UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE UMA COMPREENSÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE O FENÔMENO BULLYING E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR IRACY DE SOUZA MONTEIRO ROCHA ORIENTADOR(A): PROFa. MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE MANAUS JANEIRO / 2009 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE UMA COMPREENSÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE O FENÔMENO BULLYING E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia Institucional. POR: IRACY DE SOUZA MONTEIRO ROCHA 3 AGRADECIMENTOS A Deus, presente nesta caminhada, ora ao meu lado, ora carregando-me no colo, que tem sustentado-me em todos os momentos de vitórias e de desafios, A professora e amiga, Psc.Simone Russo, que pela primeira vez apresentou-me o tema proposto desta monografia, A mestra Maria Almerinda Matos que foi a grande incentivadora da iniciação a pesquisa, minhas grandes amigas Ma. Gleny Barbosa e Lilianny Carvalho que são sempre poços de abastecimento de minha autoestima e dividem comigo as mesmas angústias relacionadas aos nossos jovens adolescentes e seu futuro. Aos meus pacientes e alunos do Centro Literatus, que me impulsionam a buscar a cada dia um novo motivo para erradicar da nossa sociedade a discriminação, o preconceito e as brincadeiras de mau gosto. 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Carlos Augusto e Walmira, motivadores e apostadores irrestritos dos meus ideais, Aos meus filhos, Lucas e Ana Clara que souberam com seu amor e alegria abrandar meu coração nos momentos de ausência no lar, Aos meus filhos Pedro Augusto e Thiago que cedo partiram de nossa convivência, porém deixando a maior mensagem de Deus para nossa família, a de que o amor tudo supera e que nossa família teria amor suficiente para gestar outras crianças no coração, Ao meu dedicado esposo Petrarco pela abdicação de sua própria formação acadêmica e na compreensão de repartir sua esposa com os livros e as inúmeras atividades as quais se envolvia em nome de um ideal particular, Aos meus sogros Pedro e Sebastiana pelo acolhimento filial a que sempre me dedicaram, fortalecendo ainda mais nossa família. Aos meus queridos irmãos Rudá e Ubiratã, minhas cunhadas, sobrinhos, sobrinhas, amigas pessoais e toda minha grande família pelo apoio, preocupação e torcida em toda minha jornada profissional. 5 EPÍGRAFE “Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho”. (Mahatma Gandhi apud Von Cristina, 2003 p.7 ) 6 RESUMO Este trabalho trata de uma discussão acerca do Fenômeno Bullying e sua influência na aprendizagem, devido grande repercussão de episódios de violência escolar, que vem causando comoção pública e manifestações de psicólogos, pedagogos,advogados, sociólogos e sociedade civil, para uma reflexão mais abrangente acerca dos danos causados na aprendizagem, após a exposição de vítimas, agressores ou observadores às ocorrências agressivas. Sendo assim, a ausência de um olhar mais critico e as poucas ações preventivas sobre o fenômeno, podem repercutir significativamente no desenvolvimento intelectual e afetivo do individuo, tendo como conseqüência o fracasso escolar. A fim de alcançar a construção de uma sociedade mais aberta a novos modelos de aprendizagem, onde as intervenções psicopedagógica sejam mais valorizadas e reconhecidas como tal, faz-se necessário refletir sobre as questões que dizem respeito ao tema proposto, sob a perspectiva de quem vivencia o cotidiano escolar sem interfaces, portanto uma compreensão psicopedagógica efetiva que assista a demanda escolar, que possibilite suporte ao professor e a família, provavelmente reduziria consideravelmente o bullying na aprendizagem. Palavras – Prevenção. Chave:, Bullying, Violência, Aprendizagem, Adolescência, 7 METODOLOGIA Salienta-se os constructos desenvolvidos para o entendimento dos elementos concernentes ao trabalho do Psicopedagogo como importante recurso facilitador no processo de aprendizagem e suas vicissitudes, bem como a influência negativa do Fenômeno Bullying, as situações, problemas, fatos e fenômenos que o circundam, evidencia-se a utilização de uma abordagem eminentemente analítica, o qual denomina monografia, que Santos (2002) define através de um estudo aprofundado onde o objetivo é o tema, oriundo de um problema delimitado, sem que se despreocupe com as interpretações propostas genéricas do trabalho como um todo, constituído de um conjunto de partes planejadas e antecipadamente ordenada desde o projeto. Tendo como objetivo geral promover uma reflexão psicopedagógica sobre o fenômeno bullying e sua influencia na aprendizagem, e objetivos específicos, descrever o fenômeno bullying; Relacionar o fenômeno bullying às dificuldades de aprendizagem e Promover uma reflexão sobre o trabalho preventivo do psicopedagogo no contexto escolar, abordados em capítulos sistematicamente elaborados, onde o presente estudo desenvolveu como metodologia a Abordagem qualitativa do tipo bibliográfico, a construção do conhecimento trata-se de uma monografia de compilação que é a incorporação sistemática do material coletado, na visão de Lakatos e Marconi (1991), que irá promover a investigação, neste caso a necessidade é de um estudo através de obras literárias de vários autores sobre o assunto escolhido, expondo assim inúmeras visões, possibilitando a organização de uma coleta de dados no maior número possível de obras publicadas sobre a temática, demonstrando os pontos de vista existentes e/ou as idéias que se apresentam harmônica ou antagonicamente de forma clara e didática, bem como oportunizando a exposição de opiniões pessoais (tipo de pesquisa), A amostra será concluída através da interpretação sistemática do referencial teórico, por meio da investigação literária de teóricos como Aberastury, Wallon, Rodrigues, 8 Winnicott, Klein e Rogers, além das fontes atuais específicas sobre o tema, como os autores Fante, Beaudoin, Outeiral, Patto, Souza, Fernandez, Weiss, Bossa, perpassando pelas obras de organizadores como Papalaia, Delgado e Fadiman. Dados coletados a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos investigados e explorados com o objetivo de responder a problemática relativa ao tema, em acervos particulares, bibliotecas de instituições públicas e particulares, além de busca on line. A amostra foi concluída através da interpretação sistemática do referencial teórico, por meio da investigação literária de teóricos como Moscovici, Zimermam, Wallon, Rodrigues, Winnicott, Klein e Rogers, além das fontes atuais específicas sobre o tema, como os autores Taylor, Weiss, Fante, Rangé, Fonseca, Patto, Stenberg e Fernandez perpassando pelas obras de organizadores como Outeiral, Papalaia, Delgado, Osório, Cunha e Fadiman. Na elaboração e análise deste material utilizou-se o Método Dedutivo, onde se inicia com formulações gerais, buscam-se posições que as sustentem ou neguem, apontando-se, ao final, as conclusões a que se chegou. Segundo Viegas (1999), o conceito “método”, tem sua origem das expressões gregas meta e odos, entende-se como o percurso ou caminho para se atingir um fim determinado, investigando, demonstrando a verdade dos fatos ou fenômenos. O procedimento de construção foi realizado a partir da compilação dos pressupostos teóricos, autores que se dedicaram à pesquisa do tema Fenômeno Bullying e sua influência na aprendizagem, concomitantemente aos temas que irremediavelmente se vinculam a este, que registram resultados de pesquisas de campo, buscando abrir novos horizontes no desmistificar e quebrar paradigmas do ato e termo ainda permeado de preconceitos que abrange especificamente o tema escolhido do trabalho de conclusão de curso. Sendo o Fenômeno Bullying um tema recente, delimitou-se o tema referindo-se a sua influencia na aprendizagem escolar, dado o tempo restrito, 9 principalmente quanto ao prazo institucional para apresentação do trabalho, que objetivou contribuir para construção de uma nova cultura pela paz, em particular a adesão em programas interdisciplinares como ação preventiva do psicopedagogo no âmbito escolar. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 CAPÍTULO I ................................................................................................. 16 O FENOMENO BULLYING .......................................................................... 16 1.1– Caracterizando o Fenômeno Bullying........................................... 19 1.2– Compreendendo a Adolescência normal e patológica .................. 27 1.2.1 Definição ...................................................................................... 27 1.2. 2 Características ............................................................................. 28 1.2. 3 Síndrome normal da adolescência .............................................. 31 1.2.4 Busca de si mesmo e da identidade............................................. 33 1.2.5 Tendência grupal .......................................................................... 37 1.2.6 Necessidade de intelectualizar e fantasiar ................................... 38 1.2.7 As crises religiosas ....................................................................... 39 1.2.8 A deslocalização temporal............................................................ 40 1.2.9 A evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade .............................................................................................................. 42 1.3. Atitude social reivindicatória ........................................................... 43 1.3.1 Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta .............................................................................................................. 45 1.3.2 Separação progressiva dos pais .................................................. 46 1.3.3 Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo .............. 47 CAPÍTULO II ................................................................................................ 49 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E BULLYING ............................ 49 2.1– O conceito de aprendizagem ......................................................... 51 11 2.2– As dificuldade de Aprendizagem .................................................. 52 2.3– A construção do individuo como um todo .................................... 55 CAPÍTULO III ............................................................................................... 57 REFLEXÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE O FENÔMENO BULLYING E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM .................................................... 57 CONCLUSÃO ............................................................................................... 62 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................... 65 12 INTRODUÇÃO A abordagem realizada nesta pesquisa, refere-se ao Fenômeno Bullying e sua influencia na aprendizagem, devido grande repercussão de episódios de violência escolar, que vem causando comoção pública e manifestações de psicólogos, pedagogos,advogados, sociólogos e sociedade civil, para uma reflexão mais abrangente a cerca dos danos causados na aprendizagem, após a exposição de vítimas, agressores ou observadores às ocorrências agressivas. O interesse da pesquisa oportunizaria uma visão holística no que se refere à temática, dada a uma crescente preocupação mundial, vinte anos à frente da preocupação nacional sobre o fenômeno Bullying e sua grave conseqüência na aprendizagem. No Primeiro Capítulo “O Fenômeno Bullying”, teremos como objetivo conceituar o fenômeno e suas vicissitudes, retratando-o através dos olhares de vários estudiosos do assunto, onde apresentaremos o complexo palco da adolescência e suas crises existenciais, cuja instabilidade emocional neste processo maturacional, oportuniza a intrusão dolorosa e impiedosa das ações do Bullying, com conseqüências danosas na esfera pedagógica e social. Através do Segundo Capitulo “As dificuldades de aprendizagem e o Bullying”, será desenvolvido uma abordagem literária no que concernem os elementos básicos da aprendizagem, considerando as dificuldades de aprendizagem como um dos mais complexos e polêmicos no âmbito escolar, tendo em vista que grande parte dos teóricos sua conceituação, mostram-se divergentes frente que Sá sua identificação; devido esta dicotomia fez-se necessário o prévio conhecimento teórico que nos preparasse para tal desafio, bem como uma visão holística da multiplicidade de elementos norteadores do estudo, a contribuição deste estudo trará à luz a crítica reflexiva, pautado no 13 inter-relacionamento escola/família/aluno e no vínculo firmado entre ambos concomitantemente. É importante enfatizar ainda que, a adolescência como um período de rápidos acontecimentos em todos os aspectos, físico, emocional, psicológico, social e espiritual, torna esta fase a mais rápida e dinâmica, do desenvolvimento humano. Simplesmente normatizar e estabelecer padrões nesta fase, têm colocado a adolescência numa condição de características e aspectos extremamente dolorosos, em virtude deste fenômeno está inserido em um cenário de mutações vertiginosas, típico do mundo contemporâneo, em que a sociedade e a cultura sofrem intensas mudanças e transformações de paradigmas e valores que incidem poderosamente na existência dos adolescentes. A violência e a agressão na atualidade representada por uma geração de adolescentes, estão relacionadas às ações de gangs, dos francoatiradores de escola, dos queimadores de mendigos, dos homicidas de grupos étnicos ou simplesmente dos agressores intrafamiliares. Neste contexto, a escola abriga uma hostilidade exagerada que remota às idades mais precoces, onde a família, professores e cidadãos comuns acreditavam que agressões ou reações violentas eram apenas “travessuras próprias da idade’’, e que hoje tal processo socializador sugere um padrão de conduta punitivo frente as diferenças e a diversidade. Sendo assim a ausência de um olhar mais critico, desinformação e as poucas ações preventivas sobre o fenômeno Bullying e sua influencia na aprendizagem, podem repercutir significativamente no desenvolvimento intelectual e afetivo do individuo, tendo como conseqüências o fracasso escolar. Neste sentido o Terceiro Capitulo “Reflexão Psicopedagógica sobre o Fenômeno Bullying e sua influencia na Aprendizagem”, buscou pontuar a importância de se clarificar concretamente no âmbito escolar, a desmistificação do fenômeno, minimizando a omissão e a conivência destes comportamentos maléficos. 14 Ao iniciarmos o trabalho fez-se necessário incluirmos o quanto as reflexões que precedem o estudo foram de impressionante fascínio, na construção sistemática das estratégias desenvolvidas em prol de dividirmos e delimitarmos os pontos primordiais e indubitavelmente indispensáveis para a compreensão de tal abordagem, o qual justifica-se de forma ímpar, a existência de um serviço de intervenção psicopedagógica que compreendesse as influências do fenômeno bullying na aprendizagem entre alunos do ensino médio, não só a nível de observação, mas no apoio, na orientação e prevenção dos problemas oriundos da falta de informação, formação e orientação de toda comunidade escolar. Percebeu-se ainda neste capitulo que, pais e/ou cuidadores e a sociedade como um todo, devem estar atentos as variáveis externas que se associam às condições internas do adolescente em plena evolução psíquica, pois diferente do que se pensava há alguns anos atrás, simultaneamente com as inúmeras variáveis, o cérebro adolescente, longe de ser algo simples, passa também, por um período de desenvolvimento surpreendentemente complexo e crucial nesta fase, reconhecendo que este é apenas o início de uma recente descoberta na busca incessante de entender e ajudar o adolescente no ápice seu desenvolvimento, contribuindo para desmistificação da caracterização do estigma do “aborrecente”. A fim de alcançar a construção de uma sociedade mais aberta a novos modelos de aprendizagem, onde as intervenções psicopedagógicas sejam mais valorizadas e reconhecidas como tal, faz-se necessário refletir sobre as questões que dizem respeito ao tema proposto, sob a perspectiva de quem vivencia o cotidiano escolar sem interfaces, portanto uma compreensão psicopedagógica efetiva que assista a demanda escolar, que possibilite suporte ao professor e a família, que provavelmente reduziria consideravelmente o bullying na aprendizagem. Ressalta-se, no entanto que além das motivações acadêmicas que possibilitaram este trabalho, foi sem sombra de dúvida a motivação pessoal 15 que norteou e trilhou os caminhos deste trabalho de conclusão de curso, visto que me apresento como profissional da educação preocupada com os rumos da violência disfarçada como fator preponderante nas dificuldades de aprendizagem, bem como no fortalecimento dos rótulos na adolescência. 16 CAPÍTULO I O FENOMENO BULLYING ...como reagirá o indivíduo cuja mente está afetada por esses “víruspsiquicos”, ao se deparar com novas situações humilhantes, olhares ameaçadores ou de desaprovação, seja na família e no trabalho, seja nas interações sociais? Que futuro aguarda esse individuo, exposto que foi às diversas situações constrangedoras, que teve a memória infestada por esses registros “doentios”? ( FANTE, 2005, p.193) Atualmente, um dos temas que vem despertando cada vez mais, o interesse de profissionais das áreas de educação e saúde, em todo o mundo, é sem dúvida, o do bullying escolar. Termo encontrado na literatura psicológica anglo-saxônica, que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, em estudos sobre o problema da violência escolar. Sócias (apud FANTE, 2005), considera o fenômeno antigo e ao mesmo tempo novo, por ser um mal-estar que se apresenta de forma oculta, no desconhecimento, na indiferença, em fim na desvalorização do Outro, advindos de comportamentos inadequados aprendidos e internalizados pelo sujeito ao longo de seu desenvolvimento, em seu contexto social, repercutindo em seu emocional e intelectual, transformando-os em presas fáceis para essa prática. Todos os dias, alunos no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, cresce e envolve, de forma quase epidêmica, em números cada vez maiores, estimulando a delinqüência e induzindo a outras formas de violência explícita, como a intolerância no transito, as agressões a homossexuais, prostitutas ou mendigos, homicídios por motivos fúteis, estupros, vandalismo e destruição do patrimônio público, dentre outros. 17 Ao estimular a delinqüência, o fenômeno Bullying produz em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa auto-estima, capacidade de auto-aceitação e resistência a frustração, reduzindo a capacidade de auto – afirmação e de auto - expressão, tendo como agravante, a interferência drástica no processo de aprendizagem e de socialização, que se estende suas conseqüências para o resto da vida, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e de psicopatologias graves como maníacos, psicopatas, anti-sociais, suicidas, fóbicos e obsessivos, podendo chegar a um desfecho trágico, como os casos famosos como o massacre de Columbaine e Remanso. Segundo Fante (2005) Bullying é um problema que afeta as nossas escolas, comunidades e toda a sociedade, promovendo a violência moral, intimidação, preconceito e intolerância, tal comportamento não está restrito a nenhum tipo de instituição, seja pública ou privada, sendo assim a única forma de evitá-lo é havendo uma ação preventiva do psicopedagogo, uma ampla discussão com pais, professores e alunos e a orientação particular de casos observados. As crianças e adolescentes em idade escolar, ou a maioria delas está em contato com atos violentos em todas as esferas de seu relacionamento, comportamentos de pressão, opressão, intimidação, gozação, perseguição são comuns em seu dia-a-dia. Porem nem todos estes acontecimentos podem ser caracterizados como bullying, alguns episódios esporádicos e brincadeiras próprias de cada faixa etária, mesmo com comportamentos inadequados não trazem conseqüências para a auto-estima das crianças e fazem parte seu desenvolvimento e de sua socialização. De acordo com Lopes(1998), os estudos e pesquisas sobre o tema iniciaram na Noruega entre 1978 a 1993 pelo Professor Dan Olweus da Universidade de Bergen e com a Campanha Nacional Anti-Bullying nas próprias escolas norueguesas. Na década de 70, mesmo não ocorrendo interesse maior sobre o assunto Olweus continuou investigando, até meados 18 dos anos 80, quando o suicídio de alunos jovens na faixa de 10 a 14 anos oportunizaram indicações das ações do fenômeno, reiniciando as discussões nas instituições de ensino. Pesquisadores de todo o mundo atentam para este fenômeno, que toma, cada vez mais, aspectos preocupantes quanto ao seu crescimento e por atingir faixas etárias inferiores, relativas aos primeiros anos de escolaridade, Fante (2005) afirma que estima-se que em torno de 5% a 35% de crianças em idade escolar estão envolvidas, de alguma forma, em atos de agressividade e de violência na escola. Lopes(2008) pontua, na edição 4, da revista Mente e Cérebro: Olhar Adolescente, que baseado nos dados dos mais diversos países seguramente afirma que o fenômeno está presente em todas as escolas de todo o mundo. No Brasil, o bullying ainda é pouco pesquisado, comentado e estudado, motivo pelo qual, não se tem indicadores que forneçam uma visão global para que se possa compará-lo aos demais países, a não ser dados de alguns estudos fornecidos pela ABRAPIA e UNESCO. Encontram-se ainda segundo Lopes (2008) e Fante (2005) como reflexo de trabalhos europeus, algumas pesquisas sobre o Bullying escolar em Santa Maria (RS), o trabalho realizado pela professora Marta Canfield e seus colaboradores (1997) em quatro Escolas Públicas, No Rio de Janeiro, as pesquisas dos Profs. Israel Figueira e Carlos Neto(2000 – 2001) em duas escolas Municipais, em São José do Rio Preto e região (2000 –2002), pesquisas realizadas junto à quase mil e quinhentos alunos do Ensino Fundamental e Médio em Escolas Públicas e Privadas, pela professora Cleodelice Aparecida Zonato Fante e seus colaboradores Tratando-se de um problema mundial que de certa forma ocorre em todas as escolas, Fante (2005) pontua que vem se disseminado largamente nos últimos anos e que só recentemente vem sendo estudado em nosso país, que apresenta as taxas de prevalência de bullying entre 5% a 35% dos alunos estão envolvidos no fenômeno. 19 As causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e variadas, na ótica de Taylor e Beaudoin (2006) Devendo-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas dentre outros. Sendo a escola um espaço educacional entre a família e a sociedade, como fala Tiba (2006), a formação fica dificultada quando os limites são pouco desenvolvidos em casa e a sociedade é facilitadora da transgressão quando pouco faz para a preservação da cidadania 1.1– Caracterizando o Fenômeno Bullying Sem termo equivalente na língua portuguesa, define-se universalmente como “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, morais e materiais. O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência, Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos, possui ainda a propriedade de ser reconhecido em vários outros contextos, além do escolar: nas famílias, nas forças armadas, nos locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas prisões, nos condomínios residenciais, enfim onde existem relações interpessoais, sendo uma ação com aplicabilidade mundial, ressalta-se abaixo alguns termos e conceitos: 20 • Origem inglesa: adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão, termo usado pela literatura Psicológica anglo-saxônica nos estudos dos comportamentos agressivos, anti-sociais e violência escolar. • Noruega e Dinamarca: Mobbing • Suécia e Finlândia: Mobbning • França: harcèlement quotidién • Itália: prepotenza ou bullismo • Japão: yjime • Alemanha: agressionen unter shulern • Espanha: acoso y amenaza entre escolares • Portugal: maus-tratos entre pares • Brasil: adotou-se o termo que de maneira geral é empregada na maioria dos outros países como bullying. • Tradução: enquanto nome bully (valentão, tirano), como verbo(brutalizar, tiranizar,amedrontar) Estudiosos com Taylor e Beaudoin (2006) deste comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais onde os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão através de brincadeiras que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar, do prazer mórbido que os colegas sentem em maltratar o outro e de vê-lo sofrer e, com isso, se sentirem "poderosos" e "donos" do colega, também da humilhação perante as risadas e da exclusão declarada dos grupos que marca o ano escolar do começo ao fim acreditam que não existe regra definida para ser um alvo de bullying, todos são alvo em potencial, basta qualquer diferença, ter alguma dificuldade, ser o melhor aluno 21 da sala, raça, cor ou mesmo, ser uma pessoa mais sensível, todos podem ser escolhidos e não basta estar integrado em um ano escolar pois, no ano seguinte, por qualquer razão, o integrado pode ser o escolhido. A escola é palco para atores que treinam a convivência em sociedade, onde acredita-se necessário certa agressividade para sobrevivência do indivíduo, portanto, é nessa pequena sociedade que desenvolve-se as mais inacreditáveis ações que são fortalecidas pela tolerância excessiva quanto a indisciplina, passividade diante das brigas ou brincadeiras infantis. Os tipos de “bullying” classificados, entre os adolescentes são identificados e como “vítima típica”, que serve de bode expiatório para um grupo; “vítima provocadora”, aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar; “vítima agressora”, que reproduz os maus-tratos sofridos; “agressor”, aquele que vitimiza os mais fracos; “expectador”, aquele que é testemunha dos maus-tratos, porém não se expõe. O bullying pode se manifestar causado pelos adolescentes, mas pode estar presente na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, podendo ser observado por exemplo na conduta dos adultos que ironizam, ofendem, expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua superioridade e poder, usando deste comportamento freqüentemente. Fante (2007), em entrevista a Revista Mente e Cérebro: Olhar Adolescente, pontua que entre os pares, as agressões vão da agressão real como a violência física, sexual, moral e psicológica, até a violência virtual. As atitudes prepotentes, são dominadoras e cruéis, nos mais variados contextos, meninos e meninas deliberadamente atormentam, perseguem, intimidam, discriminam, hostilizam, humilham, amedrontam e molestam outros semelhantes, abrindo as portas para a delinqüência juvenil, pois a intensidade do fenômeno e o agravamento dos episódios aumentam conforme o grau de escolaridade. Acreditava-se segundo Fante, este tipo de comportamento seria próprio do sexo masculino, entretanto com a crescente divulgação do tema e o 22 surgimento de novas pesquisas, constatou-se comum também entre as meninas, embora os meninos empreguem mais a força física, perseguição, trotes e a intimidação psicológica para submeter os mais fracos ao seu domínio. Já as meninas agem de maneira mais sutil e perversa, valendo-se da calúnia, difamação, fofoca, exclusão,,conspiração e manipulação afetiva, social e de relacionamentos, onde nem sempre as palavras são empregadas, sendo substituídas por olhares ameaçadores, gestos, sorrisos dissimulados e maliciosos. Constantini (2004), verbaliza que, na Itália, assim como em muitos países Europeus, registra-se a difusão entre os adolescentes de comportamentos ligados ä agressividade e uma crescente dificuldade de intervenção pelos educadores. Meninos e meninas, no uso de sua força física ou habilidade psicoemocional, utilizam várias artimanhas para se tornar populares ou disfarçar sua insegurança, rotulam e perseguem aqueles que consideram diferentes, constrangendo-os com zoações, apelidos pejorativos que aos poucos vão excluindo cada vez mais. A medida entre o abuso e um comportamento inadequado é avaliada de acordo com a freqüência e a intensidade que ocorrem, pois marcam a autoestima, a personalidade e a vida de uma criança e de um jovem de tal forma que aqueles que viveram situações de opressão revoltam-se contra seus agressores e contra os expectadores causando verdadeiras tragédias, inclusive contra a própria vida, devido a continua exposição a exclusão e desvalorização, pois de acordo com Fante (2007), em entrevista para a Revista Mente e Cérebro: Olhar Adolescente, o agressor necessita do estado de confusão e medo, e da sensação de impotência da vitima, do silencio dos que estão ao seu redor, bem como da ausência de intervenção da família e da escola. Segundo Tiba (2005), além das ações descritas anteriormente,vem ocorrendo o CYBER BULLYING que é outra forma manifestação que vem crescendo muito entre os adolescentes, acontecendo com muita freqüência na 23 internet: Os sites de ódio, os blogs, sala de bate-papo e orkut com mensagens negativas e injuriosas sobre uma pessoa ou um grupo, preconceitos contra raças e religiões, sendo assim esta problemática apresenta muitas implicações do ponto de vista da prática educativa e social, onde suas diferentes manifestações têm preocupado de forma especial pais e educadores. Em decorrência dos dados extremamente relevantes, Fante (2005) foi motivada a pesquisar e estudar, o que possibilitou identificar a existência de uma doença psicossocial expansiva, desencadeadora de um conjunto de sinais e sintomas, a qual denominamos SMAR - Síndrome de Maus-tratos Repetitivos. O portador dessa síndrome possui necessidade de dominar, de subjugar e de impor sua autoridade sobre outrem, mediante coação; necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo; de auto-afirmação, de chamar a atenção para si, possui ainda, a inabilidade de expressar seus sentimentos mais íntimos, de se colocar no lugar do outro e de perceber suas dores e sentimentos. Esta Síndrome apresenta rica sintomatologia: irritabilidade, agressividade, impulsividade, intolerância, tensão, explosões emocionais, raiva reprimida, depressão, stress, sintomas psicossomáticos, alteração do humor, pensamentos suicidas. É oriunda do modelo educativo predominante introjetado pela criança na primeira infância, sendo repetidamente exposta a estímulos agressivos, aversivos ao seu psiquismo, a criança os introjeta inconscientemente ao seu repertório comportamental e transforma-se posteriormente em uma dinâmica psíquica “mandante” de suas ações e reações. Dessa forma,pontua Fante (2005) se tornará predisposta a reproduzir a agressividade sofrida ou a reprimi-la, comprometendo, assim, seu processo de desenvolvimento social. As conseqüências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o 24 déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional, a baixa na resistência imunológica e na auto-estima, o stress, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio. Para os “agressores”, ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, o desenvolvimento de habilidades para futuras condutas delituosas, além da projeção de condutas violentas na vida adulta. Para os “espectadores”, que é a maioria dos alunos, estes podem sentir insegurança, ansiedade, medo e estresse, comprometendo o seu processo sócioeducacional. Tanto vítimas, quanto agressores ou expectadores, de certa forma lidam com este tipo de violência, como se esta fosse importante para passar por essa etapa da adolescência, dada imagem solitária própria da idade, ou da excessiva necessidade de pertença a um determinado grupo. No entanto vítimas podem desenvolver uma grande incapacidade de defesa, pouca determinação ou desconfiança no seu semelhante, assim como o expectador poderá crer que o correto está no ataque ao outro para defender-se da violência ou tornar-se indiferente aos outros, além disso o agressor acarreta para si um futuro de onipotência, resistência a frustração, bem como o limiar da delinqüência juvenil. Este fenômeno comportamental atinge a área mais preciosa, íntima e inviolável do ser, a sua alma, envolve e vitimiza a criança, na idade escolar, tornando-a refém de ansiedade e desconfiança, que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida, a forte carga emocional traumática da experiência vivenciada, registrada em seus arquivos de memória, podendo aprisionar sua mente a construções inconscientes de conexões de pensamentos desorganizados, que interferirão no 25 desenvolvimento da percepção de si mesmo e da auto-estima, comprometendo sua capacidade de superação na vida. Dependendo do grau de sofrimento vivido pela criança ou jovem, este poderá sentir-se ancorado em construções de pensamentos inconsientes de vingança e de suicídio, ou manifestar determinados tipos de comportamentos agressivos ou violentos, prejudiciais a si mesmo e à sociedade, isto se não houver intervenção diagnóstica, preventiva e psicoterápica, além de esforços interdisciplinares conjugados, por toda a comunidade escolar. Nesse sentido podemos citar as recentes tragédias ocorridas em escolas, como por exemplo, Columbine (E.U.A.); Taiuva (SP); Remanso (BA), Carmen de Patagones (ARG) e Red Lake (E.U.A.). Esta forma de violência é de difícil identificação por parte dos familiares e da escola, uma vez que a “vítima” teme denunciar os seus agressores, por medo de sofrer represálias e por vergonha de admitir que está apanhando ou passando por situações humilhantes na escola ou, ainda, por acreditar que não lhe darão o devido crédito, sua denúncia ecoaria como uma confissão de fraqueza ou impotência de defesa. Os “agressores” se valem da “lei do silêncio” e do terror que impõem às suas “vítimas”, bem como do receio dos “expectadores”, que temem se transformarem na “próxima vítima”. O que potencializa definitivamente uma pessoa a se tornar alvo é a fragilidade emocional associada a diferença de padrão, estar fora do padrão exige um fortalecimento dos recursos emocionais para enfrentar as reações dos colegas e, muitas vezes, o indivíduo acaba sucumbindo e se abatendo, o que gera um empobrecimento de sua auto-estima e o impede de procurar ajuda ou reagir, Com isso, a insociabilidade e a passividade aumentam fazendo despencar tanto o rendimento escolar, quanto a freqüência e interesse na escola. Este quadro pode levar os jovens a desenvolverem uma série de doenças emocionais ou físicas devido ao stress a que estão expostos diariamente entre elas: depressão, síndrome do pânico, gastrite, colite, asma, 26 bronquites e distúrbios alimentares, sendo assim a situação vivida no ambiente escolar e de lazer é capaz de contaminar, ou mesmo, inviabilizar todos os desdobramentos que as relações grupais são capazes de favorecer como, por exemplo, o desempenho escolar, as escolhas futuras e a profissão. Zawadski e Middelton (2002) pontuam que a tragédia de Columbine, ainda choca, por que nos alerta sobre os anos de tormentos que um jovem pode passar, para agir de forma tão violenta e intencional, como se algo tivesse desencadeado nesses garotos a urgência de descarregar sua agressividade mal-situada em outras crianças, em um ato ultimo de violência. A exemplo de jovens americanos, o Brasil também na tragédia de Taiuva(SP), surpreende-se com a transformação promovida pela violência a moral ao qual como alerta Picchia (2008) em entrevista a revista Psique Especial, ciência e vida, alguns indivíduos se submeteram por um longo período. Normalmente os jovens não buscam ajuda dos adultos, faz-se importante a escola e a família estar atenta para indicadores comuns de identificação da ação do Bullying, como a Resistência inexplicável em ir para a escola, Medo e ansiedade incomuns, Distúrbios do sono ou pesadelos, Queixas físicas vagas, tais como dor de cabeça ou estomago,especialmente nos dias de aula, Pertences que são perdidos ou chegam em casa avariados, Atrasos constantes no retorno da escola para casa, dentre outros. Como relata Chalita (2008), é apavorante chegar à escola e não saber o que se vai encontrar, já que as ofensivas independem de qualquer reação ou manifestação da vítima, que não escolheu ser gorda, magra, alta ou baixa, ter orelhas grandes ou nariz torto. Na mente infantil, salienta, paira a certeza de que cada dia é mais um dia de tortura e zombaria, mais um dia de exposição ao ridículo. O medo para estes jovens, é vivido no silencio da impotência, e o desejo de libertar-se traduz-se através do ódio, da raiva contida, do desejo de reagir, 27 de destruir o outro ou a si próprio, pois quando a diversidade não é acolhida, a desigualdade é legitimada. 1.2– Compreendendo a Adolescência normal e patológica 1.2.1 Definição Na atualidade questiona-se a concepção da adolescência, inspirada por correntes da psicanálise, como uma etapa necessariamente marcada por conflitos, turbulências e crises. Sendo considerada como um momento crucial do desenvolvimento do indivíduo, aquele que marca não só a aquisição da imagem corporal definitiva, como também, a estruturação final da personalidade, sendo uma idade não só com características biológicas próprias, mas com uma psicologia e até mesmo uma sociologia peculiar (OSÓRIO1992). É importante destacar, contudo, que tanto do ponto de vista biológico e psicológico quanto sob a perspectiva legal, existem definições distintas para as faixas de idade relativas a esses dois segmentos, que irá variar em muitos aspectos para alguns teóricos, quanto ao início e término da adolescência, não havendo um consenso entre os diversos autores a respeito do período de tempo coberto por cada uma destas faixas. De acordo os estudos desenvolvidos na área da adolescência, fala-se em números aproximados que definem e identificam o período ou idade cronológica da ocorrência desta fase, levando-se em consideração fatores biopsicossociais do ambiente aonde o fenômeno ocorre. Há muitas definições estabelecidas, embora nem todas as sociedades possuam este conceito de adolescência, baseando-se sempre nas diferentes idades para definir este período. No entanto, vários autores e pesquisadores definem a adolescência de acordo com os estudos das suas abordagens 28 teóricas, havendo muita disparidade de pontos de vista quanto ao início e término da adolescência com uma vasta amplitude na definição desta fase, suscitando diversos problemas de definição como, se a adolescência deve começar com as mudanças do crescimento evolutivo e com o atingimento da puberdade, sendo improcedente fixar idades específicas para este desenvolvimento físico, pois a idade cronológica geralmente é um indicador falho da identidade biológica, especialmente na adolescência, devido às grandes diferenças individuais que caracterizam este período de desenvolvimento (WEINBERG, 1999). Frente a vigente dicotomia de definições que envolvem os limite entre os extremos científicos e os fenômenos existenciais do indivíduo na sua evolução, buscou-se, não se fixar a um período cronológico preestabelecido dentro de um fenômeno, tomar como referência os termos do processo psicológico, em face das limitações no emprego de outros elementos, diante disso a adolescência começa hipoteticamente para alguns autores com as reações psicológicas do jovem e suas mudanças físicas da puberdade que se prolonga até uma razoável resolução de sua identidade pessoal. “O que acontece com a maioria das pessoas jovens, em que estes eventos ocorrerão principalmente entre as idades de 11 e 21 anos” Campos, D. (2001, p. 15). Portanto a adolescência consiste, em um processo de intensas transformações, internas e externas, que envolvem não apenas o individuo em si, mas o contexto em que está situado, em especial, ao qual está vinculado afetivamente (VIVARTA, 2004) 1.2. 2 Características No decorrer do desenvolvimento humano as mudanças ocorrem durante toda a vida e, cada etapa tem a sua importância nesse processo, onde as transformações decorrentes desses fenômenos se refletem na forma que cada 29 indivíduo busca para se adaptar a estas mudanças, de acordo com a sua condição interna e externa de personalidade. Sendo a adolescência uma etapa caracterizada como uma fase de transição, marcada pela passagem do estado infantil para o estado adulto, em que ocorrem significativas mudanças biológicas, psicológicas e sociais, que trazem ao indivíduo alterações quantitativas, marcadas num determinado momento pelo surgimento de uma atividade hormonal que desencadeia as características sexuais, o aumento de peso, altura, novo vocabulário e etc; As alterações qualitativas irão se referir à estrutura cognitiva, como o desenvolvimento marcado pelo aparecimento de novos fenômenos que refletem no jeito de sentir, pensar e se comportar do indivíduo como um todo, (OUTEIRAL, 2005). Essencialmente ancorado em conceitos da psicanálise o autor acima citado, coloca que as transformações que afetam o organismo nessa fase da vida se constituem em uma das fontes mais fortes de angústias para os adolescentes. Isto por que eles se vêem em uma situação contraditória, pois perdem o corpo a que estavam acostumado, estando em um período de vida turbulenta e um dos mais criativos momentos para rupturas radicais com tudo que conheciam em termos existenciais e sociais. Estes fenômenos se refletem no comportamento do jovem como um todo, e a capacidade do adolescente para lidar com tais fenômenos, dependerá de vários aspectos que podem, de acordo com o ambiente que o indivíduo esteja, gerar conflitos e dificuldades para se adaptar ou lidar com o novo. Neste sentido Levisky (apud OUTEIRAL, 2005, p. 87) coloca que “A adolescência é um processo fundamentalmente psicossocial, desencadeado, impelido concomitantemente às alterações biológicas, que são características deste período”. Na adolescência, estas mudanças muitas vezes são vistas e vividas como catastróficas, e o adolescente se questiona sobre como lidar com tudo isso, que está ocorrendo dentro e fora de si, e vários outros questionamentos. 30 Estas situações ou crises geram grandes confusões internas. Desta maneira, Rivier (apud OUTEIRAL, 2005, p. 89), afirma que “em qualquer que seja o contexto sociocultural, a adolescência será sempre um período de crise e de desequilíbrio”. Porem vale ressaltar que neste turbilhão de fenômenos, o cotidiano segue com todas as exigências sociais, educacionais e familiares, então ao mesmo tempo que para alguns a angustia está direcionada para esta experiência, para os demais tais registros científicos, não passam de predicados que são pólos influenciadores para a quebra das regras e imposições institucionais, concomitantemente com a ausência de limites, descaso e impotência da família, no momento em que o jovem mais precisa de direcionamento e estabilidade afetiva. No entanto, estas mudanças corporais e comportamentais possibilitam aos adolescentes escreverem sua própria história, a partir da visão que estes têm de si mesmo, o que torna mais significante a qualidade de como se vive e se percebe estas transformações. É nesta fase também, que o indivíduo nas suas experiências se define como pessoa, com o início psicológico do fenômeno da adolescência, desenvolvimento cognitivo e “caracterizado com a por uma consolidação aceleração do formação da da personalidade”. (KAPLAN; SADOCK. 1997, p. 61). Com este movimento multifacetário do individuo, as relações estabelecidas, as frustrações, crises e dificuldades tem um valor afetivo muito maior que em outras etapas da vida, pois são possibilidades geradas e gerenciadas por eles mesmos, com objetivos e enfoques nem sempre planejados, porem com energia corporal e psíquica imbuídas no desejo da conquista e do desafio. 31 1.2. 3 Síndrome normal da adolescência De acordo com as idéias de Aberastury e Knobel, (1981) este subcapitulo comenta a crise experienciada pelos jovens no desenvolvimento de uma adolescência normal, que se constitui dentro de um processo evolutivo estabelecido, sobre o aprendizado vivenciado pelo jovem num período caracterizado como síndrome normal da adolescência, no sentido da necessidade intrínseca do ser humano de exteriorizar os seus conflitos de acordo com sua estrutura e suas experiências. A personalidade não se estabelece sem passar por um certo grau de desequilíbrio de condutas que devem ser consideradas inerentes a evolução normal desta etapa da vida, frente a um mundo tão mutável e a um indivíduo que em plena construção que apresenta uma série de atitudes também mutáveis, tais condutas se manifestam de forma muito especial, que de maneira alguma podem ser comparadas com o que seria a verdadeira normalidade no adulto. O conceito de normalidade apresenta complexidade, pois geralmente varia em relação ao meio sócio-econômico, político e cultural, se firmando como normalidade sobre as pautas de adaptação da sociedade, sendo portanto resultante e determinado em função das normais sociais vigentes de forma implícita ou explícita deste meio. Neste prisma, Anna Freud (1958 apud ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 27) pontua que: É muito difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico na adolescência, e considera que, na realidade, toda a comoção deste período da vida deve ser considerado como normal, assinalando também que seria anormal a presença de um equilíbrio estável durante o processo adolescente. 32 O adolescente exterioriza seus conflitos nesta fase da vida, de acordo com a sua estrutura e suas experiências; passando por desequilíbrios e instabilidades extremas apresentando períodos de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia, que se sucedem ou são concomitantes com conflitos afetivos, crises religiosas, oscilação de condutas sexuais dirigidas para o heteroerotismo e até homossexualidade ocasional. Estas características são comuns e possíveis de serem vistas em diferentes culturas e dentro dos diferentes marcos sócioeconômicos de vida. A maior ou menor anormalidade desta etapa deve-se, em grande parte, aos processos de identificação e de luto que tenha podido realizar o adolescente. Na medida em que tenha elaborado os lutos, que são em última instância os que levam à identificação, o adolescente verá seu mundo interno mais fortificado e, então, esta normal anormalidade será menos conflitiva e, conseqüentemente, menos perturbadora, (ABERASTURY; KNOBEL, 1981p. 28). Neste sentido, os aspectos supracitados são oportunidades essenciais para conflitos entre os pares, principalmente no âmbito escolar , dada as diferenças individuais, as exigências dos grupos, clãs e gangs, onde na região norte pode ser conhecido como galera, principalmente nas comunidades de baixa renda, sendo imperativo o acompanhamento desta fase com extremo cuidado, cautela e sabedoria, diante de suas peculiaridades. 33 1.2.4 Busca de si mesmo e da identidade A identidade do adolescente se caracteriza pelas mudanças de relações do indivíduo, e essas muitas situações de mudanças que se produzem nesta fase, influem nas características de como é nesse momento a busca de si mesmo, fazendo com que o indivíduo dê um novo passo para se estruturar, na preparação para a vida adulta, dentro de um continuum de sua identidade. Tem-se que reconhecer que a identidade é uma característica de cada momento evolutivo, sendo a adolescência um momento do desenvolvimento, uma etapa a mais neste processo, deve-se tentar observar, quais são as características fundamentais que aparecem neste período vital, pois sabemos que a criança entra na adolescência com dificuldades, conflitos e incertezas que se magnificam neste momento vital, para em seguida surgir à maturidade estabilizada com determinado caráter e personalidade adulta. A idéia de si mesmo implica algo muito mais amplo em todas as etapas do desenvolvimento. É o conhecimento da individualidade biológica e social, do ser psicofísico em seu mundo circundante, tem características especiais em cada idade evolutiva, sendo a conseqüência final da adolescência um conhecimento de si mesmo como entidade biológica no mundo, o todo biopsicossocial de cada ser nesse momento da vida. O corpo e o esquema corporal são uma resultante intrapsíquica da realidade do sujeito, ou seja, é a representação mental que o sujeito tem do seu próprio corpo como conseqüência de suas experiências em contínua evolução. Esta noção do indivíduo vai se estabelecendo desde os primeiros movimentos dinâmicos de dissociação, projeção e introjeção que permitem o conhecimento do seu eu e do mundo exterior, sendo de fundamental importância os processos de luto com relação ao corpo infantil perdido. Embora este venha acontecendo com características diferentes desde o começo da vida, se cristalizando de uma maneira muito significativa e especial na adolescência. 34 A conquista de um autoconceito vai se desenvolvendo à medida que o sujeito vai mudando e vai se integrando com as concepções que muitas pessoas, grupos e instituições têm a respeito dele mesmo, e vai assimilando todos os valores que constituem o ambiente social. Concomitante mente vai se formando este sentimento de identidade, como uma verdadeira experiência de autoconhecimento; Sherif e Sherif (1965 apud, ABERASTURY; KNOBEL, 1981 p. 31). Na busca da identidade, o adolescente recorre às situações que se apresentam como mais favoráveis no momento. Uma delas é a uniformidade, que proporciona segurança e estima pessoal. Ocorre aqui o processo de dupla identificação em massa, onde todos se identificam com cada um, o que explica em parte o processo grupal do qual participa o adolescente. E em certas ocasiões também pode levar ao que; Erikson (1956 apud ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 32), chamou de identidade negativa, baseada em identificações com figuras negativas mais reais, onde na cabeça do adolescente de maneira fantasiosa, para ele é preferível ser alguém perverso, indesejável, à não ser nada. Isto constitui uma das bases dos problemas das turmas de delinqüentes, dos grupos de homossexuais, dos adeptos as drogas e etc. A realidade costuma ser mesquinha ao proporcionar figuras com as quais pode fazer identificações positivas e então, na necessidade de ter uma identidade, recorre-se a esse tipo de identificação anômala mais concreta. 35 A possibilidade da desconformidade com a personalidade adquirida e o desejo de conseguir outra por meio da identificação projetiva. Esta pode ser mobilizada pela inveja, um dos sentimentos mais importantes que entram em jogo nas relações de objeto; Pode acontecer aqui a “identificação com o agressor”, na qual o adolescente adota as características de personalidade de quem atuou agressiva e persecutoriamente com ele. (GRINBERG;1961 apud, ABERASTURY; KNOBEL, 1981 p. 33) Existem também problemas de pseudo-identidade, expressões manifestas do que se quisera ou pudera ser e que escondem a identidade latente, a verdadeira. A angústia que se desperta nesta fase, vinculada com o transtorno da percepção do descurso do tempo, pode levá-los a iniciar precocemente sua vida genital ou a substitutos socializados desta, ainda antes de ter aceito a sua identidade genital, como se não pudessem esperar para que esta chegue. Esta pressa pode ser interpretada como uma forma maníaca de procurar a identidade adulta, sendo possível chegar a aquisição de ideologias que são somente defesas ou, em muitos casos, tomadas emprestadas aos adultos, as que não estão autenticamente incorporadas ao ego. Desta forma, o adolescente pode adotar diferentes identidades, como as identidades transitórias, que são as adotadas durante um certo tempo, como os períodos de machismos dos rapazes ou da precoce sedução histérica das moças ou um adolescente muito sério, muito adulto;. As identidades ocasionais são as que se dão frente a situações novas, como por exemplo, no primeiro encontro com um parceiro, o primeiro baile; e as identidades circunstanciais são as que conduzem a identificações parciais transitórias que costumam conduzir o adulto, surpreendido, às vezes, frente às mudanças na conduta de um mesmo adolescente que recorre a este tipo de identidade, como quando o pai vê seu filho adolescente, conforme o vêem no colégio, no clube, e não como ele habitualmente o vê na sua relação com ele mesmo. 36 Na adolescência, tudo isso acontece com uma intensidade muito marcante, e a situação mutável que significa a adolescência, obriga a reestruturações permanentes externas e internas que são vividas como intrusões dentro do equilíbrio conquistado na infância e que obrigam o adolescente, no processo de conquistar a sua identidade, a tentar refugiar-se ferreamente em seu passado, enquanto tenta também projetar-se intensamente no futuro, realizando um verdadeiro processo de lutos pelo qual, no início, nega a perda de suas condições infantis e tem dificuldades em aceitar as realidades mais adultas que lhe vão impondo, entre as quais se encontram fundamentalmente as modificações biológicas e morfológicas do seu próprio corpo. Todas as mudanças que vão se sucedendo, são percebidas não só no exterior corporal, mas como uma sensação geral de caráter físico, criando uma grande preocupação. Às vezes a ansiedade é tão grande que surgem às desconformidades com a própria identidade, que se projeta então ao organismo, com as insatisfações com os aspectos físicos e com a aparência. Portando deparam-se com a não aceitação do outro, com importância destoante da realidade, ocasionando serios danos na auto-estima, bem como sentimentos de rejeição direcionados aos indivíduos emocionalmente fragilizados. A busca incessante de saber qual a identidade adulta que se vai constituir é angustiante, e as forças necessárias para superar estes micro-lutos e os lutos ainda maiores da vida diária obtêm-se das primeiras figuras introjetadas que formam a base do ego e do superego deste mundo interno do ser. Para (ABERASTURY; KNOBEL, 1981 p. 35), “um bom mundo interno surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam”. O que possibilita uma boa conexão interior, facilitando para um bom reajuste emocional e o estabelecimento da identidade adolescente, condições estas essenciais para vida em comunidade, na constituição de relações saudáveis, onde o beneficio da aceitação dos valores e defeitos mútuos são equilibrados, adequados e tranqüilos. 37 1.2.5 Tendência grupal O espírito grupal surge da uniformidade que o adolescente busca como mecanismo de defesa, dentro de um processo de superidentificação em massa, onde todos se identificam com cada um, com seus capricho e modas. Por isso, inclina-se às regras do grupo, sendo o grupo o continente para as ansiedades existenciais do adolescente. No grupo, o jovem encontra um reforço muito necessário e significativo para os aspectos mutáveis do ego que se produz nessa fase da vida, dos quais ele não pode participar de modo ativo. Desta maneira, o fenômeno grupal, adquire uma grande importância, pois o jovem transfere ao grupo grande parte da dependência que anteriormente se mantinha com a família e com os pais em especial, constituindo assim a transição necessária no mundo externo para alcançar a individualização adulta. [...] Na medida em que, pela necessidade de cristalizar suas identidades adultas e afirma-se como indivíduos autônomos, deixam de utilizar os pais ou sub-rogados desse, como modelos de identificação, tem os adolescentes necessidade de buscar novas pautas identificatórias no seu grupo de iguais, cujos lideres tomam provisoriamente o lugar das imagos parentais idealizadas [...] (OSÓRIO, 1992, p. 20). Assim como o grupo é instrumento necessário para interação e integração do individuo, o fenômeno grupal também é facilitador das condutas neuróticas e psicóticas de diferentes naturezas, que aparecem de maneira normal na adolescência conforme as circunstâncias e as condições internas do sujeito, quando surgem os comportamentos de desafeto, de crueldade, de indiferença e de falta de responsabilidade, que são típicas das psicopatias, e inseguranças, medos, idéias persecutórias, típicas das neuroses, encontradas 38 como mecanismos de defesa frente à culpa e ao luto pela infância perdida que não pode ser elaborada, sendo este um momento circunstancial e transitório que se submete à retificação pela experiência. No entanto é neste momento que a escola sendo local impar para agregar valores, aquisição de habilidades relacionais solidárias e formação para a família na prevenção da inabilidade paterna e materna no manejo com o jovem, que se percebe a fragilidade do conhecimento do desenvolvimento humano e suas vicissitudes, ocorrendo os excesso e arbitrários regimentos disciplinares das escolas, que nada contribuem para com este processo positiva e preventivamente. Depois que o indivíduo passar pela experiência grupal, poderá começar a separar-se da turma e assumir a sua identidade adulta, pois a experiência do fenômeno grupal desempenha um papel de suporte, favorecendo a instrumentação dos mecanismos defensivos utilizados pelo jovem nesta etapa do desenvolvimento. 1.2.6 Necessidade de intelectualizar e fantasiar A necessidade de intelectualizar e fantasiar acontece como uma das formas típicas do pensamento do adolescente, como mais um mecanismo de defesa do fenômeno da síndrome da adolescência, dentro da necessidade que a realidade impõe de renunciar ao corpo, ao papel e aos pais da infância, enfrentado pelo adolescente como uma sensação de fracasso ou de impotência frente à realidade externa, o que obriga o jovem a recorrer ao pensamento para compensar as perdas que ocorrem dentro de si mesmo, e que ele não pode evitar. “A função da intelectualização consistirá em ligar os fenômenos instintivos com conteúdos ideativos e fazê-los assim acessíveis à consciência e fáceis de controlar”; (ANA FREUD,1969 apud ABERASTURY; KNOBEL, 1981, p. 39), 39 A incessante flutuação da identidade adolescente, que se projeta como identidade adulta no futuro, adquire caracteres que costumam ser angustiantes e que obrigam a um refúgio interior que é muito característico frente às situações do momento, sendo absolutamente fundamentais para compreensão, e para uma espécie de reajuste emocional do adolescente frente a todos os choque do seu mundo interno mutável e do seu mundo externo indomável e frustrante. 1.2.7 As crises religiosas Fenomenologicamente observa-se que o adolescente pode se manifestar com mudanças muito freqüentes e variáveis de posicionamentos religiosos, como uma situação externa. É comum observar que um mesmo adolescente passa, por períodos místicos ou por períodos de um ateísmo absoluto, isto ocorre concomitante com as situações mutáveis e flutuantes do seu mundo interno. Quando o jovem entra nesta idade difícil, interroga-se a respeito do que fazer com ele. A preocupação metafísica emerge então com grande intensidade, e as tão freqüentes crises religiosas não são um mero reflexo caprichoso do místico, mas sim, tentativas de solucionar a angústia que vive o ego na sua busca de identificações positivas e do confronto com o fenômeno da morte definitiva dos pais e também a aceitação da possível morte dos mesmos. O que nos explica como o adolescente pode chegar a ter tanta necessidade de fazer identificações projetivas com imagens muito idealizadas, que lhe garantam a continuidade da existência de si mesmo e de seus pais infantis. A figura de uma divindade, de qualquer tipo pode representar para o jovem, uma saída mágica ou também, ser uma atitude compensadora e defensiva. Este misticismo pode chegar a alcançar níveis delirantes, com uma atitude extrema numa forma de deslocamento ao intelectual religioso, com 40 mudanças concretas e reais que ocorrem a nível corporal e no plano da atuação familiar e social. Sendo de fundamental importante na construção definitiva de uma ideologia e dos valores éticos e morais, que o indivíduo passe por algumas idealizações persecutórias, que as abandone por objetos idealizados egossintônicos, para depois sofrer um processo de desidealização que possibilite construir novas e verdadeiras ideologias de vida. 1.2.8 A deslocalização temporal O pensamento do adolescente frente ao tempo e ao espaço adquire características muito especiais do ponto de vista das condutas observáveis, sendo possível dizer que o adolescente vive com uma certa deslocalização temporal, convertendo o tempo em presente ativo, numa tentativa de manejá-lo parecendo vivenciar a sua expressão de conduta no processo primário com respeito ao tempo. As urgências são enormes e as postergações são, muitas vezes irracionais. Este problema deve ser estudado e psicodinamicamente, analisando na medida em que o sujeito vai amadurecendo, ode o indivíduo se inicia como ser unicelular absolutamente dependente de um meio e se desenvolve e se diferencia progressivamente, indo da indiferenciação mais primitiva à discriminação. Muitos dos eventos que o adulto pode delimitar e descriminar são para o adolescente equiparáveis, equivalentes ou coexistentes sem maior dificuldades. São verdadeiras crises de ambigüidade, que podem ser consideradas como uma das expressões de conduta mais típicas do período da adolescência. Quando o adolescente se nega a passagem do tempo, pode conservar a criança que era, como um objeto morto-vivo. Isto está relacionado com o sentimento de solidão tão típico desta etapa, que apresentam períodos em que se encerram em seus quartos, isolam-se e retraem-se. Estes momentos de 41 solidão costumam ser necessários para que fora possa ficar o tempo passado, o futuro e o presente, convertido assim em objetos manejáveis. A verdadeira capacidade de estar só é um sinal de maturidade que somente se consegue depois destas experiências de solidão, às vezes angustiantes, da adolescência. Quando isso ocorre, a noção temporal do adolescente é de características fundamentalmente corporais ou rítmicas, isto é, são baseadas no tempo de comer, de defecar, de brincar, de dormir, de estudar etc. sendo este denominado de tempo vivencial ou experiencial (ABERASTURY; KNOBEL 2005, p. 43). À medida que vão se elaborando os lutos típicos da adolescência, a dimensão temporal adquire outras características. Adquirindo-se a conceituação do tempo, que implica a noção discriminada de passado, presente e futuro, com a aceitação da morte dos pais e a perda definitiva do seu vínculo com eles e a própria morte. A percepção e descriminação do temporal é uma das tarefas mais importantes da adolescência, vinculada com a elaboração dos lutos típicos desta idade. Sendo isto o que permite que o jovem saia da modalidade de relação narcisista e da ambigüidade que caracterizam a sua conduta. E quando este pode reconhecer um passado e formular projetos de futuro com capacidade de espera e elaboração no presente, supera grande parte da problemática da adolescência. A capacidade de conceituar o tempo está estreitamente vinculada com a busca da identidade adulta na adolescente, o que constitui a incorporação do tempo numa qualificação da administração de uma nova percepção do tempo a nova etapa da vida, como mais uma das muitas mudanças que o jovem tem que elaborar frete as obrigações e cobranças desta nova fase. (MOM apud ABERASTURY; KNOBEL, 1981) 42 1.2.9 A evolução heterossexualidade sexual desde o auto-erotismo até a Na evolução do auto-erotismo à heterossexualidade que se observa no adolescente, pode-se descrever características especiais que se apresentam nesta fase do desenvolvimento, onde há mais um contato genital de caráter exploratório de aprendizagem e preparatório, do que a verdadeira genitalidade procriativa. Ao ir aceitando sua genitalidade, o adolescente inicia a busca do parceiro de maneira tímida, mais intensa, num período em que começam os contatos superficiais, com carinhos mais íntimos. O amor aproximado também é um fenômeno que adquire características significativas na adolescência, apresentando todos os aspectos dos vínculos intensos, porém frágeis, das relações interpessoais do adolescente. Freud (1948 estabeleceu apud a ABERASTURY; importância das KNOBEL mudanças 1981, puberais p. 45), para a reinstalação fática da capacidade genital do sujeito. Assinalou, também, que as mudanças biológicas da puberdade são as que impõem a maturidade sexual ao indivíduo, intensificando-se então todos os processos psicobiológicos que se vivem nesta idade. Assim podemos ver o fenômeno da evolução do auto-erotismo a heterossexualidade, como uma atividade lúdica que leva à aprendizagem, através do outro sexo, a partir do tocar, beijar, jogos, esportes, que constitui também uma forma de exploração. Existe nesse momento a curiosidade sexual, expressa no interesse pelas revistas pornográficas, tão freqüentes na adolescência. O exibicionismo e o voyerismo se manifestam na vestimenta, no 43 cabelo, no tipo de dança, etc. o que constitui, também, uma forma de exploração Neste período evolutivo a importância das figuras parentais reais é enorme, pois a cena primária é positiva ou negativa conforme as primeiras experiências e a imagem psicológica que proporciona os pais externos (ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 46). As mudanças biológicas que têm lugar na adolescência, produzem grande ansiedade e preocupação, porque o adolescente deve assistir passivamente e impotentemente as mesmas. A tentativa de negar a perda do corpo e do papel infantil, especialmente, provoca modificações no esquema corporal que se tenta negar na elaboração dos processos de luto normais da adolescência. 1.3. Atitude social reivindicatória O processo da adolescência não depende apenas do próprio adolescente, como uma unidade isolada num mundo que não existe; visto que a constelação familiar é a primeira expressão da sociedade que influi e determina grande parte da conduta dos adolescentes, pois as primeiras identificações são as que se fazem com as figuras parentais, mas não há dúvidas de que o meio em que se vive determinará novas possibilidades de identificação, futuras aceitações de identificações parciais e incorporação de uma grande quantidade de pautas sócio-culturais e econômicas. Determinando que a posterior aceitação da identidade está forçosamente determinada por um condicionamento entre indivíduo e meio que é preciso reconhecer. 44 Se unirmos os mecanismos projetivos e esquizo-paranóides típicos do adolescente e a sociedade na qual o adolescente vive, podemos ver que é toda a sociedade que intervém muito ativamente na situação conflitiva do adolescente, (STONE; CHURCH, apud ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 51). O adolescente apresenta uma conduta que é o resultado final de uma estabilidade biológica e psíquica, e a cultura modifica enormemente as características exteriores do processo, ainda que as dinâmicas intrínsecas do ser humano sigam sendo as mesmas. Neste fenômeno, o básico psicodinâmico-biológico do indivíduo se exterioriza de diferentes maneiras, de acordo com os padrões culturais, e compreender estes padrões pode ser de inestimável importância para determinar certas pautas exteriores de manejo da adolescência, mas compreender a adolescência em sim mesma é essencial para que estas pautas culturais possam ser modificadas e utilizadas adequadamente quando os adolescentes falham. Na medida em que o adolescente não encontre o caminho adequado para a sua expressão vital e para a aceitação de uma possibilidade de realização, não poderá jamais ser um adulto satisfeito. A tecnificação da sociedade, o domínio de um mundo adulto incompreensível e exigente, a burocratização das possibilidades de emprego, as exigências de uma industrialização mal canalizada e uma economia mal dirigida criam uma divisão de classes absurda e ilógica que o individuo tenta superar mediante crises violentas, que podem se comparar as verdadeiras atitudes de caráter psicopático da adolescência. É então, a parte sadia da sociedade, que se refugia e se sustenta na segurança de uma adolescência ativa, que canaliza as reivindicações lógicas que a própria sociedade precisa para um futuro melhor. Para compreender algumas destas mudanças, devemos levar em consideração as dinâmicas psicológicas, que estão determinadas não somente pelas realidades sócio- 45 econômicas do mundo em que vivemos, mas também pelas necessidades psicológicas de uma adolescência. A juventude revolucionária do mundo tem em si o sentimento místico da necessidade de mudança social. E o adolescente como compensação, encontra na realidade social frustrante, uma imagem espetacular do seu superego cruel e restritivo; e a parte sadia do seu ego se põem a serviço de um ideal que permite modificar estas estruturas sociais coletivas e surgem assim grandes movimentos de conteúdos valiosos e nobres para o futuro da humanidade. 1.3.1 Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta A conduta do adolescente está dominada pela ação, que constitui o modo de expressão, típico deste momento da vida, em que até o pensamento precisa tornar-se ação para poder ser controlado. Os adolescentes não podem manter uma linha de conduta rígida, permanente e absoluta, pois têm uma personalidade permeável, que recebe tudo e que também projeta enormemente, é uma personalidade na qual os processos de projeção e introjeção são intensos, variáveis e freqüentes. Isto faz com que não possa ter uma linha de conduta determinada, o que já indicaria uma alteração da personalidade do adolescente, pois há uma normal anormalidade, de uma instabilidade permanente do adolescente. É o mundo adulto quem não suporta as mudanças do adolescente, quem não aceita que o adolescente possa ter identidades ocasionais, transitórias, circunstanciais, e exige dele uma identidade adulta, que logicamente não tem por que ter. “Estas contradições, com a variada utilização de defesas, facilitam a elaboração dos lutos típicos da vida e caracterizam a identidade adolescente”, (ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 56). 46 1.3.2 Separação progressiva dos pais Uma das tarefas básicas concomitantes à identidade do adolescente é a de ir separando-se dos pais, o que esta favorecido pelo determinismo que as mudanças biológicas impõem neste momento cronológico do indivíduo. O aparecimento da capacidade executora da genitalidade impõe a separação dos pais. A intensidade e a qualidade da angustia com que se dirige á relação com os pais e a separação desta estará determinada pela forma em que realizou e elaborou a fase genital prévia de cada indivíduo, à qual logicamente, somar-seão, as experiências infantis anteriores e posteriores, e a atual da própria adolescência. Muitas vezes, os pais negam o crescimento dos filhos e os filhos vêem os pais com as características persecutórias mais acentuadas. Se a figura dos pais aparece com papeis bem definidos, numa união amorosa e criativa, a cena primaria diminui seus aspectos persecutórios e se converte no modelo do vinculo genital que o adolescente procurará realmente. A presença internalizada de boas imagens como papeis bem definidos, e uma cena primária amorosa e criativa, permitirá uma boa separação dos pais, e facilitará ao adolescente a passagem à maturidade, para o exercício da genitalidade num plano adulto (ABERASTURY; KNOBEL 1981, p. 57). Por outro lado, figuras parentais não muito estáveis nem bem definidas em seus papeis podem aparecer ante o adolescente como desvalorizadas e obrigá-lo a procurar identificações com personalidades mais consistentes e firme, pelo menos num sentido compensatório ou idealizado. Nestes momentos, a identificação com ídolos, de diferentes tipos, cinematográficos, desportivos, etc., é muito freqüente. Em certas ocasiões, podem acontecer 47 identificações de caráter psicopático, onde por meio da identificação introjetiva o adolescente começa a viver os papeis que atribui ao personagem com o qual se identificou. Grande parte da relação com os pais esta dissociada e estes são vistos então como figuras muito más ou muito boas, o que logicamente depende fundamentalmente de como foram introjetadas estas figuras nas etapas prégenitais. As identificações se fazem, então, com substitutos parentais nos quais se podem projetar cargas libidinosas, especialmente em seus aspectos idealizadores. É assim como aparecem relações fantasiadas com professores, heróis reais e imaginários, companheiros mais velhos, que adquirem características parentais, e podem começar a estabelecer relações que nesse momento satisfazem mais. 1.3.3 Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo Os fenômenos de depressão e luto acompanham o processo identificatório da adolescência. Um sentimento básico de ansiedade e depressão acompanhará permanentemente, como base do fenômeno da adolescência. No que diz respeito a estes fenômenos, a quantidade e a qualidade da elaboração dos lutos da adolescência determinarão a maior ou menor intensidade desta expressão e destes sentimentos. O ego realiza tentativas de conexão prazerosas, às vezes desprazerosa, nirvânica com o mundo, que nem sempre se consegue, e a sensação de fracasso frete a esta busca de satisfações pode ser muito intensa e obrigar o indivíduo a ser refugiar em si mesmo (ABERASTURY; KNOBEL 1981 p.58). 48 Com isto ocorre o retorno a si mesmo autismo, que e tão singular no adolescente e que pode dar origem a esse sentimento de solidão tão característico dessa típica situação de frustração e desalento e desse aborrecimento que costuma ser uma característica distintiva do adolescente. O adolescente se refugia em si mesmo e no mundo interno que foi formado durante a sua infância, preparando-se para a ação, onde elabora e reconsidera constantemente suas vivenciais e seus fracassos. Diante da importância que envolve os aspectos do desenvolvimento e da natural turbulência da adolescência as considerações sobre o aparecimento de alterações comportamentais que venham interferir de maneira significativa na vida diária, nas relações sociais e no bem-estar geral do adolescente neste período da vida, requerem atenção cuidadosa, pois os estados depressivos, não somente os sintomas depressivos, apresentam-se com grande freqüência nos adolescentes, que são tão suscetíveis à depressão quanto os adultos. 49 CAPÍTULO II AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E BULLYING “O ato de aprender é um processo dinâmico que se dá em partes, cuja soma se torna uma conquista” (Souza, 1996). Devido a dicotomia dos conceitos entre as abordagens teóricas faz-se necessário pressupor o conhecimento prévio de alguns conhecimentos no que concerne o desenvolvimento e aprendizagem de modo que se observa a interligação entre os mesmos, visto que a aprendizagem ocorre desde a tenra idade, a partir da formação que recebe, como diz Souza(1996) das experiências vivenciadas por si mesmo, ora de fracasso, ora de sucesso como processo evolutivo de homem. Mas considerando as inúmeras divergências a cerca da conceituação da aprendizagem e tendo em vista que poderemos enumerar alguns conceitos que proporcionarão a demonstração indubitavelmente útil a compreensão das aprendizagens e tendo em vista a importância das abordagens teóricas para a construção do conhecimento, Moreira, (1999) cita inúmeros teóricos que tentavam explicar o ato de aprender; Watson previa o principio da freqüência e recentividade na ótica do comportamentalismo; Na teoria neuropsicológica por exemplo Hebb propõe a aquisição de processos mediadores aprendidos em decorrência da apresentação do mesmo estímulo; Skiner acreditava na aprendizagem pelo reforço positivo ou negativo; Brunner na aprendizagem por descoberta; Segundo Piaget a aprendizagem ocorre por assimilação e acomodação; Vigotsk parte da primícias que aprendizagem está ligada ao contexto social e cultural; 50 De acordo com as correntes de estudos abordados o conceito de aprendizagem não procede uma única definição, porém é de suma importância perceber o individuo em toda sua dimensão; em uma visão de Roger (1986) a aprendizagem transcente e englobadora ocorre de forma cognitiva, afetiva e psicomotora centrada no aluno, fazendo um comparação com a teoria Walloriana (apud Delgado 2003) ira perceber uma expressiva semelhança visto que para Wallon a pessoa é global e contextualizada dado ênfase a afetividade como coadjuvante no sucesso evolutivo. Sua visão propõe que o conhecimento é construído pela criança em integração com o meio em que vive e ao contexto cultural e afetivo, pois a criança é vista como um ser global e contextualizado não estático e está com constantes alterações qualitativas em relação ao desenvolvimento completo (físico, psíquico, social e afetivo) e é por meio dessas relações com o ambiente sócio-cultural e da maturação biológica que acriança se desenvolve e aprende. Os conflitos na visão de Wallon era ocorrer por causa dos desencontros entre as crianças e o ambiente externo (adulto, escola, sociedade...) pois irá se deparar os diversos variáveis que lhe estimularão a aceitação ou resistências frente a determinadas situações, daí a aprendizagem ocorrem com mais facilidade com acriança que aprende a partir de suas experiências reformulando os conceitos que já existem (contextualidade), significando novas aquisições de aprendizagem, caso contrário irá ocorrer as dificuldades de aprendizagem, tanto por determinação do contexto sócio-cultural, afetivo ou cognitivo. Fazendo uma comparação com abordagem Rogeriana (1983) podemos identificar certas afinidades entre as duas teorias dada visão teórica humanista de Roger no que concerne a aprendizagem transcendente e englobadora. 51 2.1– O conceito de aprendizagem Devido a dicotomia dos conceitos entre as abordagens teóricas faz-se necessário pressupor o conhecimento prévio de alguns conhecimentos no que concerne o desenvolvimento e aprendizagem de modo que se observa a interligação entre os mesmos, visto que a aprendizagem ocorre desde a tenra idade, a partir da formação que recebe, como diz Souza(1996) das experiências vivenciadas por si mesmo, ora de fracasso, ora de sucesso como processo evolutivo de homem. Mas considerando as inúmeras divergências a cerca da conceituação da aprendizagem e tendo em vista que poderemos enumerar alguns conceitos que proporcionarão a demonstração indubitavelmente útil a compreensão das aprendizagens e tendo em vista a importância das abordagens teóricas para a construção do conhecimento, Moreira, (1999) cita inúmeros teóricos que tentavam explicar o ato de aprender; Watson previa o principio da freqüência e recentividade na ótica do comportamentalismo; Na teoria neuropsicológica por exemplo Hebb propõe a aquisição de processos mediadores aprendidos em decorrência da apresentação do mesmo estímulo; Skiner acreditava na aprendizagem pelo reforço positivo ou negativo; Brunner na aprendizagem por descoberta; Segundo Piaget a aprendizagem ocorre por assimilação e acomodação; Vigotsk parte da primícias que aprendizagem está ligada ao contexto social e cultural; De acordo com as correntes de estudos abordados o conceito de aprendizagem não procede uma única definição, porém é de suma importância perceber o individuo em toda sua dimensão; em uma visão de Roger (1986) a aprendizagem transcente e englobadora ocorre de forma cognitiva, afetiva e psicomotora centrada no aluno, fazendo um comparação com a teoria Walloriana (apud Delgado 2003) ira perceber uma expressiva semelhança visto que para Wallon a pessoa é global e contextualizada dado ênfase a 52 afetividade como coadjuvante no sucesso evolutivo. Sua visão propõe que o conhecimento é construído pela criança em integração com o meio em que vive e ao contexto cultural e afetivo, pois a criança é vista como um ser global e contextualizado não estático e está com constantes alterações qualitativas em relação ao desenvolvimento completo (físico, psíquico, social e afetivo) e é por meio dessas relações com o ambiente sócio-cultural e da maturação biológica que acriança se desenvolve e aprende. Os conflitos na visão de Wallon era ocorrer por causa dos desencontros entre as crianças e o ambiente externo (adulto, escola, sociedade...) pois irá se deparar os diversos variáveis que lhe estimularão a aceitação ou resistências frente a determinadas situações, daí a aprendizagem ocorrem com mais facilidade com acriança que aprende a partir de suas experiências reformulando os conceitos que já existem (contextualidade), significando novas aquisições de aprendizagem, caso contrário irá ocorrer as dificuldades de aprendizagem, tanto por determinação do contexto sócio-cultural, afetivo ou cognitivo. Fazendo uma comparação com abordagem de Rogeriana (1986) podemos identificar certas afinidades entre as duas teorias dada visão teórica humanista de Roger no que concerne a aprendizagem transcendente e englobadora. 2.2– As dificuldade de Aprendizagem Para justificar parte do tema, no desvendar das alterações e influencias maléficas do Bullying no desenvolvimento escolar, podemos dizer que são inúmeros os elementos que podem levar o individuo atuar, aprender ou se comportar de forma diferente da normalidade, dentro da vasta literatura sobre educação iremos alterações, bem encontrar as mais variadas denominações destas como, diversas conceituações além de interligações ou 53 derivações concomitantes, ao falarmos disto estaremos automaticamente adentrando nas vias das dificuldades de aprendizagens que estarão ligadas a fatores internos e externos, os quais poderiam levar ao fracasso escolar tão utilizado no meio pedagógico como reação a algo que não vai bem (reativa) ainda associando-o aos problemas de aprendizagem que são na maioria sintomático (patologia). Segundo Fonseca (1995) as dificuldades de aprendizagem representam um dos maiores desafios educacionais e clínicos, dada grande demanda de crianças apresentando problemas e sendo rotuladas no âmbito escolar são muitos os esforços no campo das dificuldades em conceituar de forma integral o tema por médicos, psicólogos e professores. Para Souza (1996) as dificuldades são tão generalizadas que impedem o diagnóstico preciso das crianças, rotulando-as ou considerando-a portadora de distúrbios de aprendizagem. As dificuldades podem estar vinculadas segundo Mutschele (2001) a causas físicas, sensoriais, neurológicas, emocionais, intelectuais, sociais, ou geradas no meio o que irá diferencia-la dos distúrbios de aprendizagem que segundo Kirk (2002) se refere a etiologia no que diz respeito às anormalidades no cérebro e ao comportamento no que se refere às deficiências de percepção e incapacidades. As divergências nos diagnósticos e a inabilidade de alguns profissionais, bem como a incapacidade de alguns professores em diferenciar dificuldades de aprendizagem e distúrbios de aprendizagem levam a rotulação indiscriminada do indivíduos com problemas ou em processo de fracasso escolar, sem levar em conta as potencialidades e a sua condição única de ser humano, estigmatizando-o para o resto de sua vida, tirando dele a sua capacidade de mudar sua condição e sua auto-estima. Fernandez (2000) cita que somos responsáveis por um “crime” similar ao de confundir um desnutrido com um anorexico pelo fato de ambos estarem 54 mal-alimentados, ou seja um desnutrido não come porque não tem comida já um anorexico não come por causa complemente diferentes, então as soluções são diferentes, com esta ilustração fazemos uma relação com os problemas de aprendizagem que podem muitas vezes terem sidos desencadeados pelo fracasso escolar, daí a difícil tarefa do diagnóstico, pois o fracasso escolar afeta o individuo em sua totalidade, a criança sofrerá por conta da subestimação que sente em não corresponder as expectativas de pais e professores, ainda sob esta perspectiva perdoa tudo menos o fracasso, o fracasso sendo o oposto do êxito é o lema imposto da família e da escola rumo ao aluno; sendo uma resposta reativa a situação escolar precisa-se trabalhar professores / escola / alunos para vivenciarem juntos este desafios, sem duvida todos sofrem e são vítimas da iatrogênia da instituição e são indubitavelmente a personificação do que é escola para a criança; não partimos deste estudo para a delegação de algozes e sim da prática de formação de formadores. No desvendar dos estudos despertou-se o interesse em perceber as diferenças entre o fracasso escolar e o problema de aprendizagem os quais respondem a ordem de causas independentes e ao mesmo tempo quase que semelhantes uma embicada na outra, sendo que para fracasso escolar pressupõe-se relevância da própria estrutura familiar e individual daquele que fracassa e próprios do sistema escolar porém um pode derivar do outro, sendo que no primeiro a modalidade de aprendizagem do sujeito não se torna patologia e quando se constitui um problema de aprendizagem (inibição cognitiva ou sintomas) a moda de aprendizagem se altera bem como para Winnicott (1975 apud MACHADO) o fracasso escolar não tão somente pode ser explicado pelos mecanismos intrapsiquicos da criança (sintomáticas) ou por suas relações familiares, o ambiente escolar (reativo) também deve ser considerado assim como a intercomunicação com o mundo externo em uma troca significativa que não pode ser expressa em termos de mecanismos ainda assim acentua a importância da aprendizagem criativa e do uso positivo da agressividade, e da descoberta do mundo e de si mesmo, cabendo então um papel continuo de desenvolvimento humano que perdurará pelo resto da vida. 55 2.3– A construção do individuo como um todo No que concerne o papel de todos os que lidam com a criança e o adolescente em seu processo de desenvolvimento, é imperativo alertar a importância da família e da escola como apoio fundamental ao sucesso escolar. À família cabe cuidar de suas múltiplas e indivisíveis necessidades e aspiração como pontua Souza (1996), como a necessidade de afeto, segurança, motivação, harmonia familiar etc. A influência da famílias para Mutschele (2001) dispõe das melhores condições e recursos eficazes para educar, quando bem estruturada, a bem da verdade munida dos laços de amor, confiança, compreensão e solidariedade, o grupo familiar é ideal para o processo educacional, é dever da família educar seus filhos e acompanha-lo em todos os passos e atividades acadêmicas, fatores como ausência de um dos pais, nível cultural, formação religiosa, situação financeira instável, falta de amor, discriminação racial, desnutrição, negligência ou super proteção são influencias negativas que podem alterar o rendimento escolar e levar a distúrbios de comportamento como isolamento, baixo rendimento, angustia, ansiedade, agressividade, medo, valentia , exibicionismo que estão ligados as dificuldades escolares. Cabe a escola ser extensão da família, com a função aperfeiçoadora, proporcionando ao aluno um ambiente adequado que possibilite aprendizagem e as experiênciações, bem como apresente-se metodologicamente, capacitada com recursos e profissionais que sejam instrumentos fomentador da aprendizagem. A escola completa a família diz Mutscheler (2001), a escola dissociada da família não cumpre seu papel educativo. Em decorrência desta problemática educacional, percebem-se varias críticas às escolas, na visão de Souza (1996), falta de profissionais da área, 56 incompreensão do professor, inabilidade do professor em crer na capacidade do aluno, inadequação metodológica, espaço que seja motivador a criatividade e a experimentação, são alguns dos fatores que o autor menciona como condições para os fracassos escolares. Ao cabe professor a incondicional importância de conhecer seu aluno amplamente e não apenas por suas capacidades intelectuais, mais um sua dimensão humana, saber identificar antes de rotular os problemas e dificuldades de seus alunos, para encontrar estratégias para modifica-lo, e promover a qualidade das relações interpessoais. O professor é peça fundamental no ensino – aprendizagem, é de fundamental importância que conheça seu aluno e que seja capaz de promover a aprendizagem, de investir resta aprendizagem, além de estar preparado para identificar os problemas e encontrar estratégias para modificá-lo. Vallejo (1999) propõe uma qualidade de relação interpessoal manifestadas através da confiança e atenção mutua, comunicação, dedicação, tempo e interesse expressados do aluno, o ambiente seguro criado em sala de aula é necessário para aprender e internalizar o que se vai aprendendo. Ao aluno cabe a dedicação pois esta influencia as condutas do professor, pois nenhuma criança que ser a personificação do fracasso, e por estar vinculada aos fatores familiares, escolar e da própria fase evolutiva, vivencias buscando em suas vivências pessoais as motivação necessárias a sua auto estima e auto realização. O aluno também faz parte desta interação, sem sua cooperação e dedicação o relacionamento com os outros e consigo mesmo causará um impacto negativo sobre todos, sobretudo em suas atitudes. Muitas vezes o próprio aluno sente-se excluído e rotulado sem o ser, por simples dedução, pois a afetividade humana é condicionada pelas influências externas que são causadas por determinados tipos de condutas, porém o individuo que tem sua necessidade emocional satisfeita fica feliz e tem poucos problemas, pois este sentimento lhe proporciona segurança, a certeza de ser querido, que tem coragem e auto-confiança 57 CAPÍTULO III REFLEXÃO PSICOPEDAGÓGICA SOBRE O FENÔMENO BULLYING E SUA INFLUÊNCIA NA APRENDIZAGEM A violência entre alunos constrói-se em torno de duas lógicas complementares: de um lado, encenação ritual e lúdica de uma violência verbal e física; de outro, engajamento pessoal em relações de força. (Peralva apud Candau, 2001, p.32) A Auto-reprodução da violência dá-se pela cultura da violência que se difunde na dimensão ritual e lúdica, ocorrida paralelamente no mundo do adulto com reflexos no mundo dos jovens, traduzindo o quão frágil são as relações de controle entre as gerações, exercidas pelos adultos no universo infantil, que segundo Candau (2001) situam-se além dos muros da escola, mas que afeta efetivamente a vida escolar, cabendo aí à instituição buscar recursos e alternativas rumo a transformação das relações. Em reportagem no jornal Ä Critica (2008), “Violência escolar no Brasil é alarmante”, uma pesquisa divulgada pela Organização não governamental Plan, revela em 70% de alunos pesquisados a estatística da violência no ambiente escolar, onde afirma que o Bullying é comum em todo o mundo, e no Brasil será o centro das atenções em campanha para 2009, devido as conseqüências psicossociais e sua prática ser a mais presente nas pesquisas. As estratégias elaboradas para suprir as necessidades oriundas da falta de limites no processo educativo da família, do desenvolvimento de posturas mais acertivas e canalizadoras aos propósitos da aprendizagem no âmbito da 58 escola, sugerem de certa forma um transbordamento de elementos de gestão de conflitos, porém segundo Candau (2001) essas idéias se referem a competência relacional que enfatizam a construção precária de um papel profissional. No campo destes conflitos, uma das particularidades dizem respeito à avaliação dos resultados escolares e às notas, pois atinge segundo Peralva, (apud Candau 2001), a construção da imagem positiva do sujeito em relação a si mesmo, gerando portanto um sentimento de injustiça, vivenciado como uma agressão à personalidade do sujeito, provocando reações defensivas, de isolamento e apatia, bem como ofensivas, de agressão, depredação e insulto. Evidencia-se no entanto que muito além da aplicabilidade pedagógica e seus instrumentos avaliativos ou motivacionais, a escola está atravessada pelos elementos influenciadores, de um campo obscuro ainda para muitos educadores, a cerca do seu público alvo, seu envolvimento com as vicissitudes sociais, a impotência da família, distorções de valores e novas condutas norteadoras embasadas nas diferenças sociais e econômicas do pais. Nessa perspectiva pode-se compreender que tais atos de manifestações para jovens de baixa-estima, vinculam a escola a repetidos fracassos em uma sociedade marcada pelo individualismo, que tenta estabelecer limites e construir regras disciplinares. Sendo possível nos remeter a uma reflexão sobre a perda de status da educação escolar e do magistério que constitui um dos fatores de uma crise de identidade da escola, e um pensar sobre o fortalecimento do papel do psicopedagogo e da redefinição dos vínculos entre a escola e a sociedade. Constantini (2004), argumenta a dificuldade dos educadores em responder a estas questões, valendo-se de métodos ineficazes, desenvolvendo atitudes de incomunicabilidade com o adolescente, sem perceber que precisa adequar suas ferramentas educacionais a uma sociedade que está mudando rapidamente e que a agressividade juvenil deve ser combatida no lugar onde é produzida, na escola. 59 A escola, segundo Constantini (2004) é o espaço social aparentemente democrático, em que em inúmeros casos a razão é usada para o mal e não para a aprendizagem, e não raro, estes ambientes são responsáveis pela deficiência relacional entre os alunos, pois não preparam seu alunado para lidar com situações magoantes, e há quem diga ainda que abriga o problema da falta de preparo das equipes pedagógicas que não se atualizam sobre o assunto, pois a maior parte das escolas desconhece o que é Bullying ou pelo menos sabem como lidar com o problema, sendo assim uma preocupação, o crescimento desassistido das atitudes violentas desta natureza. Diante disso, a tarefa de Educar volta efetivamente à escola, mas sua realização plena não pode apenas depender do professor e sim de uma ação conjunta, de uma equipe multidisciplinar, onde primeiramente a assistência psicopedagógica promova mudanças de comportamento e de mentalidades com pontua Chalita (2008), tais iniciativas devem ocorrer no âmbito escolar, pois esta é lugar de erradicar a ignorância, transmitir conhecimento e melhorar atitudes, sendo assim, casos que extrapolam as orientações e medidas preventivas devem ser encaminhadas aos profissionais externos como psicólogos, psiquiatras ou órgãos judiciais e policiais, devendo ainda ser efetuadas apoio e mudanças no seio da família, .onde o trabalho conjunto Família / Escola opera a totalização das expectativas. Sabendo-se das conseqüências graves e abrangentes do Bullying, Zawadski (2007), que para as vítimas promove no âmbito cognitivo, o desinteresse pelos estudos, desatenção, fadiga, problemas de aprendizagem, baixo rendimento, reprovação e evasão escolar, levando em conta ainda as queixas referentes a saúde, queda da resistência imunológicas, doenças psicossomáticas diversificadas e dores generalizadas; para o agressor desadaptação ao ambiente escolar, desvalorização dos objetivos escolares, supervalorização da violência, e desenvolvimento de condutas delinqüentes; e para o expectador, a sensação de insegurança constante que compromete seu desenvolvimento socioeducacional, é oportuno salientar, que tais vivencias 60 incidem na formação de valores e na construção do caráter, que repercutirá no cotidiano da escola como um todo. Sendo o Fenômeno Bullying um elemento originário da junção de vários outros fenômenos, como por exemplo o comportamento aprendido, a exposição a episódios de violência, personalidade ou mesmo a ausência de limites, o contexto deste comportamento é alvo de grande reflexão, devido uma demanda de questões arraigadas no processo retrógado do sistema educacional, espaço este formatado, rígido e inflexível, onde faz-se eminente e emergencial a quebra de conceitos cristalizados de métodos e instrumentos obsoletos, e a conscientização de um trabalho psicopedagógico pautado no desenvolvimento de habilidades interpessoais e grupais, bem como a comunicação como elemento humanizador, para solucionar os dilemas existenciais, e não apenas a reprodução do conteúdo programático ou ato de informar conceitos e opiniões. Segundo Chalita (2008) a qualidade da educação também inclui proteção , cuidado e responsabilidade com as crianças e jovens expostos à violência, ação esta que não poderia estar desvinculada do projeto pedagógico da escola, através de aulas, projetos interdisciplinares, campanhas ou temas transversais que fortaleçam o conceito de respeito e de amizade entre os integrantes do processo educativo, pois a escola é um campo de possibilidades na arte de ensinar e de aprender, de conviver e de viver em harmonia, como exercício da cidadania. Diante disso o papel do psicopedagogo no ambiente escolar, tem dupla missão, enquanto uma elabora e desenvolve a prevenção entre os pares, através de medidas coletivas ou individuais, outra conserva para si um olhar atento aos traumas remanescentes, que vão acumulando-se, impedindo a aprendizagem, a percepção e a participação efetiva no cotidiano escolar, daqueles que envolveram-se nos episódios direta ou indiretamente, pois o trabalho psicopedagógico precisa preparar um espaço acolhedor na escola, 61 em que as relações de amizades sejam construídos como um exercício para a vida, com ética, respeito e cuidado com o outro. Piñon (apud Chalita 2008), fala da irrenunciável vocação para a vida, onde o Bullying é uma ferramenta grosseira de desconstrução e de apequenamento, que para combatê-lo espera-se que os professores sejam reverenciados por seus alunos, dos pais espera-se que não pequem por omissão diante da dor do filho e espera-se ainda a crença em uma aprendizagem constante, real, que faz a vida ter sentido e faz os sujeitos terem dignidade. 62 CONCLUSÃO A década de 90 intensificou no mundo as questões envolvendo a educação para a paz, baseada em princípios que garantam a dignidade humana, bem como o respeito às diferenças, a superação das situações de exclusão, a solidariedade entre os povos e o diálogo como instrumento de negociação. Repensando sobre estas questões nos remete ao Fenômeno Bullying e sua influência na aprendizagem, temática esta que surgiu da emergente necessidade de um trabalho psicopedagógico Institucional efetivo, que visasse ações e estratégias aplicadas ao desenvolvimento da convivência pacífica no âmbito escolar, com o intuito de mudanças de atitudes, diálogo global e reflexões sobre o contexto escolar. Sendo assim a escola como ambiente que congrega um número expressivo de crianças e jovens contabiliza atualmente os danos da violência velada. O corpo docente e a comunidade escolar como um todo precisa partilhar seu espaço, pois estando interligados promovem preventivamente para gerações futuras a concretização da conscientização da tolerância e do respeito mútuo. A compreensão interventiva do psicopedagogo poderá propor através de programas transversais ou interdisciplinares, a construção ou o resgate do conjunto de valores, atitudes e comportamentos fortalecidos pela indulgência e solidariedade, no intuito de estabelecer limites seguros que resguarde-se as vicissitudes pedagógicas, pois o cotidiano escolar quando atingido pelas ações maléficas do Bullying, reverbera aí todas as dificuldades comuns ao ambiente que compões o universo docente e discente. Ainda nesta diretriz a equipe de professores e a família são fontes inesgotáveis de possibilidades e de saberes, onde nos leva crer que a 63 psicopedagogia atuaria amplamente na prevenção dos distúrbios disciplinares, dificuldades de aprendizagem, adaptação escolar e concomitantemente evasão escolar e reprovação dos conteúdos pedagógicos. Portanto a mutua convivência e a troca de experiências são capazes de modificar destinos, e o serviço de psicopedagogia indubitavelmente seria o elo de ligação entre os seguimentos sociais e comunitários que são base para a estrutura pedagógica do estudante, devido suas necessidades e peculiaridades inerentes a cada faixa etária de idade, que estão suscetíveis às influências das ações do Bullying, ações estas que ocorrem sem serem percebidas, mascaradas em forma de brincadeiras infantis ou próprias da idade, que minam e interferem no desenvolvimento biopsicossocial e afetivo do indivíduo. Muito mais que criar mecanismos e instrumentos que atuem no ambiente escolar, o psicopedagogo deverá sinalizar através dos projetos políticos pedagógicos e do regimento escolar caminhos reais que valorizem o indivíduo e viabilize a adoção de novas perspectivas de unificar os saberes e a organização. Levando em conta que as dificuldades escolares deixaram de ser as matérias de exatas e se direciona para o outro palco que é a convivência, que caracteriza como o maior desafio para a juventude, em uma sociedade onde a intolerância justifica ações brutais junto às minorias e chocam a todos nós pais, educadores ou profissionais, que nos perguntamos, por sonhamos com um mundo harmonioso e não sabemos como construí-lo? As leis são claras e necessárias, mas insuficientes quando se trata de combater a intolerância, que tem como origem a ignorância, o orgulho e sentimento de superioridade e apresentam-se como fator preponderante de influencias negativas no processo de aprendizagem e nos rótulos durante o desenvolvimento evolutivo e formação de personalidade da criança e do adolescente. 64 A educação sendo um processo contínuo que se prolonga durante a vida, não começa e nem termina na escola, essas noções se aprendem no seio da família desde a infância e são reforçadas ou reprimidas na escola, por isso a importância deste ambiente apresentar como meta a valorização da diversidade, dividindo-se si o mesmo espaço com várias raças, culturas, religiões e portadores de necessidades especiais a fim de integrar gerações que irão a posteriori herdar a nossa sociedade. Diante disso percebe-se a função de manutenção, catalisadora e facilitadora no desenvolvimento psicossocial, afetivo e pedagógico dos mais variados grupos, na forma que se alcance o objetivo científico que comprove por si só a autenticidade do trabalho psicopedagógico no processo da aprendizagem. Com isso a sugestão de criar grupos operativos pedagógicos e um programa Anti-Bullying, que saneiem todos os espaços e as interfaces escolares, mediados e orientados pelo serviço psicopedagógico, onde estariam abrigados indivíduos preocupados em crescer como ser humano, oportunizaria-se a escolha para si de uma nova fórmula de viver a vida e transformá-la em algo maior, que se possa reverenciá-la através das experiências compartilhadas e da convivência mútua. 65 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANTUNES, Celso. Glosário para Educadores (as). ed.2. Petrópolis, RJ: Vozes,2002. AQUINO, Júlio Groppa. Indisciplina na escola. São Paulo: Summuns, 1997. BARBOSA, Francisco de A. 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