TRABALHO E EDUCAÇÃO: REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS NOVAS DIRETRIZES PARA AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A FORMAÇÃO DOS TRABALHADORES Luciano Alvarenga Montalvão 1 - IFG Grupo de Trabalho- Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CAPES Resumo Este artigo se propõe a analisar o conjunto das transformações recentes no mundo do trabalho a fim de produzir algumas inferências sobre a influência desse contexto na elaboração das políticas educacionais brasileiras direcionadas à formação dos trabalhadores e trabalhadoras no último período. Nosso ponto de partida é a fase em curso da reestruturação produtiva do capital, a qual impõe um novo padrão de acumulação flexível conjugado às inovações de caráter técnico e organizacional do trabalho. Na compreensão de Alves (2011, p.33) – tendo como referência os preceitos teóricos do marxismo – a reestruturação produtiva configura-se como “o movimento de posição (e reposição) dos métodos de produção de mais-valia relativa”. Antunes (2005), afirma que o novo padrão de produção e acumulação capitalista, caracterizado pela reengenharia organizacional e o enxugamento trabalho vivo – tanto nos níveis produtivos como de gestão – constitui-se como uma nova morfologia do mundo do trabalho. Se por um lado, passe-se a exigir um trabalhador polivalente, multifuncional e subjetivamente engajado, por outro, intensificam-se a precarização e as formas de trabalho compartimentado, cuja base de sustentação é a existência de um amplo exército de reserva de trabalhadores e trabalhadoras desempregados (ALVES 2011; ANTUNES, 2005). A educação emerge e passa a ser demandada como um “instrumento” tático para a produção e a reprodução do capital. Como afirmam Alves e Batista (2009), na atual conjuntura da reestruturação produtiva, o capital se vê obrigado a defender a necessidade de investimentos em educação, uma vez que a esta cabe a formação da força de trabalho e o desenvolvimento das competências capazes de atender às necessidades do mercado. Não obstante, a educação contemporânea deve corresponder ─ em termos ideológicos e pedagógicos ─ à manutenção da divisão social e técnica do trabalho e ao imperativo das novas tecnologias de produção e de gestão (KUENZER, 2011). Desta forma, a este respeito, persistem os seguintes questionamentos: qual é o perfil formativo e profissional passa a ser requerido de trabalhadores e trabalhadoras pela reestruturação produtiva do capital em curso? Como estas exigências se consubstanciam nas políticas educacionais da atualidade? O movimento de 1 Técnico Administrativo em Educação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG). Mestre em Educação pelo Programa Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias da Universidade Estadual de Goiás (MIELT/UEG). Professor em instituições particulares de ensino. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 30593 ofensiva capitalista sobre a educação tem se expressado nitidamente e de forma bastante factível no campo da educação profissional, no qual se destacam duas políticas governamentais recentes: a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, instituída pela Lei n. 11.892, de 29/12/2008; e a criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) por meio da Lei n. 12.513, de 26 de outubro de 2011. A educação profissional virou bandeira do governo federal, do empresariado, dos organismos internacionais e até das elites brasileiras, mas está cada vez mais distante dos princípios pedagógicos e políticos que fundamentam a sua existência. A educação profissional e tecnológica se difundiu e se consolidou sob uma perspectiva pragmática e economicista, totalmente distante do embasamento ético-político e filosófico que conferiu legitimidade à defesa histórica dessa modalidade educacional por amplos setores da sociedade. A necessidade de uma formação integral – base do que se defende para uma formação crítica e emancipatória do trabalhador – perde-se em meio às exigências contemporâneas por profissionais conformados à dinâmica do capital reestruturado. Identifica-se, na esfera da educação profissional, um movimento particularmente avançado com relação ao que se observa na educação de uma maneira geral: a apropriação por parte da classe dominante, de uma reivindicação histórica da classe dominada, unicamente para satisfazer seus interesses econômicos. Neste artigo, a partir de uma revisão da literatura produzida e também com base em análises críticas acerca dos documentos legais mencionados, almeja-se indicar conexões entre as transformações no mundo do trabalho sob a égide do modo de produção capitalista e as diretrizes para a formação dos trabalhadores, materializadas nas políticas educacionais. Palavras-chave: Reestruturação Produtiva. Educação Profissional. Formação do trabalhador. REFERÊNCIAS ALVES, Giovanni. Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011. ALVES, Giovanni. ; BATISTA, Roberto Leme. A ideologia da educação profissional no contexto do neoliberalismo e da reestruturação produtiva do capital. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”, VIII. 2009, Campinas. Anais. Campinas, SP, 2009. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/6rKPRHeZ.pd f . Acesso em: 02 jul. 2015. ANTUNES, Ricardo. O Caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005. BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 dez. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 02 ago. 2015. 30594 BRASIL. Lei n. 12.513, de 26 de outubro de 2011. Institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); altera as Leis no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, que regula o Programa do Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), no 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, no 10.260, de 12 de julho de 2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, e no 11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem); e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 2011. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12513.htm . Acesso em: 02 ago. 2015. KUENZER, Acácia Zeneida. As mudanças no mundo do trabalho e a educação: novos desafios para gestão. In: FERREIRA, N. C. (Org.). Gestão democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 43-72 .