Concepções Científicas e Produção Técnica no Século XVIII
Floriano Santos Fonseca
Emanoel Messias da Cruz Silva
Resumo: Este trabalho propõe reflexões sobre questões do desenvolvimento científico, econômico e político do
século XVIII e suas conseqüências para as sociedades vindouras; a influência do iluminismo sobre o continente
europeu, a revolução francesa, a revolução industrial inglesa e seus efeitos sobre os trabalhadores assalariados.
Palavras-Chave: tecnologia, economia, iluminismo, imprensa, revolução francesa, revolução industrial,
relações trabalhistas.
A grande arrancada para o desenvolvimento tecnológico na Europa teve inicio durante
o período do Renascimento (XV e XVI). A teoria heliocêntrica de Kleper, os vários projetos
de máquinas propostos por Leonardo da Vinci, as teorias de Newton, Galileu e Copérnico
foram precursoras do avanço que iria se revelar e preparar as condições ideais para a
implantação dos meios de produção da nascente burguesia capitalista.
Outros fatores determinantes para as transformações vividas nos séculos seguintes
foram: a decadência do sistema feudal, a expansão comercial e marítima que abriram novos
mercados consumidores e a descoberta em abundância de metais preciosos nas colônias
ultramarinas.
Enquanto a Igreja Católica, através dos seus códices buscava impedir a divulgação das
novas idéias que quebravam paradigmas das antigas crenças, o homem setecentista
encontrava na razão um novo sentido libertário, sepultando de vez os mitos do sagrado.
O pensamento filosófico desenvolvido durante o século XVIII foi a alma das
transformações a serem vivida por seus contemporâneos. Figuras ilustradas como
Montesquieu escreveram importantes livros que serviram de base para a revolução política e
social da Europa. Através do “O Espírito das Leis”, propôs a intervenção do homem sobre a
natureza, afastando o divino de suas decisões. Dessa forma o homem passaria a ser um ser
positivo e capaz de gerir e ser responsável pelo seu destino. A Enciclopédia, por outro lado,
foi um instrumento duradouro na divulgação das idéias iluministas e consagrou nomes
importantes sob o comando de Diderot, além de Montesquieu, Lamarck, Helvetius, Rousseau,
Buffon, Necker, Turgot, Mongez, o barão d'Holbach e Voltaire.
Não foi somente através da Enciclopédia que as idéias dos iluministas se propagaram.
O século XVIII foi o século dos panfletos e das cartas, Voltaire, por exemplo, escreveu mais
de 50 mil cartas. Sabendo que seus escritos viriam a se tornar documentos importantes e
passíveis de publicação, os escritores se esmeravam na escrita. Enquanto as cartas circulavam
entre os letrados ilustres, o povo consumia vorazmente os panfletos cheios de idéias
revolucionárias e escritos pelos grandes pensadores da época. Outros importantes elementos
de divulgação e ponto de encontro cultural eram os salões e clubes. Geralmente comandado
por uma grande dama, figuras díspares se encontravam para debater os mais variados assuntos
e principalmente política. Nobres liberais, padres dissidentes e pensadores das mais variadas
correntes e procedência debatiam e conjuravam contra o antigo regime. As lojas maçônicas
também tiveram papel relevante na discussão da nova ordem e foram focos de ativismo
político. Dessa forma a nascente opinião pública foi fruto do pensamento iluminista e, mesmo
entre as classes baixas e analfabetas que foram atingidas pelos panfletos, os ideais
revolucionários eram recebidos de forma explosiva.
Diretamente influenciada pelos ventos da razão, novas tecnologias foram testadas e
aplicadas ao dia-a-dia do homem europeu. Nações lutaram pela supremacia do conhecimento.
França e Inglaterra se destacaram do resto do continente. Enquanto os franceses, preocupados
com as questões políticas cediam espaço para o avanço industrial dos ingleses.
É possível afirmar que paralelamente ou conjuntamente ao desenvolvimento científico,
as novas idéias revolucionárias foram reforçadas pela Declaração de Independência dos EUA
(1776) e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). Assim, o processo se
fundiu ao liberalismo econômico e político através dos fundamentos iluministas. Ficou assim
o século XVIII marcado pelo avanço tecnológico e revolucionário. Com o surgimento dos
grandes teares, massas importantes da população passaram a ter acesso a mercadorias
anteriormente impossíveis de serem adquiridas, mas esse mesmo modo de produção levou à
ruína e miséria de artesãos e empregados das manufaturas que passaram a formar colunas de
desempregados famintos nas crescentes cidades. Outro setor que se beneficiou diretamente do
processo revolucionário e, inclusive, alavancou esse processo, foi sem dúvida o dos
transportes. Distâncias foram encurtadas, mercados consumidores foram abertos pelos trilhos
das locomotivas a vapor, o mundo ficou menor.
Todo esse processo não ocorreu de um dia para o outro. Durante séculos a Europa só
conhecia a força eólica ou hidráulica, limitando dessa forma a produção de energia para o
aumento de produção. O desconhecimento da física e a supressão da liberdade limitavam o
desenvolvimento científico, comumente associado à magia e bruxaria. Somente a partir das
idéias de Denis Papin, divulgadas em 1690 é que as primeiras tentativas da produção de um
mecanismo movido a gases de vapor poderiam ser testadas. Em 1712, Thomas Newcomen e
James Watt, conseguiram produzir esse motor. A partir dessa idéia original, novas
modificações e aperfeiçoamentos foram introduzidos criando condições para a geração de
energia suficiente para a produção industrial.
Atrelada ao processo produtivo, a Inglaterra se encontrava em melhores condições
para absolver as suas transformações, dando origem ao que se convencionou chamar de
Revolução Industrial. Grandes reservas de carvão mineral e de ferro, mão-de-obra em
abundância e capital disponível, criaram as condições essenciais para o início do processo
industrial. Ao contrário dos investidores dos paises rivais da Europa Continental, não havia
guerra ou revolução que atrapalhassem seus negócios e estavam livres de restrições
governamentais. A partir das alterações dos meios de produção e tecnológicos, a manufatura e
o artesão passaram a dar lugar às fábricas com suas máquinas mantidas pelo capital burguês.
Essa nova relação de trabalho fez surgir o trabalhador assalariado, levando a ruína os antigos
artesãos autônomos e promovendo a acumulação primitiva de capital. Entretanto, as
condições de trabalho foram paulatinamente piorando com a exploração do trabalhador que
cumpria carga horária de até 18 horas. Mulheres e crianças não eram poupadas, enquanto a
condição de salubridade do ambiente fabril abreviava a vida dos assalariados. Atrelado a esse
quadro desumano não havia política de proteção ao trabalho.
Os avanços científicos e tecnológicos no século XVIII, principalmente nas últimas
décadas, aceleraram os processos das transformações políticas e sociais sonhadas pelas elites
cultas e liberais e pela grande massa de trabalhadores assalariada. Entretanto, o fruto do
progresso não chegou até os trabalhadores. Foram necessários mais de um século até que as
relações de trabalho se apaziguassem. Por outro lado, as luzes do iluminismo não se apagaram
e ainda hoje são claramente reconhecidas. O homem setecentista viveu e pagou o preço da
guilhotina, mas espalhou pelos quatro cantos do mundo os ideais de uma revolução contínua.
Referências bibliográficas:
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ALLAN, Tony. História em Revista, Ventos Revolucionários, São Paulo, Abril Livros Ltda. 1994, p 178.
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