Mudança de formato de jornais: como o periódico The Guardian mudou tudo, exceto seus valores Newspaper format change: how the newspaper The Guardian changed everything except for their values SCHOENACHER, Rodrigo UERJ, Escola Superior de Desenho Industrial, Mestrando FREITAS, Sydney UERJ, Escola Superior de Desenho Industrial, DSc. Palavras-chave: Jornal, Formato, Motivadores Esse artigo busca evidenciar os principais motivadores e preocupações referentes à decisão de mudança de formato do jornal The Guardian, através do entendimento de sua história, do contexto de mercado e das visões estratégicas de seus principais executivos. Expõe resultados de entrevistas, com os executivos, realizadas durante visita técnica ao jornal. Key-words: Newspaper, Format, Reasons This paper tries to evidence the main reasons and concerns regarding The Guardian newspaper format change decision, through its history understanding, the market context and its main executives strategic view. Shows results from the interviews done with the executives during the visit to the newspaper. Introdução: uma breve história da publicação The Guardian Segundo a Associação Mundial de Jornais (WAN, em inglês), o jornal inglês The Guardian é considerado um dos 10 jornais mais bem desenhados do mundo. Esse periódico tem uma história de tradição e de desafios que vão além da esfera jornalística. Foi fundado em maio de 1821 como um jornal provincial na cidade de Manchester, no norte da Inglaterra. Atualmente é um periódico “de qualidade”, com abrangência nacional e prestígio internacional (MOLINA)i. Editado pelo Guardian Media Group, de propriedade do da fundação Scott Trust, o Guardian é uma publicação sem fins lucrativos que busca apenas assegurar sua independência financeira e editorial. Com venda média atual pouco acima de 350 mil exemplares diários, The Guardian não circula aos domingos, sendo substituído por outra publicação chamada The Observer que pertence ao mesmo grupo. Ambas publicações atualmente perdem dinheiro, mas são mantidos pelo elevado retorno de outros negócios do grupo e devido ao seu elevado prestígio dentro e fora do Reino Unido. Na ocasião de seu lançamento, com o nome de The Manchester Guardian, o jornal era semanal e circulava aos sábados. Essa restrição devia-se ao fato de que, segundo MOLINA, “na época, Londres era a única cidade inglesa cuja população podia manter jornais diários, devido ao elevado preço do exemplar decorrente da carga tributária”. A carga tributária na época foi um dos principais fatores que afetou o formato e o design dos jornais. “Cada exemplar vendido pagava : o imposto do selo (4 pences no caso do Guardian), que permitia enviar o jornal pelo correio; um imposto fixo de 3 xelins e 6 pences (42 pences ou 90 centavos de dólar por anúncio de qualquer tamanho; e 3 pences (6 centavos de dólar) por libra (454 gramas) de papel”. O imposto do selo, diferente dos demais, era cobrado por cada folha de quatro páginas independente do tamanho. Um jornal com dimensões menores pagaria o mesmo imposto de 831 outro com páginas maiores, sendo que com uma disponibilidade de espaço menor para notícias e anúncios. Essa parece ser uma das principais razões para que os jornais do século XIX continuassem aumentando o tamanho de suas páginas. Nessa época o Manchester Guardian era publicado com apenas 4 páginas (uma folha impressa frente e verso e dobrada ao meio), impressas apenas na cidade de Manchester em prelo manual, totalmente preto e branco, com capacidade de 150 cópias por hora. Para efeito de comparação, uma das impressoras rotativa off-set atuais do Guardian pode rodar até de 300.000 (trezentas mil) cópias com cerca de 40 páginas totalmente coloridas no mesmo intervalo de tempo. O imposto do selo foi abolido em 1855 e permitiu aos jornais reduzir o preço e aumentar sua periodicidade. Neste ano o Guardian passou a circular diariamente, sendo vendido por 2 pences. John Edward Taylor, filho do fundador do jornal, escolheu em 1867 para ser o novo editor do jornal seu primo Charles Prestwich Scott, que ainda estava no segundo ano da faculdade e não tinha experiência alguma. Cinco anos depois, sem ter completado 26 anos, C. P. Scott, como era conhecido, assumiu a direção editorial do periódico, ficando 57 anos nesse cargo. MOLINA afirma que “a imagem do Guardian como um jornal liberal, independente, preocupado com a coisa pública e bem-escrito está indissoluvelmente ligada à figura de C. P. Scott”. Baseado na afirmação de que “nenhum jornal é independente se não tiver uma base econômica em que se apoiar”, C. P. Scott afirmava que talvez a virtude mais importante de um jornal fosse a sua independência, a despeito de sua posição ou caráter. Quando seu primo John Edward Taylor, herdeiro do fundador do Guardian, faleceu em 1907, Scott comprou a publicação. Segundo MOLINA, o periódico não teria sobrevivido se não fosse pela decisão de Scott de comprar em 1924 a publicação vespertina da mesma cidade, o Manchester Evening News, concluída apenas 6 anos depois; ao contrário do Guardian era extremamente rentável. Em 1936 a família Scott passou o controle da empresa para o Scott Trust, fundação sem fins lucrativos que ficou encarregada de manter a continuidade e a independência do jornal. No dia 11 de setembro de 1961, o Guardian passou a ser impresso também em Londres, atualmente seu principal mercado. Esse movimento ocorreu pois era preciso se tornar um jornal com abrangência nacional ou, então, correr o risco de deixar de existir. Essa mudança fazia parte de longo plano desenhado em 1946 por Laurence P. Scott, então presidente do Scott Trust. Nesse plano constava também a mudança do nome, feita em 1959 com a supressão do termo “Manchester”, ficando apenas The Guardian. Um dos principais movimentos que o caracterizou como jornal inovador foi o lançamento de cadernos em formato tablóide, como a seção de cultura chamada G2, que inclusive serviu de modelo para cadernos semelhantes em outros jornais. Outra mudança relevante na história do Guardian foi o novo projeto gráfico lançado em 1988. Dois anos depois da primeira edição do jornal The Independent, inaugurou uma sequência de eventos que fez com que o mercado londrino se tornasse um dos mais competitivos do mundo e preços de capa mais baratos da Europa. Além do Independent e do Guardian, dois outros jornais disputam esse mercado de jornais de “qualidade” em Londres: The Times e The Daily Telegraph. Em 2009 um dos autores deste artigo realizou uma visita técnica às instalações em Londres e fez uma série de entrevistas exploratórias sobre o processo de estudo das mudanças do formato do Guardian. Apresenta-se, à seguir, uma conceituação sobre os formatos de jornais e alguns resultados obtidos nas entrevistas. 832 Conceituação sobre formatos de jornais Atualmente existem algumas associações ao redor do mundo que discutem temas mais variados relacionados aos jornais. Uma delas é a INMA (International Newsmedia Marketing Association), que recentemente trocou o termo newspaper (jornal) pelo newsmedia (com tradução livre para “mídia noticiosa”). Fundada em 1930 por George Benneyan, então gerente de promoções do jornal New York Sun, tinha por objetivo aproximar os executivos de promoções de diferentes jornais para combater outros concorrentes que conseguiam captar publicidade em nível nacional, como algumas rádios e recém lançadas revistas semanais. Atualmente conta com mais de 1200 associados em cerca de 80 países; a maior parte é formada por executivos seniores da área de marketing de jornais. James Khattak, gerente de projetos e editor para a INMA, é responsável por coordenar os relatórios da associação além de editar o The Newspaper Industry E-Newsletter, disponível para todos os associados. Foi ele quem coordenou estudos recentes sobre mudanças de formatos feitos por diversos jornais ao redor do mundo. Segundo KHATTAK, existem 4 formatos típicos de jornais diários: broadsheet (“folha larga”), Berliner (ou berlinês), tablóide e micro. Os tablóides são usualmente metade do tamanho de um standard e o micro metade do formato Berliner, que por sua vez tem dimensões menores que o broadsheet. A altura e a largura das páginas podem variar de acordo com a especificação do equipamento utilizado para produzir os jornais, além disso a terminologia também pode variar. MOLINA, por exemplo, utiliza nomenclatura standard para os jornais broadsheet. Os formatos dos jornais têm relevância tal que por vezes supera as funções básicas de diagramação e usabilidade. Quando comparado com outras publicações, as mudanças de características reposicionam significativamente o jornal na mente dos consumidores e anunciantes. Exemplificando: tablóides tradicionalmente estão associados a jornais mais “populares” focados nos mercados de baixa renda, enquanto os broadsheets (ou standard) carregam a conotação de jornais “quality”, ficados em público de maior renda/instrução. É possível especular que o tamanho maior nos periódicos quality seja necessário para acomodar textos mais profundos e consequentemente mais longos. Muitos jornais standard ao redor do mundo têm seções em formato tablóide. Outro aspecto importante a ser discutido nesse tópico é a forma de precificação dos anúncios. Nos jornais essa precificação é feita de acordo com o espaço utilizado. Essa é uma das poucas remanescente mídias que precifica publicidade dessa forma, quando na verdade os anunciantes querem resultados tangíveis mais do que simplesmente comprar o papel utilizado para imprimir seu anúncio. Alguns jornais já estão mudando seus métodos de precificação para módulos, como, por exemplo, o percentual da página. Isto é, podem ser aplicados a qualquer formato que a publicação opte por imprimir seu jornal. A relevância desse tema (precificação) deve-se ao fato de que essa é uma das principais questões a ser resolvida quando se muda de um formato maior para outro menor. Mantendo uma precificação baseado na quantidade de papel utilizada (centímetro ou polegada quadrada) o jornal corre riscos de perder receita, pois sua área disponível fica reduzida. Enquanto que a mudança para um conceito de módulo, ou percentual de página, a proporção do anúncio na página é mantida independente do formato, ficando apenas pendente uma outra questão referente ao impacto do mesmo anúncio em um formato diferente. 833 Entrevistas com executivos do Guardian É possível encontrar material em diversos locais na internet que explicita informações sobre a mudança de formato realizada pelo Guardian em 2005, inclusive em enciclopédias digitais como a Wikipedia. Porém não há como garantir a veracidade das informações encontradas. Dessa forma, fez-se necessário buscar fontes mais confiáveis em outras bibliografias ou através de entrevistas com profissionais que participaram de forma consistente dessa mudança. A busca por bibliografia não gerou resultados satisfatórios e, portanto, as entrevistas ficaram como a opção mais adequada para o levantamento de dados. O objetivo principal dessas entrevistas foi mapear os principais aspectos que nortearam o processo de mudança. Em contato com um executivos de alto escalão do Guardian verificou-se a disponibilidade de entrevistar os executivos responsáveis ou que tiveram participação determinante no projeto. Uma breve apresentação das qualificações de cada entrevistado foi solicitada com objetivo de validar a autoridade de cada um sobre o tema em questão. Para definir quais aspectos deveriam ser avaliados numa mudança de formato de jornal, foi utilizado como referência uma das cinco maiores empresas jornalísticas brasileiras em circulação de exemplares da região Sudeste. Analisando o organograma funcional da empresa foi possível identificar todas os departamentos que compõem a empresa e seus respectivos responsáveis. Todos os entrevistados nesse caso tinham mais de quarenta anos, formação de nível superior em diferentes áreas que vão desde comunicação social (jornalismo) até engenharia, ocupavam cargos executivos de alto escalão - diretoria ou alta gerência - há mais de 2 anos e tinham mais de 5 anos de experiência com o meio jornal. Com esse primeiro grupo foram feitas entrevistas abertas e buscou-se compreender as Áreas (departamentos funcionais) que poderiam ser afetadas no caso de uma mudança de formato de sua publicação e o por quê. Além das áreas que estavam sob sua responsabilidade, os entrevistados poderiam indicar também áreas que estivessem subordinadas a outro executivo. Com base nessas entrevistas foram identificadas as seguintes áreas possivelmente afetadas: venda de espaço publicitário, venda de exemplares, distribuição, produção, tecnologia da informação, marketing, redação e finanças. Foi solicitado também que esse grupo discutisse com suas equipes das áreas possivelmente afetadas quais questões eles gostariam de ter respondidas caso eles tivessem que fazer esse tipo de mudança. As perguntas não precisavam necessariamente estar restritas às áreas de atuação daqueles entrevistados. Depois de encaminhadas, essas perguntas foram reagrupadas por área e depois reenviadas a todos os entrevistados para que estes fizessem correções ou observações. Os comentários enviados pelos participantes foram então incorporados à lista original e apresentados a todos novamente, dessa vez de forma presencial e com todos os participantes interagindo livremente entre si. A lista final foi então traduzida e enviada previamente às pessoas que seriam entrevistadas em Londres. Essa lista serviu como base para as entrevistas que foram realizadas in loco com os executivos do Guardian que haviam participado do projeto de mudança de formato e outros que tiveram participações relevantes durante o projeto. 834 Motivadores para a mudança de formato O mercado de jornais onde o Guardian está inserido é extremamente competitivo. Possui um total de 20 títulos considerados de circulação nacional. Conforme explicado anteriormente, três desses vinte títulos são concorrentes diretos do Guardian, ou seja, estão direcionados ao mesmo público alvo. Dois deles, The Independent e The Times, já haviam reduzido seu formato em 2003, saindo do tamanho standard para tablóide. O Independent foi o precursor. Diante desse cenário, o Guardian continuou fazendo testes internos utilizando o formato tablóide e acabaram por descartar essa alternativa por motivos editoriais, como a dificuldade de contar as histórias de maneira adequada ao posicionamento do jornal e as restrições de diagramação definidas por um formato muito menor. Consequentemente optaram pelo formato Berliner. Primeiro por julgarem que poderia se conseguir a conveniência do formato compacto sem comprometer o conteúdo, e segundo por que ninguém no Reino Unido estava imprimindo jornais nesse formato. Outro problema levantado pelo Guardian, apesar de não haver comprovação por parte deles, foi a dificuldade dos jornais que viraram tablóides manterem os preços de anúncios no mesmo patamar em que estavam no formato antigo. Foi explicado que com a redução no tamanho, os anunciantes, acostumados com o modelo de precificação baseado na área ocupada, foram resistentes a manutenção dos preços cobrados anteriormente. Pesquisa de mercado sobre impacto de anúncios em diferentes formatos Partindo da premissa de que o anunciante está efetivamente mais preocupado com o impacto do seu anúncio do que com o centímetro quadrado por ele ocupado, o Guardian realizou uma pesquisa de mercado (MCGARRIGLE) com base na idéia de que o impacto dos anúncios no formato Berliner não seria diferente do que no standard. A única restrição era de que a proporcionalidade do anúncio na página fosse mantida. Apesar de não ser a primeira pesquisa no mundo sobre o assunto, esta foi contratada pois precisavase retratar a realidade do mercado britânico, mais especificamente do Guardian, e também reforçar a transparência dos dados para o mercado publicitário. A pesquisa teve 1032 (mil e trinta e dois) respondentes com perfil demográfico conforme figura 1. Foram avaliados 57 tipos diferentes de anúncios para os quais se buscava identificar o impacto, ou a fixação do anúncio pelo leitor depois de folhear o jornal. Classe social Gênero Faixa etária 18 – 24 25 – 34 35 – 44 45 – 54 55 – 64 65+ AB C1 C2 DE Masculino Feminino 0% 20% 40% 60% 80% 0% 10% 20% 30% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 835 Figura 1: perfil demográfico do público pesquisado. A pesquisa foi realizada separando os leitores em quatro grupos que tiveram acesso a exemplares distintos: standard “A” (261 leitores), standard “B” (255 leitores), berliner “A” (252 leitores) e berliner “B” (264 leitores). Cada tipo de exemplar trazia sequencias e combinações específicas de anúncios. Foram avaliados 6 diferentes formatos de anúncio: (1) página inteira, (2) meia página, (3) um quarto de página e mais três formatos avulsos que vamos chamar de (4) “grande”, (5) “médio” e (6) “pequeno”. Em apenas 2 formatos de anúncio (“4” e “5”) houve diferença de impacto estatísticamente relevante, sendo que em ambos os casos o berliner apresenta melhor resultado do que o formato standard. MCGARRIGLE afirma que não há diferença no impacto de anúncios da mesma proporção de página em formatos diferentes. Esse resultado reforça e complementa as informações do relatório The Format Change Phenomenon divulgado pela WANii, Associação Mundial de Jornais. O projeto de transformação do Guardian Os entrevistados confirmaram que o projeto de mudança realmente envolveu diversas áreas da empresa, conforme proposto pela equipe de profissionais consultadas no Brasil. Destaca-se, dentre as atividades realizadas durante o processo de mudança, algumas que, segundo a percepção individual dos entrevistados, foram as mais relevantes e críticas: criação de um novo projeto gráfico, aquisição e instalação de novos equipamentos industriais para impressão e expedição, realização de pesquisa sobre impacto de anúncios em diferentes formatos e a sincronização com gráficas terceirizadas em mais 4 países além da Inglaterra. Em função da mudança de tamanho, uma nova programação visual foi concebida com objetivo de modernizar e permitir adequação dos padrões de diagramação ao novo espaço disponível na página. Segundo um dos entrevistados, a mudança do design foi concebida e implantada pela própria equipe de design gráfico do jornal. A troca dos equipamentos para produção no novo formato era crítico em função da velocidade que se desejava ter o novo produto nas bancas, pois os concorrentes já tinham feito sua redução de formato e vinham ganhando novos leitores. Na verdade foi essa atividade de compra e instalação dos novos equipamentos que determinou o caminho crítico do projeto. Em função da robustez da decisão, de cerca de 80 milhões de Libras, precisavam buscar um fabricante de impressoras rotativas off-set que tivessem tecnologia bem desenvolvida e madura. Depois de definir a configuração básica do equipamento (64 páginas, com cor em todas as páginas e redundância de equipamento para garantir continuidade operacional) foi identificado que apenas 2 fabricantes teriam capacidade de construir equipamentos que atendessem os principais requisitos. A escolha de um dos fabricantes se deu por critérios financeiros e de experiência comprovada do fabricante com aquele tipo de projeto. Além das gráficas localizadas em Londres e Manchester, o Guardian imprimia exemplares em outros países: Irlanda, França (Paris e Marselha), Alemanha e Espanha. Os fornecedores de serviços gráficos da Irlanda e de Paris tiveram que ser trocados por não terem capacidade de se adequarem às novas especificações do Guardian. As demais gráficas foram mantidas e ajustadas ao novo formato. Um ponto de atenção reforçado pelos entrevistados era que, por restrições administrativas e financeiras, não seria possível fazer a transição de formatos de forma gradual pois os equipamentos necessário para tal são completamente diferentes. Consequentemente todas as gráficas deveriam fazer a mudança ao mesmo tempo. Do momento da decisão de mudar de formato 836 até a concretização deste se passaram 18 meses. O Guardian esperava entregar a seus leitores uma série de benefícios depois da mudança: conveniência, valores editorias relacionados aos formatos grandes, navegação fácil pelo jornal, diferenciação dos demais jornais e melhor qualidade gráfica em função dos equipamentos de impressão mais modernos. Segundo os entrevistados esses benefícios foram totalmente entregues. Houve um aumento considerável na circulação do jornal nos meses que se seguiram a essa mudança e não houve perda de receita publicitária por conta da redução de formato. Foi também indicado por especialistas e publicações especializadas como uma das melhores programações visuais de jornais no mundo. Conclusões O método utilizado para proposição de temas a serem discutidos com os entrevistados no Guardian mostrou-se adequado ao objetivo. A lista de perguntas e preocupações preparadas previamente permitiu abordar diversos aspectos referentes ao projeto de mudança de formato. Do ponto de vista do design, é possível destacar 2 fatores relevantes para uma mudança de formato citados no artigo. O primeiro é a usabilidade dos jornais, mencionada como conveniência, e o segundo a programação visual como um todo, desde a definição da logo até a determinação da fonte mais adequada para leitura do conteúdo. Apesar da importância que esses fatores podem ter para os leitores, os mesmos não são mencionados por nenhum dos profissionais envolvidos na decisão como determinantes para ir adiante ou não com uma mudança de formato. Aqui só cabe especular dois possíveis motivos para que os dois fatores de design mais visíveis nessa mudança não afetem a decisão. O primeiro seria a falta de conhecimento dos profissionais que tomam esse tipo de decisão sobre os conceitos básicos que definem esses fatores e suas influências sobre o produto jornal. O segundo seria o baixo peso que esses fatores têm no momento da decisão em comparação com outros fatores como impacto financeiro e concorrência. Esse artigo tem como objetivo iniciar essa discussão e a busca por um entendimento mais profundo sobre a influência do design dentro da indústria de mídia impressa, mas especificamente os jornais. i) O brasileiro Matias Molina tem um vínculo de pesquisa bastante forte com o The Guardian. Trabalhou por 5 anos em Londres como correspondente do diário brasileiro Gazeta Mercantil. Esses cinco anos em Londres lhe deram a condição privilegiada para ampliar sua busca sobre o que acontecia com os jornais do mundo. Trabalhou também em publicações como o jornal Folha de S. Paulo. Criou, em 1967, a revista Exame e é, atualmente, segundo a atual diretora da publicação Valor Econômico, Vera Brandimarte, o melhor editor de jornal econômico do Brasil. ii) World Association of Newspaper: foi fundada em 1948, agrupa 76 associações nacionais de jornais, executivos individuais de jornais em 102 países, 10 agências noticiosas e 10 organizações de impressão regionais. É uma organização não-governamental e sem fins lucrativos que representa hoje mais de 18000 publicações nos cinco continentes. Possui um departamento de pesquisa e desenvolvimento que identifica e analisa tendências no mercado de mídia, novas tecnologias, novos modelos de negócios etc. Bibliografia MCGARRIGLE, A. Broadsheet to berliner: the theory of relativity. Admap Magazine. Londres. p 14-16. 837 Abr. 2006 MOLINA, M. Os melhores jornais do mundo: uma visão da imprensa internacional. 2.ed. São Paulo. Globo, 2008. WAN: World Association of Newspapers. The Format Change Phenomenon. v.4, n.5. Junho, 2005 KHATTAK, J. The bottom line of broadsheet-to-compact format change. INMA. Fevereiro 2005. CERVO, A.L. Metodologia cinetífica. 4. ed. São Paulo. Makron Books, 1996. GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro. Record, 1997. SILVA, S andra. Designers definem jornais e sites tops em todo o mundo. Meio & Mensagem. São Paulo. 19 jun. 2008. Disponível em: <http://www.meioemensagem.com.br>, Acesso em: 14 mar. 2009. INMA: International Newsmedia Marketing Association. History of Inma. Disponível em: <http://www.inma.org/about_history.cfm>. Acesso em: 20 mar. 2009. INMA: International Newsmedia Marketing Association. 1930s: Gaining Less Disrespect. Disponível em: <http://www.inma.org/about_30shistory.cfm>. Acesso em: 20 mar. 2009. WAN: World Association of Newspapers. Facts About WAN: Membership, Objectives and Activities. Disponível em: <http://www.wan-press.org/article390.html>. Acesso em: 09 abr. 2009 Rodrigo Schoenacher [email protected] Sydney Fernandes de Freitas [email protected] 838