Serviço Público Federal Universidade Federal do Pará Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE ------/UFPA APLICAÇÃO 24 de outubro de 2010 Complexo Vadião (campus UFPA-Belém) Alexandre Moraes LÍNGUA PORTUGUESA 5 de dezembro de 2010 LEIA COM MUITA ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES SEGUINTES. Este Boletim de Questões contém 20 questões de múltipla escolha. Cada questão apresenta 5 alternativas identificadas por (A), (B), (C), (D) e (E), sendo que apenas uma responde corretamente à questão. Confira se, além deste boletim, você recebeu o Cartão-Resposta, destinado à marcação das respostas das questões da parte objetiva, e o Formulário de Dissertação (com 5 laudas pautadas) destinado à transcrição do texto definitivo da parte dissertativa. Verifique se o seu nome e o número de sua inscrição conferem com os dados contidos no Cartão-Resposta e no Formulário de Dissertação. Em caso de divergência, notifique imediatamente o fiscal de sala. A marcação do Cartão-Resposta e a transcrição do texto definitivo da parte dissertativa no Formulário de Dissertação devem ser feitas com caneta esferográfica de tinta preta ou azul. O Cartão-Resposta é o único documento considerado para a correção da parte objetiva e a parte pautada do Formulário de Dissertação, da parte dissertativa. Este boletim deve ser usado apenas como rascunho. O tempo disponível para esta prova é de cinco horas, com início às 8:20 horas e término às 13:20 horas, observado o horário de Belém/PA. Ao término da prova, devolva este Boletim de Questões, o Cartão-Resposta e as 5 laudas do Formulário de Dissertação (mesmo as não utilizadas) ao fiscal de sala. Edital n.º 224/2010 – EA/UFPA BOLETIM DE QUESTÕES NOME DO(A) CANDIDATO(A) N.º DE INSCRIÇÃO Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO MARQUE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA NAS QUESTÕES DE 1 A 20. PARTE OBJETIVA (C) 1 As concepções de linguagem, relacionadas ao ensino da Língua Portuguesa, têm sido abordadas por diversos autores. Para Geraldi (1984), há uma questão prévia no processo ensino-aprendizagem “para que ensinamos o que ensinamos?” e sua correlata “para que as crianças aprendem o que ensinamos?” Portanto, admitindo-se a articulação entre uma concepção de linguagem e sua correlação com a postura educacional, a concepção mais adequada à proposta atual de ensino da Língua Portuguesa é o uso da linguagem como (A) (B) (C) (D) (E) (D) (E) expressão do pensamento, o que determina o domínio de regras a serem seguidas para a organização lógica desse pensamento. instrumento de comunicação, em que um conjunto de signos se combina para transmitir uma mensagem. processo interacional pelo qual o indivíduo interage dialogicamente no contexto social. sistema normativo humano, que centra o uso da língua nas normas consagradas pelos bons escritores. princípio que define os argumentos de diferentes origens e determina os usos linguísticos de natureza prescritiva. Leia o texto abaixo para responder às questões de 4 a 6. Os mistérios da natureza “Meu nome é Raimundo... Então pelo que eu sei que a curupira é um bicho que vive no mato, não é? E a mãe d’água ela vive no rio, né? Ela parece uma mulher de cabelos grandes em cima de uma tábua, ela aparece meio-dia, ela sempre aparece no igarapé. E a matintaperera é formada daquelas bruxas que fazem feitiço, e que viram feiticeira e elas viram matintaperera, e elas fazem meia-noite elas apitam, né? “Fite matintaperera!” Aí, a gente oferece tabaco pra ela, elas vem de manhã e a gente conhece qual é a pessoa que virou matintaperera naquela noite. E é só isso que eu tenho pra dizer”. 2 Quanto à relação língua escrita e língua oral, é correto afirmar que (A) (B) (C) (D) (E) (Narrativa do Acervo IFNOPAP/UFPA, Abaetetuba, 1994) a uniformidade lexical é um critério preponderante no uso da língua escrita. o plano sintático se restringe à língua escrita, enquanto o fonético à oral. a língua escrita é inegavelmente formal, enquanto a falada é informal. as variedades da língua escrita apresentam menor regularidade e maior formalidade que a língua falada. cada uma apresenta um conjunto próprio de variedades de graus de formalidade. 4 De acordo com a abordagem da Semântica Argumentativa, o locutor faz uso, no ato de argumentar, de certos elementos linguísticos, denominados de operadores argumentativos, responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os em textos e determinando a sua orientação discursiva. Em relação ao contexto de produção da narrativa, o enunciado cujo termo destacado é um operador progressivo de continuidade é (A) (B) (C) (D) (E) 3 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o objetivo do ensino da Língua Portuguesa deve, prioritariamente, enfatizar (A) (B) o desenvolvimento da competência comunicativa dos usuários da língua (falante, ouvinte, leitor), focado na progressiva capacidade de realizar a adequação do ato verbal às situações de interação. a substituição de padrões de atividade linguística, com a finalidade de interferir nas habilidades linguísticas existentes do aluno. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA a descrição da variedade culta e formal da língua, transformando os fatos nela observados em leis de uso da língua, haja vista a necessidade de o falante conhecer a estrutura da língua de que se utiliza para melhor atuar em sociedade. a capacidade de análise sistemática dos fatos e fenômenos linguísticos com que o aluno se depara cotidianamente. o ensino de língua em sua variedade escrita, em sua estrutura e funcionamento, em sua formação e função, haja vista o caráter maleador da língua como ato social. 2 “Então pelo que eu sei [...]” “Aí, a gente oferece tabaco pra ela [...]” “[...] ela aparece meio-dia”. “E a mãe d’água ela vive no rio, né?” “[...] matintapereira é formada daquelas bruxas [...]” Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO Leia o texto a seguir para responder às questões de 7 a 10. 5 Considerando o texto “Os mistérios da natureza” como objeto de aula de Língua Portuguesa, é correto afirmar: (A) (B) (C) (D) (E) 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 O texto é adequado apenas à prática da leitura oralizada, a fim de o professor conferir se o aluno sabe ler; fator que dinamiza a compreensão textual. A utilização do referido texto não satisfaz à variação linguística valorizada no ensino da Língua Portuguesa, uma vez que o aluno ainda não domina a norma urbana de prestígio. No que tange à leitura, o texto em questão se enquadra entre aqueles com que o aluno necessita estar em contato, para dinamizar sua capacidade de leitura, no diálogo autor/leitor via texto, e a construção de novas categorias que se correlacionam com o mundo vivido. No que diz respeito à prática do professor, não lhe caberia, no processo de leitura, indagar sobre esse texto, para excitar a reflexão e a argumentação dos discentes, uma vez que o referido texto é um todo significativo. Concernente à relação autor e leitor, a utilização do texto em questão é pertinente, pois o leitor percebe facilmente os efeitos de sentido expressos pelas “pistas” fornecidas pelo autor, o que possibilita uma única e adequada compreensão/interpretação do texto. Parabéns ao promotor do Ministério Público de São Paulo, dr. Maurício Ribeiro Lopes, pela defesa da moralidade no âmbito do serviço público e pelo esclarecimento à opinião pública brasileira da suposta condição de analfabetismo do Tiririca, que pode ter cometido “fraude gravíssima”, ao declarar à Justiça Eleitoral que sabia ler e escrever. Verdadeira calamidade neste país é você estudar a vida toda, exaurir, quase ao limite, seus recursos físicos e financeiros. Correr atrás de formação condigna. Ralar noites e noites adentro estudando para concursos. Depois de passar e tomar posse, verificar, estupefato, os apaniguados, apadrinhados políticos, parentes e amigos dos parentes, todos aboletados no serviço público, colocados pela "janela" e lá, instalados com soberba e prepotência, graças aos padrinhos que os garantem nessa posição. Cancro histórico a minar todas nossas instituições em prejuízo da qualidade nos serviços de atendimento ao público em geral. Exemplos como o dr. Maurício dão-nos esperanças de que as coisas, pouco a pouco, mudem e sobrevenha a moralidade no serviço público brasileiro, em todos os poderes e em todos os níveis. (Painel do Leitor, Folha online, 08/10/2010, acesso em 20/10/10. Texto adaptado) 6 (A) (B) (C) (D) (E) Do ponto de vista sociolinguístico, a narrativa 7 A língua, quando tratada em seu aspecto discursivo e enunciativo, é vista como atividade social e interativa da linguagem. Em relação à funcionalidade do gênero Carta de Leitor, podemos afirmar que fornece dados que podem servir para análises contrastivas entre as variedades faladas por minorias e a variedade de prestígio na sociedade. apresenta traços de oralidade e grau de dependência contextual comprometedores em relação à competência comunicativa e à aquisição da norma urbana de prestígio estudada na escola. possibilita a realização de uma proposta de estudo sociolinguístico em sua vertente etnográfica em detrimento às variantes linguísticas. restringe-se à variação regional, não sendo possível correlacionar os traços discursivos de oralidade às regras variáveis de menor prestígio da língua. centra-se em circunstâncias interacionais que não favorecem a mudança de estilo. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA (A) (B) (C) (D) (E) 3 a persuasão foi trabalhada considerando somente o interlocutor imediato, sem levar em conta o público leitor do veículo de comunicação. o ponto de vista do locutor desconsidera o contexto histórico, social, cultural e ideológico do interlocutor. o fortalecimento do poder midiático é negado por meio do reconhecimento da pluralidade e da divergência de opiniões. o propósito discursivo do texto é mostrar o posicionamento do interlocutor frente a um fato vivenciado, numa relação de troca e colaboração, na sociedade em que vive. os recursos linguísticos que expressam a interlocução no texto implicam um destinatário real, independentemente do todo do enunciado concreto. Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO O correto está em 8 O enunciado que revela o posicionamento inclusivo do dr. Maurício Ribeiro em relação à sua responsabilidade social está em (A) (B) (C) (D) (E) (A) (B) (C) (D) (E) “Parabéns ao promotor do Ministério Público de São Paulo, dr. Maurício Ribeiro [...]” “[...] dão-nos esperanças de que as coisas”. “[...] suposta condição de analfabetismo do Tiririca”. “correr atrás de formação condigna”. “[...] graças aos padrinhos que os garantem nessa posição”. 11 Os historiadores Óscar Lopes e Antônio José Saraiva, em História da literatura portuguesa, destacam o fato de que Camões atingiu uma maestria no verso que deixa para trás os seus antecessores em redondilha ou em decassílabo. A arte com que narra uma curta história (como em Sete anos de pastor Jacob servia), ou estiliza o discurso interior (como na canção Vinde cá ou nas redondilhas Sobre os rios), ou desenvolve musicalmente, como que sem discurso, um tema tradicional (voltas ao mote Saudade minha), ou discorre de modo reflexivo (Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades), faz de Camões, pela diversidade do registro, pelo poder de síntese, pela fluência, pela adequação exata a um sentir que se está pensando ou a um pensar que se está sentindo, o maior poeta português antes de Fernando Pessoa. 9 Considere o que diz Ingedore Koch na passagem a seguir. “A referenciação constitui uma atividade discursiva. O sujeito, por ocasião da interação verbal, opera sobre o material linguístico que tem à sua disposição, operando escolhas significativas para representar estados de coisas, com vistas à concretização de sua proposta de sentido, isto é, os processos de referenciação são escolhas do sujeito em função de um querer-dizer”. (Koch, 2006, p.61) Com base no que diz a autora, é correto afirmar que, no trecho: “[...] cancro histórico a minar todas nossas instituições em prejuízo da qualidade nos serviços de atendimento ao público em geral” (linha 18), a estratégia de referenciação mobilizada para instaurar o objeto de discurso destacado foi (A) (B) (C) (D) (E) O texto acima pode desdobrar-se em algumas considerações sobre a lírica camoniana, entre as quais se pode afirmar como verdadeira: (A) o encadeamento, pelo uso de conector que estabelece relação discursivo-argumentativa. o hiperônimo, por este termo colocar em cadeia segmentos que podem ser equivalentes, o que garante a continuidade do texto. a anáfora associativa, por este termo não estabelecer referência de identidade lexical ou semântica com o termo antecedente. a catáfora, pelo fato de este termo preceder o termo a que se refere e a ele dar sentido. o encapsulamento, por este termo rotular o segmento antecedente, o que contribui para a progressão textual. (B) (C) 10 Em relação à progressão textual, considere os enunciados destacados e suas respectivas assertivas I. II. III. IV. (D) “[...] e lá, instalados com soberba e prepotência,” (l.16) – o locativo tem a função de fazer progredir referencialmente o texto. “[...] depois de passar e tomar posse [...]” (l. 12 e 13) – o termo indica uma relação causal. “[...] todas nossas instituições [...] (l. 19)” – pertence a um mesmo campo lexical da expressão “serviço público”, numa referência cognitiva que mantém o tópico discursivo. “[...] todos aboletados no serviço público [...]” (l. 15) – o termo destacado estabelece uma relação de antonímia com termos antecedentes. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA I e II, somente. III e IV, somente. I e III, somente. I, II e III. II e III, somente. (E) 4 O poeta português abrange diversas correntes artísticas e ideológicas do século XVI em Portugal e sua obra multifacetada foi elaborada sobre uma experiência pessoal múltipla, que deu forma lapidar e definitiva a um conjunto de ideias, valores e tópicos característicos de sua época. Camões soube realizar a síntese entre a tradição literária portuguesa peninsular e as inovações introduzidas pelos italianizantes. Se não foi o melhor poeta português da escola petrarquista, foi o mais acabado artífice da escola do Cancioneiro Geral, na redondilha e no mote glosado. A poesia camoniana manifesta-se em mais alto nível na canção, forma a que deu uma característica muito sua, deixando de aproveitar todos os materiais da escola petrarquista italiana, espanhola e portuguesa. Ao observar as tensões fundamentais da lírica de Camões, descobre-se que o poeta articulou longa e variada experiência em termos filosóficos e religiosos correntes na época, mas em determinado momento, revelou o desajustamento entre os ideais de formação social, cultural, literária e essa mesma experiência. A poesia lírica de Camões apresenta-se marcada por uma dualidade: ora são textos de nítida herança da poesia portuguesa tradicional, inclusive escritos em redondilhas; ora são poemas perfeitamente enquadrados no estilo novo do Renascimento. Deve-se concluir, então, que Camões conseguiu isolar essas influências, elaborando uma obra típica do século XVI. Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO 12 13 Leia o seguinte soneto, que é considerado um excelente exemplo de poema conceptista. Leia o seguinte soneto de Luís Vaz de Camões: Alegres campos, verdes arvoredos, Claras e frescas águas de cristal, Que em vós os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos; A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado, da vossa alta piedade me despido: Antes, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Silvestres montes, ásperos penedos, Compostos em concerto desigual: Sabei que sem licença do meu mal Já não podeis fazer meus olhos ledos. Se basta a vos irar tanto pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido, vos tem para o perdão lisonjeado. E, pois já não me vedes como vistes, Não me alegrem verduras deleitosas Nem águas que correndo alegres vem. Se uma ovelha perdida, e já cobrada, glória tal, e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na Sacra História: Semearei em vós lembranças tristes, Regando-vos com lágrimas saudosas, E nascerão saudades de meu bem. Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada; cobrai-a; e não queirais, Pastor divino, perder na vossa ovelha a vossa glória. (CAMÕES, Luís de. Soneto. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 301) (GUERRA, Gregório de Matos. Soneto. In: Obras completas. Org. James Amado. Rio de Janeiro: Record, 1990) Com referência a esse soneto, é correto afirmar: (A) (B) (C) (D) (E) Os sentimentos que dominam o sujeito lírico são a alegria e a lembrança de um amor feliz, neles encontrando meios de expressão que traduzem uma concepção neoplatônica do amor. Sobre esse poema de Gregório de Matos, é correto afirmar: (A) O soneto volta-se para a valorização da forma, da palavra, da ornamentação da frase, do estilo rebuscado e erudito, o que caracteriza o emprego de metáforas, de antíteses e de hipérboles. (B) O sujeito poético exprime grande tristeza d’alma quando recorda saudosamente os momentos felizes da sua relação amorosa testemunhados por aquela paisagem. Esse soneto valoriza a argumentação sutil, intricada, o jogo habilidoso de ideias, operando por meio de paradoxos, sofismas, silogismos, trocadilhos e associações inesperadas. (C) A amada desempenha, nesse domínio, um papel fundamental: a ausência provoca a tristeza e a saudade que invade o sujeito; entretanto ele usufrui da beleza da paisagem para semear alegres lembranças. O poeta centra as preocupações em seu próprio ser, tendo em mira o aprimoramento intelectual, com base na cultura greco-latina, e se expressa, sobretudo, por meio da fusão de metáforas e imagens para todos os sentidos. (D) O poema apresenta, como característica marcante, o espírito de conciliação, de solução entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista. (E) No soneto, o pecador busca o perdão de Deus, mas não existe o sentimento de culpa, ignorando-se o perdão divino. Dado tal conflito, a aspiração seiscentista desconhece uma cumplicidade religiosa. Entre a realidade e a vida interior do sujeito, estabelece-se uma relação de paralelismo: a paisagem era triste e melancólica no passado, mas o estado de alma alterou-se profundamente e o sujeito interpela a natureza e projeta nela todo o contentamento. Para exprimir o paralelismo entre a natureza e a vida interior do sujeito, o poeta utiliza, sobretudo, a oposição entre os tempos verbais do presente, que traduzem a alegria atual, e os tempos verbais do passado, que se referem à tristeza já vivenciada. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 5 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO As questões 14 e 15 referem-se ao texto a seguir: 15 No prefácio aos Contos amazônicos, de Inglês de Sousa (EDUFPA, 2005), a professora Amarílis Tupiassu comenta que “o conto que mais organiza os elementos da inscrição fantástica, impessoal, é Acauã, um relato que, contrariamente à soltura narrativa comum a outros textos da coletânea, fecha uma escrita em que os elementos narracionais costuram-se, fecham com certa rigidez a trama, sem a intervenção de uma voz em primeira pessoa” (p.23). “Então convulsões terríveis se apoderaram do corpo de Aninha. Retorcia-se como se fora de borracha. O seio agitava-se dolorosamente. Os dentes rangiam em fúria. Arrancava com as mãos os lindos cabelos. Os pés batiam no soalho. Os olhos reviravam-se nas órbitas, escondendo a pupila. Toda ela se maltratava, rolando como uma frenética, uivando dolorosamente. Todos os que assistiam a esta cena estavam comovidos. O pai, debruçado sobre o corpo da filha, chorava como uma criança. De repente, a moça pareceu sossegar um pouco, mas não foi senão o princípio de uma nova crise. Inteiriçou-se. Ficou imóvel. Encolheu depois os braços, dobrou-os a modo de asas de pássaro, bateu-os por vezes nas ilhargas, e, entreabrindo a boca, deixou sair um longo grito que nada tinha de humano, um grito que ecoou lugubremente pela igreja: - Acauã! - Jesus! bradaram todos, caindo de joelhos. E a moça, cerrando os olhos como em êxtase, com o corpo imóvel, à exceção dos braços, continuou aquele canto lúgubre: - Acauã! Acauã! Por cima do telhado, uma voz respondeu à de Aninha. - Acauã! Acauã! Um silêncio tumular reinou entre os assistentes. Todos compreendiam a horrível desgraça. Era o Acauã! Considerando o que declara Tupiassu, é correto afirmar que o conto Acauã evidencia, com clareza, pelo menos uma das características literárias de Inglês de Sousa, isto é, (A) (B) (C) (D) 14 Considerando que o texto transcrito é o trecho final de Acauã, de Inglês de Sousa (1853-1918), é correto afirmar que a expressão “deixou sair um longo grito que nada tinha de humano” se refere (A) (B) (C) (D) (E) (E) à esquizofrenia de Aninha, cuja causa o pai nunca compreendeu, pois sempre tratou da doença mental da filha com os pajés, envolvido com as crendices existentes no interior da Floresta Amazônica, afirmando a capacidade imaginativa do homem que nela habita. ao fato de Aninha não querer casar, embora tivesse condições para esse sacramento, quase obrigatório para as moças do lugar; assim, o grito expressa repulsa por essa decisão paterna. ao segredo da paternidade de Vitória, que Aninha conseguiu descobrir, dado que a irmã fora encontrada dentro de uma canoa deslizando pelas águas de um lago, em uma sexta-feira à noite, o que sucede ao questionamento do episódio. ao universo fantástico, pois a personagem movida por forças extraordinárias, converteu-se em um ser abstrato, imaginário – fato aceito como natural dentro da lógica explicativa do homem amazônico. ao fato de Aninha não ter conseguido fugir com a irmã Vitória antes do casamento e de que, só naquele instante, percebeu o quanto odiava o pai e amava a irmã adotiva. Assim, ao gritar, ingressa em um desconhecido mundo fantástico. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 6 um naturalismo tardio, disfarçado sob a aparência de mitos amazônicos, no qual o leitor observa os vários aspectos que compõem a literatura da Amazônia, sobretudo os centralizados no sobrenatural. a opção por mostrar o homem amazônico limitado à pobreza, condição essa de abandono social que o leva a ver o mundo em uma concepção racionalista e, ao mesmo tempo, transitar em espaços propiciadores de medos e superstições. a utilização, pelo narrador, de uma linguagem que se vale de elementos textuais para limitar a manifestação da personagem e transmitir ao leitor a ambiguidade dos acontecimentos insólitos. a grande capacidade de retratar, de modo positivista, o cotidiano urbano da Região Amazônica, em particular das pequenas vilas, cujas casas, caiadas de branco, misturam-se às fábricas e às indústrias do lugar. a autenticidade com que aborda as várias manifestações religiosas da Amazônia, representadas por meio de uma linguagem provida de metáforas, o que possibilita ao leitor perceber detalhes do imaginário dos habitantes da região. Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO 16 Leia a crítica abaixo sobre o livro Iracema, de José de Alencar (1829-1877), editado pela primeira vez em 1865. 17 Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense aberta ao fresco terral a grande vela? Onde vai como branca Alcione buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora. Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem. A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas: – Iracema! O moço guerreiro encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas companheiras de seu infortúnio. Nesse momento o lábio arranca d’alma um agro sorriso. Que deixara ele na terra do exílio? Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite, quando a lua passeava no céu argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares. Refresca o vento. “O livro do Sr. José de Alencar, que é um poema em prosa, não é destinado a cantar lutas heróicas, nem cabos-guerra; se há aí algum episódio, nesse sentido, se alguma vez troa nos vales do Ceará a pocema da guerra, nem por isso o livro deixa de ser exclusivamente votado à história tocante de uma virgem indiana, dos seus amores e dos seus infortúnios. Estamos certos de que não falta ao autor de Iracema energia e vigor para a pintura dos vultos heróicos e das paixões guerreiras; Itapuã e Poti a esse respeito são irrepreensíveis; o poema de que o autor nos fala deve surgir à luz, e então veremos como a sua musa emboca a tuba épica; este livro porém, limita-se a falar ao sentimento, vê-se que não pretende sair fora do coração. Estudando profundamente a língua e os costumes dos selvagens, obrigou-se o autor a entrar mais ao fundo da poesia americana; entendia ele, e entendia bem que a poesia americana não estava completamente achada; que era preciso prevenir-se contra um anacronismo moral que consiste em dar ideias modernas e civilizadas aos filhos incultos da floresta.” (MACHADO, de Assis. Iracema. Diário do Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 1866. In: ALENCAR, José. Iracema. Edição do Centenário, Rio de Janeiro: José Olympio, 1965, p.188-193) Considerando a crítica feita por Machado de Assis e o conteúdo da obra, é correto afirmar que Iracema (A) apresenta a peregrinação dos índios tabajaras e pitiguaras como um fenômeno dinâmico da colonização brasileira, tema recorrente no romance indianista de Alencar. (B) leva a entender Iracema como personagem cônscia do seu tempo, de sua condição feminina, o que acentua o sentimento de amor à terra natal e constitui o ideal romântico de mulher. (C) (D) (E) Leia o fragmento abaixo retirado de Iracema. (ALENCAR, José. Iracema. São Paulo: Ática, 1990, p.11-12) Com base nesse trecho da obra de José de Alencar, é correto afirmar que Iracema, de um modo geral, (A) desenvolve uma atmosfera que vai do lirismo mais ingênuo ao erotismo, com marcas de revolta da heroína por sua condição indígena. desenha Martim como chefe místico dos portugueses residentes na colônia, mas, o qual, ao conhecer Iracema, rejeita a nacionalidade portuguesa e se adapta aos costumes tabajaras. (B) caracteriza o romance nacional como forma de entretenimento. (C) eterniza uma visão sagrada da natureza brasileira antes da chegada do homem europeu. vincula a personagem principal, Iracema, ao ideal moderno de mulher, no qual se pode constatar um romantismo imaturo, somente aperfeiçoado nos romances seguintes de Alencar. (D) realça a beleza nativa, estuda a língua e os costumes indígenas e estabelece os fundamentos do romance nacional. (E) analisa os fenômenos da sociedade brasileira do período colonial. representa um mito da origem nacional e, ao mesmo tempo, a dependência cultural do Brasil colônia, bem como a idealização da etnia americana formada pelo intercurso dos elementos índio e europeu. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 7 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO II. 18 Davi Arrigucci Jr., em Humildade, Paixão e Morte – a poesia de Manuel Bandeira estuda, nos poemas de Manuel Bandeira, o cotidiano e a memória pessoal, pois neles residem provavelmente as implicações maiores da poesia que se exprimem moldadas na simplicidade com que se desentranha o sublime do mais prosaico e humilde cotidiano. Considerando os estudos de Arrigucci, analise os versos abaixo. III. I. “Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida”. IV. V. II. “Beco que cantei num dístico Cheio de elipses mentais, Beco das minhas tristezas, Das minhas perplexidades (mas também dos meus amores, Dos meus beijos, dos meus sonhos), Adeus para nunca mais!” Os fragmentos que correspondem à reflexão de Manuel Bandeira sobre os poemas escolhidos, posteriormente, para organizar a antologia Meus poemas preferidos são III. “Cecília, és libérrima e exata Como a concha. Mas a concha é excessiva matéria, E a matéria mata.” (A) (B) (C) IV. “Noite morta. Junto ao poste de iluminação Os sapos engolem mosquitos. Ninguém passa na estrada. Nem um bêbado.” I. II. III. IV. (D) I, III e IV. (E) I, II, IV e V. V. 19 Considerando os comentários críticos registrados pelo próprio Manuel Bandeira em Itinerário de Pasárgada (1954), analise os fragmentos abaixo. I. Clarice Lispector mostra a personagem principal indo para uma cidade grande em busca da fama como atriz. O narrador do romance relata os fatos e comenta acerca da forma como está narrando; o livro de Clarice começa com a digressão do narrador-autor em crise, e não com a história de Macabéa. Macabéa mantém alguns traços da heroína romântica, não quanto à beleza física, mas à inteligência e ao caráter. A heroína de Clarice Lispector sai do sertão de Alagoas e parte para a cidade do Rio de Janeiro, onde realiza seus sonhos de menina. O narrador-personagem de A hora da estrela esconde na narrativa a sua problemática interior, ou seja, a própria identidade, à medida que nos faz conhecer a protagonista Macabéa. Estão de acordo com A hora da estrela, os itens “Em Berimbau [...] Capiberibe _ Capibaribe têm dois motivos [...]. Todavia, outra intenção pus na repetição. Intenção musical: Capiberibe a primeira vez com e, a segunda com a, me dava a impressão de um acidente, como se a palavra fosse uma frase melódica dita da segunda vez com bemol na terceira nota”. EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA (D) II, VI e V. (E) II, III e V. O romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, publicado em 1977, pouco antes da morte da autora, é um dos livros mais famosos da ficção brasileira contemporânea. A estrutura da obra tem três grandes eixos narrativos e simultâneos, o que torna o enredo fragmentado e quebra a construção linear tradicional. Sobre esse romance, analise as seguintes afirmativas: Os itens cujos versos exemplificam o cotidiano presente na obra de Manuel Bandeira são I e II. II e IV. I, II e III. I e III, apenas. III e V, apenas. VI, apenas. 20 V. “Quando hoje acordei, ainda fazia escuro. (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação Como contraste e consolo ao calor impetuoso da noite. Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando... Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.” (A) (B) (C) “Berimbau, que é de certo modo a minha ‘Amazônia que não vi’, está cheio de intenções formais e me recorda um dos maiores prazeres que já tive em minha vida de poeta.” “[...] no poema Boi morto, escrito em octossílabos, quebrei a medida no terceiro verso da última estrofe. [...] É que o monossílabo “boi”, embora completando a medida do segundo verso, ecoa, no entanto, arrastado pelo enjambement, no verso seguinte, como se este fosse em realidade ‘Boi morto, sem forma ou sentido’”. “Evocação do Recife nasceu num momento destes, só que o jantar não era de cerimônia. Na véspera de me mudar da Rua Morais e Vale, às seis e tanto da tarde, tinha eu acabado de arrumar os meus troços e caíra exausto na cama”. “Agora a morte pode vir – essa morte que espero desde os dezoito anos: tenho a impressão que encontrará, como em Consoada está dito, ‘a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar’”. (A) (B) (C) (D) (E) 8 I, II e V. IV e V, apenas. II e IV, apenas. I e III, apenas. III e IV, apenas. Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO PARTE DISSERTATIVA EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 9 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 10 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 11 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 12 Língua Portuguesa Concurso Público para a Carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico ESCOLA DE APLICAÇÃO EDITAL N.º 224/2010 – EA/UFPA 13 Língua Portuguesa