A IMPORTÂNCIA DAS INCUBADORAS DE EMPRESAS PARA O DESENVOLVIMENTO
DO EMPREENDEDORISMO E PARA A CRIAÇÃO DE NOVAS EMPRESAS: O CASO DA
FUNDAÇÃO EDUCERE DE CAMPO MOURÃO-PR
Josimari de Brito Morigi, (G), UNESPAR/FECILCAM, [email protected]
Adalberto Dias de Souza, (OR), UNESPAR/FECILCAM, [email protected]
INTRODUÇÃO
As micro e pequenas empresas integram uma fatia percentual significativa no total de
empresas brasileiras. Elas ainda são responsáveis por empregar mais da metade da população
economicamente ativa. Destarte, possuem um papel importante no desenvolvimento
econômico e social do país.
No Brasil o índice de mortalidade de micro, pequenas e médias empresas (MPME’s),
sobretudo nos cinco primeiros anos de vida ainda é muito elevado. Apesar de algumas melhoras terem
acontecido nas últimas décadas, tais como redução nos custos e na quantidade de documentação
exigida, e consequentemente, no tempo necessário para se abrir uma nova empresa, maior acesso a
linhas de créditos, programas de capacitação, fornecimento de consultorias, etc., o empresariado
brasileiro ainda encontra limitações desde o processo inicial de abertura da nova empresa e também
posteriormente, quando precisa de apoio financeiro e econômico para que a sua empresa venha a
crescer e se estabilizar no mercado.
Entretanto, não podemos esquecer que muitas vezes, o fracasso do empreendimento está
relacionado ao despreparo do próprio empresário, pois muitos decidem dar início a um novo
empreendimento sem nenhum tipo de preparo ou informação, outros ainda, atuam de maneira
informal, prejudicando a manutenção e a sustentabilidade da empresa.
Além da criação e implementação de diversas políticas e programas de apoio às micro,
pequenas e médias empresas, nas últimas décadas, as incubadoras de empresas têm-se mostrado como
uma maneira interessante e eficaz para a redução do índice de mortalidade de empresas no Brasil.
O presente estudo tem por objetivo fazer uma reflexão a respeito da importância das
incubadoras de empresas para a cultura do empreendedorismo e para a criação de novas empresas,
com foco direcionado para a Fundação Educere que é um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento na
área de biotecnologia, cujo foco principal é a incubação de empresas, bem como garantir um número
maior de mão de obra especializada disponível para trabalhar nas empresas que integram atualmente o
Arranjo Produtivo Local de Insumos e Equipamentos Médicos, Odontológicos e Hospitalares de
Campo Mourão, também conhecido como APL da saúde de Campo Mourão.
O importante papel desenvolvido pelas incubadoras de empresas, tanto no que diz respeito ao
incentivo a geração de empresas competitivas, como na formação de empreendedores, e também a
escassez de estudos que abordem a temática das incubadoras de empresas, especialmente com foco
direcionado para a Fundação Educere de Campo Mourão, motivou a realização deste estudo.
Os procedimentos metodológicos adotados para a pesquisa foram: a pesquisa bibliográfica em
livros, artigos científicos, teses, dissertações e diagnósticos setoriais. E o levantamento de dados junto
a Fundação Educere e também o levantamento de dados secundários junto aos órgãos de pesquisa.
Para alcançar o objetivo proposto, o artigo apresenta, inicialmente, o amparo analítico para o
estudo, abrangendo os principais conceitos que articulam este texto, principalmente no que tange a
concepção de incubadoras de empresas. Em seguida, há um recorte, balizando a investigação do
presente estudo, para explicar sobre a importância da Fundação Educere para a cultura do
empreendedorismo, para a criação de novas empresas e para o desenvolvimento das empresas que
integram o Arranjo Produtivo de Insumos e Equipamentos Médicos, Odontológicos e Hospitalares,
também conhecido como APL da saúde de Campo Mourão. Por fim, têm-se as conclusões do artigo.
DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E IMPORTÂNCIA DE UMA INCUBADORA DE
EMPRESAS
Nas últimas décadas observa-se na economia brasileira uma evidente aceleração do
movimento de empreendedorismo. Muito já foi debatido sobre sua importância, e os estudos
realizados na área mostraram como o papel do empreendedor não é apenas o de fundador de novas
empresas, mas sim como o fator e uma ferramenta de suma importância para a ascensão da economia
nacional (CHIAVENATO, 2007).
Em meio aos diversos agentes de desenvolvimento econômico regional e de incentivo ao
empreendedorismo, podem ser destacados no Brasil alguns fatores fundamentais para o sucesso
empresarial dos empreendedores. Em decorrência de sua importância imponente, destaca-se em
primeira análise o projeto das Incubadoras de Empresas. Considerando o elevado índice de
mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil, é evidente a importância do suporte provido
pelas Incubadoras no paradigma econômico nacional, visto que asseguram uma contribuição
significativa para que novos negócios sobrevivam mesmo diante de um cenário conturbado e adverso
como o brasileiro.
Segundo dados do estudo intitulado Demografia das Empresas, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2012), a partir de dados do Cadastro Central de
Empresas (Cempre), o número de empresas registradas em 2010 excedeu o de 2009 em 6,1%, o que
evidencia a entrada de 261,7 mil novas empresas no mercado. Sendo que a grande maioria das
empresas novatas era de pequeno porte, mas, foram as empresas maiores que demonstraram ter
capacidade de resistir por mais tempo no mercado. Ainda segundo o IBGE, com base nos dados
estatísticos obtidos de 2007 a 2010, após três anos de existência, 48, 2% das empresas não sobreviveu.
De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –
SEBRAE (2013), cerca de 30 % das micro e pequenas empresas fecham suas portas antes do terceiro
ano de vida, principalmente em consequência da falta de planejamento na abertura do negócio, falta de
informações/conhecimentos do empresariado sobre o empreendimento, má administração e maus
investimentos, dentre outros. Com o intuito de tentar diminuir o índice de mortalidade de empresas,
surgiu a ideia de implementar um projeto que consiste em uma parceria entre ambientes de ensino e
empresas. Tal projeto ficou conhecido como Incubadoras de Empresas.
A Rede Paranaense de Tecnologia e Inovação – Reparte (2013), menciona outros fatores que
acarretam o índice elevado de mortalidade de empresas, que são: as dificuldades burocráticas, que
incluem uma legislação complexa, exigente e que origina altos custos burocráticos, tributários, de
produção e comercialização, além das complexidades concorrenciais para os micro e pequenos
empresários que atuam em mercados oligopolizados, onde empresas de grande porte determinam
prazos e condições de pagamentos para a aquisição de produtos e fornecimento de insumos. Ademais,
as altas taxas de juros sobre os empréstimos, superiores às que pagam as grandes empresas, bem como
as exigências dos emprestadores por garantias reais, que na maioria das vezes os micros e pequenos
empresários não podem oferecer, deixam-nos sem acesso ao crédito.
Vale ressaltar que, o processo de incubação é considerado um dos mecanismos mais eficientes
para disseminar e desenvolver novos empreendimentos. Segundo dados do relatório do MCT –
Ministério da Ciência e Tecnologia, no Brasil e no mundo as estatísticas evidenciam que a taxa de
mortalidade de empresas que passam pelo processo de incubação é reduzida de 70% para 20% em
comparação com as empresas que não passam por esse processo.
Entretanto, cabe a ressalva de que as incubadoras de empresas, assim como qualquer outra
organização, precisam elaborar um Plano de Negócios, uma vez que, este Plano representa um
instrumento essencial para um planejamento adequado e eficiente e ainda serve como ferramentapadrão solicitada pelas entidades de fomento às incubadoras para análise e concessão de recursos
financeiros e econômicos, fundamentais a sua operação.
Antes de destacarmos a importância das incubadoras de empresas para a criação de novas
empresas mais sólidas e competitivas no mercado, e a importância das mesmas para o
desenvolvimento do empreendedorismo, torna-se necessário trazer à baila a definição do termo
‘incubadora de empresas’.
De acordo com as informações da Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos e Tecnologias Avançadas - ANPROTEC (2013), uma incubadora de empresas é:
[...] uma entidade que tem por objetivo oferecer suporte a empreendedores para
que eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em
empreendimentos de sucesso. Para isso, oferece infraestrutura, capacitação e suporte
gerencial, orientando os empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais,
financeiros e jurídicos, dentre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma
empresa (ANPROTEC, 2013, p.01).
Já o Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI), sustentado pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), define incubadora como:
[...] um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e
pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou
de manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em
seus aspectos técnicos e gerenciais e que, além disso, facilita e agiliza o processo de
inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas. Para tanto, conta com um
espaço físico especialmente construído ou adaptado para alojar temporariamente
micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços e que,
necessariamente, dispõe de uma série de serviços e facilidades [...] (BRASIL, 2008,
p.01).
Conforme as informações do Instituto Nacional de Comunicações - INATEL (2013), as
incubadoras são organizações que podem apresentar vínculos com instituições de ensino públicas ou
privadas, prefeituras e ainda, iniciativas empresariais independentes. Ademais, o alicerce de
sustentação de um programa de incubação encontra-se consolidado na difusão da cultura
empreendedora, do conhecimento e da inovação.
Colaborando com o exposto, Medeiros (1996) explana que o conceito de incubadora está
profundamente atrelado a um núcleo que na maioria das vezes abriga microempresas de base
tecnológica, isto é, aquelas que têm no conhecimento seu principal bem de produção. Para Spolidoro
(1999, p. 12), “incubadora é um ambiente favorável à criação e o desenvolvimento de empresas e de
produtos (bens e serviços), em especial àqueles inovadores e intensivos de conteúdo intelectual
(produtos em cujo custo a parcela do trabalho intelectual é maior que a parcela devida a todos os
demais insumos)”.
Em relação à origem do termo ‘incubadora de empresas’, Menezes (2004) enfatiza que este
termo surgiu na década de 1950, no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Quando uma grande
empresa local veio a falir, e deixou um galpão de aproximadamente 80 mil metros quadrados sem
utilização. Um homem chamado Joseph Mancuso teve a ideia de adquirir o imóvel e transformar o
mesmo em um condomínio para pequenas empresas, com o intuito de viabilizar um novo negócio,
além de gerar empregos para as pessoas que haviam sido demitidas. À infraestrutura física das
instalações, Joseph Mancuso acrescentou um conjunto de serviços que poderiam ser compartilhados
pelas empresas ali instaladas, tais como secretaria, contabilidade, vendas, marketing, dentre outros;
reduzindo os custos operacionais das empresas e aumentando a competitividade delas. Uma das
primeiras empresas instaladas na área foi um aviário, o que atribuiu ao prédio a denominação de
"incubadora".
No Brasil, as primeiras incubadoras de empresas surgiram na década de 1980 e cresceram
abundantemente de lá pra cá. Lembrando que, a incubadora de empresas pioneira foi estabelecida na
cidade de São Carlos (SP), com quatro empresas instaladas e é considerada a mais antiga da América
Latina. Na mesma década outras incubadoras de empresas foram instituídas nas seguintes localidades:
Florianópolis, Curitiba, Campina Grande, Rio de Janeiro, Distrito Federal, dentre outras. E com a
criação da ANPROTEC em 1987, o movimento de criação de incubadoras tornou-se mais articulado e
organizado.
Segundo Medeiros et al. (1992, apud BAÊTA, 1999), no Brasil as incubadoras de empresas,
surgiram inicialmente vinculadas à universidades ou à centros de pesquisas, contudo, posteriormente
passaram a ser apoiadas por outras entidades.
No início da década de 1990, o SEBRAE passou a apoiar o movimento de criação de
incubadoras por meio de ações destinadas à sua implantação, desenvolvimento e fortalecimento, pois
acreditava que as incubadoras seriam uma importante ferramenta de apoio às micro e pequenas
empresas nacionais. Este apoio tem se viabilizado até os dias atuais através de uma série de ações
como acesso a produtos e serviços que o sistema oferece, além do repasse de recursos financeiros.
Atualmente, o Brasil possui o maior número de incubadoras na América Latina.
Segundo dados de um estudo realizado em 2011 pela ANPROTEC, em parceria com
o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil têm 384 incubadoras em operação,
estas abrigam 2.640 empresas, gerando 16.394 postos de trabalho. Essas incubadoras também já
graduaram 2.509 empreendimentos, que atualmente faturam R$ 4,1 bilhões e empregam 29.205
pessoas e, possuem 1.124 empresas associadas (residentes ou não no espaço físico da
incubadora, mas que usufruem da mesma infraestrutura e dos mesmos serviços). O mesmo
estudo apontou outro dado importante: 98% das empresas incubadas inovam, sendo que 28% com
foco no âmbito local, 55% no nacional e 15% no mundial. Além disso, o estudo evidencia que das
2.640 empresas incubadas do Brasil, 58% têm foco no desenvolvimento de novos produtos ou
processos resultantes de pesquisa científica e 38% atuam na inserção de arranjos produtivos
locais (APLs) de alta tecnologia. Um pouco mais da metade (52%) dessas firmas opera na
prestação de serviços, enquanto que 43% delas estão na área industrial e 5% na agroindústria.
Cabe ressaltar que, de maneira geral, o público alvo das incubadoras de empresas são os
empreendedores que tenham um projeto de negócio; micros e pequenas empresas em operação; micro
e pequenas empresas em fase inicial de funcionamento. No entanto, é importante ressalvar que para
participar de uma incubadora é preciso que o negócio apresente viabilidade econômica e técnica e
retorne um produto, serviço ou processo com diferencial competitivo, inovador e que se destaque
daquilo que já existe no mercado.
É importante enfatizar que o acesso às incubadoras de empresas acontece através de um
processo seletivo, caracterizado por regras pré-estabelecidas (que podem variar de incubadora para
incubadora). Geralmente os empreendedores interessados apresentam por meio de um documento, ou
de entrevista, e/ou mediante uma apresentação oral.) um Plano de Negócios ao Conselho de
Administração de Incubadoras, que irá avaliá-lo e decidir se será aprovado ou não. Aquele
empreendedor que tiver a proposta aprovada estará apto para instalar a sua empresa na incubadora, por
meio da assinatura de um contrato (SEBRAE/SC, 2009).
No que concerne ao processo seletivo realizado pelas incubadoras, o SEBRAE/SC (2009),
expõe que cada incubadora possui seus próprios critérios para selecionar os empreendimentos que
serão incubados. Tais critérios são decorrentes das decisões tomadas ainda no momento da modelagem
e do planejamento da própria incubadora. De maneira geral, as empresas, os empreendedores e os
empreendimentos precisam atender no mínimo os seguintes critérios: a) grau de inovação de produtos
ou serviços a ser desenvolvidos; b) viabilidade técnica e mercadológica; c) consistência das
informações apresentadas no Plano de Negócios, d) empresa de um setor de desenvolvimento
tecnológico já existente; e) qualidade e capacitação da equipe que irá compor o empreendimento; f)
grau de motivação e comprometimento dos empresários com o empreendimento; g) capacidade de
investimento financeiro próprio ou de terceiros.
Conforme as informações da ANPROTEC (2013) existem diferentes tipos de incubadoras: as
de base tecnológica (abrigam empreendimentos que realizam uso de tecnologias); as tradicionais (dão
suporte a empresas de setores tradicionais da economia); as mistas (aceitam tanto empreendimentos de
base tecnológica, quanto de setores tradicionais) e as sociais (que têm como público-alvo cooperativas
e associações populares).
Em relação aos estágios dos empreendimentos incubados, o SEBRAE/SC (2010), destaca que
uma incubadora pode abrigar e/ou apoiar empreendimentos que estejam nos seguintes estágios: préincubação, incubação e pós-incubação. Lembrando que, o estágio de pré-incubação é caracterizado por
um determinado período de tempo, disposto ao empreendedor para que ele possa finalizar sua ideia de
negócio utilizando todos os serviços disponibilizados pela incubadora. O estágio de incubação por sua
vez, refere-se ao processo de apoio ao desenvolvimento de pequenos empreendimentos já existentes
ou que estejam em constituição, que tenham elaborado um plano de negócios bem estruturado, que
tenham dominado a tecnologia e o processo produtivo; e que possuam um capital mínimo necessário
para dar suporte ao início de suas operações e faturamento; Além disto, nesta fase, as empresas
normalmente já iniciam com uma figura jurídica e com produtos e/ou serviços disponíveis para a
serem comercializados. Por fim, tem-se o estágio de pós-incubação, no qual a incubadora presta apoio
à fase de consolidação da empresa em seu mercado de atuação, com o acréscimo do número de
clientes; os empreendimentos recebem a sua graduação na incubadora, mas permanecem associadas a
mesma, obtendo suporte por meio de seus serviços de assessoria na gestão técnica e empresarial.
No que diz respeito aos objetivos principais dos programas de incubação, o SEBRAE/SC
(2009), de forma sintetizada, elenca os seguintes: a) ser um ‘lócus de referência em inovação’,
apoiando o desenvolvimento e consolidação de empresas inovadoras; b) transformar ideias em
produtos, processos ou serviços, que resultem em empreendimentos competitivos; c) desenvolver
novos produtos e processos; d) atualizar os empreendimentos por meio da aplicação de conhecimentos
tecnológicos; e) criar, desenvolver e consolidar empresas competitivas que venham a contribuir para o
fortalecimento da tecnologia brasileira e o desenvolvimento sócio-econômico nacional; f) promover
um salto quantitativo na geração de postos de trabalho e renda; g) agregar valor aos produtos e
serviços das micro e pequenas empresas (MPE’s).
Já para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) as incubadoras de empresas apresentamse como uma ferramenta interessante na tentativa de amortecer o alto índice de mortalidade de
empresas nos cinco primeiros anos de vida:
[...] em um contexto onde o conhecimento, a eficiência e a rapidez no processo de
inovação passam a ser reconhecidamente os elementos decisivos para a
competitividade das economias, o processo de incubação é crucial para que a
inovação se concretize em tempo hábil para suprir as demandas do mercado. Em
vista disso, é factível afirmar que a incubadora de empresas pode cumprir com
eficácia e eficiência o papel nucleador do processo de criação de empresas sólidas
(MCT, 2000, p. 4).
Complementando as abordagens anteriores, Souza e Camargo (2010) salientam que o objetivo
base de uma incubadora de empresas é a redução do percentual de mortalidade das MPE’s, através do
apoio estratégico durante os primeiros anos do empreendimento. No entanto, a sua finalidade maior,
está na preparação adequada das novas empresas para que elas possam manter-se competitivamente no
mercado. Alguns autores, tais como (Chaves e Silva 2004); (Quadros 2004), Luzzardi; Oliveira; Duhá
(2006) ressaltam que os empreendedores usam as incubadoras como catalisador das necessidades para
o desenvolvimento de suas capacidades, promovendo os objetivos das incubadoras na minimização
dos altos índices de fracasso e no incentivo para o nascimento de novos negócios.
Conforme salienta Uggioni (2002) as incubadoras têm como escopo nos processos de
incubação: a redução da taxa de mortalidade das empresas; geração de inovação tecnológica; geração
de novos postos de trabalho; transferência de tecnologia entre universidades, centros de pesquisa
tecnológica e novos empreendimentos; propiciar taxas de crescimento rápido entre os novos
empreendimentos incubados e influenciar a cultura tecnológica da região onde está inserida.
Contribuindo com o exposto, Dornelas (2002), ressalta que as incubadoras de empresas
propiciam um ambiente delineado para abrigar as empresas incubadas, equipamentos e estruturas
necessárias de suporte compartilhadas, como telefonia, Internet, fax e suporte administrativo; conta
também com uma assessoria em marketing, finanças, jurídico, etc., muitas vezes terceirizada pelas
incubadoras de empresas e que não poderiam ser utilizadas por empreendedores que ainda estão
entrando no mercado. Estas ações de apoio impulsionaram de modo acelerado o movimento de
empreendedorismo no Brasil, tornando natural a instituição de sistemas de suporte aos
empreendedores, representados pelas incubadoras de empresas.
Segundo informações da ANPROTEC (2013), nas incubadoras de empresas encontram-se as
empresas residentes ou incubadas e as empresas graduadas. Lembrando que, as empresas residentes ou
incubadas correspondem aos empreendimentos em processo de incubação. Fazem uso da
infraestrutura, dos equipamentos e dos serviços oferecidos pela incubadora, ocupando espaço físico
desta por tempo limitado. Já as empresas graduadas, correspondem aos empreendimentos que já
passaram pelo processo de incubação, permanecendo ou não no mercado após esse período. O prazo
para que cheguem ao mercado varia de dois a seis anos.
No tocante aos benefícios que as incubadoras de empresas podem trazer aos empreendedores,
a ANPROTEC (2013), esclarece que, ao proporcionar suporte ao empreendedor, a incubadora permite
que o seu empreendimento tenha maiores chances de ser bem sucedido. Além de oferecer condições
favoráveis de infraestrutura e capacitação dos empreendedores, as empresas por estarem situadas em
um espaço onde há diversos empreendimentos inovadores do mesmo porte, contam com várias
conexões, que beneficiam o crescimento do negócio e o acesso ao mercado.
Ainda de acordo com a ANPROTEC (2013), quando se trata de empresas de base tecnológica,
os empreendedores possuem, ainda, oportunidade de acesso a universidades e instituições de Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D), com as quais muitas incubadoras encontram-se vinculadas. Isso contribui
para a redução de custos e riscos do processo de inovação, pois oportuniza o acesso a laboratórios e
equipamentos que exigiriam alto investimento.
Segundo a ANPROTEC (2002), no Brasil a maioria das incubadoras de empresas é de
natureza tecnológica e a introdução e difusão de novas tecnologias têm permitido às empresas
participar de modo mais ativo no novo cenário econômico. Além disso, a criação de empresas de base
tecnológica tem acontecido principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, em localidades que
possuem infraestrutura científica e tecnológica de qualidade, disponibilidade de recursos humanos
qualificados e proximidade de pólos industriais.
A Fundação Educere de Campo Mourão, objeto de nosso estudo, é uma incubadora de
empresas de base tecnológica e além de realizar incubação de empresas, também atende
principalmente as empresas que integram atualmente o APL da saúde do referido município, dando
suporte técnico para as mesmas. No item seguinte do artigo apresenta-se um enfoque direcionado para
a análise da importância desta Fundação para a criação de novas empresas e também para o incentivo
ao empreendedorismo e a criação de novos negócios.
A FUNDAÇÃO EDUCERE DE CAMPO MOURÃO-PR
A Fundação Educere de Campo Mourão foi criada no ano de 1997 pelo empresário Ater
Carlos Cristófoli, com a finalidade principal de suprir a falta de mão de obra especializada no
Município. A Educere é um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento na área de biotecnologia e
atualmente, seu foco principal é a incubação de empresas a partir de um projeto social inovador que
atua na formação de jovens com potencial empreendedor. Bem como, a qualificação de mão de obra
especializada para trabalhar principalmente, nas empresas que integram atualmente o APL da saúde
de Campo Mourão. Além do mais, a Fundação fornece suporte para o desenvolvimento de
novos negócios voltados para a difusão e transferência de tecnologia na área biomédica, e é
referência em pesquisa e desenvolvimento de produtos inovadores e que agregam valor
tecnológico, que estão presentes em todo o País e também no cenário internacional, uma vez
que muitos produtos são exportados para diversos países da América, da Ásia e da Europa.
Segundo Morigi e Souza (2012), a Fundação Educere é uma fundação privada sem fins
lucrativos e é mantida principalmente pela empresa Cristófoli Biosegurança, que também pertence ao
empresário Ater Carlos Cristófoli. No entanto, a Fundação também recebe um percentual do
faturamento das empresas graduadas, oriundas da Fundação, como forma de devolução. Desta forma,
a Fundação Educere pode gerar mais mão de obra qualificada, novos talentos e novas empresas.
No que concerne aos cursos ofertados pela Fundação, todos são gratuitos e alguns deles
direcionados especificamente para alunos de escolas públicas, que tenham entre 14 e 17 anos e que
estejam estudando regularmente, que apresentam bom rendimento escolar e sem repetência. Essa
característica segundo Ater Cristófoli, representa uma importante contribuição social com jovens que
talvez não tivessem tal oportunidade.
Cabe enfatizar que, na Fundação Educere os alunos recebem além do conhecimento específico
industrial, instruções sobre gestão de empresas e motivação para o empreendedorismo por meio de
atividades sócio-educacionais de caráter multidisciplinar. Deste modo, aqueles alunos que têm talento
para a produção industrial, mas que não apresentam habilidades de gestão podem se tornar excelentes
colaboradores industriais. E aqueles que possuem também habilidade de gestão, normalmente acabam
tornando-se empreendedores e abrindo a sua própria empresa.
Lembrando que, na Fundação Educere a qualificação de futuros empresários dá prioridade às
competências que envolvem tomadas de decisões sócio-políticas, voltadas para a melhoria da
qualidade de vida da população local e regional e para o aumento da geração de empregos. Além disto,
a experiência obtida pelos jovens durante sua permanência na Fundação também os torna profissionais
requisitados no mercado de trabalho local.
Dentre os cursos ofertados pela Fundação destacam-se: Cursos de eletrônica, mecânica e
escultura clássica; Formação complementar: aulas de neurolinguística, palestras, viagens, visitas
técnicas, e atividades extras que possam despertar nos jovens o interesse pela pesquisa e
desenvolvimento; Curso de extensão em eletrônica, pós-médio para adultos, realizado em parceria
com o SENAI de Campo Mourão. E ainda, por meio do estágio remunerado a Fundação também
disponibiliza oportunidades para muitos alunos melhorarem a sua qualificação, enquanto atuam na
elaboração de seus produtos. Além disso, a Fundação oferece aos jovens em situação de risco que
fazem parte do Programa Agente Jovem mantido pelo Município e pela Polícia Militar, cursos
gratuitos de formação nas áreas de informática básica, circuito eletrônico básico e Auto CAD.
Conforme as informações da Fundação Educere (2013), a infraestrutura da mesma é
constituída por: laboratórios de eletrônica e mecânica; salas individuais para empresas; salas de aula;
sala de artes e escultura; sala de reunião; administração; área de lazer; recepção e estacionamento. E o
espaço da própria Fundação é inteiramente disponibilizado para que os empreendedores que possuem
suas empresas ali incubadas possam aplicar as técnicas mais modernas na condução de seus produtos e
negócios. Além das melhores instalações, a Fundação também dispõe de uma equipe altamente
qualificada e preparada para dar suporte aos alunos e jovens empreendedores, para que estes possam
ampliar seu potencial com o desenvolvimento de produtos inovadores para o mercado biomédico. A
base tecnológica disponibilizada pela Educere é permeada por organização, criatividade e dedicação à
pesquisa. Engenheiros de várias áreas se juntam às iniciativas e contribuem para a formação dos
futuros empresários. Ademais, o suporte oferecido pela Fundação também envolve apoio
mercadológico para a colocação dos novos produtos junto à clientes potenciais. Em compensação a
todo o suporte recebido, todas as empresas que saíram do projeto de incubação reinvestem parte do
seu faturamento para o desenvolvimento de novas pesquisas da Fundação.
Além dos recursos econômicos provenientes das empresas graduadas, é importante elucidar
que a Educere também recebe recursos especiais direcionados principalmente para o desenvolvimento
de pesquisas, de institutos nacionais preocupados com o desenvolvimento socioeconômico do País,
tais como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPQ). Os bons resultados apresentados pela escola da Fundação ao longo
dos dezesseis anos de atuação, despertou também o interesse de outras organizações que se mostraram
interessadas em colaborar com esta iniciativa inovadora. Na lista de parceiros estão duas empresas do
Sistema FIEP – Federação da Indústria do Estado do Paraná, o SESI-PR e o SENAI. A Educere
também firmou parcerias com algumas instituições públicas e privadas, das quais recebe apoio:
Cristófoli Biossegurança; Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR; Faculdade
Integrado; UNESPAR/FECILCAM; Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão ACICAM; SEBRAE; AME Consultoria, dentre outras (FUNDAÇÃO EDUCERE, 2013).
De modo geral, o processo de seleção de empresas para o processo de incubação é feito de
maneira criteriosa, pois um processo mal formulado pode levar a incubadora a admitir
empreendimentos que não sejam harmônicos com sua missão, colocando em risco o sucesso da
própria incubadora. Na Fundação Educere o processo de seleção também é bem criterioso e leva-se em
consideração o seguimento de atuação das empresas candidatas, o potencial de crescimento das
mesmas e também é analisado o Plano de Negócios de cada empresa candidata, para verificar se o
mesmo está bem elaborado e se o empreendimento é de fato viável. As empresas aprovadas no
processo de seleção firmam um contrato de incubação com a Educere e podem manter-se incubadas
por um prazo médio de duração de dois anos, porém em caso de necessidade este prazo pode ser
prorrogado por mais um ano. Quando a empresa incubada já percorreu todas as etapas do processo de
incubação e já se mostra apta para enfrentar o mercado, com uma instalação física própria, ela é então
considerada uma empresa graduada. Nesta etapa, a empresa já graduada pode continuar mais um ano
no programa de pós-incubação para usufruir dos serviços da incubadora, porém, sem permanecer
instalada na incubadora.
De acordo com dados obtidos junto à Fundação Educere, o número de empresas originadas
pelo sistema de incubadora da própria Fundação totaliza 12 empresas de base tecnológica na área de
insumos e equipamentos para a área da saúde, que em conjunto empregam mais de 140 pessoas no
município de Campo Mourão, cooperando para o desenvolvimento econômico e social do município e
conseguintemente, para a melhoria da qualidade de vida da população. Além disso, essas empresas
deram impulso ao reconhecimento do Arranjo Produtivo Local de insumos e equipamentos médicos,
odontológicos e hospitalares no município.
Ainda de acordo com a Educere, atualmente há seis empresas incubadas na Fundação: a
Medstorm cujo seguimento está direcionado para a produção de equipamentos e máquinas de
hemodiálise; a Da Capo que também desenvolve equipamentos e máquinas para a área médica, com
destaque para a produção de equipamentos de hemodiálise e equipamentos para serem utilizados em
cirurgias vasculares; a Efraim que atua no ramo de design industrial; a Aidel que é uma empresa
prestadora de serviços, especificamente na área de Marketing; a Pettlizze que produz equipamentos
para pet shop; a Eletrolizze que produz eletrodomésticos, e a Aqua que atua no desenvolvimento de
biocombustíveis. E existem projetos em andamento para a incubação de mais duas empresas.
Em relação aos produtos desenvolvidos até o presente momento, pelas empresas que passaram
pelo processo de incubação na Educere, destacam-se: Clean-Test - indicador biológico autocontido
utilizado para monitoramento de ciclos de esterilização a vapor; QUALITY 1 - Reprocessadora
Automática de Dialisadores - é uma estação automática para reprocessamento de filtros de
hemodiálise; STERN 6 - Banho-Maria - para uso universal nos mais variados tipos de laboratórios em
aplicações sorológicas, clínicas e analíticas; Biojato - destinado a profilaxia dos dentes, utilizado para
a remoção da placa bacteriana e retirada da camada oxidada do amálgama das restaurações,
melhorando o polimento dentário; DUO - saboneteira conjugada com toalheiro e espelho; Ortusonic aparelho de ultra-som piezoelétrico e jato de profilaxia combinados, dentre outros (FUNDAÇÃO
EDUCERE, 2013).
Conforme explana Maybuk (2009), dentre os inúmeros ex-alunos da Fundação Educere que se
tornaram empresários, pode-se citar o empresário Francisco Reigota que é proprietário da empresa
Saubern – Vivax, que produz aparelhos de hemodiálise. Este empresário iniciou na Fundação o
desenvolvimento do aparelho que comercializa atualmente. Apesar de ter enfrentado muitas
dificuldades para finalizar a construção do aparelho e posteriormente para colocá-lo no mercado. Com
o apoio de seus sócios ele conseguiu finalizar o processo de construção do aparelho de hemodiálise e,
por meio da tática do convencimento de vários médicos conceituados, conseguiu deixar alguns
exemplares deste aparelho que desenvolvera, em consignação nos hospitais. Ou seja, o aparelho de
hemodiálise era utilizado pelos médicos durante o período de um mês, se o mesmo fosse aprovado ele
seria pago, caso houvesse reprovação, o aparelho era devolvido à Francisco. Atualmente a empresa de
Francisco vende seus produtos para todo o Brasil, em grandes hospitais, tais como o Hospital Albert
Einstein de São Paulo. Além disso, grande parte dos funcionários da Saubern foram alunos da
Fundação Educere.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da pesquisa realizada, observou-se que no Brasil o índice de mortalidade de
empresas, sobretudo nos cinco primeiros anos de vida ainda é muito elevado. E as incubadoras de
empresas têm se mostrado como um mecanismo importante para a redução da mortalidade de
empresas, uma vez que, o percentual de sobrevivência das empresas que passam pelo processo de
incubação é muito maior se comparado ao percentual de sobrevivência das empresas que não passam
por esse tipo de processo. Ademais, as incubadoras também atuam como agentes facilitadores e
parceiros dos empreendedores, pois realizam as intermediações entre instituições financeiras e
pequenos empresários para que estes últimos, possam ter acesso mais facilitado à linhas de crédito,
realiza a inscrição e promove a participação dos empreendedores em feiras e exposições, auxiliando-os
na divulgação de seus produtos e também nas negociações com compradores de outros países.
A Fundação Educere de Campo Mourão desenvolve um importante papel para a economia
local e regional, uma vez que, além de realizar incubação de empresas, contribuindo para a criação de
novos empreendimentos bem sucedidos, também fornece diversos cursos de capacitação,
principalmente para jovens com potencial empreendedor para que futuramente os mesmos possam a
abrir a sua própria empresa, ou estarem qualificados e preparados para trabalharem no mercado de
trabalho local e regional. Além disso, em decorrência das diversas parcerias firmadas com instituições
de ensino públicas e privadas, a Educere desempenha um papel que vai além do apoio ao
desenvolvimento econômico e regional. A incubadora é responsável também por um processo
eficiente na transferência de tecnologia e cooperação institucional entre universidades, escolas
técnicas, demais instituições vinculadas e as empresas locais.
Por fim, salienta-se que as discussões teóricas apresentadas neste estudo, poderão contribuir
para a ampliação do debate a respeito das incubadoras de empresas e sobre a importância destas
instituições para o desenvolvimento do empreendedorismo, para a criação de novas empresas mais
sólidas e competitivas e também para a redução do índice de mortalidade de empresas, visto que,
foram consideradas apenas algumas argumentações relevantes ao objeto desse estudo, ficando nítida a
necessidade de investigações mais aprofundadas.
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