PAINEL A DRAMATICIDADE DO TEXTO LITERÁRIO Elton Pachêco1 Sasha Weber2 Ona Carla3 Luís Ferreira4 Universidade Federal do Maranhão Resumo O presente texto mostra uma breve evolução da literatura ao longo da história, de sua importância para os povos antigos, destacando como ocorreram essas mudanças, conceituando a narrativa a priori pelos gregos e sua sistematização a partir do pensamento de Hegel. Detalhando os processos de transposição do texto literário para o texto dramático. PALAVRAS-CHAVE: dramaticidade, literatura, ação. Desde o início dos tempos os fatos são narrados por alguém que tinha a capacidade de observar os fatos e repassá-los a quem os ouvisse. Com o passar dos tempos, as histórias narradas foram se complicando e a figura do narrador foi se ocultando atrás de outros narradores ou de fatos narrados, desenvolvendo assim certo romance. Velando e desvelando narrador e personagem, criando assim uma fusão que é apresentada ao leitor. Segundo Ligia Leite, quem narra, narra o que viu, o que viveu, o que testemunhou, mas também o que imaginou, o que sonhou, o que desejou. Por isso, NARRAÇÃO e FICÇÃO nascem praticamente nascem juntas (LEITE, 1993, p.6). Platão e Aristóteles iniciam no Ocidente, uma discussão sobre qual a relação entre o modo de narrar, a representação da realidade e os efeitos que essa relação causa nos ouvintes e/ou leitores. E o próprio Platão na sua obra A república, afirma que o ideal num discurso longo seria alternar IMITAÇÃO e NARRAÇÃO, imitando diretamente ações, tipos e gestos nobres. Enquanto que para Aristóteles, a imitação é uma forma de conhecer, sendo que essa imitação diferencia o homem dos demais animais e lhe dá prazer. 1 Ator, dançarino, graduando do 4º período de Licenciatura em Teatro - UFMA Atriz, graduanda do 4º período de Licenciatura em Teatro - UFMA 3 Atriz, iluminadora, graduanda do 6º período de Licenciatura em Teatro - UFMA 4 Ator, bailarino, graduando do 4º período de Licenciatura em História - UFMA 2 Na Alemanha, embora os germânicos possuírem uma literatura de tradição oral, não houve um desenvolvimento da literatura escrita muito apurada, sendo que o primeiro documento dos cantos sagrados e ritualísticos das tribos germânicas foi escrito em latim pelo historiador romano Tácito. Devido a esse fraco desenvolvimento literário, a escrita germânica mais antiga, ou seja, os caracteres rúnicos, foram substituídos, no período da cristianização, por caracteres desenvolvidos a partir do alfabeto greco-romano, o que ocasionou como primeiro documento germânico da cristandade, a tradução da bíblia para o gótico, realizada no século IV. As primeiras manifestações literárias em língua alemã escrita, ou seja, no antigo alto-alemão, datam da época de Carlos Magno, que convertia os povos conquistados, delegando ao clero a incumbência de traduzir e divulgar os textos religiosos mais importantes para a linguagem do povo, dando assim, o primeiro passo para a implantação de uma cultura alemã escrita. Mas com o passar do tempo, em 843 o extenso império de Carlos Magno começa a perder a unidade, fazendo com que a França e a Alemanha passem a ter histórias distintas e nos séculos XII e XIII a literatura não é mais restrita a igreja, mas sim a cultura feudal, centralizada nas cortes. Platão e Aristóteles foram sucessivamente retomados, traduzidos, imitados e diluídos pela retórica e poética ao longo da história, mas hoje os lemos de acordo com uma obra que os sistematizou, ou seja, a Estética, de Hegel. Que dividiu os gêneros em épico, lírico e dramático, que caracterizou o primeiro como objetivo, o segundo como subjetivo e o terceiro como uma síntese dos outros dois, objetivo-subjetivo. Para entendermos melhor essa divisão, podemos dizer que a poesia épica surge da relação dos homens com os deuses, em que o poeta deixa evoluir livremente sem sua interferência. Já a poesia lírica trata da alma agitada por sentimentos, e por fim o dramático fala de acontecimentos com expressões de interioridade. Hegel, após estudar o desenvolvimento histórico da EPOPÉIA, tenta caracterizála como uma “totalidade unitária”, para depois vê-la se transformar no ROMANCE, que ele chama de “epopéia burguesa moderna”. O Romance possui como tema central o conflito entre “a poesia do coração” e a “prosa das circunstâncias”. Lubbock distingue a apresentação como cênica ou panorâmica, sendo que o tratamento dado pode se dramático, pictórico ou pictórico-dramático. É dramático quando a apresentação é feita pela cena, é pictórico quando predomina o sumário, e é pictóricodramático, quando há uma combinação de cena e sumário. Para Jean Poillon existe três possibilidades na relação narrador-personagem: a VISÃO COM, onde o narrador limita-se a sabe da própria personagem; a VISÃO POR TRÁS, onde o narrador domina toda a vida do personagem e o seu destino; a VISÃO DE FORA, o narrador limita-se a descrever os acontecimentos, falando do exterior. Ao trabalhar o texto literário, o encenador encontra uma grande liberdade de manipulação da ficção, explorando fragmentos que dão acesso a inesperadas zonas de significados no campo da teatralidade. No Brasil temos Antunes Filho como pioneiro nesse processo de extrair teatro da literatura, com o seu lendário Macunaíma. Ao iniciarmos esse trabalho devemos delimitar o campo de investigação, escolhendo uma parte da obra que nos ofereça um material abundante e relevante. Se possível uma produção artística de nosso conhecimento, pois nossas criações para a cena devem ser estudadas enquanto manifestações de um movimento, que vê no jogo interativo entre texto literário e texto cênico, uma maneira de repensar a invenção dramatúrgica e cênica. Na adaptação tradicional é feita a eliminação de passagens narrativas que não podem se converter em signos visuais de cena, ou seja, cenário, figurino, adereços, iluminação e maquilagem. São suprimidos os textos introspectivos, por se achar que são necessários apenas como subtextos que ajudarão o ator, e os comentários reflexivos deverão transparecer implicitamente na encenação. Há necessidade de cortes que visem reduzir o volume do texto de acordo com o evento teatral, afinal a capacidade de absorção de um expectador de teatro, é menor do quê de um leitor de romance, que pode interromper e retomar a leitura de acordo com a sua vontade. Sendo que a voz autoral deve ser cuidadosamente dosada na composição da obra, cabendo ao ator narrador exercitar outro tipo de linguagem para que esta chegue ao público de maneira eficiente, ou seja, ele precisa estimular a imaginação, despertando emoção, convidando a reflexão. Deve projetar-se para fora do palco, seu corpo, olhar e voz devem a justa-se a essa nova função, pois boa parte do trabalho de teatralização de uma narrativa literária, consiste na preparação do ator. Ao passar para o teatro uma obra literária, esta se enriquece com uma liberdade de múltiplos recursos, onde o teatro oferece à palavra do escritor uma oportunidade de materializá-la no palco, direcionando-a a novos ouvidos, envolvendo-nos em uma magia que só o teatro nos oferece. A ação dramática é um choque contínuo entre personagens, onde o drama significa fazer, agir, portando, ação e personagens são os fundamentos do teatro. Na ação dramática só existe o tempo presente, os personagens que participam da ação estão sempre num estado de “eu estou fazendo” e nunca “eu fiz”. É importante entender a diferença entre ação dramática e ação física que o ator executa, ou seja, a ação física é uma maneira que o ator ou diretor ilustra para mostrar a ação dramática da melhor maneira possível. E toda ação é recíproca, pois estimula uma reação do público, e essas ações são divididas em atos. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo (ou A polêmica em torno da ilusão). São Paulo: Ed. Ática,1993. HEISE, Eloá;ROHL,Ruth. História da literatura alemã. São Paulo: ed. Ática. NUNES, Luiz Artur. Do livro para o palco: formas de interação entre o épico literário e o teatral. O percevejo. Revista de teatro crítica e estética. Ano 8. N. 9. P. 39. UNIRIO, 2000.