UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS Isis Michelena MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE EM NANOTUBOS DE CARBONO PARA A UTILIZAÇÃO EM NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS. FLORIANÓPOLIS 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS Isis Michelena MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE EM NANOTUBOS DE CARBONO PARA A UTILIZAÇÃO EM NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título Engenheiro de Materiais. Orientador: Gean Vitor Salmoria, Dr. Ing. Co-Orientador: Eng. Rodrigo Acácio Paggi FLORIANÓPOLIS 2008 de iii Isis Michelena MODIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIE EM NANOTUBOS DE CARBONO PARA A UTILIZAÇÃO EM NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS Este Trabalho de Graduação foi julgado adequado para obtenção do título de Engenheiro de Materiais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina. ___________________________________ Prof. Dylton do Vale Pereira Filho. Presidente ___________________________________ Prof. Gean Vitor Salmoria, Dr. Ing. Orientador Banca Examinadora: ___________________________________ Eng. Rodrigo Acácio Paggi Co-Orientador ___________________________________ Prof. Guilherme Mariz de Oliveira Barra, Dr. Eng. Membro iv Ficha Catalográfica MICHELENA, Isis. Modificação de Superficie em Nanotubos de Carbono para utilização em nanocompósitos poliméricos. Florianópolis, UFSC, Curso de Graduação em Engenharia de Materiais, 2008. xiii, 66p. Trabalho de Graduação: Engenharia de Materiais Orientador: Gean Vitor Salmoria 1. Modificação de superficie em nanotubos de carbono 2. Métodos de caracterização 3. Propriedades elétricas. I. Universidade Federal de Santa Catarina II. Título v AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador Dr. Gean Salmoria, pela atenção e apoio cedidos à aluna durante a efetivação deste trabalho. Ao co-orientador Rodrigo Acácio Paggi pela dedicação, auxilio nas tarefas e esclarecimento de dúvidas. Ao aluno Luiz Fernando Vieira pela assistência dada à concretização do tratamento oxidativo sob plasma. Ao departamento de farmácia da Unisul, unidade Tubarão, pela realização dos espectros de infravermelho. Ao laboratório de Materiais, UFSC, por ceder o equipamento de espectroscopia Raman para a prática das análises presentes neste trabalho. Aos colegas do Laboratório CIMJECT, pelos momentos de descontração e por proporcionarem um ambiente de trabalho agradável. Ao Prof. Dylton do Vale Pereira Filho pela participação junto à banca examinadora e ao Dr. Guilherme Mariz de Oliveira Barra que contribuiu para a realização dos experimentos. Aos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina pelos conhecimentos passados ao aluno durante o período da graduação e principalmente aos membros responsáveis pelos estágios, Dr. Berend Snoeijer, Dr. Antônio Pedro Novaes de Oliveira e Dr. Germano Riffel. Aos amigos e à família, pelos momentos de companheirismo e apoio, a todos os que contribuíram para cumprimento deste trabalho. Aos meus pais por todo incentivo, apoio e confiança depositados em mim. vi RESUMO A crescente demanda de materiais compósitos nas indústrias vem gerando um interesse cada vez maior por esta classe de material. Porém, diversas aplicações têm sido limitadas devido às dimensões das cargas utilizadas, na faixa micrométrica. Isto motivou o surgimento de uma nova classe de materiais, os nanocompósitos, que apresentam uma maior interação matriz-carga, o que possibilita uma superior capacidade de reforço em matrizes poliméricas utilizando baixas concentrações de carga. Como um nanomaterial de grande interesse na área de pesquisa, o nanotubo de carbono vem se destacando devido aos seus atributos tais como: interessantes propriedades elétricas, alta resistência mecânica e um excepcional módulo de Young. Porém, tal material apresenta uma grande tendência à se aglomerar quando utilizado juntamente com um polímero, impossibilitando a garantia de propriedades homogêneas. Como uma forma de diminuir esta tendência, a oxidação da superfície age garantindo uma melhor interação com a matriz, além da dispersão e distribuição deste. Dentre as formas de oxidação existentes o presente trabalho explorou duas: a técnica de refluxo e oxidação por plasma AC, comprovando que há uma grande variação na forma de oxidação entre as mesmas, fato este evidenciado pelo tamanho final do nanotubo. O material com tratamento de refluxo apresentou um tamanho médio de 6,9 micrometros, já para o tratamento de oxidação por plasma o tamanho se aproximou de 4 micrometros, uma diferença extremamente significativa tendo em vista que o tamanho do material sem tratamento é de 7,7 micrometros. Para a caracterização das amostras foram realizadas as análises de dispersão e distribuição com o auxilio de um microscópio óptico, constatando a mudança de caráter do material estudado quando sujeito a maiores tempos de tratamento. Também foram realizadas análises de espectroscopia Raman e de Infravermelho. Com um intuito de abordar um pouco mais sobre condutividade elétrica em matérias carbonosos foi feito um comparativo utilizando grafite, negro-de-fumo extracondutor e nanotubo de carbono verificando a alteração da condutividade sob diferentes forças de compactação, constatando que o nanotubo se apresenta dentro da faixa de materiais semicondutores. vii ABSTRACT The increasing application of composite materials in the industry raises the interest in relation to their development. However, such interest was restricted to the dimension of the micrometrical steps. That has contributed to the appearance of a new material class named nanocomposites, which shows higher aspect ratio fillers, making the capacity of reinforcement in polymeric matrices possible, also using low charge concentrations. As a very research-interest nanomaterial, carbon nanotubes have been receiving such attention due to its attributes, such as: interesting electrical properties, high mechanical strength, and an exceptional Young’s modulus. Nevertheless, this material presents a tendency to agglomerate when used along with a polymer, which does not guarantee homogeneous properties. As an attempt to diminish such tendency, the surface’s oxidations functions on the better interaction with the matrix, as well as the dispersion and distribution aimed at providing homogeneous properties. Among the existing oxidation types, this project explored two of them: the reflux technique and AC plasma oxidation, proving that there is a great variation towards the oxidation forms between them. That can be observed in the final nanotube size, once the material which received reflux treatment presented an average length of 6.9 micrometers and the material which received AC plasma treatment present around 4 micrometers, whereas the size of a non-treated material would be of 7.7 micrometers. Regarding the samples’ characterization, the dispersion and distribution analyses were performed using an optical microscope, as well as the Raman and infra red. Aiming at approaching electrical conductivity in carbon materials, a comparative study using soot extra-conductor graphite and carbon nanotube was carried out, in order to verify the conductivity’s alteration under different compactions powders. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Nanotubos de carbono observados por microscopia eletrônica de varredura. (a) não tratados e (b) tratados (Zhu, 2006). ........................................................................... 2 Figura 2: Estruturas de hibridização possíveis do átomo de carbono: (a) hibridização sp o 2 o 3 o (linear, 180 ); (b) sp (trigonal plana, 120 ); (c) sp (tetraédrica, 109 28’) (Bertholdo, 2001) ..................................................................................................................... 6 Figura 3: Representação esquemática da estrutura do carbono vítreo (CV) (Dresselhaus,1995) ............................................................................................................................. 8 Figura 4: Representação da estrutura de monocristal de grafite (Bertholdo,2001). ................. 8 Figura 5: Exemplos de estruturas de nanotubos, armchair, zig-zag e quiral respectivamente (Lau, 2002). ......................................................................................................... 11 Figura 6: Diferentes tipos de MWCNTs possíveis (Banks, 2006). ..................................... 13 Figura 7: Esquema experimental de um espectrômetro Raman (Souza, 2003). .................... 16 Figura 8: Gráfico típico de espectro Raman (Química Universal, 2004). ............................ 16 Figura 9: Gráfico típico de espectroscopia de FTIR (site USP, 2008). ................................ 18 Figura 10: Representação esquemática de uma medida por espectroscopia por transformada de Fourier de absorção no infravermelho (site Unesp, 2007). ......................................... 19 Figura 11: Exemplos de condutividade elétrica de alguns matérias, resultados medidos em Ohm-1cm-1 (Barra, 2007). ....................................................................................... 22 Figura 12: Representação esquemática de CNT após tratamento químico superficial de oxidação (Goyanes, 2007)...................................................................................... 26 Figura 13:Aparato experimental para a realização de medidas de condutividade. ................ 33 ix Figura 14: Analise da condutividade elétrica do grafite sob diferentes tensões. ................... 34 Figura 15:Analise da condutividade do negro-de-fumo sob diferentes tensões .................... 35 Figura 16: Analise da condutividade do nanotubo de carbono sob diferentes tensões. .......... 36 Figura 17: Sobreposição de espectros Raman em diferentes tempos utilizando o tratamento de refluxo. ................................................................................................................ 37 Figura 18: Sobreposição de espectros de infravermelho em diferentes tempos de tratamento. ........................................................................................................................... 39 Figura 19: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). .................................................................................................. 41 Figura 20: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). .................................................................................................. 42 Figura 21: Dispersão de medições por tempos de tratamento. ........................................... 45 Figura 22: Análise visual da taxa de decantação nos nanotubos com e sem modificação. Disposição dos frascos da esquerda para direita: água destilada, água oxigenada, álcool isopropílico, acetona DMSO, DMF, THF e clorofórmio. ........................................... 46 Figura 23: Sobreposição de espectros Raman em diferentes tempos utilizando o tratamento de oxidação por plasma. ............................................................................................. 48 Figura 24: Sobreposição de espectros de infravermelho em diferentes tempos de tratamento. ........................................................................................................................... 50 Figura 25:Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). .................................................................................................. 52 Figura 26: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). .................................................................................................. 53 x Figura 27: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). .................................................................................................. 54 Figura 28: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). .................................................................................................. 55 Figura 29: Dispersão de medições por tempos de tratamento ............................................ 58 Figura 30: Análise visual da taxa de decantação nos nanotubos com e sem modificação. Disposição dos frascos de baixo para cima: água destilada, água oxigenada, álcool isopropílico, acetona, DMSO, DMF, THF e clorofórmio. .......................................... 60 xi LISTA DE QUADROS Quadro 1: Nomenclatura e propriedades físicas dos solventes utilizados (Pereira, 2007). ..... 30 Quadro 2: Razão entre picos característicos e percentual de modificação. .......................... 38 Quadro 3: Valores estatísticos obtidos no teste. ............................................................... 43 Quadro 4: Análise de variância entre grupos. .................................................................. 44 Quadro 5: Teste LSD entre grupos. ................................................................................ 44 Quadro 6: Razão entre picos característicos e percentual de modificação ........................... 49 Quadro 7: Resultados da análise estatística analisando os tratamentos................................ 56 Quadro 8: Análise de variância entre os diferentes grupos de tratamentos. ......................... 57 Quadro 9: Comparação entre grupos. ............................................................................. 57 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS CIMJECT Laboratório de Projeto e Fabricação de Componentes de Plástico Injetados. CNT Carbon Nanotubes ou nanotubos de carbono CV Carbono Vítreo CVD Chemical Vapour Deposition ou deposição química de vapor FTIR Fourier transform infrared spectroscopy ou espectroscopia de infravermelho por transformada de Forrier H2O2 Peróxido de hidrogênio H2SO4 Acido sulfúrico HNO3 Acido nítrico IR Infrared ou infravermelho IV Infravermelho KMnO4 Permanganato de potássio MWCNT Multi-wall carbon nanotubes ou nanotubos de carbono de múltiplas paredes Nd:YAG Neodymium-doped yttrium aluminium garnet ou Ytrio e Alumínio dopados com Neodímio PA Poliamida PC Policarbonato PET Politereftalato de etileno PMMA Polimetil metacrilato SWCNT Single-Wall carbon nanotubes ou nanotubos de carbono de única parede xiii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1 2 OBJETIVO ................................................................................................. 3 2.1 3 Objetivos específicos ............................................................................... 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 4 3.1 Compósitos e nanocompósitos de matriz polimérica ................................... 4 3.2 Materiais carbonosos ............................................................................... 5 3.2.1 Grafite .............................................................................................. 8 3.2.2 Negro-de-fumo .................................................................................. 9 3.3 Nanotubos de carbono ........................................................................... 10 3.3.1 Estrutura ......................................................................................... 10 3.3.2 Técnicas de obtenção ....................................................................... 13 3.3.3 Técnicas de caracterização ................................................................ 14 3.4 Propriedades elétricas ............................................................................ 19 3.4.1 Técnicas de análise .......................................................................... 22 3.4.2 Correlação Compactação versus condutividade ................................... 23 3.5 Tratamentos oxidativos de superfície em nanotubos de carbono ................. 25 3.5.1 Refluxo........................................................................................... 25 3.5.2 Oxidação por plasma AC .................................................................. 27 xiv 4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 29 4.1 Materiais .............................................................................................. 29 4.1.1 Nanotubos de carbono ...................................................................... 29 4.1.2 Negro-de-Fumo ............................................................................... 29 4.1.3 Grafite ............................................................................................ 29 4.1.4 Solventes ........................................................................................ 29 4.2 Métodos experimentais .......................................................................... 30 4.2.1 Tratamento de superfície oxidativo sob refluxo ................................... 30 4.2.2 Tratamento oxidativo de superfície por plasma AC.............................. 31 4.3 Técnicas de caracterização ..................................................................... 31 4.3.1 Análise de dispersão e distribuição utilizando microscopia ótica ........... 31 4.3.2 Espectroscopia Raman ..................................................................... 32 4.3.3 Espectroscopia de infravermelho ....................................................... 32 5 4.4 Tratamento estatístico do comprimento do nanotubo de carbono ................ 32 4.5 Medidas de condutividade Elétrica.......................................................... 33 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 34 5.1 Analise da condutividade elétrica em materiais carbonosos ....................... 34 5.1.1 Valores comparativos de condutividade elétrica .................................. 34 5.1.2 Analise dos resultados ...................................................................... 36 5.2 Tratamento oxidativo de superficie utilizando peróxido de hidrogênio. ....... 37 xv 5.2.1 Espectros Raman dos nanotubos tratados e não tratados ....................... 37 5.2.2 Espectros de FTIR ........................................................................... 39 5.2.3 Análise da dispersão e distribuição .................................................... 40 5.2.4 Análise estatística dos comprimentos dos nanotubos de carbono antes e após o tratamento em peróxido ............................................................................... 43 5.2.5 Correlação entre comportamento de decantação e tratamento de superfície 45 5.2.6 Sintese dos resultados....................................................................... 46 5.3 Resultados referentes ao tratamento oxidativo de superfície utilizando descarga por plasma AC ............................................................................................ 47 5.3.1 Espectros Raman dos nanotubos tratados e não tratados ....................... 47 5.3.2 Espectros de FTIR ........................................................................... 49 5.3.3 Analise da dispersão e distribuição .................................................... 50 5.3.4 Analise estatística dos comprimentos dos nanotubos antes e após o tratamento por plasma AC ..................................................................................... 56 5.3.5 Correlação entre comportamento de decantação e tratamento de superfície 58 5.3.6 Síntese dos resultados....................................................................... 61 6 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 62 6.1 Conclusões ........................................................................................... 62 6.2 Sugestões para trabalhos futuros ............................................................. 63 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 64 1 INTRODUÇÃO Um compósito pode ser definido como um material formado por dois ou mais constituintes de diferentes classes (materiais poliméricos,cerâmicos e metálicos), que oferece atributos que não são possíveis de se obter a partir dos seus componentes individuais. Um nanocompósito se estabelece por um material onde uma das fases possui dimensões em escala nanométrica. Desta maneira, as características destes materiais não são resultantes da soma das propriedades individuais dos componentes de cada fase, podendo o nanocompósito apresentar qualidades completamente diferentes daquela dos materiais que lhe deram origem. Os nanocompósitos apresentam uma ampla diversidade de aplicações e melhores predicados em relação aos materiais poliméricos convencionais, podendo gerar um maior valor agregado e maior vida útil, minimizando o descarte. Dentre as nanopartículas mais utilizadas destacam-se: as argilas, sílicas e óxidos (FERREIRA, 2003). Os nanocompósitos obtidos pela inserção de nanotubos de carbono (carbon nanotubes, CNT) em uma matriz polimérica estão entre os materiais de maior potencial tecnológico, pois unem a processabilidade dos polímeros com as singulares propriedades dos CNT. Esses materiais podem apresentar melhorias nas características mecânicas, térmicas e elétricas, permitindo sua aplicação como dissipadores de carga estática, blindagem eletromagnética, sensores, materiais ópticos. Porém estes quando suspensos em um polímero tem uma alta tendência à aglomeração devido à presença de forças de Van der Waals, que tendem a formar redes de contato. Estas inibem parte das configurações da cadeia o que resulta em um empobrecimento do polímero nesta região, (OLEK, 2006). Como uma solução, a oxidação de superfície dos CNT tem o intuito de inserir grupamentos químicos nas extremidades das ligações, como: hidroxilas, carbonilas e ácidos carboxílicos, estes grupamentos dificultam uma aglomeração posterior do compósito e ainda podem servir como pontos de interação química com o polímero matriz. A Figura 1 apresenta claramente a diferença de nanotubos tratados e não tratados visualizados através de microscopia eletrônica de varredura. 2 Figura 1: Nanotubos de carbono observados por microscopia eletrônica de varredura. (a) não tratados e (b) tratados (ZHU, 2006). Como técnicas de oxidação de superfície foram utilizadas refluxo e plasma AC. Tais técnicas vêm sendo altamente disseminadas devido a comprovada eficiência de oxidação. O refluxo por ser uma alternativa relativamente simples, com aplicabilidade a uma grande diversidade de amostras e facilidade de manipulação. A técnica de oxidação por plasma AC envolve um equipamento com um maior aparato tecnológico, porém com tempos de tratamento na ordem de 10 vezes menor que o utilizado para o refluxo. Outra particularidade dos nanotubos de carbono é a elevada condutividade elétrica teórica, esta fortemente dependente de como foram formados (enrolados), da razão de aspecto e do número de camadas. Com o intuito de comparação com outros materiais carbonosos, foi desenvolvido neste trabalho uma técnica de análise da condutividade com a variação da pressão, verificando se realmente os nanotubos de múltiplas camadas (Multi-wall carbon nanotubes, MWCNT) podem ser considerados materiais condutores. 3 2 OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo estudar formas de modificação na superfície visando a um material que atenda a necessidade de compatibilidade química e transferência de propriedades em compósitos poliméricos. Em síntese objetiva-se a modificação de nanotubos para a utilização otimizada em nanocompósitos, como os polímeros polares: PA, PET, PMMA e PC. 2.1 Objetivos específicos • Estudar métodos convencionais e alternativos para o tratamento oxidativo de MWCNT. • Avaliar a eficiência das reações utilizando a técnica de espectroscopia e afinidade química em solvente. • Determinar o método e os tempos de reação que resultem em melhores propriedades para os nanotubos á serem aplicados em nanocompósitos polares. • Estudar diferentes materiais a base de carbono, em termos de propriedades dielétricas. 4 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Compósitos e nanocompósitos de matriz polimérica Materiais compósitos são combinações de dois ou mais materiais que são conhecidos como matriz e carga, este último pode ser encontrado na forma de fibras, folhas ou partículas. O grande objetivo por trás deste conceito é de fazer uso de propriedades inerentes das entidades envolvidas, propriedades estas que estão fundamentalmente ligadas à estrutura básica destes materiais (como ligações químicas primárias e arranjo atômico). Assim, a associação entre os altos módulos de elasticidade e resistência mecânica de micrométricas fibras com a tenacidade, baixa densidade e facilidade de processamento de vários polímeros propiciou a fabricação de materiais com propriedades especiais não existentes nos que lhe deram origem, propriedades intrínsecas, como por exemplo, condutividade térmica, elétrica e propriedades óticas, também podem ser alteradas. Por outro lado, uma maior integração entre estes diferentes tipos de componentes do compósito, que abriria uma gama de oportunidades em termos de novas propriedades, fica restrita à dimensão das fases envolvidas (micrométricas). Para uma maximização da interação entre tais componentes, que significaria a utilização das potencialidades intrínsecas de cada material, a ampliação do número de superfícies e interfaces se vê necessária. Tal observação levou ao surgimento do conceito de nanocompósitos. Tais nanocompósitos apresentam uma série de características que os diferenciam de outros compósitos, como: (a) capacidade de reforço de matrizes poliméricas superior aos agentes tradicionais (partículas e fibras) para baixas concentrações de material inorgânico; (b) interface difusa entre fase orgânica e inorgânica (grande interação entre componentes); podem ser usados para fabricação de recobrimentos, fibras, etc (GUZ, 2007). 5 Pesquisas envolvendo a utilização de nanotubos de carbono como matérias de reforço seguem basicamente três linhas: propriedades mecânicas e elétricas em matriz polimérica, além de arranjo e distribuição dos nanotubos em compósitos. De acordo com Guz et al (2007), diversos autores apontam que apesar da estrutura da superfície específica dos nanotubos, a adesão entre CNTs e matriz polimérica em nanocompósitos é aproximadamente da mesma natureza que as existentes entre microcompósitos de fibras de carbono/polímero. Enfim, pode-se considerar que materiais carbonosos são muito usados com carga, tanto em compósitos como em nanocompósitos. 3.2 Materiais carbonosos O carbono é um dos elementos mais abundantes existentes na natureza, podendo apresentar varias formas de estruturas cristalinas e morfológicas com propriedades totalmente diferentes entre si. Dentre as formas alotrópicas apresentadas pelo carbono pode-se destacar o grafite e o diamante, que embora sejam formados igualmente por arranjos de ligações covalentes entre átomos, possuem características bastante distintas. A grafite é um material opaco, extremamente mole, com um pequeno brilho metálico e um ótimo condutor de eletricidade, enquanto o diamante é transparente, de alta dureza e isolante (Dresselhaus,1995). Essa grande abrangência de possibilidades é uma das características que torna o carbono um elemento bastante interessante. A origem das diferentes propriedades apresentadas pelos carbono e diamante podem ser justificadas pelas diferentes estruturas destes materiais. O carbono possui número atômico seis (z=6), o que lhe confere a seguinte configuração eletrônica no estado fundamental: 1s² 2s² 2p² (BERTHOLDO, 2001). A partir desta configuração, um átomo de carbono que apresenta quatro elétrons de valência, podendo estar hibridizados de três formas diferentes, sp, sp² e sp³, conforme apresentado na Figura 2. 6 Figura 2: Estruturas de hibridização possíveis do átomo de carbono: (a) o 2 o 3 o hibridização sp (linear, 180 ); (b) sp (trigonal plana, 120 ); (c) sp (tetraédrica, 109 28’) (BERTHOLDO, 2001) A formação destes três tipos de orbitais híbridos ocorre devido à sobreposição dos orbitais s e p da camada de valência. No carbono sp³, todos os quatro elétrons de valência encontram-se igualmente distribuídos em quatro orbitais híbridos degenerados do tipo sp³, as ligações formadas são do tipo σ e o ângulo entre estas é de 109°28’. Quando se analisa o caso das ligações sp² a configuração estrutural é do tipo trigonal plana (120°). Neste, três elétrons encontr am-se igualmente distribuídos em orbitais híbridos degenerados e simétricos (ligações σ) e o orbital restante (p) forma uma ligação do tipo π. Como uma estrutura linear pode-se citar a hibridação sp , formando portanto um ângulo de 180°. Nesta, dos qua tro elétrons existentes, dois formam orbitais híbridos simétricos (ligações σ) e os restantes formam duas, ligações do tipo π. Descobertas de novas formas alotrópicas de carbono como o “carbono branco” e a produção de diamante em laboratório incentivaram pesquisadores para o estudo de novas estruturas deste material. Um exemplo é a descoberta de uma forma de carbono elementar conhecida como fulereno. Tal material consiste predominantemente de espécies formadas por moléculas contendo 60 átomos de carbono arranjados em 20 pentágonos e 12 hexágonos, formando uma espécie de “bola de futebol” (BERTHOLDO, 2001). 7 Outras formas alótropas de carbono classificados através das suas condições de preparo e que apresentam importantes aplicações tecnológicas são formas conhecidas como carbonos desordenados. Esta classe de materiais é formada por compostos que podem exibir ligações do tipo sp, sp² e sp³, envolvendo materiais como fibras de carbono, carbono ativado, carbono poroso, carbono amorfo e carbono vítreo (CV). As fibras de carbono constituem um dos exemplos mais importantes dentro da classe de materiais grafíticos desordenados. As principais propriedades destes são alta resistência mecânica, estrutura diferenciada e composição. Outros materiais encontrados dentro da classe de carbono desordenado são o carbono poroso e o carbono ativado, que possuem dentro das excepcionais propriedades a habilidade de formar materiais porosos com uma alta área superficial. Uma variedade de carbono altamente desordenado é o chamado amorfo, que é um material que possui uma estrutura formada por átomos com ligações predominantemente sp², mas que pode apresentar até cerca de 10% de átomos de carbono sp³ e também algumas ligações sp em sua estrutura. O carbono amorfo pode ser formado durante a irradiação de nêutrons, elétrons ou feixe de íons em materiais a base deste componente. Outro exemplo dentro desta classe de materiais é o carbono vítreo (CV), tal nome deriva da característica de apresentar aparência vítrea quando polido. A microestrutura deste consiste em um emaranhado de “fitas grafiticas” e é muito semelhante à configuração da cadeia polimérica da qual se deriva, como mostrado na Figura 3. O CV torna-se um material extremamente importante nos processos de separação de gases e também na preparação de materiais compósitos (BERTHOLDO, 2001) (DRESSELHAUS, 1995). 8 Figura 3: Representação esquemática da estrutura do carbono vítreo (CV) (DRESSELHAUS,1995) 3.2.1 Grafite A grafite é um material lamelar que apresenta uma estrutura cristalina altamente anisotrópica, exibindo um brilho semimetálico, uma boa condutividade térmica e elétrica no plano basal (ab) e uma pequena condutividade ao longo do eixo c, conforme apresentado na Figura 4. Figura 4: Representação da estrutura de monocristal de grafite (BERTHOLDO,2001). 9 Tal pode ser natural ou sintética. Esta última podendo ser produzida a partir de outras formas de carbono como coque e antracita. Esta, quando submetida à alta temperatura, tem seus átomos organizados na forma cristalina hexagonal. Para a grafite natural, na maioria das vezes é necessário que se faça uma purificação e classificação granulométrica com o intuito de ser utilizada comercialmente. Este tipo de grafite apresenta planos entrelaçados (ou enrolados) e também impurezas químicas, tais como Fe e outros metais de transição os quais geram defeitos em sua estrutura. Esta desordem tem um significante efeito no valor do tamanho cristalino ao longo do plano basal e também na distância interplanar, uma vez que a interação dos átomos de carbono entre os diferentes planos torna-se fraca. Como conseqüência, impurezas podem entrar em alguns sítios no plano basal entre os planos da grafite, acarretando na presença de átomos (ou moléculas) dopantes intercaladas entre tais planos. A introdução de espécies convidadas entre as lamelas produz os chamados de compostos de intercalação de grafite (RUSSEL, 1980). A estrutura cristalina do grafite é formada por vários átomos de carbono arranjados de forma a constituir uma espécie de “colméia”. Estes se encontram ligados covalentemente, onde a distância entre os átomos no plano basal é de 1.42 Å, e a hibridização é do tipo sp2. O espaçamento interplanar entre duas camadas (ou folhas) de grafite consecutivas ao longo do eixo c é de 3.354 Å (quase duas vezes maior que a distância de ligação C-C), sendo que as interações entre os átomos de carbono de camadas distintas são formadas por forças fracas do tipo Van der Waals. Estas fracas interações permitem que uma folha de grafite possa deslizar (na ausência de vácuo) sobre outra camada, garantindo uma ótima propriedade lubrificante para estes materiais (RUSSEL,1980) . 3.2.2 Negro-de-fumo O negro-de–fumo pode ser citado como uma carga amplamente utilizada em materiais poliméricos com o objetivo de preenchimento, reforço e pigmentação tanto 10 para borrachas como para produtos de plástico, produção de pneus e toner para impressoras. A maior parte dos processos de produção de negro-de-fumo utiliza o mesmo princípio. O carbono é depositado de uma fase de vapor à alta temperatura, como resultado da decomposição térmica de hidrocarbonetos. A fumaça advinda dos gases contém, em sua grande maioria, negro-de-fumo, hidrogênio e metano. Tal fumaça é resfriada com o uso de sprays com água sendo utilizados filtros para a coleta do negro-de-fumo. Como características do material pode-se citar: partículas agregadas com dimensões coloidais e alta área de superfície e átomos arranjados em uma formação próxima da grafite porém com menor ordem de arranjo. Tal material foi o primeiro nanomaterial de uso comum (MORTHON-JONES, 1989). Quando se deseja um negro-de–fumo com características especiais como condutividade elétrica, tamanho de partícula especifica, nível de reforço, resistência à abrasão ou propriedades de vulcanização, são utilizados processos específicos de fabricação. A química do negro-de-fumo e particularmente a formação superficial precisa ser considerada na seleção do material para uma especifica aplicação, podendo-se determinar, assim, o melhor método de fabricação. 3.3 Nanotubos de carbono Apesar de este pertencer a classe de materiais carbonosos, está em um item a parte, pois o presente trabalho deu maior ênfase a este tipo de arranjo grafítico. Os nanotubos de carbono (CNT, do inglês carbon nanotubes) passaram a ter maior importância na comunidade científica com o trabalho de Iijima (1991), havendo após esta data uma intensa demanda de estudos das propriedades, estrutura e aplicações para estes. Tal material apresenta interessantes propriedades elétricas, alta resistência mecânica e um excepcional módulo de Young. 3.3.1 Estrutura A estrutura dos MWCNT consiste em camadas de grafite concêntricas, distanciando-se entre si por 0,34nm, de maneira análoga à separação existente 11 entre alguns planos de grafite. O tipo de ligação predominante é essencialmente sp². Este material, em sua grande maioria, possui as extremidades fechadas por uma espécie de abóboda de grafite, formando uma cavidade oca. De acordo com o eixo central pelo qual a folha de grafite se enrola, espera-se características diferenciadas para o material obtido. Existem três geometrias básicas que o CNT pode apresentar: armchair, zigzag e quiral. A identificação destas geometrias pode ser feita analisando a quiralidade do material, ou seja, analisando o par ordenando (n,m), este indica as coordenadas em relação ao eixo central relacionado com a direcionalidade. Por exemplo, a estrutura zig-zag planar é indicada pelo valor de m igual a zero, para a armchair m e n apresentam os mesmos valores e são considerados de caráter metálico. Para qualquer outra configuração existente entre os valores de m e n a estrutura formada recebe o nome de quiral (LAU,2002). A Figura 5 exemplifica estas estruturas. Figura 5: Exemplos de estruturas de nanotubos, armchair, zig-zag e quiral respectivamente (LAU, 2002). 12 De modo geral os MWCNT apresentam de 2 a 30 camadas concêntricas de grafite, com diâmetros em torno de 10 a 50nm e comprimentos maiores que 10 µm. Enquanto que os SWCNT apresentam somente uma folha de grafite enrolada e possuem diâmetros na ordem de 1 a 1,4nm. As propriedades características dos nanotubos dependem fortemente do seu diâmetro e sua quiralidade. Propriedades eletrônicas em SWCNT, por exemplo, dependem da maneira na qual as camadas foram enroladas (zig-zag, armchair), que influenciam na posição das bandas de valência e condução. As propriedades eletrônicas de MWCNT perfeitos são muito similares as do SWCNT, porque o acoplamento entre os cilindros é fraco (interação de Van der Waals), (FERREIRA, 2003). No caso dos MWCNT há algumas variações morfológicas possíveis as quais são dependentes das condições e técnicas de obtenção utilizada. Eles podem ser formados como “hollow-tube”, “herringbone” ou “bamboo-like”, e estão apresentados esquematicamente na Figura 6. Para o tipo “hollow-tube”, os eixos dos planos de grafite se encontram paralelos ao eixo dos MWCNTs No produto classificado com “herringbone”, os planos de grafite formam um ângulo com o eixo dos MWCNT. O “bamboo-like” apresenta similaridades se comparados aos do tipo “herringbone”, exceto que os nanotubos são periodicamente fechados ao longo do comprimento do tubo, assemelhando-se aos compartimentos observados na estrutura do bambu. Isto pode ser comparado a uma pilha de copos no interior um dos outros. A principal diferença entre estes MWCNT consiste no fato de que os “herringbone” e os “bamboo-like” apresentam, proporcionalmente, maior número de bordas dos planos (edge-plane-like) do que os “hollow-tube”. (BANKS, 2006). 13 Figura 6: Diferentes tipos de MWCNT possíveis (BANKS, 2006). Os CNT possuem um espaço interno vazio, em escala nanometrica, que pode ser preenchido com outro material, produzindo novos materiais com propriedades singulares, como o uso de nitrato de prata e chumbo metálico, este último juntamente com um feixe de elétrons de alta potência (Olek, 2006). Sendo assim os CNT funcionam como uma matriz hospedeira na obtenção de nanoparticulas ou nanofios (metais, óxidos, semicondutores, etc.). Para se obter este tipo de material é preciso sujeitar o CNT a uma atmosfera oxidante onde será destruída parte da “abóboda” de grafite. 3.3.2 Técnicas de obtenção Os nanotubos podem ser preparados por três técnicas principais: descarga por arco, ablação por laser e deposição química de vapor (CVD). Os métodos de descarga por arco e ablação por laser são baseados na condensação de átomos de carbono gerados pela evaporação (sublimação) de carbono a partir de um precursor sólido, geralmente grafite de alta pureza. A temperatura de evaporação envolvida em tais processos aproxima-se da temperatura de fusão da grafite, de 3000 a 4000 ºC. O método CVD se baseia na decomposição de gases (ou vapores) precursores contendo átomos de carbono, geralmente um hidrocarboneto, sobre um metal catalisador. A decomposição é realizada em temperaturas abaixo de 1000 ºC. O método de descarga a arco, apesar de produzir nanotubos com qualidade estrutural 14 excelente, apresenta limitações para processamento industrial e gera muitas impurezas. Para os CNT produzidos por ablação a laser a pureza é maior que o método anterior, sendo possível a obtenção tanto de MWCNT quanto de SWCNT. Porém o mais utilizado é o CVD por apresentar parâmetros mais fáceis de serem controlados com maior pureza que os dois métodos citados anteriormente (FERREIRA, 2003). Uma das grandes dificuldades no estudo dos CNT consiste no fato que os métodos de síntese produzem amostras altamente heterogêneas (com relação ao diâmetro interno, número de camadas, etc.) e desalinhadas (ausência de orientação espacial), estas variáveis interferem diretamente nas características do nanotubo. 3.3.3 Técnicas de caracterização Os principais métodos utilizados na caracterização de SWCNT ou de MWCNT consistem em técnicas de análise por imagem e espectroscopia. A microscopia eletrônica de varredura e de transmissão são as que possibilitam a determinação do maior número de características estruturais. A técnica de microscopia eletrônica de varredura é menos utilizada em relação à de transmissão, para a análise de compósitos com CNT. Dentre as técnicas espectroscópicas, a espectroscopia Raman vem se firmando com uma poderosa técnica de caracterização de materiais carbonosos, dentre eles, os nanotubos de carbono. A possibilidade de extrair informações a respeito de sua estrutura química torna esta técnica imprescindível na determinação da integridade das ligações químicas ao longo do nanotubo. Tanto a relação de intensidade dos picos obtidos, quanto sua largura podem ser usados como parâmetro de comparação entre materiais de diferentes procedências ou ainda avaliar a eficácia de tratamentos químicos, como a oxidação (ANTUNES, 2006). Partindo dos princípios básicos da interação entre radiação eletromagnética e matéria, podem ser discutidas as quatro principais. A absorção, onde um fóton é retirado pelo sistema, a emissão estimulada, onde o sistema libera um fóton sem a interferência de um agente interno. Também pode ocorrer a emissão estimulada, 15 que consiste na base de funcionamento dos lasers, onde um sistema que já se encontra excitado é estimulado a perder mais um fóton, isso na presença de radiação. Neste caso o fóton perdido terá as mesmas características do fóton de entrada. O quarto tipo possível de interação é designado como espalhamento, no qual o sistema sofre a colisão de um fóton que não é absorvido e sim espalhado. O espalhamento pode ser elástico (Rayleigh) ou inelástico (Raman). Neste último ocorre transferência de energia entre fóton e sistema. O espectro Raman é devido ao espalhamento inelástico de uma radiação monocromática que incide numa molécula. Embora como resultado a molécula possa passar de um estado vibracional para outro, o fenômeno é fisicamente diferente da absorção de radiação e deve-se esperar que as regras de seleção sejam diferentes das consideradas no infravermelho. Durante a irradiação, o espectro de radiação espalhada é medido em certo ângulo (freqüentemente 90º) com um espectrômetro apropriado. As intensidades das linhas Raman são, quando muito, 0,001% da intensidade da fonte (SKOOG, 2002). Como conseqüência sua detecção e medida são mais difíceis do que em um espectro no infravermelho. A instrumentação básica para a espectroscopia Raman consiste basicamente de três componentes: uma fonte laser, um sistema de iluminação da amostra e um espectrômetro apropriado. Como descrito anteriormente as fontes utilizadas atualmente consistem em lasers, desde que estes apresentem altas intensidades que são necessárias para que o espalhamento Raman tenha intensidade suficiente para ser medido. Existem cinco tipos de lasers usualmente utilizados como fontes: argônio, criptônio, hélio/neônio, laser de diodo e Nd:YAG (neodymium-doped yttrium aluminium garnet ou Ytrio e Alumnio dopados com Neodmio). Cada fonte apresentará diferentes interações com os materiais analisados, por isso, podem gerar diferentes características e intensidades dos picos. Uma seqüência experimental e os componentes de um equipamento Raman estão apresentados na Figura 7. 16 Figura 7: Esquema experimental de um espectrômetro Raman (SOUZA, (S 2003). O espectro Raman de MWCNT MW ou SWCNT NT apresentam alguns picos característicos que identificam estas estruturas. estruturas. Estas são as bandas chamadas “D” que se apresentam em comprimentos de onda da ordem de 1350(cm-1), os quais estão relacionados a desordem induzida na estrutura. Outra Banda “G” que aparece em comprimentos da ordem de 1570cm-1 são referentes a estrutura grafítica cristalina. Um espectro típico de um ensaio Raman é apresentado na Figura 8. Figura 8: Gráfico típico de espectro Raman (QUÍMICA (QUÍMICA UNIVERSALl, UNIVERSAL 2004). 17 Existem algumas diferenças importantes entre o efeito Raman e o infravermelho, no primeiro ocorre a indução de um momento dipolo na molécula provocado pelo campo elétrico da radiação. Já para o infravermelho ocorre a variação do momento dipolar intrínseco com a radiação. É como se houvesse uma interação do campo eletromagnético da radiação com o campo elétrico produzido pelo movimento eletrônico. De modo geral, pode-se dizer que as espectroscopias Raman e infravermelho são técnicas complementares. A espectroscopia de infravermelho (IV) se baseia no fato que as ligações químicas das substâncias possuem freqüências de vibração específicas, as quais correspondem a níveis de energia da molécula, níveis vibracionais. Tais freqüências dependem da forma da superfície de energia potencial da molécula, da geometria molecular, das massas dos átomos e eventualmente do acoplamento vibrônico. A espectroscopia estuda a interação da radiação eletromagnética com a matéria, sendo um dos seus principais objetivos o estudo dos níveis de energia de átomos ou moléculas. A região do espectro eletromagnético correspondente ao infravermelho se estende de aproximadamente 0,75µm até quase 1mm, mas o segmento mais freqüentemente utilizado pelos químicos está situado entre 2,5 e 25µm (4000 a 400cm-1), conhecido como região fundamental ou infravermelho médio. As transições eletrônicas são situadas na região do ultravioleta ou visível, as vibracionais na região do infravermelho e as rotacionais na região de microondas e, em casos particulares, também na região do infravermelho longínquo. Para que uma vibração apareça no espectro IV, a molécula precisa sofrer uma variação no seu momento dipolar durante essa vibração. Para ilustrar a Figura 9 apresenta um gráfico típico de FTIR . 18 Figura 9: Gráfico típico de espectroscopia de FTIR (SITE USP, 2008). Em uma molécula, o número de vibrações, a descrição dos modos vibracionais e sua atividade em cada tipo de espectroscopia (infravermelho e Raman) podem ser previstas a partir da simetria da molécula e da aplicação da teoria de grupo. Embora ambas as espectroscopias estejam relacionadas às vibrações moleculares, os mecanismos básicos de sondagem destas vibrações são essencialmente distintos em cada uma. Em decorrência disso, os espectros obtidos apresentam diferenças significativas. Devido a este fato, a espectroscopia no infravermelho é superior em alguns casos e, em outros casos, a espectroscopia Raman oferece espectros mais úteis. A Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) é uma técnica de análise para colher o espectro infravermelho mais rapidamente. Estes espectrofotômetros são mais baratos além da medida de um único espectro ser bem mais rápida porque as informações de todas as freqüências são colhidas simultaneamente. Isso permite que se façam múltiplas leituras de uma mesma amostra e se tire a média delas, aumentando assim a sensibilidade da análise. Devido às suas várias vantagens, virtualmente todos os espectrofotômetros de infravermelho modernos são de FTIR (FERREIRA, 2003). A luz de uma fonte de infravermelho é uma combinação de radiações com diferentes comprimentos de onda. Esta luz, depois de colimada por um espelho, é introduzida em um interferômetro de Michelson, que é um dispositivo formado por um divisor de feixe, um espelho fixo e um outro móvel, como mostra a Figura 10. A 19 radiação incidente no divisor é separada em dois feixes que são novamente refletidos (um deles pelo espelho fixo e o outro pelo espelho móvel) em direção ao divisor de feixe. Desta forma, quando estas duas partes se recombinam, ocorre um processo de interferência (SITE Unesp, 2007). Fonte de Infravermelho Espelho Fixo Divisor de Feixe Amostra Espelho Móvel Detector Figura 10: Representação esquemática de uma medida por espectroscopia por transformada de Fourier de absorção no infravermelho (SITE Unesp, 2007). Além dos métodos citados acima, outros como: análise termogravimétrica e difração de raios-x, também possuem importância de caracterização de nanomateriais. 3.4 Propriedades elétricas A abordagem de propriedades elétricas será iniciada com a conceituação de condutividade elétrica, resistividade e corrente elétrica. A condutividade é um atributo intrínseco, assim como outras características, como densidade ou viscosidade, sendo esta considerada a habilidade que um material tem de conduzir corrente elétrica. É utilizada para especificar o caráter elétrico de um material. É simplesmente o inverso da resistividade e é indicativa da facilidade com a qual um material é capaz de conduzir uma corrente. A unidade é a recíproca de ohm- 20 centímetro, isto é, [(Ω-cm)-1]. A análise das discussões de resultados fazem uso tanto da resistividade quanto da condutividade. A corrente elétrica consiste no movimento ordenado de elétrons, formada quando há uma diferença de potencial (ddp) em um fio condutor e esse movimento é sujeito a uma força oposta que é conhecida como resistência elétrica. No inicio do século 19, o físico alemão Georg Simon Ohm (1787-1854) descobriu duas leis que determinam a resistência elétrica dos condutores. Essas leis, em alguns casos, também valem para os semicondutores e os isolantes (HALLIDAY 1995). A primeira Lei de Ohm estabelece que a razão entre V (diferença de potencial elétrico, medida em volts) e I (corrente eletrica, medida em amperes, A) aplicada a um material é constante, podendo ser expressa pela seguinte equação: V/I=R Equação 1 Onde R, medido em Ohm (Ω), representa a resistência elétrica do material através da corrente que esta passando. Vale salientar que a equação foi desenvolvida tendo como base um condutor de resistência constante. É por isso que condutores desse tipo são chamados de condutores ôhmicos. A primeira lei de Ohm apresenta uma grandeza física, a resistência elétrica, já a segunda lei de Ohm nos dirá quais os fatores tem influencia nesta. De acordo com a segunda lei, a resistência depende da geometria do condutor (espessura e comprimento) e do material de que ele é feito (HALLYDAY, 2005). Sendo a mesma representada pela equação abaixo: ρ=RS/L Equação 2 Esta equação também pode ser expressa de seguinte forma: ρ= SV/ LI Equação 3 Para estas equações L é a distância entre dois pontos onde é medida a diferença de potencial e S (medido em cm2) é a área de seção reta perpendicular à 21 direção da corrente. A resistividade, ρ, é dependente da geometria da amostra, do material e da temperatura, sendo esta medida em (Ω.cm) A condutividade elétrica representa pelo símbolo σ é definida como o inverso da resistividade. σ= 1/ ρ Equação 4 Os materiais sólidos exibem uma larga faixa de condutividade, se estendendo ao longo de 27 ordens de grandeza. Provavelmente nenhuma outra propriedade física experimente esta amplitude. Uma forma de classificação aplicada a materiais sólidos é de acordo com a capacidade de condução de corrente elétrica (Callister, 2002): Metais: possui uma banda parcialmente preenchida que permite a mobilidade de elétrons. Desta forma pouca energia fornecida por um campo elétrico é suficiente para excitar grandes números de elétrons para o estado de condução. Semi-Condutor: Para estes materiais os estados vazios adjacentes acima da banda de valência preenchida não estão disponíveis. Para se tornarem livres os elétrons devem atravessar o espaçamento entre bandas de energia passando para os estados vazios na parte inferior da banda de condução. Isolantes: a ligação interatômica é iônica ou fortemente covalente, assim os elétrons de valência estão fortemente ligados ou são compartilhados. A principal diferença entre semi-condutores e isolantes está no espaçamento entre as bandas (de valência e de condução), quanto maior o espaçamento mais isolante será o material. A Figura 11 exemplifica a condutividade elétrica de alguns materiais. 22 C 106 o n d u t i v i d a 10-8 d e E l é t r i c a 10-16 Polímeros Fenol-formaldeído Náilon, borracha Teflon polietileno P o Semicondutores l í InAs m InP e Cerâmicas Germânio r Sílica Sílica o GaAs s c o n d u SiO2 t o Al2O3 r e Diamante s Cobre Alumínio Ferro Aco Vidro Figura 11: Exemplos de condutividade elétrica de alguns matérias, resultados medidos -1 -1 em Ohm cm (Barra, 2007). 3.4.1 Técnicas de análise A condutividade elétrica de filmes, lâminas e de superfícies condutoras é um parâmetro físico essencial quando se deseja utilizar materiais em aplicações elétricas e eletrônicas. Existem vários métodos descritos na literatura que são utilizados para o cálculo da determinação de resistividade elétrica dc (direct current, corrente continua) ou ac (alternate current, corrente alternada). Alguns métodos utilizados serão discutidos a seguir (GIROTTO, 2002): • Método de Duas Pontas ou de Dois Terminais: com este método pode se fazer uma medida direta da resistividade elétrica, medindo-se a diferença de potencial e a corrente que flui através da amostra sob a ação de um campo elétrico dc, porém é necessário conhecer com precisão as dimensões da amostra a ser analisada. • Método do Eletrômetro: este método é recomendado quando se deseja analisar uma amostra com altíssima resistência elétrica, o que 23 conseqüentemente requer valores de condutividade muito baixos. Este é baseado em medidas de resistividade elétrica de duas pontas. • Método de Sonda Quatro Pontas (ou de quatro terminais): é um método de fácil utilização recomendado para análises que requerem rapidez e precisão nos resultados. Tem utilização comum em medidas elétricas de semicondutores. Neste método as sondas que monitoram a corrente e a tensão são contatos pontuais, usualmente montados em um suporte especial, com as pontas da sonda dispostas em linha, a uma distância equivalente uma das outras. • Métodos sem contato: neste caso não existe contato mecânico amostra-terminais • Método de Pulsos: Utilizado somente em casos especiais quando a amostra possui baixa rigidez dielétrica ou quando a amostra não pode ser submetida ao aquecimento. Consiste na aplicação de um pulso (ddp) de curta duração e na medida da corrente elétrica que flui através da amostra. 3.4.2 Correlação Compactação versus condutividade A medição de condutividade elétrica de grânulos é um método antigo para a caracterização de pós ou materiais porosos, pelo fato deste experimento ser simples, barato e rápido. Entretanto, este método apresenta alguns problemas, pois resulta em um dado muito teórico, de fato diferente do apresentado na prática. Diversos critérios são propostos na tentativa de quantificar o comportamento dos grãos á uma pressão moderada, obtendo assim, diversos parâmetros para a caracterização dos grãos. Conseqüentemente a caracterização morfológica se torna flexível a medida de condutividade elétrica. A resistência elétrica para a compactação é a combinação de resistência individual dos grãos e dos contatos entre eles, sendo esta função dependente da similaridade das partículas (CELZARD, 2002). Isto significa que o número de contatos que surgem entre os grãos vizinhos poderá ser perfeitamente conhecido se somente houver esferas idênticas. Para um caso real, a situação é um pouco mais 24 complexa, pois a partículas podem possuir diferentes granulometrias e variações morfológicas. Medidas de condutividade em pós requerem pressão nos grãos, a fim de assegurar o contato elétrico. Tal pressão induzida rearranja as partículas aumentando o número de contatos e este por sua vez, não é uma simples função da força de compactação. Desta forma o número de passagens de condução pode variar dependendo da direção de compactação (CELZARD, 2002). Visto que, na maioria dos casos as partículas possuem diferentes tamanhos e é esperado que a resistência intrínseca seja largamente distribuída. Pode-se considerar que a maior contribuição da condutividade em uma coluna de pó provém da resistência de contato, o qual pode ter duas origens: tunelamento e constrição. O tunelamento pode ter altos valores, especialmente quando se trata de pós metálicos recobertos com finos filmes óxidos. Por estes motivos materiais carbonosos não são submetidos à tratamento de superfícies. Por outro lado, a resistência de constrição ocorre devido ao contato, formando um caminho de condução entre duas partículas. Finalmente, a compactação de pós inclui deformação elástica e algumas vezes deformação plástica nos grãos, dependendo da intensidade de força aplicada. Isto é, quando a distribuição interna da forças dentro do empacotamento é fortemente inomogêneo, em um determinado caminho a rede de grãos deformados é capaz de transportar a maior parte da tensão aplicada. Esta rede cresce e ramifica com a compactação, porém ainda existem partículas que não sofreram constrição. Assim os grãos podem ser deformados de maneira bem irregular, tornando as áreas de contato desiguais em todo o material. Este problema é mais complexo devido as forças de fricção exercidas entre partículas vizinhas e paredes internas, em uma amostra a ser compactada, os quais geram uma densidade inomogênea. O número de coordenação torna o grão dependente da sua posição dentro da coluna, conseqüentemente a resistência total da amostra é uma função da geometria (diâmetro e comprimento) do recipiente e do tamanho de partícula no interior do tubo (CELZARD, 2002). 25 Algumas outras dificuldades, tais como a quebra do grão podem ser introduzidas pela pressão de compactação, porém os itens listados anteriormente são capazes de provar que a leitura da condutividade não é feita com precisão. 3.5 Tratamentos oxidativos de superfície em nanotubos de carbono 3.5.1 Refluxo Para a obtenção de compósitos utilizando nanotubos é indicado algum tipo de tratamento superficial, pois os CNT necessitam de uma boa interação com a matriz, além de uma dispersão e distribuição mínimas destas estruturas para garantir propriedades homogêneas. Devido ao diâmetro extremamente reduzido dos MWCNT ou dos SWCNT, e um comprimento muitas vezes maior que o diâmetro (razão de aspecto), estes proporcionam uma superfície específica livre muito elevada, gerando uma tensão superficial alta e conseqüentemente uma tendência destas estruturas permanecerem com alto grau de aglomeração (PAGGI, 2008). Outro fator que deve ser levado em conta é a presença de ligações de Van der Waals, pois estas tendem a se aglomerar formando fortes redes de contato, gerando uma atração que é de fundamental importância para o estudo dos CNT. Quando suspensos em um polímero surge uma força atrativa, nos nanotubos, devido aos efeitos da entropia, proibindo parte das configurações da cadeia, o que resulta em um empobrecimento do polímero nesta região, gerando em um aumento da pressão osmótica, forçando, assim, estas partículas a se unirem (OLEK, 2006). Como uma alternativa relativamente simples, aplicabilidade a uma grande diversidade de amostras e facilidade de manipulação, o tratamento de refluxo se mostra eficiente para um ataque químico superficial. A principal rota de tratamento superficial, com intuito de dispersão, tem início com a purificação inicial de nanotubos a partir do momento que estes são obtidos, neste caso a idéia é a redução drástica de impurezas inerentes ao processo, como: 26 resíduos metálicos dos substratos utilizados na sua obtenção, estruturas com formação deficiente, como carbono amorfo, dentre outras. Esta etapa geralmente é obtida com tratamentos térmicos das amostras, onde as estruturas com ponto de fusão mais baixo são eliminadas. O tratamento químico da superfície de nanotubos consiste comumente em uma oxidação superficial em fase líquida a partir de uma mistura de ácidos ou peróxidos. A oxidação convencional em fase líquida, utiliza ácidos puros, mistura destes ou ainda peróxidos, como HNO3, H2SO4/HNO3, H2SO4/KMnO4, H2O2, dentre outros. O tratamento sob refluxo tem como objetivo principal a desaglomeração e um ataque químico na superficie que proporcione quebra de algumas ligações covalentes, inserindo novos grupamentos químicos nas extremidades destas ligações, como: O-H, C=O, COOH entre outros. Estes novos grupamentos dificultarão uma aglomeração posterior destas estruturas, e ainda poderão servir como pontos de interação química com o polímero matriz, gerando ligações químicas secundárias, como: van der Waals ou ligações de hidrogênio. A Figura 12 apresenta uma representação esquemática de um nanotubo tratado por meio de oxidação. Figura 12: Representação esquemática de CNT após tratamento químico superficial de oxidação (GOYANES, 2007). 27 3.5.2 Oxidação por plasma AC Para a introdução deste método de oxidação abordaremos alguns princípios básicos de plasma. Podendo este ser considerado um gás parcialmente ionizado contendo o mesmo número de cargas positivas e negativas e com um preenchimento de moléculas neutras. A forma mais simples de se obter um plasma é através de uma descarga elétrica, ou seja, aplicando uma diferença de potencial elétrico entre dois eletrodos, o mecanismo essencial são as excitações e relaxações, ionização e recombinação. Como uma técnica complementar ao plasma o Glow Discharge pode ser grosseiramente considerado como um plasma não ideal. A palavra plasma é de origem grega, que significa um material moldável. Através dos tempos, a palavra era usada desta maneira, para designar materiais moldáveis ou que fluem, como um exemplo: o plasma sanguíneo. Atualmente o plasma na física é conhecido como o quarto estado da matéria, isto é: um gás ionizado contendo elétrons, íons e átomos neutros, mantendo-se macroscopicamente neutro (HENRIQUE, 2004). Em se tratando da pesquisa em plasma, os primeiros resultados surgiram em 1970 com as lâmpadas especiais, o arco de plasma para solda e corte, as chaves de alta tensão, a implantação de íons, a propulsão espacial, o laser a Plasma e reações químicas com plasma reativo. No plasma existem três partículas as quais se encontram em equilíbrio: íons (positivos), elétrons e nêutrons, sendo que nestes a variação ocorre pela diferença de massa e temperatura dos mesmos. A densidade dos íons é praticamente igual à densidade dos elétrons, porém a de nêutrons é um pouco menor. A média da velocidade dos elétrons é muito maior quando comparada com a dos íons e nêutrons isso é gerado pela alta temperatura do mesmo e baixa massa. Outra característica do plasma é o comportamento coletivo, ou seja, o movimento das partículas do plasma por forças de longo alcance, a energia que as partículas carregadas de um plasma realizam sobre uma dada carga, diminui com a distância do ponto onde foi medido o potencial até a mesma (CHAPMAN, 1980). 28 Alguns dos parâmetros dos quais o plasma depende são: pressão; densidade; temperatura; presença de campos, magnético e elétrico. Como exemplo pode-se citar a ionização de um gás, resultante da aplicação de um campo elétrico, que provoca o surgimento de uma descarga elétrica, conhecida como descarga contínua tipo glow. A descarga tipo glow se desenvolve em um gás com pressões absolutas menores de 8×10-4mbar, produzida entre dois eletrodos, o cátodo (+) e o anodo (-). Os elétrons são liberados através da ionização do gás ou dos eletrodos, pela colisão dos íons. Isto requer uma quantidade definida de energia, este valor deve ser a energia necessária para ionizar um átomo ou molécula, sendo a mesma chamada de energia de ionização (CHAPMAN, 1980). Para a formação do plasma AC se utiliza uma fonte de corrente alternada (AC) gerado por descarga glow. Com o intuito de auxiliar o início do plasma, um filamento aquecido produz a ionização inicial do gás. Os elétrons colidem com as moléculas neutras do gás e assim forma-se o plasma. Ele é criado quando um gás é superaquecido e os elétrons causam a ionização dos átomos, deixando partículas eletricamente carregadas. Uma condição essencial para o plasma é que ele seja quase completamente neutro. 29 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Materiais 4.1.1 Nanotubos de carbono Os nanotubos utilizados neste trabalho foram obtidos da empresa Mercorp e são do tipo MWCNT catalítico, produzidos, segundo o fabricante, por deposição química de vapor (CVD). E apresentam em média 140 ± 30 nm de diâmetro, 7 ± 2 µm de comprimento e pureza superior a 90%. 4.1.2 Negro-de-Fumo O negro-de-fumo utilizado neste trabalho é procedente da empresa Degusa Brasil Ltda e apresenta como característica a condutividade elétrica superior aos negros-de-fumo convencionais, sendo então chamado de extracondutor. Para a utilização este passou pelo processo de peneiramento, para a obtenção de uma faixa granulométrica especifica, sendo utilizado o material com granulometria inferior à 150 micrometros, peneira de 100 mesh. 4.1.3 Grafite Para a realização do ensaio de compactação foi utilizado a grafite cristalino natural da empresa Nacional de Grafite, a qual apresenta um diâmetro médio de 5 ± 2 µm, com pureza superior a 95%. 4.1.4 Solventes A metodologia inicial utilizada para confecção dos testes foi a seleção de um conjunto de solventes químicos que possuíssem características distintas em termos de polaridade e constante dielétrica. Partindo deste princípio e verificando a disponibilidade de produtos, optou-se pela utilização de 8 diferentes solventes. Estes e suas principais propriedades estão listadas no Quadro 1. 30 Quadro 1: Nomenclatura e propriedades físicas dos solventes utilizados (Pereira, 2007). Reagente Nomeclatura Fórmula Oficial química Permissividade dielétrica (25ºC) Parâmetro de solubilidade g [(cal/cm³)½] Água Oxigenada Peroxido H2O2 82,00 H2O 78,54 23,50 Hidrogenio Agua destilada DMSO Dimetil Sulfóxido C2H6OS 45,00 12,90 DMF Dimetilformamida C3H7O 37,00 12,14 C16H21O 20,70 9,75 C3HO 20,10 11,97 Acetona Álcool Isopropílico THF Tetrahidrofurano C4HO 7,52 9,49 Clorofórmio Triclorometano CHCl3 4,80 9,21 As suspensões contendo MWCNT e solventes foram obtidas com uma concentração padrão de 0,00044g/ml. Os recipientes contendo a mistura foram levados a um equipamento de agitação ultrassônica por um período de quarenta minutos para todas as combinações. Uma análise do comportamento das suspensões sob decantação foi realizado com o auxílio de imagens obtidas em diferentes tempos para todos os solventes e também diferentes tempos de tratamento químico de superficie. 4.2 Métodos experimentais 4.2.1 Tratamento de superfície oxidativo sob refluxo Com o intuito de realizar um tratamento oxidativo de superficie nos nanotubos de carbono, realizou-se um tratamento dos mesmos em peróxido de hidrogênio como agente de oxidação. 300mg de MWCNT foram dispersos em uma solução de H2O2 (10%) sob agitação ultrassônica durante 40 minutos. Em seguida a suspensão foi levada a um balão de 500ml sendo acoplado a este um equipamento para 31 realização de refluxo a uma temperatura de 100 ºC durante 5, 10 e 15 horas. As amostras retiradas do balão foram filtradas sob vácuo e lavadas com água deionizada e acetona em abundância. Posteriormente o pó foi seco em estufa a 100ºC durante 8h. 4.2.2 Tratamento oxidativo de superfície por plasma AC Os tratamentos foram realizados em um equipamento produzido no CIMJECT, este dispõe de uma câmara de vácuo, sob pressão absoluta de 4.10-4 Torr, posteriormente alimentada com um fluxo de oxigênio (White Martins 2.8) até estabilização da pressão absoluta em 6.10-3 Torr. No interior da câmara, foram posicionados dois eletrodos cilíndricos de alumínio (13 mm de diâmetro e 400 mm de comprimento) distanciados em 270 mm. Entre os eletrodos foi aplicada uma diferença de potencial elétrico de 2000 V (AC, 60 Hz), formando uma descarga por plasma. As amostras foram posicionadas entre os eletrodos e submetidas a diferentes tempos de tratamento: 0,5; 1; 3; 8 e 16 minutos, a escolha destes tempos se deu empiricamente devido a carência de bibliografia existente. Primeiramente foram realizadas amostras com o tempo de 1, 3 e 8 minutos e com a finalidade de se obter pontos extremos fez-se uma analise corresponde a metade do menor tempo e no outro extremo dobrou-se o maior tempo de exposição ao plasma. 4.3 Técnicas de caracterização 4.3.1 Análise de dispersão e distribuição utilizando microscopia ótica Para a obtenção das imagens de microscopia ótica utilizou-se o microscópio ótico disponível no CIMJECT, modelo Leica DM LM. A análise das imagens foi realizada após a homogeneização ultrassônica da suspensão, ocorrendo, então, a retirada de uma pequena quantidade de mistura sendo esta depositada na superfície de uma lâmina de microscópio. Posteriormente foi inserida uma lamínula sobre o líquido, com o intuito de manter a superfície plana e melhorar as características de foco para esta análise. Foram obtidas imagens em diversas regiões da lâmina, buscando uma visualização ampla do estado de dispersão e distribuição. Optou-se pela confecção de fotos com aumento pequeno (100X), para uma avaliação da 32 distribuição de domínios e aglomerados. Um maior aumento (500X), também foi selecionado com a finalidade de identificar as características de dispersão das amostras. 4.3.2 Espectroscopia Raman As amostras obtidas foram submetidas a analise em um espectrômetro Raman, Renishaw in Via Raman Microscope, equipado com um laser de argônio (514nm). A aquisição dos dados foi obtida com 100% da potência do laser, utilizando três acumulações para construção das curvas. A faixa de varredura se estendeu de 100 a 3500cm-1, e todas as curvas foram obtidas com aumento de 20X, para padronização dos resultados e melhor análise dos picos. 4.3.3 Espectroscopia de infravermelho As analises de espectroscopia de infravermelho foram realizadas na Unisul, unidade Tubarão, no departamento de Farmácia. As analises de FTIR se deram no equipamento de marca Bomen, modelo MB 100. Para uma melhor visualização o gráfico apresenta comprimento de onda 4000 até 500cm-1. A formação da amostra utilizada no espectro contou com o auxilio de uma pastilha de KBr. 4.4 Tratamento estatístico do comprimento do nanotubo de carbono Para verificar se os solventes ou o tratamento químico afetaram o comprimento dos nanotubos, os mesmos foram medidos utilizando-se ferrementas do software Photoshop CS3 Extended. Para obter uma amostragem razoável, foram realizadas 400 medidas para cada um dos períodos de exposição, tanto no Glow quanto no tratamento de refluxo. Utilizou-se o tratamento estatístico de análise de variância para verificar se as diferenças eram expressivas, e o teste LSD (least significance difference), para verificar quais pares de amostras eram significativamente diferentes. O software Statgraphics Centurion foi utilizado para este fim. 33 4.5 Medidas de condutividade Elétrica Para a realização das medidas de condutividade elétrica houve a necessidade da montagem do aparato experimental. Conforme apresentado na Figura 13, este contava com um punção de bronze, material escolhido devido sua melhor condutividade elétrica em relação ao aço, metal anteriormente utilizado. Uma matriz de polietileno, tendo esta o intuito de evitar perdas na condutividade, este último usinado no Laboratório de Usinagem e Comando Numérico presente na UFSC. A realização das medidas de condutividade se deu no Laboratório de Polímeros da Engenharia Mecânica contando com uma prensa hidráulica a qual era responsável pelas forças de compactação aplicadas. Para um controle mais preciso da pressão de compactação foi utilizada uma célula de carga. Como o experimento requer precisão da espessura da amostra, foi fabricado no CIMJECT com auxilio da impressora 3-D Print um molde no qual foi construído um extensor de resina epóxi. Este foi acoplado à prensa através de um parafuso de fixação. As medidas foram conseguidas utilizando de um relógio comparador. Para a analise da condutividade, neste caso duas pontas, se fez uso de um eletrômetro de marca Keithley Instruments modelo 6517 , juntamente com uma fonte de corrente Fonte de tensão DC Keithley Modelo 224, cedido pelo departamento de química da UFSC. Figura 13:Aparato experimental para a realização de medidas de condutividade. 34 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Analise da condutividade elétrica em materiais carbonosos 5.1.1 Valores comparativos de condutividade elétrica As medidas de condutividade elétrica foram realizadas em três materiais carbonosos; nanotubo de carbono, negro-de-fumo e grafite. Estes dois últimos foram selecionados por terem a condutividade conhecida e aplicações bem definidas no ramo de engenharia, podendo então ser utilizados como comparativo. Para se obter dados com uma maior precisão foram feitas três amostras de cada material, sendo o desvio padrão apresentado nos gráficos. A Figura 14 apresenta a variação da condutividade elétrica para a grafite. Esta tolerou um aumento durante o inicio da compactação, devido ao maior contato entre os grãos, porém sofreu um decréscimo á medida que aumentaram as tensões aplicadas. Isso pode ser explicado devido á quebra de partícula ou delaminação do material. Condutividade (S/cm) Condutividade X Tensão 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 Tensão de Compressão (MPa) Figura 14: Analise da condutividade elétrica da grafite sob diferentes tensões de compressão. A Figura 15 detalha a comportamento apresentado pelo negro-de-fumo, como acontece na grafite este material também sofre um aumento da condutividade para as primeiras forças de compactação. Este fato ocorre devido a existência de 35 espaços vazios contendo ar, levando uma redução real na condutividade. A medida que se prossegue a compactação, estes vazios são gradativamente eliminados. Condutividade X Tensão Condutividade (S/cm) 12 10 8 6 4 2 0 0 20 40 60 80 100 120 Tensão de Compressão (MPa) Figura 15: Analise da condutividade do negro-de-fumo sob diferentes tensões de compressão. Para analise da Figura 16 os mesmos dados comentados antes devem ser levados em conta, pois os nanotubos de carbono apresentaram comportamento semelhante aos outros materiais carbonosos. É importante ressaltar que todos estes materiais apresentaram comportamento ôhmico, na faixa em que foram medidos. 36 Condutividade X Tensão Condutividade (S/cm) 25 20 15 10 5 0 0 20 40 60 80 100 120 Tensão de Compressão (MPa) Figura 16: Analise da condutividade do nanotubo de carbono sob diferentes tensões de compressão. 5.1.2 Analise dos resultados Para o entendimento dos resultados apresentados deve-se levar em conta que a condutividade elétrica é a combinação da resistência individual dos grãos e dos contatos entre eles. Isto indica que durante a compactação foram criados contados e estes geram caminhos de condução. Porém com o aumento da tensão os grãos podem ter sofrido alguns tipos de deformação ou dano. Para a grafite pode-se considerar que, além da quebra de partícula houve a delaminação da camada, o que dificultaria a passagem de corrente elétrica. Quando se analisou o negro-de-fumo foi notável o aumento da condutividade durante as primeiras medidas, fato ocorrido devido ao rearranjo das partículas e aumento do número de contatos, formando um caminho de condução. Porém para tensões superiores pode ter ocorrido a deformação inomogênea dos grãos dificultando a passagem de corrente elétrica. Em se tratando do CNT o grau de incertezas se apresentou maior, visto que as hipóteses apresentadas para a negro-de-fumo se aplicam a este, além do fato que pode ter ocorrido a quebra da estrutura do material, ou seja, dos tubos de carbono. 37 Para a variação de condutividade apresentada, pouca diferença foi obtida. O que sugere que os MWCNT utilizados no teste não apresentaram elevada condutividade elétrica, podendo ser considerados materiais semi-condutores. É importante ressaltar que dentre os materiais analisados, a grafite se apresentou superior em termos de condução elétrica, inclusive sob altas tensões. 5.2 Tratamento oxidativo de superficie utilizando peróxido de hidrogênio. 5.2.1 Espectros Raman dos nanotubos tratados e não tratados Após a obtenção das amostras tratadas sob ambiente oxidativo durante diferentes períodos de tempo, partiu-se para a etapa de caracterização das mesmas e verificação da eficácia do tratamento em questão. A Figura 17 apresenta uma sobreposição dos espectros Raman obtidos para os diferentes tempos de tratamento. Figura 17: Sobreposição de espectros Raman em diferentes tempos utilizando o tratamento de refluxo. 38 Em relação ao pico D, característico das ligações hibridizadas sp3 presentes na amostra, verificou-se pequena alteração antes e após o tratamento de superfície. Esta pequena alteração no pico D pode ser atribuída a geração de um pequeno grau de impurezas no material. Uma alteração mais significativa foi detectada na intensidade do pico G (relacionado com as ligações sp2 dos nanotubos de carbono). A redução da intensidade verificada evidencia uma alteração na estrutura cristalina do material, indicando quebra destas ligações e a possível formação de outros grupos químicos na superfície, como: hidroxilas, carbonilas e ácidos carboxílicos. Vale ressaltar que estes indicativos refletem o objetivo principal do tratamento que consiste na introdução de grupamentos de superfície que promovam a formação de ligações de hidrogênio com o polímero após a mistura e obtenção do compósito. O pico G1’ (~2700cm-1) é característico apenas de nanotubos de carbono e aparece quando laser de argônio é utilizado. O Quadro 2 apresenta as razões entre as bandas D e G dos MWCNT utilizados neste trabalho, antes e após o tratamento. Como era esperado a razão tem seu valor aumentado a medida em que o tempo de tratamento aumenta e conseqüentemente o percentual de modificação obtido também será maior. Em destaque na tabela estão os valores referidos a amostra tratada por 10 horas que apresentou valores discrepantes dos demais. Mesmo após algumas repetições do ensaio para obtenção dos espectros, o valor se manteve praticamente inalterado em relação ao material comercial sem tratamento. À medida que os valores anterior e posterior se mantiveram coerentes durante todas as análises, conclui-se que ocorreu algum erro durante a obtenção da amostra e sua retirada do aparato de refluxo. Quadro 2: Razão entre picos característicos e percentual de modificação. Razão ID/IG Aumento percentual (%) Material Comercial 0,145 -- Tratado 5 horas 0,159 9 Tratado 10 horas 0,149 3 39 Tratado 15 horas 5.2.2 0,183 21 Espectros de FTIR Na Figura 18 são apresentados os espectros de infravermelho dos nanotubos de carbono oxidados durante 5, 10 e 15 horas sob o tratamento de refluxo e CNT não tratados, na região de 4000 a 500 cm-1. Esta tabela tem o intuito de proporcionar 1450 1750 2890 uma alusão da modificação sofrida pelo mesmo. Absorbância u.a. 0h 5h 10h 15 h 4000 3000 2000 1000 0 -1 Comprimento de onda (cm ) Figura 18: Sobreposição de espectros de infravermelho em diferentes tempos de tratamento. Devido à alta absorção de infravermelho, encontrou-se muita dificuldade para a obtenção dos espectros acima, isso se deve, provavelmente, à preparação da 40 amostra e a técnica usada (transmissão). Por tal motivo a comparação entre os tempos de tratamento se torna inviável. Para efeito comparativo deve-se analisar a razão entre as alturas dos picos em 1750cm-1, este referente as ligações C=O com outros dois picos: um em 1450cm-1 relativo as ligações C=C e 2890cm-1 relativo as ligações C-H. 5.2.3 Análise da dispersão e distribuição A Figura 19 apresenta um comparativo geral entre os solventes testados e os diferentes tempos de tratamento químico. O aumento relativamente pequeno (100X), foi utilizado visando a uma noção macro da distribuição dos aglomerados, bem como seu tamanho aproximado. Uma alteração considerável no tamanho dos aglomerados foi verificada mais claramente para os solventes álcool isoproprílico, água destilada e água oxigenada. O comportamento nos dois primeiros alternou-se com o tempo de tratamento, já com a água oxigenada verificou-se um aumento gradual do tamanho dos aglomerados com o maior tempo de tratamento. No geral, THF e clorofórmio apresentaram os melhores resultados para o tamanho e distribuição dos aglomerados presentes. A Figura 20 apresenta a mesma relação de solventes e tratamentos da figura anterior, porém com maior aumento (500X). Neste aumento têm-se uma melhor visualização da dispersão e grau de desaglomeração obtido depois da agitação sob ultrassom. Uma análise das imagens revela uma melhora significativa de dispersão nos solventes: álcool isopropílico, água destilada e THF. A água oxigenada pode ser considerada como a única em que ocorreu uma diminuição significativa da dispersão. No geral, as melhores características foram observadas para o DMF, DMSO e clorofórmio. 41 Figura 19: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). 42 Figura 20: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). 43 5.2.4 Análise estatística dos comprimentos dos nanotubos de carbono antes e após o tratamento em peróxido Após a medição do comprimento aproximado dos nanotubos de carbono visualizados nas imagens obtidas através de microscopia ótica, tornou-se necessária uma análise estatística dos valores obtidos, visando uma comparação efetiva principalmente entre os tempos de tratamento químico de superfície. O Quadro 3 apresenta os valores de amostragem obtida para cada grupo estudado, bem como os valores médios e o desvio padrão fornecidos pelo software Statgraphics Centurion. Um tratamento de modificação de superfície pode ser baseado na exposição do material a um ambiente oxidante forte sob constante agitação, o que faz com que danos possam ser causados a estrutura, principalmente no quesito de modificação do comprimento inicial médio da amostra. Um certo grau de diminuição no comprimento, se verificado, pode ser encarado como um efeito positivo, já que isso pode se tornar mais um indício de que os objetivos iniciais do tratamento foram alcançados. Quadro 3: Valores estatísticos obtidos no teste. Tempo de Amostragem Média (µm) Desvio Padrão Tratamento Cinco horas 400 6,81325 1,47986 Dez horas 400 6,36345 3,37293 Quinze horas 400 6,97325 1,39888 Zero hora 400 7,77000 1,92143 Total 1200 6,97999 2,24789 A partir da análise de variância apresentada no Quadro 4 pode ser verificado que existe uma diferença estatisticamente significante entre as médias dos comprimentos das amostras, desde que o valor de p seja menor que 0,05 para um nível de significância de 95%, fato que confirma a hipótese de modificação das amostras. 44 Quadro 4: Análise de variância entre grupos. Soma dos GL Quadrados Média dos Razão F Valor P 28,65 0,0000 Quadrados Entre os grupos 412,834 3 137,611 Dentro do grupo 7666,92 1596 4,80384 O Quadro 5 aplica um procedimento de comparação múltipla para determinar quais médias são significativamente diferente umas das outras. A sigla LSD (least significance difference), ou diferença menos significativa, é um método estatístico que determina e correlaciona os grupos por pares. Nos valores de diferença entre grupos, o asterisco indica que estes pares são significativamente diferentes com 95% de nível de confiança. O resultado interessante desta análise pode ser atribuído ao fato de que em todos os pares da correlação amostras tratadas e não tratada, verificou-se diferença significativa no comprimento médio. Mais um fato que comprova a eficácia do tratamento. Quadro 5: Teste LSD entre grupos. Grupos Diferença (+/-) Limite 5h - 0h *0,95675 0,303758 10h – 0h *1,40655 0,303758 15h - 0h *0,79675 0,303758 * denota diferença estatisticamente significante. A Figura 21 faz referência a dispersão encontrada nas medições. Notam-se apenas alguns valores deslocados para comprimentos maiores, os quais podem estar relacionados a possível medição de nanotubos aderidos e conseqüentemente, com valores de comprimento mascarados. 45 Resposta (micrometros) 20 15 10 5 0 0h 5h 10h 15h Figura 21: Dispersão de medições por tempos de tratamento. 5.2.5 Correlação entre comportamento de decantação e tratamento de superfície A partir da Figura 22 fica claro a modificação de superfície e alteração da interação do material com os diferentes solventes. As mudanças mais significativas foram relacionadas com a homogeneização inicial após agitação ultrassônica para o água oxigenada, que inicialmente havia dispersado razoavelmente bem e após os tratamentos não se verificou nenhum espalhamento do material. O DMF e o DMSO que se mantiveram com características semelhantes sem tratamento e tratado 5 horas, tiveram modificações na taxa de decantação em 15 horas, principalmente o DMSO, que decantou totalmente no período entre 1 e 2 dias de teste. O THF, pelo contrário teve seu desempenho melhorado com o aumento do tempo de tratamento, verificando-se uma taxa de decantação muito mais lenta que a verificada a priori. Em geral, os solventes de característica polar apresentaram homogeneização mais dificultada, além de uma taxa de decantação mais alta, principalmente verificados com a acetona e o álcool isopropílico. Os de caráter apolar, no entanto, mantiveram uma suspensão visualmente homogênea por um período mais prolongado. 46 Figura 22: Análise visual da taxa de decantação nos nanotubos com e sem modificação. Disposição dos frascos da esquerda para direita: água destilada, água oxigenada, álcool isopropílico, acetona, DMSO, DMF, THF e clorofórmio. 5.2.6 Sintese dos resultados Em relação ao tipo de solvente a ser utilizado visando distribuição mais homogênea dos aglomerados e dispersão dos mesmos, pode ser dito que o DMF e 47 o clorofórmio apresentaram aspectos superiores. Resultados satisfatórios verificados com o teste de decantação também indicaram os referidos solventes como superiores aos demais. As conclusões foram tomadas a partir de uma análise geral entre nanotubos tratados e não tratados, ficando posteriormente a critério de decisão de algum caso ou tempo de tratamento em particular, se necessário. A análise estatística reforçou os indícios de sucesso com o tratamento de superfície em questão, já que ocorreu pequena modificação no comprimento dos nanotubos medidos experimentalmente. Através dos espectros de FTIR não foi possível observar uma modificação clara dos CNT, isto devido a dificuldade de realização do ensaio. Já para a espectroscopia Raman ficou evidente tal modificação, apesar dos resultados obtidos para a amostra com 10h de tratamento se mostrarem discrepantes dos demais. 5.3 Resultados referentes ao tratamento oxidativo de superfície utilizando descarga por plasma AC 5.3.1 Espectros Raman dos nanotubos tratados e não tratados Subseqüente ao tratamento de oxidação por plasma AC foi realizada a análise de espectroscopia Raman com intuito de verificar a modificação de superfície ocorrida. Foram realizados 5 diferentes tempos de tratamento: 0,5; 1;3;8;16 minutos e uma nova análise dos nanotubos não tratados, como mostrado na Figura 23. 48 Figura 23: Sobreposição de espectros Raman em diferentes tempos utilizando o tratamento de oxidação por plasma. De acordo com as curvas houve uma pequena alteração no pico D, característico das ligações sp3, como mencionado anteriormente. Esta alteração pode ser característica de um pequeno grau de impurezas presentes no material tratado. O pico G, característico das ligações sp2 apresentou uma maior alteração, indicando uma provável formação de grupos químicos na superfície devido a uma alteração na estrutura cristalina do material. Isto indica a realização do objetivo do tratamento, pois com a formação de grupos químicos na superfície dos nanotubos irá ocorrer uma maior interação com o polímero, havendo assim uma melhor distribuição das propriedades dos nanotubos, deixando o compósito com características mais homogêneas. De acordo com a Figura 23, os picos relativos aos tempos de 1 e 3 minutos se apresentaram um pouco diferentes do esperado, porém, pode-se entender este resultado pelo fato deste tratamento atacar a superfície não havendo uma oxidação 49 homogênea. Portanto, se as amostras utilizadas para a análise de espectroscopia Raman não estavam na parte superior, os nanotubos analisados podem ter sofrido pouca ou nenhuma oxidação. Esta é uma característica do tratamento que deve ser levada em conta, pois não há uma oxidação por igual no material. O Quadro 6 se refere ao percentual de modificações ocorridas nos nanotubos antes e após o tratamento, comprovando o aumento destas de acordo com o aumento do tempo, porém para o tempo de 8 e 16 minutos este aumento relativo as razões entre as bandas D e G se mantiveram constante, fato que pode ser explicado devido a oxidação não ser homogênea, como explicado anteriormente. Quadro 6: Razão entre picos característicos e percentual de modificação 5.3.2 Razão ID/IG Aumento percentual (%) Material Comercial 0,16 -- Tratado 0,5 minutos 0,158 1,4 Tratado 1 minuto 0,18 12 Tratado 3 minutos 0,185 15 Tratado 8 minutos 0,199 41 Tratado 16 minutos 0,2 41 Espectros de FTIR Devido à dificuldade para a realização do experimento, por se tratar de um material relativamente novo, as analises de FTIR em nanotubos oxidados sob plasma não obtiveram resultados confiáveis. De acordo com a Figura 24 os picos relativos ao CO2,, (660 e 2338cm-1), são melhor observados do que os picos referentes as ligações C=O e C=C representadas respectivamente pelos picos em 1750 e 1450 cm-1. Isso pode ter sido causado pela utilização de uma técnica inadequada, transmissão, e até mesmo impurezas presentes no ambiente. 50 Figura 24: Sobreposição de espectros de infravermelho em diferentes tempos de tratamento, nos nanotubos de carbono. 5.3.3 Analise da dispersão e distribuição As Figura 25 e Figura 26 apresentam um comparativo geral entre os solventes testados e os diferentes tempos de tratamento sob descarga de plasma AC. O aumento relativamente pequeno (100X) foi utilizado visando uma noção macro da distribuição dos aglomerados, bem como os tamanhos aproximados dos mesmos. Pela análise das Figura 25 e Figura 26 é possível extrair informações relevantes em termos da alteração das características químicas da superfície das amostras tratadas. O principal e mais forte indício da mudança do caráter polar foi a melhoria acentuada na distribuição dos nanotubos em água, tendo início com 3 minutos, melhorando com 8 minutos e 51 tendo resultados comparáveis ao DMSO e DMF quando expostos por 16 minutos em atmosfera oxidante. Analisando o comportamento em clorofórmio, que apresenta caráter apolar, oposto a água, o aumento dos tempos de tratamento proporcionan um maior número de aglomerados. Isto pode ser explicado pelo fato de que quanto maior o tempo de exposição ao tratamento, mais polar o material se apresenta melhorando assim a dispersão em solventes com estas características como a água oxigenada e água destilada. De modo geral, o DMF e DMSO mantiveram características favoráveis de distribuição para todos os tempos de tratamento. As Figura 27 e Figura 28 apresentam as mesmas relações de solventes e tratamentos da figura anterior, porém com maior aumento (500X). Neste aumento têm-se uma melhor visualização da dispersão obtida após a agitação sob ultrassom. Seguindo a análise realizada anteriormente, verificou-se que além de melhorar a distribuição das amostras, o material tratado por maiores tempos em Glow, apresentou uma melhoria na dispersão em solventes polares, estes apresentaram comportamento comparável a outros solventes bons, como o DMSO. 52 Figura 25:Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). 53 Figura 26: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (100X). 54 Figura 27: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). 55 Figura 28: Comparativo de distribuição nos diferentes solventes tempos de tratamento. Aumento (500X). 56 Analise estatística dos comprimentos dos nanotubos antes e após 5.3.4 o tratamento por plasma AC Foi realizada a medição dos comprimentos dos nanotubos de carbono através das imagens obtidas por microscopia ótica, objetivando da verificação modificação em relação a todos os tempos de tratamento. Essa modificação se deve a oxidação sofrida pelo material durante o tratamento. O Quadro 7 apresenta os valores de amostragem obtidos para cada grupo estudado, bem como os valores de média e o desvio padrão fornecidos com auxílio de software específico. As médias obtidas foram relativamente próximas e os desvios padrões não apresentaram valores muito dispersos, revelando medidas de certa forma coerentes com as reais. Quadro 7: Resultados da análise estatística analisando os tratamentos. Tempo de Amostragem Média (µm) Desvio Padrão 0,5 minuto 400 4,09775 1,42721 1 minuto 400 3,9262 0,840346 3 minutos 400 4,1988 0,927479 8 minutos 400 4,42015 1,33089 16 minutos 400 4,25695 0,816973 Total 2000 4,17996 1,1105 Tratamento As medidas obtidas para a amostra não tratada não precisou ser conjuntamente analisada novamente, pois já foi realizada para o tratamento de refluxo e é um dados fornecido pelo fabricante, ou seja, cerca de 7µm. A média geral obtida para todos os tratamentos mostra um fato importante, o comprimento médio dos MWCNT mesmo expostos a tempos muito reduzidos sob descarga por plasma, tem seus comprimentos diminuidos significativamente, cerca de 40% em relação ao tamanho inicial. 57 O Quadro 8 apresenta a análise de variância relacionando os grupos de tratamento. Evidenciando uma diferença estatisticamente significativa entre as médias de comprimento (com 95% de probabilidade), revelando que o incremento do tempo de exposição altera as características estruturais do material, quebra de ligações neste caso. Teoricamente, as médias obtidas deveriam reduzir com o aumento dos tempos de tratamento, porém como a redução inicial foi muito elevada, pouca variação no comprimento foi verificada para tempos maiores. Quadro 8: Análise de variância entre os diferentes grupos de tratamentos. Soma dos GL Quadrados Média dos Razão F Valor P 11,18 0,0000 Quadrados Entre os grupos 54,0504 4 13,5126 Dentro dos grupos 2409,92 1994 1,20859 Aplicando novamente o método de comparação múltipla das médias, o Quadro 9 apresenta a checagem dos principais pares relacionando os tempos de tratamento. Foram apresentados apenas os grupos considerados mais relevantes, sendo, os extremos (0,5 – 16min), com pequena variação (0,5 – 1min) e quando esta é grande (8 – 16min). Verificou-se então que existe uma diferença significativa entre os tempos de tratamento, fato que tem influência negativa para o tratamento em questão, visto que nanotubos com pequena razão de aspecto proporcionam menores propriedades mecânicas e elétricas quando utilizados em compósitos. Quadro 9: Comparação entre grupos. Grupos Diferença (+/-) Limite 0,5 – 1 min *0,1715 0,152361 8 – 16 min *0,1632 0,152361 0,5 – 16 min *-0,1592 0,152361 *Denota diferença estatisticamente significante. 58 A Figura 29 faz referência à dispersão encontrada nas medições. As dispersões verificadas foram pequenas e não ocorreram indícios de aumento ou Resposta (micrometros) diminuição da mesma em relação aos tempos de tratamento praticados. 10 8 6 4 2 0 16min. 8min. 0,5min. 3min. 1min. Figura 29: Dispersão de medições por tempos de tratamento 5.3.5 Correlação entre comportamento de decantação e tratamento de superfície A Figura 30 apresenta uma compilação das imagens obtidas a partir dos frascos em repouso em diferentes tempos, sendo: estado inicial, 2, 5, 9, 24 e 48 horas. A disposição dos frascos da esquerda para direita ficou na seguinte ordem de solventes: água destilada, água oxigenada, álcool isopropílico, acetona, DMSO, DMF, THF e clorofórmio. Fica nítido a melhoria na afinidade química, pelo menos inicial, entre os nanotubos de carbono e a água após os tratamentos superficiais, verificados principalmente após 8 e 16 minutos. Mesmo apresentando melhor homogeneização inicial, a taxa de decantação verificada ainda se manteve alta para solventes de caráter mais polar. O clorofórmio apresentou comportamento oposto em termos, principalmente, de decantação. Já que no início verificou-se uma suspensão homogênea para os diferentes tempos. 59 Em termos gerais, a taxa de decantação foi maior à medida que os tempos de tratamento foram aumentados. As variações ocorridas podem ser relacionadas as modificações superficiais e afinidade química com o solvente. 60 Figura 30: Análise visual da taxa de decantação nos nanotubos com e sem modificação. Disposição dos frascos de baixo para cima: água destilada, água oxigenada, álcool isopropílico, acetona, DMSO, DMF, THF e clorofórmio. 61 5.3.6 Síntese dos resultados O tratamento superficial sob descarga de plasma AC apresentou um potencial de modificação muito grande, já que até mesmo tempos muito reduzidos, cerca de 30 segundos, são suficientes para gerar alterações significativas em termos estruturais e superficiais. O objetivo de gerar a formação de grupamentos polares superficiais foi alcançado e comprovado devido as alterações verificadas nos comportamentos em diferentes solventes. A melhoria das propriedades de distribuição e dispersão em água, foi o maior indício do aumento da polaridade. A diminuição elevada nos comprimentos finais da carga consistiu em um resultado extremamente negativo, uma vez que diminuindo a razão de aspecto do material, as propriedades de reforço que seriam as mais interessantes neste caso, ficariam prejudicadas. Caberia um estudo mais detalhado dos parâmetros de processo empregados, pois a técnica apresenta um potencial muito promissor, bastando apenas um ajuste mais refinado visando a menor alteração estrutural, principalmente em tamanho, dos nanotubos de carbono. 62 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1 Conclusões Através deste estudo pode-se constatar grandes diferenças entres os tratamentos de superfície de refluxo e de oxidação por plasma. As amostras obtidas foram submetidas a algumas técnicas de caracterização se mostrando bastante diferentes. Como exemplo pode-se citar a espectroscopia Raman, para o tratamento de refluxo de 15h, neste houve uma modificação de 21%, enquanto na oxidação por plasma, para o tempo de 8 minutos, a oxidação foi de 41%, resultado bastante significativo, pois quando se trata de um processo industrial o tempo é um fator de grande importância. Outro dado que evidencia a eficiência dos tratamentos é a analise de dispersão, distribuição e decantação constatando que no tratamento de refluxo houve uma alteração estrutural, porém, esta alteração para a oxidação por plasma se verifica extremamente superior. Fato apurado com auxilio dos solventes, pois o nanotubo de carbono por se tratar de um material com características polares deveria ter uma afinidade maior com o clorofórmio, como visto no refluxo, porém com tempos de tratamento entre 8 e 16 minutos no glow sê comprova que o material começa a mudar a polaridade, pois nota-se aglomerados no clorofórmio e enquanto a água oxigenada, apolar, apresenta boa dispersão. CNT vêm se difundido devido a suas excelentes propriedades mecânicas e elétricas, as quais podem estar em risco com o uso de tratamentos de superficie intensos, pois se a razão de aspecto deste material diminuir, suas propriedades podem sofrer alterações. Através da análise estatística os nanotubos que apresentavam o comprimento aproximado de 7,7 micrometros passaram para 6,97 no tratamento de refluxo. Tal alteração revela que houve modificação no mesmo, porém não tão significativa. Para o tratamento com o glow o comprimento do material ficou em torno de 4,97 micrometros, se mostrando bastante expressivo, pois trata-se de uma diminuição de 40%. 63 A oxidação por plasma mostra-se bastante efetiva, porém seriam necessários ajustes no equipamento para que uma oxidação superficial em nanotubos de carbono se tornar interessante. Sendo assim o método de tratamento que se apresentou mais adequado foi o CNT tratado 15 horas pela técnica de refluxo, devido aos porcentuais de modificação serem razoáveis e por ter apresentado um grau de modificação dentro do esperado. Para o comparativo de condutividade elétrica, os MWCNT não se mostraram superiores aos materiais carbonosos convencionais. Ficou evidenciado que para o tipo de nanotubo utilizado no trabalho, a grafite apresenta resultados relativamente melhores e custo incomparavelmente inferior. 6.2 Sugestões para trabalhos futuros Seria interessante para trabalhos futuros: • Analisar o tratamento de refluxo com o uso de um peróxido de hidrogênio mais concentrado. • Realizar tratamento de oxidação superficial através de microondas. • Repetir os testes de condutividade elétrica para os nanotubos tratados. 64 7 REFERÊNCIAS ANTUNES, E. F., LOBO, A. O., CORAT, E. J., TRAVA-AIROLDI, V. J., MARTIN, A.A., VERISSIMO, C. Comparative study of first- and second-order Raman spectra of MWCNT at visible and infrared laser excitation. Carbon 2006. ARAUJO, O. A., BOTTER, W. J., JESIEL , CARVALHO, J. F.,VERDE, E. L., Construção de uma fonte de correntte e de uma sonda para medida de condutividade pelo método da sonda de quatro pontas, Quimica Nova, 2003 BANKS, C. E.; COMPTON, R. G.. 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