Artigo Original RETALHOS ÂNTERO-LATERAL DA COXA E RETO ABDOMINAL EM GRANDES RECONSTRUÇÕES TRIDIMENSIONAIS EM CABEÇA E PESCOÇO ANTEROLATERAL THIGH AND RECTUS ABDOMINUS FLAPS IN LARGE TRIDIMENSIONAL HEAD AND NECK RECONSTRUCTION 1 MÔNICA LÚCIA RODRIGUES 2 JOSÉ CARLOS MARQUES DE FARIA 1 HUGO FONTAN KOHLER LUIZ PAULO KOWALSKI3 RESUMO Introdução: A reconstrução de grandes defeitos, após ressecção de tumor de cabeça e pescoço, é complexa e os resultados obtidos com retalho músculo-cutâneos pediculados são, geralmente, insatisfatórios. A reconstrução microcirúrgica oferece uma grande variedade de opções, entre elas retalho do reto abdominal e o retalho ântero-lateral da coxa. Objetivo: Avaliar os resultados obtidos no uso dos retalhos do reto abdominal e ântero-lateral da coxa nas grandes reconstruções de cabeça e pescoço, após ressecção de tumor. Pacientes e Método: Coletaram-se, prospectivamente, dados de 83 pacientes operados em um período de cinco anos. Descrevemos as características da população, a técnica cirúrgica utilizada, o tipo de retalho e sua evolução pós-operatória. O Doppler pré-operatório para localização de perfurantes não foi executado. Variáveis categóricas foram analisadas pelo Teste Exato de Fisher. Resultados: Nessa série, 28 pacientes (33,7%) foram submetidos à reconstrução com retalho ântero-lateral da coxa 1- Especialista em Cirurgia Plástica 2- Doutor em medicina pelo Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 3- Diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital do Câncer A. C. Camargo. Professor Livre-Docente em Oncologia pela FMUSP. Correspondência: Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital do Câncer de São Paulo, Rua Antônio Prudente, 211 – 01509-900 São Paulo, SP. E-mail: [email protected] Instituição: Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital do Câncer A C Camargo e Departamento de Cirurgia Plástica da PUC Campinas e HCUSP. Recebido em: 30/08/2006; aceito para publicação em: 28/09/2006. 244 e 55 pacientes (66,3%), com retalho de músculo reto abdominal. Setenta e oito pacientes foram tratados por neoplasias malignas e as localizações mais freqüentes dos tumores foram as regiões maxilar e orbitária, em 41% dos casos. O maior diâmetro da peça cirúrgica da ressecção variou de 2,5 a 12 cm, com média de 6,3 cm e mediana de 5,3 cm. Não houve lesão do pedículo durante a dissecção. A taxa de sucesso da reconstrução foi de 88%, não havendo diferenças significativas entre os grupos (p=0,485). A taxa de complicações foi maior no grupo do ântero-lateral da coxa, mas não houve significância estatística (p=0,068). Conclusão: O uso rotineiro do Doppler pré-operatório pode ser dispensado em retalhos ântero-laterais da coxa de grande superfície. Os dois retalhos apresentam características semelhantes, podendo ser utilizados em diversas reconstruções de cabeça e pescoço. Descritores: microcirurgia; reto abdominal; ântero-lateral da coxa; cabeça e pescoço; retalho livre; cirurgia; reconstrução. ABSTRACT Introduction: The reconstruction of huge defects after the ablation of head and neck tumors is complex and the results obtained with pedicled myocutaneous flaps are usually unsatisfactory. Microsurgical reconstruction offers a huge variety of options, among them the rectus abdominis flap and the anterolateral thigh flap. Objective: To analyze the results of anterolateral thigh and rectus abdominis free flaps for head and neck reconstruction. Patients and methods: It is a prospective study evaluating 83 patients operated in a fiveyear period. We describe the demographic characteristics of our patients, the surgical technique, the type of flap used and Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 35, nº 4, p. 245 - 249, outubro / novembro / dezembro 2006 the postoperative outcome. Perforator mapping with Doppler was not routinely used. Categorical variables were compared using Fisher´s Exact Test. Results: In this series, twenty-eight patients (33.7%) underwent reconstruction with the anterolateral thigh flap and 55 (66.3%) with the rectus abdominis flap. Seventy-eight patients were treated for head and neck malignancies and the most often involved sites were the maxillary and orbitary regions (41% of the cases). The maximum size of the surgical defect ranged from 2.5 to 12 centimeters (average=6.3 cm and median=5.3 cm). There was no pedicle lesion during dissection. The success rate of the microsurgical reconstruction was 88%, but there was no statistical significance between the two flaps (p=0.485). The complication rate was greater in the anterolateral thigh flap, but there was no statistical significance in this comparison (p=0.068). Conclusion: The routine use of Doppler mapping was not necessary in large anterolateral thigh flaps. Both flaps present similar characteristics and may be safely used in major head and neck reconstructions. Key words: microsurgery; rectus abdominis; anterolateral thigh; free flap; head and neck; surgery; reconstruction. 245 246 247 248 249