SUSTENTABILIDADE E DESIGN COMO AGENTES CRIATIVOS NO PONTO DE VENDA SUSTAINABILITY AND DESIGN AS CREATIVE AGENTS AT POINT OF SALE Camilla Pereira Bitencourt1 RESUMO: Aumenta cada vez mais a porcentagem da população mundial que se preocupa com as questões relacionadas ao meio ambiente. O designer além de gerar soluções é um dos diversos profissionais que deve estar atento aos futuros problemas que podem surgir daqui a alguns anos, como a escassez de matérias-primas. É possível observar o quanto as grandes empresas estão engajadas na busca de soluções para a questão ambiental e cabe ao designer fazer alianças para tornar realidade o que se vê no papel. O presente artigo tem como objetivo levantar e compilar soluções que associem sustentabilidade e design aplicados em ponto de venda, apontando alguns exemplos criativos para despertar a conscientização na sociedade. Serão estudados temas que tangem especificamente este assunto, tais como: materiais renováveis, impactos ambientais e aplicação de sustentabilidade nestes meios, utilizando o design gráfico como agente criativo para trazer novidades ao mercado e fazer disso uma oportunidade para a inovação em pontos de venda. PALAVRAS-CHAVE: Design. Sustentabilidade. Ponto de venda. ABSTRACT: Steadily increasing percentage of world population that cares about issues related to the environment. The designer only generate solutions is one of several professionals should be alert to future problems that may arise in a few years as the shortage of raw materials. You can see how large companies are engaged in seeking solutions to environmental issues and it is for the designer to make alliances to realize what you see on paper. This article aims to raise and build solutions that combine sustainability and design applied to point of sale, showing some creative examples to raise awareness in society. We will study subjects that touch upon this particular subject, such as renewable materials, environmental impacts and implementation of sustainability in the media, using graphic design as a creative agency to bring innovations to market and make it an opportunity for innovation in retail outlets. KEY WORDS: Design. Sustainability. Point of sale. INTRODUÇÃO Tem crescido a parte da população mundial que se preocupa com vários assuntos relacionados ao meio ambiente. Após a Segunda Guerra Mundial surgiu um movimento ambientalista que uniu esforços do mundo todo a fim de proteger a natureza. Assim, o que antes era discutido somente por cientistas e pesquisadores, passou a ser preocupação de todos. Esse movimento que reuniu pessoas do mundo todo em prol de uma causa, surgiu para que todos esquecessem o sofrimento da Segunda Guerra Mundial e também para alavancar o sistema das Nações Unidas. ________________________________________________________________________ 1 Acadêmica do Curso de Design Gráfico da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. E-mail: [email protected] Todo o trabalho feito em torno da conscientização ambiental aparenta ser muito recente, pois o que é feito ainda é muito pouco e segundo Sachs (2002) o movimento surgido naquela época está atribuído ao choque causado pela bomba atômica lançada em Hiroshima. Hoje em dia é comum perceber que a sociedade está cada vez mais preocupada com os problemas ambientais, já que se vem a décadas sofrendo com os impactos causados pela ação do homem na natureza. As agressões são causadas por atos mínimos, os quais passam despercebidos aos olhos de quem os pratica. Os exemplos são os mais variados, indo de um banho demorado até as bruscas emissões de carbono lançadas na atmosfera por indústrias de grande porte. Tais agressões podem trazer vários riscos, não só ao meio ambiente, mas também à sociedade em geral, já que os recursos para a obtenção de matéria-prima podem se acabar facilmente se a mesma não mudar de atitude perante esta problemática. A recomendação feita por diversos estudiosos é que a sociedade conscientize-se do efeito de suas ações. Por isso, a separação e a reciclagem do lixo, a utilização de lâmpadas fluorescentes, o uso de transportes coletivos, a inserção de materiais biodegradáveis, de novas fontes de energias renováveis e muitas outras mudanças de comportamento são fundamentais para a preservação do planeta Terra. Este artigo tem como objetivo levantar e compilar soluções que associem sustentabilidade e design aplicados em ponto de venda. Serão estudados temas que tangem especificamente este assunto, tais como: materiais renováveis, impactos ambientais e aplicação de sustentabilidade nestes meios. Também será abordado o papel do designer na sua própria conscientização e na conscientização de seus clientes, pois é recomendável que a preservação ambiental seja uma das preocupações desse profissional. O mesmo tratará das ações sustentáveis que podem ser executadas em pontos de venda para que o desenvolvimento econômico, social e ambiental seja preservado e tenha sucesso quando aliado ao design. ASPECTOS METODOLÓGICOS O presente artigo possui caráter descritivo e exploratório. Descritivo porque seu objetivo é fazer um levantamento e uma compilação de soluções que associem sustentabilidade e design aplicados em ponto de venda, estudando temas que tangem especificamente este assunto, tais como: materiais renováveis, impactos ambientais e aplicação de sustentabilidade e design em pontos de venda. Este artigo também aborda o papel do designer como agente criativo e formador de opinião, pois ele trabalha diretamente com os consumidores e sabe quais estratégias utilizar para a conscientização de seus clientes, já que a preservação ambiental deve ser uma das preocupações desse profissional. Este trabalho é também de caráter exploratório porque este tipo de pesquisa é adequada para as etapas iniciais de um trabalho, onde se faz uma investigação do assunto a fim de familiarizar-se com o contexto geral. Este artigo foi desenvolvido com base em pesquisas bibliográficas, pois as informações aqui relatadas são de caráter científico e possuem veridicidade. O embasamento teórico foi coletado de diversos livros, anuários, artigos e outras publicações de estudiosos da área abordada. Para a elaboração do artigo utilizou-se também materiais disponíveis na web. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O mundo e a sociedade estão em constante mudança e o Brasil não fica fora disto. Vive-se em um mundo onde as crises econômicas agravam-se, onde a sociedade não se respeita e tribos distintas enfrentam-se como bichos na disputa de um território. A natureza é agredida de forma trágica e se revolta, as políticas se desapropriam das dificuldades, enfim, o mundo beira o caos e os problemas estão aí. O foco deste trabalho é discutir as relações entre sustentabilidade e design aplicados em ponto de venda, logo surge uma questão: como o designer gráfico pode ajudar na solução de tais problemas? Com certeza não há solução para todos os problemas ambientais existentes, mas é possível amenizar e prevenir o agravamento da situação se todos lutassem por um mundo melhor, utilizando a sustentabilidade como ferramenta. O que é chamado de desenvolvimento sustentável é definido pela ONU como um conjunto de ações que se dedicam a atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. (CMMAD, 1991). Pode-se aplicar esta prática a pontos de venda, área onde o design está presente nas formas dos objetos, nos materiais utilizados, na organização dos ambientes, na comunicação visual, nas marcas, nos logotipos, e em uma infinidade de outros materiais. Os benefícios de uma administração com consciência ecológica, sustentável e econômica atuam e refletem diretamente na sobrevivência humana e na conscientização da sociedade, além de abrir novos segmentos e novas oportunidades de mercado, reduzindo custos e aumentando a lucratividade. É comum encontrar empresas que realmente preocupam-se com uma administração focada na sustentabilidade. Por exemplo, a Wal-Mart Brasil, que se posiciona muito bem junto ao consumidor e estabelece um compromisso ético e responsável assumido por uma administração consciente. O grupo, desde 2005, adotou a sustentabilidade como parte integrante do negócio. Uma das estratégias da Wal-Mart Brasil, para posicionar-se junto do consumidor como uma marca consciente, é o desenvolvimento de um programa chamado “Diálogos para a Sustentabilidade Wal-Mart Brasil”, uma publicação de relatórios setoriais de algumas das iniciativas já praticadas pelo grupo. Ações deste tipo fazem com que a marca ganhe reconhecimento no mercado. A Agenda 21 é um dos mais importantes documentos elaborados na Rio 92 – conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992. (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO, 2002). A Agenda 21 expõe e discute diversos problemas da atualidade visando preparar o mundo para os desafios que chegarão daqui a alguns anos. O documento também constitui um plano de ação, o qual traça algumas práticas que podem ser aplicadas no dia-a-dia para desacelerar a degradação ambiental e o desenvolvimento humano. APLICAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE ALIADA AO DESIGN EM PONTOS DE VENDA As práticas expostas pela Agenda 21 incluem programas para diversos problemas, tais como atmosfera, agricultura sustentável, biotecnologia, mudanças climáticas, resíduos sólidos, etc. Segundo Lucio (2004), “para se pensar corretamente em sustentabilidade, deve-se ter como ponto de partida a capacidade de absorção e renovação dos ecossistemas diante dos efeitos gerados pela atividade econômica”. Analisando alguns capítulos do livro “Venda orientada por marketing”, Bispo (2008), pode-se concluir que ponto de venda é definido como todo ponto onde há um produto e, por consequência, uma transação comercial que objetiva ter vantagem de alguma forma. Em pontos de venda é comum a utilização de materiais de exposição e de comunicação visual. O designer gráfico pode atuar em todos os segmentos de mercado, já que suas atribuições são consideradas fundamentais para a sobrevivência de todos os negócios. O design gráfico se refere ao projeto visual e funcional que dá suporte a um produto ou serviço, o tornando desejado, agregando valores, o adaptando às necessidades do usuário, ajustando suas formas estéticas, ergonômicas e conceituais. O mercado exige profissionais qualificados para o desenvolvimento de bons projetos que articulem a marca com o consumidor e existem demandas para a criação tanto de novas mídias como de novos materiais. Design em geral é definido como o ato de projetar soluções para algum problema, sendo segmentado em design industrial ou de produto, design de moda e design gráfico. (STRUNCK, 2001). Não se sabe ao certo quando a profissão surgiu, mas se voltar-se no tempo observa-se que desde os tempos mais remotos o homem sente a necessidade de se comunicar e de se expressar. O design estava presente na Escola Bauhaus, a qual ensinava as artes aplicando-as em vários segmentos: na arquitetura, no desenho industrial e no desenho gráfico. Em 1980, a profissão começou a tomar forma, já que muitos profissionais apareciam com suas propostas liberais. O que antes, na Bauhaus era um modelo de racionalização, tornou-se uma desorganização da forma. Tais profissionais libertaram-se dos moldes impostos pela a Bauhaus e começaram a inovar nos projetos gráficos: os textos apareciam mais trabalhados, novos tipos surgiam, as imagens eram sobrepostas e muitas outras formas criativas nasciam. Assim, o design gráfico é definido como um processo técnico e projetual, onde são utilizadas várias aptidões, que dizem respeito à imaginação, lógica ou não. Sendo assim, a profissão é responsável por formar opiniões e conceitos para então solucionar problemas de forma criativa. O designer gráfico hoje conta com diversos campos de atuação: identidade corporativa, publicações institucionais, projetos editoriais, projetos de embalagem, materiais promocionais, mídia eletrônica e design ambiental. O valor da marca também é de responsabilidade deste profissional, pois é ele que define quais materiais utilizar, qual a melhor estratégia para conquistar o público-alvo, etc. Tarefas estas que podem estar aliadas ao desenvolvimento sustentável, já que o designer possui potencial criativo para desenvolver inúmeras alternativas gráficas com ecoconsciência. A reciclagem pode ser uma solução, já que a produção de novos materiais a partir dela polui menos se comparada aos processos industriais que utilizam matéria-prima virgem. Segundo Caldeironi (2003) a reciclagem do papel polui o ar 74% a menos do que se fosse produzir mais papéis com matéria-prima virgem, o mesmo acontece com a renovação de outros materiais (alumínio, vidro, etc.). A reciclagem do papel pode fazer parte de diversos projetos, sendo aplicada em cartazes, cartões de visitas, folders, flyers, panfletos, catálogos, revistas, livros, embalagens e entre outros materiais que são indispensáveis para a vida contemporânea, pois quando bem elaborados trazem informações relevantes para a escolha do produto. A reciclagem feita no Brasil ainda é muito pouca, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, cerca de um terço do lixo doméstico é composto por embalagens que tiveram vida útil apenas uma vez, já as descartadas pela indústria e comércio estima-se que pelo menos 25 mil toneladas de embalagens são jogadas no lixo sem passar por reciclagem. Com o advento da produção industrial em larga escala, a embalagem passou por uma grande revolução, expandiu-se no mercado assim como as tecnologias para sua produção. Um dos grandes estímulos lançado pelas novas tecnologias após a Segunda Guerra Mundial foi a utilização de materiais diferenciados para a fabricação de embalagens, tais como o alumínio e o plástico que possuem resistência e são de baixo custo. Contudo, para suprir as necessidades do mercado, esses avanços vieram à somar com os conhecimentos técnicos dos profissionais da área de embalagem, que puderam aliar criatividade e tecnologia para superar as expectativas do público-alvo. A globalização fez com que a sociedade mudasse seu padrão vida e o resultado disso é visto no impacto causado no meio ambiente. Isso faz com que as exigências não sejam mais só estéticas e funcionais, mas também preservativas, já que para se reservar o futuro deve-se adotar medidas e estratégias sustentáveis desde já. Existem diversos exemplos de como o design gráfico pode ser aplicado de forma sustentável, um deles é o projeto “Contém Design”, idealizado pela Assintecal, Apex-Brasil e Associação Objeto Brasil, o qual estimula o desenvolvimento de embalagens sustentáveis para calçados. O principal objetivo do projeto é transformar caixas de sapato em um produto diferenciado que ofereça aos consumidores alternativas de armazenamento e de uso da embalagem. O desenvolvimento do projeto contou com o apoio da Arte Embalagens, Box Print, Brisa e Colorgraf, todas fabricantes de embalagens. A criação das embalagens ficou por conta de designers que projetaram produtos exclusivos correspondentes à situação do mercado calçadista, mas também trouxeram inovações para a área não só no produto-final, mas também em toda a cadeia produtiva. O resultado das embalagens criadas foi apresentado no Salão de Design e Inovação de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos – INSPIRAMAIS, que aconteceu em fevereiro de 2010. Figura 1 – Embalagem Kraft Bombom A Figura 1 apresenta a embalagem Kraft Bombom, que utiliza papel kraft. O modelo é econômico, reciclado e reciclável. Outra embalagem desenvolvida para o projeto Contém Design é a EcoBag Walter Rodrigues, apresentada na Figura 2. A embalagem, produzida de algodão cru, papel kraft, cola e tinta à base de água, traz conceitos de funcionalidade, sofisticação e valor agregado. A bolsa ainda pode ser utilizada como expositor, display e embalagem. Figura 2 – EcoBag Walter Rodrigues. Outro bom exemplo da aplicação do design gráfico em ponto de venda são as embalagens das barras de cereal da eBar, produzidas em papel reciclado e filme biodegradável, apresentadas na Figura 3 e Figura 4. Figura 3 – eBar. Figura 4 – eBar. São inúmeros os exemplos da utilização de materiais renováveis, não podendo deixar de citar o caso do “A Perfume Organic”, perfume produzido com componentes orgânicos e que inovou em sua embalagem (Figura 5), a qual é reciclável e feita de papel de sementes de flores que pode ser plantado após a utilização. No Brasil a Papel Semente é umas das fabricantes desse tipo de papel, onde a produção artesanal e ecológica possibilita a inserção de sementes de flores e ervas durante sua fabricação. O papel pode ser utilizado em qualquer produto gráfico que depois de utilizado pode ser plantado e gerar vida ao invés de lixo. Figura 5 – Embalagem “A Perfume Organic”. CONSIDERAÇÕES FINAIS O design gráfico atua no mercado de forma a intervir e solucionar diversos problemas e pode utilizar essa capacidade para contribuir com a preservação ambiental. Apesar dos bons exemplos encontrados no mercado, verifica-se que materiais alternativos sustentáveis são pouco utilizados se comparados com o uso dos convencionais. Encontram-se no mercado diversos tipos de matérias-primas que muitas vezes não são utilizadas de forma correspondente à situação ambiental. Nota-se que há um grande incentivo por parte das empresas em desenvolver materiais com responsabilidade social e cabe aos profissionais criativos fazer uso dessa implementação em seus projetos. Enfim o design gráfico pode atuar diretamente como agente criativo em pontos de venda, utilizando a sustentabilidade como diferencial. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAWA,T.; CARVALHO, A. B. Gestão Ambiental: enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo: Mackron Books, 2000. ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS GRÁFICOS DO BRASIL. O Valor do design: guia ADG Brasil de prática profissional do designer gráfico. São Paulo: ADG, 2002. BISPO, Anselmo Lino. Venda orientada por marketing. Brasília: SENAC-DF, 2008. BRAGA, Eduardo Cardoso. Desenvolvimento sustentável: paradoxos e contradições. Em busca de um design ecocêntrico. Anais do 2° Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (II SBDS). São Paulo, 2009. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1991. DIÁLOGOS PARA A SUSTENTABILIDADE WAL-MART BRASIL. São Paulo, 2009. LUCIO, C. C., et. al. A importância dos catadores de materiais recicláveis para o desenvolvimento sustentável: Uma alternativa de aplicação da ergonomia e do design industrial. Revista Assentamentos Humanos, Marília, v.6, nº1, p. 35 - 43, 2004. PAULA, V. B.; PASCHOARELLI, L. C. Design, Produção e Sustentabilidade: uma reflexão. 7o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Paraná, 2006. SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. STRUNCK, Gilberto. Viver de design. Rio de Janeiro: 2AB, 2001.