MESA REDONDA INVESTIDOR INSTITUCIONAL & IBRI Temos que ser mais realistas do Empresa de mercado emergente, a Vale precisa ser mais realista que o rei se quiser subir de classe na a ela almeja ser classe A. Para isso, está montando com maestria um pacote de refinanciamento para red A Compra da canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) catapultou a empresa brasileira para a segunda posição no ranking mundial do setor de mineração, logo atrás da BHP Billiton. Para falar sobre essa importante aquisição e outros temas, a revista INVESTIDOR INSTITUCIONAL e o Instituto Brasileiro de Relações com o Investidor (Ibri) promoveram uma mesa redonda da qual participaram o diretor de Relações com Investidor (RI) da Vale, Roberto Castello Branco, a reportagem da revista e oito analistas do mercado financeiro. Os analistas que participaram da mesa redonda, realizada na sede da revista, foram os seguintes: Ivan Fadel, do CSFB; Rodrigo Ferraz, do Brascan; Fábio Zagatti, do HSBC; Antonio Emílio Ruiz, da BB DTVM; Silvania Godoi Ferreira, da BB DTVM; Ademar de Souza Neto, do Unibanco; Cássio Lucin, do Banco Fator, e Vitor Pini, do Banif. Veja, a seguir, os principais ponto da mesa redonda: 8 A política financeira apoia a estratégia operacional, mas não a dita Quais são as prioridades da Vale do Rio Doce hoje? Roberto Castello Branco - As nossas prioridades no momento são: primeiro, fazer uma integração com sucesso da Inco; segundo, o refinanciamento do empréstimo para a aquisição da Inco e posteriormente a redução da dívida nos próximos 2 anos; terceiro, continuar desenvolvendo nosso pipeline de projetos; quarto, implementar o programa de redução de custos. as maiores reservas de níquel, com 7,8 milhões de toneladas em reservas contidas. Ela também tem um pipeline de projetos muito bom, com uma visibilidade ao longo dos próximos 10 anos, além de ser líder mundial em tecnologia e ter produtos de alta qualidade, não só para a indústria de aço inoxidável mas para diversas outros usos mais sofisticados, como turbinas para geração de energia, dutos para o transporte de petróleo e gás, indústria aeroespacial, itens para proteção contra interferências eletromagnéticas em celulares, computadores etc. Quais as expectativas da CVRD em relação à Inco? RCB - São muito favoráveis. Assim como a Vale tem as maiores reservas de minério de ferro do mundo a Inco possui São produtos mais lucrativos? RCB - São produtos de alto valor adicionado, que são vendidos sob contratos com um prêmio bem maior em relação aos preços do níquel transacionados na London Metal Exchange, além de serem de substituição difícil no curto prazo dado as restrições tecnológicas. Como está sendo montada a operação de financiamento da compra da Inco? RCB - A aquisição tem um valor total de US$17,8 bilhões. Nós tomamos um empréstimo-ponte de US$ 14,6 bilhões com um prazo de 2 anos e nosso objetivo é, através de um pacote com vários tipos de instrumentos de dívida, ter isso refinanciado num prazo máximo de 3 meses, talvez até o final de janeiro. Com esse pacote, nosso objetivo é trazer a maturidade média da dívida a um nível anterior à aquisição, que era de 8 anos em 30 setembro de 2006 e passou para 9 anos com o pacote de refinanciamento. DEZ/JAN 2007 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL o que o rei avaliação das agências de rating. E duzir a maturidade da sua dívida Como vão conseguir isso? RCB - Reduzindo o custo da dívida. Em setembro o nosso custo médio de dívida era 7,15% em dólares e podemos baixar isso. Começamos com uma emissão de bonds no mercado internacional, um título de 10 anos com valor de US$ 1,25 bilhão, e agora emitimos um outro de 30 anos com valor de US$ 2,5 bilhões. Também temos a emissão de debêntures aqui no Brasil, com garantia firme, de R$ 5 bilhões de reais, além de uma operação de pré-financiamento de exportação com garantia firme de bancos no valor de US$ 5 bilhões. O rating da empresa pode ser prejudicado por essa alta do endividamento? RCB - Temos uma política de transparência e relacionamento estreito com as agências de rating e isso foi muito importante para a manutenção do nosso rating como grau de investimento. Nós tivemos uma única redução, pela Standard & Poor’s, que fez um downgraded de BBB+ para BBB, mas mesmo assim manteve o grau de investimento. As outras agências, a Moody’s, a Fitching Ratings e a DBRS, não mudaram nada. No rating local, nós continuamos com AAA pela Moody’s e S&P. Embora não tenhamos um nível de endividamento elevado, pois mesmo com a compra da Inco a relação dívida total/Ebtida passou de 0,7 para algo entre 1,7 e 1,8, o nosso compromisso é reduzi-lo mais. O nosso programa é voltar a alguma coisa inferior a 1 no final de 2008. Por quê? Porque queremos não só manter o grau de investimentos, mas sermos promovidos a nível A. Com os US$ 17 bilhões da Inco e mais uns US$ 5 a 6 bilhões que já existiam, o endividamento da companhia vai para US$ 20 a 21 bilhões, o que dá uma alavancagem de 25% no máximo. PorINVESTIDOR INSTITUCIONAL - DEZ/JAN 2007 que isso é tão preocupante? Por que não pode manter esse nível? RCB - Nós aprendemos que a alavancagem é boa, é a fonte mais barata de capital. Essa emissão de bônus nos custou, depois do imposto de renda, 4% ao ano, quer dizer, isso é como se eu tivesse vendendo ações com PL de 25 e fosse permanente. É realmente muito barato, mas nós somos uma empresa de mercado emergente, então somos penalizados em função disso. Antes da aquisição, todos os nossos indicadores financeiros eram compatíveis com o que a S&P e a Moody’s estabelecem para uma empresa nível A, mas tínhamos só um BBB. Por quê? Por causa do problema de sermos uma empresa de mercado emergente. Então, nós temos que ser mais realistas do que o rei, mostrar indicadores bem melhores do que os outros para manter o rating, pois em caso de dúvida o investidor segue o que as agências de rating dizem. Se você não tiver grau de investimento muita gente não vai comprar o seu papel, e mesmo sendo grau de investimento, se não for AAA tem gente que não pode comprar, por questões de política de crédito. Então, o seu acesso ao crédito diminui e, evidentemente, o custo que você tem é maior. Então, é essa a razão. A S&P publicou que, dependendo de como seria o pacote de refinanciamento, se ele não tivesse instrumentos com características de equity poderia haver outro downgrade, embora mantendo dentro do investment grade. Esses instrumentos com características de equity serão adotados? RCB - Nós estamos estudando uma operação, mas não posso dar detalhes porque não está finalizada, como um instrumento de equity. Não vamos fazer nenhuma emissão, temos ações de tesouraria que poderão servir como referência para fazer um bônus conversível. Esta é uma operação cujo tamanho nós ainda não sabemos quanto vai ser, podendo ser de US$ 1 bilhão no máximo. Vocês tiveram uma oferta de crédito enorme, muito mais do que precisavam. Até onde a Vale quer chegar nessa busca por um custo de captação cada vez menor? Nesse caso, todos os projetos no seu espectro de oportunidades começam a ficar atrativos? RCB - A política financeira é para apoiar a estratégia operacional, mas ela não dita a estratégia operacional. Nós perseguimos essa política de custo de capital baixo porque nós estamos numa indústria que precisa de capital. Nós temos que investir bilhões de dólares por ano, então, vamos tentar minimizar o custo desse fator, mas isso não significa que nós vamos ampliar a diversificação. Vamos ter custo baixo para desenvolver aqueles projetos dentro das áreas de atuação que nós escolhemos. Quais são elas? RCB - Em minerais ferrosos: minério de ferro, pelotas, manganês e ferro-ligas. Em não-ferrosos: níquel, cobre e potássio. Em alumína: bauxita e alumínio, mas no momento não pensamos me construir nenhuma planta de alumínio dado o alto custo de energia. Em carvão, que hoje não produzimos mas devemos produzir daqui há alguns anos. E na nossa operação de logística, não só para sustentar o transporte de nossos produtos como também para vender serviços para terceiros. Com o custo de capital que vocês têm hoje, vocês deixam de fazer algum projeto? RCB - Nós temos uma política bastante conservadora para aprovação de projetos, nós requeremos uma taxa interna de retorno esperada de no mínimo 15% e temos um custo de capital estimado de 8,5%. Por que essa diferença toda? Porque uma planilha Excel aceita tudo, todas as hipóteses que nós colocarmos ela vai aceitar e vai dar uma taxa de retorno. Então nós estabelecemos essa diferença exatamente para cobrir esses riscos. Fizemos uma exceção no caso da Inco, que tinha uma expectativa de taxa de retorno em torno de 10%, que se justificava pelos benefícios em termos de diversificação de riscos, ampliação da base geográfica, ampliação da base de clientes, diversificação de produtos e a compra de uma plataforma de crescimento. Mas esse retorno de 10% com a Inco pressupõe preços lá em baixo... RCB - Sim, é uma taxa que pressupõe 9 MESA REDONDA INVESTIDOR INSTITUCIONAL & IBRI o nível de preços lá embaixo. É o tal negócio, você não tem controle sobre os preços, então se dizermos que vai continuar como está e baixar, a única coisa que você pode fazer é rezar ... Então, tem que ser conservador... Qual a previsão de investimentos da empresa para 2007? RCB - O orçamento ainda será submetido à apreciação do Conselho de Administração, mas a expectativa é investir uns US$ 5,5 bilhões, já considerando a nova empresa CRVDI, mas será muito mais na CVRD. Quais serão os projetos beneficiados? RCB - Vamos lá! Nos últimos quatro anos nós entregamos 17 grandes projetos em diversas áreas: minério de ferro, pelotas, ferro-ligas, bauxita, alumina, cobre, potássio, várias usinas hidrelétricas e vamos continuar. Temos 3 projetos em minério de ferro para concluir agora em 2007, que é Carajás com 100 milhões de toneladas, a nova mina de Fazendão em Minas Gerais, com capacidade de 14 milhões de toneladas, que vai ficar pronta no final de 2007; e uma expansão de 5 milhões de toneladas na Fábrica. Além disso, temos 2 usinas de pelotização em construção, um já em construção e outro dependendo de licença ambiental. A Samarco, joint-venture da qual detemos 50%, está fazendo um investimento de US$ 1,1 bilhão nessa área de pelotização. Também vamos começar a produção da nova mina de bauxita em Paragominas e estamos investindo nos estágios 6 e 7 da refinaria de alumina. O investimento na Inco não atrapalhou um pouco esses projetos? RCB - O esforço para adquirir a Inco, embora tenha sido grande, não irá interferir no desenvolvimento normal desses projetos. Alguns estão atrasados, como o projeto de cobre 118, outros vão ser atrasados, como o projeto de níquel de Vermelho por conta de questões ligadas à obtenção de licença ambiental, mas continuamos a tocar normalmente a vida. O que a companhia fará em relação aos seus custos, que cresceram muito nos últimos anos? 10 RCB - Embora a nossa performance tenha sido muito boa nos últimos anos, com 18 trimestres consecutivos de aumento de geração de caixa e lucros em crescimento, é verdade que os nossos custos também aumentaram muito. Então, é muito melhor que tratemos desses problemas agora, quando nossa margem operacional superou os 40%, do que deixar para tratar disso num ciclo recessivo. Nós lançamos um pacote com diversas iniciativas, não esperamos que tenha um efeito significativo no curto prazo, mas reunidas elas terão um impacto material importante em um ano ou um pouco mais. Daria para detalhar um pouco mais esse processo de redução dos custos financeiros e operacionais? Que medidas estão sendo tomadas para reduzir custos? RCB - No caso dos custos financeiros essa redução é clara. O cupom de um bônus de 10 anos que nós lançamos há três anos foi de 9,25% mas há pouco menos de um ano conseguimos lançar um título também de 10 anos com um cupom de 6,25%, o que mostra uma queda de 300 pontos-base. Agora, na área operacional isso não aconteceu, ao contrário, houve até aumento. Por quê? Porque nós sofremos com a apreciação do real. Em outubro de 2002 a taxa de câmbio era de R$ 3,99 por dólar, hoje estamos rodando em torno de R$ 2,15 por dólar, o que elevou os preços de quase tudo o que nós consumimos, desde matérias primas a equipamentos, peças, energia e serviços. Então, estamos revendo os 4 mil contratos que temos com fornecedores, algumas coisas já sabemos o que fazer, em lugar de terceirizar vamos fazer dentro de casa. Por exemplo, fica mais barato fazermos nós mesmos a remoção do ester nas minas, porque o fornecedor está repassando para nós o maior custo de capital dele. O modelo de operação da companhia sofrerá alguma mudança? RCB - Na operação de minério de ferro, antigamente o sistema sul tomava conta de todas as minas de Minas Gerais, da Vitória Minas, do posto de Tubarão, das antigas minas da Caemi, do terminal da Ilha de Guaíba que servia a Caemi, do terminal de Taguaí que tinha sido da Ferteco. O que nós fizemos? Repartimos, criamos dois departamentos para cuidar da operação de minério de ferro, um fica com as antigas minas da companhia, a Vitória Minas e o Posto Tubarão e o outro com as minas da MPR, as minas que eram da Ferteco e os dois terminais marítimos, Guaíba e Taguaí. O propósito foi dar mais foco à operação e explorar as sinergias. No manganês nós reduzimos a operação de 7 para 2 minas, vamos ficar só com a mina do Azul em Carajás e a mina do Urucum no Mato Grosso do Sul. As outras 5 eram minas pequenas e de alto custo, então fechamos. Estamos fechando usinas de ferro-liga, só ficando com as mais eficientes e de menor custo. Também estamos começando a usar caminhões de 35 toneladas nas minas pequenas, porque o custo de comprar 10 caminhões de 35 t é mais baixo do que comprar um caminhão de 240 t, e temos trocado óleo por gás natural em algumas operações. Há três anos, a maioria dos nossos contratos de energia era como consumidor cativo, estamos migrando para o mercado livre, que permite escolher o fornecedor de energia e negociar a tarifa. Essa busca de redução de custos irá funcionar também para a Inco RCB - Sim, há várias iniciativas que estão sendo tomadas no que diz respeito a Inco. O principal local de mineração da Inco fica na província de Ontário (Canadá), num lugar chamado bacia de Sundbury. É uma região onde operam a Inco e a Falconbridge. A Inco tem 6 minas smelter (que processam o minério), a Falconbridge tem outras 3 dessas minas, todas subterrâneas, com estradas que correm paralelas umas das outras, com pequenas distâncias entre elas, mas cada companhia com a sua. Então, você tem sinergias potenciais e logísticas. Um smelter de um, em lugar de processar só o seu próprio minério pode processar também o minério da outra, as estradas podem transportar o minério de ambas. A Inco e Falconbridge estão lá há muitas décadas e nunca chegaram a um acordo simplesmente por causa da rivalidade regional. Mas nós não temos este problema, não somos canadenses, e a empresa que comprou a Falconbridge, a Xstrata, é uma empresa suíça. Então, DEZ/JAN 2007 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL nossa preocupação é com o custo baixo para gerar valor para o acionista. As duas empresas declararam publicamente que querem fazer um esforço conjunto para explorar essas sinergias. Isso, evidentemente, irá cortar postos de trabalho nas operações das duas empresas. Como vocês pretendem negociar isso com os sindicatos canadenses, pois lá praticamente todos os funcionários são sindicalizados? RCB - Isso certamente será um desafio, mas não um desafio insuperável. Por exemplo, a Ambev tem operações no Canadá, e de comum acordo com os sindicatos ela fechou fábricas lá ... Ela mostrou aos sindicatos que a operação não era rentável, que estava se perdendo dinheiro... Qual sua expectativa em relação aos mercados da empresa para 2007? RCB - Acho que a economia mundial continua a crescer em 2007 e 2008, principalmente pela demanda da China por minérios e metais. A China está crescendo 10% esse ano, nossa previsão é que cresça 9% nos 2 próximos anos, mas existem alguns outros países que na margem têm sido importantes para o crescimento da economia mundial, como o Leste Europeu, a Rússia, a Ásia Central, que no passado representavam um peso. Hoje nós temos investimentos no Cazaquistão, que as pessoas nem sabiam que existia, assim como no Oriente Médio, que geralmente as pessoas associam a terrorismo e guerra, desconhecendo que os países do Golfo, como Arábia Saudita, o Kwait, Oman, os Emirados Árabes estão investindo centenas de bilhões de dólares. Só para ilustrar, hoje 20% das gruas do mundo se encontram em Dubai. Nos diversos mercados que nós participamos, talvez com uma única exceção que é a alumina, nós temos expectativas muito positivas, muito otimistas para os dois próximos anos. Porque não estão otimistas com a alumina? RCB - Com o forte e o inesperado aumento da produção da China o preço da alumina no mercado spot caiu. Mas isso não afeta tanto, pois estamos proINVESTIDOR INSTITUCIONAL - DEZ/JAN 2007 tegidos por duas razões: primeiro porque nossa exposição de mercado spot é pequena, apenas 5% da nossa produção, o resto é vendido sob forma de contrato, e segundo porque nós somos um produtor de baixo custo e isso garante uma certa margem. Especula-se que a China também estaria aumentado sua produção de minério de ferro. Ela tem reservas suficientes para isso? RCB - A China tem boas reservas, em grande quantidade, mas são minas pequenas, minas que produzem 100 mil toneladas. Não estamos falando de Carajás, que vem produzindo 100 milhões de toneladas. Então a diferença deles é essa, mos certeza de quanto desse running of the mine se transforma efetivamente em minério de ferro. O que sabemos é que esse percentual tem caído, ou seja, a produtividade tem caído. Cada tonelada de running of the mine está gerando um número cada vez menor de minério de ferro, o que pode ser constatado facilmente pela participação do minério de ferro chinês no consumo chinês de minério de ferro, ou seja, há uma tendência decrescente. Senão, por que o minério de ferro chinês no mercado spot subiu? É simples. Demanda e oferta. Se você está aumentando tanto a oferta, o preço deveria pelo menos se manter constante, não deveria subir, e tem subido. Quanto da produção de minério de ferro da Vale vai para a China? RCB - Hoje está indo, aproximadamente, 30%. Nossa preocupação é com o baixo custo, para gerar valor ao acionista pequenas minas que tem um minério com teor muito baixo, muitas impurezas e gerando uma quantidade imensa de rejeitos. Para se ter uma idéia, cada tonelada de minério de ferro que eles produzem gera 10 toneladas de rejeitos, enquanto cada tonelada de minério de ferro que a gente produz gera uma tonelada de rejeito. Então, isso dá origem a um problema ambiental seríssimo que não é sustentável ao longo do tempo. Mas a produção da China está crescendo? RCB - Os chineses reportam a produção do minério de ferro não em termos do concentrado, mas da massa que é extraída da mina, chamado running of the mine. Esse running of the mine tem aumentado significativamente, mas não te- A Vale vê perspectivas de direcionar uma parte maior da sua produção para o mercado interno nos próximos anos? RCB - Gostaríamos muito que acontecesse, mas isso depende de crescimento econômico e o Brasil, infelizmente, é um país que encontra uma série de restrições ao crescimento econômico, a começar pela infra-estrutura. Nós temos a nossa própria infra-estrutura, mas olhamos por aí e vemos uma grande deficiência de estradas, ferrovias, portos e energia. Além disso, nossa força de trabalho tem baixa educação, é muito inferior a países como México, Chile, Coréia e outros emergentes. Também existe uma grande economia informal, que tem uma produtividade muito baixa em relação ao setor formal, e a nossa tradição de respeito às leis é fraca. Veja o nosso caso em Carajás, nós fomos vítimas de índios invadindo e interrompendo abruptamente nossas operações. Esses movimentos, no fundo, crescem devido à leniência com que são tratados, as pessoas transgridem a lei e não são punidas. Qual é a saída? RCB - Nós precisamos destravar o Brasil, como diz o presidente Lula, e atacar isso tem implicações muito mais profundas do que o Banco Central ter uma taxa de juros mais ou menos alta. O 11 MESA REDONDA INVESTIDOR INSTITUCIONAL & IBRI ideal é que tivesse uma taxa muito mais baixa, mas não é isso que vai fazer crescer a economia de forma sustentável. É preciso reduzir a burocracia, os centros de decisões, destravar o andamento da atividade econômica para facilitar a realização de investimentos. A Vale planeja fazer desinvestimentos no curto e médio prazo? RCB - No momento nós estamos vendendo parte da nossa participação na Usiminas, vamos vender mediante oferta pública ainda a ser anunciada. Nós tínhamos 23% das ações ordinárias da Usiminas, o plano é ficar com apenas 5% e fazer parte do grupo de controle. Temos a venda de alguns ativos da Ferro Gusa Carajás, que é uma joint venture que temos com a siderúrgica americana Nucor, como algumas florestas que serviam como fonte de matéria prima de carvão vegetal para as operações de ligas em Minas Gerais, na Bahia, uma operação de cálcio silício. Estão vendendo não só para fazer caixa mas também para ganhar mais eficiência. Qual foi exatamente o objetivo da oferta pública da Usiminas, foi a geração de caixa em si ou a entrada no grupo de controle da empresa? RCB - Essa operação tem dois objetivos: corrigir a má alocação de capital, pois nós tínhamos 23% de uma empresa siderúrgica e era como se fosse um investimento de portfólio. Como nós não somos um fundo de investimento, claramente era uma má alocação de capital. Então, vendendo 18% nós estamos corrigindo isso e gerando caixa para fazer o financiamento dos nossos investimentos em mineração, que é o nosso negócio. Porque vocês resolveram manter esses 5% de investimento na Usiminas? RCB - Esses 5% nos colocam em uma posição de promover o crescimento da Usiminas, permitindo ampliar a demanda por minério de ferro dentro do Brasil. O Brasil tinha capacidade de ter uma grande indústria de aço, mas tem andado devagar nessa área. Nosso minério de ferro suporta mais de 20% da produção mundial de aço, mas produzimos apenas 12 3% do aço do mundo. Então, tem que ter alguma coisa errada. Nossas siderúrgicas não são competitivas? RCB - Não sei o que acontece. As nossas empresas tem uma grande capacidade, são empresas rentáveis, eficientes, com potencial de crescimento. Mas hoje em dia, quem é a maior empresa de aço da América Latina? É uma empresa argentina. Temos o maior potencial, as maiores vantagens competitivas, mas não produzimos uma empresa como os argentinos, que são muito inferiores a nós. Esse campeonato nós estamos perdendo, infelizmente. Não sei quais são as razões... Vocês pretendem fazer outros investimentos em siderúrgicas menores, como esse da Usiminas? RCB - No Rio de Janeiro nós estamos participando da Cia Siderúrgica do Atlântico, junto com a ThyssenKrupp, um projeto de US$ 3,5 bilhões que vai gerar uma demanda por minério de ferro e pelotas de 8,5 bilhões de toneladas anuais. No Ceará nós temos participação na Ceará Steel, junto com uma empresa coreana e outra italiana, um projeto de 1,5 milhão de toneladas cuja execução ainda não começou. As participações são no mesmo nível da Usiminas? RCB - Na usina do Ceará vamos ter menos que 10% e investimento de apenas US$ 25 milhões. Na CSA nosso investimento está limitado a US$ 200 milhões, 10% da companhia. Quanto, em termos de receita da empresa, é proveniente de cada tipo de produto? RCB - Nos nove primeiros meses de 2006: minério de ferro e pelotas ficou com 48,4%; níquel entra como segundo produto mais importante, com 23,4% das receitas; o alumínio fica com 9,2% e o cobre com 7,1%. Esses são os produtos mais importantes. Depois tem a logística com 5%, uma pequena participação com o potássio, caulim, cobalto e metais do grupo da platina. A tendência, a curto prazo, é ficar desse tamanho mesmo, com algumas pequenas variações. A longo prazo vai haver alguma modificação, provavelmente teremos minério de ferro e pelotas com 45%; níquel, cobre e potássio, com algo entre 30% a 35%; alumínio, com 7% a 8%; carvão, que devemos começar a produzir em cinco anos, deve começar pequenininho e chegar a uns 5%; e a logística diminuindo. Quais são os planos de expansão na área de logística? RCB - Estamos investindo continuamente na logística para transporte de nossos produtos. Quando ampliamos a capacidade de uma mina de minério de ferro, ou desenvolvemos uma nova mina, nós investimos na ferrovia, comprando novas locomotivas, novos vagões, construindo novos pátios, novas extensões, e também no porto, comprando um carregador de navios novo ou substituindo por outro que seja mais veloz, ou ampliando píer. Essa é uma preocupação permanente. Para se ter uma idéia, nós concluímos em setembro a mina de Brucutu, com investimento total de US$ 1,1 bilhão, dos quais US$ 850 milhões foram na mina e na usina de processamento e US$ 250 milhões na logística. A interrupção da produção em Carajás, pela invasão dos índios, gerou perdas de que ordem para a companhia? RCB - Se não me falha a memória, perdemos 500 mil toneladas de produção de embarques. Nós tínhamos um programa muito bom naquela região, nós transferíamos anualmente aos índios, a fundo perdido, cerca de US$ 12 milhões e além disso dávamos a eles de graça o mesmo plano de saúde dos empregado da Vale, sem nenhuma contrapartida. Esses subsídios serão mantidos? RCB - No momento estamos negociando, porque tínhamos suspendido. E suspendemos por uma razão simples: de que adianta dar subsídios se o beneficiário continua a adotar uma postura hostil e a querer cada vez mais, mais e mais. Então, voltamos à estaca zero, cortamos os subsídios, suspendemos o contrato e estamos negociando uma solução para que seja boa para os dois lados. DEZ/JAN 2007 - INVESTIDOR INSTITUCIONAL