historia do turismo, e quem conhece a
historia do turismo? Você ta na faculdade, se você não conhecer a história do turismo,
da onde ele surgiu, como ele surgiu, você não vai ser uma boa acadêmica e não vai ser
uma boa profissional. Agora você imagina as pessoas que não conhecem a história do
local que vai atuar. Então, é isso, o turismo é o único caminho e eu acredito que o
turismo possa ser, não, ele é um caminho pra Rosana, não existe outro, só que isso
109
também é em longo prazo. É você conseguir nos próximos pleitos eleitorais, nas
próximas campanhas, conseguir fazer as pessoas enxergarem que somente se elas
colocarem conhecedores das áreas nos seus lugares, conseguirem miscigenar ou então
conseguir diversificar os representantes políticos é que poderá haver mudanças. Você
coloca um que entende de educação, que entenda muito de educação, um que entenda
muito de turismo, um que entenda muito dos problemas sociais, e não to falando de
pessoas que fizeram faculdade não, estamos falando de pessoas que entendam,
entendeu? Uma pessoa que entenda muito de infra-estrutura pra poder te representar,
porque se você colocar pessoas que não entendam nada, você não vai ter nada,
entendeu? Então, todo mundo tem que entender muito de alguma coisa, pessoas que
entendam muito da questão jurídica dentro de uma prefeitura, esse seria o único que eu
falo que tem que ser capacitado pra isso, mas assim, pra na hora de aprovar a lei ele
poder falar, olha meu companheiros o povo vai levar uma paulada se essa lei for
aprovada e provar por A mais B que o povo vai levar ou que o povo vai ser muito
beneficiado por essa lei. Mas você tem que começar, infelizmente ou felizmente, acho
que é felizmente porque se você começa a montar uma estrutura política dessa forma, as
pessoas que querem entrar no pleito, eles começam a ir pra escola também, eles vão
querer estudar, vão querer entender das coisas, e assim, a administração pública que não
é administração pública, que eu discordo sempre, é gestão pública. Administração é pra
mercado, pra padaria, pra empresas grandes, empresas privadas, nós temos que falar em
gestão. A gestão pública consegue chegar no povo, entendeu? E todo mundo também
tem que ter o mesmo ideal, não adianta também eu entender muito de educação ou
entender muito de cultura e chegar lá e querer levar muito dinheiro pra minha casa pra
construir patrimônios particulares porque eu entendo muito e vou saber a onde eu tiro o
dinheiro, onde eu levo e tal, não, tem que entender muito pra fazer para as pessoas. É
pras pessoas e nós vamos fazer. Então esse é o conceito que eu falo pra você quando as
pessoas perguntam, você acha que Rosana tem como desenvolver o turismo? Você acha
que é o turismo é o caminho? Eu não acho, eu tenho certeza Daiana que você também
não acha, tenho certeza que você tem certeza que é o único caminho porque nós não
temos outro caminho, recursos disponíveis pra fomentar. Eu quando eu falei de estádio,
é um exemplo tão besta, você vai ter gente pra lidar com o futebol, que o que dá mais
renda nesse país hoje, que é fácil de fazer, você também tem barcos, comprar meia
dúzia de barcos, chamar as pessoas, profissionalizar os pescadores e contar histórias,
fazer eles entrarem dentro de uma casa de cultura, dentro de um auditório e escutar, olha
a história de vocês é assim, assim e assim, quem concorda? Ah, eu concordo. Quem
discorda? Ah, eu discordo. Porque que você discorda? E porque que você concorda?
Então, vamos fazer uma história juntos? Porque quando vir o turista você fala, olha: essa é a ilha do pinho, existe turista por aqui, isso aqui é turístico, isso aqui não. Então é
assim que funciona, entendeu? Então, o turismo é a única pedra preciosa que nós temos
aqui e a única carta do jogo que nós temos na manga hoje do estado de São Paulo, não
existe outra carta, como se fosse um jogo de baralho, nós só temos essa carta, se a gente
não souber soltar a carta na hora certa, nós vamos perder e vamos perder inclusive esse
patrimônio e vamos perder pra nós mesmos, não tem outras pessoas, ninguém vai tirar
daqui, vamos perder pra nós mesmos.
110
Como o Sr. vê o papel da Unesp, tendo um curso de turismo e enquanto
universidade pública no processo de desenvolvimento da atividade turística? Qual
seria a função da instituição Unesp?
R: Eu, quando a Unesp chegou, até por não ter muito conhecimento acadêmico, eu
sempre imaginei, inclusive falei em vários lugares, até para os próprios estudantes em
palestras lá. Eu falava: - olha, vocês são responsáveis pelo desenvolvimento turístico do
município. Quando eu comecei a sentar com mais veemência nos bancos acadêmicos,
eu percebi que vocês não têm responsabilidade nenhuma, porque o que se aprende na
faculdade é muito aquém o que se deve fazer, porque pessoalmente você tem que fazer
muita coisa. E nós temos os professores, que eles têm duas opções. Eles podem chegar
na faculdade e dar aula, fazer com que você entenda e saia da faculdade e vá pra sua
casa, descansar, dormir ou preparar aula ou ele entra na faculdade, dá aula e se integra a
comunidade pra ele poder entender o porque que ele ta dando aula ali. Então, eu vi que
essa responsabilidade é tão dos universitários quanto minha, minha até mais porque eu
conheço um pouco das pessoas da cidade. Agora, a Unesp ela como instituição estadual,
o próprio estado tem esse dever de promover o crescimento, o fortalecimento da cultura
regional, a Unesp ela tem essa obrigação, mas não porque ela quer, mas ta na lei, na
constituição da própria universidade diz, nós viemos pra formar cidadãos e não importa
que seja em Rosana, que seja em São Paulo ou em Prudente, não importa, ela tem que
formar. Assim, temos que ver essas categorias de professores. Os professores que entrar
na sala e falam: - olha, vocês têm que se integrar a comunidade pra você ser um bom
profissional e tem aquele que diz, não, você tem que ser um técnico, simplesmente
técnico, porque você vai achar pessoas que vão se integrar na comunidade por você
mais tarde. Assim, temos esse tipo de técnico acadêmico, aquela pessoa que se forma
numa faculdade, entra dentro de uma sala pra trabalhar e coloca os outros pra conhecer
os problemas dos outros e depois ele só vai e dá uma assinatura lá que vai valer ou não.
De repente ele assina sem nem conhecer os problemas. Mas aqui em Primavera a Unesp
eu acho muito atuante, eu gosto muito. A gente acredita que com o tempo as pessoas,
até pela necessidade que a própria universidade vai ter em se expandir, porque nenhuma
universidade pode ficar pensando em ficar sendo uma Unesp aqui dando aulinha, ela vai
ter que se expandir, própria modernidade, a própria tecnologia está obrigando todo
mundo se expandir, ela vai começar a atuar muito mais. Eu acho, penso que o papel da
Unesp, o papel dos alunos da Unesp, ele é um papel de fundamental relevância pra nós,
até porque as pessoas do município olham os universitários e os professores com muito
respeito. Às vezes, há problemas pessoais, mas a gente tem um profundo respeito por
todos, até porque vocês trazem renda pra gente. O número hoje de duzentos e quarenta,
num sei ao certo, duzentos alunos, são duzentas pessoas que gastam, que movimentam o
comércio local. Então, a Unesp. Se ela não fizer nada, mas ela vem fazendo. Mas se de
repente ela resolver parar e não fazer nada o prejuízo é só da universidade, a
comunidade talvez tenha um prejuízo, só intelectual, mas a universidade vai ter o maior
prejuízo que ela vai deixar de conhecer outros Nadabes, pessoas que vão deixar de
contribuir do jeito delas pra própria sustentação da universidade. A gente sabe que
existem vários problemas administrativos que precisam ser solucionados e a gente
consegue entender, também, que muitas vezes a gente lidando com a Unesp como
instituição, com algumas pessoas, alguns falam: - olha, o problema é do político, porque
o político prometeu isso e não faz, mas tem outros que falam que o problema é do
político, mas vamos procurar fazer a nossa parte aqui, fazer um trabalho bem feito, não
ficar só falando que o problema é do político, ele vem pra comunidade, ele vem interar
dos problemas. Mas assim, não vou enumerar nenhum, pois acredito que todos eles têm
111
essa vantagem, mas às vezes inrita, porque às vezes você tem um projeto que deveria
estar sendo executado, mas não está sendo executado e você se inrita porque você
precisa daquele material tecnológico, material humano pra poder sobreviver também.
Mas a pupila dos meus olhos é a Unesp, é a casa da cultura, é a própria cultura local,
assim, eu passo a acreditar muito que eu acho que a Unesp, hoje ela é um marco pra
nós, um marco histórico, um marco de desenvolvimento. A gente consegue instigar o
jovem, pois as pessoas falam: - ah lá na Unesp, o pessoal que passa é tudo de fora,
então, vamos estudar meu filho! Que você passa na Unesp! Então você consegue isso.
Alguns políticos vão lá, mas vocês podiam ajudar a passar mais gente de Rosana e
Primavera e a gente sabe que a estrutura não é assim, a própria lei do artigo quinto diz
que todos têm os mesmos direitos, os mesmos deveres e o estado não pode fazer igual a
CESP fez em Primavera, selecionar, assim, expressamente. Ele seleciona porque
depende de projetos, você vai lá, presta uma prova, passou, então, você vêm pra Unesp,
mas se você não passar você não vai vir e assim, obriga as próprias instituições de
ensino, a própria escolas do município a atuar mais, a trabalhar mais, você ta
entendendo? Você quer passar na Unesp? Então vamos estudar meu filho, entrar pra
sala de aula e prestar atenção. E alguns políticos entendem que isso é uma mera
formalidade, de vontade e professores como Rodrigo, Rosangela que é a diretora, você,
eu, nenhum de nós temos esse condão, oh, é pra passar lá um número x, até porque o
estado não está pra isso, ele não é pra isso, ele é pra promover a igualdade. Isso quando
eu falo de Primavera, da história nossa, eu me arrepio, eu me revolto porque o estado
aqui não promoveu a igualdade. E a gente tendo uma universidade igual a Unesp, a
gente sempre espera a promoção da igualdade, do social, do intelectual, da moral. A
universidade tem que impregnar nos seus acadêmicos a moral, também, a dignidade da
pessoa humana, que todos somos dignos. Então, não tem, se eu falar muito mais aqui eu
vou começar a ser redundante, eu vou começar a repetir. Mas em uma só palavra, a
Unesp pra nós é a Unesp nossa, a nossa Unesp, não é a Unesp que ta lá fora, é a Unesp
nossa. Nós não vemos a Unesp, e eu procuro passar isso pras pessoas, para que elas não
vejam a Unesp como a Unesp de Prudente, não, é a nossa Unesp, a Unesp que nós
conquistamos e o que a gente tem que buscar é promover, respeitar os universitários, os
universitários serem recíprocos, nos respeitarem, os professores e assim, as coisas vão
caminhando. Eu acho que é tudo, a Unesp não tem muito que falar. Quem ta
caminhando com a gente, alguns bons professores. Eu acho que, alguns não, todos são
bons professores, mas os que têm tempo de caminhar com a gente. Eles tão vendo o
quanto é gratificante você executar tarefas em benefício da comunidade e sem ter
nenhum retorno financeiro, nada. É simplesmente pra você ver que pras pessoas
pouquinha coisa, se for feita com vontade elas se sentem muito bem, entendeu? Por isso
que a gente tem até parceria com a Unesp, ela tem nos dado essa oportunidade de levar
um pouco de cultura, um pouco de alegria pra algumas pessoas em algumas horas, em
um final de semana qualquer.
Sistematização dos dados
A entrevista com o morador do município de Rosana, Sr.
Joabinadabe nos proporcionou uma visão mais ampla da vida no município.
Durante a entrevista foi exposto como era a vida na época em que a
CESP se encontrava atuante na localidade, como está a vida atualmente e como foi esse
processo de transição.
Além disso, foram apontados os principais problemas municipais e a
112
expectativa de melhora para tais dificuldades.
O desenvolvimento do turismo no município foi apontado como uma
das principais alternativas, se não a única atualmente, para a melhora das condições de
vida da população.
Com a entrevista, o que nos pareceu é que ainda há moradores que
acreditam no desenvolvimento municipal, no seu potencial e que a maior riqueza da
localidade está no indivíduo, nos seus hábitos de vida, nas suas histórias, na sua cultura.
A Unesp, também, foi citada como instituição importante nesse
processo de desenvolvimento da atividade. A melhora do município está na junção de
esforços de todos que estiverem dispostos a trabalhar em prol da localidade, sejam o
setor público, as empresas privadas, a universidade ou os indivíduos.
Download

DaianaAparecidadosSantos