Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2013, v. 17, n. 17, p. 110 –114
“A POESIA DE CADA DIA”:
TEORIA DA POESIA E SUA APLICAÇÃO DIDÁTICA
COSTA, Rafael Ramiro Monteiro1
SANTOS, Marcelo2
Palavras-chave: Poesia. Aprendizagem. Teoria Literária
Introdução
A proposta do referido projeto é observar o convívio do texto literário e a
escola, averiguando a dimensão que a poesia e o poema atingem quando o assunto é
proporcionar o crescimento intelectual dos alunos.
A pesquisa propõe, através da descrição e do estabelecimento de diretrizes,
ensaios e tentativas de uma análise pedagógica sobre o assunto, uma reflexão de
possíveis práticas que poderiam ser adaptadas à necessidade da leitura da poesia
brasileira quando o assunto é proporcionar ao aluno a interpretação deste instrumento
que permite ao leitor enxergar as sutilezas de cunho imaginário e comunicacional.
Procedimentos Metodológicos
Oswald de Andrade dizia que aprendeu com seu filho de 10 anos que poesia é
o descobrimento das coisas que nunca vira antes. Porém, as questões relativas à
discussão sobre o conceito de poema e de seus termos afins encontram sua trajetória
pontuada por outros autores como: Roberto Acízelo de Souza, Salete de Almeida
Cara, Vitor Manuel de Aguiar e Silva, Pedro Lyra e Renê Wellek e Austin Warren.
Tida como parte integrante e importante da pesquisa, a busca teórica construiu
três eixos principais de avaliação da poesia: 1) as correntes textualistas, englobando
formalismo e estruturalismo, que, de alguma forma, tomam o conceito de poético
1
Acadêmico Bolsista PIBIC&T/UCB (Vigência: Set./2012 a Set./2013). Grupo de Pesquisa Núcleo de
Estudos da Linguagem, Educação e Cultura (Nelec) da Universidade Castelo Branco. Curso de
Formação de Professores - Letras (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Orientador. Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos da Linguagem, Educação e Cultura (Nelec) da
Universidade Castelo Branco. Curso de Formação de Professores - Letras (UCB), Campus Realengo,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
como definidor do literário, seja na literariedade formalista ou na função poética
jakobsoniana. 2) No eixo contextualista, observamos as implicações entre poesia e as
formas de circulação, produção e leitura; 3) Como último eixo, amparamo-nos em
leituras que preparam metodologicamente o ensino de literatura e o uso da poesia em
sala de aula, sobretudo com orientações para o letramento literário.
Galgando as revisões bibliográficas, todas registradas em fichas, o próximo
passo guiou-se por leituras metodológicas para um melhor aproveitamento do texto
poético e seus benefícios dentro de sala de aula. Essas leituras possibilitaram ampliar
o olhar para a observação nos estágios realizados no âmbito da formação na área de
Letras. Logo, foram levadas em consideração as propostas mencionadas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais para Língua Portuguesa (PCN), para o ensino de
literatura, e também o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), que reúne os
principais materiais didáticos que abordam o ensino de literatura e que contemplam o
uso da poesia dentro da sala de aula. Percorrer esses documentos que norteiam o
ensino de Língua Portuguesa foi de fundamental importância para o bom andamento
do próximo passo, que consiste na observação realizada no estágio e perceber, assim,
se o texto literário estava sendo utilizado de maneira correta dentro da sala de aula, se
ele está sendo bem explorado.
Análise de Dados
A partir do levantamento teórico, foi possível configurar orientações sobre a
poesia que contribuem para nortear a prática docente. Pedro Lyra, por exemplo, na
tentativa de conceituação da poesia, que pode ser vista em Conceito de poesia (1986),
afirma que poema está relacionado ao texto escrito, e a poesia, por sua vez, é situada
de modo problemático em dois grupos conceituais: ora como uma pura e complexa
substância imaterial, ora como condição indefinida e absorvente atividade humana, o
estado em que o indivíduo se coloca na tentativa de captação, apreensão e resgate
dessa substância no espaço abstrato das palavras (p. 7-8). Salete de Almeida Cara
(1988) ressalta que o lirismo, anteriormente vinculado a um gênero, na produção
literária moderna, está demolindo, todo o tempo, os modelos homogêneos e
classificáveis em esquemas gerais (p. 67).
O PCN (1998) defende que o texto literário rompe com os aspectos meramente
gramaticais e reconhece que este tipo de texto permite formar leitores competentes,
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que são capazes de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito,
elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e seus conhecimentos
prévios ou entre o texto e outros textos já lidos.
O PNLD vem reforçar a importância do texto literário quando usado como
fonte de mediação de comunicação. O documento ressalta que a utilização desse texto
em sala de aula funciona principalmente para a formação de um leitor, e faz também
com que este aluno seja o principal agente na construção de conhecimentos
específicos. Percebe-se, então, que a presença dos textos literários está previsto como
um dos objetivos centrais do ensino de Língua Portuguesa.
Ampliando as discussões, o estágio possibilitou engendrar mais dados
importantes e relevantes para pesquisa. As observações foram realizadas nas turmas
do Ensino Médio em escolas da Zona Oeste do Rio de Janeiro – RJ, com mais
exatidão, no bairro de Realengo. Essa observação ocorreu nas aulas de literatura do 2°
ano do Ensino Médio. A escola apoia-se sobre as apostilas do SAE que contemplam o
ensino de literatura e o uso do poema de maneira normativa, muito subordinada às
regras gramaticais da Língua Portuguesa, há poucos trabalhos sustentados com o texto
poético. Tendo isso em vista, os professores pouco utilizam o material, levam um
material próprio que, infelizmente, não contempla o uso do texto literário. As aulas
baseiam-se meramente na memorização de características de uma determinada escola
literária e seus principais autores. Contudo, existe um diferencial na instituição que
está mais voltada para relação ideal entre a escola e o texto literário. Vale ressaltar o
trabalho isolado do professor regente do estágio que criou um concurso de poesias. O
trabalho foi tão bem recebido pelos alunos que gerou em um livro reunindo as
melhores, o livro foi intitulado como Conta-gotas. Foi essa experiência que baseou a
contribuição que objetivou pensar a obra de Cora Coralina em uma perspectiva
pedagógica, particularmente o poema “Eu voltarei”. Foi levada em consideração a
oralidade que é uma marca da poetisa, não como desvio, mas como estilização,
oralidade, que é prevista nos PCNs. A escolha da poetisa ocorreu pelo fato da
proximidade com a maioria dos alunos. De origem humilde, a tentativa era mostrar
que o eu poético na verdade agrupa vários eus de vida pacata e simples, conforme nos
anuncia Adorno (2003) na observação do eu poético como eu universal.
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Toda esta análise serviu de reflexão do que poderia ser feito, do que poderia
ser mudado, na tentativa de oferecer uma utilização significativa do texto poético para
os alunos.
Discussão de resultados
Em relação a tudo que foi observado e discutido, fica evidente que é necessária
uma intervenção na maneira em que o texto literário é utilizado dentro de sala de aula.
Como uma maneira de manobrar a situação do texto literário dentro da sala de aula, é
necessário que o professor intervenha trazendo textos em relação ao que está
acontecendo no momento, e fazer com que esse aluno seja instigado a refletir como a
literatura pensa sobre o tema. Que esse texto possa servir de associação a outros
textos que o ouvinte tenha presenciado em sua vida, além de relacionar os temas ao
seu cotidiano, a sua realidade. A infinita possibilidade de interpretação que esse texto
pode desencadear esse olhar singular que cada leitor pode ter é o que o torna dono da
leitura, um leitor proficiente. Essa proposta está intimamente ligada à ideia de
Antônio Candido (1985), em Carrossel, de que o ensino e o uso do texto poético
atualmente contemplam apenas o sentido (rima, ritmo, pontuação, gramática,
mecanismos normativos) e afastam os alunos de uma real experiência de significação
(avaliação dentro do texto). Em nenhum momento há a preocupação na maneira que o
aluno irá receber, tampouco em fornecer uma significação.
Outro fator que é deveras grave, e que poderia ser revisto nessa relação texto
poético e escola, é a maneira que o mesmo é utilizado nos livros didáticos. A escolha
de um material didático que não valorize meramente o aspecto cronológico, focando o
aspecto histórico, características de estilo de época, afastando-se cada vez mais de
uma leitura crítica do texto literário. São imensuráveis os estragos feitos ao utilizar o
texto literário apenas para uma análise gramatical, estilísticas, em análises sintáticas
ou apenas para observar o vocabulário (cf. Lajolo, 1998). O resultado dessa prática
enfadonha fornece uma experiência mínima com o texto.
Os resultados obtidos possibilitaram ampliar a incansável tentativa do ensino
atual de teorizar a poesia. Yves Stalloni (2001) agrega para nossa discussão o fato de
que a poética enquanto adjetivo não limita a obra, enquanto substantivo só serve para
classificar. É nessa perspectiva que se explica o primeiro sentido da palavra “poética”
(enquanto substantivo ou adjetivo, este último variável em gênero), referência
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etimológica que desencoraja, de uma vez por todas, qualquer tentativa para isolar, a
partir dos modelos antigos, um “gênero poético”. O substantivo poética, escolhido por
Aristóteles como título para o seu tratado (ou para aquilo que não passa de um esboço
disso), serve-lhe para designar globalmente a teoria dos gêneros literários e a teoria do
discurso. Essa reorientação de gênero torna-se crucial para se repensar a fomentação
de uma leitura de poesia que a estenda como manifestação da linguagem e não apenas
como forma presa à história literária ou a uma prática erudita da língua.
Considerações finais
Através da pesquisa realizada, foi possível identificar que deve ser feita uma
revisão nos documentos que auxiliam na construção de uma metodologia de ensino. E
junto a isso, na maneira que o texto poético é visto pelos professores e escola.
Também deve ser refeita uma revisão nos materiais didáticos. Em síntese, a teoria da
poesia, incorporada à prática, aponta para uma poesia livre, valorizando as
especificidades do texto poético, o que fornecerá, acreditamos, subsídios necessários
para formação de leitores proficientes.
Referências
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º ciclos do Ensino
Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília/DF: MEC/SEF, 1998.
CARA, Salete de Almeida. A poesia Lírica. 4 ed. São Paulo: Ática, 1988.
CANDIDO, Antônio. Na sala de aula. 8 ed. São Paulo: Ática, 1985.
GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS. PNLD 2010: Letramento e Alfabetização/Língua
Portuguesa. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2009.
JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2003.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática,
1998.
LYRA, Pedro. Conceito de poesia. São Paulo: Ática, 1986
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. 10 ed. São Paulo: Ática, 2007.
STALLONI, Yves. Os gêneros Literários. Rio de Janeiro: Difel, 2001.
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