TRABALHANDO EM AMBIENTES INFORMATIZADOS
Gisele Resstel Amaral1
RESUMO
Este artigo tem por objetivo ressaltar a importância do uso de ambientes
informatizados, em particular, do software GeoGebra, nas aulas de
Matemática. Exercícios do Caderno Pedagógico cujo título é Geometria
Dinâmica apresentado como parte do Programa de Desenvolvimento
Educacional promovido pela SEED, foi utilizado na realização de aulas.
Considerações técnicas e pedagógicas estão apresentadas justificando que o
uso do laboratório de informática tem grande valor e é apreciado pelos
estudantes.
Palavras–Chave : Educação. Ambientes informatizados. Projeto.
This article aims to highlight the emphasize the importance of the use of
computerized environments, in particular, the software GeoGebra in the
lessons of Mathematics. Exercises of Educational booklet whose title is
dynamic geometry presented as part of the Program for Educational
Development sponsored by SEED, was used in the conduct of classes.
Technical and pedagogical considerations are presented to justify the use of
laboratory informatics has great value and appreciated by students
Key words: Education. Computerized environments. Design.
A cultura formal tem sido construída e transmitida de maneiras
diferentes no decorrer da civilização. Quando a comunicação acontecia
essencialmente através da fala, a memorização era valorizada; quando
Professora graduada em Matemática pela Universidade
Estadual de Londrina, com
especialização em Matemática Superior e Psicopedagogia.
Leciona no Colégio Professor
Newton Guimarães, em Londrina – PR desde 1996.
1
começaram a ser difundidas as idéias na forma gráfica, a observação passou
a ser o foco da valorização; na forma escrita, a ênfase recairia sobre a
codificação, decodificação, expressão de idéias e signos. Hoje em dia, com a
comunicação acontecendo de maneira tão dinâmica, exigem-se todos os
sentidos do homem.
A era em que vivemos é marcada pela excelência que os progressos
científicos e os avanços tecnológicos impõem ao mundo, tornando o mercado
de trabalho mais exigente para todos que nele pretendem ingressar.
Esse homem é o aluno que deve ser formado e informado da melhor
maneira possível.
No artigo 32º. da Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), de 20 de dezembro de 1996, tem-se que:
“O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos,
obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a
formação básica do cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e
do cálculo...”
Portanto a missão maior da escola pública está posta, mas o que se
encontra nas escolas é um ambiente de conformismo e falta de interesse
como se o mundo fora daqueles muros fosse independente do que acontece
dentro deles.
A escola não pode deixar de lado seu objetivo e, para tanto, precisa
rever, mudar e abordar conceitos e conteúdos de formas diferentes para que
um novo contrato didático seja estabelecido e as escolas se transformem
atendendo a essa sociedade moderna dando conta de acompanhar de perto
as transformações.
Não se pode esquecer de que armazenar conteúdos não é aprender.
Armazenam-se informações facilmente em disquetes, CDs, computadores e
até telefones celulares, para que um conteúdo seja transformado em
conhecimento é necessário que haja uma interiorização da informação.
Alguns poderiam dizer que o uso do computador na educação
consistiria
na
informatização
dos
meios
tradicionais,
no
entanto,
o
computador pode enriquecer ambientes de aprendizagem onde o aluno,
interagindo com os objetos desse ambiente, tem chance de construir seu
conhecimento. Quando isso acontece, o foco de ensino muda, passando do
instrucionismo
para
o
construcionismo
mesmo
que
não
haja
um
entendimento profundo teórico-pedagógico explícito.
Valente (1997) lembra que a introdução da informática no processo
educacional brasileiro não é recente. As primeiras iniciativas aconteceram na
década de 70 nas Universidades Federal do Rio de Janeiro, Federal do Rio
Grande do Sul e Estadual de Campinas e ganham mais ênfase na década de
80, com ações mais efetivas por parte do Governo Federal, através do
Programa Nacional de Informática Educativa (PRONINFE), resultando no
Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), desde 1997.
Nem por isso, a informática é uma realidade nas escolas e nos
trabalhos pedagógicos corriqueiros. Rocha ( 2007) alerta que:
“...os educadores são convidados a aceitar a
realidade de que, se a informática faz parte do cotidiano
do cidadão do século XXI, então é preciso transpor
obstáculos relacionados à sua própria formação e
buscar obter opinião própria e fundamentada a partir de
leituras que abordam o uso do computador nas aulas e
da vivência desse recurso nas suas próprias aulas”.
Trabalhar em ambientes informatizados é uma proposta que requer
mudanças na postura e metodologia de trabalho, não basta formar um
professor que seja capaz de usar informática como recurso de ensinoaprendizagem.
Deve-se
ficar
atento
ao
enfoque
dado
no
processo
educacional, buscar informações, trabalhar com professores experientes,
buscar atividades que aprimorem o uso dos recursos tecnológicos.
Porém, a contribuição que os ambientes informatizados podem fazer
no sentido de avançarmos tecnologicamente é inquestionável, visto que o
uso de tecnologias traz motivação, desperta a competitividade criativa dos
adolescentes, aumenta a concentração, apresenta respostas imediatas com
resultados interessantes, flexibiliza o pensamento, desenvolve o raciocínio
lógico, favorece a expressão emocional e gera uma mudança de atitude
diante do erro. O resgate da curiosidade, que deveria ser inata a essa faixa
etária e o enfrentamento de situações que instigam e desafiam também
somam vantagens ao uso de ambientes informatizados.
Algumas das dificuldades na aprendizagem de Geometria entre os
alunos do Ensino Fundamental é tema de pesquisas em Educação
Matemática, especialmente no que se refere a demonstrações que envolvem
raciocínio dedutivo, métodos e generalizações. Cabarati ( 2004 ) afirma que:
“ muitas vezes eles ( alunos ) confundem propriedades
do desenho( representação ) com propriedades do
objeto (real ).... em parte porque os programas de
ensino nas escolas, dão ênfase a tratamento
estereotipados
dos
objetos
geométricos
e
a
apresentação imediata de demonstrações como
seqüência de argumentos ordenados e prontos”.
Trabalhar com a Geometria Dinâmica tem como um dos objetivos
minimizar
essas dificuldades e dar novo fôlego ao ensino da Matemática.
Este artigo analisa o resultado do uso do software livre GeoGebra,
que reúne geometria, álgebra e cálculo. Esse software foi desenvolvido por
Markus Horenwarter da Universidade de Salzburg para educação matemática
nas escolas.
O ambiente de Geometria Dinâmica é apresentado como ferramenta
que possibilita uma aprendizagem numa perspectiva construtivista. Os
alunos deixam de ser passivos e passam a realizar ações que caracterizam o
fazer matemático: explorar, investigar, visualizar, induzir, conjeturar e
provar.
Por ser é um sistema de geometria dinâmica, o GeoGebra permite
realizar construções tanto com pontos, vetores, segmentos, retas, secções
cônicas como com funções que podem modificar-se dinamicamente depois,
mas também pode trabalhar com equações. Assim, o GeoGebra tem a
potência de manejar com variáveis vinculadas a números, vetores e pontos;
permite achar derivadas e integrais de funções e oferece comandos, como
raízes e extremos. Essas duas visões são características do GeoGebra : uma
expressão em álgebra corresponde a um objeto concreto na geometria e
vice-versa.
A idéia de movimento em geometria não é nova. O século XVII
marcou um
rompimento com a tradição grega e o uso do movimento para estabelecer
uma propriedade geométrica ou gerar uma construção geométrica se tornou
explicito.
Em nosso projeto ele foi usado nas aulas de Matemática como
incentivador e provocador de situações de aprendizagem no Colégio Estadual
Prof. Newton Guimarães, na cidade de Londrina – PR. O projeto abrangeu 118
alunos das 8ª. Séries do Ensino Fundamental, durante o segundo semestre
letivo deste ano, 2008.
Na primeira aula do projeto, ainda em sala de aula, os alunos foram
informados de que estariam sendo apresentados ao software GeoGebra e
que com ajuda dele estariam desenvolvendo uma série de exercícios de
Geometria. Houve uma pequena explanação de como eles, alunos, de posse
de uma senha individual, fornecida pela SEED, poderiam acessar o software
pela página do portal diaadiaeducacao e quais os comando necessários para
que pudessem visualizar a interface do GeoGebra.
O espaço físico do laboratório em questão é de cerca de 100 metros
quadrados dispostos em 3 ilhas com 8 computadores em cada, sendo 4 de
cada lado. Desta forma foi possível acomodar até dois alunos em cada
máquina, tendo em vista que a maior das turmas tem 40 alunos.
Foi observado que apenas o fato da aula ocorrer em um ambiente
diferente do
habitual já foi prazeroso, diferente e todos ficaram bastante agitados.
De acordo com um planejamento anteriormente elaborado, das
quatro aulas semanais de Matemática, uma delas estaria sendo oferecida no
laboratório de
informática e previam-se que seriam necessárias algumas
dessas aulas para que todos tivessem contato com o equipamento e que,
entre eles, fossem sanadas algumas dúvidas básicas sobre como realizar
comandos elementares, noções simples de informática e acesso à internet.
O projeto inicial, de apresentação aos comandos do software e
execução do
primeiro exercício sobre construção de polígonos regulares consumiu 3 aulas.
O fato de estarem acreditando na real possibilidade de poderem usar
os computadores do laboratório de informática para outras atividades, como
as de pesquisa e jogos, diferentes das propostas sugeridas pela professora,
fez com que colaborassem e apresentassem interesse pelo software
GeoGebra e, conseqüentemente, deixassem as outras atividades para
diferentes momentos.
Foram realizados alguns dos exercícios de construção que constam
no Caderno Pedagógico, intitulado de Geometria Dinâmica, como a Atividade
2 , que ensina a desenhar retas concorrentes para posteriormente concluir
que ângulos opostos pelo vértice são congruentes e que os ângulos
adjacentes são suplementares; a Atividade 5, que problematiza a colocação
de um ponto de ônibus nas proximidades de uma escola, um mercado e uma
agência de correios onde é trabalhado o conceito de ponto eqüidistante e
lugar geométrico; e a Atividade 7 que diz respeito ao Teorema de Pitágoras e
sua validade nas diversas figuras que podem ser construídas no lugar dos
quadrados.
Sempre havendo cooperação, os alunos que tinham mais habilidade
ou conhecimento de informática ajudaram os demais colegas.
Foram momentos de grande interação e descontração, pois os
alunos não
estão acostumados com o fato de usarem o computador, ao
invés do livro como um elemento pedagógico.
Algumas propriedades geométricas que geralmente são desenhadas
no quadro de giz, podem facilmente ser compreendidas através dos
movimentos característicos do ambiente de geometria dinâmica e de
maneira muito mais rápida e visualmente melhor. A curiosidade fez com que
experimentassem situações diversas das propostas.
Considerando que a maioria dos alunos apresenta dificuldade em se
expressar verbalmente, ou mesmo por escrito, as observações a respeito da
investigação
interativa
foram
anotadas
pelo
próprio
aluno
para,
posteriormente, fazendo uso de uma linguagem adequada, pudessem
reescrevê-las. Acreditamos que esta dificuldade possa ser superada se os
alunos forem constantemente solicitados a fazê-la.
Esta
é
uma
proposta
de
multidisciplinaridade que pode ser
abrangida futuramente.
Mesmo em ambientes informatizados o papel do professor é fazer
seus alunos progredirem organizando um trabalho estruturado em atividades
que propiciem esse avanço, oferecendo desafios que instiguem a exploração
e a investigação.
Os alunos, que em sua grande maioria, possuem computadores em
suas casas e também acesso a internet foram convidados a fazer downloand
do programa GeoGebra para darem continuidade às atividades em suas
casas.
Vários deles enviaram novos exercícios para serem avaliados e
discutidos por e-mail, comprovando o real interesse que o programa
desperta.
Através desta breve experiência podem-se constatar algumas
características observáveis em um ambiente com o uso do GeoGebra:
a) É um meio dinâmico: um mesmo objeto matemático passa a ter
representação mutável através da manipulação direta sobre as
representações que aparecem na tela do computador;
b) É um meio interativo: relacionamos as ações dos alunos com a reação
do ambiente computacional. A materialização daquilo que está na
mente na representação conseguida na tela e ainda mais, com a
possibilidade de manipular esses objetos através dessa representação.
c) É um meio para modelagem ou simulação: podemos construir modelos
a partir de expressões quantitativas e de relações entre as variáveis
que descrevem um processo, por exemplo, o movimento parabólico da
função de 2o. grau.
Observamos também que com o apoio dos ambientes
informatizados, a superação de dificuldades encontradas no processo de
construção do conhecimento matemático fica minimizado e a apropriação de
conteúdos se acelera.
Porém, devemos ter o cuidado em elaborar atividades que objetivem
o aprendizado, esse é o trabalho do professor nesse processo: ser o
orientador. Todo professor deveria assumir o seu papel de condutor e
enfrentar o desafio de conceber uma educação transformadora.
Segundo Fróes:
“A tecnologia sempre afetou o homem: das primeiras
ferramentas, por vezes
consideradas
como
extensões do corpo, à máquina a vapor, que mudou
hábitos e instituições, ao computador que trouxe
novas e profundas mudanças sociais e culturais,
a
tecnologia nos ajuda, nos completa, nos amplia....
Facilitando nossas
ações, nos transportando, ou
mesmo nos substituindo em determinadas tarefas, os
recursos tecnológicos ora nos fascinam, ora nos
assustam...”
Para vencer essa barreira é preciso, em primeiro lugar,
que o
professor admita que precisa estudar e conhecer como utilizar essa
ferramenta como suporte eficiente e eficaz, pois isso lhe trará segurança.
Borba ( 2001 ) afirma que :
“O acesso à Informática deve ser visto como um direito
e, portanto, nas escolas públicas e particulares o
estudante deve poder usufruir de uma educação que no
momento atual inclua, no mínimo, uma “alfabetização
tecnológica”. Tal alfabetização deve ser vista não como
um curso de Informática, mas, sim, como um aprender a
ler essa nova mídia. Assim, o computador deve estar
inserido em atividades essenciais, tais como aprender a
ler, escrever, compreender textos, entender gráficos,
contar, desenvolver noções espaciais etc. E , nesse
sentido, a Informática na escola passa a ser parte da
resposta a questões ligadas à cidadania.”
O desafio que temos é de pensar um futuro, não distante, onde esses
ambientes tenham papel fundamental no desenvolvimento de novas
capacidades cognitivas e conseqüências sobre a própria natureza do
conhecimento matemático, em particular e quais profissionais estarão aptos
a esse mundo.
BIBLIOGRAFIA:
BORBA, Marcelo C. e PENTEADO, Miriam G.
Informática e Educação
Matemática - Coleção Tendências em Educação Matemática, Belo Horizonte
: Autêntica, 2001
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Lei Darcy Ribeiro: Lei
9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1997.
CABARITI, Eliane. Geometria Hiperbólica:
uma proposta didática em
ambiente informatizado, tese de mestrado em Educação Matemática PUC,
São Paulo, 2004
FRÓES,J. R. M. Educação e Informática: A Relação Homem/Máquina e a
Questão
da
Cognição
-
http://www.proinfo.gov.br/biblioteca/textos/txtie4doc.pdf
LOPES, José J. A Introdução da Informática no Ambiente Escolar -http://
www.clubedoprofessor.com.br/artigos/artigojunio.htm
PAPERT, S. A máquina das Crianças: Repensando a Escola na Era da
Informática; trad. Sandra Costa, Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, p. 210.
ROCHA, Elizabeth M; SANTIAGO, Livia M.L; LOPES, Josilane O; DANTAS, Dina
M.P e NETO, Herminio B. Uso da informática nas aulas de Matemática:
obstáculo que precisa ser superado pelo professor, o aluno e a
escola. Rio de janeiro , 2007 Anais do XXVII Congresso da SBC
VALENTE, J. A & ALMEIDA, F. J. Visão analítica na educação no Brasil: a
questão da formação do professor. Revista Brasileira de Informática
na Educação, n 1, p. 45 – 60, set/1997.
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No item I do artigo 32 da Lei 9394:96, temos que `o