Foto: Arquivo Curso de Jornalismo Recife | Março de 2011 50 anos de Jornalismo na Católica NESTA EDIÇÃO Ex-alunos ocupam maioria dos postos nas redações Página 02 Projeto Vozes da África recebe prêmio Roquete Pinto Página 04 Ditadura marcou estudantes nos anos 60 e 70 Página 05 Marques de Melo relembra primeiros anos na Católica Página 07 O BERRO 2 | Recife, março de 2011 Carta ao leitor Uma trajetória de meio século Esta edição de “O Berro” trata do aniversário de 50 anos do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Em 1961, a Unicap se tornou a terceira instituição do Brasil e a primeira da região Norte e Nordeste a oferecer um curso de Jornalismo em nível superior. Indo de encontro à tradição de que o profissional de imprensa se formava apenas na prática diária das redações, o jornalista olindense Luiz Beltrão – que, mais tarde, se tornaria o primeiro doutor em Comunicação no país - apresentou ao então reitor Padre Mosca uma proposta para a criação do curso, que foi aceita de imediato. O curso abriu uma nova etapa na profissionalização da categoria no Estado e, pelo menos inicialmente, contribuiu para uma formação mais politizada de gerações de jovens aspirantes à prática do jornalismo. Gerações que, junto à for mação universitária, continuaram a ter, na prática cotidiana nas redações, um instrumento essencial de aprendizado e obtenção de experiências. Com a intenção de proporcionar aos estudantes u m a f o r m a ç ã o d i ve r s i ficada, a universidade buscou aliar o conhecimento teórico da academia à vivência prática das ativi- dades jornalísticas. E isso fez do Jornalismo da Unicap uma referência. Durante muitos anos foi o único curso no Estado e, mesmo hoje, mantém seu prestígio. Para contar em detalhes essa trajetória, “O Berro” traz, nesta edição especial, reportagens que mostram momentos importantes do curso no passado, seus desafios no presente e planos para o futuro. As 15 reportagens abordam temas como as atualizações da grade curricular ao longo desses 50 anos; a perseguição aos estudantes universitários no período da Ditadura Militar, sobretudo nos anos 60 e 70; a conquista do prêmio Roquete Pinto 2010 pelo projeto de rádio Vozes da África; a presença maciça de exalunos nas principais redações do Estado; o crescimento das assessorias de imprensa; as atuais oportunidades de trabalho. A própria história deste jornal - que já dura 28 anos - é tema de uma reportagem. Há ainda textos sobre exalunos que, hoje, são referência no jornalismo. Entre os muitos ex-professores que merecem ser lembrados, além dos citados nas reportagens, há nomes como Lúcia Noya, Valdelusa D’Arce, Salett Tauk, Vera Ferraz, Teresa Cunha, Neide Mendonça e Isaltino Bezerra, entre muitos outros. Na última década, a profissão de jornalista começou a enfrentar novos desafios devido à presença avassaladora da tecnolgia e à concepção ilusória de que qualquer pessoa munida de um celular pode ser um repórter. A existência do curso passou a ter, desde então, uma função adicional: assegurar a manutenção de um padrão ético mínimo para o exercício da profissão e lutar contra a sua precarização. Continua sendo tarefa da universidade propiciar aos alunos uma consistente formação humanística, ética e técnica, imprescindível para assegurar a prática de um jornalismo relevante para a sociedade, agora e no futuro. Ex-alunos são maioria nas redações de jornal FLAIRA FERRO A predominância de jornalistas e estagiários procedentes da Unicap nas redações dos principais jornais impressos do Estado é um fator muitas vezes decisivo na hora de o estudante escolher onde fazer o curso. Formada pela Católica na turma de 1987, a editora executiva do “Diário de Pernambuco”, Paula Losada, recorda a fama do curso na época em que entrou. “Lembro que optei estudar lá porque tinha o conceito de preparar o aluno para o mercado de trabalho. Já a Federal era mais requisitada para quem quisesse seguir uma vida acadêmica,” disse. Segundo levantamento feito por Paula, dos 130 profissionais que trabalham na redação do DP, 80 por cento vêm da Católica. A editora executiva e chefe de reportagem da “Folha de Pernambuco”, Katarina Cardoso, acredita que o perfil do jornalista que vem da Unicap é, geralmente, de um profissional atento às demandas do mercado, com boa formação prática. “Percebemos que o estudante é orientado a, desde os primeiros períodos do curso, procurar um estágio para vivenciar o que aprende em sala de aula.” De acordo com Katarina, cerca de 50 por cento dos 120 profissionais e estagiários da redação estudaram ou estudam na Unicap. Para a repórter da “Folha de Pernambuco”, que se formou na Católica em 2008, Juliana Aretakis, o trabalho na redação é uma extensão do que se aprende na faculdade. “Como a gente O perfil do jornalista que vem da Unicap é, geralmente, de um profissional atento às demandas do mercado começa a pagar cadeiras práticas já no terceiro período, passamos muito tempo fazendo exercícios que dão uma noção boa do que vamos encontrar fora do curso. Quando entrei na ‘Folha’, não senti dificuldade, só tive que me adaptar com a quantidade de trabalho que, sem dúvida, é maior”, disse Aretakis. Mas, apesar de o curso ser sinônimo de qualidade, na hora de uma contratação no jornal, para Cardoso, “o importante também é a qualidade do profissional ”. Para o diretor-adjunto da redação do “Jornal do Commercio”, Laurindo Ferreira, com o surgimento de novas faculdades oferecendo o curso de jornalismo no Recife, a diferença no número de pessoas que vem da Católica poderá mudar. “Acho que esse equilíbrio está acontecendo porque as demais faculdades começaram também a criar uma visão mercadológica de EXPEDIENTE Coordenador do Curso de Jornalismo Alexandre Figueirôa O BERRO é uma publicação da Disciplina Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Rua do Príncipe, 526 - Boa Vista - Recife-PE 50.050-900 CNPJ 10.847.721/0001-95 Fone: (081) 21194000 - Fax: (081) 2119.4222 Site: www.unicap.br/berro Professor Orientador Marcelo Abreu Subeditoras Andressa Anjos Clara Albuquerque Repórteres Anamaria Lima Andressa Anjos Clara Albuquerque Fernanda Alves Flaira Ferro João Gabriel Brito José Cavalcanti Kleber Nunes Leonardo Trevas Marina Didier Rebeca Kramer Stefani Brizza Sthèphanie Villarim Tércio Amaral Thiago Vasconcelos Vanessa Silva Victor Mariani Diagramação Flávio Santos Impressão FASA modo a aproximar os estudantes aos profissionais que atuam no ramo. Hoje em dia, dou palestras em várias faculdades. Coisa que, antes, só a Católica fazia”, disse. Ferreira ressalta que o diferencial na profissão está naquele que tem uma boa formação intelectual, de base. “Conhecer mais sobre história, política, filosofia, desenvolver senso crítico, ter um nível de leitura apurado é fundamental”, disse. Ele ressalta a importância do esforço pessoal na formação profissional. “Muito do que aprendi foi correndo atrás, me dedicando. Eu e alguns outros amigos fazíamos grupos de estudos fora da universidade para aprimorar nossos conhecimentos”, lembra. Recife, março de 2011 | 3 O BERRO ANDRESSA ANJOS Com a intenção de aproximar o ambiente acadêmico ao das redações dos jornais, o então professor de Jornalismo da Unicap, Eduardo Ferreira (67), lançou, em 1983, uma proposta aos seus alunos. Dividindo os integrantes das turmas de Jornalismo Impresso nas funções de pauteiro, repórter e editor, a ideia era produzir um jornal experimental. O primeiro passo da equipe que se arriscava a desenvolver o trabalho que, até então, não tinha apoio nem da coordenação do curso, foi dar um nome à publicação. “Houve uma votação e, entre as diversas sugestões, escolheu-se O Berro”, lembra Ferreira. De acordo com o jornalista Ildefonso Fonseca (56), um dos estudantes na época, o título escolhido refletia a situação do País. “Estávamos saindo da ditadura militar e O Berro surgia como um grito dos que não tinham meios para se expressar.” Mas a produção e a publicação do jornal não era fácil. Sem um diagramador na equipe, era preciso desembolsar o próprio dinheiro para contratar um profissional. Além disso, havia os custos com a impressão. “Apesar de ter gráfica própria, a Unicap não nos ajudava. Eduardo era quem conseguia os recursos necessários para a veiculação”, diz Fonseca. Eduardo Ferreira ensinou na universidade de 1979 a 1989, mas, nesse período, ausentou-se algumas vezes devido a outros trabalhos, o que fez com que a produção de O Berro ficasse prejudicada. Já for mado, em 1985, Fonseca assumiu o cargo de professor da Unicap. À frente das disciplinas Técnicas de Reportagem I e II, deu continuidade ao exercício do jornal. “Enfrentando as mesmas dificuldades de antes, recorria a amigos diagramadores e buscava patrocínios para que o material saísse”. Em 1987, a Unicap incorporou o jornal como atividade obrigatória do curso e responsabilizouse pela impressão. Esse apoio foi positivo, pois o que antes possuía uma única edição por semestre, passou a ter três. Ao longo dos tempos, foram feitas muitas mudanças gráficas em O Berro, como as alterações na diagramação e no formato e tipo de papel utilizado. Somente adquiriu maior consistência em 2000, quando o diagramador Breno Carvalho (34) e o professor Alexandre Figueirôa (55), que orientava a produção do jornal na época, estabeleceram um projeto gráfico. Foto: Nathália Andrade O Berro é editado desde 1983 O JORNALISTA Eduardo Ferreira Criou “O Berro” Questionado sobre a perenidade da publicação, Eduardo Ferreira confessa: “Não imaginava que alcançaria tamanha proporção”. Já Idelfonso Fonseca acha que “o diferencial da Unicap era ter professores que gostavam de ultrapassar os limites da sala de aula e Eduardo era um deles. Pelo entusiasmo dos alunos (na época), ficou claro que a ideia teria continuidade”. E teve. Hoje, O Berro é produzido por estudantes da disciplina JornalLaboratório. E as quatro edições lançadas a cada semestre são distribuídas na universidade e em locais ligados à temática tratada em cada número. Em 2009, por exemplo, o jornal “Joaquim Nabuco, o radical chique pernambucano”, teve ampla distribuição durante os eventos que lembraram a vida e a obra do abolicionista. Mudança procura aproximar currículo do mercado Por determinação do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e para atender às exigências do mercado de trabalho, a grade curricular do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco sofreu várias alterações, ao longo dos 50 anos de existência. O surgimento de novas ferramentas de trabalho e formas de se produzir exige permanente atualização dos professores. “Hoje em dia, o profissional lida com fatores como as redes sociais, a interação imediata com o público e a coleta de informações facilitada pela internet. Nada disso muda a essência do jornalismo, mas nos obriga a acompanhar o processo na universidade”, diz o coordenador do curso de Jornalismo, Alexandre Figueiroa. O currículo atual do curso, modificado em 2007, contempla as disciplinas práticas, como Redação, Telejornalismo e Radiojornalismo, a partir do terceiro semestre, diferentemente dos anteriores, quando os alunos eram expostos à pratica nos últimos períodos. Essa alteração abriu as portas de estágios para muitos estudantes. “Um ano inteiro só de cadeira prática ajuda muito. Acho muito importante entrar mos em contato com as áreas mais voltadas para o profissional no começo do curso”, diz Juliana Isola, 20, aluna do 4º período. Em comparação às últimas grades curriculares, algumas disciplinas foram extintas. Nos anos 80, havia diciplinas como Teatro e Cinema, hoje extintas. Outras foram adicionadas, especialmente as que lidam com as novas linguagens comunicacionais como Produção em vídeo e Jornalismo e novas tecnologias. Alguns nificava. No currículo atual, o estudante deixa a universidade com os conhecimentos de uma cadeira que trata especificamente desses assuntos. Acredito que eles são privilegiados”. Foto: Clara Albuquerque CLARA ALBUQUERQUE JULIANA Isola acredita no equilíbrio entre teoria e prática estudantes desperiodizados perderam as disciplinas do currículo anterior que desapareceram ao trancá-las e, ao tentarem recuperar a carga horária, precisaram matricular-se em disciplinas do currículo novo. Profissionais que estudaram com os currículos anteriores sentiram a necessidade de atualização ao se depararem com as atividades cotidianas de um veículo de comunicação ou assessoria de imprensa. O assessor Tádzio Estevam, 34, que ingressou no curso, em 1995 e graduou-se em 2001, buscou o aperfeiçoamento a partir das dificuldades que encontrou no mercado de trabalho. “Em determinado momento, percebi que deveria lidar com algo que se chama gerenciamento de crise e eu não fazia a mínima ideia do que aquilo sig- TEORIA E PRÁTICA Em contrapartida, há quem acredite que a desvantagem do currículo atual seja a redução de disciplinas teóricas. Mas as opiniões variam quando se trata desta discussão. “Eu gosto muito de teoria, também, e acho que deve haver um equilíbrio. Muitas vezes, depende do interesse do aluno para as disciplinas teóricas serem produtivas”, diz Juliana Isola. Segundo a coordenação do curso, a tendência é a de que a grade curricular seja alterada novamente, nos próximos anos, em razão do ritmo acelerado das mudanças na profissão. Novas disciplinas, mesmo eletivas, poderão ser criadas para atender a essa demanda. O BERRO 4 | Recife, março de 2011 Projeto ganha prêmio VANESSA SILVA Em cinquenta anos de história, o curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco já teve seu nome atrelado a diversos projetos na área, que foram premiados nacionalmente. A herança deixada por esses trabalhos, algumas vezes, foi além do prestígio para a academia, como no caso do Projeto Vozes da África, que venceu o Roquete Pinto 2010 e viabilizou a modernização do estúdio de rádio da universidade. O Vozes da África constituiu-se de uma série com seis reportagens, em áudio, de uma hora de duração cada, abordando a situação da mulher negra em Pernambuco. Idealizado pelos professores Ana Veloso, Vlaudimir Salvador, Paulo Fradique e Eliza Barreto, o programa contou, ainda, com a participação de 12 estudantes em sua produção e edição. Estando entre os 20 selecionados pelo Prêmio Roquete Pinto, que é promovido pela Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), o projeto recebeu a quantia de R$ 20 mil para viabilizar sua execução. A ideia de elaborar a série, segundo a professora Ana Veloso, surgiu em um Encontro de Mulheres do qual participou em maio de 2010. “Era um encontro de comunicação que reuniu cerca de 50 mulheres afrodescentes em Itamaracá. Elas apontaram a necessidade de uma representação negra nos meios audiovisuais e, quando surgiu a oportunidade de participar do Roquete Pinto, então, sugeri o tema e os outros professores aceitaram”, contou. As equipes passaram cerca de dois meses preparando os programas, que foram divididos por temas. “Para mim, o Vozes da África é sinônimo de aprendizado, foi onde eu pude vivenciar bem a prática do jornalimo, desde a apuração até a edição”, avaliou a estudante Emanuele Carvalho, uma das envolvidas no programa que traçou um panorama sobre as empregadas domésticas em Pernambuco. Com a conquista do prêmio, os professores decidiram investir os recursos na reestruturação do laboratório de radiojornalismo da universidade, que ganhou novos fones de ouvido, microfones, gravadores e caixas de som, além da substituição da antiga mesa de operação sonora que era analógica por uma digital. “Achamos que seria justa a aplicação do dinheiro em recursos que pudessem servir aos próprios alunos e também à academia. Esperamos que a, partir daí, muitos outros se sintam motivados a desenvolver grandes trabalhos”, afirmou o professor Vlaudimir Salvador. Cobertura externa estimula aprendizado REBECA KRAMER É sábado de manhã. Ordenadamente, 70 alunos do curso de jornalismo de diferentes períodos vão-se acomodando nas poltronas dos dois ônibus estacionados na Rua do Príncipe. De repente, aqueles mais animados começam a instigar os colegas a cantar os bregas mais clichês que embalavam as rádios populares do Recife de 10 anos atrás. É nesse clima de descontração e de nostalgia que os alunos saem do campus universitário. E, com caneta, câmera fotográfica e bloco nas mãos, partem em busca de uma grande cobertura jornalística. Sair do mesmo ambiente, estimular a participação, a capacidade de trabalhar em grupo e a interação social entre os alunos são fatores que levam a professora do curso de fotografia, Márcia Mendes, a promover viagens a praias e municípios do interior do estado, como Igarassu e Tra- cunhaém. “É importante para um curso de comunicação que os estudantes estabeleçam metas, desenvolvam o processo criativo e estudem composição fotográfica”. As aventuras vividas pelos estudantes, antes, durante ou depois das coberturas, também podem ser encaradas como exercícios profissionais. Quem revela alguns momentos é o professor de Radiojornalismo Vlaudimir Salvador, adepto da metodologia de ensino que vai além das salas de aula. “Uma vez viajamos a Bonito. No meio do caminho, o ônibus ficou preso entre duas árvores. Houve gente que se desesperou e a única comida que tínhamos era uma barra de chocolate”, afirma brincando. E completa: “Depois, o socorro chegou. Ter o contato de alguém para onde estamos indo é fundamental para a segurança das turmas”. A ex-estudante de jornalismo da Unicap Taís Pa- ranhos foi monitora e pauteira das atividades promovidas pelo professor Vlaudimir, de 1998 até 2000, quando ela se formou. Para a jornalista, que também é radialista técnica, as excursões servem para fazer com que os estudantes aprendam a atividade diante de situações jornalísticas reais. “O acompanhamento de professores que estimulam o aprendizado pela sua prática é definitivo nas escolhas profissionais dos alunos”, diz. O ex-aluno, graduado em 2009, Gabriel Marquim, revela que as primeiras coberturas em Radiojornalismo foram com pessoas na Avenida Conde da Boa Vista e na Rua Bernardo Guimarães, mais conhecida como “Rua do Lazer”, espaço que serve como praça de alimentação para os estudantes da Unicap. “Essa proximidade com o povo me deu sentido crítico e estímulo para trabalhar nas Rádios Jornal e CBN”, afirma. Estudantes atuam no Minuto Unicap STEFANI BRIZZA Para alguns estudantes de jornalismo, a experiência na área de TV pode ser um aliado para entrar no mercado de trabalho. Dentro da Universidade Católica de Pernambuco, existe uma atividade que une teoria e prática na realização do programa exibido na Rede Globo Nordeste, o Minuto Unicap. Em um minuto, histórias de serviços prestados à comunidade e exposições de pesquisas realizadas por alunos são mostradas. Para fazer parte do Minuto Unicap como repórter e apresentador, os alunos do curso de jornalismo passam por uma seleção na qual um candidato é escolhido para ingressar na Assessoria de Comunicação da Unicap (Assecom) e, a partir daí, dar início às gravações. O produtor audiovisual da universidade, Luca Pacheco, participa da escolha do candidato e afirma não ser necessário ter experiência em TV para ser selecionado. “O que avaliamos são aspectos como dicção, boa apresentação no vídeo e desenvoltura diante da câmera”, diz. O estudante que for escolhido tem um contrato de seis meses com a Assecom, renovável por até mais seis meses. O Minuto Unicap é, atualmente, a principal mídia e meio de divulgação da instituição, pois, ao mesmo tempo que reforça a marca, mostra o que a Católica tem a oferecer. Em troca, a Rede Globo Nordeste ganha dez bolsas de estudos para funcionários da emissora. O coordenador do núcleo de TV, Elano Lorenzato, diz que fazer parte da equipe do Minuto Unicap requer foco, pois, só assim, é possível obter um bom resultado nos programas. “Sem dúvida, é muito difícil contar uma boa história em apenas um minuto, tudo tem que ficar bem amarrado”. Para isso, eles contam com uma equipe organizada, com cinegrafistas que acompanham os estagiários do começo ao fim e também com a supervisão de jornalistas que ajudam na produção dos textos para as matérias. Para provar que o Minuto Unicap realmente abre portas, a jornalista Nádya Alencar, hoje repórter da TV Clube, confirma que conseguiu seus primeiros trabalhos a partir do programa. “Foi uma grande vitrine para mim e até hoje as pessoas se lembram daquela época”, afirma. Recife, março de 2011 | 5 O BERRO Ditadura marcou anos 60 e 70 KLÉBER NUNES Neste meio século do curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), um dos períodos mais marcantes e difíceis foi a época da Ditadura Militar, nos anos 60 e 70. Com a implantação do regime militar em 1964, houve casos de perseguição e repressão contra diversos setores da sociedade civil, dentre eles os estudantes universitários, em especial os dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas – tidos pelos militares como “subversivos”, pois questionavam o sistema político. Além da proibição de livros, e de alguns jornais, que acabavam circulando clandestinamente, havia histórias de agentes federais infiltrados nas salas de aula no curso de jornalismo da Unicap. Com tudo isso acontecendo, estudar comunicação social era um grande desafio. Na época, vários jornalistas foram presos e torturados no Brasil. “Foi uma época muito complicada para todos, mas, para os estudantes de jornalismo, era muito mais. Eles buscavam a for mação de repórteres, pessoas críticas que denunciam os erros da sociedade. Creio que era o desafio ao governo que estimulava tantos jovens a buscar o curso”, afirmou a antropóloga e professora Zuleica Dantas. Ela lembra que foi nessa época que, pela primeira vez, a Unicap teve um reitor que não era padre, com a indicação do escritor Havia histórias sobre agentes do governo infiltrados para vigiar estudantes Potiguar Matos. “Na realidade, os militares colocaram um inter ventor, na tentativa de controlar os conteúdos das disciplinas”. A estudante de jornalismo na época, Marisa Gibson, hoje colunista política do “Diário de Pernambuco”, conta como era a reação das pessoas quando ela dizia que ia estudar jornalismo. “Quando falávamos para nossos parentes e amigos, todos ficavam perguntando se era isso mesmo o que queríamos. Para entrar nesse curso tinha que ter muita vontade, paixão pela comunicação e, acima de tudo, coragem”. Ela relata ainda que muitos dos seus colegas eram levados às delegacias. “Agentes militares se matriculavam no curso para ver se havia comunistas, essas coisas. Às vezes, policiais abordavam alunos nas proximidades da universidade e levavam eles para interrogatórios”, relembra. Nos últimos cinco anos do regime militar, já no começo dos anos 80, a universidade passou a viver um clima de liberdade e efervescência política novamente, com o processo de redemocratização. Passados 26 anos do fim do regime militar, Marisa Gibson garante que o sufoco valeu a pena. “Hoje temos um país democrático. E a universidade, em especial o curso de jornalismo, pode ser um lugar de debates, sem medos, o que só melhora a formação dos novos profissionais. Nesses 50 anos, temos que comemorar nossa liberdade”, afirmou. Padres e religiosos também procuram o curso JOÃO GABRIEL BRITO Em um mundo no qual a comunicação se tornou central , o curso de jornalismo tem atraído, ao longo dos anos, o interesse até mesmo de religiosos e alguns padres. “O padre é, na realidade, um comunicador. Quando estudamos a Bíblia sagrada, percebemos que transmitimos o amor de Deus. Eu queria saber como se faz Jornalismo para aprimorar o meu diálogo com as pessoas, principalmente com aquelas que vão às missas”, disse Francisco Gabriel de Assis, 38, pároco da igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada no bairro da Torre. Padre Francisco formouse no primeiro semestre de 2010. Na opinião dele, a Universidade Católica de Pernambuco é a melhor escola do Jornalismo em Pernambuco. Entretanto, ele aconselha aos alunos do curso: “Eu gosto da estrutura da Unicap, pois a instituição sempre se preocupa em formar os melhores profissionais para o mercado. Porém o aluno não deve acomodar-se por estar na me- lhor escola de jornalismo do Estado. Ele tem que ler bastante, acompanhar os noticiários de rádio e televisão. Afinal de contas, a universidade mostra o caminho, cabe à pessoa segui-lo ou não”, afirmou. Quem concorda com Francisco é o padre da Paróquia de Santo Antônio dos Guararapes, situada em Prazeres, Sérgio Cabral Peres, 40. “Há muitos campos dentro do Jornalismo como, por exemplo, rádio, televisão, impresso, online e assessorias. É por isso que o aluno deve aperfeiçoar-se para ver em qual área se encaixa melhor”, disse. Padre Sérgio afirma que sempre teve habilidade para a área de comunicação, mas não era possível conciliar com os cursos de teologia e filosofia. Em 2003, ele fez o vestibular para Jornalismo e for mou-se no segundo semestre de 2008. “Às vezes, sinto saudade da universidade. Só o fato de circular no meio universitário já me trazia satisfação. Em relação ao Jornalismo propriamente dito, sempre gostei mais das aulas práticas de Rádio, TV, e Redação, pois, para mim, a prática é empolgante”, disse. Apesar de sua satisfação com a profissão, padre Sérgio garante que nem tudo é fácil no Jornalismo. “É preciso ter muito cuidado para não entrar no curso pensando no glamour da mídia. Hoje em dia, muita gente que cursa Jornalismo acaba migrando para outras profissões”, afirmou. Nem todos os padres e religiosos que se aproximam da área de comunicação consideram o jornalismo apenas como uma segunda opção. Alguns acabam elegendo o jornalismo como principal atividade. Esse foi o caso do ex-padre Félix Galvão Batista Filho, 54, que está na área há mais de 30 anos.“Sempre gostei de comunicação. Iniciei o curso em 1975, na Unicap. Na época, a instituição tinha o único curso de Jornalismo do Estado. Dois anos depois, fiz parte do Diretório Acadêmico, que se chamava Década. Esse nome era uma alusão aos dez anos que o diretório ficou fechado devido à repressão do regime PADRE Francisco de Assis formouse em Jornalismo militar”, contou. JORNALISMO E CINEMA No mesmo período que Félix Filho fazia o curso de Jornalismo, iniciou o curso de Teologia e tor nou-se seminarista. Durante três anos, foi padre na paróquia de Pontes do Carvalho, no Cabo de Santo Agostinho. Nessa época, atuou, tam- bém, no movimento do cinema em Super 8. Félix afirma que deixou de ser padre por causa do celibato. “Eu queria casar e a Igreja Católica não permite. Foi por isso que larguei a batina”. Visto de hoje, a decisão parece acertada. Félix Filho atribui ao jornalismo a sua atual realização profissional. O BERRO 6 | Recife, março de 2011 PAULO VICTOR MARIANI Próximo ao Parque Treze de Maio, entre as ruas da Saudade e da União, o pequeno antiquário Bons Tempos abre todos os dias da semana, pontualmente às 8h. É um dos poucos estabelecimentos comerciais diurnos da Rua Mamede Simões, muito mais frequentada pela boemia dos cinco bares do local. No pequeno e charmoso Bons Tempos, trabalha Carlos Benevides, figura intimamemnte ligada à história dos 50 anos de jornalismo da Unicap. Aluno da universidade, professor e três vezes coordenador do curso, a vida de Benevides está intercalada à trajetória do Jornalismo na Católica. “Entrei em 1964, na quarta turma de jornalismo. Roberto Benjamim e Marques de Melo (estudioso da Folkcomunicação e aluno de Luiz Beltrão) foram meus contemporâneos. Nem os Atos Institucionais impostos pelo regime militar a partir de 1964 impediram Carlos Benevides de graduar-se como jornalista em 1968. Logo depois, tentou o curso de direito na UFPE, mais por desejo do pai do que por vocação própria. Mas logo largou o plano de ser advogado. “O meu negócio, realmente, era jornalismo”. Atualmente, Carlos Benevides destoa à figura do antigo professor. Usa um brinco na orelha e gosta de camisas com estampas floridas. Enquanto serve café a um possível comprador, sua filha Gabriela (que cuida do antiquário junto a Benevides) diz que “ele, depois que saiu da universidade, ficou muito mais sereno. Antigamente ele se doava demais e era sugado pela profissão”. Notadamente, esse esforço é comprovado nas três passagens pela coordenação do curso, quando contibuiu para que reportagens feitas pelos estudantes da Unicap fossem veiculadas na Rádio Universitária, onde trabalhou por mais de duas décadas, e na Rádio Folha. PAIXÃO PELO RÁDIO Foi na Rádio Universitária onde Carlos Benevides trabalhou mais tempo, produzindo programas sobre muitos temas diferentes, sobretudo na área de cultura. No laboratório de vídeo do curso de jornalismo, o editor de imagens Marcos Muniz lembra, com saudade, a passagem de Benevides pela coordenação de jornalismo nos anos oitenta, quando houve uma renovação de câmeras. “Acho que naquela época existia uma comunicação no curso que não é a mesma coisa hoje”. Agora, o famoso “Bené”, como era conhecido entre os estudantes, parece alguém que já viveu todas as aventuras jornalísticas que lhe eram cabidas e prefere a paz de seu antiquário. Quando saiu da Católica, em 2009, perdeu a vontade (ou a paciência) de ensinar na universidade. Viúvo, Benevides decidiu ajudar em tempo integral a filha no antiquário, uma paixão que apenas agora teve tempo de desfrutar, e por lá mesmo foi ficando. Recebe, com frequência, a visita dos amigos antiquaristas no seu ponto comercial. Entre uma e outra especulação sobre os preços de artigos de prata, recorda as histórias da Católica, e dos seus alunos, uma das lembranças mais fortes. Carlos Benevides, figura tarimbada no estúdio de rádio por 40 anos, também é uma recorrente lembrança dentro da curso da Católica. Direito atrai jornalistas STHÈPHANIE VILLARIM A comunicação com um público diversificado e a necessidade de uma vasta bagagem teórica são habilidades exigidas tanto no curso de Jornalismo como no de Direito. Essas semelhanças são fatores que conquistam a simpatia dos profissionais que buscam no outro curso um complemento para a sua carreira. Ao mesmo tempo em que o jornalista lida com assuntos relacionados às legislações jurídicas, o bacharel em Direito precisa falar bem em público e estar atualizado com os casos polêmicos divulgados na mídia. “Cursar direito acrescentou muito para a minha profissão. Nas matérias que envolvem a temática, conheço bem a linguagem específica e seus significados”, disse o repórter de economia do “Diário de Pernambuco” e graduado em Direito pela Associação Caruaruense de Ensino Superior, Augusto Freitas. Já o repórter de política da “Folha de Pernambuco”, Arthur Cunha, vai mais além. Desde o vestibular, ele tinha dúvida sobre estudar Direito ou Jornalismo. Em 2009, ingressou em Direito na Unicap. “Está me ajudando muito quando escrevo matérias sobre eleições”, conta Cunha. Ingressar em uma nova área para garantir estabilidade financeira também se tornou motivo da migração dos jornalistas na área de Direito. A repórter de esportes do “Diário de Pernambuco”, Raitza Vieira, começou a estudar Direito na Unicap, em 2007, para ampliar o currículo. “É sempre bom ter um segundo plano”, disse. Jornalistas em exercício que são diplomados em Direito ou vice-versa destacam a falta de tempo como principal barreira a ser superada. Arthur Cunha precisou trancar o curso de Direito, temporariamente, por causa das eleições de 2010. “Me sinto muito cansado com as duas atividades. Às vezes, preciso faltar aula para trabalhar”, diz o repórter de política. Outra dificuldade é a adaptação na escrita. O texto jornalístico precisa ser conciso e claro. O jurídico é breve e preza pelas nomenclaturas específicas da área. “Quando comecei a estagiar no ‘Diário de Pernambuco’, precisei tornar minhas matérias mais leves para atrair os leitores”, disse o repórter e graduado em Direito, Augusto Freitas. Foto: Eliane Carneiro O antiquário de Bené Funcionários contam histórias pitorescas MÚCIO Lopes trabalha no curso há 11 anos LEONARDO TREVAS Parte importante do curso de Jornalismo são os funcionários que dão apoio técnico às disciplinas práticas. São eles que colocam os equipamentos para funcionar, que editam, junto com os alunos, o material produzido. Que fazem imagens nas ruas, que atuam no estádio de rádio e que dão assistência nos assuntos relacionados ao funcionamento dos computadores. Dos atuais dezesseis funcionários do curso de Jor nalismo da Unicap, nove estão na área de telejornalismo. O editor de imagens Gérson Nazário está há nove anos no curso e passou por diferentes fases da tecnologia. “Já trabalhei com aquelas fitas grandes de rolo, depois passou para o cassete, e agora a edição não linear, digital”, afirma. Quase que escondido, ocupando uma mesa na O técnico de sala acusticamente lacrada, som Gordinho o técnico de som Marcos lembra das Antônio de Arruda Cavalmesinhas de cante, também conhecido como Gordinho, recebe a seis canais e todos com um sorriso escomprara com a tampado no rosto. Funciomesa digital de nário da universidade há 24 hoje: “a anos, ele relembra as conqualidade é dições do equipamento do laboratório de rádio. “Era muito melhor” muito precário. Havia uma mesinha de seis canais, dois toca-discos, tínhamos que fazer os cortes 'a seco' nas fitas. Hoje em dia, a mesa é digital, tem 48 canais, a qualidade é muito melhor. Mas eu sinto que, antigamente, os trabalhos eram melhores”, diz. Magro, alto, esguio, apressado, sempre atendendo a mil pedidos, o técnico de informática Múcio Pessoa Lopes, que está há 11 anos no curso, é outra figura carismática. “Com alguns alunos, acabamos tendo um laço de amizade. Claro que tem os mais folclóricos. Já peguei alunas dançando no laboratório de redação”, conta. Marcos Gordinho afirma ter suas pequenas alegrias. “Uma vez estava tomando café e começou o ‘Bom Dia Brasil’. De repente, entrou aquela menina do tempo com uma voz conhecida. Pensei, ‘essa menina é da Católica'. Quando me virei para a televisão era Michele Loreto, ex-aluna. Foi uma surpresa agradável”, conta. “Hoje mesmo alguns alunos entraram no estúdio e começaram a cantar. Cantaram, depois pararam e foram embora. Assim mesmo, do nada”, afirma. E acrescenta: “todo jornalista tem sempre um pouco de louco.” Recife, março de 2011 | 7 O BERRO MARINA DIDIER Nascido no ano de 1956, em São João do Cariri, na Paraíba, Evaldo Costa apaixonou-se pelo jornalismo ainda criança. Introvertido, gostava de passar horas na difusora municipal, sem saber que viria a ter experiências nos mais diversos campos e veículos. Hoje, é o Secretário de Imprensa do Governo de Pernambuco. Nessa longa trajetória, Evaldo Costa destaca as passagens como aluno e professor do curso de jornalismo da Universidade Católica, que completa 50 anos em 2011. Na entrevista a seguir, concedida no Palácio do Campo das Princesas, ele conta o que viveu nos tempos de “foca” e analisa a profissão neste início de século 21. O Berro: Como se deu a escolha de querer ser jornalista? Evaldo Costa: Apesar de ter sido um garoto muito tímido, aos nove anos de idade, eu já ajudava minha ir mã a operar a difusora municipal da cidade onde eu nasci. Além disso, eu varava horas da madrugada ouvindo rádio, identificando locutores, registrando prefixos. Aos dez anos, vim para o Recife e aqui mantive essa ligação. Lia jornal diariamente, militava no movimento estudantil, lia “O Pasquim”, tinha contato com mídias alternativas, de maneira que vir a ser jornalista, para mim, foi algo muito natural. O Berro: O senhor foi professor de jornalismo na Universidade Católica no final dos anos 90. Como foi ensinar e por que resolveu parar? Evaldo Costa: Foi maravilhoso e sinto uma saudade imensa. Eu me sentia em casa porque aquele departamento fazia e faz parte da minha vida. Passei seis anos como estudante e depois mais esses anos como professor. Assumo que eu não era bem um professor, mas alguém que tinha muita experiência prática para compartilhar com os jovens, que, por sua vez, também levavam para a sala de aula muitas ideias. Saí porque recebi um convite irrecu- sável para trabalhar no “Correio Braziliense” e, quando voltei, não tive oportunidade de retomar essa experiência, até porque precisaria preparar-me formalmente, fazer mestrado, e a batalha da vida não me permite. O Berro: Como o senhor vê a questão da não exigência do diploma para os profissionais de jornalismo? Evaldo Costa: Acho isso um absurdo completo. Hoje, no mundo, só se fala em qualificação. Acredito, inclusive, que o Congresso Nacional vai restabelecer a exigência, mas, se não o fizer, não vai haver nenhuma consequência, porque ninguém vai contratar médico para dar plantão de polícia, nem advogado para cobrir jogo de futebol, a não ser maus advogados e maus médicos, que, certamente, serão maus jornalistas. O Berro: Como o senhor acha que será o futuro do jornalismo? Evaldo Costa: Eu vejo uma tendência para a confluência de todas as mídias. Foto: Marina Didier Evaldo Costa defende o diploma COSTA, hoje secretário de governo, ensinou na Unicap As coisas vão mudando numa velocidade tão grande, que fica difícil dizer como serão os meios de comunicação daqui a dez anos. O que eu acredito é que sempre haverá espaço para quem sabe discernir, na grande quantidade de acontecimentos simultâneos, aquilo que interessa ao público ao qual se dirige. Esse é o papel do comunicador, e isso estará preservado. O Berro: O senhor acha que vale a pena ser jornalista? Evaldo Costa: Com certeza. Depois que eu entrei para o jornalismo, viajei o mundo, tive 34 domicílios ao longo da minha vida, muitos desses vinculados à minha prática jornalista. Se eu não fosse jornalista, não teria tido essas oportunidades. Além disso, e esta é a parte mais importante, o jornalismo me permitiu fazer com que o mundo fosse melhor. Eu dei uma contribuição, mínima que seja, para que algumas coisas fossem melhores do que eram antes. Garcia Marquez escreveu num artigo que o jornalismo era a melhor profissão do mundo e eu concordo plenamente com ele. Marques de Melo relembra primeiros anos na Católica TÉRCIO AMARAL Os cabelos brancos, o sorriso aberto e seu olhar fraterno logo revelam os traços de sua personalidade. É calmo e paciente com todos os alunos que o procuram para tirar dúvidas em congressos brasileiros, a exemplo do Intercom. José Marques de Melo se formou na segunda turma de jornalismo, em 1964, pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Sua relação com a instituição é quase uma “relação de amor”, como afirma. Já como parte das comemorações pelos 50 anos do curso, ele foi o único aluno de jornalismo for mado pela Católica a receber o título de Doutor honoris causa da instituição, em cerimônia realizada em 2010, durante o 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo (ENPJ). O acadêmico José de Marques de Melo, professor de diversas gerações de jornalistas formados pela Universidade de São Paulo (USP), hoje está aposentado da sala de aula, mas ainda orienta alunos de doutorado e participa de congressos e de comissões que discutem o futuro dos cursos de jornalismo. LUIZ BELTRÃO Marques de Melo afirma que o fundador do curso de jornalismo da Católica, o professor Luiz Beltrão, foi uma das figuras mais controversas que conheceu ao longo de sua trajetória profissional. Se- gundo ele, como não havia manuais ou livros sobre jornalismo na década de 60, Beltrão escrevia discursos e lia todas as aulas. Esse método, inicialmente, não cativou a turma. “Ele era uma figura singular do ponto de vista didático. A sua aula era muito chata”, lembra Marques de Melo. “Logo de início, quando começamos o curso, foi um impacto para nossa turma ouvir aquela voz mansa. Mas, com o passar do tempo, vimos que era aquilo ou nada, e passamos a prestar atenção e conhecer um pouco de seu pensamento”, diz. Nascido em Alagoas, Zé Marques, como gosta de ser chamado, veio para o Recife para estudar Direito e acabou no jornalismo. Formado na segunda tur ma de jor- nalismo da Unicap, em 1964, ele começou a trabalhar na gestão do governador Miguel Arraes, na chefia do gabinete da secretaria de Educação. “Logo depois, chegou a ditadura. E um dos fatos inusitados daquela época é que fui orador de minha turma, e por sorte, não fui preso naquele dia”, afirma. Paralelamente ao seu trabalho no governo, também foi repórter da edição local do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer. “Sou um homem de esquerda. E, naquela época, tínhamos os ideais de levar o país a reformas sociais. Participei do Movimento de Cultura Popular”, conta. Quando José Marques de Melo teve seu registro de professor da USP cassado pela ditadura militar na década de 70, pensou em voltar ao Recife. “Eu sou um homem sertanejo e fico preso às minhas origens. Sempre tive vontade de voltar para Unicap como professor de jor nalismo. Porém, aqui em Pernambuco, nós estávamos ligados ao governo de Miguel Arraes e poderíamos ser presos. Além disso, em São Paulo, nossa condição de sobrevivência era maior”, afirma. A saudade da Católica é traduzida hoje em admiração. “Não poderia ser diferente, pois tive grandes professores na graduação, como o geógrafo Manoel Correia de Andrade, o historiador e jornalista Costa Pôrto e o crítico Amaro Quintas”, relembra José Marques de Melo. C:\flavio\Artes\Propaganda O Berro2.cdr segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 18:14:15 Color profile: Disabled Composite Default screen 100 100 95 95 75 75 25 25 5 5 0 0 Em 2011 temos muitos motivos para comemorar. 50 anos do Curso de Jornalismo 60 anos da Unicap 100 100 95 95 75 75 25 Rua do Príncipe, 526. Boa Vista - CEP 50050-900 - Recife - PE - Brasil Fone: 55 81 2119-4000 | www.unicap.br 25 5 5 0 0