Valorização dos Recursos EndógenosAgroalimentar & Gastronomia: Desafios & Oportunidade 2014-2020 25 de Novembro de 2015 Villa Moraes, em Ponte de Lima Territórios & Produtos Locais: O papel dos produtos locais na experiência turística em meio rural – algumas reflexões com base num estudo realizado em três aldeias portuguesas Elisabeth Kastenholz GOVCOPP UNIÃO EUROPEIA Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional Áreas Rurais: Transformações da agricultura à multifuncionalidade, do espaço de produção ao espaço de consumo, crescente procura para o lazer e turismo Novas oportunidades para um desenvolvimento sustentável das áreas rurais? depende… da capacidade de proporcionar experiências apelativas, únicas e memoráveis, assentes no que distingue os territórios. (Cavaco, 1999; Kastenholz, Carneiro, Marques & Lima, 2012; Kastenholz & Lane, 2015; Lane, 2009; OECD,1994; Ribeiro e Marques, 2002;Sharpley, 2000; ) Experiência turística A experiência turística como foco da competitividade do destino começa antes (planeamento e sonhar da experiência), é vivida loco, no destino, e prolongado depois da viagem (memórias, conversas, souvenirs…), (Liebman-Parinello, 1993; Aho, 2001) Schmitt (1999) distingue 5 dimensões da experiência: in 1- sentidos (visão, audição, toque, olfato, paladar) 2 - emoções 3 – intelecto 4 – ações 5 – relações/ conexões/ significados Os consumidores procuram experiências que “maravilhem os seus sentidos”, que “se ajustem à sua personalidade”, que “toquem no seu coração” e que “estimulem as suas mentes” (Schmitt 1999) A experiência turística global do rural Alguns elementos chave natureza, paisagem e atividades ao ar livre, cultura tradicional, ”autenticidade”, modo de vida nostalgicamente idealizado (calmo, saudável, natural, contatos sociais próximos)-> o idílio rural, fugir ao stress da cidade, hospitalidade, relações próximas hóspede-anfitrião, gastronomia tradicional, saudável. Os recursos endógenos mais distintivos e apelativos, que representam as identidades territoriais podem ajudar a desenhar oportunidades de experiências de turismo rural “autênticas” Particularmente os produtos locais (alimentares, artesanais) são sinais materiais signficativos desta experiência, permitindo o envolvimento com a cultura local e intensificação da experiência no destino, materializando-a e prolongando-a no tempo. (Cavaco, 1999; Kastenholz, Carneiro, Marques & Lima, 2012; Kastenholz, Eusébio & Carneiro, 2014; Lane, 2009; OECD,1994; Ribeiro e Marques, 2002;Sharpley, 2000; Sidali, Kastenholz & Bianchi, 2015 ) Turismo em meio rural – motor de desenvolvimento sustentável? ◦ novas oportunidades de negócio -> criação de emprego e rendimento; ◦ potencial para aumentar a auto-estima e sentido de identidade da comunidades locais ◦ contribui para a preservação do património ◦ e para a retenção de residentes nos territórios rurais. O contributo do turismo para o desenvolvimento rural é tanto maior quanto mais localmente enraizado, nas suas diversas facetas da experiência – usando ingredientes locais, empregando residentes locais e valorizando cultura e tradições locais; O consumo de produtos locais pode contribuir para a criação de uma imagem territorial favorável -> incrementar exportações dos produtos locais. Turismo rural não é a panaceia que resolve todos os problemas de todas as áreas rurais (Gannon, 1994; Cavaco, 1999; Cristóvão, 2002; Ribeiro e Marques, 2002). É preciso compreender melhor a natureza e as dinâmicas das experiências do turismo rural, como e em que circunstâncias o turismo rural pode desencadear/ apoiar o desenvolvimento sustentável. Projeto ORTE “A experiência global em turismo rural e desenvolvimento sustentável de comunidades locais -The Overall Rural Tourism Experience and sustainable local community development “ Projeto de 3 anos financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (co-financiado pelo COMPETE, QREN e FEDER) O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA VISITANTES - Perfil Turistas (53%- 2-3 dias) e excursionistas (37%), turistas residenciais(10%); Geralmente de origem urbana; Grande maioria Portugueses (79%); Geralmente com idades entre os 21 e os 50 anos (71%); Tendencialmente com nível de educação elevado; Viajam em casal (46%) ou com amigos (22%); Planeiam a visita via internet, recebem recomendações de amigos e familiares; adquirem “pacotes de experiências”; contatam com entidades locais/ regionais; • Compram produtos locais: chouriço, queijo, doces, mel, vinho, licores, pão, aceite, produtos de linho e carpetes Motivações dos turistas Os visitantes das aldeias procuram o contacto com a Natureza e fuga ao stress “Porque é natureza e no fundo é isto que não temos na cidade, é por isso que vimos para cá e que procuramos” (T14_F) Motivações mais específicas para visitarem as Aldeias: . Linhares da Beira: História e marcas associadas (Aldeias Históricas de Portugal – AHP, e parapente) . Janeiro de Cima: a marca Aldeias do Xisto (AX) . Favaios: participação e/ou observação de atividades relacionadas com os vinhos • Fuga à cidade • Natureza e paz • As marcas marcam! VISITANTES – Experiência vivida Experiência marcada pelo contraste percebida com a vida na cidade por uma forte componente estética (beleza das paisagens e da natureza) e pelo sossego e tranquilidade. A experiência vivida pelos visitantes é ainda caracterizada pela perceção de uma grande variedade de estímulos sensoriais, nomeadamente visuais, aromas e sons. Os visitantes destacam aromas, sobretudo da natureza (cheiros das flores, ervas, dos pinheiros; cheiro da “terra”), sons da natureza (vento, água, pássaros), muitas vezes até o silêncio, e o contraste com a cidade:“..os sons do rio, dos animais … No fundo, é ouvir a natureza e não estar a ouvir os outros sons da cidade…” bem como os sabores associadas à gastronomia local, também designada de “verdadeira comida à portuguesa”, e elogiada pela sua riqueza: ”a gente está sempre a provar coisas novas e a reencontrar sabores que estão um bocado perdidos na mente mas, digamos, é um festival de sabores…” Níveis de satisfação muito elevados Turistas: Interação Visitantes-Residentes • Embora não seja atração principal, valorizada pelos visitantes dades) • ocorre na rua, mas também em lojas, cafés, restaurantes • Turistas apreciam simpatia e hospitalidade: "Nós lá em baixo nas vilas e nas cidades… passamos pelas pessoas e só se as conhecermos é que dizemos alguma coisa. Aqui as pessoas não… nos conhecem de lado nenhum e “bom dia”… foi que … me chamou mais atenção." (T1_L) • "É um Portugal … perfeitamente genuíno..." (T2_JC). • Residentes apreciam a interação com visitantes: “é uma aldeia com muita gente idosa e gostam de sentir o movimento, de ver pessoas novas, dizer “Bom dia”, de escapar por um momento da solidão…” (JC) “As pessoas cá gostam de ver os turistas visitar a aldeia. São muito bairristas, muito aldeolas, muito gostam da aldeia. Então gostam das pessoas virem e dizerem "Olha a aldeia é bonita", gostam muito” (JC) “É muito bom porque começam a conhecer o que nós produzimos e espalham a notícia...O turismo …divulga as nossas tradições e os nossos produtos ….” (F) O inquérito (N=842) mostrou que a maioria dos visitantes das aldeias (70%) compravam produtos locais e que as respetivas despesas assumem uma parte importante das despesas globais -> relevante para as economias locais. despesas associadas à visita da aldeia Euros compra de produtos locais % 87,8 22,6% despesas em alojamento 165,7 42,7% despesas em alimentação 134,3 34,6% 387,8 A experiência turística - sobretudo a experiência sensorial e de interação com os residentes - mostra ter um impacte positivo significativo na compra de produtos locais. Importa proporcionar oportunidades para experiências turísticas sensorialmente ricas, integrando sons, cheiros, estimulos visuais e sabores caraterísticos dos territórios rurais. Os visitantes deveriam também poder contactar com os residentes locais, por exemplo observando a confecção de alguns produtos ou através do seu envolvimento mais ativo em visitas guiadas, apresentações, workshops e eventos de animação cultural que tenham como tema os produtos locais e a sua história. (Kastenholz, Eusébio, Carneiro, 2014) CONCLUSÕES O nosso estudo comprova a experiência turística como chave da atração e satisfação dos turistas e para a competitividade dos destinos rurais. O contraste com /a fuga ao stress das cidades é um tema dominante. Os sentidos assumem um papel central na vivência do turista, sendo muito interligados e associados ao imaginário do “idílico rural” … cheiros, sons, sabores, imagens da “terra”, do “campo”, da natureza e até induzem maiores despesas em produtos locais. Os visitantes manifestam-se muito satisfeitos com a visita, por outro lado, ficam pouco tempo, o que sugere a necessidade de criar experiências mais ricas, envolventes. A agricultura não parece ser uma atração principal, embora a gastronomia local e as paisagens moldadas pela pequena agricultura são muito apreciadas. Também a interação com os residentes não é um motivo de atração, mas é geralmente muito apreciada, tanto por visitantes (pela genuinidade, oportunidade para conhecer cultura local, pela simpatia e hospitalidade) como pelas populações (oportunidade de sair do isolamento, enriquecimento do diaa-dia, aumento da auto-estima). Esta interação também leva a maiores despesas em produtos locais. CONCLUSÕES As populações gostam do turismo e gostariam de o ver ainda mais desenvolvido, para gerar impactes mais significativos ao nível económico (rendimento e emprego), criar oportunidades que ajudem a reter a população mais jovem. Os resultados do projeto ORTE são um ponto de partida para a reflexão sobre e definição de estratégias de desenvolvimento sustentável dos destinos analisados, integrando as exigências do mercado, as necessidades das comunidades locais e o potencial territorial. Destacam o papel: dos recursos endógenos (produtos de origem, património natural e cultura vivida), idealmente articulados em rede, associadas a marcas temáticas, e o papel das comunidades e dos hóspedes na co-criação de experiências mais envolventes, apelativas e significativas Muito Obrigada pela Atenção! e-book disponível em: http://ria.ua.pt/handle/10773/11848 Comunicação integrada no projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (co-financiado pelo COMPETE, QREN e FEDER), 2010-2013: “The overall rural tourism experience and sustainable local community development” (PTDC/CSGEO/104894/2008), coordenado pela Universidade de Aveiro. GOVCOPP UNIÃO EUROPEIA Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional