INSTITUTO FEDERAL DE SERGIPE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE A CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS DO GÊNERO FEMININO NO SÉCULO XVIII Thamires Pereira1 RESUMO O presente texto apresenta as considerações iniciais da pesquisa de iniciação científica que tem por finalidade elaborar uma análise sobre a construção de conceitos sobre o gênero feminino no século XVIII, considerando que neste contexto que se elaborou conceitualmente uma divisão entre os sexos e as concepções sobre gênero e sexualidade por meio dos escritos dos filósofos iluministas. Esta pesquisa possibilitará conhecer novos moldes sobre o papel da mulher na sociedade, bem como a sua relação e seu desempenho perante a sociedade desta época. Os procedimentos metodológicos utilizados são de natureza bibliográfica e baseada na análise de obras acadêmicas e de produção intelectual com a finalidade de problematizá-la a luz dos objetivos da pesquisa. Nesta comunicação pretende-se expor a trajetória historiográfica sobre o tema proposto uma vez que a pesquisa está em andamento. Ao término deste trabalho de pesquisa, espera-se contribuir através de reflexões, sobre o conhecimento das limitações, potencialidades e características do discurso moral e científico elaborado acerca da condição feminina no século XVIII através do olhar dos iluministas, pois se trata de uma problemática pouco estudada. Palavras-chave: conceitos do gênero feminino; mulheres; sociedade. ABSTRACT The present study aims to prepare an analysis of the construction of concepts about the female gender in the 18th century, whereas in this context that if elaborated conceptually a division between the sexes and the conceptions of gender and 1 Graduanda do curso de História. Universidade Federal de Sergipe, GÊNERO e SEXUALIDADE NO PENSAMENTO ILUMINISTA (Bolsista PIBIC). Email: [email protected]. sexuality. This research, de iniciação científica, will meet new molds on the role of women in society, as well as its relationship and its performance vis-à-vis society of this epoch. The methodological procedures used are bibliographic in nature and based on the analysis of academic works and of intellectual production with the purpose of problematizá it the light of the goals of research. This communication is intended to expose the theoretical principles on the topic proposed once the search is in progress. At the end of this research work, it is expected to contribute through reflections, on the knowledge of the limitations, potentials and characteristics of the moral and scientific speech prepared about the female condition in the 18th century about the look of the Enlightenment, since it is a problematic little studied.Keywords: concepts of the female gender; women; society. INTRODUÇÃO As primeiras manifestações feministas, ocorridas em fins dos séculos XVIII ao XIX constituem os primeiros estudos sobre a participação de mulheres nas narrativas históricas e a importância destas em seu contexto, que deram uma enorme contribuição para as lutas e conquistas futuras. Este momento permitiu um destaque para as mulheres e ganhou o interesse dos historiadores em buscar desvendar as várias facetas dessas personagens perante uma sociedade redigida por regras e normas. Porém foi apenas no século XX, através de novos meios de abordagens que houve uma efetivação de um campo da História ser direcionado para o estudo da História das mulheres. Nas ultimas décadas houve grandes avanços no campo da historiografia não só no modo de se escrever e pensar história, mas na metodologia, na abordagem, na temática, nos diferentes tipos de fontes e a introdução da interdisciplinaridade que muito contribuiu para a diversificação dos estudos sobre as mulheres, o seu cotidiano além de suas lutas e participações em episódios importantes na História. Tais conjunturas trouxeram consigo novas estruturas de análise não só documental, mas também de fatos e relatos, além de novas abordagens e ampliações que muito contribuíram e que deixou um legado de novas Histórias ou de Histórias recontadas. Neste texto, pretende-se situar a discussão sobre a mulher como tema de interesse na historiografia e seus problemas de pesquisa na área. O estudo das mulheres como sujeitos da História. O século XVIII foi o período de novas experiências para a sociedade e para as mulheres, pois neste momento terá grande importância não só no seio da família, mas por sua participação nos diversos meios da sociedade como na vida doméstica, econômica, intelectual, pública e principalmente em ações de conflito. Devido às necessidades e condições da época mulheres além de exercer o seu papel de mãe e atividades domésticas, agora passou a trabalhar e exercer diversas atividades e em diversos meios tornando atividades cotidianas e comuns entre elas, que na ausência de seu marido torna-se responsável pelo sustento da família.2 As profundas alterações econômicas, epidemias, as fomes e as guerras são os principais motivos que levarão muitas mulheres a formas de resistência ou de modos de sobrevivência o que as fará entrar na cena pública. As novas concepções de abordagem sobre as mulheres buscou desmistificar a ideia de que as mulheres eram submissas, dóceis, obedientes para mostrar as mulheres como centro da família e as suas resistências aos moldes de sua sociedade, infligindo às regras de ordem e moral. Tendo um maior destaque as mulheres humildes que foram mais ativas enfrentando a intolerância e dificuldades de seu tempo de acordo com suas necessidades pessoais, em busca de uma melhora de vida e na defesa de seus ideais. Estas novas abordagens a mulher como uma participante e não como um dos objetos. A mulher se torna objeto de discursos masculinos que a situa no interior dele próprio, estes buscam representar estas mulheres e falar por elas como se esta fosse parte de si, dessa forma estamos perante um discurso masculino que se faz passar pela das mulheres. Tais discursos se misturam com processos ideológicos e preconceituosos os quais têm por finalidade justificar, defender e legitimar o destino reservado ao seu sexo oposto. Esses discursos abordarão as mulheres não só como inferiores sexualmente aos homens, mas também com as faculdades intelectuais menores que a dos homens, 2 Muito estudiosos consideram que é muito difícil falar em movimento de luta por direitos das mulheres no século XVIII, pois nesse momento elas não estavam articuladas em grupos coesos e o que havia eram vozes mais ou menos isoladas de descontentamento. O feminismo de então estava intimamente associado à personalidade e a grande bandeira de luta foi pelos direitos sufragistas. Ver SILVA, Tânia Maria Gomes da. “Trajetória da historiografia das mulheres no Brasil”. Disponível em http://periodicos.uesb.br/index.php/politeia/article/viewFile/276/311 considerava que este tinham o raciocínio e a razão maior e melhor e por tal motivo deveriam escolher e tomam as decisões. Estes são os meios de controle que a sociedade impõe, escreve , delimita o meio e o espaço de atuação das mulheres, dando-lhe um papel especifico na sociedade o de esposa e mãe, esta deve apenas ocupar-se em representar bem o seu marido e na sua falta cuidar do sustento de seus filhos. As mulheres serão objetos desses discursos sufocantes que lhes obriga a enfrentar a dupla limitação: primeiro a do sexo e segundo a do grupo social. Tais discursos impostos pela sociedade da época era um meio de controlar a mulher de acordo com normas e regras de cada sociedade para manipular as ações das mulheres perante seu grupo habitual levando a coagir através do constrangimento, dureza e controle dos homens perante as suas mulheres e filhas. Poucas foram às abordagens sobre as mulheres anteriormente ao século XVIII, primeiro porque foram poucas as que ganharam destaque e em segundo pela falta de interesses dos pesquisadores. Porém sobre os séculos XVIII ao XIX houve um aumento significativo de abordagens sobre estas que a principio são abordagens biográficas de mulheres de destaque ou notáveis o que ira mudar a partir do século XX com a introdução de novas metodologias e com a efetivação do campo historiográfico da Historia das Mulheres que trouxe uma nova roupagem e enorme contribuição para a História. O modo discursivo e por meio de representações deu o lugar a busca por conhecimento vestígios sobre a realidade feminina e sobre os discursos relacionados a esta, visto dessa forma podemos destacar que o historiador para entender e abordar estas ações e modos de vida, mas também entender os discursos que as influenciaram, a sua maneira de ser, além das diversas influências sofridas por estas. Podemos destacar alguns aspectos que direcionam o caráter da pesquisa histórica relacionadas às mulheres como: a visão de determinado grupo ou época quanto às características ou a importância relacionadas às mulheres; quanto ao seu interesse pessoal ou ao caráter central que se busca na pesquisa; quanto ao seu diálogo entre o passado e o presente e o que este poderá representar para a atualidade; as várias facetas e problematizações que este pode trazer para o historiador; a noção e interpretação de que ler o texto ou documento histórico, podendo assim um mesmo documento ser interpretado de diversas formas; o foco ou recorte no tempo, espaço ou ainda de acordo com o interesse do pesquisador ou ainda a mutabilidade do documento que consiste em dar sentido que o presente confere a fatos e personagens. Deve-se aqui ressaltar que o documento histórico é importante fonte para o estudo das mulheres, porém este nem terá o cem por cento dos fatos, seja ele por ser selecionado de acordo com o autor que escreve o que acha mais relevante, ou seja, por quem o guarda. Portanto deve-se sempre buscar a veracidade da fonte e cuidado com o manuseio das informações. À medida que se houve a abrangência do conceito de documento histórico a partir do século XIX houve também um alargamento e ampliação da noção de fontes que trouxe consigo uma enorme colaboração não só para os historiadores e pesquisadores em geral, mas também para os estudiosos da História das mulheres que diversificaram em temas e abordagens diferenciadas relacionadas às mulheres. Houve assim desaparecimento do documento único para surgir à série documental ou ainda série de fontes. Podemos destacar ainda a da História Cultural que muito contribuiu para o seu crescimento e para trazer consigo uma relevância para o campo de estudo da História das mulheres que se revelou inovadora no campo histórico e que trouxe consigo a importância das mulheres para a sociedade, a contribuição desta para a sociedade e acima de tudo o entendimento da sociedade e a importância deste estudo sobre as mulheres em suas diversas formas e sociedades. Assim temos segundo Rachel Soihet “as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da história.” (2011, p. 281). Outra grande contribuição foi da Escola dos Annales que revelou novos horizontes visando não somente os fatos, mas também os personagens, a critica, relação do contexto e do meio, podendo assim mostra outra visão ou detalhamento do cotidiano e dos fatos que represente uma sociedade e o seu meio neste campo de estudo. Tais abordagens tiveram ainda a colaboração da interdisciplinaridade que consiste na colaboração de outras disciplinas como a Antropologia, Sociologia, Literatura, Linguística, psicanálise e a Arqueologia para busca o entendimento sobre as diversas sociedades, buscando assim desvendar as questões impostas por si a determinado objeto de estudo. Foi a partir de 1960 com o movimento feminista que inicia efetivamente o surgimento da História das mulheres como um campo de estudos o que levou a partir deste período a multiplicar as pesquisas e o interesse pelo estudo do gênero feminino e consequentemente o reconhecimento institucional ao campo da historia das mulheres. Tais estudos estenderam-se, ainda nos anos 1970, a outras partes da Europa e do mundo, incluindo o Brasil. Vale enfatizar que a importância do estudo da História das mulheres está intimamente ligada com a expansão dos limites da história como também estar atrelada as campanhas feministas. A falta de fontes relacionadas às mulheres e produzidas por elas são raras ou escassas, este consiste em um dos principais problemas para se evidenciar Histórias esquecidas que podemos revelar. Tal fato é tão decisivo a ponto de muitos pesquisadores desistirem de uma pesquisa neste campo devido à falta ou carência de fontes que deem embasamento ao seu trabalho. Tal dificuldade nos leva a busca novos caminhos ou trilhar pistas de um passado que permita transpor o silêncio deixado por tais grupos sociais que muito têm a contribuir não só com o presente, mas também nos mostrar um passado desconhecido, inclusive se houver necessidade usar fontes míticas. Assim, cópias heliográficas arquitetônicas foram utilizadas para interpretar as relações de poder na vida doméstica, tal como relatos de assistentes pessoais para investigar relações domésticas ou diários de médicos para conhecer o comportamento das mulheres durante o parto. Enfim, acompanhando a renovação teórica dos estudos históricos, refinaram-se os métodos, as técnicas, desenvolvendo-se a inventividade com relação às fontes, o que tem possibilitado maior intimidade com aqueles segmentos e a ampliação dos horizontes da história. (SOIHET, 2011, p.283). Assim todo e qualquer traço deixado por elas, seja ele de pensamento, fato ou de ações cotidianas que represente aquele contexto em determinada época, são fontes para uma pesquisa sobre estas. Porém deve-se tomar cuidado com a sua veracidade, a busca, seleção, critica e classificação documental para que não passe uma informação errada ou ilusória. Para Leandro Karnal (2009) muda mais o olhar sobre a fonte do que a fonte em si, ou seja, será o historiador que irá traçar suas perguntas sobre as suas fontes, uma mesma fonte pode nos revelar diversas características de uma época ou de um fato, basta que saibamos fazer as perguntas certas as tais fontes. Muitas vezes nos deparamos não só com a falta de fontes, mas com a falta de materiais, técnicas e tecnologias inexistentes em diversos períodos a exemplo das estatísticas que é muito utilizada na matemática atualmente. Porém o historiador utiliza-se de critérios para escolher sua fonte e assim direcionar sua pesquisa de acordo com o seu intuito pessoal. Ainda segundo Leandro Karnal (2009) os historiadores se utilizam de tais critérios expostos: primeiro as fontes que possua mais dados ou informações sobre o objeto pesquisado; segundo o item raridade quanto mais difícil ou raro a fonte for mais ela terá valor; terceiro de acordo com a sua teia social e o que este irá revelar sobre uma época ou sobre uma sociedade; quarto a importância do personagem envolvido nos fatos; quinto e ultimo o que o tornará relevante será a analise do historiador feito sobre esta fonte. Surge a partir de tais critérios a necessidade de buscar enfoques que permitam transparecer e superar a dicotomia entre a vitimização ou os sucessos femininos, mostrando assim as várias facetas do cotidiano e das ações das mulheres que ao se rebelar era tida como rebeldes e indignas, mas mostrar para a sociedade sua atuação, sua importância na sociedade e a luta por uma vida digna, uma sociedade justa e igualdade. Considerações finais: Contudo podemos concluir que a mulher será vista através de discursos masculinos como inferiores sexual e intelectualmente e que estas estão destinadas a ao seu papel natural de reprodução e de cuidar dos filhos. Esta função de esposa e mãe é um papel social, fruto de uma educação baseada em discursos e preconceitos masculinos que busca controlar o comportamento feminino através de regras, moral e recato que são impostos de diversas maneiras, o que fará aumentar as desigualdades dos papeis entre os sexos. Essas desigualdades perante o sexo feminino são efeitos da educação que as senhoritas receberam que as impediram de fazer progressos nos diversos ambitos sociais e nas diversas atividades, pois a estas era restrito apenas as atividades do lar o que as impediram de crescer e ascender socialmente. Referências: KARNAL, Leandro; Tatsch, Flavia Galli. A memória evanescente. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de. O Historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2012. SOIHET, Rachel. História das mulheres. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. (Org.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2011. p. 275-296.” ENGEL, Magali. História e Sexualidade. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. (Org.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 275-296.” FARGE, ARLETTE; DAVIS, Natalie Zemon. História das Mulheres no Ocidente. Porto, Portugal: Ed. Afrontamento V. 3, 1990. SILVA, Tânia Maria Gomes da. “Trajetória da historiografia das mulheres no Brasil”. Disponível em http://periodicos.uesb.br/index.php/politeia/article/viewFile/276/311