ACTUALIDADE Visita canónica aos Missionários da Consolata de Portugal Desafiados a procurar caminhos novos Durante o seu mandato, o superior geral da Consolata, ou seu delegado, tem o dever de visitar todos os missionários e as suas actividades. É a visita canónica. Stefano Camerlengo, vice-superior geral, italiano, de 51 anos, visitou Portugal nesta qualidade, de 11 a 26 de Fevereiro, juntamente com Francisco Lopez, conselheiro para a Europa e Ásia. FÁTIMA MISSIONÁRIA conversou com ambos sobre a visita e a situação do Instituto da Consolata no mundo Stefano Camerlengo e Francisco Lopez FÁTIMA MISSIONÁRIA (FM) Após 15 dias de visita aos Missionários da Consolata em Portugal, qual o seu sentimento? STEFANO CAMERLENGO (SC) Estamos contentes por ter encontrado uma família que nos acolheu. Sentimo-nos em casa. Contámos com a disponibilidade máxima dos confrades para dialogar, reflectir, discernir e viver juntos. Encontrei gente de uma certa idade, padres idosos, mas dinâmicos, com generosidade, com vontade de trabalhar. Isto surpreendeu-me. Julgava que vinha encontrar uma província mais cansada e adormecida. Vi seriedade no trabalho. A visita foi muito positiva e estamos contentes. Deparei-me com uma vontade forte de procurar caminhos novos. É uma bela característica: interrogar-se como fazer? A escolha de trabalhar no Bairro do Zambujal, com todas as dificuldades que isso comporta, é uma demonstração desta procura. FM Depois da visita canónica, que impressão tem da Igreja portuguesa? SC Os bispos que visitámos transmitiram a impressão de que a Igreja está fortemente empenhada numa atitude de procura. Impressionaram-me pela sua simplicidade e texto Elísio Assunção fotos Ana Paula pelo desejo de procurar caminhos novos. Revelaram o desejo de estar mais perto das pessoas. Fico com a impressão que é uma Igreja aberta, onde nós estamos presentes. Sentimo-nos protagonistas e devemos fazer um esforço para estarmos mais dentro. Não somos apenas animadores, mas também colaboradores, caminheiros lado a lado uns dos outros. FM Tem futuro o Instituto em Portugal? SC Certamente! E não só em Portugal. O Instituto é maior do que qualquer nação onde estamos presentes. Tem futuro porque se interroga. Quando um coração está inquieto, abre-se sempre à possibilidade de avançar, de procurar e, por conseguinte, de encontrar novas propostas. Quanto mais nos abrirmos à interculturalidade, em Portugal, maior significado adquire a nossa presença. O esforço da direcção geral no futuro será de enriquecer a província com missionários de outros países e de outras culturas. Estimulará mais ainda a província. FM Depois da visita canónica, que caminhos aponta aos missionários? SC Antes de mais procurar o novo. A novidade renova sempre, rejuvenesce e dá esperança. A província deve ter a FÁTIMA MISSIONÁRIA 16 ANO LIV | Abril de 2008 coragem de enfrentar caminhos novos. Em segundo lugar deve inserir-se sempre mais na Igreja local, colaborando naquilo que constitui a nossa identidade. Em terceiro lugar, propomos que se trabalhe, todos unidos, à volta de um projecto missionário comum. E, por último, propomos que se valorizem as relações de diálogo. Falando, confrontando-se, procurando, caminhando e discernindo juntos, constrói-se o futuro. FM A equipa missionária do Zambujal Comunidade de Águas Santas festeja o Beato está empenhada na construção de um centro social. É uma aposta válida? SC Os discursos proféticos são impor- tantes, fazem caminhar mesmo se é difícil caminhar juntos. O profeta vai sempre mais à frente e os outros um pouco mais atrás. Insistimos para que se trabalhe com espírito de corpo. A presença no Zambujal deve avançar. O centro social vai criar uma estrutura sólida, que permite estar mais no meio das pessoas. Além de ser um projecto da Igreja, é uma obra de envolvimento de várias forças que trabalham no bairro para o melhorar. FM Qual o futuro da missão no mundo de hoje? E da Consolata? SC A missão tem futuro, é sempre esperança. Não pára. Em todo o lado existem provocações missionárias, de profecia, experiências avançadas e muito fortes de um trabalho quotidiano e contínuo, em comunhão com forças de vários âmbitos. Quanto mais conheço a nossa família, mais me sinto confiante e contente. Tem futuro porque se interroga, questiona-se, procura soluções, irrita-se, acredita, procura, sacrifica-se. FM O Instituto é chamado a partir para zonas de “fronteira”. Para onde? SC O primeiro de todos os lugares de “fronteira” é o desafio da Ásia. Um Instituto missionário “ad gentes”, como o nosso, sem o objectivo da Ásia não tem futuro. A Ásia é um desafio fundamental e uma resposta que devemos dar. Da Europa à Ásia passando pela África e Américas “Vi muitos sinais que revelam saúde, não obs tante a falta de pessoal e a idade dos missionários”, confessa Francisco Lopez, que acompanhou o visitador. Conselheiro geral para a Europa e Ásia, é espanhol, de 53 anos e já visitou Portugal várias vezes. Impressionou-o “ver os missionários da Consolata com tanta vitalidade e dinamismo”, assim como a “quantidade de pessoas que andam à volta das nossas comu nidades e se sentem par te da nossa família”. Para os Missionários da Consolata em Portugal há caminhos que devem ser potenciados: “a animação missionária feita em comunhão e com qualidade, como acon- tece em Águas Santas, a revista que é valiosa, a presença no Zambujal”. “A nível vocacional é a hora da África”. Mas o mais importante “não é quantos africanos, quantos americanos temos, mas sim a qualidade dos novos missionários”. Em África é tempo “de deixar lugares onde já estamos há muitos anos”. Há obras que estão em condições “de ser entregues à Igreja local, para podermos partir para os lugares de «fronteira», que é a nossa característica”. Na Ásia, a Consolata está presente há 20 anos. Aí, “a espiritualidade é muito forte, assim como o sentido de corpo”. Os primeiros quatro missionários enviados para a Coreia do Sul “não Um segundo desafio podemos chamar-lhe “áreas geográficas”. Em vez de falar em presenças em países, é preciso estudar presenças em áreas geográficas. Dou como exemplo a opção pelos povos indígenas, que abrange vários países, pelas periferias urbanas, pelos afro-americanos. Estas realidades são desafios. Abraçando-os, poderemos qualificar melhor o nosso serviço. Escolhas deste género exigem, porém, uma formação diferente de novos missionários. José Allamano durante a visita canónica. Profissão de Marcos Babo, no meio da assembleia do lado direito FÁTIMA MISSIONÁRIA 17 ANO LIV | Abril de 2008 tinham experiência de missão, para não se deixarem condicionar”. A presença na Ásia exige “que aprendamos o modo de ser missionários neste continente”. O Instituto na Europa está a instalar-se na Polónia. Nas Américas prepara a abertura no México e, em África, lança os olhos para Angola. A falta de pessoal “é uma questão lacerante”. Decide-se abrir, mas faltam missionários. “Se nos fecharmos naquilo que temos, perdemos o objectivo do nosso carisma: ir onde é necessário”. É hora de deixar “lugares que já atingiram uma certa maturidade para ir a outros onde existem maiores urgências”.