UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
SUZE DE QUEIROZ TAVARES
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR SOBRE A PRÁXIS NAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE SALVADOR
Salvador
2008
SUZE DE QUEIROZ TAVARES
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR SOBRE A PRÁXIS NAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE SALVADOR
Monografia apresentada ao Curso de graduação em
Pedagogia, Universidade do Estado da Bahia, como
requisito parcial para obtenção do grau de Pedagogia Anos
Iniciais, sob orientação do Prof. Dr. Gilmario Moreira Brito.
Salvador
2008
SUZE DE QUEIROZ TAVARES
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR SOBRE A PRÁXIS NAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE SALVADOR
Monografia submetida a aprovação do Curso de
graduação em Pedagogia, Universidade do Estado
da Bahia, como requisito parcial para obtenção do
grau de Pedagogia Anos Iniciais, sob orientação do
Prof. Dr. Gilmario Moreira Brito.
Salvador, _____ de ________________ de 200___.
____________________________________
____________________________________
____________________________________
Dedico este trabalho a minha mãe Valdete Tavares, que apesar de não estar mais
entre nós, ainda me influencia em cada escolha. Sem suas referências enquanto
mulher e mãe dedicada eu jamais seria quem sou. Ao meu filho Edison, que
pacientemente, entendeu o momento e me apoiou com seu desprendimento e
compreensão quando mais precisei e finalmente a minha grande e amada amiga
Ana Vanine, que esteve comigo em cada passo nesta longa caminhada, se fazendo
presente
em
cada
etapa
de
forma
crucial.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro, a Deus e as energias da natureza, que sempre me trouxeram bons
fluidos, inspiração e luz para seguir essa jornada. Ao meu pai, que da forma dele me mostrou o
quanto é gratificante ser generoso e desprendido com o próximo, assim como o é. Aos meus
amados irmãos, mas com especial carinho a três grandes mulheres da família Tavares, minha
Irma Iranê, que em todo momento me disse “- Confie!” elevando a minha auto-estima e me
lembrando que sou capaz, a minha irmã Kitty, que me influenciou diretamente na escolha deste
tema, ao me presentear com as Diretrizes e me fornecer grande parte dos referenciais teóricos, e a
minha querida sobrinha Danielle, que assim como eu, é uma batalhadora, colega de formação e
foi um norte na construção dessa pesquisa. Não tenho como não citar as minhas grandes amigas e
parceiras de curso: Ana Vanine, Lívia e Luana que trilharam comigo, quase que diariamente, me
fortalecendo, incentivando e compartilhando sabores e dissabores, levando-me a acreditar que
seria possível. A Fátima Falcão, que me recebeu com generosidade e contribuiu diretamente na
escolha da minha fonte de pesquisa. Ao meu orientador Profº. Dr. Gilmario Moreira Filho que
ajudou a organizar minhas idéias para a construção desta pesquisa. E ao Profº. Dr. Raphael
Rodrigues Vieira Filho que me ajudou a construir esse trabalho de forma a se aproximar mais as
normas acadêmicas. Aos funcionários da Escola Municipal Zulmira Torres, que pacientemente
compreenderam a minha insistência na pesquisa e contribuíram com as informações solicitadas,
com especial atenção a Diretora Rosana Chang e a Coordenadora Pedagógica Cristina Gomes.
Enfim, a todos que de alguma forma me ajudaram e/ou apoiaram nos momentos difíceis e
conturbados dessa jornada.
A nova consciência ecológica e a noção da Terra como grande mãe e Gaia passa por um processo
pedagógico pelo qual as pessoas se sensibilizam para esta realidade. Não bastam conceitos.
Precisamos de emoções, porque são elas que mobilizam as ações.
(Leonardo Boff, 2000)
RESUMO
Este estudo tem como objetivo conhecer os pressupostos de Educação Ambiental indicados nos
documentos do MEC e do Estado da Bahia e analisar de que forma suas propostas podem orientar
a práxis dos professores da rede pública municipal na cidade de Salvador. No decorrer deste
processo foi possível conhecer mais a fundo as propostas e modelos vigentes, confrontar a
inevitável ligação entre degradação do meio ambiente e sua relação com o modelo capitalista e
globalizante, identificar se houve e quais foram as transformações que se processaram na prática
de sala de aula e na postura dos professores da rede municipal que participaram na capacitação
em Educação Ambiental – promovidos pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura nos
dois últimos anos. Confrontando com a percepção adquirida no meu tirocínio, busquei verificar
se de fato esses cursos influenciaram de forma significativa a mudança de postura dos sujeitos
que fazem parte das instituições escolares municipais. Para isso procurei apresentar um recorte
do trabalho desenvolvido pela Escola Municipal Zulmira Torres, situada no bairro de Nordeste de
Amaralina, e identifiquei se apenas a capacitação bastou para influenciar de forma relevante o
compromisso com o EDUCAR.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Práxis pedagógica. Ética.
ABSTRACT
This study aims to meet the conditions for Environmental Education indicated in the documents
of MEC and the State of Bahia and analyze their proposals how they can guide the practice of
teachers of the municipal public network in the city of Salvador. During this process could learn
more in depth the proposals and existing models, confront the inevitable link between
environmental degradation and its relationship with the model and capitalist globalized, and
identify if there were changes that took place in practice room of tuition and the attitude of
teachers who participated in the municipal network in training in Environmental Education promoted by the Municipal Department of Education and Culture in the last two years.
Confronting with the perception gained in my practice, search verify whether in fact these
courses have a significant impact on the change of posture of the subjects that are part of
municipal schools. It tried to make a cut of the work done by the Municipal School Zulmira
Torres, located in the district northeast of Amaralina, and identified the training is only enough to
influence the relevant form of compromise with the EDUCATOR.
Keywords: Environmental Education. Praxis teacher. Ethics.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
2
SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................................................................ 13
2.1
Um breve histórico............................................................................................................ 13
2.2
Educação Ambiental: perspectivas conceituais................................................................. 17
3
EDUCAÇÃO E O CONTEXTO SOCIAL.................................................................. 20
3.1
Educação Ambiental e seus cenários. ............................................................................. 20
4
A ESCOLA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................................................. 25
4.1
O papel do Educador......................................................................................................... 25
4.2
O Currículo em Educação Ambiental .............................................................................. 29
4.2.1
Interdisciplinaridade
5
ESCOLAS MUNICIPAIS E O TRABALHO DA SMEC...........................................35
5.1
Ações e parcerias...............................................................................................................35
6
A INSTITUIÇÃO DE ENSINO E A COMUNIDADE................................................. 43
6.1
Um breve histórico do Bairro............................................................................................ 43
6.2
Percepções da Fonte de Pesquisa........................................................................................44
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 48
.................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................51
ANEXOS ..........................................................................................................................55
10
1 APRESENTAÇÃO
Este estudo tem como base a preocupação em compreender como num mundo em que a
globalização e o capitalismo desenvolvem-se a passos largos – opondo-se à proposta de uma
sociedade igualitária – pode ser promovido o compromisso com o todo, ou melhor, com TODOS.
O ser humano desenvolve-se com o meio, em um processo interativo e contínuo. O homem
primitivo convivia – assim como os outros animais – em perfeita harmonia com a natureza e com
o seu habitat. Com o passar dos séculos, esse ser racional e social, anteriormente nômade,
acabou optando por fixar-se a espaços, adaptando-os e alterando-os em benefício próprio;
estabelecendo assim agrupamentos e interações sociais, apropriando-se da natureza sem cogitar
as conseqüências de suas ações (GADOTTI, 2005).
Fazendo uma reflexão sobre o que quer dizer – ou ser – racional e social, questiono como esse
sujeito que se incorpora a denotação de coletividade e superioridade intelectual, pode ser tão
individualista? Ou mesmo, quando a humanidade vai se perceber fazendo parte de um todo e não
simplesmente proprietária deste?
O Meio Ambiente vem apresentando, já há algumas décadas, reação às alterações e agressões
que vem recebendo da dita evolução humana. Diante desse quadro, a humanidade
obrigatoriamente percebeu que faz parte dessas causas e sofre diretamente com suas
conseqüências. Dessa forma, e, considerando as evidências de degradação que os ambientes
socialmente modificados apresentam, tornou-se indiscutível a preocupação com o educar,
percebendo-se que a Educação Ambiental é um caminho para a construção de valores éticos,
culturais e estéticos (LOUREIRO, 2006).
11
A Educação Ambiental, sem dúvida, vem se tornando um canal fundamental na formação da
consciência e cidadania. O profissional de Educação tem o desafio e a responsabilidade de
preparar-se para multiplicar significativamente a compreensão global, promovendo a reflexão e a
interação das comunidades, com a perspectiva de que o homem é apenas uma célula desse grande
organismo vivo chamado Planeta Terra (REIGOTA, 1998).
O objetivo deste trabalho é conhecer e mostrar o que vem sendo feito pelas Escolas Municipais e
pela Secretaria de Educação e Cultura de Salvador para multiplicar essa temática, compreender se
houve e quais foram as transformações que se processaram na prática de sala de aula dos
professores que participaram dos cursos de formação com relação à Educação Ambiental
promovidos pelo governo municipal, uma vez que a temática Meio Ambiente se tornou uma
preocupação mundial, e as crianças, certamente, serão os sujeitos que vão usufruir – ou sofrer –
do que plantamos ontem, vamos semear hoje e pretendemos colher amanhã.
Diante dessa inquietação, existem questionamentos que permeiam a temática. Caberia à educação
o estabelecimento de novos paradigmas que proporcionassem uma conscientização crítica, a
implementação de projetos que favorecessem a criação de estratégias por parte dos alunos e
preparassem as gerações futuras para que possam lidar de forma mais racional e coerente com o
ambiente em que vivem? Os educadores de hoje têm condições de multiplicar essa proposta? A
Pedagogia tradicional e o currículo clássico precisariam ser revistos para que essa abordagem
aconteça? Essas são questões que pretendo acompanhar e avaliar na Escola Municipal Zulmira
Torres, no bairro do Nordeste de Amaralina, que implementou – após a participação de
professores na capacitação promovida pela Secretaria de Educação e Cultura de Salvador – nos
anos de 2007 e 2008, algumas ações envolvendo Educação Ambiental de grande êxito, para os
alunos, a comunidade, os professores e os funcionários da escola.
Ao focar a abordagem proposta para as Escolas Municipais de Salvador sobre a Educação
Ambiental, serão expostos minhas indagações sobre essas práticas, conhecendo assim, de modo
12
integrado, o trabalho proposto pelas Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental e a
aplicabilidade nas escolas municipais de Salvador;
avaliando a importância da formação
específica do professor e tomando como ponto de partida, os cursos ministrados pela Secretaria
Municipal de Educação e Cultura sobre Educação ambiental, permitindo
assim perceber o
quanto é relevante o fortalecimento dessa temática na práxis dos educadores municipais no
intuito de construir novas possibilidades.
Antes de evidenciar a relevância dos cursos de formação em Educação Ambiental com relação às
transformações possíveis das práticas de sala de aula, procuro apresentar um breve histórico
sobre os antecedentes deste tema na conjuntura mundial, buscando assim, a aproximação ao que
norteia as Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental, que é a Lei Federal nº. 9795/1999 e no
Decreto nº. 4281/2002, uma vez que, segundo a Constituição Federal de 1988, artigo 225 “Cabe
ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para preservação do meio ambiente”.
Num primeiro momento, faço uma retrospectiva sobre o que culminou na proposta atual de
Educação Ambiental no Brasil e no mundo; partindo em seguida para seus cenários e a
importância de um currículo compatível com essa proposta. Para tanto, busco avaliar o papel do
Profissional de Educação e as vantagens de promover a interdisciplinaridade, usando como
ferramenta o tema transversal Meio Ambiente (BRASIL, 2003).
Gostaria de ressaltar que, apesar das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) recomendarem que um trabalho acadêmico como essa Monografia de Conclusão de
Curso, tem que ser impresso em papel branco, por uma posição ideológica, optei em utilizar um
papel reciclado, já que comunga com as minhas escolhas, explicitadas pela escolha da temática
deste trabalho.
13
2. SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
2.1 Um breve histórico
No intuito de explanar o maior número de situações e ocorrências que culminaram nas propostas
atuais envolvendo a Educação Ambiental nas escolas municipais, este estudo apresenta
inicialmente um relato acerca da Educação Ambiental e sua trajetória mundial.
Segundo o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) (Brasil, 2003, p.12), a
literatura aponta a educação ambiental como abordagem, desde a década de 1960, quando a
utilização predatória dos recursos naturais começou a apresentar reflexos na natureza,
influenciando críticas dos estudiosos e ecologistas, a exemplo do lançamento do livro Primavera
silenciosa, em 1962, pela cientista e ecologista norte americana Rachel Carson. Esse trabalho,
que abordava o uso indiscriminado de agrotóxicos e o risco que causava – a longo prazo – a
saúde do homem e do ambiente, foi uma das manifestações precursoras no que se refere à
preocupação com o meio ambiente e a mudança de postura do homem na sociedade. Acerca
dessas manifestações, Loureiro comenta o período como um momento de mudanças marcantes de
atitudes por parte dos movimentos sociais, que não mais aceitavam pacificamente ações
predatórias (2004, p.63):
[...] os questionamentos mais contundentes à civilização moderna surgem de atores
sociais que ganham espaço no debate público na década de 1960 (movimentos
estudantis, pacifistas, antinuclear, grupos de contracultura, de defesa dos direitos
humanos, movimento feministas etc.), na Europa [...] as incertezas quanto aos riscos
futuros ganham dimensões que vieram a influenciar agentes sociais de todos os países.
Em meados da década de 1960, as preocupações ecológicas já se pronunciavam, mas eram
restritas a ações regionais, que não estavam interligadas, mais pareciam iniciativas movidas por
paixões – como os movimentos em defesa dos animais ameaçados de extinção, o uso de
agrotóxicos e o desmatamento. Um dos acontecimentos mais significativos neste período, foi a
formação do Clube de Roma – fundado em 1968 – para discutir a crise na humanidade. Esse
14
encontro, reuniu economistas, industriais, banqueiros, chefes-de-estado, líderes políticos e
cientistas de vários países com a intenção de analisar a situação mundial e apresentar previsões e
soluções para o futuro.
O primeiro relatório dessa organização foi publicado em 1972,
discutindo, entre outros assuntos, a preservação dos recursos não renováveis diante o previsível
esgotamento. Mesmo ano em que a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo (Suécia),
inseriu a temática Educação Ambiental na agenda política internacional, ao estabelecer em um
dos seus princípios - 191 - a necessidade de garantir a Educação Ambiental a todos.
O reconhecimento internacional, a preocupação com o desdobramento da temática e a busca de
propostas se faz mais clara quando a Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
instituíram o Programa Internacional de Educação Ambiental. O Brasil, neste período, sob o
controle político do Regime Militar, era coibido de todo e qualquer debate político e ações
coletivas, que Inviabilizaram qualquer avanço desta discussão em nosso país. Abordagens do
movimento ecologista e recomendações sobre a Educação Ambiental, na visão dos governantes
brasileiros, eram temas revolucionários e perigosos, já que poderiam representar empecilho aos
planos de crescimento do país. As ações governamentais visavam unicamente o desenvolvimento
econômico, naquele momento, e o governo não pretendia avaliar as conseqüências e os danos ao
meio ambiente. Dessa forma, conforme as Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental: “a
Educação Ambiental, nesse período, desenvolvia-se sob os marcos do naturalismo”
(SALVADOR, 2006,p.23). No Brasil o movimento ambientalista acontecia desvinculado de uma
avaliação do impacto e desarticulado politicamente.
1
Princípio 19 – É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens
como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases
de uma opnião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das
comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio
ambiente, em toda a sua dimensão humana. Disponível em:
<http://www.vitaecivilis.org.br/anexos/Declaracao_Estocolmo_1972.pdf>. Acesso em: 29.08.2009
15
Neste período a própria natureza – a nível global - já evidenciava que era preciso impor limites na
utilização dos recursos naturais, o seu uso predatório já apresentava danos irreversíveis, conforme
explanado na apresentação dos Temas Transversais constante nos Parâmetros Curriculares
Nacionais: Meio Ambiente e Saúde (BRASIL, 1997, P.21):
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da década de 60, intensificouse a percepção de que a humanidade pode caminhar aceleradamente para o esgotamento
ou a inviabilização de recursos indispensáveis à sua própria sobrevivência. E, assim
sendo, que algo deveria ser feito para alterar as formas de ocupação do planeta
estabelecidas pela cultura dominante.
Nos anos subseqüentes, alguns fóruns e encontros internacionais - a exemplo da Conferência de
Tbilisi em outubro de 1977 – foram culminantes na mudança de atitudes, visto que, promoveram
discussões em escala mundial, estabeleceram finalidades, objetivos, estratégias e princípios
orientadores para a promoção da educação ambiental. Foi no contexto dessa década, que o
processo de institucionalização da Educação Ambiental teve início no Brasil com a criação da
Secretaria Especial do Meio Ambiente em 1973. Porém, só em 1981 foi admitida a necessidade
de inclusão deste tema em todos os níveis de ensino, sendo necessário destacar que foi também
neste período que a Educação Ambiental através do Parecer no inciso VI do Artigo 225
demonstrou “a necessidade de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para preservação do meio ambiente” (BRASIL, 2003, p.12). Deste modo,
foi então definida com caráter interdisciplinar e incluída na Constituição Federal de 1988.
Ainda de acordo com o Programa Nacional de Educação Ambiental (BRASILIA, 2003, p.16), até
a década de 1990 foram realizados vários encontros e organizado um processo de
institucionalização tendo em vista criar instrumentos jurídicos e funcionais para lidar com a
problemática de educação ambiental. Dentre os eventos mais significativos podemos citar: a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), o Fórum
16
Global e Agenda 212; a criação do Ministério do Meio Ambiente; o Programa Nacional de
ducação Ambiental (PRONEA); o Plano Plurianual; a promoção de Seminários sobre a prática
da educação ambiental no eco turismo, biodiversidade e tantos outros eventos que contribuíram
para firmar a aprovação da Lei 9.795/99, regulamentada pelo Decreto que define, entre outras
normas, a composição e as competências do Órgão Gestor da PNEA – sendo este último, um
órgão decisivo para executar ações em Educação Ambiental no Governo Federal – tendo como
primeira tarefa, a assinatura de um Termo de Cooperação Técnica para a realização conjunta da
Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente.
Em 17 de novembro de 2003 foi instaurado o Comitê Assessor do Órgão Gestor e criados seis
grupos de trabalhos (GTs): dois grupos como temporários – GT Documento do ProNEA e GT
Regimento Interno; e quatro grupos
permanentes – GT Gestão do Sistema Brasileiro de
Informações sobre Educação Ambiental (SIBEA); GT Critérios e Indicadores para Projetos e
Ações de Educação Ambiental; GT Instrumentos Institucionais e Legais para a Promoção da
Educação Ambiental e GT Relações Internacionais – de acordo com o Programa Nacional de
Educação Ambiental (BRASIL, 2003, p.16).
No município de Salvador, a Secretaria Municipal da Educação e Cultura (SMEC), afirma
buscar uma proposta de uma Educação Pública de qualidade, integrando às comunidades locais e
buscando garantir o acesso, a permanência e a valorização a diversidade, proposta pelo governo
federal, promoveu uma aproximação mais eficaz
aprovando, em 2005,
a elaboração e
publicação das Diretrizes Curriculares da Educação Ambiental para as Escolas da Rede
Municipal de Ensino de Salvador. Nesta proposta - inovadora no Brasil - a Secretaria implantou
2
A Agenda 21 é o principal documento da Rio-92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano, organizada pela ONU. Foi assinado por 170 países, inclusive o Brasil, anfitrião da
conferência. É um programa estratégico, universal, para alcançar o desenvolvimento sustentável através de ações
concretas, metas, recursos e responsabilidades definidas a curto, médio e longo prazo durante o século XXI. Cada
país, estado, região, cidade, escola, deverá elaborar e implementar sua própria Agenda 21, transformando-a em um
plano de ação para ser adotado em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Disponível
em:<http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta &idEstrutura=18&idConteudo=597>. Acesso em 14
ago.2008.
17
um programa de capacitação para os professores da Rede Municipal de Ensino, com o intuito de
oferecer condições e recursos didático-pedagógico, para trabalhar o Meio Ambiente como tema
transversal 3. Segundo a instituição – SMEC – sua intenção é garantir uma formação ética e
cidadã mais sólida. Essa proposta corrobora com a descrição do estudioso Marcos Reigota
(1998, p.12) quando sugere que:
A educação ambiental deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela
reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e
planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza... procurando
incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu
contexto de realidades específicas... pois os problemas ambientais foram criados por
homens e mulheres e deles virão às soluções. Estas não serão obras de gênios, de
políticos ou tecnocratas, mas sim de cidadãos e cidadãs.
A importância desse trabalho está interligada, principalmente, ao processo de aplicação da
Educação Ambiental em sala de aula, sem no entanto desconsiderar a realidade distinta do aluno
de escola pública e todos os aspectos que circundam o tema. É nessa perspectiva que será
abordado o trabalho de Educação Ambiental proposto pela Secretaria Municipal de Educação e
Cultura, devido ao fato de ser uma abordagem complexa, abrangente e que não pode ser tratada
numa única área de conhecimento.
2.2 Educação Ambiental : perspectivas conceituais
O conceito de Educação Ambiental pode mudar de acordo com a perspectiva da abordagem que
se pretende expor e ao perfil do grupo que se quer trabalhar, uma vez que é um assunto bastante
abrangente e envolve diversos setores. Sua discussão está em evidência em vários segmentos –
quer sejam governamentais ou não governamentais. Atualmente, a preocupação em torno de
ações que venham a afetar a saúde de um ambiente é ponto fundante, deve ser investigado e
3
Temas Transversais - expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem a
questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana.
São amplos o bastante para traduzir preocupações de todo País, são questões em debate na sociedade através dos
quais, o dissenso, o confronto de opiniões se coloca. Disponível em:
<http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_48.htm> Consulta em 31.08.2008
18
estudado até se tornar, inevitavelmente, uma preocupação coletiva, já que todos – indivíduo,
família ou organização – interferem de alguma forma no meio em que vivem.
Essa temática vem sendo objeto de crescente interesse e estudos, sendo considerada uma
necessidade coletiva e urgente, uma vez que, reforça as interdependências dos diversos elementos
na constituição e manutenção da vida no Planeta Terra. O esgotamento e a destruição dos
recursos potencialmente renováveis – como solo, pastagens, florestas e vida selvagem – por sua
utilização num ritmo excessivamente elevado é cada vez mais corriqueiro. O uso predatório
desses recursos tem inviabilizado seu restabelecimento natural e diante da percepção atual de
meio ambiente, apesar de inaceitável, ainda é uma situação que muitas vezes se mostra como
insolúvel.
[...] esse pedaço de mundo é, da natureza toda de que ele pode dispor seu subsistema útil,
seu quadro vital. Então há descordenação entre grupos humanos dispersos, enquanto se
reforça uma estreita cooperação entre cada grupo e o seu Meio [...] A história do homem
sobre a Terra é a história de uma rotura progressiva entre homem e o entorno. Esse
processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como
indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-o de novos instrumentos para
tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história
humana da natureza. Hoje, com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa
evolução (SANTOS, 1994, p.5).
Em muitos países, principalmente naqueles que apresentam ações de origem capitalistas, onde a
síndrome do progresso esta vinculada ao consumismo e ao uso – e abuso – dos recursos, o
estímulo é ao consumo e não ao cuidado, contradizendo todas as propostas que estavam – e
permanecem – em alta nas discussões ambientais em todo o mundo (GADOTTI, 2005).
Assim, nos últimos anos, a Educação Ambiental saiu do contexto superficial de explanar assuntos
tais como: poluição, reciclagem do lixo, paisagens e preservação da flora e fauna e passou a uma
perspectiva mais realista, buscando um equilíbrio entre o homem e o ambiente. Nesse processo,
foi se tornando uma ferramenta útil em busca de uma forma socialmente mais justa e
economicamente viável, onde o uso ou exploração do ambiente mantém e preserva a diversidade
19
biológica, evidenciando uma preocupação com as gerações futuras – atualmente denominado
desenvolvimento sustentável.
Vale ressaltar que não há neste estudo, a pretensão de desmerecer a condução anterior desta
temática, apenas apresentar uma conotação que proporcione ao aprendizando compreender as
noções básicas sobre o tema, percebendo relações que o condicionam a vida, levando-o a avaliar,
discutir e posicionar-se de forma crítica e conseqüentemente viabilizando uma educação mais
qualificada através de projetos que integrem as disciplinas.
20
3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O CONTEXTO SOCIAL
3.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEUS CENÁRIOS
O modelo de sociedades capitalistas vem se fortalecendo como sociedade do futuro e se faz cada
vez mais presente. Existe uma forte tendência mundial pautada no consumo. Atrelada à vida em
sociedade e ao consumismo, presenciamos a degradação do meio ambiente. O homem é o maior
predador da natureza e, sem medir as conseqüências de suas ações, ele extermina e transforma o
ambiente naquilo que deseja, levando em conta apenas o benefício próprio e imediato.
Aumentando-se o consumo, eleva-se também o esgotamento e a pressão sobre os recursos
naturais, ou seja, mais água, matéria-prima, eletricidade, combustíveis, uso do solo e assim todos
os recursos necessários ou não, são utilizados até o seu limite, seria o esgotamento de um recurso
natural e a não utilização de forma consciente e auto-sustentável. Segundo o Manifesto pela Vida,
elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) :
A crise ambiental é uma crise de civilização. É a crise de modelo econômico,
tecnológico e cultural, tem depredado a natureza e negado as culturas alternativas. O
modelo civilizatório dominante degrada o meio ambiente, sub-valoriza a diversidade
cultural e desconhece o outro (o indígena, o pobre, a mulher, o negro, o Sul), ao mesmo
tempo em que privilegia um modo de produção e um estilo de vida insustentáveis que se
tornaram hegemônicos no processo de globalização. (Bogotá, p.12, 2002)
Atualmente, encontramos situações alarmantes e aparentemente irreversíveis, envolvendo a
degradação do ambiente, são áreas e até mesmo regiões inteiras, devastadas pela dita evolução
humana. Um fator agravante e que não pode ser desconsiderado, é que os grupos mais atingidos
são os de classe social mais baixa. Esses acabam com o refugo dos parcos espaços disponíveis
nas cidades, geralmente bastante degradados. Falta saneamento básico, saúde e condições dignas
de moradia, enfim, falta EDUCAÇÃO. Percebemos, portanto, uma inevitável abordagem política,
envolvendo injustiça social e exclusão. A carência desta classe social inclui as condições deste
sujeito em se perceber de forma crítica, compreendendo seus deveres e direitos. Envolve a
orientação desses grupos no que tange o direito de se manifestar e de se pronunciar dentro deste
capitalismo selvagem – que promove a competitividade e suprime a solidariedade – contrapondo
21
dessa forma as propostas que visam o respeito ao Meio Ambiente. Essa reflexão foi indicada por
Loureiro (2004, p.28) quando sugere que:
A Educação Ambiental não atua somente no plano das idéias e no da transmissão
de informações, mas no da existência, em que o processo de conscientização se
caracteriza pela ação com conhecimento, pela capacidade de fazermos opções, por se ter
compromisso com o outro e com a vida. Educar é negar o senso comum de que temos
“uma minoria consciente”, secundarizando o outro, sua história, cultura e consciência. É
assumir uma postura dialógica, entre sujeitos, intersubjetiva, sem métodos e atividades
“para” ou “em nome de“ alguém que “não tem competência para se posicionar”. É
entender que não podemos pensar pelo outro, para o outro e sem o outro. A educação é
feita com outro que também é sujeito, que tem sua identidade e individualidade a serem
respeitadas no processo de questionamento dos comportamentos e da realidade.
É necessário considerar que neste primeiro momento, não enxergamos e nem nos cabe a utopia
de ver a Educação Ambiental na escola como a salvação do homem e do planeta ou como o único
caminho para a sobrevivência das gerações futuras. Mas, de forma lúcida e racional, é preciso
reconhecer na Educação Ambiental, uma relevante ferramenta para dialogar e municiar o
indivíduo de conhecimentos em torno dos problemas mais relevantes desta temática para
fortalecer a todos – em especial os menos favorecidos – com princípios críticos que nos preparem
para reivindicar e construir uma sociedade auto-sustentável. Loureiro (2004, p.89) assim
conceitua a Educação Ambiental:
A Educação Ambiental transformadora é aquela que possui um conteúdo emancipatório,
em que a dialética entre forma e conteúdo se realiza de tal maneira que as alterações da
atividade humana, vinculadas ao fazer educativo, impliquem mudanças individuais e
coletivas, locais e globais, estruturais e conjunturais, econômicas e culturais.
Na atualidade, apesar da crescente tendência em reconhecer a Educação Ambiental como uma
alternativa, percebe-se que ela ainda não esta incorporada de forma significativa pela escola.
Ainda hoje, sua abordagem na maioria dos ambientes escolares resume-se a datas comemorativas
e eventos propostos em projetos específicos e, apesar de todos os esforços, as informações e
discussões sobre questões que envolvem essa temática ainda não se fazem presentes de forma
significativa na rotina escolar. Subentende-se ser o papel da escola formar o sujeito para que ele
possa aprender e compreender novas práticas, novas rotinas, a ponto de se apropriar destas,
22
contribuindo com esses processos e incorporando-os na dinâmica do seu grupo, seja na escola, no
ambiente familiar ou entre amigos.
De forma geral, a educação é um processo que deve levar a criança a questionamentos, a
descobertas, deve ser estimulante, empreendedora, lúdica e conseqüentemente, produtiva.
Segundo Freire (1996, p. 76) “ensinar exige a convicção de que a mudança é possível (...) o
mundo não é. O mundo está sendo”. E todos podem e devem intervir como sujeitos desta história,
o que corrobora com a idéia de uma visão de mundo proposta nas Diretrizes Curriculares que
tratam de conteúdos visando o fortalecimento da Educação Ambiental e buscando novas
possibilidades como suporte à sua operacionalização. Essa perspectiva de exercício da cidadania
ambiental, requer conhecer intimamente os deveres e direitos em relação à vida pessoal e em
grupo considerando uma relevante preocupação com as gerações futuras.
Diante dessa proposta, estabeleço um aprofundamento em torno dos documentos alusivos à
Educação Ambiental e conheço o trabalho da Secretaria Municipal de Educação e Cultura em
orientar e preparar os profissionais da área de Educação – baseada nos ideais da LDB – sendo
percebido que esse trabalho pode ter representação significativa a ponto de promover o
fortalecimento de boas práticas e ações eficazes na formação ética e ambiental dos estudantes.
Uma vez que o objetivo deste estudo é analisar se a proposta das Diretrizes Curriculares de
Educação Ambiental elaborada pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura reconhecendo se
é compatível com a realidade destes ambientes escolares., busco localizar à priori nas
justificativas dos Temas Transversais - constante nos Parâmetros Curriculares Nacionais - esse
tema é ressaltado da seguinte forma:
[...] se reconhece o papel central da educação para a construção de um mundo
socialmente justo e ecologicamente equilibrado, o que requer responsabilidade
individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário. E é isso que se espera da
Educação Ambiental no Brasil, que foi assumida como obrigação nacional pela
Constituição promulgada em 1988. (BRASILl, 1997, p.24).
23
Nessa construção de um mundo socialmente mais justo, percebe-se que, todo o trabalho que
envolve Educação Ambiental está diretamente relacionado à mudança de hábitos, mudança de
costumes equivocados, mudança de atitude – a ética – e o compromisso com o EDUCAR. O que
esta por trás desse trabalho envolve uma mudança de paradigmas, quando interfere nas rotinas
escolares e na vontade desses com relação às mudanças. O primeiro passo é conscientizar os
professores da Rede Municipal – do contrário não serão promovidos multiplicadores
comprometidos com essa abordagem – e após o preparo dos mesmos, torna-se imprescindível, o
incentivo às escolas e aos docentes para que sejam capazes de apresentar projetos
interdisciplinares – e exeqüíveis – abordando o tema transversal. Esse pensamento é percebido
em Savater (2002, p. 75) quando nos diz:
[...] ao constituir-se como prática educativa, a EA também se filia ao campo da educação
propriamente dito e é da confluência entre o campo ambiental e algumas tradições
educativas que vão surgir orientações especificas dentro da EA. Contudo, essa interseção
entre o ambiental e o educativo, no caso da EA, parece se dar mais como um movimento
da sociedade para a educação, repercutindo no campo educativo parte dos efeitos
conquistados pela legitimidade da temática ambiental na sociedade. A educação – um
campo altamente sensível às novas demandas e temáticas sociais – incorpora a
preocupação ambiental em seu universo propriamente educacional, transformando-a em
objeto da teoria e da prática educativa.
O maior desafio é traduzir a teoria para a vida real ou seja, todo esse processo de uma educação
ética e consciente, envolve saber como esses educadores vão lidar com as dificuldades da escola
pública. Dificuldades essas que vão desde carência de educação de qualidade, perpassando pela
saúde e todas as demais necessidades básicas de cada indivíduo. Será preciso alguma propriedade
nesta nova postura, para que se articule de forma sensata e coerente a teoria com a prática e assim
propicie aos alunos conhecer as vantagens e potenciais de ambientes em que foi possível manter
o equilíbrio com a natureza – a partir de atitudes assertivas – e evidenciar os reflexos desastrosos
de ações predatórias (REIGOTA, 2004).
24
Possivelmente, esse seja o momento propicio para promover uma aproximação e consequente
parceria entre a escola e a comunidade, no intuito de juntos construírem boas e novas práticas que
valorizem e protejam o ambiente em que estão inseridos, e, a partir dessas, busquem ações que
acabem por influenciar os demais.
25
4 A ESCOLA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
4.1 O Papel do educador
Considerando um foco na educação e na prática pedagógica, o professor enquanto formador e
detentor de conhecimentos, inevitavelmente é uma referência de conduta e de postura, tornandose dessa forma um exemplo positivo ou negativo. A tarefa de educar atualmente envolve uma
visão global, há muito ultrapassou os limites entre o trabalho de um profissional que apenas deve
repassar as informações – para que essas sejam simplesmente absorvidas e reproduzidas pelos
alunos – e o empenho de contribuir na formação de um individuo pensante. A responsabilidade
desse profissional na formação ética dos seus educandos é cada vez maior. Segundo Freire
(1996, p.14): “Formar é muito mais que puramente treinar o educando no desempenho de
destrezas” [sic].
O aumento dos grandes centros urbanos
carrega consigo
grandes desafios, visto que um
crescimento desordenado por vezes impede uma organização e assim vem acompanhado das
mazelas sociais. A falta de espaço, de moradia, a pobreza, o desemprego, o oportunismo, o
conflito de interesses e a precariedade da educação pública são fatores que inevitavelmente estão
interligados e interferem diretamente no trabalho docente.
Segundo Bourdieu, (1998 p. 120) “[…] a precariedade está hoje por toda a parte. No setor
privado, mas também no setor público, onde se multiplicaram as posições temporárias e interinas
[…]”, essa afirmação reforça que a instabilidade de emprego interfere diretamente na qualidade
de trabalho desses profissionais. A falta de trabalho remunerado, a rotatividade no emprego, a
sobra de mão de obra ociosa – desemprego – e a oferta maior que a procura, promovem a
redução dos salários e incentiva a contratação de profissionais pouco qualificados. A exploração
de mão de obra, as incertezas, a submissão, a falta de auto-estima do profissional – que se vê
manipulado e usado como peça descartável – entre outras circunstâncias, gera um momento
mundial de falta de perspectiva. O profissional de educação não esta fora desse panorama.
26
Na contemporaneidade, decidir pela carreira de professor não é uma escolha favorável para
aqueles que visam na docência algum retorno financeiro. No Brasil, o profissional de educação
não é valorizado; é mal remunerado e tem que lidar diariamente com uma estrutura educacional
pública – por vezes – caótica e cheia de limitações. A Professora da USP (Universidade de São
Paulo), Sandra Zákia Souza corrobora com essa visão quando faz a avaliação do rendimento e da
gestão escolar reforçando em seu discurso a necessidade de uma reflexão crítica da prática
educacional no Brasil, como forma de aprimoramento da Educação:
O discurso que enfatiza a urgência de se enfrentar e resolver o deteriorado quadro da
realidade educacional brasileira, particularmente do ensino básico, é hoje “unanimidade
nacional”. Observa-se, no entanto, que os argumentos que têm sido mais utilizados,
particularmente pelos responsáveis pela gestão das políticas educacionais, não são
aqueles que se sustentam na luta pela educação, enquanto direito do cidadão e condições
para sua participação política e social, mas aqueles que tem enfatizado ser a educação
condição para o desenvolvimento econômico e para a inserção do Brasil no grupo dos
países desenvolvidos. (SOUZA, 1995, p.264)
Tendo em vista a ampliação do papel do pedagogo na sociedade contemporânea, é fundamental
perceber a relevância do trabalho desse profissional no que tange as possibilidades de uma
abordagem envolvendo a Educação Ambiental
na condução do seu trabalho. Em muitos
momentos é preciso transcender os limites educacionais impostos pela instituição escolar e
agregar novos conhecimentos, mesmo porque os diversos autores lidos durante a produção deste
trabalho, bem como as Diretrizes Curriculares reforçam a amplitude e o potencial de abordagem
da Educação Ambiental , visto que é uma temática bastante abrangente – e não seria à toa o fato
de se apresentar como tema Transversal envolvendo todas as disciplinas. Dessa forma, fica
percebido que pode ser um recurso oportuno para envolver a comunidade aproximando-a da
Instituição escolar, devendo-se ter a precaução de não restringi-la a datas comemorativas ou
trabalhos com material reciclado, utilizados em salas de artes.
27
Num ensaio em que discorre sobre “o subjetivo, o coletivo, o pensado e o vivido”, Tristão (2005)
corrobora com esse pensamento quando faz uma reflexão crítica sobre a coerência entre a prática,
a teoria, o discurso e a frustração – que por vezes ocorre – dos envolvidos em trabalhos que
visam a construção de uma Educação Ambiental mais eficaz. Fala-se em holismo4, mas muitas
vezes, esses discursos parecem desconhecer o significado da palavra, não se percebe na prática
das pessoas e/ou
instituições, atitudes que corroborem com a idéia do planeta como um
organismo único, onde tudo se relaciona, e da relevância do espirito de conjunto, onde todos
deveriam estar integrados e em harmonia.
As palavras comuns, freqüentemente utilizadas nos discursos sobre a Educação
Ambiental, começam a parecer sem sabor e a soar irremediavelmente falsas e vazias.
Sabor e saber têm a mesma raiz etimológica. Precisamos resgatar o sabor do saber que
esta no desejo de mudar a vida. As linguagens vagas e totalizantes que impregnam os
campos do sentido da Educação Ambiental tornam o cotidiano estressante e
(des)potencializam as práticas dos sujeitos sociais. (TRISTÃO, P.253, 2005)
Para os profissionais que desejam desenvolver um trabalho em que o seu público-alvo – o
alunado – se transforme e atue como agente crítico, o campo de educação, apesar das
dificuldades, tem oferecido incentivos e novidades que em muito contribuem para o sucesso da
aprendizagem. Nossa sociedade esta ávida por intervenções e conseqüentemente mudanças,
todavia, falta ao educador uma postura: assumir o papel de estimulador e incentivador do
processo ensino-aprendizagem, proporcionando aos seus alunos uma aprendizagem mais
significativa e coerente com as suas reais necessidades. Segundo Freire:
O pensar certo sabe, por exemplo, que não é a partir dele como um dado dado, que se
conforma a prática docente crítica, mas sabe também que sem ele não se funda aquela. A
prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico,
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O saber que a pratica docente espontânea
ou quase espontânea, “desarmada”, indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um
saber de experiência feito, a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a
curiosidade epistemológica do sujeito. Esse não é o saber que a rigorosidade do pensar
certo procura. Por isso, é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz
de educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se
acha em guias de professores que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do
poder, mas pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido
pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. (FREIRE, 1996, p.
38)
4
Ver mais em Tristão 2005.
28
O educador Paulo Freire é um grande exemplo de que é preciso acreditar no potencial de cada um
e buscar oportunidades dentro da realidade existente. Ele não se limita a teoria educacional, ao
contrário, usa a realidade de um grupo para promover discussões acerca do contexto em que estão
inseridos, reforçando sempre a relevância de questionar – e porque não contestar – a realidade de
cada um. Em seus trabalhos e propostas, Freire viabiliza a todos a possibilidade do pensar
crítico; repudiando a mesmice, a repetição de técnicas ultrapassadas – quiçá ingênuas – e o
conformismo.
A arte de ser Educador ganha a cada momento rumos novos e desafiadores. No mundo
contemporâneo, espera-se que o educador trabalhe sobre valores, saiba desenvolver habilidades e
competências cognitivas, forme pessoas críticas, encontre rotas alternativas para enfrentar o
fracasso e a evasão escolar, desenvolva talentos e abra caminho para a construção de projetos
sólidos de vida. Trata-se na verdade de oferecer condições para uma aprendizagem significativa,
transformando o aluno num sujeito que indaga, que investiga, que se compromete
(FREIRE,1996).
Diante de tantas dificuldades e da urgência em encontrar uma alternativa viável ao trabalho
docente, o professor – em especial do ensino público – precisa munir-se de ferramentas e/ou
recursos que o permitam oferecer um ensino mais sólido. O mundo urge por ética e esta vem a
partir do compromisso de todos em um bem estar comum. A educação precisa ser revista e
discutida em sentido amplo, dando ênfase especial para a questão da formação inicial e
continuada dos professores,
possibilitando o resgate da auto-estima docente, valorizando o
profissional da educação e reconhecendo a sua importância na sociedade.
Dentro dessa proposta,
as Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental e o trabalho de
capacitação desenvolvido pelo SMEC, podem ser ferramentas importantes neste processo de
construção de uma educação mais diversificada, participativa e comprometida com o
29
desenvolvimento local, sendo mediadora na construção de soluções para problemas existentes na
comunidade resgatando valores e a cidadania. Em sua proposta, as Diretrizes perpassam por todas
as disciplinas, sugerindo jogos, brincadeiras, discussões, debates – de cunho social – e mostram
como esses estão diretamente interligados ao tema Meio Ambiente.
4.2 O Currículo em Educação Ambiental
A estrutura dos cursos de formação de professores normalmente é dividida em três partes:
conteúdo do ensino – o currículo –, onde são discutidas as formas de ensinar e como esta
estruturado o curso de licenciatura; o local em que ocorre – a escola – onde se verifica a estrutura
física, seu funcionamento e organização e por fim o sujeito da aprendizagem – o aluno – que é
visto no grupo sócio-cultural, apresentando-se com estímulos e valores distintos. O que se torna
preocupante é qual a melhor forma de preparar esse profissional e como pode haver a união
perfeita ou a cumplicidade entre teoria e prática? Uma vez que um dos enclaves do trabalho
docente ainda pode ser a prática (NETO, 2002).
Devido a prática ser esta uma característica de vivência e nem sempre acontecer exatamente
como esta na literatura educacional – sendo um dos principais pontos do trabalho docente – é
inevitável dizer que seja um trabalho singular, pois pode variar de acordo com o estilo pessoal do
docente. O professor que passa pela formação inicial, já com alguma experiência docente, pode
apresentar dificuldades na construção de novas práticas. Elas podem se tornar paradigmas e
devem ser canalizadas no sentido positivo, ou seja: somar sua experiência e enriquecer o
trabalho.
Quando nos referimos a Educação Ambiental, a tendência é associá-la a disciplinas como
ciências ou geografia, porém, o grande paradigma é entendê-la e percebe-la nas demais
disciplinas, e não foi por acaso que a Lei nº 9795/1999; o decreto nº 4281/2002; os Parâmetros
Curriculares e as Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental, referem-se a esse processo
30
pedagógico – Meio Ambiente – como tema transversal dos currículos escolares, permeando toda
a prática das escolas.
A Educação Ambiental é um tema bastante amplo, abrangente e deve ser visto como um processo
de aprendizagem permanente que valoriza as diversas formas de conhecimento. Dessa forma, não
pode ser abordada em uma única disciplina, deve-se buscar o trabalho coletivo – o trabalho em
conjunto das disciplinas – respeitando o foco de cada uma e estabelecendo um elo entre elas,
promovendo a integração curricular. O artigo 2º da LEI FEDERAL nº 9.795/99 – Institui a
Política Nacional de Educação Ambiental como:
A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999, p.1).
Segundo Libâneo “O currículo é a concretização, a viabilização das intenções e das orientações
expressas no projeto pedagógico” (2002, p.362), constitui um instrumento bastante significativo e
sua discussão e socialização precisa se fazer presente no ambito escolar no intuito de discutir e
reconstruir alternativas para o educar. Ele pode ser definido pela rede de ensino ou por uma
escola em particular, algumas vezes é definido embasando-se nos livros didáticos que serão
adotados. No Brasil não existe um currículo único, normalmente são utilizados os Parêmetros
Currículares Nacionais que sugerem a adoção de conteúdos e de temas de acordo com as regiões,
suas necessidades e realidades, sendo essa uma forma de contextualizar a abordagem a ser
escolhida pela escola. Seguindo dessa forma a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
O professor deve, sempre que possível, possibilitar a aplicação dos conhecimentos à
realidade local, para que o aluno se sinta potente, com uma contribuição a dar, por
pequena que seja, para que possa exercer sua cidadania desde cedo. E, a partir daí,
perceber como mesmo os pequenos gestos podem ultrapassar limites temporais e
espaciais; como, às vezes, um simples comportamento ou fato local pode se multiplicar
ou se estender até atingir dimensões universais. Ou, ainda, como situações muito
distantes podem afetar seu cotidiano (BRASIL, p.77, 1997).
31
Assim sendo, os PCNs devem ser instrumentos básicos, mas não são suficientes para produção
de transformações mais urgentes. A escola tende a restringir a abordagem sobre Meio Ambiente a
datas comemorativas, tratando de forma superficial um tema tão relevante. “Os conteúdos
curriculares têm que ser significativos para o aluno, e só serão significativos para ele, se esses
conteúdos forem também significativos para a saúde do planeta, para o contexto mais amplo”
(GADOTTI, 2005, p. 21).
Durante o processo de pesquisa, através das observações efetuadas em campo e da experiência
com o tirocinio, pude identificar que de forma geral, os projetos apresentados pelas escolas
municipais, em sua maioria, costumam ser triviais, pouco desafiadores e tendem a subestimar a
capacidade intelectual dos alunos. Esse cenário foi reforçado durante entrevista com a bióloga
Maria de Fátima Falcão5 acerca das percepções práticas dos Professores da Rede Municipal de
Salvador no ano de 2005. Neste trabalho a pesquisadora reforça que os professores se vêem
confrontados com a dificuldade em lidar com a interdisciplinaridade e o trabalho conjunto, com a
falta de material didático, de espaço, de recursos financeiros e por fim com a necessidade de
capacitação para abordagem dos temas transversais.
A ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola
participativa e fundamental na formação do sujeito social. O objetivo deve ser a experimentação
da vivência de uma realidade. O paradigma a ser vencido é a transformação desse sistema atual,
cuja abordagem demonstra ser inatista, uma vez que, se comporta de forma a não conceber que
mudanças de atitudes podem acontecer em um trabalho que favoreça o diálogo e o envolvimento
na construção do conhecimento. Segundo Rego, A prática escolar não desafia, não amplia nem
instrumentaliza o desenvolvimento de cada indivíduo, pois se restringe aquilo que ela já
conquistou (1995, p.87).
5
Biologa Especialista em Gestão Ambiental – Superintendência de Meio Ambiente do Município de Salvador
32
Essa mudança de postura por parte do educador envolve riscos, conhecimento profundo de
conteúdo, dos objetivos que se quer trabalhar, a quebra de velhos hábitos e a mobilização de
múltiplos recursos articulando-os com a realidade do grupo em que se esta trabalhando. Desta
forma, o currículo escolar deve ser uma construção social, onde sejam levados em conta os
valores, a visão de mundo desses indivíduos e o contexto em que estão inseridos (FREIRE,
1996).
Possivelmente, o grande desafio da escola será a formulação de um projeto pedagógico
comprometido com a formação ética do cidadão. Porém, essa proposta pedagógica inovadora
esbarra, na prática, em alguns obstáculos como: a má formação docente, o despreparo destes
e/ou desinteresse das instituições públicas e as dificuldades estruturais – baixos salários,
acomodações e recursos didáticos. Nesse sentido, a proposta pedagógica que as Diretrizes
Curriculares nos trazem – e se faz necessária – fica comprometida e sem continuidade, uma vez
que o conhecimento docente, por vezes se faz através de erros e acertos durante as ações
cotidianas enfrentadas em sala de aula.
A prática do professor, muitas vezes, se torna bastante subjetiva e esse processo só pode ser
eficiente se este profissional demonstrar interesse, reflexão, compartilhar saberes e buscar
continuamente diagnosticar situações e conflitos, bem como manter a sua capacitação
profissional atualizada das discussões e propostas, para que possa lidar com essas dificuldades,
articulando-as com seus conhecimentos pedagógicos.
Atualmente, os profissionais de educação têm como proposta o desafio de desconstruir o
problema manifestado para construir o existente, valorizando seu próprio processo, trabalhando a
reflexão crítica. Aos teóricos cabe oferecer perspectivas de análise para compreensão dos
contextos históricos, sociais e culturais, possibilitando, influenciando, interferindo e até
transformando os professores (NETO, 2002).
33
4.2.1 Interdisciplinaridade
Os princípios básicos da Educação Ambiental estão relacionados à ética, uma vez que, permitem
ao aluno interrogar a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume.
A Educação Ambiental deve ser percebida como uma forte aliada nessa construção de valores,
desafiando os alunos com situações problematizadoras, levantando hipóteses e possibilidades,
estabelecendo relações e estimulando a criança a perceber seu potencial, a ter autonomia e a
utilizar essa no trabalho coletivo. A escola, tem a função de fazer a criança avançar nessa
compreenção e reconstrução de mundo. Numa avaliação acerca das perspectivas atuais da
educação, Gadotti reforça que não basta reletir sem a prática, assim como não se pode praticar,
sem antes refletir.
O objetivo fundamental da interdisciplinaridade é experimentar a vivência de uma
realidade global que se inscreve nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do
povo e que, na escola tradicional, é compartimentada e fragmentada. Articular saber,
conhecimento, vivência, escola, comunidade, meio-ambiente etc., é o objetivo da
interdisciplinaridade que se traduz na prática por um trabalho coletivo e solidário na
organização do trabalho na escola. Não há interdisciplinaridade sem descentralização do
poder, portanto, sem uma efetiva autonomia da escola.(GADOTTI, 1997, p.18)
Apesar da percepção da necessidade de interligar os temas e disciplinas, fica evidenciado nas
falas de Gadotti (2005) e Reigota (2004), que o ensino no Brasil – tradicionalmente – tende a
compartimentar os saberes. O currículo é fragmentado e não existe uma articulação entre as
disciplinas. – ou se existem normalmente não passam da teoria – Esse pensamento
compartimentado, simplifica e compromete uma possibilidade de reflexão mais apurada sobre um
assunto a ser explorado, dessa forma, fica clara a relevância de abordar um trabalho de forma
interdisciplinar principalmente quando se discute a Educação Ambiental.
É fundamental oferecer aos alunos, além do maior número possível de experiências, uma
possibilidade de ampliar sua visão, englobando as diversas realidades e, ao mesmo tempo, uma
percepção contextualizada com a realidade em que o aluno esta inserido, sendo esse o momento
34
em que o educando perpassa pelo ambiente físico da sua comunidade, das condições sociais em
que esta atrelado aguçando seu senso crítico.
O professor nesse momento,
vem ao encontro do aluno para trocar conhecimentos e
experiências, construindo juntos novos significados e assim melhores condições e oportunidades
na vida social. Porém para essa interação ser proveitosa e produtiva, é preciso motivar e envolver
os alunos, fazendo com que eles compreendam o seu valor e o porque dos eventos e assuntos
abordados. Ao Educador cabe manter, dentro do possível, alguma neutralidade partidária,
sendo simplesmente um clarificador de idéias (REIGOTA, 2004).
35
5 ESCOLAS MUNICIPAIS E O TRABALHO DA SMEC
5.1 Ações e parcerias
A Política Nacional de Educação Ambiental – Lei no 9795/99 estabelece a Educação Ambiental
nas escolas como prática integrada, contínua, permanente e transversal a todas as disciplinas.
Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação
ambiental, incumbindo:
I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir
políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e
melhoria do meio ambiente. (BRASIL, p. 1)
Em Salvador, a Secretaria Municipal da Educação e Cultura (SMEC), no intuito de implementar
uma política ambiental sólida e eficaz, em consonância com a Lei 9795/1999 e no Decreto nº
4281/2002, elaborou em 2005, as Diretrizes Curriculares e o Caderno de Atividades – tendo sido
implementada em 2006 juntamente com o Atlas e a capacitação dos professores. Seus objetivos6:
· Permitir ao ser humano compreender a natureza complexa do meio ambiente,
resultante das interações dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais, culturais,
econômicos, éticos, estéticos, políticos, etc;
· Não deve transformar-se em uma nova disciplina. Deve portanto, buscar um
enfoque inter e transdisciplinar;Afastar-se da pedagogia exclusivamente
informativa. Deve apontar para a resolução de problemas concretos utilizando o
meio ambiente imediato como recurso pedagógico;
· Difundir uma visão sistêmica de mundo, uma visão de integração e holismo;
6
Informações retirada da Apresentação utilizada durante a Capacitação dos professores da Rede Municipal.
Disponível em : http://www.sapo.salvador.ba.gov.br/arq/educacao_arquivos/frame.htm. Acesso em 26.08.2008
36
· Favorecer uma participação responsável e eficaz da população, na concepção e
aplicação das decisões que põem em jogo a qualidade do meio natural, social e
político;Ter como base o pensamento crítico e inovador, promovendo a
transformação e a construção da sociedade;
· Não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a
transformação social;
· Ser um processo contínuo, permanente, tanto dentro quanto fora da escola;
· Examinar as principais questões ambientais do ponto de vista local, regional e
nacional até alcançar uma escala planetária;
· Assumir a valorização da cultura, redução das desigualdades sociais e a defesa da
paz.
A Superintendência do Meio Ambiente (SMA), afirmando estar ciente da necessidade de assumir
essas responsabilidades perante a comunidade escolar, desenvolveu vários projetos de Educação
Ambiental em Salvador, através da Gerência de Educação Ambiental. Ações essas que se
complementavam no intuito de não apenas capacitar e preparar os Educadores do Municipio,
mas dar –lhes referenciais e suporte teórico. Dentre eles:
·
A criação do ATLAS AMBIENTAL infanto-juvenil de Salvador, lançado em março de
2006, nele, a história da cidade e de seus recursos ambientais é abordada de forma lúdica,
viabilizando consultas e reflexões sobre a realidade da cidade. Cerca de 4 mil professores
da rede municipal de ensino receberam o Atlas Ambiental de Salvador e o caderno de
atividades de Educação Ambiental.
·
A criação do Serviço de Apoio Pedagógico Online (SAPO), cujo objetivo é apoiar os
docentes da rede municipal de ensino de Salvador, no desenvolvimento de práticas
pedagógicas relacionadas ao tema transversal Meio Ambiente, através de informações
37
contidas em slides, abordando vários aspectos da questão ambiental por meio de textos,
imagens, fotografias, mapas, gráficos e tabelas, que podem servir de subsídio ao trabalho
do professor e de referência ao estudante para pesquisas, leituras, consultas e reflexões
sobre a temática ambiental.
·
Inauguração - em agosto de 2006 - da Biblioteca Ambiental Padre Francisco Barturen,
em Botelho, Ilha de Maré, visando a difusão de informações que facilitem o acesso e a
democratização das temáticas relativas ao Meio Ambiente de acordo com as
características e necessidades das comunidades onde estiverem inseridas.
·
Em julho de 2006 iniciou-se a Formação em Educação Ambiental, uma capacitação
docente desenvolvida com o intuito de buscar novas possibilidades de avanço no trabalho
pedagógico com os alunos e alunas, contribuindo para a efetivação dos novos rumos
traçados para a Educação no município. Na elaboração de um plano de capacitação de
professores, foi produzido um material voltado para os educadores das Escolas Públicas
Municipais e cursos de capacitação embasados nas Diretrizes Curriculares da Educação
Ambiental.
·
No ano de 2007 - foram formados 120 educadores, beneficiando um total de 3600 da
rede pública municipal-. Neste processo, ao final do Evento, os participantes das escolas
produziram um projeto envolvendo a Educação Ambiental para ser aplicado na escola em
que trabalham.
· Em maio de 2007 realizou-se o I Seminário sobre Agenda 21 nas Escolas Municipais,
com o objetivo de refletir o conceito e a importância da participação de todos na
construção da Agenda 21.
38
A Superintendência do Meio Ambiente (SMA) é uma autarquia7 vinculada à Secretaria
Municipal de Planejamento Urbanismo e Meio Ambiente, que tem por finalidade promover a
política ambiental e o desenvolvimento sustentável no âmbito do município de Salvador. Dentre
as suas gerências está a Gerência de Educação Ambiental e Formação da Consciência Ecológica
(GEACE) cuja finalidade é desenvolver atividades de natureza pedagógica de formação da
consciência na área do meio ambiente através dos seguintes setores: Fomento a Educação
Ambiental Formal e Ações Educativas para a Comunidade e Formação de Multiplicadores.
Capacitar em Educação Ambiental os professores do ensino fundamental, implica
principalmente fazer com que eles vivam, no próprio curso de capacitação, uma
experiência de Educação Ambiental. Ou seja, dar-lhes os instrumentos necessários para
serem os agentes de sua própria formação futura. Para isso é necessário programar o
curso de tal forma que, além dos conhecimentos teóricos a serem ministrados, das
discussões dos conceitos complexos que compõem o arsenal teórico da Educação
Ambiental e dos debates éticos, o próprio curso permita a discussão e a assimilação
prática de metodologias participativas que, posteriormente poderão utilizar na escola.
(MEDINA, p.19, 2001).
Foram desenvolvidas cursos de capacitação em Educação Ambiental com embasamento nas
Diretrizes Curriculares – sendo as inscrições voluntárias – para os Educadores das Escolas
Públicas Municipais. No ano de 2007, 163 escolas foram beneficiadas (44%) com projetos
específicos de Educação Ambiental e 197 escolas (54%) beneficiadas com ações/projetos
parceiros - parceria com Instituições públicas e privadas. Ações da SMEC8 – no que tange
Educação Ambiental – em 2007:
7
Poder absoluto, corporação administrativa que goza de certa autonomia, bastando-se a sí própria. Criado por lei,
com perspectiva jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública,
que requeiram para o seu melhor funcionamento, gestão administrativa e finenceira descentralizada (AMORA,
1997).
8
Material fornecido pela Sra Larissa Silveira, Coordenadora do Núcleo de Meio Ambiente da ASTEC/SMEC em
agosto de 2008.
39
TABELA 1 – Ações da SMEC em parcerias com Instituições Públicas e Privadas
Projeto/ Atividade
Parceiro
Beneficiados
O Futuro da Água
Jornal A TARDE
14 escolas/ 1.400 alunos
Semana do Meio Ambiente
SMA
53 escolas/ 3.180 alunos
I Feira de Saúde Ambiental
Órgãos da PMS/ Fiocruz 500 pessoas
Jorge Amando a Maré
UNIJORGE
Escolas da Ilha de Maré
Oficina de Brinquedos
LIMPURB
150 professores/ 30 escolas
Dia Mundial de Limpeza das
Praias
Jogue Limpo
16 escolas/ 960 alunos
CTC
Sangari Brasil
22 escolas
Semana de C&T
SECT
35 escolas/ 2.100 alunos
Defesa Civil na Escola
CODESAL
4 escolas/ 20 professores
Material fornecido pela Sra Larissa Silveira, Coordenadora do Núcleo de Meio Ambiente da ASTEC/SMEC em agosto de 2008
Os índices expostos são evidências de que não cabe – e nem deve – apenas ao estado e as
Instituições governamentais, a preocupação com o desenvolvimento e implantação de ações que
venham a beneficiar a sociedade e o meio ambiente. Essa inquietação deve ser originar de todas
as instâncias. Vale ressaltar, que em nenhum momento neste trabalho pretendi fazer qualquer tipo
de propaganda política vangloriando nenhuma Instituição Pública, afinal, todas as ações
propostas e praticadas por esses setores, tem por traz uma exigência global, envolvendo os orgãos
40
e agências internacionais – que pressionam governos de países emergentes como o Brasil a
apresentar índices de desenvolvimento na educação, que venham a condizer com sua evolução
econômica.
É preciso reconhecer que durante a minha pesquisa, pude constatar que por trás de todo esse
trabalho – que é obrigação do estado e direito do cidadão – existe um grupo de profissionais
bastante capacitado, comprometido com a
temática
e verdadeiramente empenhado em
multiplicá-la com qualidade.
Conforme capítulos anteriores deste estudo, a preocupação com o meio ambiente se apresentava
de forma dissociada no que diz respeito à relação do estado com as instituições não
governamentais ou grupos sociais. Ainda seguindo esse relato, fica percebido que a preocupação
com os ecossistemas, a àgua, o desmatamento desenfreado e uso dos solos e agrotóxicos, não
eram percebidos, nem trabalhados como um organismo inteiramente interligado. Nas décadas de
1960 até 1980, a preocupação com o meio ambiente parecia ser uma inquietação apenas dos
militantes e movimentos sociais que se apresentavam em oposição ao governo militar.
Atualmente, esses movimentos fazem parte de ações de ONG’s, instituições não governamentais,
Universidades e empresas privadas que, articuladas às políticas sociais e através de parcerias com
os órgãos públicos, visam promover e viabilizar um futuro melhor e sustentável.
Com o apoio e participação direta dessas instituições, são ministradas palestras, cursos de curta
duração, capacitação e requalificação de trabalhadores no desenvolvimento de novas habilidades
e promoção de estratégias que foquem o respeito ao meio ambiente. O apoio das agências e
organismos internacionais como UNESCO e ONU, permitiu esse despertar para novas áreas de
trabalho na educação e na escola. A esse respeito, são importantes as considerações de Reigota
quando avalia os desafios contemporâneos da Educação Ambiental no Brasil, suas
singularidades, dificuldades e influências, assim como apesar de citar o pessimismo de alguns
grupos, mantem em seu diálogo a crença de que, se houver interesse e movimentação política,
41
temos grandes chances de vencer muitas barreiras, mas para isso é preciso a participação de todas
as instâncias e o envolvimento dos movimentos sociais.
Nesse contexto, creio ser cada vez mais importante que todos nós envolvidos com a
educação ambiental nas universidades, institutos de pesquisa, ONGs e instituições
públicas tenhamos claro a importância da competência técnica. Precisamos deixar de
lado as explicações e argumentações ingênuas (embora ricas em capital simbólico) que
são amplamente difundidas no nosso meio. Temos que nos afastar dos argumentos
científicos fast food, que se querem “holísticos” mas, que banalizam e simplificam a
complexidade política e ecológica da educação. Só uma perspectiva transdisciplinar que
alie as contribuições dos diversos saberes, sensibilidades e vivências poderá nos garantir
um mínimo de competência técnica. É necessário pesquisar, estudar, dialogar, ampliar os
nossos argumentos com base no que há de sólido e pertinente na cultura, nos
movimentos sociais e na produção científica contemporânea. É necessário produzir
conhecimentos e intervenções pedagógicas que levem em consideração as
particularidades e singularidades culturais, políticas, sociais e ecológicas. (REIGOTA,
p. 3, 2004)
A implementação plena das diversas possibilidades expostas em documentos como os Parâmetros
Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental, bem como a Lei no
9795/99, vai requerer o interesse e ação de todos:
Governos, Corporações e demais
Organizações. Entretanto, cada um desses coletivos depende de indivíduos – seus líderes,
membros e colaboradores.
[…] o sucesso da luta ecológica hoje depende muito da capacidade dos ecologistas
convencerem a maioria da população, a população mais pobre, de que se trata, não
apenas de limpar os rios, despoluir o ar, reflorestar os campos devastados para vivermos
num planeta melhor num futuro distante. Trata-se de dar uma solução, simultaneamente,
aos problemas ambientais e aos problemas sociais. Os problemas de que trata a ecologia
não afetam apenas o meio ambiente. Afetam o ser mais complexo da natureza que é o ser
humano (GADOTTI, 2005, p.18).
A própria evolução e transformação desses coletivos será efetivada pelo compromisso desses
indivíduos com o bem comum, assim como, com a promoção na mudança de postura com o meio
ambiente e com esse organismo vivo que fazemos parte, o Planeta Terra.
42
A superação do modelo tradicional já enraizado nos costumes e práticas dos professores das
escolas públicas municipais, após um trabalho de capacitação – como o que foi desenvolvido pela
Secretaria Municipal de Salvador – pode ser um obstáculo a ser vencido. A grande preocupação é
saber se existe continuidade desse trabalho, se esses professores, após a capacitação, realmente
tornam-se multiplicadores das propostas discutidas, se colocam em prática os projetos
elaborados,
se conseguem articular com a escola em que trabalha, com sua coordenação
pedagógica e com seus pares e, finalmente, se viabilizam essa proposta no trabalho com seus
alunos, inserindo-a no currículo escolar.
A Educação tradicional, não mais, dá conta de construir no aprendente uma visão crítica, global
e que permita à criança construir hipóteses. A Educação nova, viabiliza essa possibilidade de
contextualizar temas. Dessa forma permite uma aproximação e reflexão mais aprofundada acerca
das dificuldades sociais. Acredita-se na Pedagogia da práxis, como uma Pedagogia
Transformadora, e a globalização pode reforçar essa vertente de uma Educação consistente e de
resultados (GADOTTI, 2000).
43
6 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO E A COMUNIDADE
6.1 Um breve Histórico do Bairro
O bairro Nordeste de Amaralina forma junto com os bairros de Santa Cruz e Vale das Pedrinhas
um grande aglomerado de casas de famílias de classe baixa. Situado próximo às praias de
Amaralina e da Pituba, teve sua ocupação iniciada há mais de cem anos. Desenvolveu-se, em
grande parte, como a invasão de uma área não habitada, vindo a tornar-se – atualmente – um dos
bairros mais populosos da cidade de Salvador. A Escola Municipal Zulmira Torres está
localizada na Rua Bambochê, s/nº, Beco da Cultura no bairro do Nordeste de Amaralina em
Salvador na Bahia.
Segundo professores e funcionários das escolas situadas no local, a rua adotou esse nome, devido
ao número de instituições públicas de ensino que se encontra em um mesmo espaço – são em
torno de seis escolas concentradas na mesma rua. A Escola de Primeiro Grau Professora Zulmira
Torres, foi fundada em 1º de maio de 1980, na Avenida Amaralina, sendo transferida em maio de
1991 para um prédio anexo à Escola Polivalente de Amaralina no atual endereço. Atuando na
àrea de educação hà dezoito anos, em março de 2004, foi municipalizada e, à partir desse
momento, buscou implementar ações que contribuíssem na qualidade do ensino.
Atualmente, devido a municipalização das escolas de ensino básico, a Instituição passou a ser
chamada de Escola Municipal Zulmira Torres. Sua estrutura física é bastante simples, mas bem
organizada, conta com 10 salas de aulas, quadras de esporte, área de recreação, parque infantil e
estacionamento. Tem aproximadamente 500 alunos matriculados, sendo distribuídos no ensino
de 1º ao 5º ano, em dois turnos de trabalho – manhã e tarde – seu corpo discente é caracterizado,
em sua maioria, por crianças carentes que residem no próprio bairro. Sua equipe de educadores
conta com uma Diretora, três Vice-diretores, duas Coordenadoras Pedagógicas, uma Secretária,
dezesseis Docentes e catorze Funcionários de apoio.
44
6.2 Percepções da Fonte de Pesquisa
Com uma apresentação espacial bastante simples, a instituição demonstrou não precisar de
Glamour para apresentar um ensino comprometido com a qualidade.
A Escola Municipal
Zulmira Torres, vem desenvolvendo diversos trabalhos envolvendo a Educação Ambiental,
mesmo antes da participação da Sra. Cristina Gomes – Coordenadora Pedagógica – na
capacitação promovida pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura no final do ano de 2006,
a educação Ambiental já vinha
sendo incorporada como uma prática inovadora, onde
professores, alunos e pais estão envolvidos em atividades interdisciplinares.
A escola promoveu diversos eventos9 desde o primeiro bimestre de 2007. A exemplo da 2ª Feira
de Ciências: O homem e sua relação com o meio ambiente10, que foi tema deste semestre, alunos
entre 7 e 10 anos produziram, criaram e apresentaram seus trabalhos de exposição, canto e
poema, para quem prestigiou a feira. Com a orientação da professora Letícia Carvalho, as turmas
da alfabetização dos turnos da manhã e da tarde confeccionaram um livro, que contava um pouco
das características de alguns animais. Ainda durante o evento, foram expostos maquetes e
cartazes elaborados pelos estudantes em diversos ambientes, incluindo a sala de informática,
onde os discentes participaram – de forma lúdica – de jogos educativos relacionados ao meio
ambiente.
O cultivo de uma horta orgânica na escola foi idealizado no ano de 2005 pela professora Iara
Góes – porém só foi desenvolvida em 2006 juntamente com um projeto envolvendo Meio
Ambiente e saúde – com a ajuda de moradores do bairro a idéia transformou-se em realidade.
O projeto é chamado Horta Educativa11, é dividida em lotes, onde cada turma é responsabilizada
pela conservação de um tipo de hortaliça. As sementes, o adubo e algumas mudas, foram
9
Informações obtidas através de visitas à Escola Municipal Zulmira Torres e entrevistas efetuadas a Diretora Rosana
Chang e a Coordenadora Cristina Gomes em setembro e outubro de 2008.
10
Ver anexo E, figuras 10, 11 e 12.
11
Ver anexos A e B, figuras 1, 2, 3 e 4.
45
adquiridos com recursos do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), criado pela Resolução
nº 12, de 10 de maio de 1995. A horta é também utilizada na merenda escolar, nela são plantadas:
morangos, tomate, alface, coentro, hortelã, salsa, cebolinha, couve, aroeira, capim santo, ervacidreira, boldo, batata doce, cenoura, entre outras hortaliças, favorecendo junto aos educandos, a
prática de bons hábitos alimentares e promovendo um meio de aproximação, interação e parceria
entre familia, aluno e escola.
Segundo a Sra Cristina, a Horta é um ponto a ser continuado, sempre envolvendo as crianças,
muitos alunos levaram a idéia para construção de uma horta em casa, fortalecendo a proposta de
envolvimento entre o aluno e o cuidado com a natureza. Desde que foi criada, a horta tem uma
espécie de guardião, o funcionário Antonio Gonçalves de Lima, que é reponsável em orientar as
crianças, acompanhar o cultivo e a colheita, mantendo a horta viva e saudável. A Diretora afirma
que não existe lucro com a escolha do cultivo, que o que dela é retirado serve exclusivamente aos
integrantes da escola, sejam alunos, funcionários do administrativo ou professores, existem
custos razoáveis, uma vez que trata-se de uma horta orgânica, mas diante da qualidade do
alimento que dela é retirado e do aprendizado que a proposta apresenta, vale a pena manter.
Em dezessete de junho de 2008, sob a escrita e direção do Professor Jorge Borges, houve a estréia
da peça teatral Os três Elementos12. O espetáculo conta a história de três crianças, que juntas são
levadas por um furacão para um futuro distante. Nesse futuro, os personagens se deparam com
um Planeta Terra morto. A história se desenvolve a partir do momento em que os protagonistas
começam uma busca com o intuito de resgatar a vida do planeta, promovendo a proposta do
trabalho coletivo em prol de um bem maior. Todo o elenco é composto por crianças – alunos (as)
– da escola, que atualmente são convidados para apresentar a peça em outras instituições de
ensino. Certamente a percepção de Meio Ambiente – não só das crianças que participam
enquanto atores, mas nos espectadores foi aguçada e ampliada – a partir do momento em que a
Educação Ambiental se integrou nas atividades pedagógicas, os alunos perceberam que eles
podem e devem ser multiplicadores deste respeito a natureza.
12
Ver Anexo C e D, figuras 5, 6, 7 e 8 .
46
A peça Os três elementos, foi uma oportunidade única de interação entre os professores, alunos
da escola, atores e espectadores, visitantes e demais sujeitos que de alguma forma estiveram
envolvidos – inclusive as escolas visitadas nas apresentações. O espetáculo, tornou-se uma
espécie de quebra-gelo – muito eficaz – para abordar o tema Meio Ambiente.
No mês de julho de 2008, foram efetuadas pelo corpo discente e docente, algumas visitações a
parques como o de Pituaçu. Também neste período, a escola recebeu a visita13 do Subsecretário
Municipal de Educação Eliezer Cruz e contou com uma palestra efetuada
pelo Secretário
Municipal da Reparação Sandro Correia, na 3ª Mostra Científica – Meio Ambiente –
Responsabilidade de Todos Nós. Realizada na comemoração da Semana do Meio Ambiente, este
evento marcou o encerramento de uma programação interdiciplinar desenvolvida com o intuito
de aprofundar as questões relativas à preservação da natureza. A escola plantou na área externa,
uma muda de Pau Brasil, simbolizando o momento. Através de uma parceria da Superintendência
de Parques e Jardins com a Secretaria Municipal de Reparação – cerca de 60 mudas de diversas
espécies, entre elas, Pau Brasil, Ipê, Palmeira Imperial e Coqueiro foram doadas a instituição.
Foram muitas, as atividades promovidas pela Escola Municipal Zulmira Torres, explorando a
temática Meio Ambiente. Em cada trabalho elaborado, buscou-se uma forma de envolver os
alunos, as disciplinas e seus conteúdos nesta abordagem. Até em pequenas ações como o recreio
inteligente ou sala nota 1014, havia o empenho em desenvolver nas crianças uma visão crítica
explorando a proposta em atividades simples, criando dessa forma estruturas de compreensão de
mundo e ampliando a sua visão. Segundo as palavras da Coordenadora Cristina Gomes: “Não é
só cantar a natureza, mas falar de costumes – de ética”.
13
14
Ver anexo E – figura 9.
Ações que estimulavam o não desperdicio de alimento, organização da sala e cuidados com o material escolar.
47
Durante a entrevista com a Senhora Mª de Fátima Falcão, Bióloga e Especialista em Gestão
Ambiental – então Diretora da SMA e uma das responsáveis pela elaboração e concepção das
Diretrizes Curriculares de Educação Ambiental – foi possivel perceber como um interesse e
empenho de um corpo docente, são requisitos essenciais no envolvimento de todos. Desta forma,
uma instituição de ensino torna oportuno a concretização de projetos tão singulares. No caso
estudado, pude identificar que a pessoa responsável pela Coordenação Pedagógica da Escola
visitada, assim como o apoio dos demais envolvidos – educadores, funcionários e alunos– foram
fundamentais na aplicação prática das propostas expostas nas Diretrizes Curriculares.
Desenvolver um bom trabalho de educação ambiental, tem como premissa básica o conceito do
consenso e do coletivo. Para Vigotsky, o sujeito não é apenas ativo, mas interpretativo, porque
forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais, um processo que
caminha do plano social para o individual. Para ele é essencial a atuação de todos os membros de
um grupo social em um processo de desenvolvimento (REGO, 1995). Afinal, essa relação que
envolve um diálogo com novas possibilidades ajuda a desenvolver na criança sintonia com o
Meio Ambiente.
48
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante todo o processo de leitura e releitura deste trabalho, considerando o que assisti e
contribuí na escola em que desenvolvi o meu tirocínio, bem como na escola que foi meu objeto
de estudo, pude ampliar as minhas considerações a respeito das atuais tendências da Educação
Ambiental no Brasil e no mundo, mas em especial, pude me aprofundar na difícil realidade das
Escolas Públicas Municipais para desempenhar qualquer atividade que não seja usual e familiar
as suas práticas cotidianas, apesar da Educação Ambiental já ser pautada na Lei.
Tomada como práxis social, a Educação Ambiental deve ser pensada de forma mais abrangente,
jamais isolada de um contexto. A proposta atual, teoricamente, é de acreditar e discutir
possibilidades, sugerindo práticas e viabilizando que os educadores (as) estabeleçam novas
relações e condições de educabilidade a serviço do pensar e do optar para uma ação
transformadora. Assim torna-se inquestionável reconhecer todas as possibilidades de um trabalho
envolvendo Educação Ambiental, como um caminho de aproximação extremamente saudável e
promissor entre aluno, comunidade e escola. O desafio, a meu ver, seria fortalecer a crença de
que tudo é possível, desde que se acredite na parceria professor/aluno.
Grande parte dos teóricos e estudiosos lidos para a produção deste trabalho de conclusão de curso
apresentou uma discussão provocadora que promoveram em mim uma inevitável reflexão crítica
acerca da Educação Ambiental no Brasil. Bem como, viabilizaram uma compreensão mais nítida
dos reflexos da Globalização, das ações políticas e da fragmentação da vida social. Este trabalho
não tem intenção de apresentar apenas críticas acerca da prática educativa ambiental e sua
conotação reducionista, mas buscou em todo momento, compreender o porquê, desta temática
não ser melhor explorada.
49
Foi inevitável estabelecer uma relação entre a escola que visitei durante o meu estudo – Escola
Municipal Zulmira Torres – com a escola em que efetuei o estágio, mesmo não sendo a Escola
Municipal Gersino Coelho, o meu objeto de estudo, foi quase automático comparar atitudes,
sejam essas praticadas pelos alunos ou pelos professores. Pude perceber duas realidades opostas,
mesmo em ambientes que deveriam ser iguais.
Inicialmente, o paralelo aconteceu no intuito de identificar o que motiva um professor de escola
pública a acreditar em seu trabalho e empenhar-se em fazer a diferença. E, atrelado a isso,
observar se a capacitação promovida pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de fato
influenciaria novas e melhores práticas.
Para minha surpresa, quase ao final da conclusão do estágio na Escola Municipal Gersino
Coelho, tomei conhecimento, através da Coordenação Pedagógica que alguns professores da
instituição – dois ou três – participaram da capacitação promovida pela SMEC, porém, nenhum
funcionário da escola, que busquei informações, soube citar, quais os projetos desenvolvidos por
estes na capacitação e, até mesmo, quem foram esses professores. Vale ressaltar que procurei
informações com a diretora, coordenadores e professores – sem êxito algum nessa jornada.
Minha compreensão inicial de que todos acreditam que o esgotamento dos recursos naturais é um
futuro distante e que não deve ser uma preocupação atual, foi reforçada durante esse trabalho. As
pessoas tendem a não se perceberem como células de um organismo vivo, que precisa de
cuidados como qualquer outro. O que me causou alguma preocupação foi a percepção de que a
falta de interesse ou pouco aprofundamento na temática Educação Ambiental ainda faça parte do
cenário escolar. Quando existe algum interesse, muitas vezes não passa do discurso.
Lamentavelmente, a maioria das ações continuam apenas no campo das idéias.
50
Desta forma pude compreender que não basta a teoria, a capacitação, ou mesmo uma estrutura
física favorável para que a Educação Ambiental aconteça. O que reforçou um trabalho primoroso
como o que vem sendo desenvolvido na Escola Municipal Zulmira Torres, está diretamente
relacionado à vontade, diria mesmo ao amor pela profissão e pelo outro. Promover projetos tão
comprometidos com novos caminhos de ensinar, na minha percepção, esta ligada a educadores
que revêem suas práticas diariamente com o intuito de enriquecê-la e de promover um ensino
sólido para construção de um mundo mais justo, consciente do hoje e preparado para o amanhã.
Não pretendi em momento algum desmerecer a capacitação, produção de projetos e todo o rico
material preparado e fornecido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura – afinal foram
estes que fomentaram em mim o interesse nesta abordagem – certamente causou algum impacto
para as instituições que se preocupam e comprometem com o meio ambiente. Porém, pude
concluir que para esses Educadores, a capacitação não foi apenas um acréscimo curricular, mas
sim, somaram e reforçaram o empenho desses profissionais que acreditam que a Educação
Ambiental pode traçar novos rumos na efetivação de ações éticas e promissoras, que visem a
manutenção e qualidade de vida no Planeta.
Através da avaliação do meu objeto de estudo e comparando-o a outras realidades conhecidas
durante o meu tirocínio, tornou-se inevitável a decepção e o encantamento com ações
presenciadas nas leituras das instituições citadas no corpo deste estudo. Fica a percepção, de que
é possível desenvolver um trabalho que promova e amplie a visão crítica e ética, a partir de ações
simples e perfeitamente aplicáveis, desde que se queira fazê-lo.
51
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TRISTÃO, Martha. TECENDO OS FIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: o subjetivo e o
coletivo, o pensado e o vivido. São Paulo: Educação e Pesquisa. 2005.
55
ANEXOS
56
ANEXO A
Figura 1 – espaço vazio nos fundos do Zulmira Torres – antes da horta.
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2006
Figura 2 – Preparo do terreno – com ajuda dos funcionários
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2006
57
ANEXO B
Figura 3 – Inauguração da Horta
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2007
Figura 4 – Inauguração da Horta
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2007
58
ANEXO C
Figura 5 – Alunos da escola Municipal Zulmira Torres, na Estréia da
Peça Teatral Os 3 elementos
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2008
Figura 6 – Alunos da escola Municipal Zulmira Torres, na Escola Moranguinho
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2008
59
ANEXO D
Figura 7 e 8 – Grupo de Teatro do Zulmira Torres apresenta a Peça – Os 3 elementos – no
X Festival Maristas de Literaura e Artes
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2008
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2008
60
ANEXO E
Figura 9 – Diretora Rosana Chang, plantio de Pau-Brasil na visita do Subsecretário Municipal de
Educação Eliezer Cruz e do Secretário Municipal da Reparação Sandro Correia, na 3ª Mostra
Científica – Meio Ambiente – Responsabilidade de Todos Nós
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2008
Figura 10 – Feira de Ciências: O homem e sua relação com o meio ambiente
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2007
61
ANEXO F
Figuras 11 e 12 – Feira de Ciências: O homem e sua relação com o meio ambiente
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2007
Fonte : Arquivo fotográfico da Escola M. Zulmira Torres, 2007
62
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educação ambiental: um olhar sobre a práxis nas escolas