A socioeconomia catarinense A socioeconomia catarinense cenários e perspectivas no início do século XXI Lauro Mattei Hoyêdo Nunes Lins (Orgs.) Chapecó, 2010 Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza Lajús Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer © 2010 Argos Editora da Unochapecó Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. 330.98164 A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no S678s início do século XXI / Lauro Mattei, Hoyêdo Nunes Lins (Orgs.). – Chapecó, SC : Argos, 2010. 420 p. (Grandes temas ; 7) Inclui bibliografia ISBN: 978-85-7897-010-9 1. Santa Catarina – Economia. 2. Santa Catarina – Desenvolvimento. I. Mattei, Lauro. II. Lins, Hoyêdo Nunes. III. Título. CDD 330.98164 Catalogação elaborada por Daniele Lopes CRB 14/989 Biblioteca Central da Unochapecó Conselho Editorial: Carla Rosane Paz Arruda Teo, César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria dos Anjos Lopes Viella, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer, Rosana Maria Badalotti, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski Coordenadora: Maria Assunta Busato Sumário prefácio 11 Introdução 21 Parte I Formação histórica e regionalização produtiva Formação econômica de Santa Catarina: uma tentativa de síntese Alcides Goularti Filho 29 A dinâmica espacial recente da economia catarinense Ivo Marcos Theis 63 Liberalização econômica e reestruturação produtiva: 109 reflexos em Santa Catarina no limiar do novo século Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei Parte II Estrutura produtiva e inserção externa Agricultura e agroindústria catarinenses: panorama, 159 impasses e perspectivas do sistema agropecuário Arlei Luiz Fachinello e Jonas Irineu dos Santos Filho Indústria em Santa Catarina: processo de desindustrialização 197 relativa e perda de dinamismo setorial Silvio Antonio Ferraz Cario e Ricardo Lopes Fernandes Inserção internacional de uma economia regionalizada: 247 avanços e limitações para o caso catarinense Fernando Seabra e Mohamed Amal Parte III A sociodemografia no século XXI A realidade demográfica de Santa Catarina 283 na virada para o século XXI Beatriz Tamaso Mioto, Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei Estrutura e dinâmica do mercado de trabalho 323 em Santa Catarina na virada do século XX Aline Venturi e Lauro Mattei Comportamento dos indicadores sociais em Santa Catarina 369 entre 1991 e 2000: uma interpretação alternativa Luiz Augusto Finger França Maluf, Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei Parte IV Rumo a uma síntese Tendências e desafios do desenvolvimento 403 socioeconômico catarinense Lauro Mattei e Hoyêdo Nunes Lins Sobre os autores 417 Prefácio A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no início do século XXI, organizado pelos professores da Universidade Federal de Santa Catarina Lauro Mattei e Hoyêdo Nunes Lins, é um livro extremamente oportuno e bem-vindo. Baseado em sólido projeto de reflexão coletiva, tem excelência em sua sustentação teórico-metodológica, e deverá descortinar novos horizontes para indagações pertinentes sobre as especificidades da economia e da sociedade catarinense, suas potencialidades e desafios presentes e futuros. Cabe lembrar que essa é uma contribuição ímpar para um estado brasileiro carente de interpretações abrangentes. Exceto por contribuições individuais, algumas realizadas por autores deste livro em outras ocasiões, esse importante objeto de pesquisa em que se constitui essa rica e diversa unidade da federação não mereceu a devida atenção dos pesquisadores brasileiros. Nesse sentido, caberia lembrar que a essa carência se junta outra: a inexistência de uma instituição de pesquisa do governo estadual, instituição como o excelente Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Deve-se também ressaltar a amplitude e a profundidade da abordagem aqui empreendida, bastante vasta para contemplar, dentre outras questões-chave da estrutura e dinâmica da socioeconomia catarinense, a dinâmica demográfica; suas formas de organização social da produção; a estrutura de ocupações geradas; os nexos externos de sua economia; os rebatimentos do ambiente macroeconômico brasileiro e da condução das opções de política econômica; as respostas desta economia regional; e outras dimensões do seu processo de desenvolvimento. A obra demonstra a importância de se olhar e interrogar a História acerca das peculiaridades sociais e regionais. Olhar a constituição e a evolução das estruturas de propriedade; o sentido da “formação socioespacial”, sua específica inserção em uma dada divisão social do trabalho, desdobrada analiticamente em suas mais variadas dimensões (de suas ramificações produtivas, urbanas etc.). Com alta precisão conceitual e procurando apreender em perspectiva histórica abrangente as especificidades dessa formação socioeconômica, este livro partiu de obstinada análise, desde as últimas décadas do século XIX, procurando entender a integração de Santa Catarina no contexto mais geral do sistema nacional de forças produtivas, as complementaridades de sua economia no mercado nacional, as especializações regionais, a diversificação econômica e a integração produtiva promovidas no bojo das transformações ocorridas nas escalas internacional e nacional. A análise está baseada em rigorosa periodização: 1) o momento da hegemonia do capital mercantil (1880-1945), em que importantes engates, diacronias e sincronias da socioeconomia catarinense com o sistema econômico nacional em formação naquele período, promoveram em seu espaço um processo de potente coerção im12 posta pela lógica do capital mercantil; 2) o período da diversificação e ampliação da base produtiva catarinense (1945-1962), em que se destacaram o dinamismo dos setores carbonífero, têxtil, madeireiro e alimentar, engendrando processos típicos de maiores coerência inter-regional, diversificação produtiva e diferenciação social; 3) as circunstâncias da consolidação do capital industrial (1962-1990) comandado pelas grandes unidades produtivas industriais e agroindustriais e pelos investimentos estatais em infraestrutura, que proveram suporte aos diversos complexos industriais que foram formados e consolidados, com a densificação de seu aparelho produtivo. A partir da década de 1960, importantes grupos empresariais locais disputaram espaço no ambiente de coerção concorrencial, que se acirra a partir da integração do mercado nacional. Caberia lembrar que esse processo integrativo da economia brasileira é decisivo para se pensar as dinâmicas dos espaços urbanos, rurais e regionais do País. Integrando o mercado nacional, as estruturas produtivas regionais previamente existentes foram inseridas em potentes processos de recondicionamento. Produziram-se ou se agravaram as enormes heterogeneidades e assimetrias estruturais, socioeconômicas e espaciais, no interior de cada estado da federação. O intricado processo de concorrência, competição e rivalidades intercapitalistas entre as regiões submeteu-as a constrangimentos e potencialidades econômicas. Os diversos estratos sociais, setoriais e espaciais foram subjugados a processos de ganhos e perdas. Mais expostas às vicissitudes da escala mundial, as economias brasileira e catarinense foram constrangidas a profundas mudanças mais recentemente. Ingressaram em processos de reorganização econômica e de desarticulação política (pós-1990). A partir desse 13 momento, fica patente a perda de capacidade de regulação sistêmica e orgânica do aparato do Estado. Vários segmentos industriais do estado de Santa Catarina foram prejudicados com a abrupta abertura econômica e com o processo deliberado de desnacionalização do sistema econômico nacional. Assiste-se à deterioração dos centros endógenos de decisão estratégica, ao aumento da precarização das condições de trabalho e à crescente exclusão social. O texto analisa detalhadamente cada dimensão desses processos mais gerais que ocorreram no Brasil e seus rebatimentos específicos na economia e na sociedade catarinenses. Demonstram-se as potencialidades e os desafios da economia do estado. A competitividade de segmentos como carnes, leite, fumos, bebidas, alimentos, madeira e móveis, têxteis e máquinas e equipamentos e suas configurações socioespaciais. Ao se analisar detidamente o aparelho industrial catarinense, sugere-se a hipótese de uma “desindustrialização precoce” ou de uma especialização regressiva, posto que ramos de maior conteúdo tecnológico perderam participação relativa no processo de adição de valor estadual. A diversificação industrial continua a ser um desafio estadual. Os encadeamentos intersetoriais, que poderiam dinamizar sua economia, ainda deixam muito a desejar. De forma correta, os autores desta obra lembram a necessidade de cautela na extração de resultados mais definitivos, pois [...] o resultado desse duplo comportamento (queda da participação dos setores com alta intensidade tecnológica no VTI e escassa capacidade dos setores com baixa e média intensidade tecnológica para gerar efeitos positivos sobre as cadeias produtivas) deve ser considerado cuidadosamente, tendo em vista o 14 processo de reestruturação produtiva levado a cabo no estado durante a década de 1990 [...] (p. 408-409). Para além da riqueza das análises empreendidas nesta obra, gostaria de chamar a atenção para alguns pontos temáticos rigorosamente tratados ao longo do livro. A experiência da institucionalidade montada em Santa Catarina, que o restante do Brasil observa com atenção, buscou promover a descentralização administrativa, estabelecida no primeiro mandato do governador Luiz Henrique da Silveira, o Plano 15 (2003-2006), experimento que foi reforçado para o segundo mandato (2007-2010). No texto, são apontadas, pertinentemente, inquietações sobre os riscos de fratura da coesão e cooperação entre as diversas regiões do estado. Outro ponto importante é a identificação das distintas espacialidades do desenvolvimento catarinense, quando é apresentada a centralidade das atividades econômicas mais dinâmicas nesse processo. Numa abordagem correta do processo de produção social do espaço, é demonstrado, ao longo de todo o trabalho, como o território é uma construção social conflituosa, que impõe questionamentos sobre identidades e interesses. Na análise da agricultura, da pecuária e da agroindústria, gostaria de lembrar que, de forma correta, partiu-se da estrutura de propriedade fundiária rural, a fim de discutir que, entre diversas importantes questões, o valor da produção agropecuária do estado, ainda que crescente, está especialmente concentrado na suinocultura e na avicultura, que são cadeias produtivas altamente competitivas nos cenários nacional e internacional e fortemente inseridas no sistema agroindustrial. Por outro lado, esse sistema altamente especializado 15 e concentrado em termos de número de produtores e alcance social contrasta com a debilidade da sua base agrícola produtora, calcada na produção de lavouras temporárias. A agropecuária catarinense é caracterizada pela predominância da pequena propriedade de produção diversificada e de cunho familiar. Convivem dois tipos de agricultura: uma dinâmica, internacionalizada e de grande competitividade e outra local, frágil e de baixa competitividade. Esse ambiente dicotômico cria impasses, especialmente nas áreas social e ambiental, que colocam em cheque a manutenção da produção local no futuro próximo. Discutem-se as atividades predominantes em cada região e se indaga acerca da importância do papel das instituições de ensino. As pesquisas demostraram que as “regiões ganhadoras” abrigam universidades, indicando forte associação entre a presença de Instituições de Ensino Superior e o processo de desenvolvimento nas três regiões mais dinâmicas do estado. Aliás, essa obra lembra a questão fundamental da função social que essas e outras instituições devem ter na geração de diagnósticos precisos e críticos sobre as características peculiares do estado e a correlação de forças políticas capaz de levar à frente processos de transformação socioeconômica. Defendo que o Brasil precisa vencer a negligência e o preconceito, que grassam nas últimas décadas nos meios universitários e políticos, sobre os processos de elaboração e debate de bons diagnósticos de suas realidades concretas e sobre a busca de soluções para seus problemas peculiares. É preciso realizar análises, como as aqui promovidas, em que se destaque um conjunto de dimensões que dão o estilo de desenvolvimento à determinada sociedade histórica e geograficamente constituída: investigar a constante reorganização de seu sistema social de produção, identificando a estrutura e a 16 dinâmica de cadeias, circuitos, complexos e segmentos produtivos; discutir os contextos microdinâmicos, macroestruturais e institucionais em que está inserida; examinar não setores estanques, mas justamente as ramificações e as intersetorialidades construídas em determinado aparelho produtivo, vencendo a equivocada visão de que existem um setor primário, outro secundário e outro terciário, ou, pior, de que existe uma trajetória linear de passagem de um para outro; avaliar profundamente a dinâmica social, demográfica e do mercado de trabalho; esmiuçar a capacidade de oferta de suporte infraestrutural; averiguar os impactos das opções realizadas nacionalmente na condução da política macroeconômica, buscando verificar as suas repercussões setoriais, regionais, sociais específicas; aquilatar os nexos e a inserção concreta da economia nos planos nacional e internacional, dentre outros aspectos. Essas questões e outras são muito bem tratadas neste livro. Não é o caso de pontuarmos todas aqui, permitindo ao leitor que faça sua própria avaliação das instigantes análises realizadas nesta obra. Pontos fundamentais das heterogeneidades estruturais presentes no território catarinense são avaliados. Levantam-se problemáticas decisivas como os possíveis sinais de desindustrialização relativa ou de especialização regressiva, o drama social resultante da precarização das relações de trabalho, os impasses e os desafios da atual configuração regional da produção. Como todo bom trabalho sobre a dimensão espacial do processo de desenvolvimento, este livro busca apanhar as hierarquias, os enquadramentos impostos pela “lógica maior”, pela divisão social do trabalho, pelas centralidades que induzem ou limitam algumas dinâmicas mais ou menos endogeneizadas. Questiona as decisões em suas dimensões intersetoriais, inter-regionais e da interurbanidade. 17 Identifica quais são seus interesses concretos, seus instrumentos táticos e estratégicos, lança luz sobre o ponto fundamental de quais sejam os agentes e os sujeitos portadores de projetos de transformação. Aponta as principais transformações que ocorreram e os processos em curso. Ajuda a qualificar uma pendência central para armar estratégias que alarguem os horizontes de oportunidades regionais: o que é o Estado, enquanto unidade da federação brasileira, hoje? O que pode esse nível de governo no estranho pacto federativo que montamos (ou estamos desmontando)? Qual o papel das análises na escala meso? Por fim, caberia lembrar a conjuntura concreta em que se instala o debate promovido por este livro: a abrangência, a profundidade e os prováveis desdobramentos da crise estrutural capitalista atual, formalmente marcada pela falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008, que ainda não puderam ser vislumbrados adequadamente por nenhum analista sério. No capitalismo, os momentos de crise sistêmica são momentos de queima e destruição desorganizada de riqueza não sancionada socialmente pelos mercados. Nesse sentido, são momentos disruptivos de trajetórias em aberto, imprevisíveis. São também momentos propícios ao debate não ingênuo. A conjuntura crítica demonstra que as análises devem ser multiescalares e não seria desejável ter uma interpretação localista ou regionalista, mas pensar os fatores determinantes, condicionantes e coadjuvantes que constroem as problemáticas concretas. Gostaria de ressaltar outro grande mérito deste livro: o de ter um importante capítulo de fechamento (ou abertura?) de questões, demonstrando que o livro não é um amontoado de capítulos, como arriscam ser as coletâneas. 18 Certamente, este livro terá boa acolhida entre todos aqueles que desejarem pensar criticamente e sem dissimulações a estrutura e a dinâmica da socioeconomia catarinense. Não tenho dúvida de que o resultado de todo esse esforço coletivo contribuirá muito para o debate regional e urbano brasileiro, e, sobretudo, de que se torna, já ao nascer, um clássico para se refletir sobre os dilemas, as potencialidades e os desafios postos para a sociedade catarinense. Carlos Brandão Professor Titular do Instituto de Economia da Unicamp e bolsista do CNPq 19 Parte I Formação histórica e regionalização produtiva Formação econômica de Santa Catarina: uma tentativa de síntese Alcides Goularti Filho Introdução Tendo como eixo o processo de acumulação capitalista e a construção das relações sociais de produção, o propósito deste texto é entender a formação econômica de Santa Catarina desde 1880, perpassando pelas vertentes sociológicas, geográficas e antropológicas. Dentro do movimento de mudança secular e lenta, buscou-se compreender a forma pela qual Santa Catarina deixou de ser uma economia de subsistência para se inserir no capitalismo brasileiro: um capitalismo específico, tardio e desorganizado. Dentro desta formação econômica, procurou-se entender a integração de Santa Catarina no sistema nacional de economia, a complementaridade da economia catarinense ao mercado nacional, a especialização regional, a diversificação econômica e a integração produtiva. O texto está dividido em quatro itens. No primeiro item serão discutidos a origem e o crescimento do capital industrial em Santa Catarina durante o período de 1880 a 1945, quando o padrão de crescimento era dado pelo capital mercantil e pela pequena proprie- dade. Naquele período, nasceu e se expandiu a indústria têxtil em Blumenau e Brusque, a extração da erva-mate no planalto norte, a extração do carvão no sul, o corte da madeira e a produção alimentar no vale do Itajaí. O período também se destacou pela chegada dos imigrantes, com a fundação de vários núcleos coloniais, pela expansão da fronteira agrícola no oeste, pela construção de ferrovias e pela atuação das companhias colonizadoras. Em seguida, será estudado o período de 1945 a 1962, quando houve uma diversificação e ampliação da base produtiva catarinense. Por um lado, os setores carbonífero, têxtil, madeireiro e alimentar se expandiram ainda mais, integrando-se à economia nacional. Por outro lado, surgiram novas indústrias, como a metal-mecânica em Joinville, a cerâmica no sul e a de papel e celulose no planalto. Com a rápida expansão da indústria catarinense, que estava fortemente se integrando à industrialização pesada brasileira, houve um estrangulamento na infraestrutura básica, com deficiência na malha rodoviária, na oferta de energia e na disponibilidade de linhas de créditos a longo prazo. No terceiro item, serão abordadas a integração e a consolidação do capital industrial, que vão de 1962 a 1990. Naquela fase, o padrão de crescimento da economia catarinense passou a ser comandado pelo grande capital industrial e agroindustrial e pelos investimentos estatais em infraestrutura. A economia catarinense se integrou ao mercado internacional, e o planejamento estadual se tornou uma marca dos sucessivos governos. Os diversos complexos industriais e agroindustriais foram formados e consolidados. No quarto item, serão discutidas a desarticulação política e a reestruturação econômica iniciada pós-1990. A partir desse 30 momento, o Estado começou a se retirar de cena, dando vez à lógica exclusiva do mercado, despolitizando as relações econômicas. Vários segmentos industriais catarinenses foram prejudicados com a abertura econômica e com o processo de desnacionalização. A conclusão, além de ter um caráter reflexivo, também disserta sobre a possível totalidade das economias da região Sul do Brasil e acerca das especificidades de Santa Catarina. Origem e crescimento do capital industrial (1880 a 1945) Mesmo não havendo uma integração comercial e produtiva intrarregional em Santa Catarina até o início da década de 1960, podemos tomar o território catarinense como um todo a partir de 1880 e iremos constatar que havia características que o unificavam. Como o objetivo neste texto-resumo é estudar Santa Catarina na sua totalidade, o marco inicial de nosso estudo começa em 1880. A vinda de novos imigrantes para as lavouras de café e para o Brasil meridional se tornou uma política econômica deliberada pelo governo imperial somente a partir do último quartel do século XIX. Com a chegada de novos e de mais imigrantes em Santa Catarina, a ocupação e a fundação de novos núcleos coloniais começaram a se dispersar, saindo do eixo norte-Vale do Itajaí e chegando até o sul da província. Antes da chegada dos imigrantes ao sul da província, já havia as localidades de Laguna, fundada em 1682; Tubarão, fundada em 1836; Araranguá, em 1848; Jaguaruna, em 1867; e outras pequenas localidades. Araranguá, Jaguaruna e outras localidades do 31 litoral foram colonizadas basicamente por açorianos, que praticavam as atividades de pesca, artesanato, e agricultura de subsistência. No sul da província, a ocupação pelos imigrantes, primeiro os italianos, seguidos dos poloneses e alemães, iniciou-se em 1877. Eles desembarcavam em Desterro e desciam até Laguna e Tubarão, estabelecendo-se próximo aos rios, onde fundaram os primeiros núcleos coloniais. Mesmo com a presença de alguns municípios e vilas, ao longo do litoral sul, e de núcleos coloniais mais no interior, a região passou a ter destaque econômico somente com o início das atividades carboníferas e com o início da construção da ferrovia pós-1880 (Dall’Alba, 1983). O oeste e o meio-oeste da província foram definitivamente demarcados após o conflito diplomático entre Brasil e Argentina, conhecido como a Questão de Palmas, encerrado em 1895. Em 1850, o governo imperial já havia determinado a criação de uma colônia militar na região de Palmas. No entanto, somente com o agravamento do conflito diplomático é que foi apressada a ocupação na região, e fundada, em 1882, a Colônia Militar de Chapecó (Heinsfeld, 1996). Um ano após a assinatura do Tratado, começaram as negociações entre o governo e os agentes privados para a conclusão da construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que cortava todo o meio-oeste no sentido norte-sul (Thomé, 1983). Com a inauguração do trecho ferroviário, em 1910, e com a colonização da região por imigrantes ítalo e teuto-brasileiros, provenientes do Rio Grande do Sul, pós-1916, a região efetivamente passou a ter um destaque econômico mais expressivo, devido à exploração da madeira e da erva-mate e de pequenas atividades agropecuárias (Radin, 1997). Na realidade, a região se integrou definitivamente 32 ao território catarinense somente depois de assinado o Acordo de Limites com o Paraná, em 1916. Mesmo assim, tomaremos como data inicial o ano de 1880, para termos uma unidade espacial de análise em Santa Catarina. Quando foi fundada a Colônia Militar e demarcado o território para a construção da ferrovia, já havia claras intenções do governo catarinense em anexar a região oeste, tanto que, na questão dos limites, foi dado ganho de causa para Santa Catarina. Com base nestes fatos: imigração e atividades carboníferas no sul, fundação da Colônia Militar de Chapecó, exploração da madeira e aumento do fluxo de imigrantes para o norte e Vale do Itajaí, podemos tomar como ponto de partida o ano de 1880 para traçarmos uma nova periodização da formação econômica de Santa Catarina, que terá como base a mudança no padrão de crescimento. Como o objetivo é estudar o estado como um todo e entendê-lo dentro de uma unidade de análise, a partir de 1880, já podemos identificar elementos unificadores da sua formação econômica. Quando afirmamos que, no período entre 1880 e 1945, predominou o padrão de crescimento baseado na pequena propriedade mercantil e nas atividades tradicionais, não estamos excluindo o planalto serrano. Sabe-se que a grande propriedade pecuária e extrativista mercantil constituiu a base econômica do planalto serrano por um longo período (Costa, 1982). O padrão hegemônico em Santa Catarina era o da pequena propriedade, ele ditava o ritmo de grande parte da economia catarinense. Porém, em ambos os regimes de propriedades (grande e pequena), predominava o capital mercantil. continua... 33 Título Organizadores Coleção Assistente editorial Assistente administrativo Secretaria Divulgação, distribuição e vendas A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no início do século XXI Lauro Mattei Hoyêdo Nunes Lins Grandes Temas Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Alexandra Fatima Lopes de Souza Neli Ferrari Jocimar Vazocha Wescinski Luana Paula Biazus Projeto gráfico e capa da coleção Alexsandro Stumpf Diagramação Alexsandro Stumpf Caroline Kirschner Sara Raquel Heffel Preparação dos originais Revisão Formato Tipologia Papel Número de páginas Tiragem Publicação Impressão e acabamento Carlos Pace Dori Carlos Pace Dori Araceli Pimentel Godinho Cristiane Santana dos Santos Lúcia Lovato Leiria 16 X 23 cm Minion Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Supremo 250 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2 420 1000 outubro de 2010 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS) Argos – Editora Universitária – UNOCHAPECÓ Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 Telefone: (49) 3321 8218 – E-mail: [email protected] – Site: www.unochapeco.edu.br/argos Sobre os autores Alcides Goularti Filho: Graduado em Economia pela Universidade do Sul de Santa Catarina, com Mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. É professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: alcides@ unesc.net Aline Venturi: Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina e com Especialização em Administração Pública pela FGV-RJ. É servidora pública da Prefeitura Municipal de Joinville. E-mail: [email protected] Arlei Luiz Fachinello: Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutorado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo. É professor da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected] Beatriz Tamaso Mioto: Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda em Economia no Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: [email protected] Fernando Seabra: Graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Mestrado em Economia Rural pela mesma universidade, Doutorado em Economia pela University of Essex e Pós-Doutorado pela McGill University. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Hoyêdo Nunes Lins: Graduado em Ciências Econômicas e em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento Regional pela University College of Swansea e Doutorado em Geografia – Organização do Espaço pela Université de Tours. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Ivo Marcos Theis: Graduado em Ciências Econômicas pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, com Mestrado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutorado em Geografia pela Universität Tübingen. É professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau. E-mail: [email protected] Jonas Irineu dos Santos Filho: Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, com Mestrado em Economia 418 Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa e Doutorado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo. É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Lauro Mattei: Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Especialização em Políticas Públicas pela University of Texas, Doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas e Pós-Doutorado pela University of Oxford. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Luiz Augusto Finger França Maluf: Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Economia pela mesma universidade. Professor da Universidade Nove de Julho. E-mail: [email protected] Mohamed Amal: Graduado em Ciências Econômicas pela Université Hassan II, de Casablanca, com Especialização em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, Mestrado em Economia e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. É professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau. E-mail: [email protected] Ricardo Lopes Fernandes: Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba, com Mestrado em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando no Instituto de Geociências da Unicamp. E-mail: [email protected] 419 Silvio Antonio Ferraz Cario: Graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestrado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 420 Este livro está à venda: www.unochapeco.edu.br/argos www.travessa.com.br www.livrariacultura.com.br