REFLEXÕES SOBRE A CULTURA DO CAPITAL: RELAÇÕES DO TRABALHO E EDUCAÇÃO
Eliangela Maria
Discente da Faculdade de Educação,
Administração e Tecnologia de Ibaiti – FEATI.
Prof. Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP.
Docente da Faculdade de Educação, Administração e Tecnologia de Ibaiti – FEATI
1 INTRODUÇÃO
Por que na oficina? Tal questão se sobressai em meios a tantas outras possíveis de se
averiguar conforme a organização do trabalho. Mas que lugar é este na qual o pai quer ver o seu
filho com tanta aspiração? Este lugar ultrapassa a fronteira do lugar quanto estrutura física, ele é
mais amplo e complexo.
Este lugar traz consigo um sentimento de ser contratado e assim ter seus direitos, seu
salário, com isto, poder seguir sua vida: trabalhando e ganhando no final do mês. A oficina tem um
sentido de felicidade, sendo este lugar “construído e produzido num dado processo
socioeconômico” (SPINK, 2001, p. 15). A oficina evita os riscos de ser um desempregado. O
trabalho é feito com peças, parafusos, óleos, entre outros instrumentos que, no início, trás certa
dificuldade, mas com o tempo, a atividade se torna uma rotina.
ROTINA, s.f. Caminho já trilhado e sabido; costume; hábito; prática
constante; uso geral. (BUENO, 1996, p. 584)
A prática constante de um trabalhador dentro de uma oficina, uma vida toda dedicada a
uma oficina. Uma prática de tantos significados que faz o próprio sujeito deseje o seu filho neste
mesmo ofício, a rotina cria o hábito e também a acomodação. O trabalho ganha um maior sentido
de sobrevivência, do que outros fatores como: crescimento, aprendizagem, autonomia, na qual
foram apontados por Morin; Tonelli; Pliopas, (2007).
A sobrevivência faz a acomodação e, talvez este o ponto a ser pensado: a acomodação
dentro de uma sociedade de grandes conquistas, de liberdade, desejos, aspirações. Assim, qual é o
lugar das perspectivas para estes jovens? Não são incitados a procurar um lugar no mundo
desconhecido ou preferem buscar a felicidade evitando o desprazer num lugar palpável?
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se
libertam em comunhão... Somente quando os oprimidos descobrem,
nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua
libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua
convivência com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita
em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece
fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associado
a sério empenho de reflexão, para que seja práxis. [...] Os oprimidos, nos
vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer-se como homens,
na sua vocação ontológica e histórica de ser mais. A reflexão e a ação se
impõem, quando não se pretende, erroneamente, dicotomizar o conteúdo
da forma histórica de ser do homem. (FREIRE, 1987, p.52).
O mesmo ocorre com a perspectiva dentro da escola. Ela e o objetivo da educação vêm se
transformando ao longo da história da humanidade (escolas gregas, romanas, medievais).
Conforme a sociedade se modifica a educação também se diferencia. Com o final da Segunda
Guerra Mundial, o mundo vive uma era de capitalismo, do consumo desenfreado, uma sociedade
que se torna cada vez mais tecnológica em que o mais importante não é o ser em si, mas o que ele
possui. Assim a economia que era voltada para o campo passa a ser das cidades, e a escola nesse
contexto “passa a ser o instrumento por excelência para viabilizar o acesso a este tipo de cultura”
(SAVIANI, 2007), ou seja, a sociedade vê na escola a responsável pela adequação das pessoas no
novo modelo de sociedade que estava surgindo.
Com isso, a ideia de escola pregada passou de um lugar de absorção de conhecimento para
um lugar que possibilitará ter uma profissão e, com isso, ter uma ascensão econômica.
Nessa perspectiva, as crianças, hoje, chegam às escolas apenas para “passar de ano”, caso
contrário, no futuro, elas não terão um bom emprego, isso é o que espera tanto dos alunos como
de seus pais. Nesse mesmo ponto de vista, crescem cada vez mais a procura por cursos
profissionalizantes, como veremos mais a frente, onde o aluno se forma rapidamente e “está apto
para o mercado de trabalho”.
2 O LUGAR DA PERSPECTIVA
O texto abaixo é de autoria de Machado de Assis, chamado “Idéias de um canário”, na qual
apresenta um diálogo entre um canário preso em uma gaiola dentro de uma loja de belchior e um
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
homem:
[...] — Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o
teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.
— Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida
todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os
serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em
verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que
eles pagassem o que está no mundo.
Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as
idéias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do
bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava
acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e
úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse.
Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito.
— Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?
— Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?
O mundo, redargüiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma
loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga,
pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja
que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.
No diálogo entre o canário e o homem, corrente em todo o texto, Machado de Assis busca
esclarecer o que vem a ser o mundo. De forma precisa, o mundo acaba sendo o espaço que se
convive, na qual tem conhecimento e profundidade sobre o cotidiano, sendo o desconhecido uma
ilusão.
O medo da perda do controle de si e do meio circundante, marcará a
divisão profunda a que o sujeito é submetido. O meio advém inapreensível,
o contexto torna-se incompreensível, surpreendente e fora de controle
(ZUGUEIB NETO, 2007).
Fora do campo de convivência, esta a oficina, o mundo se torna obscuro e cheio de
artimanhas capazes de engolir a si e aos filhos. Desta forma, o homem se vê preso na “armadilha
da estrutura estratégica” (ENRIQUEZ, 1997).
Em suma, o homem tem liberdade e autonomia para fazer o que bem entender, ele pode
apresentar a sua criatividade como também expor a sua arte, ele tem a possibilidade de conhecer
este mundo desconhecido, mas não o faz. Ele está preso às condições atraentes da organização.
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
Aqui é bom estar, se o lugar não lhe trás felicidade, as causas são do próprio trabalhador.
Tendo a organização o principal propósito o de agregar os valores capitalistas a fim de obter
maiores lucros. Para isto, a organização inventa mecanismos da pior espécie a fim de cumprir o
esperado: o lucro. Visto isto nas empresas hipermodernas de Pagès et al (2008), que tem por
característica criar um pensamento que a empresa é tão boa e propicia vários ganhos que o
próprio trabalhador não pode se voltar contra ela.
Assim, qual o lugar da perspectiva? Quase não existe, se não existe. O trabalhador não
observa nada melhor do que a organização em que se está e deseja este lado “bom” da
organização para o filho e que ele encontre a felicidade ali como o próprio pai. Não existindo
assim, um homem de vivências, de experiências.
A perspectiva apenas é alimentada pelas técnicas para uma melhor produção, sem um
questionamento, uma crítica, ou mesmo, um trabalho na qual o trabalhador possa expor a sua
subjetividade. Percebemos então uma nova forma de alienar o trabalhador, tendo o
consentimento do mesmo, incapaz de pensar em novas perspectivas e não conseguindo sair das
amarras da organização.
Esta formação tecnicista da qual virou uma especialidade da educação contemporânea, esta
vinculada no crescente aumento de escolas destinadas a esse fim (EDUCAÇÃO, 2010). Perceptível
cada vez mais a criação de cursos técnicos, de laboratórios técnicos, sendo a sociedade fundada
em valores técnicos e não humanos. A perspectiva, então, é técnica.
Esta tecnicidade agrava problemáticas, como Rubem Alves ([2002] 2012) afirmou, a
educação deve ser para a cidadania, de que importa ao aluno sobre as somas dos ângulos internos
de um triângulo ou sobre enzimas, procariontes, eucariontes, de que vale estas informações aos
alunos, isto traz a revolta dos alunos e com razão. A criança quer saber sobre coisas do mundo que
a encante, que as preencha, que lhe traga algum interesse, que a motive a conhecer e a
transformar o seu ambiente, a sua sociedade. Criança não quer saber sobre plantas rastejantes ou
subaquáticas, criança quer enfiar a mão na terra, se sujar, molhar, quer ver aquela pequena
semente se tornar uma linda flor roxa.
O Amyr Klink deu uma entrevista há pouco tempo e eu recebi a entrevista
dele por e-mail e ele fala uma coisa que eu achei muito legal. Perguntaram
a ele qual era o projeto que ele tinha de educação para os filhos dele e ele
contou que ele colocou os filhos dele em escolas comuns e que tinha
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
problemas com as escolas, que as coisas não tinham a ver com a vida,
tantas coisas que as crianças têm que aprender que não têm nada a ver. Aí
ele disse que gostaria que as crianças dele aprendessem do jeito que ele
viu acontecer numa ilha na costa, se não me engano, da Noruega. Ele disse
que lá nessa ilha que ele citou, o nome eu não sei, as crianças aprendem
construindo uma casa viking. Enquanto elas constroem a casa viking, elas
vão aprendendo tudo o que é necessário sobre a ciência. (ALVES, [2002]
2012).
Educação para a cidadania e não para reproduções alienantes de fórmulas, teorias,
sistemas. Educação para libertar o pássaro preso em sua gaiola. Libertar o aluno preso nas salas de
aula. Libertar para transformar, e não reproduzir. Dando novos valores à educação, deixando de ser
apenas instituições que legitimam o poder, conforme descrita por Michel Foucault (1984).
A educação deve pautar-se na relação do sujeito para com o seu mundo, e não
fundamentada e descrita pelas técnicas. A educação prepara o homem a conhecer o seu eu e o seu
valor.
3 A PERSPECTIVA TECNICISTA/CAPITAL
Como fica a sociedade se todos os nossos alunos forem estudar na Harvard ou no M.I.T.
(Massachusetts Institute of Technology)? Onde estarão os encanadores, cabeleireiros, eletricistas,
mecânicos, pedicures?
Tal questão foi levantada por um educador coreano em um documentário sobre a Educação
na Coréia do Sul, desejando expor o interesse quase que supremo dos alunos de saírem do país e
irem ter uma formação nas renomadas universidades americanas. Isto para que possam conseguir
competir em um mercado competitivo que exige profissionais de excelência.
Esta realidade não é apresentada apenas pelos coreanos, ela é global. No Brasil a estimativa
é que houve um aumento de 14% de alunos que foram estudar no exterior, segundo relatório da
"Education at a glance", de 2010 (RIBEIRO, 2011). Uma das possíveis razões fora esclarecida por Lia
Faria:
O mundo de hoje é plural. O próprio mercado de trabalho é mais
competitivo e acaba levando as pessoas a buscar garantir um diferencial em
relação aos que permanecem no país. Quem não tem curso no exterior fica
em desvantagem. (FARIA, 2011 apud RIBEIRO, 2011, p. 1).
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
Nesta perspectiva, como podemos compreender o sentido da educação? De acordo com
Rothberg (2006) a educação passa a ser um meio de enfrentar os problemas econômicos da
atualidade. Ou seja, a educação tem a responsabilidade de preparar o aluno para as adaptações
das crescentes mudanças para a produção.
Esta concepção elege como contexto preponderante o fato de que as
tecnologias do sistema produtivo transformam-se rapidamente na
atualidade e requerem sujeitos sempre dispostos a adquirir novas
habilidades, correspondentes a diferentes processos industriais e
comerciais. Daí a necessidade de formar pessoas versáteis, capazes de
aprender novas tarefas tão rapidamente quanto mudam as características
dos recursos tecnológicos e das interfaces com os quais elas devem lidar
diariamente. (ROTHBERG, 2006, p. 86).
Ao contrário da educação grega que consistia em preparar o jovem para ser um bom
cidadão, privilegiando a ética, a política, o corpo, a filosofia. Ensinando o jovem a conhecer a si
próprio. Conhece-se te a ti mesmo. Podemos pensar como fez Edgar Morin (2002, p. 2): "a relação
educação-cultura é inseparável da relação com a história, com a política, com a sociedade, com o
planeta". A Grécia vivenciava outro cotidiano, outras relações se estabeleciam.
Paulo Freire em seu livro “Pedagogia libertadora” defende uma educação de
conscientização, desalienação e problematização, uma educação de diálogo crítica, na qual, se
tenha uma consciência de sua condição existencial, esse, então, seria o verdadeiro objetivo da
educação, conscientizar os seus alunos para que eles sejam críticos, que tenham opinião e lute
pelos seus direitos.
Hoje os tempos são outros, uma era envolvida por tecnologias, de guerras de precisão, de
redes sociais virtuais, do fim das grandes fronteiras, das longas viagens em curto tempo, do "santo"
Google e suas informações, do fast food; hoje os tempos são outros, e a educação deve ser outra;
a educação acompanha a cultura. Então, porque não discutirmos a atual conjuntura de nossa
cultura?
Esta sociedade com sua cultura pautada nos modelos econômicos capitalistas. Esta
sociedade que para Morin (2002) é tão catastrófica, para Bauman (2001) uma sociedade líquida,
para Freud ([1927-1931] 1996) um mal-estar, e tantos outros que questionam a legalidade deste
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
sistema na qual estamos inseridos. A sociedade e sua cultura devem ser repensadas.
Mas o simples fracasso deste modelo moderno de sociedade, que nos
prometeu um futuro ordenado pela ciência, não significa que resultará uma
sociedade menos desigual e mais justa. Mas, como a tecnologia produziu
rachaduras irreversíveis no modo como a sociedade se organizava, uma
brecha sem dúvida se abriu, um ponto de vazão, capaz de fazer ruir
relações e conceitos opressivos, permitindo uma nova configuração de
forças, e gerando novos acordos. Mas, para isso, precisamos ter coragem de
rever valores e modelos, e o mais difícil talvez seja encarar o quanto
obsoletos estão nossos saberes. Precisamos rever o modo como
estruturamos nosso conhecimento, nosso pensamento, nossa educação.
(MOSÉ, 2012, p. 1).
A autora ainda explica que os projetos da sociedade moderna não beneficiaram ninguém,
pelo contrário, acarretou maiores problemas: a desigualdade africana, guerras afegãs, catástrofes
ecológicas, violência em grande escala, individualismo. E a educação contribui para estes
acontecimentos. A educação, ou as instituições, ensina desde criança o individualismo, a
concorrência, a falsa história (de mocinhos vs. bandidos), do poder pelo saber, da soberania
científica, a desigualdade. O ensino, desta forma, não ensina, são apenas palavras soltas sem
reflexão. Introduzidas. Não é filosofia, é imposição tendo como lema o desenvolvimento.
As áreas em que isso ocorre vão da oferta direta de cursos, presenciais e a
distância, à produção de materiais instrucionais, na forma de livros,
apostilas e softwares, às empresas de avaliação, ou, mais precisamente, de
medida em larga escala, às consultorias empresariais na área e até mesmo
à ação de consultores do meio empresarial que assessoram tanto a
inserção de empresas educacionais no mercado financeiro, quanto
direcionam investimentos de recursos para a educação. São facetas de
acentuada transformação do panorama educacional em escala mundial
(OLIVEIRA, 2009).
Conforme o artigo de Oliveira (2009), este crescimento de "investimento" na área
educacional, nada mais significa que, na educação, encontrou-se um meio de se obter lucros,
aproveitando as péssimas condições da educação ofertadas pelo Estado. Com isto, neste discurso
de que para se desenvolver, conseguir um lugar ao sol, instituições que visam o capital utilizam
todo o seu arsenal para capturar um aluno, aproveitando-se de um discurso "para você se preparar
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
para o mercado de trabalho"1 ou para "entrar mais rápido no mercado de trabalho"2.
Enfim, nos deparamos em uma educação dedicada aos cursos técnicos prometendo
benefícios ilusórios. Se antes a pergunta estava direcionada em onde encontrar os encanadores,
pedicures, eletricistas. Agora me pergunto, onde iremos colocar tantos técnicos alienados em um
discurso capitalista?
4 CONCLUSÃO
Se, iniciamos este artigo nos referindo diretamente as escolhas do trabalhar e sua relação
com o trabalho. No discorrer, invertemos a análise direcionando para a educação, esta que, direta
ou indiretamente, está dando moldes à relação inicial, entre homem e o trabalho.
Nesta união entre educação e trabalho, podemos dizer que existem objetivos. Vinculados
aos desígnios sociais que, claramente, pauta-se do capitalismo, não seria tolice dizer que estas
instituições, e muitas outras, não seguiria para esta vertente.
Sendo assim, podemos analisar sobre dois pontos. Primeiro, o homem com o seu trabalho.
Quais são os seus anseios? O seu futuro. Tem-se uma tendência em se acalmar em águas amenas
evitando assim, os riscos das águas profundas, que trará instabilidade, insegurança e, o mais
tenebroso, o risco de se estar desempregado. Segundo, homem com a educação. Na busca
incessante por um trabalho seguro que lhe traga benefícios, o sujeito se apega cada vez mais em
diferentes cursos e formações. Sem objetivo, sem foco, a quantidade se torna alheio a suas
escolhas, quanto mais curso, maior é a chance de ser chamada a uma entrevista de trabalho. Existe
a idéia errônea de quanto mais cursos em meu currículo, mais estou preparado para o mercado de
trabalho. Nisto a educação é apenas para o preparo ao mercado de trabalho e suas concorrências.
Por fim, porque não um terceiro ponto que surge nesta conclusão. O sujeito mergulhado
nestas instituições capitalistas. Na ânsia de obter um lugar ao sol, o sujeito abraça a idéia ilusória e
alienista do discurso capitalista. De que, para ser alguém, o sujeito deve estar trabalhando, por
contrário é vagabundo e sem-vergonha. E ainda, pela sobrevivência, o sujeito deve estar
abarrotado de dinheiro, para isto, não importa os sacrifícios, o sujeito deve fazer.
Para que haja uma modificação destes paradigmas, devemos modificar uma cultura
pautada no capital. É preciso construir uma nova forma de apresentação na sociedade. Assim, por
1
2
Discurso do SENAC-PR, em seu site.
Discurso da TecPUC, em seu site.
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
onde iremos começar? Deveria ser dentro da própria educação.
Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro.
Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz;
depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último,
veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia,
então, que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria
a causa de todas as outras coisas (PLATÃO, 2000, p. 298).
Esse pequeno trecho pertence ao Mito da Caverna escrito por Platão entre os anos 385380 a.C., apesar desse texto ter sido escrito há tanto tempo em outras realidades, ele se encaixa
perfeitamente na nossa realidade, onde a intensificação do capitalismo tornou o homem alienado,
incapaz de compreender o sistema que está inserido. Onde ter um emprego com carteira
assinada, possuir essa “segurança” passa a ocupar o lugar de maior importância na sua vida. O
papel do educador como mediador é o de levar para o outro lado do muro e mostrar a luz do sol
que é o verdadeiro conhecimento. Assim o homem por si só conseguirá sair da escuridão e
visualizar a sua realidade.
Eu estava olhando para vocês e para todo mundo lá fora, naquela farra da
música, aquela felicidade, e a gente pergunta para que a gente vive, a gente
vive para aquilo, gente, o objetivo da vida é brinquedo (ALVES, 2012).
REFERÊNCIAS
ALVES, R. [2002]. Educação para a cidadania. Palestra. Congresso Educação e Transformação Social.
SESC-SP. Disponível em: http://www.sescsp.org.br/sesc/. Acessado em: 04 fev, 2012.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder.4 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
FREUD, S. [1927-1931]. O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos - XXI.
Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
BUENO, S. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996.
EDUCAÇÃO, [2010]. Brasil duplica número de escolas de educação profissional. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
&view=article&id=15000. Acessado em: 07 mai 2012.
ENRIQUEZ, E. O indivíduo preso na armadilha da estrutura estratégica. Rev. de Administração de
Empresas. v. 37, n. 1, p. 18-29, jan./mar., 1997.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
_________. Educação como prática da liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
MORIN, E. [2002]. Educação e Cultura. Seminário Internacional Educação e Cultura. SESC-SP.
Disponível em: http://www.sescsp.org.br/sesc/. Acessado em: 04 fev, 2012.
MORIN, E.; TONELLI, M.J.; PLIOPAS, A.L.V. O trabalho e seus sentidos. Psicologia & Sociedade; 19,
Ed. Especial 1: 47-56, 2007.
MOSÉ, V. A fragmentação do ensino. Disponível
filosofia/artigos3.htm. acessado em: 07 fev 2012.
em:
http://vivianemose.com.br/
OLIVEIRA, R. P. A transformação da educação em mercadoria no Brasil. Educ. Soc., Campinas, vol.
30, n. 108, p. 739-760, out. 2009.
PAGÈS, M. BONETTI, M; GAULEJAC, V. de; DESCENDRE, D. O poder das organizações. São Paulo:
Atlas, 2008.
PLATÃO, A república. São Paulo: Martin Claret, 2000.
SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Rev. Bras. Educ., Rio de
Janeiro , v. 12, n. 34, Apr. 2007
SPINK, P. K. O Lugar do Lugar na Análise Organizacional. RAC, Edição Especial, p. 11-34, 2001.
ZUGUEIB NETO, J. Crise social extrema, processos identificatórios e resistência psíquica: os Druzos
Revista Eletrônica da FEATI – nº 11 – Julho/2015 – ISSN 2179-1880
Download

REFLEXÕES SOBRE A CULTURA DO CAPITAL