Foto: Arquivo Curso de Jornalismo
Recife | Março de 2011
50 anos
de Jornalismo
na Católica
NESTA EDIÇÃO
Ex-alunos ocupam maioria
dos postos nas redações
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Projeto Vozes da África
recebe prêmio Roquete Pinto
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Ditadura marcou estudantes
nos anos 60 e 70
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Marques de Melo relembra
primeiros anos na Católica
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O BERRO
2 | Recife, março de 2011
Carta ao leitor
Uma trajetória de meio século
Esta edição de “O Berro”
trata do aniversário de 50 anos
do curso de Jornalismo da
Universidade Católica de Pernambuco. Em 1961, a Unicap
se tornou a terceira instituição
do Brasil e a primeira da região
Norte e Nordeste a oferecer
um curso de Jornalismo em
nível superior. Indo de encontro
à tradição de que o profissional
de imprensa se formava apenas
na prática diária das redações,
o jornalista olindense Luiz
Beltrão – que, mais tarde, se
tornaria o primeiro doutor em
Comunicação no país - apresentou ao então reitor Padre
Mosca uma proposta para a
criação do curso, que foi aceita
de imediato.
O curso abriu uma nova
etapa na profissionalização da
categoria no Estado e, pelo
menos inicialmente, contribuiu para uma formação mais
politizada de gerações de
jovens aspirantes à prática do
jornalismo. Gerações que,
junto à for mação universitária, continuaram a ter, na
prática cotidiana nas redações, um instrumento essencial de aprendizado e obtenção de experiências.
Com a intenção de proporcionar aos estudantes
u m a f o r m a ç ã o d i ve r s i ficada, a universidade buscou aliar o conhecimento
teórico da academia à vivência prática das ativi-
dades jornalísticas. E isso
fez do Jornalismo da Unicap uma referência. Durante muitos anos foi o único
curso no Estado e, mesmo
hoje, mantém seu prestígio.
Para contar em detalhes essa
trajetória, “O Berro” traz, nesta
edição especial, reportagens que
mostram momentos importantes do curso no passado, seus
desafios no presente e planos
para o futuro. As 15 reportagens abordam temas como as
atualizações da grade curricular
ao longo desses 50 anos; a
perseguição aos estudantes
universitários no período da
Ditadura Militar, sobretudo nos
anos 60 e 70; a conquista do
prêmio Roquete Pinto 2010
pelo projeto de rádio Vozes da
África; a presença maciça de exalunos nas principais redações
do Estado; o crescimento das
assessorias de imprensa; as
atuais oportunidades de trabalho. A própria história deste
jornal - que já dura 28 anos - é
tema de uma reportagem.
Há ainda textos sobre exalunos que, hoje, são referência
no jornalismo. Entre os muitos
ex-professores que merecem
ser lembrados, além dos citados
nas reportagens, há nomes
como Lúcia Noya, Valdelusa
D’Arce, Salett Tauk, Vera
Ferraz, Teresa Cunha, Neide
Mendonça e Isaltino Bezerra,
entre muitos outros.
Na última década, a
profissão de jornalista começou a enfrentar novos desafios
devido à presença avassaladora da tecnolgia e à concepção ilusória de que qualquer pessoa munida de um
celular pode ser um repórter.
A existência do curso passou
a ter, desde então, uma função
adicional: assegurar a manutenção de um padrão ético
mínimo para o exercício da
profissão e lutar contra a sua
precarização. Continua sendo
tarefa da universidade propiciar aos alunos uma consistente formação humanística,
ética e técnica, imprescindível
para assegurar a prática de um
jornalismo relevante para a
sociedade, agora e no futuro.
Ex-alunos são maioria nas redações de jornal
FLAIRA FERRO
A predominância de jornalistas e estagiários procedentes da Unicap nas redações dos principais jornais
impressos do Estado é um
fator muitas vezes decisivo na
hora de o estudante escolher
onde fazer o curso. Formada
pela Católica na turma de
1987, a editora executiva do
“Diário de Pernambuco”,
Paula Losada, recorda a fama
do curso na época em que
entrou. “Lembro que optei
estudar lá porque tinha o
conceito de preparar o aluno
para o mercado de trabalho.
Já a Federal era mais requisitada para quem quisesse
seguir uma vida acadêmica,”
disse. Segundo levantamento
feito por Paula, dos 130
profissionais que trabalham
na redação do DP, 80 por
cento vêm da Católica.
A editora executiva e chefe
de reportagem da “Folha de
Pernambuco”, Katarina Cardoso, acredita que o perfil do
jornalista que vem da Unicap
é, geralmente, de um profissional atento às demandas do
mercado, com boa formação
prática. “Percebemos que o
estudante é orientado a, desde
os primeiros períodos do
curso, procurar um estágio
para vivenciar o que aprende
em sala de aula.” De acordo
com Katarina, cerca de 50 por
cento dos 120 profissionais e
estagiários da redação estudaram ou estudam na Unicap.
Para a repórter da “Folha
de Pernambuco”, que se formou na Católica em 2008,
Juliana Aretakis, o trabalho
na redação é uma extensão
do que se aprende na faculdade. “Como a gente
O perfil do
jornalista que
vem da Unicap
é, geralmente,
de um
profissional
atento às
demandas do
mercado
começa a pagar cadeiras
práticas já no terceiro período, passamos muito tempo fazendo exercícios que
dão uma noção boa do que
vamos encontrar fora do
curso. Quando entrei na
‘Folha’, não senti dificuldade,
só tive que me adaptar com a
quantidade de trabalho que,
sem dúvida, é maior”, disse
Aretakis. Mas, apesar de o
curso ser sinônimo de qualidade, na hora de uma contratação no jornal, para Cardoso,
“o importante também é a
qualidade do profissional ”.
Para o diretor-adjunto da
redação do “Jornal do Commercio”, Laurindo Ferreira,
com o surgimento de novas
faculdades oferecendo o curso
de jornalismo no Recife, a
diferença no número de
pessoas que vem da Católica
poderá mudar. “Acho que esse
equilíbrio está acontecendo
porque as demais faculdades
começaram também a criar
uma visão mercadológica de
EXPEDIENTE
Coordenador do Curso
de Jornalismo
Alexandre Figueirôa
O BERRO é uma publicação da
Disciplina Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da
Universidade Católica de Pernambuco.
Rua do Príncipe, 526 - Boa Vista - Recife-PE 50.050-900 CNPJ 10.847.721/0001-95 Fone: (081) 21194000 - Fax:
(081) 2119.4222 Site: www.unicap.br/berro
Professor Orientador
Marcelo Abreu
Subeditoras
Andressa Anjos
Clara Albuquerque
Repórteres
Anamaria Lima
Andressa Anjos
Clara Albuquerque
Fernanda Alves
Flaira Ferro
João Gabriel Brito
José Cavalcanti
Kleber Nunes
Leonardo Trevas
Marina Didier
Rebeca Kramer
Stefani Brizza
Sthèphanie Villarim
Tércio Amaral
Thiago Vasconcelos
Vanessa Silva
Victor Mariani
Diagramação
Flávio Santos
Impressão
FASA
modo a aproximar os estudantes aos profissionais que
atuam no ramo. Hoje em dia,
dou palestras em várias faculdades. Coisa que, antes, só a
Católica fazia”, disse.
Ferreira ressalta que o
diferencial na profissão está
naquele que tem uma boa
formação intelectual, de base.
“Conhecer mais sobre história, política, filosofia, desenvolver senso crítico, ter um
nível de leitura apurado é
fundamental”, disse. Ele
ressalta a importância do
esforço pessoal na formação
profissional. “Muito do que
aprendi foi correndo atrás,
me dedicando. Eu e alguns
outros amigos fazíamos grupos de estudos fora da universidade para aprimorar nossos
conhecimentos”, lembra.
Recife, março de 2011 | 3
O BERRO
ANDRESSA ANJOS
Com a intenção de aproximar o ambiente acadêmico
ao das redações dos jornais,
o então professor de Jornalismo da Unicap, Eduardo
Ferreira (67), lançou, em
1983, uma proposta aos seus
alunos. Dividindo os integrantes das turmas de Jornalismo Impresso nas funções de pauteiro, repórter e
editor, a ideia era produzir
um jornal experimental.
O primeiro passo da
equipe que se arriscava a
desenvolver o trabalho que,
até então, não tinha apoio
nem da coordenação do
curso, foi dar um nome à
publicação. “Houve uma
votação e, entre as diversas
sugestões, escolheu-se O
Berro”, lembra Ferreira. De
acordo com o jornalista
Ildefonso Fonseca (56), um
dos estudantes na época, o
título escolhido refletia a
situação do País. “Estávamos
saindo da ditadura militar e
O Berro surgia como um
grito dos que não tinham
meios para se expressar.”
Mas a produção e a publicação do jornal não era fácil.
Sem um diagramador na
equipe, era preciso desembolsar o próprio dinheiro para
contratar um profissional.
Além disso, havia os custos
com a impressão. “Apesar de
ter gráfica própria, a Unicap
não nos ajudava. Eduardo era
quem conseguia os recursos
necessários para a veiculação”,
diz Fonseca.
Eduardo Ferreira ensinou na universidade de 1979
a 1989, mas, nesse período,
ausentou-se algumas vezes
devido a outros trabalhos, o
que fez com que a produção
de O Berro ficasse prejudicada. Já for mado, em
1985, Fonseca assumiu o
cargo de professor da Unicap. À frente das disciplinas
Técnicas de Reportagem I e
II, deu continuidade ao
exercício do jornal. “Enfrentando as mesmas dificuldades de antes, recorria a
amigos diagramadores e
buscava patrocínios para que
o material saísse”. Em 1987,
a Unicap incorporou o jornal
como atividade obrigatória
do curso e responsabilizouse pela impressão. Esse apoio
foi positivo, pois o que antes
possuía uma única edição por
semestre, passou a ter três.
Ao longo dos tempos,
foram feitas muitas mudanças gráficas em O Berro,
como as alterações na diagramação e no formato e tipo
de papel utilizado. Somente
adquiriu maior consistência
em 2000, quando o diagramador Breno Carvalho (34)
e o professor Alexandre
Figueirôa (55), que orientava a produção do jornal na
época, estabeleceram um
projeto gráfico.
Foto: Nathália Andrade
O Berro é editado desde 1983
O JORNALISTA Eduardo Ferreira Criou “O Berro”
Questionado sobre a
perenidade da publicação,
Eduardo Ferreira confessa:
“Não imaginava que alcançaria tamanha proporção”. Já
Idelfonso Fonseca acha que
“o diferencial da Unicap era
ter professores que gostavam
de ultrapassar os limites da
sala de aula e Eduardo era
um deles. Pelo entusiasmo
dos alunos (na época), ficou
claro que a ideia teria continuidade”. E teve. Hoje, O
Berro é produzido por estudantes da disciplina JornalLaboratório. E as quatro
edições lançadas a cada
semestre são distribuídas na
universidade e em locais
ligados à temática tratada em
cada número. Em 2009, por
exemplo, o jornal “Joaquim
Nabuco, o radical chique
pernambucano”, teve ampla
distribuição durante os eventos que lembraram a vida e
a obra do abolicionista.
Mudança procura aproximar currículo do mercado
Por determinação do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e para atender
às exigências do mercado de
trabalho, a grade curricular
do curso de Jornalismo da
Universidade Católica de
Pernambuco sofreu várias
alterações, ao longo dos 50
anos de existência. O surgimento de novas ferramentas de trabalho e formas
de se produzir exige permanente atualização dos
professores. “Hoje em dia, o
profissional lida com fatores
como as redes sociais, a
interação imediata com o
público e a coleta de informações facilitada pela internet. Nada disso muda a
essência do jornalismo, mas
nos obriga a acompanhar o
processo na universidade”,
diz o coordenador do curso
de Jornalismo, Alexandre Figueiroa.
O currículo atual do
curso, modificado em 2007,
contempla as disciplinas
práticas, como Redação,
Telejornalismo e Radiojornalismo, a partir do terceiro
semestre, diferentemente
dos anteriores, quando os
alunos eram expostos à pratica nos últimos períodos.
Essa alteração abriu as portas de estágios para muitos
estudantes. “Um ano inteiro
só de cadeira prática ajuda
muito. Acho muito importante entrar mos em contato com as áreas mais
voltadas para o profissional
no começo do curso”, diz
Juliana Isola, 20, aluna do
4º período.
Em comparação às últimas grades curriculares,
algumas disciplinas foram
extintas. Nos anos 80, havia
diciplinas como Teatro e
Cinema, hoje extintas. Outras foram adicionadas, especialmente as que lidam com
as novas linguagens comunicacionais como Produção
em vídeo e Jornalismo e
novas tecnologias. Alguns
nificava. No currículo atual,
o estudante deixa a universidade com os conhecimentos de uma cadeira que
trata especificamente desses
assuntos. Acredito que eles
são privilegiados”.
Foto: Clara Albuquerque
CLARA ALBUQUERQUE
JULIANA Isola acredita no equilíbrio entre teoria e prática
estudantes desperiodizados
perderam as disciplinas do
currículo anterior que desapareceram ao trancá-las e,
ao tentarem recuperar a
carga horária, precisaram
matricular-se em disciplinas
do currículo novo.
Profissionais que estudaram com os currículos
anteriores sentiram a necessidade de atualização ao
se depararem com as atividades cotidianas de um
veículo de comunicação ou
assessoria de imprensa. O assessor Tádzio Estevam, 34,
que ingressou no curso, em
1995 e graduou-se em 2001,
buscou o aperfeiçoamento a
partir das dificuldades que
encontrou no mercado de
trabalho. “Em determinado
momento, percebi que deveria lidar com algo que se
chama gerenciamento de
crise e eu não fazia a mínima
ideia do que aquilo sig-
TEORIA E PRÁTICA
Em contrapartida, há
quem acredite que a desvantagem do currículo atual seja
a redução de disciplinas teóricas. Mas as opiniões variam
quando se trata desta discussão. “Eu gosto muito de
teoria, também, e acho que
deve haver um equilíbrio.
Muitas vezes, depende do
interesse do aluno para as
disciplinas teóricas serem
produtivas”, diz Juliana Isola.
Segundo a coordenação do
curso, a tendência é a de que a
grade curricular seja alterada
novamente, nos próximos anos,
em razão do ritmo acelerado
das mudanças na profissão.
Novas disciplinas, mesmo
eletivas, poderão ser criadas
para atender a essa demanda.
O BERRO
4 | Recife, março de 2011
Projeto ganha prêmio
VANESSA SILVA
Em cinquenta anos de história, o curso de jornalismo da
Universidade Católica de Pernambuco já teve seu nome
atrelado a diversos projetos na
área, que foram premiados
nacionalmente. A herança deixada
por esses trabalhos, algumas vezes,
foi além do prestígio para a
academia, como no caso do
Projeto Vozes da África, que
venceu o Roquete Pinto 2010
e viabilizou a modernização
do estúdio de rádio da universidade.
O Vozes da África constituiu-se de uma série com seis
reportagens, em áudio, de uma
hora de duração cada, abordando a situação da mulher
negra em Pernambuco. Idealizado pelos professores Ana
Veloso, Vlaudimir Salvador,
Paulo Fradique e Eliza Barreto,
o programa contou, ainda, com
a participação de 12 estudantes
em sua produção e edição.
Estando entre os 20 selecionados pelo Prêmio Roquete
Pinto, que é promovido pela
Associação das Rádios Públicas
do Brasil (Arpub), o projeto
recebeu a quantia de R$ 20 mil
para viabilizar sua execução.
A ideia de elaborar a série,
segundo a professora Ana
Veloso, surgiu em um Encontro de Mulheres do qual
participou em maio de 2010.
“Era um encontro de comunicação que reuniu cerca de
50 mulheres afrodescentes
em Itamaracá. Elas apontaram
a necessidade de uma representação negra nos meios
audiovisuais e, quando surgiu
a oportunidade de participar
do Roquete Pinto, então,
sugeri o tema e os outros
professores aceitaram”, contou.
As equipes passaram cerca
de dois meses preparando os
programas, que foram divididos por temas.
“Para mim, o Vozes da África é sinônimo de aprendizado,
foi onde eu pude vivenciar bem
a prática do jornalimo, desde a
apuração até a edição”, avaliou
a estudante Emanuele Carvalho, uma das envolvidas no
programa que traçou um panorama sobre as empregadas
domésticas em Pernambuco.
Com a conquista do prêmio, os professores decidiram
investir os recursos na reestruturação do laboratório de
radiojornalismo da universidade, que ganhou novos
fones de ouvido, microfones,
gravadores e caixas de som,
além da substituição da antiga
mesa de operação sonora que
era analógica por uma digital.
“Achamos que seria justa a
aplicação do dinheiro em
recursos que pudessem servir
aos próprios alunos e também
à academia. Esperamos que
a, partir daí, muitos outros se
sintam motivados a desenvolver grandes trabalhos”,
afirmou o professor Vlaudimir Salvador.
Cobertura externa estimula
aprendizado
REBECA KRAMER
É sábado de manhã. Ordenadamente, 70 alunos do curso
de jornalismo de diferentes
períodos vão-se acomodando
nas poltronas dos dois ônibus
estacionados na Rua do Príncipe. De repente, aqueles mais
animados começam a instigar
os colegas a cantar os bregas
mais clichês que embalavam as
rádios populares do Recife de
10 anos atrás. É nesse clima de
descontração e de nostalgia que
os alunos saem do campus
universitário. E, com caneta,
câmera fotográfica e bloco nas
mãos, partem em busca de uma
grande cobertura jornalística.
Sair do mesmo ambiente,
estimular a participação, a capacidade de trabalhar em grupo
e a interação social entre os
alunos são fatores que levam a
professora do curso de fotografia, Márcia Mendes, a
promover viagens a praias e
municípios do interior do
estado, como Igarassu e Tra-
cunhaém. “É importante para
um curso de comunicação que
os estudantes estabeleçam
metas, desenvolvam o processo
criativo e estudem composição
fotográfica”.
As aventuras vividas pelos
estudantes, antes, durante ou
depois das coberturas, também podem ser encaradas
como exercícios profissionais.
Quem revela alguns momentos é o professor de Radiojornalismo Vlaudimir Salvador,
adepto da metodologia de
ensino que vai além das salas
de aula. “Uma vez viajamos a
Bonito. No meio do caminho,
o ônibus ficou preso entre
duas árvores. Houve gente
que se desesperou e a única
comida que tínhamos era uma
barra de chocolate”, afirma
brincando. E completa: “Depois, o socorro chegou. Ter o
contato de alguém para onde
estamos indo é fundamental
para a segurança das turmas”.
A ex-estudante de jornalismo da Unicap Taís Pa-
ranhos foi monitora e pauteira
das atividades promovidas pelo
professor Vlaudimir, de 1998
até 2000, quando ela se formou.
Para a jornalista, que também
é radialista técnica, as excursões
servem para fazer com que os
estudantes aprendam a atividade diante de situações
jornalísticas reais. “O acompanhamento de professores que
estimulam o aprendizado pela
sua prática é definitivo nas
escolhas profissionais dos
alunos”, diz.
O ex-aluno, graduado em
2009, Gabriel Marquim, revela
que as primeiras coberturas em
Radiojornalismo foram com
pessoas na Avenida Conde da
Boa Vista e na Rua Bernardo
Guimarães, mais conhecida
como “Rua do Lazer”, espaço
que serve como praça de
alimentação para os estudantes
da Unicap. “Essa proximidade
com o povo me deu sentido
crítico e estímulo para trabalhar
nas Rádios Jornal e CBN”,
afirma.
Estudantes atuam no
Minuto Unicap
STEFANI BRIZZA
Para alguns estudantes de jornalismo, a experiência na área
de TV pode ser um aliado para entrar no mercado de trabalho.
Dentro da Universidade Católica de Pernambuco, existe uma
atividade que une teoria e prática na realização do programa
exibido na Rede Globo Nordeste, o Minuto Unicap. Em um
minuto, histórias de serviços prestados à comunidade e
exposições de pesquisas realizadas por alunos são mostradas.
Para fazer parte do Minuto Unicap como repórter e
apresentador, os alunos do curso de jornalismo passam por uma
seleção na qual um candidato é escolhido para ingressar na
Assessoria de Comunicação da Unicap (Assecom) e, a partir daí,
dar início às gravações. O produtor audiovisual da universidade,
Luca Pacheco, participa da escolha do candidato e afirma não ser
necessário ter experiência em TV para ser selecionado. “O que
avaliamos são aspectos como dicção, boa apresentação no vídeo
e desenvoltura diante da câmera”, diz. O estudante que for
escolhido tem um contrato de seis meses com a Assecom, renovável
por até mais seis meses.
O Minuto Unicap é, atualmente, a principal mídia e meio
de divulgação da instituição, pois, ao mesmo tempo que reforça
a marca, mostra o que a Católica tem a oferecer. Em troca, a
Rede Globo Nordeste ganha dez bolsas de estudos para
funcionários da emissora.
O coordenador do núcleo de TV, Elano Lorenzato, diz que
fazer parte da equipe do Minuto Unicap requer foco, pois, só
assim, é possível obter um bom resultado nos programas. “Sem
dúvida, é muito difícil contar uma boa história em apenas um
minuto, tudo tem que ficar bem amarrado”. Para isso, eles
contam com uma equipe organizada, com cinegrafistas que
acompanham os estagiários do começo ao fim e também com
a supervisão de jornalistas que ajudam na produção dos textos
para as matérias.
Para provar que o Minuto Unicap realmente abre portas,
a jornalista Nádya Alencar, hoje repórter da TV Clube,
confirma que conseguiu seus primeiros trabalhos a partir do
programa. “Foi uma grande vitrine para mim e até hoje as
pessoas se lembram daquela época”, afirma.
Recife, março de 2011 | 5
O BERRO
Ditadura marcou anos 60 e 70
KLÉBER NUNES
Neste meio século do
curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), um dos
períodos mais marcantes e
difíceis foi a época da Ditadura Militar, nos anos 60
e 70. Com a implantação do
regime militar em 1964,
houve casos de perseguição
e repressão contra diversos
setores da sociedade civil,
dentre eles os estudantes
universitários, em especial os
dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas – tidos pelos
militares como “subversivos”, pois questionavam o
sistema político.
Além da proibição de
livros, e de alguns jornais,
que acabavam circulando
clandestinamente, havia
histórias de agentes federais
infiltrados nas salas de aula
no curso de jornalismo da
Unicap. Com tudo isso acontecendo, estudar comunicação social era um grande
desafio. Na época, vários
jornalistas foram presos e
torturados no Brasil.
“Foi uma época muito
complicada para todos, mas,
para os estudantes de jornalismo, era muito mais. Eles
buscavam a for mação de
repórteres, pessoas críticas
que denunciam os erros da
sociedade. Creio que era o
desafio ao governo que
estimulava tantos jovens a
buscar o curso”, afirmou a
antropóloga e professora
Zuleica Dantas. Ela lembra
que foi nessa época que, pela
primeira vez, a Unicap teve
um reitor que não era padre,
com a indicação do escritor
Havia
histórias
sobre agentes
do governo
infiltrados
para vigiar
estudantes
Potiguar Matos. “Na realidade, os militares colocaram um inter ventor, na
tentativa de controlar os
conteúdos das disciplinas”.
A estudante de jornalismo
na época, Marisa Gibson, hoje
colunista política do “Diário
de Pernambuco”, conta como
era a reação das pessoas
quando ela dizia que ia estudar
jornalismo. “Quando falávamos para nossos parentes e
amigos, todos ficavam perguntando se era isso mesmo
o que queríamos. Para entrar
nesse curso tinha que ter
muita vontade, paixão pela
comunicação e, acima de tudo,
coragem”. Ela relata ainda que
muitos dos seus colegas eram
levados às delegacias. “Agentes militares se matriculavam
no curso para ver se havia
comunistas, essas coisas. Às
vezes, policiais abordavam
alunos nas proximidades da
universidade e levavam eles para interrogatórios”, relembra.
Nos últimos cinco anos
do regime militar, já no
começo dos anos 80, a
universidade passou a viver
um clima de liberdade e
efervescência política novamente, com o processo de
redemocratização.
Passados 26 anos do fim
do regime militar, Marisa
Gibson garante que o sufoco
valeu a pena. “Hoje temos
um país democrático. E a
universidade, em especial o
curso de jornalismo, pode ser
um lugar de debates, sem
medos, o que só melhora a
formação dos novos profissionais. Nesses 50 anos,
temos que comemorar nossa
liberdade”, afirmou.
Padres e religiosos também procuram o curso
JOÃO GABRIEL BRITO
Em um mundo no qual a
comunicação se tornou central , o curso de jornalismo
tem atraído, ao longo dos
anos, o interesse até mesmo
de religiosos e alguns padres.
“O padre é, na realidade,
um comunicador. Quando
estudamos a Bíblia sagrada,
percebemos que transmitimos o amor de Deus. Eu
queria saber como se faz
Jornalismo para aprimorar o
meu diálogo com as pessoas,
principalmente com aquelas
que vão às missas”, disse
Francisco Gabriel de Assis,
38, pároco da igreja Nossa
Senhora do Rosário, localizada no bairro da Torre.
Padre Francisco formouse no primeiro semestre de
2010. Na opinião dele, a
Universidade Católica de
Pernambuco é a melhor escola do Jornalismo em Pernambuco. Entretanto, ele
aconselha aos alunos do
curso: “Eu gosto da estrutura
da Unicap, pois a instituição
sempre se preocupa em
formar os melhores profissionais para o mercado. Porém o aluno não deve acomodar-se por estar na me-
lhor escola de jornalismo do
Estado. Ele tem que ler
bastante, acompanhar os
noticiários de rádio e televisão. Afinal de contas, a
universidade mostra o caminho, cabe à pessoa segui-lo
ou não”, afirmou.
Quem concorda com
Francisco é o padre da Paróquia de Santo Antônio dos
Guararapes, situada em
Prazeres, Sérgio Cabral
Peres, 40. “Há muitos campos dentro do Jornalismo
como, por exemplo, rádio,
televisão, impresso, online e
assessorias. É por isso que o
aluno deve aperfeiçoar-se
para ver em qual área se
encaixa melhor”, disse.
Padre Sérgio afirma que
sempre teve habilidade para
a área de comunicação, mas
não era possível conciliar
com os cursos de teologia e
filosofia. Em 2003, ele fez o
vestibular para Jornalismo e
for mou-se no segundo
semestre de 2008. “Às vezes,
sinto saudade da universidade. Só o fato de
circular no meio universitário já me trazia satisfação.
Em relação ao Jornalismo
propriamente dito, sempre
gostei mais das aulas práticas
de Rádio, TV, e Redação,
pois, para mim, a prática é
empolgante”, disse.
Apesar de sua satisfação
com a profissão, padre Sérgio garante que nem tudo é
fácil no Jornalismo. “É preciso ter muito cuidado para
não entrar no curso pensando no glamour da mídia.
Hoje em dia, muita gente
que cursa Jornalismo acaba
migrando para outras profissões”, afirmou.
Nem todos os padres e
religiosos que se aproximam
da área de comunicação
consideram o jornalismo
apenas como uma segunda
opção. Alguns acabam elegendo o jornalismo como
principal atividade. Esse foi
o caso do ex-padre Félix
Galvão Batista Filho, 54,
que está na área há mais de
30 anos.“Sempre gostei de
comunicação. Iniciei o curso
em 1975, na Unicap. Na
época, a instituição tinha o
único curso de Jornalismo do
Estado. Dois anos depois, fiz
parte do Diretório Acadêmico, que se chamava
Década. Esse nome era uma
alusão aos dez anos que o
diretório ficou fechado
devido à repressão do regime
PADRE Francisco
de Assis formouse em Jornalismo
militar”, contou.
JORNALISMO E CINEMA
No mesmo período que
Félix Filho fazia o curso de
Jornalismo, iniciou o curso
de Teologia e tor nou-se
seminarista. Durante três
anos, foi padre na paróquia
de Pontes do Carvalho, no
Cabo de Santo Agostinho.
Nessa época, atuou, tam-
bém, no movimento do
cinema em Super 8.
Félix afirma que deixou
de ser padre por causa do
celibato. “Eu queria casar e
a Igreja Católica não permite. Foi por isso que larguei
a batina”. Visto de hoje, a
decisão parece acertada.
Félix Filho atribui ao jornalismo a sua atual realização profissional.
O BERRO
6 | Recife, março de 2011
PAULO VICTOR MARIANI
Próximo ao Parque Treze de
Maio, entre as ruas da Saudade e
da União, o pequeno antiquário
Bons Tempos abre todos os dias
da semana, pontualmente às 8h.
É um dos poucos estabelecimentos comerciais diurnos da
Rua Mamede Simões, muito mais
frequentada pela boemia dos
cinco bares do local. No pequeno
e charmoso Bons Tempos, trabalha Carlos Benevides, figura
intimamemnte ligada à história
dos 50 anos de jornalismo da
Unicap.
Aluno da universidade, professor e três vezes coordenador
do curso, a vida de Benevides está
intercalada à trajetória do Jornalismo na Católica. “Entrei em
1964, na quarta turma de jornalismo. Roberto Benjamim e
Marques de Melo (estudioso da
Folkcomunicação e aluno de Luiz
Beltrão) foram meus contemporâneos.
Nem os Atos Institucionais
impostos pelo regime militar a
partir de 1964 impediram Carlos
Benevides de graduar-se como
jornalista em 1968. Logo depois,
tentou o curso de direito na
UFPE, mais por desejo do pai do
que por vocação própria. Mas
logo largou o plano de ser advogado. “O meu negócio, realmente,
era jornalismo”.
Atualmente, Carlos Benevides destoa à figura do antigo
professor. Usa um brinco na
orelha e gosta de camisas com
estampas floridas. Enquanto serve
café a um possível comprador,
sua filha Gabriela (que cuida do
antiquário junto a Benevides) diz
que “ele, depois que saiu da universidade, ficou muito mais sereno.
Antigamente ele se doava demais
e era sugado pela profissão”.
Notadamente, esse esforço é
comprovado nas três passagens
pela coordenação do curso,
quando contibuiu para que reportagens feitas pelos estudantes da
Unicap fossem veiculadas na
Rádio Universitária, onde trabalhou por mais de duas décadas,
e na Rádio Folha.
PAIXÃO PELO RÁDIO
Foi na Rádio Universitária
onde Carlos Benevides trabalhou
mais tempo, produzindo programas sobre muitos temas diferentes, sobretudo na área de cultura.
No laboratório de vídeo do
curso de jornalismo, o editor de
imagens Marcos Muniz lembra,
com saudade, a passagem de
Benevides pela coordenação de
jornalismo nos anos oitenta,
quando houve uma renovação de
câmeras. “Acho que naquela época
existia uma comunicação no curso
que não é a mesma coisa hoje”.
Agora, o famoso “Bené”,
como era conhecido entre os
estudantes, parece alguém que já
viveu todas as aventuras jornalísticas que lhe eram cabidas e
prefere a paz de seu antiquário.
Quando saiu da Católica, em
2009, perdeu a vontade (ou a
paciência) de ensinar na universidade.
Viúvo, Benevides decidiu
ajudar em tempo integral a filha
no antiquário, uma paixão que
apenas agora teve tempo de
desfrutar, e por lá mesmo foi
ficando. Recebe, com frequência,
a visita dos amigos antiquaristas
no seu ponto comercial. Entre
uma e outra especulação sobre
os preços de artigos de prata,
recorda as histórias da Católica, e
dos seus alunos, uma das lembranças mais fortes. Carlos
Benevides, figura tarimbada no
estúdio de rádio por 40 anos,
também é uma recorrente lembrança dentro da curso da
Católica.
Direito atrai jornalistas
STHÈPHANIE VILLARIM
A comunicação com um
público diversificado e a necessidade de uma vasta bagagem teórica são habilidades
exigidas tanto no curso de
Jornalismo como no de Direito.
Essas semelhanças são fatores
que conquistam a simpatia dos
profissionais que buscam no
outro curso um complemento
para a sua carreira.
Ao mesmo tempo em que
o jornalista lida com assuntos
relacionados às legislações
jurídicas, o bacharel em Direito
precisa falar bem em público e
estar atualizado com os casos
polêmicos divulgados na mídia.
“Cursar direito acrescentou
muito para a minha profissão.
Nas matérias que envolvem a
temática, conheço bem a linguagem específica e seus significados”, disse o repórter de
economia do “Diário de Pernambuco” e graduado em
Direito pela Associação Caruaruense de Ensino Superior,
Augusto Freitas.
Já o repórter de política da
“Folha de Pernambuco”, Arthur Cunha, vai mais além.
Desde o vestibular, ele tinha
dúvida sobre estudar Direito ou
Jornalismo. Em 2009, ingressou
em Direito na Unicap. “Está me
ajudando muito quando escrevo
matérias sobre eleições”, conta
Cunha.
Ingressar em uma nova
área para garantir estabilidade
financeira também se tornou
motivo da migração dos jornalistas na área de Direito. A
repórter de esportes do “Diário de Pernambuco”, Raitza
Vieira, começou a estudar
Direito na Unicap, em 2007,
para ampliar o currículo. “É
sempre bom ter um segundo
plano”, disse.
Jornalistas em exercício
que são diplomados em Direito ou vice-versa destacam a
falta de tempo como principal
barreira a ser superada. Arthur
Cunha precisou trancar o
curso de Direito, temporariamente, por causa das eleições de 2010. “Me sinto
muito cansado com as duas
atividades. Às vezes, preciso
faltar aula para trabalhar”, diz
o repórter de política.
Outra dificuldade é a adaptação na escrita. O texto jornalístico precisa ser conciso e
claro. O jurídico é breve e preza
pelas nomenclaturas específicas
da área. “Quando comecei a
estagiar no ‘Diário de Pernambuco’, precisei tornar minhas matérias mais leves para
atrair os leitores”, disse o
repórter e graduado em Direito,
Augusto Freitas.
Foto: Eliane Carneiro
O antiquário de Bené
Funcionários contam
histórias pitorescas
MÚCIO Lopes
trabalha no curso
há 11 anos
LEONARDO TREVAS
Parte importante do curso de Jornalismo são os
funcionários que dão apoio técnico às disciplinas práticas.
São eles que colocam os equipamentos para funcionar,
que editam, junto com os alunos, o material produzido.
Que fazem imagens nas ruas, que atuam no estádio de
rádio e que dão assistência nos assuntos relacionados ao
funcionamento dos computadores.
Dos atuais dezesseis funcionários do curso de
Jor nalismo da Unicap, nove estão na área de telejornalismo. O editor de imagens Gérson Nazário está há
nove anos no curso e passou por diferentes fases da
tecnologia. “Já trabalhei com aquelas fitas grandes de
rolo, depois passou para o cassete, e agora a edição não
linear, digital”, afirma.
Quase que escondido,
ocupando uma mesa na
O técnico de
sala acusticamente lacrada,
som Gordinho
o técnico de som Marcos
lembra das
Antônio de Arruda Cavalmesinhas de
cante, também conhecido
como Gordinho, recebe a
seis canais e
todos com um sorriso escomprara com a
tampado no rosto. Funciomesa digital de
nário da universidade há 24
hoje: “a
anos, ele relembra as conqualidade é
dições do equipamento do
laboratório de rádio. “Era
muito melhor”
muito precário. Havia uma
mesinha de seis canais, dois
toca-discos, tínhamos que fazer os cortes 'a seco' nas
fitas. Hoje em dia, a mesa é digital, tem 48 canais, a
qualidade é muito melhor. Mas eu sinto que, antigamente,
os trabalhos eram melhores”, diz.
Magro, alto, esguio, apressado, sempre atendendo a mil
pedidos, o técnico de informática Múcio Pessoa Lopes, que
está há 11 anos no curso, é outra figura carismática. “Com
alguns alunos, acabamos tendo um laço de amizade. Claro
que tem os mais folclóricos. Já peguei alunas dançando no
laboratório de redação”, conta.
Marcos Gordinho afirma ter suas pequenas alegrias. “Uma
vez estava tomando café e começou o ‘Bom Dia Brasil’. De
repente, entrou aquela menina do tempo com uma voz
conhecida. Pensei, ‘essa menina é da Católica'. Quando me
virei para a televisão era Michele Loreto, ex-aluna. Foi uma
surpresa agradável”, conta. “Hoje mesmo alguns alunos
entraram no estúdio e começaram a cantar. Cantaram, depois
pararam e foram embora. Assim mesmo, do nada”, afirma. E
acrescenta: “todo jornalista tem sempre um pouco de louco.”
Recife, março de 2011 | 7
O BERRO
MARINA DIDIER
Nascido no ano de 1956,
em São João do Cariri, na
Paraíba, Evaldo Costa apaixonou-se pelo jornalismo
ainda criança. Introvertido,
gostava de passar horas na
difusora municipal, sem
saber que viria a ter experiências nos mais diversos
campos e veículos. Hoje, é o
Secretário de Imprensa do
Governo de Pernambuco.
Nessa longa trajetória, Evaldo Costa destaca as passagens como aluno e professor do curso de jornalismo da Universidade
Católica, que completa 50
anos em 2011. Na entrevista
a seguir, concedida no Palácio do Campo das Princesas, ele conta o que viveu
nos tempos de “foca” e
analisa a profissão neste
início de século 21.
O Berro: Como se deu a
escolha de querer ser jornalista?
Evaldo Costa: Apesar de
ter sido um garoto muito
tímido, aos nove anos de
idade, eu já ajudava minha
ir mã a operar a difusora
municipal da cidade onde eu
nasci. Além disso, eu varava
horas da madrugada ouvindo
rádio, identificando locutores, registrando prefixos.
Aos dez anos, vim para o
Recife e aqui mantive essa
ligação. Lia jornal diariamente, militava no movimento estudantil, lia “O
Pasquim”, tinha contato com
mídias alternativas, de maneira
que vir a ser jornalista, para
mim, foi algo muito natural.
O Berro: O senhor foi
professor de jornalismo na
Universidade Católica no final
dos anos 90. Como foi ensinar
e por que resolveu parar?
Evaldo Costa: Foi maravilhoso e sinto uma saudade
imensa. Eu me sentia em
casa porque aquele departamento fazia e faz parte da
minha vida. Passei seis anos
como estudante e depois
mais esses anos como professor. Assumo que eu não
era bem um professor, mas
alguém que tinha muita
experiência prática para
compartilhar com os jovens,
que, por sua vez, também
levavam para a sala de aula
muitas ideias. Saí porque
recebi um convite irrecu-
sável para trabalhar no
“Correio Braziliense” e,
quando voltei, não tive oportunidade de retomar essa
experiência, até porque precisaria preparar-me formalmente, fazer mestrado, e a
batalha da vida não me
permite.
O Berro: Como o senhor
vê a questão da não exigência do diploma para os
profissionais de jornalismo?
Evaldo Costa: Acho isso
um absurdo completo. Hoje,
no mundo, só se fala em
qualificação. Acredito, inclusive, que o Congresso Nacional
vai restabelecer a exigência,
mas, se não o fizer, não vai
haver nenhuma consequência, porque ninguém vai
contratar médico para dar
plantão de polícia, nem advogado para cobrir jogo de futebol, a não ser maus advogados e maus médicos, que,
certamente, serão maus jornalistas.
O Berro: Como o senhor
acha que será o futuro do
jornalismo?
Evaldo Costa: Eu vejo
uma tendência para a confluência de todas as mídias.
Foto: Marina Didier
Evaldo Costa defende o diploma
COSTA, hoje
secretário de
governo,
ensinou na
Unicap
As coisas vão mudando
numa velocidade tão grande,
que fica difícil dizer como
serão os meios de comunicação daqui a dez anos. O
que eu acredito é que sempre
haverá espaço para quem
sabe discernir, na grande
quantidade de acontecimentos simultâneos, aquilo
que interessa ao público ao
qual se dirige. Esse é o papel
do comunicador, e isso estará preservado.
O Berro: O senhor acha
que vale a pena ser jornalista?
Evaldo Costa: Com certeza. Depois que eu entrei
para o jornalismo, viajei o
mundo, tive 34 domicílios ao
longo da minha vida, muitos
desses vinculados à minha
prática jornalista. Se eu não
fosse jornalista, não teria
tido essas oportunidades.
Além disso, e esta é a parte
mais importante, o jornalismo me permitiu fazer
com que o mundo fosse
melhor. Eu dei uma contribuição, mínima que seja,
para que algumas coisas
fossem melhores do que
eram antes. Garcia Marquez
escreveu num artigo que o
jornalismo era a melhor profissão do mundo e eu concordo plenamente com ele.
Marques de Melo relembra primeiros anos na Católica
TÉRCIO AMARAL
Os cabelos brancos, o
sorriso aberto e seu olhar
fraterno logo revelam os
traços de sua personalidade.
É calmo e paciente com todos
os alunos que o procuram
para tirar dúvidas em congressos brasileiros, a exemplo
do Intercom. José Marques
de Melo se formou na segunda turma de jornalismo, em
1964, pela Universidade
Católica de Pernambuco
(Unicap). Sua relação com a
instituição é quase uma “relação de amor”, como afirma.
Já como parte das comemorações pelos 50 anos do curso,
ele foi o único aluno de
jornalismo for mado pela
Católica a receber o título de
Doutor honoris causa da
instituição, em cerimônia
realizada em 2010, durante o
13º Encontro Nacional de
Professores de Jornalismo
(ENPJ).
O acadêmico José de
Marques de Melo, professor
de diversas gerações de jornalistas formados pela Universidade de São Paulo (USP),
hoje está aposentado da sala
de aula, mas ainda orienta
alunos de doutorado e participa de congressos e de comissões que discutem o futuro
dos cursos de jornalismo.
LUIZ BELTRÃO
Marques de Melo afirma que o fundador do
curso de jornalismo da
Católica, o professor Luiz
Beltrão, foi uma das figuras
mais controversas que
conheceu ao longo de sua
trajetória profissional. Se-
gundo ele, como não havia
manuais ou livros sobre
jornalismo na década de 60,
Beltrão escrevia discursos
e lia todas as aulas.
Esse método, inicialmente,
não cativou a turma. “Ele era
uma figura singular do ponto
de vista didático. A sua aula
era muito chata”, lembra
Marques de Melo. “Logo de
início, quando começamos o
curso, foi um impacto para
nossa turma ouvir aquela voz
mansa. Mas, com o passar do
tempo, vimos que era aquilo
ou nada, e passamos a prestar
atenção e conhecer um pouco
de seu pensamento”, diz.
Nascido em Alagoas, Zé
Marques, como gosta de ser
chamado, veio para o Recife
para estudar Direito e acabou no jornalismo. Formado
na segunda tur ma de jor-
nalismo da Unicap, em 1964,
ele começou a trabalhar na
gestão do governador Miguel
Arraes, na chefia do gabinete
da secretaria de Educação.
“Logo depois, chegou a ditadura. E um dos fatos inusitados daquela época é que fui
orador de minha turma, e por
sorte, não fui preso naquele
dia”, afirma. Paralelamente
ao seu trabalho no governo,
também foi repórter da
edição local do jornal “Última Hora”, de Samuel Wainer. “Sou um homem de
esquerda. E, naquela época,
tínhamos os ideais de levar o
país a reformas sociais. Participei do Movimento de Cultura Popular”, conta.
Quando José Marques de
Melo teve seu registro de
professor da USP cassado
pela ditadura militar na
década de 70, pensou em
voltar ao Recife. “Eu sou um
homem sertanejo e fico
preso às minhas origens.
Sempre tive vontade de
voltar para Unicap como
professor de jor nalismo.
Porém, aqui em Pernambuco, nós estávamos ligados
ao governo de Miguel Arraes
e poderíamos ser presos.
Além disso, em São Paulo,
nossa condição de sobrevivência era maior”, afirma.
A saudade da Católica é
traduzida hoje em admiração. “Não poderia ser
diferente, pois tive grandes
professores na graduação,
como o geógrafo Manoel
Correia de Andrade, o historiador e jornalista Costa
Pôrto e o crítico Amaro
Quintas”, relembra José
Marques de Melo.
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 18:14:15
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Em 2011
temos muitos
motivos para
comemorar.
50 anos do Curso de Jornalismo
60 anos da Unicap
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Rua do Príncipe, 526. Boa Vista - CEP 50050-900 - Recife - PE - Brasil
Fone: 55 81 2119-4000 | www.unicap.br
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