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E D I TORIAL EDITO R I A L
A expansão capitalista global, sobretudo nas últimas duas décadas, vem se
configurando como um condicionante ideológico e como um campo de práticas com os quais a educação e a saúde se vêem compelidas a dialogar. Este
n ú me ro da revista Tr a b a l h o, Educação e Saúde busca trazer esta questão
para o cenário da formação em saúde, mapeando as direções que o processo
vem assumindo em experiências societárias mais recentes.
Na seção Artigos, dois textos ab o rdam a questão. Maria Angélica Alberto — “A noção de empre gabilidade nas políticas de qualificação e educação
profissional no Brasil nos anos 1990” — explora os sentidos que a noção assumiu, no período refe r i d o,nos documentos produzidos pelo Ministério da
E d u c a ç ã o, Ministério do Trabalho e Emprego, e Ministério da Saúde. O cont exto de análise da autora é a reestruturação pro d u t i va e as conseqüentes
elevações das taxas de desemprego estrutural de caráter global, assim como
seus dife rentes impactos na divisão internacional (e nacional) do trab a l h o.
Gustavo Matta, no texto “A Organização Mundial de Saúde: do controle de
epidemias à luta pela hegemonia”, discute, a partir de diversificada pesquisa
bibliográfica e documental, as transformações na organização e atuação desta
agência, no sentido de se legitimar como formuladora de políticas públicas
de caráter global, de hegemonizar o mercado de saúde internacional, e de se
inserir na arena de negociação política, econômica e cultural denominada
Global Health. Na seção Debate, o tema é discutido a partir de dois tex t o s.
“A Mundialização da educação: neoliberalismo e social-democracia no Brasil
e na Venezuela”, de Adriana de Melo, trata dos conflitos, na década de 1990,
entre a resistência dos mov i mentos da sociedade civil organizada e a direção
adotada pelas políticas educacionais implementadas nos dois países citados
no título, a partir das orientações propugnadas pelo Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial para a América Latina e Caribe. Embora a autora
aponte avanços na democratização da educação no período em tela, indica
também as conseqüências nega t i vas do pro c e s s o, entre elas, a permanência
do dualismo estrutural escolar. Giovanni Alves, no texto “Trabalho, corpo e
subjetividade: toyotismo e formas de precariedade no capitalismo global”,
trata da experiência hodierna do corpo na esfera do toyotismo — que o autor define como a atual ideologia orgânica da produção capitalista. O toyotismo promove, segundo o autor, uma “compressão psicocorporal”, similar à
compressão espaço-tempo constatada por David Harvey; a compressão psicocorporal caracterizaria, assim, um novo modo de articulação corpo-mente
no âmbito do regime de acumulação flexível global.
A formação profissional em saúde, temática re c o r rente e central da re v i sta, é enfocada neste núme ro da Tr a b a l h o, Educação e Saúde em três artigos.
Em relação à formação profissional de nível superior, o texto “Desenvo l v imento docente na área da saúde: uma análise”, de Nildo Batista, critica a
p recedência de uma “formação profissional específica” sobre a “fo r m a ç ã o
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para a docência”, apontando que a primeira não pode ser considerada uma
condição suficiente para a segunda. Ainda em relação à formação pro f i s s i onal em saúde de nível sup e r i o r, o artigo “A formação do enfe r me i ro: uma
ap roximação à recente produção científica”, de Otília Seiffert, analisa a produção mencionada, a partir de três núcleos temáticos — a saber, “fundamentos pedagógicos”, “ensino de enfe r m agem” e “currículo” — presentes
em textos de dife rentes gêneros veiculados em periódicos brasileiro s. No
interior desses núcleos temáticos, a autora tece considerações sobre as questões recorrentes — como interdisciplinaridade, educação reflexiva, integr ação entre ensino e prática — e sua relação com recentes políticas públicas
na saúde e educação (como as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos
de Graduação em Enfe r m agem, de 2001). Em relação à formação profissional de nível médio, Ana Lúcia Abrahão da Silva, no artigo “Educação profissional e gestão em saúde: pressupostos teórico-conceituais na fo r m a ç ã o
de profissionais de nível médio”, discute a matriz curricular do Curso de
Educação Profissional de Gestão em Serviços de Saúde, oferecido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Ve n â n c i o, da Fundação Oswaldo Cruz. Dialogando tanto com a atual estrutura da administração dos serviços de saúde
quanto com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a autora discute a construção da autonomia pelos educandos, autonomia que figura como um horizonte para a descentralização, a regionalização e, sobre t u d o,a democratização dos serviços de saúde.
Por fim, no campo dos pressupostos teórico-filosóficos da formação profissional, José Rodrigues retoma o horizonte do debate político e pedag ógico da politecnia, no ensaio “Ainda a educação politécnica: o novo decreto
da educação profissional e a permanência da dualidade estrutural”. O autor
indica a atualidade da concepção de educação politécnica para o contraponto ao fe n ô meno da dualidade estrutural escolar, cuja manifestação mais recente se encontra, segundo o autor, no decreto de educação profissional em
vigor (nº 5.154/2004).
Este número publica ainda a entrevista concedida pelo professor Emir
Sader e três resenhas: de José Sanfelice, sobre a obra H i s t ó rias e memórias da
educação no Brasil, volume III, séc. XX, organizada por Maria Stephanou e
Maria Helena Bastos; de José Airton Monteiro e Solange Monteiro, sobre o liv ro Tr a b a l h o, educação e luta de cl a s s e s, organizado por Susana Vasconcelos
J i menez e Jackline Rabelo; e de Valdemar da Silva e Giovane Ramos, sobre
o livro De ferro e flexíveis: marcas do Estado empresário e da privatização na
subjetividade operária, de autoria de Maria Cecília de Souza Minayo.
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The fields of education and health have been compelled to dialogue with the
underlying ideology and the practices of the global capitalist expansion, especially over the past two decades. This issue of Trabalho, Educação e Saúde
seeks to bring this discussion to the field of health training and produce an
outline of the path the process has assumed within recent social experiences.
The Articles section presents two texts that touch upon the matter. The
article entitled “The notion of employability in the policies for professional
training and professional education in Brazil in the 90’s”, by Maria Angélica
Alberto, ex p l o res the different meanings of the term in documents produced
by the Ministry of Education, the Ministry of Labor and Employ ment and the
Ministry of Health. The author analyzes the restructuring of production and
the subsequent increase in global structural unemployment rates as well as its
consequences in the international (and national) division of labor. The tex t
entitled “The World Health Organization: from controlling epidemics to struggling for hegemony”, by Gustavo Matta, is based on an extensive bibliographical research and discusses the transformations in the organization and
actions of the WHO, in order to legitimize the age n cy in the formulation of
global public policies for health, to be hegemonic in the international health
market and to make itself present at the context of the so-called Global Health
arena of political, economic and cultural negotiation. In the Debate section,
the subject is discussed in two texts. The text entitled The Globalization of
Education: Neoliberalism and Social Democracy in Brazil and Venezuela, by
Adriana de Melo, deals with conflicts, in the 1990’s, between the resistance of
organized civil society move ments and the path fo l l owed by educational
policies implemented in both countries based on the guidelines advo c a t e d
by the International Monetary Fund and the World Bank for Latin Ame r ica and the Caribbean. Even though the author indicates improve ments in
the democratization of education at the time, she also points to the negative
consequences of the process, which includes the perpetuation of the school
structural dualism. Giovanni Alves, in the article entitled “Labor, body and
subjectivity: toytism and forms of precarization in global capitalism”, discusses the contemporary experience of the body concerning toyotism, defined
by the author as the present organic ideology of the capitalist production
system. Toytism causes a “mind-body compression” to take place, a process
similar to the space-time compression observed by David Harvey. The mindbody compression would characterize, thus, a new way for the mind and
the body to relate in the context of global flexible accumulation.
Professional training in health is a common and central theme in the journal and is also the subject of three articles in this issue of Trabalho, Educação
e Saúde. Concerning higher education professional training, the article “The
development of health professors: an analysis”, by Nildo Batista, criticizes the
precedence of “specific professional training” over “training for teaching”, as-
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serting that specific training is not enough for an individual to be able to
teach. Still on higher education pro fessional training in health, the article
“Training in nursing: a closer look at the recent scientific production (20012005)”, by Otilia Seiffert, analyses three major themes regarding the abovementioned scientific production published in Brazilian journals: “pedagogical
rationale”, “education in nursing” and the “nursing schools’ programs (curriculum)”. Within the theme s, the author reflects upon a few matters (such
as interdisciplinary actions, reflexive education and the integration between
education and practice) and their relation to re c e n t ly promu l gated public
policies concerning health and education (such as the National Curriculum
Guidelines for Undergraduate Nursing Courses, of 2001). As to professional
education in vocational secondary school programs, Ana Lúcia Abrahão da
S i l va, in her article entitled “Pro fessional education and administration in
health: theoretical and conceptual premises in training secondary school
professionals”, discusses the curriculum framewo rk of the Professional Education Course in Health Services, offe red by the Joaquim Venâncio Polytechnic Health School of the Oswaldo Cruz Foundation. In a dialogue with
both the current structure of management of health services and the text of
the Lei de Diretrizes e Bases da Educação [Guidelines and Bases of Education
Act], the author discusses the process through which students construct
autonomy, which serves as a horizon for the decentralization, regionalization and, above all, democratization of health services.
In conclusion, as to the theoretical and philosophical premises of professional training, José Rodrigues reopens the political and pedagogical debate
on polytechnic education in his article entitled “Still polytechnic education:
the new decree on pro fessional education and the permanence of the structural dualism”. The author states that polytechnic education is still a contemporary notion opposite to the phenomenon of school structural dualism,
an idea which most recently emerged, according to the author, in the decree
on professional education presently in force (number 5.154/2004).
This issue also presents an interview with professor Emir Sader and three
book overviews: the first written by José Sanfelice onH i s t ó ria e memórias da
educação no Brasil [History and memory of education in Brazil] volume III, sec.
XX, edited by Maria Stephanou and Maria Helena Bastos; the second by José
Airton Monteiro and Solange Monteiro on Trabalho, educação e luta de classes
[Labor, education and class struggle], edited by Suzana Vasconcelos Jimenez and
Jackline Rabelo; and the third by Valdemar da Silva and Giovane Ramos on De
ferro e flexíveis: marcas do Estado empresário e da privatização na subjetividade
operária [Made of iron and yet flexible: stains of the corporate State and privatization on the working class subjectivity], by Maria Cecília de Souza Minayo.
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