23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental III-092 - ESTUDO DOS SOLOS UTILIZADOS PARA A IMPERMEABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BASE E DE COBERTURA DE ATERROS SANITÁRIOS DE SANTA CATARINA Meire Franceschet(1) Engenheira Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestranda em Engenharia Ambiental, na linha de pesquisa Resíduos Sólidos Urbanos, Industriais e Agrícolas na Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista Cnpq no Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da UFSC. Armando Borges de Castilhos Júnior Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor em Gestão e Tratamento de resíduos pelo Institut National dês Sciences Appliquèes de Lyon, França. Pós Doutorado pela Ecole Nationale Supérieure dês Mines de Paris – ISIGE/ENSMP. Professor Adjunto IV do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina. Supervisor do Laboratório de Pesquisas em Resíduos Sólidos – LARESO. Marciano Maccarini Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor em Engenharia Civil na University of London. Pós Doutorado pela Universidade de Durham. Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina. Supervisor do Laboratório de Mecânica dos Solos - LMS. Elivete Carmem Clemente Prim Engenheira Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutoranda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Camila Funari Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental – UFSC. Bolsista PIBIC – Cnpq no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Endereço(1): Rua: Prof. Milton Sullivan, 182 – Bairro Carvoeira – Florianópolis - SC - CEP: 88040-620 Brasil - Tel: +xx (48) 8807-8239 - Fax: +xx (48) 331-9717 - e-mail: [email protected]. RESUMO O presente trabalho consiste na análise de alguns solos empregados nas camadas de base e cobertura de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos do estado de Santa Catarina. Os quatro tipos de solos analisados estão localizados nas seguintes regiões geográficas do estado: oeste, meio-oeste e nordeste. Os solos foram caracterizados através de ensaios de mecânica dos solos, como análise granulométrica, limites de consistência e massa específica dos grãos; além de ensaios de compactação e de permeabilidade. O ensaio de permeabilidade foi realizado com carga variável, e o líquido permeante utilizado foi água. Observa-se, com base neste estudo, que os solos utilizados como material impermeabilizante nos aterros sanitários avaliados possuem baixa permeabilidade, atendendo assim o valor de 10-7 cm/s, exigido em norma. Através dos resultados pode-se verificar a qualidade do material utilizado em camadas de impermeabilização em aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. PALAVRAS-CHAVE: Aterros sanitários, Solos, Impermeabilização, Camada de Cobertura, Camada de Base. INTRODUÇÃO Atualmente, uma das maneiras mais adequadas para a disposição final dos resíduos sólidos é a técnica de aterros sanitários, a qual busca proteger a saúde pública e o meio ambiente. Um dos grandes problemas encontrados nos aterros sanitários está relacionado à impermeabilização da base destas instalações, ou seja, a possibilidade de ocorrência de contaminação das águas subterrâneas, além do comprometimento de aqüíferos e reservas importantes de águas e do solo, devido à infiltração dos líquidos percolados. A contaminação das águas subterrâneas pode ser evitada através de uma adequada impermeabilização do solo, utilizando-se geomembranas sintéticas e solos de baixa permeabilidade, além do controle tecnológico em campo. A NBR 13896 de 1997 define a impermeabilização como a “deposição de camadas de materiais ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental artificiais ou naturais, que impeça ou reduza substancialmente a infiltração de água no solo dos líquidos percolados, através da massa de resíduos”. Segundo Jardim (1995), a produção de líquidos percolados é inevitável, pois não é possível o controle total sobre todas as fontes de umidade que interagem com os resíduos sólidos. Estas fontes podem ser a própria umidade inicial dos resíduos sólidos; a água gerada no processo de decomposição biológica e, principalmente, a água da chuva que percola pela camada de cobertura. Assim, a camada de cobertura assume um papel de grande importância nos aterros sanitários, devendo ser relativamente impermeável e possuir um sistema de drenagem superficial. O sistema de cobertura tem a função de proteger a superfície das células de resíduos sólidos (minimizando impactos ao meio ambiente), eliminar a proliferação de vetores, diminuir a taxa de formação de líquidos percolados, reduzir a exalação de odores, impedir a catação, permitir o tráfego de veículos coletores sobre o aterro, eliminar a queima de resíduos e a saída descontrolada do biogás (JARDIM, 1995). Neste sentido, o objetivo deste trabalho é a avaliação da qualidade dos materiais que são utilizados para impermeabilizar as camadas de base e cobertura de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos de Santa Catarina. MATERIAIS E MÉTODOS Os solos utilizados nesta pesquisa são provenientes de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos de Santa Catarina, localizados nas regiões oeste, meio-oeste e nordeste do estado. Estes solos são empregados como materiais de impermeabilização das camadas de base e de cobertura dos aterros sanitários. Os solos empregados nas camadas impermeabilizantes dos aterros sanitários foram retirados do local de deposição, sendo previamente homogeneizados para uma melhor representatividade da amostra. Após a coleta, em laboratório, as amostras de solos foram preparadas conforme especificações da norma NBR 6457 de 1986. Nas Figuras 1 observa-se o solo empregado em um aterro sanitário da região nordeste do estado, utilizado como material de impermeabilização para a camada de base e de cobertura. Na Figura 2 está apresentado o solo empregado na camada de base em um aterro sanitário da região oeste do estado. Figura 1: Solo Tipo 1 - Base e cobertura. Figura 2: Solo Tipo 2 – Base. Na Figura 3 observa-se o solo utilizado para a camada de cobertura no mesmo aterro sanitário da Figura 2. Na Figura 4 o solo apresentado é proveniente de um aterro sanitário do meio oeste de Santa Catarina, sendo utilizado tanto para a camada de cobertura como para a base. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 3: Solo Tipo 3 - Cobertura. Figura 4: Solo Tipo 4 – Base e Cobertura. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade Federal de Santa Catarina, conforme as normas específicas da ABNT, apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Métodos Utilizados. ENSAIO Análise Granulométrica Limite de Liquidez Limite de Plasticidade Massa específica dos grãos Compactação Permeabilidade MÉTODO NBR 7181/1984 NBR 6459/1984 NBR 7180/1984 NBR 6508/1984 NBR 7182/1986 NBR 14545/2000 O ensaio de compactação foi realizado para a energia Proctor Normal, com reuso de material. A mesma energia foi aplicada para a execução do ensaio de permeabilidade. A NBR 14545 (2000) recomenda que a água a ser utilizada para os ensaios de permeabilidade deve ser a mesma que percola pelo material em campo. Para este estudo optou-se por inicialmente realizar o ensaio de permeabilidade para todos os tipos de solo com água. Uma próxima etapa do trabalho consiste em realizar o ensaio de permeabilidade, para os solos da camada de base, com o líquido percolado do aterro sanitário. O ensaio de permeabilidade foi realizado com carga variável, saturando-se o corpo de prova antes do ensaio. CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS Conforme já citado, foram executados ensaios de caracterização, compactação e permeabilidade, para os quatro tipos de solos utilizados em camadas de base e de cobertura em aterros sanitários de Santa Catarina. A seguir estão apresentados os resultados encontrados. O solo Tipo 1, utilizado para camada de base e de cobertura do aterro sanitário, foi classificado como silte arenoso, sendo a fração argilosa a menos significativa. Apesar de não ser um solo predominantemente argiloso, a permeabilidade encontrada foi relativamente baixa, mais ainda aquém daquela necessária para utilização como camada impermeável em aterro sanitário. Porém tal situação não chega a causar maiores danos, pois neste aterro foi utilizada uma geomembrana que garante a impermeabilidade do sistema. Os resultados dos ensaios estão apresentados na Tabela 2. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 2: Solo Tipo 1. ENSAIOS Análise Granulométrica Limite de Liquidez Índice de Plasticidade Massa específica dos grãos Compactação Permeabilidade Índice de vazios compactada da RESULTADOS Silte arenoso (silte 46,9 %; areia 27,6 % e argila 25,6 %) LL = 76 % IP = 22 (altamente plástico) γg = 2,596 g/cm³ Umidade ótima = 26,3 % Massa específica aparente máxima do solo seco = 1,46 g/cm³ k = 4,83.10-6 cm/s amostra e = 0,83 O solo Tipo 2, empregado para camada de base do aterro sanitário, é uma areia siltosa, conforme a Tabela 3. Tabela 3: Solo Tipo 2. ENSAIOS Análise Granulométrica Limite de Liquidez Índice de Plasticidade Massa específica dos grãos Compactação Permeabilidade Índice de vazios compactada da RESULTADOS Areia siltosa (areia 47,0 %; silte 45,2 % e argila 7,8 %) LL = 67 % IP = 14 (medianamente plástico) γg = 2,223 g/cm³ Umidade ótima = 36,0 % Massa específica aparente máxima do solo seco = 1,30 g/cm³ k = 5,43.10-7 cm/s amostra e = 0,74 O solo Tipo 3, utilizado para cobertura diária e final do aterro sanitário, é um silte argiloso. Este solo apresenta uma grande quantidade de raízes, não sendo recomendado em utilizá-lo em camadas de impermeabilização, pois as mesmas entrarão em decomposição e, conseqüentemente, caminhos facilitados de percolação serão criados, fazendo com que a permeabilidade aumente com o tempo. Como na camada de cobertura não é utilizado nenhum tipo de elemento impermeabilizante adicional, seria recomendada a substituição por um solo pobre em matéria orgânica. Os resultados dos ensaios estão apresentados na Tabela 4. Tabela 4: Solo Tipo 3. ENSAIOS Análise Granulométrica Limite de Liquidez Índice de Plasticidade Massa específica dos grãos Compactação Permeabilidade Índice de vazios compactada da RESULTADOS Silte argiloso (silte 55,7 %; argila 22,3 % e areia 22,1 %) LL = 56 % IP = 11 (medianamente plástico) γg = 2,319 g/cm³ Umidade ótima = 32,1 % Massa específica aparente máxima do solo seco = 1,35 g/cm³ k = 4,11.10-7 cm/s amostra e = 0,75 O solo Tipo 4, coletado na região meio oeste do estado, é utilizado para impermeabilizar a camada de base e de cobertura do aterro sanitário. Este solo é classificado como argila siltosa justificando a baixa permeabilidade encontrada no ensaio. Este material é ideal para uso em camadas impermeabilizantes, tendo os parâmetros atingidos a permeabilidade indicada pela norma. Os resultados dos ensaios estão apresentados na Tabela 5. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 5: Solo Tipo 4. ENSAIOS Análise Granulométrica Limite de Liquidez Índice de Plasticidade Massa específica dos grãos Compactação Permeabilidade Índice de vazios compactada da RESULTADOS Argila Siltosa (argila 64,2 %; silte 33,6 % e areia 2,2 %) LL = 71,8 % IP = 6,8 (fracamente plástico) γg = 2,231 g/cm³ Umidade ótima = 31,8 % Massa específica aparente máxima do solo seco = 1,45 g/cm³ k = 2,30.10-7 cm/s amostra e = 0,58 CONCLUSÕES Através deste estudo foi possível verificar que a maioria dos solos utilizados em camadas de base e de cobertura nos aterros sanitários de Santa Catarina em estudo apresenta um coeficiente de permeabilidade baixo (em torno de 10-7 cm/s). Outro fator importante a ser considerado é a utilização da geomembrana sintética na impermeabilização da camada de base do aterro sanitário, sendo uma garantia a mais caso o solo não apresente a permeabilidade estimada, devido a fatores no campo como a falta de controle da compactação. Vale salientar ainda a importância da drenagem superficial do aterro sanitário para evitar que as águas das chuvas penetrem nas células dos aterros e contribuem para um acréscimo de líquido percolado produzido. TRABALHOS FUTUROS Como continuação deste trabalho de caracterização dos solos utilizados em camadas de base e cobertura de aterros sanitários de Santa Catarina, será realizada a etapa de montagem de pilotos experimentais de fluxo, simulando a camada impermeabilizante de solo. Estes pilotos são formados por permeâmetros de carga variável, preenchidos com o solo da camada impermeabilizante e seu respectivo líquido que a permeia. Ou seja, para os solos empregados em camadas de base será utilizado como líquido permeante o líquido percolado (chorume) de um aterro sanitário do estado. Para a camada de cobertura será utilizada água. O monitoramento do piloto experimental de fluxo se dará por aproximadamente seis meses, verificando-se a permeabilidade do solo em função do tempo e da temperatura. A montagem do piloto experimental de fluxo será nas dependências do Laboratório de Pesquisa em Resíduos Sólidos – Lareso da Universidade Federal de Santa Catarina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo: Determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm: Determinação da massa específica. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo: Determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo: Análise Granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7162: Solo: Ensaio de compactação. Rio de Janeiro, 1985. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de Solo: Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1986. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 7. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos: Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997. 8. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14545: Solo: Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga variável. Rio de Janeiro, 2000. 9. CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos Solos e suas aplicações. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: LTC, 1988. 1 v. 10. GOMES, Luciana Paulo; MARTINS, Flávia Burmeister. Projeto, Implantação e Operação de Aterros Sustentáveis de Resíduos Sólidos Urbanos para Municípios de Pequeno Porte. In: CASTILHOS Junior, Armando Borges de (Coord.). Resíduos Sólidos urbanos: aterro sustentável para municípios de pequeno porte. Rio de Janeiro: ABES, RiMa, 2003. 11. JARDIM, Nilza Silva. Resíduos sólidos municipais: Manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT, 1995, 224p. 12. PINTO, Carlos de Sousa. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6