ECA 34 Máquinas Elétricas para Automação 4ª AULA PRÁTICA CAPÍTULO 5 – PERDAS EM TRANSFORMADORES 1.0 - INTRODUÇÃO Este ensaio consiste em determinar as perdas existentes em um transformador. O termo perdas refere-se à potência (ou energia elétrica) que deixa de ser utilizada pela carga. Há basicamente dois tipos de perdas em transformadores: perdas em carga (ou em curto circuito) e perdas em vazio. O seu principal efeito é causar o aquecimento do transformador. Os ensaios de perdas em vazio e totais são consideradas como de rotina nas normas, bem como, a avaliação da impedância ou tensão de curto-circuito porcentual visando fornecer subsídios para o ensaio de aquecimento. No ensaio do transformador em vazio poderá ser determinado as perdas em vazio, o valor da corrente em vazio bem como observar a forma de onda da corrente em vazio. Já no ensaio em curto-circuito poderá ser determinado as perdas em curto circuito, os parâmetros percentuais, a queda de tensão interna(∆U%) e a característica Ucc = f(Icc). 2.0 – PERDAS EM VAZIO As perdas em vazio correspondem a potência ativa absorvida por um transformador, quando alimentado em tensão e freqüência nominal, achando-se o(s) outro(s) enrolamento(s) sem carga. Por outro lado, as perdas no ferro são as maiores parcelas das em vazio. As outras são consideradas adicionais e, em geral, possuem valores insignificantes. Desta forma, perdas em vazio e perdas no ferro são, geralmente, utilizadas como sinônimos. As perdas no ferro são as causadas pelos efeitos da histerese magnética e pelas correntes de Foucault e são função do valor, freqüência e forma de onda da tensão de alimentação. As perdas adicionais em vazio são aquelas mostradas na tabela 1, ou seja: a) perdas devido ao fluxo de dispersão; b) perdas devido à corrente de fuga pelo dielétrico. Além disso, há as perdas no núcleo devido às modificações de estrutura das chapas de aço durante seu tratamento mecânico. Estas perdas são de difícil determinação analítica, porém, é comum adotar que as perdas adicionais situam-se entre 15 a 20% das perdas por histerese e Foucault no núcleo. Além disto, ainda existem as perdas por histerese e Foucault nos parafusos, rebarbas e elementos de montagem. Tipo Origem Natureza Histerese Fluxo mútuo (ferro) Correntes de Foucault Corrente em vazio (cobre) Fluxo de dispersão (ferro) Fluxo eletrostático e corrente de fuga (isolamento) Corrente de carga (cobre) CURTOCIRCUITO Fluxo de (carga) dispersão (cobre) VAZIO Localização Chapas de núcleo Parafusos e elementos de montagem (núcleo) Chapas de núcleo Rebarbas, parafusos, etc. (núcleo) Efeito Joule Nos enrolamentos Correntes de Foucault Estruturas de fixação, tanque e ferragem em geral Histerese elétrica e condução Dielétricos Efeito Joule Enrolamentos Efeito Joule Condutores Tabela 1 – Perdas existentes no transformador, sua origem e localização 2.1 – Corrente de Excitação A corrente de excitação, vazio ou magnetização (I0) é a corrente de linha que surge quando em um dos enrolamentos do transformador for ligado a sua tensão e freqüência nominal, enquanto os terminais do outro enrolamento estão abertos e apresentam tensão nominal. Seu valor encontra-se na faixa: I0 = 1 a 6 % IN (1) A sua função é suprir as perdas do transformador quando opera sem carga e produzir o fluxo magnético. Considerando-se estes aspectos, esta corrente pode ser subdividida em duas parcelas distintas, ou seja: a) IP - corrente ativa ou de perdas, responsável pelas perdas no núcleo e está em fase com a tensão aplicada no primário U1 _______________________________________________________________________________ ECA-34 - Perdas em Transformadores - 20 ECA 34 Máquinas Elétricas para Automação 4ª AULA PRÁTICA b) Im - corrente magnetizante ou reativa, responsável pela criação do fluxo magnético (φm) e está atrasado de 90º em relação U1. ser desiguais, neste caso. é comum admitir que a corrente de excitação é a média aritmética destas correntes. No transformador trifásico, por exemplo, tem-se: I0 = A figura 1 esclarece o citado. I0 A + I 0 A + I 0 A 3 (7) onde, I0A, I0B e I0C - são as correntes em vazio de cada fase. 3.0 – PERDAS EM CARGA (OU EM CURTO-CIRCUITO) Figura 1 - Diagrama fasorial do transformador em vazio Do diagrama, tem-se: I 0 = I P2 + I m2 (2) e IP = I0 cos ψ0 Im = I0 sen ψ0 (3) (4) As perdas em vazio são: P0 = U1 I0 cos ψ0 = U1 IP (5) onde ϕ0 é a defasagem entre U1 e I0. Naturalmente, é de interesse prático que as perdas sejam as menores possíveis. Para que tal ocorra, a corrente a vazio deve ser, em quase sua totalidade, utilizada para magnetização do núcleo, em conseqüência: Im >> IP (6) Assim, o valor do ângulo ϕ0 deve ser o maior possível e o cosϕ0, (fator de potência em vazio) possuirá baixos valores. É comum considerar-se que a corrente em vazio é igual a de magnetização, pois devido a expressão (6), o erro cometido não é significativo. A corrente de excitação de um enrolamento é freqüentemente expressa em porcentagem da corrente nominal deste enrolamento, como feito na expressão (1). Em transformadores de vários enrolamentos, esta porcentagem é referida ao enrolamento de potência nominal mais elevada. Por outro lado, em transformadores polifásicos, as correntes de excitação nos vários terminais de linha podem São perdas por efeito Joule nos enrolamentos e surgem quando o transformador alimenta uma carga. São determinadas, na prática, pelo chamado ensaio em curtocircuito. As perdas em carga ou em curto-circuito (Pcc) correspondem a potência ativa absorvida quando um dos enrolamentos for percorrido por corrente nominal estando o outro curto-circuitado. Se o transformador possuir mais que dois enrolamentos, a definição é válida para cada par, estando os outros abertos. As perdas em curto-circuito são as: a) por efeito Joule nos enrolamentos (PJ); e, aquelas b) devido às correntes parasitas nos enrolamentos. A presença de perdas por efeito Joule é inevitável, naturalmente. Entretanto, é possível minimizar os efeitos de corrente parasitas nos enrolamentos e, em conseqüência, reduzir as perdas correspondentes. Para tanto, adota-se o procedimento de subdividir os condutores, isolando-os uns dos outros, colocando-os em paralelo e executando transposições em diversos pontos durante a confecção da bobina. Desta forma, as perdas totais são a soma das perdas em vazio e das perdas em carga. Observa-se que, para transformadores com vários circuitos, as perdas totais são referidas a uma combinação específica das cargas nos enrolamentos 3.1 – Tensão de Curto-Circuito A NBR-5356/1981 define como tensão de curtocircuito como: a “tensão que aplicada entre os terminais de linha de um transformador polifásico ou entre os terminais de um transformador monofásico, sob freqüência nominal, com o outro enrolamento curto-circuitado e os demais, se houverem, em circuito aberto e que faça circular no primeiro enrolamento uma corrente correspondente a menor das potências nominais da combinação em relação à respectiva derivação”. A tensão de curto-circuito (UCC), em geral, é expressa em porcentagem da nominal do enrolamento correspondente, ou seja: _______________________________________________________________________________ ECA-34 - Perdas em Transformadores - 21 ECA 34 Máquinas Elétricas para Automação 4ª AULA PRÁTICA U CC % = U CC 100 UN (8) Por outro lado, a relação entre as perdas em carga (PCC) e potência nominal (SN) fornece a resistência percentual do transformador, qual é a parcela resistiva da impedância de curto-circuito, ou seja: R% = PCC 100 SN (9) Com o conceito de impedância admite a existência de resistência e reatância, tem-se que a reatância percentual (X%) do transformador é: X % = Z % 2 − R% 2 (10) X% >> R% (11) Figura 2 - Conexões para transformadores trifásicos b) alimentar o transformador com o valor da tensão nominal, porém lido no voltímetro de valor médio. A freqüência deve ser a nominal; c) tomar as leituras dos instrumentos completando a tabela 2: U[V] A1[A] A2[A] A3[A] então: X% = Z% (12) Deve-se observar que R% varia com a temperatura e X% não varia. Assim, quando se deseja converter a impedância de curto-circuito de uma temperatura θ para outra temperatura de referência θR tem-se: Z θR % = Z θ2 % + Rθ2 %( K θ − 1 ) (13) W1 [W] W2 [W] Tabela 2 – Ensaio do transformador em vazio 4.2 – Ensaio em Curto-Circuito a) conectar os instrumentos ao transformador como na figura 3, utilizando-se de TP’s e/ou TC’s, se necessário; onde: ZθR% - impedância porcentual na temperatura de referência (θR) Zθ% - impedância porcentual na temperatura θ Rθ% - resistência porcentual na temperatura θ Kθ = K + θR K +θ (14) sendo, Figura 3 - Conexões para o transformador trifásico K = 234,5 K = 225 para enrolamento de cobre, e para os de alumínio. 4.0 – ATIVIDADE PRÁTICA b) aplica-se uma tensão reduzida para que circule a corrente nominal; c) tomam-se as leituras, simultaneamente, de corrente, tensão e potência. 4.1 – Ensaio em Vazio a) conectar os aparelhos e transformador como na figura 2, utilizando-se de TP’s e/ou TC’s, se necessário; A tensão lida será a tensão de curto-circuito (UCC) , bem como a corrente lida será a de curto-circuito (Icc). Desta forma, deve-se preencher a tabela 3: _______________________________________________________________________________ ECA-34 - Perdas em Transformadores - 22 ECA 34 Máquinas Elétricas para Automação 4ª AULA PRÁTICA UCC[V] ICC[mA] W1[W] W2[W] i [A] Tabela 3 – Ensaio em curto-circuito c) Alterando o valor da tensão aplicada ao transformador e consequentemente a corrente circulante, dentro da faixa 0 • ICC • IN, obtenha 10 (dez) pares de valores de UCC e ICC e anote-os na tabela 4: Par 1o UCC[V] ICC[mA] 2o 3o 0 4 o 90 180 Graus 270 360 5.0 – OBTENÇÃO DE RESULTADOS 5o 6o 7o 8o 9o 10o Tabela 4 – Ensaio em curto-circuito 4.3 – Observação da Forma de Onda da Corrente em Vazio a) Fazendo uso de um resistor “shunt”, visualizar em um osciloscópio a forma de onda da corrente em vazio. Esboce a seguir a forma de onda observada. 5.1-) A partir dos resultados obtidos no ensaio em vazio determine o valor das seguintes grandezas: Io; Ip; Iq; cosϕo; ZM; RMS; XMS; RMP; XMP 5.2-) A partir dos resultados obtidos no ensaio em curtocircuito determine o valor das seguintes grandezas: PCC N ;U CC N : Z %; R%; X %; Kθ ; Z % 75c ; COSϕcc 5.3-) Transformadores funcionando em vazio, quase sempre atrasam de modo acentuado a corrente relativamente à tensão. Isto é desejável? 5.4-) A partir dos pontos obtidos no item 4.2 deste roteiro, obtenha um gráfico e justifique o aspecto da curva resultante. 5.5-) Comente o resultado da comparação entre o valor do fator de potência do transformador operando em curtocircuito com o encontrado na operação em vazio. 5.6-) Pode-se realizar os ensaios em vazio e em curtocircuito fora das condições nominais respectivas? Justifique sua resposta. 5.7-) Qual o motivo da forma de onda observada no item 4.3? _______________________________________________________________________________ ECA-34 - Perdas em Transformadores - 23