A armadilha Houv. longo e numdo dcba« constituinte A ° p0 t Tfconsónícionaín' -^fr^ot--. depois, que a Assem lC ^ 'Tindep^c e pafa-. autônomo, indcpc ^ con lo ao Congr«so Naoon ^ ^ lc dição n^cessana cie sua »0D lado esse ^C1.0^° ticas durante qüèndasanuaemocratKa^ ^ l consulaao ^L^e 1891 c prcccacntcs, «P^j! 0 Poaer '4? ^o^osS; ao caExecutivo, af?;1" ^e respe»chimbo ^^ToCo^o. tar a i"dePcn f "^ssos Ocoaoro, Çom escalo acz meses. abso s de travas a "^f^^ihanao o luta, o aissolveu, mf^Ç ccrt0 donal, a «ie '^ ^ os artínces Pais numa guerra ^ ^ aç -0mTtóriaS^malpassari ^ mCrdade da e.nprcsa, menos ^ nossa bístona. oe os ^ sUa compUcaçao se der dois an ^Vo So Novo, dos c C hOU a Soveis anos. Os ^^rEmcna "' 26, supri- ^ E,T,C em oito ^"TV 67, logo ao borar a , " ^..,^55» do Ummilitares, f*?****^ 0 ^ Pais, cm ""■* ' r crcrSo do Con- ''constimdonalaarcm Kn0sd "congressuaUain^q SlirdaqucpáUaactíP ^ OS ovitados e ou ^^vmcralmcnic se reumnam Const. mWa, implan^ durou mais ac ^ biam os romanos, cn uuntcUvrccso sonoraSi as pompas das pa« BcUberadamenie ov. em risCO ^lado c -S^K^^ menie sempre, 0 \ cslana do Congresso Naoo ^ mcm_ suspenso, uma vexi aorCs, bros, os ^P^acbateconsiia^anteotempodo^b^^^ .OPINIÃO .ANÁLISE „ . INFORMAÇÃO Publicação Quinzenal do CENTRO DE PASTORAL VERGUEIRO circulação interna ditad to os quc crn sa. ! ^is a ^\r<rc o'ermo ac seis ^^ ^armàximoparaqt^c, ^"^Icx^nãosepcrà sombra da excv a0 coutrano de ^ nlcs cicpcu-sc ^ ^ (los gcncrais-prc o c diretamente " ;mlsso popu- tutele, «^^^.X outros que ocupai cm V^^^ propõe OOS V v P '/Tàs nesie lance, f vsp^^^ " cntcmcnte com rcsiKitar. • . , ^a scrá excrcglS X fun^o "avcxqucnão dda por alguém, uma j^q de feveroro? C°^te editado, c semque se rçvogt ^ 0 plano ^^osamente o U onde se ^«'^^slaüvo, h, quer-sc que, f ^^cmblcia que, suspenso o poa^scllU, ^° ^Snsütu-mtc'' sô aúde 3 cbcfe ào SOvc^^, senão na S Naaonal Consu d ar? Em ^.^"^ No silêncio de matena ^ ^ iaüva ao cbeft RUc?aosimerpret«.N z u |gando a função l^^ ^^ cblei,onaíuraleq eo Z do governo, (*» nada S W. Havena nada m ^ Constituinte,, ^t^inles, n^o maiS d0 ' Tromo cm 1891, 1934^e tL' porária, taí ^mo cm í ^46- N^nma-^e, que os 7- branco, P""' ,Lu,,,, nonna «• 1 pmxclcnio continham n mmmmmmm Tendências do Trabalho - Dez/86 VISÃO DOS PATRÕES 8 -r^oÉssíNÕíc^ 'N o último dia 12, o país assistiu a um movimento político-operário tem precedentes quantitativos na história do sindicalismo brasi- leiro. Contudo, apesar do caráter inédito, a mobilização será lembrada com o estigma da derrota e os números do fracasso. O objetivo dos sindicalistas era barrar o Cruzado II - um alvo fácil, exposto ao rigor da opinião pública. De fato, a posição governamental estava bastante debilitada sem o apoio das camadas médias e indefinições no meio empresarial. Porém, o principal erro do governo não residiu propriamente nas medidas de ajuste de sua política econômica, mas sim nos preparativos que antecederam a edição das reformas. Ironicamente, também foi aí que os sindicalistas erraram. 05 sindicalistas julgaram ter mais apoio do que realmente tinham e exatamente como o governo, não prepararam adequadamente seu pacote de protestos, numa incrível dialética de equívocos de senso de oportunidade. Os líderes do movimento analisaram sua força pelos seus próprios arautos. Fizeram sua avaliação baseados em suas próprias propagandas. Os jornalistas favoráveis a greve conseguiram estampar em importantes órgãos da grande imprensa manchetes que davam conta da eclosão de um movimento multo maior do que o exeqüível. E, desta forma, conseguiram apenas assustar quem quisesse se mobilizar e reduzir os ganhos de um protesto que não foi geral, mas que setorizademente, ocorreu em todos os cantos do país. O protesto teve caráter nacional, cumprindo um dos objetivos dos seus organizadores, embora fosse incipiente em certos lugares importantes como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, pela primeira vez em muitos anos, alcançou o Nordeste. Na tentativa de greve geral em julho de-1983, cerca de oois milhões de trabalhadores atenderam à convocação, isolada, da CUT. As avaliações feitas agora, a partir de dados do Ministério do Trabalho e de gabinetes militares, indicam que a manifestação contrária ao Cruzado II abrangeu cerca de 10 milhões de pessoas. Naturalmente, a população economicamente ativa cresceu de julho de 1983 a dezembro de 1986. além do que; desta vez a convocação para a greve geral envolveu a esmagadora maioria de liderença» sindicais no país. Assim sendo, estes dez milhões de hoje representam cerca de 20% da população economicamente ativa atual. Para quem aceita a tose de que o movimento sindical é como urn muro que se constrói tijolo por tijolo, há razões para flcir otimista ou preocupado, dependendo de suas convicções Ideológicas. Entretanto, uma coisa é certa: houve desgate(s) político e sindical das lideranças da CUT, CGT e demais confederações. 0 desgaste sindical em verdade já pró-exlstia, mas está mais nítido do que jamais foi. 0 fato ó que a chamada massa trabalhadora não obedece às palavras-de-ordem e não se subordina às lideranças como estas desejam. Vale relembrar aqui, os fatos precedentes ao movimento militar de 1964. Naquela oportunidade, os sindicatos acreditavam que só faltava "tomar o poder', já que a massa trabalhadora os apoiava integralmente. Como sabemos, não foi o que ocorreu... Desta forma, o episódio da greve geral acentua, cristaliflomente, o que se poderia chamar de maturidade ou independência dos trabalhadores brasileiros. O mesmo, ou no mesmo grau, não se pode afirmar de suas lideranças. A composição do desgaste político obtido com a precipitação deste movimento é facilmente observável: conseguiu-se, rapidamente, o que parecia muito difícil - ofuscar o desgaste do próprio governo e lhe devolver a iniciativa política, no que pela primeira vez se configura concretamente, como Pacto Social. Neste cenário político-sindical, as principais alterações nas relações entre capital e trabalho deverão ser: - A CGT continuará a manter uma retórica mais agressiva até junho, em função da disputa com a CUT pela manutenção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; - Em decorrência, tanto a CGT quanto a CUT poderão levar os metalúrgicos de São Paulo á greve neste período; - Muito boas possibilidades de se concretizar o . chamado Pacto Social, desde que este se traduza, realmente, num fato político. Isto, porém, nffo supõe que cessarão as greves por empresas. QUINZENA Publicação do Centro de Pastoral Vergueiro Entidade civil sem fins lucrativos Correspondência: Rua Vergueiro, 7290 - Caixa Postal 42.761 CEP: 04299 - Ipiranga - SSo Paulo - SP - Fone 273.653>5 mm TRABALHADORES QUINZENA CUT E CGT Temporada de greves no cenário sindical GUSTAVO CORRÊA DE CAMARGO Se depender das lideranças sindicais ligadas à CUT c CGT, a economia vai experimentar, nos próximos meses, um verdadeiro tiroteio, com reajustes salariais sendo disparados sucessivamente pela escala móvel para todas as categorias de trabalhadores. E o pacto social náo vai passar das reu- . nióes com o ministro Almir Pazzianotto, porque nenhum sindicato poderá aceitar um acordo em que seja prevista uma trégua nas greve*. Esse é o cenário com o qual estão trabalhando líderes das duas principais centrais sindicais para os próximos meses. As reuniões cora o ministro do Trabalho poderio nem continuar, caso seja aprovada, nesta quarta-feira, em Brasília, a proposta que será apresentada pela CUT às demais centrais e confederações, de suspensão do diálogo com o governo até que sejam apresentadas propostas concretas para o atendimento das reivindicações já encaminhadas. Pior arrocho. Os sindicalistas - como Luiz Antônio Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ligado à CGT, e Jacó Bittar, da direção nacional da CUT - reconhecem que, com os sucessivos disparos do gatilho salarial, a inflação tende a crescer, recolocando no cenário econômico a corrida salários-preços, na qual os salários acabam levando a pior. Mas adiantam que a própria aceleração da inflação coloca a necessidade da reposição das perdas. -. Estamos vivendo um período de arrocho salarial pior que o da época do Decreto-lei 2.065 - diz o dirigente da CUT, Jacó Bittar. Pelas contas que fez, tomando como base a cotação do mercado paralelo, "o salino-mínimo no Brasil, já com o reajuste do gatilho, é hoje o menor do mundo, exatos USS 30. Nessas condições, e sabendo que 70% dos trabalhadores ganham até dois salários-mínimos, comovamos fazer um pacto cora o governo?1" Ele rooerfífiece também que, se o salánoMilrmno fosse aumentado em 100%, haveria una grave Crise de abastecirrcnlo nc> ru''!>: ';A produção está toda voltada para as elites.'' O que a CUT deseja, então, "são medidas concretas do governo qpe demonstrem a intenção de se corrigir esta situação. E, isso, até agora, não aconteceu. Essa proposta de pacto social é apenas urna encenação. O governo quer ganhar tempo até acertar as contas externas e atravessar o período de reajustes nos.preços." Pressão. Pelo lado da CGT, as previsões náo são menos pessimistas. - A inflação voltou e não vamos, hoje. entrar nessa situação assinando um pacto com o governo. Vamos cuidar é de obter aumentos salariais - diz Luiz Antônio Medeiros, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo c que, esta semana, encaminhará às empresas e à Ficsp a reivindicação de acioruunento imediato do gatilho salarial. Pelas contas do sindicato, com base nas estatísticas do Dieesc, a elevação do custo de vida cm dezembro foi de 15,89% e não os 6,35% antecipados pelo governo. Isso eleva a variação do custo de vida desde novembro, quando os metalúrgicos tiveram seu último dissídio coletivo, para quase 40%. Não é possível nem pensar em pacto social, pelo menos sem reajustes expressivos de salários - diz Medeiros, que enfati' za; - Até as lideranças mais moderadas, nas fábricas, estão pressionando para que reivindiquemos imediatamente a cobertura das perdas com a inflação. A CUT joga, nas negociações com o governo, com seu peso no movimento sindical e duvida'que o ministro Pazzianotto possa fazer um pacto sem a sua participação: O ministro - afirma Jacó Bittar - não é louco. Ele sabe que as confederações não tém capacidade de mobilização. São importantes somente na unidade com a CUT e a CGT. Relatório Reservado - 12.01.87 Uma convivência mais difícil Sinais de tensão nas relações trabalhistas Enquanto as empresas dos grandes centros deparavam-se, no fina) da década de 70, com a crescente mobilização dos trabalhadores, em Manaus a convivência com os sindicatos era marcada pela tranqüilidade. Esse cenário começou a se modificar a partir de janeiro de 1984. Na ocasião, um grupo de trabalhadores das indústrias eletroclctrônicas ligado à Central Única dos Trabalhadores (Cul) conquistou a direção do sindicato dos metalúrgicos de Manaus e desbancou o presidente, encastelado no poder há mais de 10 anos. A partir daí, as indústrias passaram a conviver com situações até então conhecidas apenas através dos noticiários que chegavam do sul, principalmente do ABC paulista. A primeira demonstração de força surgiu cm agosto de 1985, quando os 36 mil trabalhadores metalúrgicos deflagraram uma inédita greve geral. Mais de um ano depois, a categoria voltou a repetir a dose. Como saldo dessas mobilizações, os sindicalistas podem contabilizar importantes conquistas: redução da jornada de trabalho de 48 horas. para 45 horas semanais; estabilidade da gestante por 16 meses a partir do início da gravidez; e piso salarial de 2 salários mínimos (o dobro do anterior). • 0f 01H0 EM $Â0 PAULO — Depois da surpresa, devido à falia de tradição sindical na região, as 'empresas começam a se preparar para -a- nova realidade. O sindicato das indústrias eletroeletrônicas tem promovido periodicamente seminários sobre negociação. Todos os anos, três representantes das empresas são enviados a São Paulo, onde acompanham as negociações entre a Fiesp e os metalúrgicos do ABC. "O sindicalismo é um fato histórico que deve ser enfrentado com inteligência c bom senso", diz Fernando Bonfim, presidente do sindicato. Mas, a julgar pelo saldo da última greve, nem todas as empresas parecem estar sintonizadas com essa postura. Na ocasião, foram demitidos, segundo o sindicato dos trabalhadores, mais de 2 mil trabalhadores, por sua participação no movimento. O sindicato dos empregadores admite que o corte atingiu 600 trabalhadores. "Foi uma iniciativa individual das empresas contra a orientação do sinm X dicato", revela EU Bonfim. Qualquer que seja o número, o M fato revela a falta t de maturidade nas O relações trabalhis00 tas. Uma situação ., que pode piorar. Ricardo Moraes presidente do sindicato dos mctalúr gicos de Manaus, lembra que a as-M ^^www w sociação que dirige considera priorilárias a formação de mitilanlcs c a implantação de comissões de fábrica "Aí as empresas terão de con- viver diariamente com a organização dos trabalhadores", adverte ele. A VISITA Lá no canto, há uma mesa mações, material (jornal, infor- com um montão de papel em cima. É o nosso arquivo. (...) sim, mativo, etc) ao associado que sim, temos o plano de trabalho, deixe ver. . . Está aquil é meio difícil encontrar. Já no dia da avaliação encontramos. não o Estava no meio daqueles jornais yelhos. . . 1 Ah . Naquela parede, no prego menor, estão os recados que chega ali? - A história das lutas dos tra- tatos que tiver com o trabalhaoor associado; — Os arquivo* precisam ser tratados com a compreensão et* que "quem não tem a história balhadores do município, o nome das lideranças, as atividades organizada e não a conhece, não em que participaram estão organizadas em arquivos para servi- vale a dizer quí, sem a hisíórin rem de suporte às lutas? organizada, estaremos sempre co É este o papel da sede do sindicato? poderá fazer história". Isto eqüi- meçando de novo; — Os programas de rádio que são produzidos precisam servir à deixei pro Joaquim. Puxa, acho No outro Dentro de uma prática sindi- luta, não apenas ser uma ladainha prego, o maior, estão as notas cal que dá, realmente, força aos de recados, que acaba consumin- que deverão ir para a contabili- trabalhadores, precisamos, com do o dinheiro dos trabalhadores dade. urgência, sem que ele nem- os viu1. Tomamos a precaução de deixar a janela fechada para o repensar o funciona- mento de nossas sedes. A CUT - Regional Sudoeste, vento não esparramá-las. render em organização e consciência. . . Outros aspectos poderiam st;r ... foi quando os grupos do- no início de 1986, definia como abordados, minantes, fazendo nós, trabalha- um de seus objetivos a médio leitura das necessidades concretas de cada momento da organização dores, pensar do jeito que inte- prazo, a retirada da previdência ressava a eles, nós organizamos e de outras atividades assisten- nossos sindicatos. A sede funcio- ciais das sedes dos sindicatos a nava assim; ela ligados. 'Temo» uma baita casa, toda quartinhos temos dar o funcionamento da sede e funcionando redifinir seu papel, colocando-a d serviço da luta organizada. Em cadeira de dentista, laboratório, ambulatório, farmácia, fichas paNesta fila estão as pessoas que querem falar com o presidente. Ali na frente — outra briga'. - estão as pessoas dan- do em cima do funcionário porque o remédio da CEME não veio este mês. . ." Saindo daquela sede de sindicato, qualquer um ficaria pensativo: — Se a sede funciona assim, como é que estão a consciência e a organização dos trabalhadores? — Com aquele enorme prédio, para fazer encontros de formação, estudo (se é que fazem), há lugar? algumas, na prática. Eis algumas propostas: - A função primeira da sede há No entanto que apontarão as modificações a fazer. Uma coisa é certa, pre- cisamos avançar na coerência de nossas propostas. Se nos dize- mos combativos, não assistencialistas, precisamos provar pela prática. No mínimo, para início, precisamos abrir e aprofundar a discussão no sentido de levar o conjunto dos trabalhadores compreender e apoiar as modificações que precisarão ser feitas com re- ciados ao par do conjunto das lação ao funcionamento da sede. lutas, onentado-os sobre como agir nos municípios e comunidades de acordo com o plano e os objetivostraçados; - O material (livretos, jornal, panfletos, etc , .) que deve ser distribuído aos trabalhadores é feito como uma das tarefas fundamentais, dentro do princípio da democratização sindical, que inclui a informação; - Os funcionários que trabalham na sede não podem ser Precisam consciência ser de preoarados, ter classe, assumir tempo dos funcionários e direto- as lutas dos trabalhadores e con- res para receber, repassar infor tribuir com ela em todos os con- o o g o» o 6 n é manter os trabalhadores asso- meros "distribuidores de ficha". — Com aquele envolvimento atividades assistenciais, alguns sindicatos, certas propostas avançaram na discussão e, ra consulta, etc. . . em Este seria um pri- meiro e decisivo passo para mu- Nestes dividida em quartinhos. o Z o < 03 mm MOTORISTAS DO RIO GREVES ELETRICITÁRIOS Depois de sete dias paralizados, os eletricitários de S. Paulo e Santos retornaram ao trabalho no dia 26 de janeiro. A proposta inicial era de reajuste de 85%. A empresa ofereceu 30% que depois de várias assembléias acabou sendo aceito. A greve teve a direção da CGT através de Rogério Magri, presidente do Sindicato dos Eletricitários. Na Eletropaulo seus 22 mil trabalhadores também estraram em greve com as mesmas reivin dicações. Na Light do Rio os 14 mil trabalhadores entraram em greve em 22 de janeiro por 33% de reposição salarial. Na Cia. Paulista de Força e Luz, os 3 mil funcionários de Campinas fizeram uma greve de 3 dias encerrada no dia 23, pois aceitaram os 30% de reajuste proposto pela empresa. Agora, o piso da empresa é de CZ$ 4.040,00. Também houve greve em Franca e Botucatu. CONGÁS DE SP Mil e duzentos trabalhadores da Congás de S. Paulo entraram em greve em 21 de janeiro por reivindicações salariais de 85% de reajuste. A empresa oferece de 30 a 45% escalonados. Após diversas assembléias e por encaminhamento da CGT foi aeféTra ó índice de 30%' em 26 de janeiro. MERGULHADORES Os trabalhadores em atividades sub-aquáticas (mergulhadores) entraram em greve em 21 de dezembro e assim permaneceram por mais de 15 dias. A proposta dos 800 mergulhadores do país contém 48 Itens incluindo o aumento do piso de CZ$ 3 mil para CZ$ 9 mil,- adicional por desgaste orgânico e obrigatoriedade de seguro de vida. **•* Os cegonheiros entraram em greve em 16 de janeiro por Cento e dez mil motoristas e reajustes escalonados de 75 a e cobradores do estado do Rio 130% de acordo com a distância fizeram greve de 2 dias parado transporte a ser feito. Mil e lizando a região metropolitana duzentos cengonheiros autônomos carioca. Conquistaram 72,5% de aderiram a greve para conseguir aumento, agora equiparados aos um piso salarial unificado e auprofissionais de S. Paulo. mento de 73,28%. A greve durou mais de uma semana. CERVEJARIA Com uma greve que durou 5 dias, os 3800 trabalhadores paralizaram as atividades da Cia. Antarctica Paulista. Conquistaram de 10 a 20% de aumentos escalonados. Os dias parados serão descontados e não haverá punições. S. JOÃO DO MERITI Foram 2200 funcionários municipais administrativos e de serviços de rua que pararam durante 8 dias por aumento salarial. A greve encerrou-se em 24 de janeiro após a conquista de 75,4 por cento de reajuste retroativos a 12 de janeiro. O piso. salarial passou para CZ$ 1,6 mil. Conquistaram também estabilidade após 10 anos de serviço, pensão para os funcionárias que ficaram viúvas de funcionários municipais, implantação de plano de carreira, e estudo de abono de 20% para os aposentados. *** Setecentos metalúrgicos dos estaleiros de Porto Alegre fizeram greve por 70% de reajuste. A empresa propõe acordo para não descontar os dias para dos, não punição da volta ao trabalho e criação de um plano de carreira. Foram negadas as reivindicações de estabilidade no emprego e redução da jornada. *** Plásticos: ATMA (900 trabalhadores), SIPIÃO (200), PENTAFLEX (16) fizeram greve reivindicando reajustes de 50 a 60% além da redução da jornada. *•**• A multinacional TOURING CLUB DO BRASIL en frentou uma greve de seus motoristas socorristas, operadores de rádio e mecânicos por piso salarial de CZ$ 4.500,00 e melhores condições de trabalho. SETORES CURTAS *** Os carreteiros de adubos do Porto de Santos fizeram greve de mais de 5 dias devido à morosidade com que é feita o descarregamento dos navios. Eles acusam a Cia. Docas de exercer uma má administração. Alguns navios estão atracados há mais de 3 meses. Nas Docas pararam ainda 400 ferroviários que trabalham também no desembarque de cargas; além destes, pararam os revistadores, encarregados de manobras e feitores de mano- . bras que querem receber adicio^ nai de risco já pagos à alguns integrantes tia categoria. Reivindicam, outrossim, adicional de 50% pelo trabalho aos domingos. LEPRA NA USINA Já foram identificados 28 casos de lepra na Usina Presidente Vargas, do grupo estatal Companhia Siderúrgica Nacional. Vinte e duas das vitimas puderam se recuperar pelo tratamento com sulfona. Além da lepra,- há casos de ieucopenia em 18 trabalhadores que operam em área contaminada com benzeno. Para esses casos não há tratamento possível. Numa explicação simplista, a CSN afirma que na região de Volta Redonda tem grande incidência de lepra e que para evitar Ieucopenia são distribuídos equipamentos de proteção. _ GREVES EM OUTROS Viíwxs^;!: QUINZENA TRABALHADORES SINDICALISTA ESPANCADA Policiais de Governador Valadares, estado de Minas, no melhor estilo da velha ditadura, espancaram a diretora do Sindicato da Alimentação local, Alalde Pereira de Souza, após invadirem sua casa e a prenderem ilegalmente no dia 15 de janeiro. Sem mandado de prisão e a pretexto de localizar seu irmão, Alalde foi presa com violência e levada para a delegacia onde foi espancada com um pedaço de pneu durante 4 horas. O delegado Joel Leri Santos Filho acobertou os policiais envolvidos, impedindo a sua identificação. PRISÕES EM ANÁPOLIS A CUT-REGIONAL Anápolis, estado de Goiás, nos informa que em 10 de dezembro os militantes da CUT, Juscelino Martins Polonial, Carlos Alberto Lima. Adolfo Bressan Neto, Manoel Pires de Almeida e Revalino Antônio de Freitas foram detidos pela PM e encaminhados para a polícia federal quando pregavam cartazes da greve geral do dia 12. Como tem acontecido em outros locais, a policia tentou reter um dos veículos o maior tempo possível. Ao tentarem recuperar o veículo apreendido, foram novamente presos e colocados numa cela de 2 metros quadrados, s.em ventilação suficiente e com temperatura de 30 graus. O interrogatório foi feito no melhor estilo da velha ditadura e depois foram soltos. LEILÃO DE GALINHAS Enquanto a UDR leiloa milhares de bois para arrecadar dinheiro, os trabalhadores rurais sem,terra leiloam galinhas para custear suas mobilizações em favor da reforma agrária. Em Ceres, Goiás, foram leiloadas 1000 galinhas, o que permitiu arrecadar CZ 58 mil. Participaram juntamente com os sem terra os sindicatos da região e a CPT. O dinheiro será utilizado para compar alimentos e roupas para os acampados à margens de rodovias brasileiras em todas as regiões do país. ÍNDIOS E POSSEIROS Um juiz do estado de Minas concedeu cautelar para os proprietários da fazenda Ressaca em Manga, cujo decreto de despropriação foi assinado em 15 de janeiro passado pelo presidnete Sarney. A decisão do juiz agrava o conflito entre os índios xacriabás e 526 posseiros moradores na reserva indígena no município de Itacarambi que seriam transferidos para a fazenda Ressaca. Esta fazenda desapropriada tem apenas 1 por cento da área aproveitada e 95 por cento da área é cultivável. mm m JORNAL SIN INFORMA O Serviço de Intercâmbio Nacional de Petrópolis nos informa que: sendo obrigados a queimarem suas próprias casas. ROMARIA LIBERTADORA Será de 8 a 20 de março, sai saindo de São Mateus, norte do Espírito Santo e indo até Vitória. O objetivo é juntar as forças do povo para favorecer e apressar a implantação da reforma agrária de verdade que atenda os interesses dos traba balhadores rurais e toda a sociedade brasileira. Maiores informações podem ser obtidas na CPT, Caixa Postal 165, 29930, São Mateus-ES com o padre Dimas. AMEAÇAS DE MORTE *** Em Panças, estado do Espírito Santo, o lider sindical Francisco Domingos Ramos, juntamente com com o advogado Davi Guerra Felipe, foram ameaçados de morte na própria sede sindical pelo fazendeiro Milton José Breda, no dia 18 de setembro. *** Em Linhares, também no Espírito Santo, José Rainha, pai do lider sindical José Rainha Jr. foi confundido com este e foi alvo de vários disparos no dia 25 de outubro que felizmente não o acertaram. Após o atentado frustrado Júnior foi avisado que estava na lista para ser morto juntamente com Maria de Fátima Ribeiro. 1) Em 22 de outubro, 60 posseiros das fazendas Casa de Telha e Formosa em Januária, estado de Minas, foram atacados e invadidos por Hermógenes Gil ae Almeida e João Deira de Almeida que cortaram arames, queimaram roças e fecharam estradas. Os posseiros moram lá há mais de 20 anos. A empre sa NOG RUARAL vem tentando se apossar das fazendas com a ■*** No acampamento em conivência da justiça local que São mateus/Nova Venécia-ES, deu posse aos invasores. O sindj_ José Pinto Vieira, trabalhador cato de trabalhadores rurais •rural foi surpreendido à abriu processo coletivo contra caminho de casa no dia 23 Hermógenes e João Deira assina de novembro por 2 pessoas dos por 84 posseiros. que dispararam, sem acertar, vários disparos. Quem informa 2) Duzentos e cinqüenta tais violências no Espírito famílias se encontram acampadas Santo é a CPT de Vitória. na sede do GETAT em Marabá, MIGRAÇÕES estado do Pará. Eles foram despejados das fazendas Pedra Promovido pelo Serviço Furada e Água Fria que estavam Pastoral dos Migrantes e pelo , na lista para serem desapropriaCentro de Estudos Migratórios das. O despejo foi assinado pela foi realizado em S. Paulo nos juíza Ezilda Pestana em favor dos dias 2 a 4 de dezembro o 29 fazendeiros Jarbas Alves e João SIMPÓSIO DE MIGRAÇÕES NO José Veloso, desconhecidos na BRASIL. Presidido pelo bispo da região. Com o auxílio da polícia, diocese de JI-PARANÁ, estado os posseiros foram desalojados de Rondônia, D. Antônio w :SWL.,. WMmMMmM: &&&>> mmm ■ (í) QUINZENA Possamai, o simpósio reuniu participantes de vários estados e a assessoria de conferencistas da área econômica, sociológica, sindical, popular e teológica. Como é sabido, Rondônia vem sendo marcada nos últimos anos por um intenso fluxo migratório. O 25 simpósio contou também com um representante da CUT Nordeste, José Novais, com a deputada estadual pelo PT-SP, Luíza Erundina e o assessor do movimento dos bóias-frias da região canavieira de Ribeirão Preto, professor José Gebara. GUAJAJARAS Durante os dias 23, 24 e 25 de outubro, em Bacurizinho, município de Grajaú, realizou-se por iniciativa de algumas lide- SENHOR - 13.01.87 TRABALHADORES dos pescadores e a constituinte" foi o tema central dos debates. Participaram 175 pescadores de 14 municípios. Em todo o estado existem 80 mil pescadores. Embora eles exerçam uma das atividades mais antigas da humanidade, não contam com reconhecimento profissional. Enfrentam com desvantagens a concorrência de grandes empresas nacionais e estrangeiras, que enviam parte significativa do pescado maranhense para outros PESCADORES estados do país. Por isso, entre os assuntos principais do Os pescadores do Maranhão encontro, estavam temas como estão avançando na sua organia organização sindical, poljtica zação. De 9 a 12 de outubro pesqueira, história das colônias aconteceu em São Luis o maior e assembléia nacional constituinencontro da categoria já realiza te. do no estado. " A organização ranças dos índios guajajaras, a 1^ assembléia indígena do Maranhão. Pela primeira vez, mais de cem índios, representando as áreas indígenas de Caru, Pindaré, Bacurizinho, Araribóia e Morro Branco se reuniram para discutir os seus problemas. Álvaro Tukano, coordenador da UNI, veio de Manaus para dar apoio à Assembléia. Alguns membros do CIMI estiveram presentes, mas sem interferir nos debates. Escândalo Nobistor O dr. Tuma tem um nome a zelar O govemo e seu aliado mais tradicional, isto é, a imCrensa, solicitaram pano rápido para o episódio Noistor, beneficiando-se do ameamento da Nação, mais ocupada com suas compras de Natal do que com a estranha fuga de quatro dos oito mercenários norteamericanos que estavam recolhidos à prisão da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Estranhamente, não se nota, desde então, da parte da Policia Federal, aquele seu conhecido empenho em caçar bandidos e cm desvendar mistérios, demonstrado, por exemf)lo, um ano atrás, no episódio do assalto a um banco )aiano por parte cie militantes do PCBR - que a Policia Federal preteria dizer PT. Embora o caso Nobistor tenha o sabor de romance de^spionagem de terceira, parece evidente que alguém com poder de decisão resolveu conceder a um punhado de submerccnáiios desastrados, pegos com a mão na botija em março de 1986, com um carregamento clandestino de armas, cm Niterói, tratamento de primeira. Os quatro fugitivos só o lizcram porque reconhetidainenic lhes faciliuiram as coisas, como a Policia Federal já lhes havia ladlitado as coisas, anteiiormente, conceclendo-lhes o beneficio de acreditar, ou ungir acreditar, numa história inverossimil, a de que as anuas se destinavam a desestabilizar o governo de um distante país airicano. Ninguém parece ter-se imeressado em la/er a esses senhores algumas pergumas banais, como, por exemplo, por que se decliear a (ão em ia empreiiada, se. aqui 18.01.87 UJ 2d SN 3 < üK mais por perto, seja no Bico do Papagaio, seja na Nicarágua, sempre haveria gente disposta a anemaiai por boin preço a encomenda. Convém ao dr. Romeu Tuma, que não é exatameme o'encarregado-da carceragem, em Brasília, mas que gosta de assumir as responsabilidades que cabem » «eu olkio e á sua coiporação, sobretudo quando elas dizem respeito á tarefa de acusar opositores do governe), que ele se apresse a apresentar novos esclarecimentos á opinião pública, em benelicio inclusive de sua própria reputação de policial atilado - reputação que, graças á ossada de Joseph Mengele, tornou-se internacional. O dr. Tuma, que tem um nome a zelar, não entraria por iniciativa própria numa barganha de segunda classe. Proprietários perdem na Justiça para reforma CO Z u Tratamento i^r'; do primeira para ' i. mercenários de terceira ANA LÚCIA GUIMARÃES Da Edltorla Nacional De um total de 313 imóveis decretados de interesse social para fina de reforCD ma agrária. 42 proprietá- rios impetraram mandados de segurança no Supremo Tribunal Federal contestando o ato presidencial. Apesar disto, desde a erlaçSo do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). em outubro de 1!)K5, o go- verno vem ganhando todos os julgamentos dos mandados, mesmo nos casos em que íornm concedidas liminares. O ano de l!)l!7 começou com um bom ritmo quanto ao volume de decretos que dáo Inicio ao processo desaproprlatório feito pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Inera). Só do dia 12 a 10 de janeiro foram assinados 10 decretos presidenciais, totalizando uma área de l WM0mm<Mm mmm 84.052 hectares com capacidade para assentar 2.093 famílias. Mas somente depois que os decretos s<ío publicados no DIArlu Oficial da UnlAo 6 que tem Inicio a maratona do Incra. As metas previstas no PNRA para o ano passado ainda estão longe de serem atingidas. Esperava-se desapropriar uma área de 4,6 milhões de hectares e assentar 150 mil famílias. Mas os dados fornecidos pelo Incra mostram que. de marco de 1985 a 16 de janeiro de 1987, foram desapropriados 1,5 milhão de hectares e assentadas apenas 12 mil famílias em 7ü projetos atualmente em execução. Sò mesmo se em 1987 as tolsas correrem como espera o ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário, Danla de Oliveira, através de ações mais âgels, è que o governo terá chances de se aproximar das metas previstas para este ano no PNRA. Considerando o acúmulo de famílias náo-assentadas no ano passado, o Incra deverá Instalar 438 mil delas. Segundo o ministro, este ano será decisivo para a mm modo a deixâ-10'pronto para ser Implantado quando judicialmente o Incra possuir o Imóvel. Normalmente, o período entre a Imissão de posse e a Instalação do projeto chega a seis meses, prazo que pode complicar a vida de uma família Inteira que necessite da terra para sua sobrevivência. "Com a alteração metodológica que fizemos, esperamos não só eficiência no processo de instalação do projeto como também um ganho de qualidade nos assentamentos, já que os próprios beneficiários os acompanham desde os primeiros passos", diz ainda Emplnottl. Hoje, existem 40 projetos em fase final de elaboração, sendo que os Já em execução ocupam uma área de 416 mil hectares. Para que o Incra Iguale as imlssões de posse com os projetos de assentamentos não falta muito. Segundo dados de dezembro de 1986, o Incra se Imitiu na posse em 117 Imóveis — aproximadamente a metade das áreas decretadas de Interesse social —, totalizando 453.609 hectares, com capacidade para assentar 14.352 famílias. Outro problema no qual o governo esbarra dentro do processo de Implantação do PNRA é a elaboração fle projetos de assentamento feitos hoje por um órgão acostumado a fazer projetos de colonização que são verdadeiros "paraíso" para os beneficiados. Tentando fugir do tradicional paternalismo do governo, a recém-crlada diretoria de Assentamentos do Incra mudou o sistema de elaboração dos projetos e agora, tenta um mecanismo mais rápido e eficaz. Este mecanismo está relacionado com o tempo gasto tanto para o Incra se [mltar na posse do imóvel de-i sapropriado quanto para levar até lá seu projeto de assentamento. "A'ssim-qu< temos um decreto de üedú-i propriação. chamamos ós demais órgãos envolvidos na implantação da Reforma Agrária e Iniciamos os primeiros estudos que levarão ao projeto de assentamento", explica o diretor de Assentamentos, Aírton LuizEmpinottl. O objetivo è fazer com que o tempo gasto para a imissão de posse seja equivalente ao necessário para a elaboração do prc/Jeto, de Reforma Agrária, já que as novas diretorias do Incra e do Mlrad estão se ajustando aos mecanismos de funcionamento dos órgãos. O processo desaproprlatôrlo è longo. Publicado o decreto presidencial no Diário Oficial da Uniflo, o Incra inicia o processo Junto á Justiça visando imitarse na posse do imóvel decretado de interesse social. Antes disto, porém, muitos proprietários entram com mandado de segurança no STF e. quando ganham 11ifilnares. suspendem o processo. Dos 42 mandados de segurança hoje no Supremo. 19 obtiveram liminares. Este ô processo mais rápido para interromper a desapropriação -e envolve diretamente o nome do Presidente da República. Existem ainda ações via Justiça Federal, normalmente contra o próprio Incra nos Estados, que fogem do controle do governo. A regiáo Sul é a que mais produz mandados de segurança contra decretos de desapropriação: atualmente, existem 21 mandados originados nos Estados do Rio Grande do Sul. Santa Catarina e Paraná. Governo reconhece: massacre no campo já é intolerável O massacre no campo se intensifica: de 261 assassínios por questões, çte terras em 1985 se passou para 272 MO gno passado. Foi brutal o aumento do número de mortos no Centro-Oeste, de 27 em 1985 para 67 em 1986, o que indica o agravamento das tensões no campo nessa região de fronteira agrícola. Mas continua sendo na Região Norte, também de fronteira agrícola, o maior número de casos de assassínios: 101 em 1986, contra 109 em 1985. Ainda em 1986, houve 52 mortes no Nordeste, 47 no Sudeste e 5 no Sul. Diz o relatório "Conflitos de Terra", um documento reservado da Coordenadoria de Conflitos Agrários do Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário-Mirad, que está havendo "um aumento gradativo e incontrolável da criminalidade organizada na área rural, ultrapassando os limites considerados toleráveis e vitimando consecutiva e principalmente trabalhadores rurais. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE TRABALHADORES RURAIS ASSASSINADOS NO BRASIL (1964-86) 4 270 — 230 — i 230 — M 210 — ::\ 1»0 — Í: f 170 — km 71 m 150 — 130 — / •:i-" ' H 110 — 90 — i ~ /•:•: /;.;.», -* — .Av. 10 m | || ■■:■.■:■:■:■ i ili .;.;.;.;,;,;.y.;.;.;.;,;.;.;.y.;.;.;.; •>:■:■:■ — 30 H" ■SBSí ■M 17 M r—u: iUMD < COUTMl 7wí? ' TI /S5r Vy: fii:'' •.-'.■vy/y. Mi i i 1 f 73 71 77 11' M M 8 CD > r b í MUI 71 > O —A " CO ■^1 mmm mm TRABALHADORES indígenas e membros de entidades confessionais e de apoio à reforma agrária" (o documento não diz quais seriam os "limites considerados toleráveis" para a matança no campo). Constatando que a maior parte dos assassínios ao campo são executados por pistoleiros de encomenda, o documento-assinala: "Dentre os mandantes, incluem-se, além de latifundiários, empresas de mineração, de empreendimentos imobiliários e agropecuários". Se esses são os algozes, quem são as vítimas? Dos 272 assassinados por questões de terra no campo no Brasil em 1986, 129 eram trabalhadores rurais, 21 eram garimpeiros, 12 eram peões escravos, 9 eram empregados de fazenda. Em contrapartida, 19 eram fazendeiros, dos quais 6 mortos em confrontos com trabalhadores e 13 mortos em confronto com outros fazendeiros. Um dado significativo: foram mortos 24 pistoleiros. Mas um número assusta: foram mortos 21 índios, dado impressionante se se considera quão pequena é a proporção de índios na população brasileira. Um deles, o padre Josimo Tavares, na região do Bico do Papagaio, no Pará. Foram mortos ainda dois padres, dois agentes da Comissão Pastoral da Terra, um pastor batista um comerr ciantéligado ao PT, um dirigente sindical. A Polícia também foi atingida: foi morto um delegado e foram assassinados outros cinco policiais. E tudo indica que as mortes vão coníi- \ MARCADOS PARA MORRER Pessoas ameaçadas de morte por motivos de conflitos da terra no Brasil no ano de 1986. Alguns dos 105 casos denunciados ao Governo. NOME Joáo Van Der Heyten Luiz Tozzino José Domingos Braghetto Manoel Rodrigues da Silva Domenico Zocchi Tomas Feliu Amengal Creusa Peixoto Benedito Ulhoa Vieira Pascasio Rettler Antônio Possamai Geraldo Verdier Aldo Mogiano Aparecido José Dias Henrique Froelich Isidoro Kozinski Ricardo Resende Figueira Emannuel Wambergue Osvaldo de Alencar Rocha Hamilton Pereira da Sílva José Aparecido Rodrigues Adáo Onofre da Silva Maria Aparecida Miguel Savio .Antônio Amorim ArlhurPowers Tiago Hahusseau Orlando Nascimento Amercino Inácio da Silva Francisco Vieira de Souza . Antônio Zanini Madalena Hausser Henrique Dez Roziers Mozart Niel Patrício Evae Martins dos Santos Joáo Rodrigues Itelvino Furlaneto Adalberto Pacheco • - ,) FUNÇÃO MUNICÍPIO Vigário Vereador Vigário Padre Padre Padre Irmá Arcebispo Bispo Bispo Bispo Bispo Bispo • Bispo Bispo Padre Diretor da CPT* Nacional Advogado da CPT Assessor CPT Nacional Lider Sindical ■ Presidente STR*' Presidente STR Presidente STB Presidente STR Advogado Padre' Presidente STR Presidente STR Delegado Sindical Padre Irmá Padre Diretor STR Advogada Presidente STR Presidente STR Executiva dos Sem Terra Cananéla Miracatu Barrinha Sobral Limoeiro do Norte Itapipoca Limoeiro do Norte Uberaba Bacabal Ji-Paraná Guajará-Mirim Boa Vista Registro Sinoo Três Lagoas • Conceição do Araguaia Marabá Bico do Papagaio Goiânia Brasilandia Carmo do Rio Verde Unai Sáo Miguel do Iguaçu Tauá ' Araguacema Jussara Jussara Colméiá. ' Arama Bom Jesus da Lapa Tocantinópolis Gurupl Araguaina Filadélfia Ns.Sra. da Glória Sáo Miguel do Oeste Teixeira de Freitas '. Comlstlo Pastoral da T«rr« • " Sindicato dos Trabalhidore* Rurali ESTADO SP SP SP CE CE CÉ CE MG MA RO RO RR SP MT MS PA PA GO GO MT GO MG PR CE GO GO GO GO MA BA GO GO GO GO SE SC BA '. Fonte: Dados levantados pela Comissão Pastoral da Terra, e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. mm QUINZENA TRABALHADORES nuar, A Comissão Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra denunciaram às autoridades os casos de 105 militantes pela reforma agrária que já foram ameaçados de morte e que ainda não foram assassinados, mas já são cabras marcados para morrerem (veja a lista abaixo). Retrato do Brasil foi ao sertão mineiro, na localidade de Cachoeirinha, Pazzianotto tentou ganhar o apoio das centrais. Fracassou Sérgio Léo oo BrasQia — O ministro do Trabalho, Aimir Pazzianotto, terminou a semana com sinais de frustração evidentes para quem o acompanhou na última reunião do "entendimento nacional", apenas com as confederações de trabalhadores, na manha de sexta-feira. Após iniciar as negociações < com trabalhadores e empresários, na semana anterior, aparentemente como novo CD superministro, Pazzianotto carregava no bolso duas propostas para os trabalhadores que, à medida em que prosseguiam as conversações, foram bombardeadas pela < área econômica do governo. Por saber que seria inevitável o realinhamento de preços, Pazzianotto pretendia obter,Junto aos sindicalistas que participavam do entendimento representando as facções mais conservadoras do movimento sindical, um acordo em que repartiriam com o governo o ônus do aumento de preços, em troca de benefícios que poderiam levar às suas bases sindicais. Ele pensava, já antes da primeira reuniáo com a CGT, USI c confederações de trabalhadores, em negociar um aumento do salário mínimo, em tomo de Cz$ 1.500,00, e uma elevação das contribuições previdenciáriai. Boa vontade Baseado em levantamentos do Depar-_ lamento Intersindical de Estudo Estatísticos Sõcio-Econômicos(Dicese), que mostravam crescimento de salários de 50% para trabalhadores em Sâo Paulo, que passaram a ter pisos salariais superiores ao salário mínimo, o ministro do Trabalho consolidou, no governo, a proposta de aumentar o mínimo, para aproximá-lo de seus níveis reais de mercado. Seria um forma de mostrar a boa vontade do govemo, sem reflexos negativos para a economia, argumentou Pazzianotto, que pensava em trazer o mínimo ao maior valor já alcançado por esse salário na história do país, pouco mais de 1.500,00, atingidos em 1959, segundo cálculos de seu Ministério. z Reunido com as confederações de trabalhadores tradicionalmente muito ligadas ao seu ministério — pelo menos tres presi- para contar a história de um conflito que já tem mais de 20 anos, Nossos repórteres relatam a tragédia de dezenas de famílias de posseiros que hoje vivem em situação de miséria. É uma história triste que para alguns terminou de uma forma que se torna a cada dia mais comum na história da luta camponesa no Brasil (veja gráfico abaixo): em assassinato. dentes dessas confederações já foram condecorados com a Ordem do Mérito do Trabalho, concedida pelo ministro — Pazzianotto recebeu a reivindicação de aumento para os proventos dos aposentados e comprometeu-se também a consegui-lo, mas esbarrou no veto do Ministério do Planejamento. Como Pazzianotto, o ministro da Previdência, Raphael de Almeida Magalhães, pretendia aumentar os proventos dos aposentados, aproximando-os, pelo menos, do salário mínimo vigente (Cz$ 964,80) para cerca de 4 milhões e 100 mil aposentados ue ganham menos que isso. Na reunião to Conselho de Desenvolvimento Social (CDS), segunda-feira, com a presença de Pazzianotto, Magalhães apresentou a proposta, sugerindo que fosse posta em prática aproveitando-se o superávit da Previdência em 1986, de Cz$ 21 bilhões. 3 A idéia recebeu parecer negativo do Ministério do Planejamento sob a alegação de que, de acordo com a Constituição Federal, a nova despesa só poderia ser aprovada se também se criasse uma"fonte complementar de custeio", ou seja, se se aumentasse a contribuição previdenciária, medida considerada impopular. Não agradou a Sayad a proposta de usar o superávit, pois não há garantias de que ele se repita. Sem proposta Sem o aumento de aposentadoria, envolvido em demorada discussão com a área econômica, que também apresentou críticas ao aumento do salário mínimo, Pazzianotto se viu sem proposta para convencer os sindicalistas a compartilnar a responsabilidade pelas medidas econômicas em preparo pelo govemo. Cálculos oficiais mostram que é no próprio govemo, municipal, estadual ou federal, que está o maior número de trabalhadores com renda de um salário mínimo, que, ao contrário dos outros setores, não conseguiram aumentar seus rendimentos com o Plano Cruzado. Um aumento de salário de quase 50%, como pretendia o ministro do Trabalho, teria efeitos indesejáveis no crescimento das folhas de pagamento, argumentaram técnicos do Ministério do Planejamento. Na Fazenda, enquanto o ministro Dflson Funaro atacava a proposta de aumento de aproximadamente Czj 1.500,00, alguns de seus assessores diretos a defendiam como viável. A falta de definição do govemo — apesar da insistência de Pazzianotto — levaram o ministro do Trabalho a frustrar os empresários e sindicalistas que esperavam uma proposta concreta na reunião de quinta-feira, A reboque da área econômica, Pazzianotto chegou a levar em conta a proposta dos empresários, discutida anteriormente e aprovada pelo ministro Dflson Funaro, e o realinhamento em tomo de 25% nos preços dos produtos. A equipe de assessores próximos a Funaro, porém estava dividida ao meio em relação à proposta e, enquanto Pazzianotto discutia com empresários e trabalhadores com a perspectiva de um reajuste linear e igual para todos os preços, a Fazenda já montava outro pacote de realinhamento que atendia à proposta de um grupo de assessores de Funaro: reajuste entre 10% a 30%, de acordo com as planilhas de custos das empresas, analisadas pelo Conselho Interministerial de Preços (CIP). Já na penúltima reunião do "entendimento nacional", na terça-feira, o presidente da CGT, Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzio, percebeu que nlo haveria espaço de negociação e que as propostas do govemo, que a essa altura deixara de ser parte interessada e assumira a posição de "árbitro", seriam mais próximas às intenções dos empresários. Foi por isso que nào quis participar da última reunião conjunta do entendimento", na quintafeira. Deixou sozinho o vice-presidente da entidade, Ricardo Baldino, que, irritado com a falta de definição após o fim do encontro, respondia a uma repórter: "Eu também quena saber por que o Joaquinzio não está aqui," Oferta única Pazzianotto acredita ainda, porém, que poderá obter junto ao presidente José Samey um aumento do salário mínimo próximo a Cz$ 1.500,00, única oferta concreta para fazer frente às críticas da CUT — c talvez até da CGT — contra o realinhamento de preços, que podem resultar em uma sucessão de greves em todo o país. Ou mesmo, como quer a CUT, numa nova greve geral. Esse salário, que poderá apresentar na reunião com as confederações, na próxima quinta-feira, seria a sua contrapartida para Sue os sindicalistas aceitem sua proposta e trégua. Não haveria compromisso pelo fim das greves setoriais, mas os líderes sindicais se comprometeriam a não participar de nenhun. movimento nacional contra a política econômica do govemo, como a greve geral que a CUT pretende articular, Ú TRABALHADORES a partir desta semana. — As propostas apresentadas pelos empresários e trabalhadores nâo constituirão parâmetros; seráo fonte de avaüaçáo — comentava Pazzianotto, na madrugada de sexta-feira, após o encontro para o "entendimento nacional", ainda sem uma alternativa do governo para apresentar ao salário mínimo, mas consciente de que não seria de forma alguma próxima aos Cz$ 4.884,64 desejados pelo sindicalistas, que, por falta de proposta do governo, nâo puderam sequer negociar. CGT, USI e confederações estavam dispostas a baixar suas reivindicações para até um reajuste imediato de CzS l./OO.OO, complementado, em dois anos e meio, até chegar aos Cz$ 4.884.64. Como a direita vê o Pacto A Central Unlca dos Trabalhadores. CUT. com 1 064 entidades liilidas, e uma espécie de departamento sindicai do PT. Oas três centrais existentes, e a mais forte. Perdeu força com o fracasso da greve geral do dia 12 de dezembro, mas ganhou experiência. Está acumulando forças para uma nova greve HDD < iLD O 8 Dirigida pelo metalúrgico paulista Joaquim dos Santos Andrade, o "Joaouiníáo". i CGT. com 1 341 entidades filiados, faz tudo para ser mais moderada que a CUT. mas nâo consegue. Temendo ser ultrapassada pela sua rival, avança nas negociações secretas com o governo, mas. na hora de ir para as fábricas, recua. O gatilho dos 20% nâo é uma proposta, mas uma lei. Ele foi incluído no picolé do Pleno Cruzado para eleito psicológico e agora virou um pesadelo para o governo. Achava-se que tudo ia dar certo e ele nâo seria necessário. Agora que o Cruzado deu errado, o governo nâo sabe como se livrar do gatilho. Ti ^ ^ É a proposta mais radical saída do setor trabalhista. Ela prevê que o gatilho seja acionado a cada salto de 5% da Inflação. Isso significaria o estabelecimento de uma escala móvel para os salários, que poderiam subir a cada semana. A CGT quer que o gatilho dispare a cada degrau de 10% da inflação, Aritmeticamente, o número 10 está a meio caminho dos 20% da lei e dos 5% propostos pela CUT, Na realidade, ela dá aos assalariados proteção total contra a inflação. Pela lei, cada categoria profissional tem direito â correção do seu salário toda vez que a inflação o tiver corroído em 20%, O gatilho já foi acionado para reajustar o salário mínimo ei previsível que dispare a cada meses. .'; -^ < I- z < > Em tese. ela dá proteção quase absoluta aos salários. Se a moeda cai, o contracheque rapidamente engorda. Cria um sistema de correção quase tâo eficaz quanto o que existe hoje para as cadernetas de poupança. Z z < > UJ ü Na prática, esse supergatilho provoca uma explosão inflacionária. Em pouco mais de um ano ela poderia I passar fácil a casa dos 1 000%. Pela tradição brasileira, bastariam seis meses para que a CUT estivesse no poder ou na cadeia. NENHUMA Ik Trata-se de uma proposta feita apenas para marcar posição, inclusive porque a CUT se recusa a participar dos entendimentos com o governo. Ela sustenta que a negociação não é séria. Com a correção salarial a cada pulo de 10% os trabalhadores estariam garantidos contra a Inflação em condições quase idênticas ás propostas pela CUT. Também é. em última análise, uma escala móvel de salários. "P 0 supergatilho da CGT tem o mesmo efeito que o da CUT, mas pode demorar alguns meses para levar a inflação a 1 000%. Ao fim da explosão inflacionária, a CGT pode estar dissolvida, junto com a CUT ou pela CUT. Coloca os salários a salvo da inflação a cada soluço de 20%. Sua vantagem intrínseca era demonstrar que. de parte do governo, o Plano Cruzado estava disposto a defender a renda dos trabalhadores a despeiIp de acidentes de percurso. ^- ^= O naufrágio do Cruzado colocou o governo diante da necessidade de reconhecer que não pode cumprir a lei. Pelos cálculos dos próprios pais da reforma econômica, se o gatilho for mantido a Inflação deste ano ficará entre 500% e 700%. NENHUMA MUITO POUCAS Joaquinzão sabe que sua proposta não tem chances. Ele a põe na mesa apenas para justlticar a sua presença nas conversas, públicas e secretas, com o governo, protegendo-se das críticas da CUT. O gatilho só sobreviverá pela inércia. Nenhuma autoridade do governo Sarney admite sua permanência e nos próximos dias ele deverá ser substituído por outra fórmula, mais amarga. i 4 O 3 TRABALHADORES 0 ministro OHson f umro sabe que um bom pedaço do governo e do empresirlido torce pira que ele patrocine uma fórmula de achatamanto salarial que. por antipitlca, laça com que ele sala do ministério com os ossos quebrados. Sua disposição é a de nio propor nada sozinho, muito menos remédios amargos. 0 presidente da Conlederaçáo Nacional do Comércio, Antônio de Oliveira Santos, propôs na quintafeira um novo gatilho, que dispara em beneficio dos salários mais baixos e acerta na cabeça da classe média. Ela teria alguma simpatia junto ao empresariado, mas parece ter nascido para ser "queimada". J-Jjf IJS* * ^ junaro acha que uma ampla rodada do gatilho é direito adquirido do trabalhador e. portanto, Inegociável. Quer que o governo, o PMDB e o PFL negociem com empresários e trabalhadores uma nova lei salarial para vigorar a partir de março ou abril Enquanto náo se chega a uma nova lei salarial, o presidente da CNC acha que o gatilho deve ser acionado nos 20% da lei para quem ganha até 4 salários mínimos. Quem ganha mais que isso fica com um abono de apenas 650 cruzados. 120.%=. < A manutenção do oalilho acalma o movimento sindical a mostra 101 trabalhadores qua o governo, apesar de assustado, perdeu a mania de correr aos seus bolsos sempre que se vé em dificuldades. Essa fórmula fortalece Samey. Coloca sob a proteçáo do gatilho cerca de 60% dos trabalhadores brasileiros, precisamente aqueles que mais sofrem quando a inflação começa a corroer seus salários. Além disso, ajuda as empresas a segurar os salários maiores. < > r^ Por ser um adiamento da questáo social de janeiro para marco, o problema da inflação e dos salários reaparece em menos de noventa dias, com Funaro ou sem ele. Essa decisão pode fortalecer a Impressáo de que o governo náo sabe o que fazer. GRANDES ò Acerta a testa da classe média e descontenta precisamente o pedaço da massa de assalariados com capacidade de mobilização sindical. O que esse gatilho segura em matéria de salários libera em termos de greves e confrontos sociais. [\ É provável que se siga por esse caminho, sobretudo se Funaro endossar esta Idéia publicamente, pois nesse caso terá sido ele a quebrar, por pouco tempo, os ossos de seus adversários no governo. a Em Brasília, s a trégua não sai u | .% A negociação trlpartite, depois de quatro reuniões, deu em nada .J 6"- Se o sonho do assalariado é ter o seu salário corrigido sob a proteçáo de um aanto que resolva as conseqüências da Inflaçáo. o sonho do empresariado conservador é acabar pura e simplesmente com o gatilho. tob a proteçáo de outro santo que o livre das greves. Na semana passada a idéia do fim do gatilho prosperou no Banco Central. C^ Apresentada como espantalho, a proposta do fim do gatilho faria com que os salários ficassem sob o efeito corrosivo da Inflaçáo. Uma taxa de 20% na desvaiorizaçáo da moeda significaria o confisco de 8% do valor real dos salários. 0 fim do gatilho eliminaria o impacto dos aumentos de salários sobre a Inflaçáo e conteria o que o governo chama de pressáo de demanda, pois os assalariados ficariam sem dinheiro para comprar. Teria o efeito de uma medida de choque. A providência é politicamente Inviável, pois poderia levar o país á convulsão social. Economicamente tudo indica que, em vez.de conter a demanda, criaria uma recessáo semelhante á de 1981. Náo tem o apoio nem do PDS, quanto mais do POUCAS NENHUMA Esta proposta náo deve vingar, mas funciona como um marco das pretensões do empresariado. Sua flexibilidade permite que se mexa no patamar do gatilho e no tamanho do abono, ao gosto do freguês. 0 simples fato de a idéia ter circulado no Banco Central mostra que há burocratas que náo sabem em que governo estáo e o governo náo sabe que tipo de burocrata sustenta na cúpula econômica. Cynthia Poter Por volta das 9h30 da noite da última quinta-feira, 22, o presidente da Fiesp, Mário Arnato, pediu a pa: lavra no gabinete do ministro do Trabalho. Depois de cinco horas de reunião, seu desabafo foi curto e grosso. Com a aprovação de seus pares, declarou que se não houvesse um realinhamento de preços "agora e já", 40% da indústria paulista parariain de produzir haveria desobediência generalizada, e "uma explosão, porque ninguém consegue produzir abaixo dos custos". Era o inicio do fim da mais longa e trabalhosa reunião tripartite, entre w empresários, governo e trabalhadores, verdadeira maratona em busca de um entendimento que permitisse uma tréfçua. P ■ azzianotto fez mais um esforço, e pediu mais uma das muitas interrupções do encontro para conversar separadamente com as lideranças sindicais. Em nome do futuro do País, sugeriu uma contraproposta de rcalinhamento de preços de 1896 (contra os 25% pleiteados pelos empresários) e por instantes chegou a pairar no ar a idéia de que os trabalhadores a aceitariam ;m troca de uma estabilidade por 90 dias. Náo houve acordo. Nervos á ílor da pele em ambos os lados, o vicepresidente da CGT, Ricardo Baldino, recusou-se a assinar uma nota em que, defendendo a continuidade das negociações, concordasse em deixar a>critério do governo o realinhamento de preços e a fixação do salário mínimo. "Você veio aqui beneficiar-se das fotos?", perguntou Pazzianotto. "Nào preciso disso, e se sou incômodo vou embora", respondeu Baldino. "Não, aqui você é bem aceito", retomou o ministro, e os ânimos serenaram. Mas estava selada a incompatibilidade total de posições de empresários e trabalhadores sobre realinhamento de preços e salários. As 00hl5, Pazzianotto, com olhos vagos, gestos cansados e profundas olheiras, dava conta do espólio da reunião. "Todas as partes reconhecem e enaltecem a oportunidade criada pelo governo com a realização dessa discussão e todos os participantes manifestaram-se unanimemente pela continuação das negociações." (Quatro horas antes, o ministro confidenciara a 5<7i/íor, entre dois goles de cafezinho, que só via "sombras e nevoeiro" pela frente. "As negociações continuam, mas - sem trégua e sem pacto", resumiu Baldino á saída da reunião. E admitiu que, mesmo com o dcòcto que sem dúvida o governo baixará, a CGT continuará conversando, embora disposta a jogar todo o seu peso em mobilizações e greves. 'Uma coisa não exclui a outra", declarou. A reunião do Fórum'Sindical (que inclui a CUT), nesta quartafeira, 28, portanto, será movimentada. A CUT tentará capitalizar toda a frustração do fracasso. A CGT terá de provar que nem tudo foi perdido, e lutar para não ficar a reboque de sua rival. Para isso, terá de se acertar, interna e preliminarmente, antes mesmo cie sua plenária, no sábado, 31. Isto porque, durante as negociações, houve alguma divergência interna. Os dirigentes da entidade ligados ao PC do B desistiram e afastaramse das conversas ainda na segunda rodada, e nào compareceram á reunião do dia 20. E o próprio presidente da entidade, Joaquim dos Santos Andrade, não se a presentou ao último encontro, além de ter saído antes do término do anterior. Joaquinzão, conversando com as federações em São Paulo, na própria quinta, 22, teria concluído pela inviabilidade do acordo e se poupado do trabalhode viajar. O vicedeJoaquinzão é que teve de arcar sozinho com o ônus do encontro. Ao sair, Baldino respondia visivelmente irritado aos que lhe perguntaram o porquê da ausência de Joaquinzão: 'É o que eu também gostaria de saber." Na verdade, essa ausência contribuiu para enfraquecer politicamente os trabalhaclores nas negociações. Segundo as próprias lideranças confidenciam, a maior parte deles são bons interlocutores, porém maus negociadores, até por falta de prática de alguns líderes de confederações, afastados há muito tempo, ou desde sempre, das mesas de negociação. O que ocoire, igualmente, com boa oarte das lideranças empresariais. A falta de prática ajuda a explicar por que algumas opoituniclacles de entendimento foram perdidas. Os empresários, pouco aleitos ao jogo de cintura e do toma-lá-dá-cá que se desenvolve nas negociações de base, tomaram muitas vezes posições a ^riori inllexíveis, complicando até a troca de idéias. A rigor, não conseguiam entenderrse direito Jtem entre eles mesmos. Um exemplo. Pazzianotto, habilmente, esquivouse de todas as pressões e literalmente cobrou dos empresários uma posição sobre o ■ mínimo. Albano Franco propôs Cz$ 1,320, Benedito Ferraz, da CNTT, íícúu em Cz$ 1.100, Antônio Oliveira Santos, da CNC, lançou CzJ 1.200 (que, tiliás, é o piso de sua categoria). Santos já tinha levado um puxão de orelhas por ter avançado uma proposta de mínimo (20% de gatilho, mais 30% de inflação acumulada sobre o va lor atual) que não agradou seus pares. Entre as oportunidades perdidas ficou também o que viria a ser a proposta dos trabalhadores para o salário mínimü. A partir da idéia básica de admitir o salário do Dicese (Cz$ 4.884), o ponto de partida era conceder, a partir de janeiro, o salário ensaiado pelo go- OTV verno (1.567) mais uma de seis parcelas da diferença entre esse valor e a referência do Dieese (6 x 552). O valor inicial no novo mínimo seria, portanto, Cz$ 2.119 e as demais parcelas seriam concedidas trimestralmente. Os trabalhadores estavam dispostos a negociar, entretanto, ate um mínimo de Cz$ 1.709 a partir de fevereiro (que já garantiria uma reposição de 28%) com reposições mensais de 10% (ou a negociar). Depois de vários jogos de j cena entre os próprios trabalhadores (a USI, subitamente radical, disse que se retiraria se o salário ficasse abaixo de Cz$ 2.119), a proposta vingou. Mas nem chegou a ser apresentada, porque o momento havia passado. Da mesma forma, já depois de encerrada a reunião, nas conversas de corredor, Albano Franco, Antônio de Oliveira Santos, Flávio Brito (pelos empresários) e Baldino (pelos trabalhadores) praticamene fecharam um acordo. Baldino propôs um gatilho geral a partir de I* de janeiro, de 25% sobre a última correção. Albano contrapôs dois gatilhos de 25%. Oliveira Santos contraargumentou que seria necessário baixar um pouco o mínimo c suspender o gatilho por 90 dias. Baldino admitiu 60 dias. Brito concordou. E haveria o rcalinhamento de preços de 25%. A proposta pocieria interessar a todos. Percebendo a luz no fim do túnel, Pazzianotto, rapidamente, chamou o presidente da CNT1, Calixto Ramos, para sentarem todos novamente. Mas Calixto, intimidado, alegou não haver mais tempo útil para a discussão e se retirou com as demais confederações. Cvidentementc, Baldino estava disposto a investir ainda nesta hipótese, levando Joaquim a assumi-la rapidamente junto a . Pa77.ianotto, ainda na sexta-feira, 23. O ministro, por sua vez, acionaria Albano. A valer o que o próprio Albano Franco confidenciou ao vice-presidente da CGT antes do início da reunião ("temos de chegar a um acordo de qualqucV jeito para não deixar o governo agir pela própria cabeça c passarmos, nós, por usurpadores, e vocês por radidais"). a proposta teria uma chance, embora remota. Fosse possível um eletrocardiograma das conversações, acusaria intensa taquicardia antes do momento fatal. Um simples cronograma indica. Após a primeira reunião tripartite, Pazzianotto jantou com Samey na segunda-feira, 19, » voltou a reunii-sc ."üinclena manhã w mm do dia sejçuime: túiha esperanças. No mesmo instante, as confederações c a CGT acordavam, entre elas, que suspenderiam as negociações se não houvesse proposta concreta do governo naquela tarde. O pacto estava ameaçado. Mas de tarde nào houve proposta concreta do go verno e os trabalhadores não saíram. Foram acordados 10 dos 12 pontos de pauta {") propostos por Pazzianotto. Nova reunião foi marcada para quinta-feira. As expecutivas cresceram. Na quarta, 21, Pazzianotto voltou a reunir-se com Sarncy, animado. Ao mesmo tempo, reuniam-se no Rio os empresários e em Brasília as confederações. Os empresários endureciam. Na Capital Federal, a Contag por um triz nào decidiu sair fora, acompanhada pelas demais confederações, porque as questões de política agrícola e re- lòmia agrária estavam formuladas vagamente ou esquecidas. O presideme do PMDB, Ulysses Guimarães, depois de duas horas de conversa com Pazzianotto, expressava sua preocupação. Na manhã de quinta-feira, o diretor da Contag, Francisco Urbano, foi a Pa/zianotto e deixou entrever que as confederações se retirariam se não houvesse uma nova tripartite - com data marcada - para analisar suas questões. Pazzianotto, que já se desentendera com o presidente da Contag, José Francisco da Silva, na reunião anterior, amaciou. Pediu um documentocicondicionou a reunião ao prosseguimento das negociações. Esteve também no Ministério do Trabalho o ministro Sayad, para longa conversação. E á tarde a reunião começou em nível algo melhor, mas abaixo das expectativas. Mário Amato, a caminho do en- contro, desabalasa no carro que era perda de tempo. Líderes sindicais entraram na sala declarando as imensas dificuldades pela frente. O pacto acabou não saindo. Mas, de qualquer forma, uma coisa parece clara para os participantes: as conversações, apesar de tudo, tèm de continuar. Até porque se esf>alham, entre empresários e trabahadores, a absoluta convicção de que quaisquer medidas que o governo possa tomar serão, necessariamente, paliativas. (') Entrr os ponta em que houve acordo tslio: a nectaidade dt uma nova Uzislafio sindkaJ; a refulamfniafâe da partieipaçio da IraiaJÁadorti nos lueros dai mprtuu; e aiámáammío do DUtu pata elaborado d* um indke dt inflafdo a partir dt uma nova eeita bdiica; a liimiatèo ngoroía do tfeito iuipemivo nos tüuúüoi t»ttiabtltàmtnlo dt um diálogp Iripartitt pemtmrtit, com ou itm Corutlho Ecanòrmco t Social, vinculado ao Ministério do Trabalho. Improbabilidade do pacto social ANTÔNIO DIAS 1.E1TE Reflexões mais demoradas sobre o pacto ou entendimento ou acordo social nos levam à conclusão da sua inviabilidade política, no Brasil, neste momento. Essa impressão se reforça à medida que nos aprofundamos no exame das condiçõesque um amplo entendimento nacional deveria satisfazer. Pelo menos, foi' o que me ocorreu desde que, em janeiro deste ano, comecei a analisar, passo a passo, os principais temas, éticos e econômicos, que o pacto envolve. A principiar pela decisão fundamental de como repartir sacrifícios entre as diversas categorias de assalariados e os vários grupos de capitalistas com um mínimo de iniqüidade. O desdobramento da questão nos leva A essência do projeto político que se pretende adotar para o país na etapa histórica que se inicia com a discussão de nova Constituição. Para os que optamos por uma democracia pluralista e por organização econômica predominantemente privada e capitalista, como mais adequada para o futuro próximo, é fundamental que ela venha acompanhada de modernização do capitalismo e de redução da desigualdade na distribuição de renda entre capitalistas e assalariados, o que implica renúncia de privilégios por parte dos primeiros. Nessa mesma linha, é natural que os assalariados, através das organizações sindicais, busquem o crescimento de sua quota parte na repartição da renda, como aconteceu nas principais1 democracias ocidentais. Mas é importante, também, que eles concorram para o eficiente funcionamento do aparelho produtivo e se autolimitem, nas reivindicações, dentro do que seja compatível com o | Káclo~ nâo "tfefrt comldai . a cesta *—<&v^J crescimenlo econômico sustentado do país, sob pena de inviabilização desse objetivo maior e, portanto, da sua bropria ascensão econômica e social. f Mas, além da questão central do regime econômico que deva predominar, há que considerar aspectos específicos e mais complexos da Área rural. Aí, além da repartição da renda, há a repartição da terra. E há, ainda, a questão da extensão plena, ao campo, de legislação trabalhista e previdenciária. Envolve, também, o aspecto da eficiência técnica da organização produtiva da qual depende, por. sua vez, e em última análise, a alimentação de toda a população. : Há finalmente, a responsabilidade do Estado, em termos- administrativos e da sua auto-reforma, no sentido de produzir o máximo de serviços pelo menor custo, com o menor peso relativo, enfim, sobre os ombros da população. O percurso que fizemos no ano passado e que resultou em cinco Ww- artigos publicados nesta seção em janeiro e fevereiro, demandou dois meses de reflexão e iniciou-se com a idéia de que o proposto pacto requer detalhamento, e não pode ser simplesmente matéria de discurso com definição política imprecisa. Essa convicção nos levou a identificar questões políticas essenciais, mais complexas do oue se poderia imaginar a partir da expressão de um simples desejo de propor e viabilizar um entendimento nacional. Por outro lado, a nesse mesmo período, •■ declarações sucessivas das várias partes interessadas não pareciam indicar a existência de um clima para discussão, em termos objetivos, das questões cuja solução é indispensável A formulação do pacto social. Do lado do governo, ao que se saiba, do que se tornou público, não foi nem tentada. O que há é discurso genérico, e prudente, acredito que motivado pelo constrangimento em propor, frontalmente, uma fórmula de repartição de contribuições entre os brasileiros. TI O I o "D c õ I SN * O t 00 MM A amarga conclusão é de que um pacto, entendimento ou acordo social é improvável. 0 problema da repar^ lição dos sacrifícios há que ficar, portanto, a cargo do Congresso Nacional que tem, aliás, atribuição para tanto, e que pode assumir toda a responsabilidade de analisar e votar uma proposta que, nesse sentido, lhe seja feita pelo poder Executivo. Ambos podem, além disso, ouvir, previamente, uma a uma, as partes Interessadas, Se a questão vier a ser posta nestes termos, resta saber se o Congresso Nacional, com a mal definida atitude ideológica das representações partidárias, e a dispersão de lideranças, tem condições de decidir sobre um caminho político nítido, e de elaborar um projeto econômico viável. Ou se cairá na armadilha de uma solução simplesmente distributivista e demagógica, que dará continuidade ao processo in/lacionárlo com novos patamares, cada vez mais altos, que acabarão por inviabilizar o funcionamento do pais. Nesta hipótese, toda a questão há de ser afinal revista, em muito piores condições do que as de hoje. ANIÒMIO DIAt Ullt. 6Í. lol n.lnl»rr« do. Uloot t l**t<a (IMf-73). prnMmK do Cio. Volo do «io Oot. (H»7- «I • é pfelMtor ooOMolodo d* iunomlo do UnlvonkMlo f odorol do Rio do Jonolro (Uf RJ). Existe no Brasil a tal corrida entre salários e preços? Aloysio Biondi É bom parar prá pensar, neste momento em que o Governo está em busca de uma saída para a crise, procurando a colaboração dos empresários e trabalhadores. Neste momento, em que a inflação atinge altas taxas devido ao desrepresamento dos preços, ministros e assessores defendem o fim do gatilho salarial, e vêm com aquela história toda de que de nada adianta reajustar salários, porque isso somente provoca mais inflação, implantando-se nova corrida entre salários e çreços, etcétera e tal. A própria opinião pública, a própria massa trabalhadora, mesmo que defenda os reajustes salariais, não coloca essas teorias em dúvida, o que aumenta as expectativas inflacionárias. Por que? Considera-se que os reajustes salariais são inevitáveis, e considera-se, também, oue a inflação é inevitável, uma fatalidade. Não é isso mesmo? Não. Há uma teoria em voga, mesmo entre economistass de esquerda, segundo a qual a inflação nada mais e do que a "guerra" entre os diversos segmentos da sociedade, para conseguir conquistar uma fatia maior do Bolo da renda nacional. De acordo com essa teoria, mera versão sofisticada da antiga tese da corrida entre salários e preços, existiria inflação porque os trabalhadores tentam conquistar salários maiores para aumentarem também a fatia do bolo que lhes cabe, e isso faz com que, no momento seguinte, os empresários, que viram parte da fatia dos seus lucros ser comida pelos aumentos de salários, partem também eles para aumentar preços, com batalhas intermediárias de que participam banqueiros, os agricultores'etcétera. Chegou a hora de fazer uma per- gunta: essa teoria se aplica mesmo ao Brasil, ou apenas aos países desenvolvidos há muitas décadas? Nesses países, houve avanços sociais e políticos ao longo de séculos e, por força desses avanços, a distribuição do bolo da renda nacional é muito mais justa. As empresas trabalham com margens de lucro infinitamente menores, o mercado financeiro nao leva as taxas de juros às nuvens a seu bel prazer, o governo não consegue cobrar impostos escorchantes, os salários tém um nível civilizado sinteticamente; nesses países, a diyi: são do bolo da renda nacional foi sendo consolidada, ao longo de séculos, com fatias progressivamente mais equitativas para os diversos segmentos sociais. Aqui no Brasil, com poucç mais de três décadas de urbanização, industrialização e politização, a situação é inversa. Por isso mesmo, como é reconhecido até pela direita, os padrões salariais no Brasil ainda são demasiado baixos. E isto leva às conclusões a que se quer chegar: o "fator trabalho", o assalariado ainda está longe, no Brasil, de ter conseguido a fatia que lhe deveria caber, na divisão do bolo da renda nacional. Isto significa que aumentos salariais no Brasil não devem ser considerados como es,topins de corridas com os preços. E a mentalidade empresarial, governamental e de toda a sociedade que precisa mudar, enxergando-se que como nos demais países, é inevitável que os assalariados conquistem maior fatia da renda nacional. Em bom português, é preciso que empresariado e governo, se desejam mesmo um país moderno e mais democrático, entendam que os aumentos salariais devem ser absorvidos pelas empresas, isto é, que as empresas (como nos países ricos) terão que passar a operar com margens de lucros não tão altas como agora. Se houvesse compreensão dessa realidade, os salários subiriam sem trazer riscos de recaídas inflacionárias — porque as empresas não aumentariam seus preços a pretexto de compensar os avanços salariais. Utópico? O empresariado brasileiro não está preparado para ter essa visão da realidade? Errado. Ainda agora, nas reuniões realizadas em Brasília para dar início à discussão do "pacto social", a Confederação Nacional do Comércio surgiu com uma proposta nessa direção, numa atitude que demonstra que, mesmo aos trancos e barrancos, a sociedade brasileira. vai-se transformando. Para a Confederação, o "pacto" e o controle da inflação serão possíveis se as empresas assinarem acordos com o Governo para reduzirem suas margens de lucros — da mesma forma que os trabalhadores reduziriam, temporiamente, suas pretensões salariais até que a inflação esteja sob controle. Está claro que a proposta da Confederação decorre de uma situação conjuntural, da preocupação com a necessidade de evitar uma "explosão inflacionárla". Mas já é um avanço. Abre caminho cara que se discuta qual a participação que o assalariado, o "fator trabalho", deve vir a ter na renda nacional. Sem inflação. O n os o t 00 Armistício em Paris Começa a fase crítica da dívida: com ou sem FMI, o Brasil reduzirá os juros? A Cacex conseguiu segurar a informaçio sobre os dados da balança comercial cm 1986 durante 22 dias, Mas na quinta-feira, dia 22, seu diretor, Roberto Fendt, não teve mais jeito se não anunciar os escassos e preocupantes resultados: um pequeno saldo de US$ 156 milhões, semelhante ao obtido em outubro e novembro, mas muito menor do que o alcançado até setembro (em tomo de USS 1 bilhão mensais). Isso reduziu o superávit comercial durante o ano passado para USS 9,5 bilhões, ou seja, 3 bilhões a menos que o esperado pelo governo no começo do ano e 1 bilhão a menos do que a mais recente previsão (cita, em novembro, pelo Banco Central. A Cacex atribui o mau desempenho das exportações, cm queda abrupta e mal explicada, á redução constante nos preços dos produtos primários no Exterior (mas bem que poderia ter debitado a responsabilidade aos que subláturam exportações ou adiam negócios esperando uma máxi) e decidiu congelar as guias de importação de cerca de 5 mil itens, até que as exportações voltem a um patamar de USS 2 bilhões mensais, atingido na maior pane de 1985 e 1986. Quem acredita que, em 1987, a dívida externa voltará a governar ostensivamente a política econômica brasileira, tal como ocorreu nos anos de recessão, contabiliza esse dado a iávor de sua crença. Quem não acrediu lembra do acordo ümiado com o Clube de Paris, na madrugada da quartafeira, dia 21, um dia antes da divulgação do pobre superávit de dezembro. E ressalta que ele se consumou sem que o Brasil fosse obrigado a aceitar a supervisão do FMI. Segundo o acordo, os credores concordaram em reesíiàlonar USS 3,274 bilhões (principal e juros da dívida de 1985 e 1986), além de USS 500 milhões do principal referente ao primeiro semestre deste ano. O Brasil terá seis anos para pagar (queria sete), com três de carèn-, cia (queria cinco). Além disso tudo, vai pagar USS 348 milhões em juros de mora (em três prestaçõçs semestrais a partir de junho de 1988) e USS 1,3 bilhão, relativo a obriga- ções anteriores vencidas e não mais renegociáveis. A combinação dessas duas informações, uma, sombria, outra, de certo alívio, embora os juros não tenham sido fixados, dá bem a idéia da situação real. Nuvens obscurecem o fronl externo, e é fácil prever a dificuldade das negociações que só agora começam para valer. Os banqueiros aceitarão fazer uma renegociação ampla da divida brasileira P É possível reduzir os encargos da divida, principalmente os spreads? O Brasil terá de lazer um acordo Ibrmal com o FMI ou bastarão uma ou duas visitas anuais de técnicos da instituição, para troca de informações? Conseguirá o dinheiro novo que lhe permitirá manter um crescimento razoável {5% por exemplo), esfriando o saldo comercial e a busca obsessiva de mais exportações, para não esfolar o mercado interno? IMo meio de tudo isso, só há uma certeza: a renegociação que houver, se fora do FMI, são será global ou plurianual, mas provisória e limitada no tempo ( 'precária", dizem ilguns), tal como aconteceu no Clube de Paris. A dívida a vencer nn primeiro semestre deste ano foi renegociada; em julho vai verificar se o estado da economia estimula o refinanciamento das parcelas - USS 700 milhões- relativas ao segundo semestre. Nesse caso, de tempos em tempos será necessário fazer novas e desgastantes rodadas. Meses atrás, no embalo do primeiro CFuzado, dizia-se aos quatro ventos que a divida externa não seria obstáculo ao oescimento da economia • decidido pela sociedade brasileira. Fixou-se até uma meia para 1'987: reduzir pela metade as transferências líquidas de recursos financeiros, ou seja, de 5% para '2,5% do PIB. É a diferença entre os capitais que entram, sob a forma de empréstimos, financiamentos e investimentos diretos, e Os capitais que saem, sob a forma de pagamentos de .juros, remessas cie lucros, amortizações do f5rincipiil da dívida. Isto significaria diminuir a saída de capitais de USS 12 bilhões (como vem oconendo anualmente nos últimos anos) para algo como 6 bilhões em 1987 Dizia-se, com razão, que o Brasil, e, de resto, toda a América Latina, não podia continuar sendo um exportador de capitais (nos últimos cinco anos, a saída liquida passou de USS 60 bilhões) e que esse dinheiro, ficando aqui, iria csiímular lamo o invesiimento interno, como permitiria aumentar as importações de máquinas e insumos O objetivo de reduzir a exponaçâo de capital pennanece. Mas o discurso, e a ação das autoridaclc-s, moderou-se nuiiio uliiinamenie. Nunca se falou em ruptura ames. nem o governo brasileiro aclmiiiu publicaineme fazer como o pemano: definir ciuc so paga juros cquivalenics a 10% das expoiiaçõcs. e pronto. O máximo que o minisno Dilson Funaro reconheceii foi. em caso de extrema secura de dólares, centralizar o câmbio e só liberar remessas se entrar o dinheiro correspondente. Trata-se de moratória não declarada, forçada pela necessidade, e o ex-ministro Delfim Netio recorreu a ela na virada cie 1983 para 1984. Mas agora, com o governo assustado pela inllação c pela crise cambial decorrente da meiairava nas exportações e nas resenhas, a pala\Ta-chave é negociação. Tudo o que foi negociado até aqui, de uma divida loial de USS 101 bilhões no fim do ano passado, parou em 1986. Segundo as estimativas do Banco Central, o Brasil, em tese, deve pagar este ano, pelo principal da divida, sem contar os juros, USS 14,4 bilhões. O primeiro passo, então, é renegociar a dívida que vence este ano (as amortizações estão suspensas até março, en.(quanto não se acerta com os credores). Se não renegociar, o Brasil terá de pagar esses USS 14,4 bilhões do principal, mais os juros, os lucros e tudo o que entra na conta de serviços, deficitária. Tudo somado, são USS 25,4 bilhões. O previsível superávit da balança eomercial seria capaz de pagar talvez, um terço disso. Aí o País é que fecha, não o balanço de pagamentos. Ó mais provável, nesse processo, ê que se repita o caminho dos anos anteriores. Renegocia-se o principal da dívida com os bancos privados, pagam-se os juros. Embora mais palatáveis, ainda assim os problemas avultam. Supondo que se confirme a previsão do Banco Central para 1987 - pagamento de juros no valor de USS 8,3 bilhões, remessas de lucros de USS 1,25 bilhão, entre outros itens -, o buraco na conta de seiviços chegará a USS 11,3 bilhões. M as há também quem diga que o FMI não é mais o bicho-papào deantes - e não apenas os exministros do governo anterior. O próprio Fernão Bracher já alinnou (e desmentiu) que esse seria o caminho "se a situação piorar". E o se- A M ISJ 00 mm ww Mi ECONOMIA QUINZENA nador pcemctlebtiyt Fcnumclo HcMric|Lic Cardoso, voltando na sfinaiia passada da Euiopa, alirnia que o Brasil deveria repensar suas lelações com o Fundo. Em seus coniaios na Franca, Cardoso cenameiue colheu a impressão de que o FMI, de agora em diante dirigido por Mithel Camdessus, banqueiro ligado ao amigo gabinete socialista e ao presidente FraiK.ois Mitterrand, tende a ser mais flexível nas orientações c exigências aos paises devedores. O conselho mais claro, porém, veio do respeitado jornal londrino Finatttui Timet. Analisando o Cruzado, e os erros que determinaram o adiamento dos "ajustes necessários" para depois das eleições, o jornal recomenda a Sarnev "aban- POLÍTICA donar algumas das exterioridades populistas", introduzir reiormas no Cruz-ado ("que permitam um crescimento mais ordenado"), cortar gastos públicos e subsídios, criar uma "atmoslera mais atraente para ocajital estrangeiro". Lm editorial publicado na tei\a-léira, dia 20, o jornal dfat que Sarney "deve preparar o terreno rara a aceitação pública de um monitoramento mais íinne pelo FMI, o que possivelmente será uma condição crucial para que os bancos internacionais se disponham a dar novos créditos e para que o Clube de Paris reescalone a dívida do Brasil". Para o Clube, que terminou a reunião antes do editorial, não íbi preciso. No caso dos banqueiros, a negociação está apenas começando. O que é o clube de Paris O Clube de Paris é um fórum internacional para o reescalonamento do serviço da divida concedido ou garantido por credores oficiais de forma bilateral Não tem nem um número fixo de membros nem uma estrutura institucional. Representa, isto sim, um conjunto de práticas e procedimentos que se desenvolveram ao longo de 30 anos, desde o primeiro encontro a d hoc realizado para a Argentina em 1956. NACIONAL Quem consente,cala Glaucio Ary Diilon Soares Centro de Estudos Latino-Americanos, Universidade da Flórida tros tópicos. A partir de 1970, o Congresso passou a rejeitar os próprios projetos e ficou impossibilitado de sequer fiscalizar as atividades do Executivo. Após o Ato Institucional n? 5 (dezem- n bro de 1968), como o mostra a figura I, o Legislativo passou a aprovar praticamente todos os projetos enviados pelo Executi- > vo. As raras rejeições ocorriam por recomendação do próprio Executivo, nos cao sos em que pretendia apresentar outro pro- (-1 jeto, considerado melhor. Até 1968, o Con- m gresso produzia leis, e cerca de 8017o dos projetos de sua iniciativa eram aprovados. O AI-5 mudou isso e, de 1970 em diante, Kl os parlamentares passaram a rejeitar sistematicamente os próprios projetos: menos de lO^o, em média, eram aprovados, c estes quase sempre provinham de fato do 00 Executivo, sendo apenas apresentados via Legislativo. Dados da Secretaria da Câmara dos Deputados atestam que, em 1972, o Congresso aprovou apenas 5^» dos proje- a Durante o regime militar, a bancada arenista foi utilizada para asfixiar o Congresso. Repudiando sistematicamente iniciativas legislativas de seus próprios colegas, os deputados do partido majoritário apoiavam uma estrutura de poder que os deixava sem funções. Inverteu-se assim o velho provérbio. Uma das primeiras preocupações do governo militar — revelando sua vocaçSo autoritária — foi monopolizar a produçfio de leis. O monopólio foi estabelecido por etapas. Já em 1964, o Executivo passou a legislar autonomamente, por meio de dccretos-lcis, enquanto o Congresso Cicou impossibilitado, por força do Ato Institucional n? I (abril de 1964), de rejeitar projetos enviados pelo Executivo. Em 1967, o poder do Legislativo sofreu nova restrição: já nâo podia fazer leis que implicassem criação de despesas, outorgando-se o Executivo exclusividade legislativa em matéria financeira, tributária, de criação de cargos, de aumento de vencimentos, bem como no que dissesse respeito aos efetivos das forças armadas, à organização administrativo-judiciária e à anistia de presos políticos, entre ou- s i—« 1 As reuniões são tradicionalmente conduzidas por um representante do Tesouro francês e é franqueada a qualquer credor oficial que aceite as práticas e procedimentos do Clube. Desde 1983. o Clube de Paris tem concluído, em média, mais de 16 reescalonamcntos anuais, comparados com apenas cerca de 3 na década anterior. Em 1985 foram concluídos 21 acordos com membros do FMI, representando um alivio crediticio para os devedores de US$18 bilhões. PERCENTAGEM DE PROJETOS APROVADOS. PELO LEGISLATIVO, SEGUNDO A ORIGEM ngem legislativa ongem axecuiiv* n o H C > O < 03 QUINZENA tos de lei apresentados pelos dois partidos existentes (Aliança Renovadora Nacional e Movimento Democrático Brasileiro); em 1973, T/« foram aprovados e em 1974, primeiro ano do governo Geisel, 67o. Outra série de dados, divulgada pelo Processamento de Dados do Senado (Prodasen), mostra que essa forma de suicídio legislativo só cessou a partir de 1979, com o governo Figueiredo. A instituição encarregada de matar, no nascedouro, as leis propostas por parlamentares era a Arena, cujos deputados e senadores eram obrigados a votar contra os projetos apresentados pelos colegas (figura 2). Em 1967, como reação à impossibilidade de rejeitar os projetos enviados pelo Executivo, o Congresso procurara reforçar sua função fiscalizadora, lançando mão dos requerimentos de informação. Estes haviam se tornado o único meio a que o Legislativo podia recorrer para exercer algum controle sobre as ações do Executivo. Permitiam, por exemplo, verificar se os fundos destinados à construção de uma ponte tinham sido efetivamente usados para tal. O número dos requerimentos de informação, que tinha sido de 1.309 em 1966, saltou para 3.598 em 1967. Também este recurso, entretanto, foi obstado pelo Al-5: em 1970 e 1971 foram apresentados no Congresso, respectivamente, seis e 25 requerimentos de informação (figura 3). Acresce que poucos eram respondidos. Com o AI-5, portanto, o Congresso foi despojado de suas funções e a Arena foi utilizada pelo regime militar como instrumento desse processa O esvaziamento do Legislativo e o absolutismo do Executivo geraram uma situação contraditória para a Arena e, posteriormente, para o Partido Democrático Social. Como membros do partido do governo — e de um governo punitivo e autoritário —, os políticos dessas legendas viam-se forçados a apoiar publicamente uma estrutura de poder que os deixava sem funções. Como parlamentares, entretanto, defrontavam com a expectativa de seus eleitores de que gerassem, defendessem, aprovassenle implementassem idéias sob a forma de projetos de lei. ' Era notória a má vontade dos governos militares contra as iniciativas legiferantes, como o demonstram as restrições legais impostas pelos primeiros governos militares e mantidas pelos últimos, inclusive o de Geisel, em que se iniciou a distensão. Os parlamentares arenistas que tomavam iniciativas legislativas sem autorização do Executivo tornavam-se malvistos pelo governo e muitos foram hostilizados. Uma das medidas punitivas mais utilizadas era impedir-lhes o acesso aos centros de poder no âmbito do governo. Como tampouco podiam legislar, ficavam sem instrumentos de ação. A submissão da Arena (e, mais tarde, do PDS) ao Executivo era irrestrita. Foi a própria Arena que matou sistematicamente, na raiz, as iniciativas legislativas dos membros de suas bancadas. Os parlamentares arenistas tiveram de se resignar a apoiar os pro- POLÍTICA NACIONAL / ^J PEBCÍNTAOEM DE REJEIÇÃO. PELA CÂMARA FEDERAL. DE PROJETOS ORIGINADOS NA PRÓPRIA CASA 96% 96% ÉÍ m ■ m1*; ■ »l . ■*•*-.■ ■ ••■:■ ■v.- ,' ." 83% ■ ■. fc 90% m ■ ■,*•;.■■ , ■■ 49% .'• •' \~ ■ ■■vV 37% ■■Jv. , li?) li «9% ■■Í-V •••'■'. - 1975 80% 1177 st,- ..' ' 1978 1979 1990 1981 1 jetos enviados ao Congresso pelo Executivo, por irrelevantes que fossem, e a rejeitar sistematicamente os projetos dos próprios colegas de partido, além, obviamente, daqueles emanados do MDB. Ao defender um sistema que exigia a inércia do Legislativo, caíram na imobilidade. É escusado dizer que o comportamento de muitos parlamentares arenistas no Congresso não correspondia às suas crenças íntimas, como o demonstrou uma pesquisa realizada por César Guimarães e Luiz Henrique Nunes Bahia e publicada no Jornal do Brasil (14/04/1975). De fato, esse trabalho revelou que a maior parte dos parlamentares arenistas rejeitava a lei de fidelidade partidária, o sistema bipartidário, o AI-5 na forma em que existia e as restrições às funções do Legislativo. Esses resultados configuravam uma situação esquizofrênica, em que parlamentares deviam dizer o que não pensavam e defender posições de que discordavam. A contradição dos arenistas espelha-se nitidamente em frase dita por Petrõnio Portella (Arena/Pi) em entrevista comigo, em 1972. Quando eu criticava o próprio senador, o Senado e a Arena por legitimar um governo ditatorial, ele respondeu: "Professor, não temos poder para obter o poder que não lemos." Petrõnio Portella deu grande impulso não só ao sistema de informações computadorizadas (Prodasen) e à biblioteca do Senado, como à formação técnica do pessoal auxiliar. Visava com isto, por um lado, que o Senado pudesse vir a ser chamado para exercer relevantes funções de assessoria na formulação de políticas durante a ditadura; por outro, capacitar a casa para exercer em nível ótimo suas funções normais numa democracia plena, se e quando esta fosse restaurada. A posição de Petrõnio Portella tinha muitas semelhanças com a de Célio Borja (Arena/GB), cuja grande preocupação, em determinado momento, era evitar novo endurecimento. Durante a ditadura militar, vários movimentos de rebeldia do Congresso tinham provocado punições, seja na forma de cassações, seja na de restrições à atividade legislativa. A preocupação de evitar novas punições e maiores restrições á atividade parlamentar era comum a muitos parlamentares da Arena e vário; mo- 19«2 J derados do MDB. Se havia ou não perigo de novo fechamento, era quase impossível aferir. Como saber o que se passava por trás das portas — fechadas — de apartamentos, escritórios e quartéis? Em entrevistas feitas em 1972 e 1973 com representantes do governo e vários militares, colhemos respostas que variavam de um extremo a outro. Havia os que afirmavam, pessimisticamente, que haveria novo fechamento a qualquer provocação, e os que proclamavam, confiantes, o fim da era dos fechamentos. Na inexistência de uma política explícita e de uma legislação clara sobre os limiies das atividades do Legislativo, muitas decisões eram tomadas ad hoc. Acresce que os centros de deciíão eram muitos e que as medidas do Executivo dependiam mais de movimentos de pessoas e grupos do que de uma hierarquia legal. Tudo isso se somava para gerar enorme insegurança com relação aos limites da ação parlamentar. Para parlamentares "institucionalistas", como Petrõnio Portella e Célio Borja, a salvaguarda do Legislativo como instituição se sobrepunha a considerações de ordem ético-ideológica sobre a legitimidade do governo militar e de suas ações. A presença do Legislativo — ainda que com funções muito reduzidas — era considerada indispensável: o fechamento da única via para uma saída eventual da ditadura poderia dar lugar à instalação de um regime desabridamente coercitivo. Em 1973, Célio Borja, provavelmente um dos que mais a sério levaram o problema da criação de uma nova ordem institucional, estaria disposto a aceitar uma redefinição do papel do Congresso, enfatizando, por um lado, que esse papel varia muito entre os países democráticos e, por outro, que o Congresso já fizera o que lhe cabia em prol da institucionalização de uma nova divisão de funções e de poderes. Deixava assim subentendido que cfibia ao Executivo levar a cabo a sua parte, institucionalizando uma nova divisão de poderes e, sobretudo, respeitando-a. Esses parlamentares não tinham, contudo, uma teoria orientadora ou um plano de ação para provocar essa salda: limitavam-se a esperar que circunstSncias exter- ;-z£izi3sSs-:* mmmmmm jywwwtwwin i-Ê^S: ' ■*•; ^iüi&^tk. '>. QUINZENA POLÍTICA NACIONAL nas ao Congresso possibilitassem um retorno à democracia. Vale lembrar, entretanto, que nossas entrevistas foram feitas, em sua maioria, em 1972/1973, durante o governo Mediei, que se caracterizou por um fechamento quase total. Naquelas circunstâncias, só era possível optar entre a espera apática ou a rebeldia violenta. 0 argumento de que a atuação da oposição, particularmente a parlamentar, poderia levar o pats, nas palavras do presidente Geisel, "a um retrocesso político" era conhecido de todos. As posições com relação ao tema variavam muito. Havia desde a que valorizava acima de tudo a preservação do Legislativo — exemplificada por Célio Borja —, até a que preferia arriscar o fechamento total, cada uma com sua lógica e sua fundamentação ideológica. Lysâneas Maciel, na época deputado federal pelo MDB/GB, expressou, no meu entender, a lógica da ação. Em entrevista pessoal (realizada em 1972, antes de sua cassação), expôs claramente seu ponto de vista: "...O dilema da oposição é exercer ou preservar o mandato; exercer uma oposição imperceptível ou exercer uma oposição real, efetiva." i ■ £ O deputado insistia em que a linha divisória para o comportamento da oposição deveria ser estabelecida pela própria oposição, aduzindo, como exemplo-limite: "Se falar em direitos humanos é uma provocação para o sistema, então realmente seremos subversivos... Não podemos aceitar, sob pena de opressão contra o povo que nos elegeu e contra nós mesmos, que o governo estabeleça as regras do que é permitido discutir no Congresso... Mesmo num Congresso castrado, é possível exercer oposição. Há linhas de comportamento da oposição que — todos nós estamos plenamente conscientes — não devemos adotar... Mas há uma responsabilidade mínima, que tem de ser exercida totalmente, e a defesa dos direitos civis é uma delas. É umí íôiía de que não se pode abrir mão, que não se pode negociar, com a qual não se potfe contemporizar, porque um sujeito que está sendo morto não pode esperar." Esta posição traça a fronteira adhusslvel para Lysâneas Maciel. O contraste en- ^J NUM ERO 106.1 4 Prolttot i" 263 Projolui por deputado 3.S ^259 ■*£■■' J KM* '' R**''' K^Jfc* ':'.s pí W,}.V]~' GA'' ' v£ * l;. 1,' .■■ A .'■ Vf,',* ■* MDB tre ela e a dos parlamentares da Arena que justificavam o autoritarismo era gritante. Vejamos, por exemplo, o que tinha a dizer, em 1975, o deputado Álvaro Valle (Arena/GB), talvez o representante mais coerente desse grupo: "Parece que, num mundo que se transforma e redescobre valores, há os que querem, aqui em nossa terra, involuir para uma democracia liberal, felizmente aterrada em toda parte... Talvez haja brasileiros presos injustamente, e será nosso dever defendê-los. Há movimentos políticos que não conseguem, infelizmente, se desenvolver. Mas quando, em que país ou em que tempo da história a liberdade foi absoluta e a justiça humana, perfeita?... Os liberais de sempre repetem o seu papel decorado e o dizem à perfeição. Mas erraram de teatro, e neste já é outra a peça que se representa. Não vamos repetir a campanha do brigadeiro Eduardo Gomes ou reviver a UDN (União Democrática Nacional) dos anos 40. Foram momentos de nossa história, válidos, e aos quais devemos muito de nossa liberdade e dos direitos que temos até agora assegurados. Mas numa nação de cem milhões de habitantes, que enfrenta crises de desenvolvimento, o individualismo liberal não pode ser a meta, não pode ser o eixo do debate político... Se políticos foram afastados do mando sem que isso modificasse a rotina de qualquer brasileiro, foi talvez porque estivessem afastados da nação. Militares nunca tomam o poder: eles o ocupam quando há um vácuo." DE REQUERIMENTOS DE INFORMAÇÃO APRESENTADOS 1«V4 ATIVIDADE PARLAMENTAR POR PARTIDO EM 1973 1«fl 1969 '970 19" ARENA A argumentação do deputado Álvaro Valle — que, curiosamente, preside hoje o Partido Liberal — repousa sobre quatro pontos: 1) a democracia liberal está historicamente ultrapassada; 2) implicitamente, o deputado admite injustiças e imperfeições do regime, mas justifica-as porque estão presentes emtodos os regimes; 3) os problemas do subdesenvolvimento são muito mais importantes que os das prisões injustas, da tortura e da violência, que deveriam ocupar lugar secundário nos debates parlamentares; 4) cassados e perseguidos políticos perderam seus direitos porque tinham perdido contato com a nação, não tratando de seus problemas reais. Álvaro Valle expressou, de forma articulada, o pensamento da minoria arenista que considerava pequenos os custos políticos do regime, comparados aos seus benefícios econômicos. Era a época do "milagre" , e muitos acreditavam que o regime militar trans/ormaria o Brasil em potência econômica. As entrevistas com membros da oposição, particularmente daquela definida então como a mais radical, também deixaram algumas impressões nítidas. Posições que na época eram consideradas radicais pelo regime militar são definidas como naturais, ou mesmo essenciais ao exercício de qualquer mandato em todos os países democráticos. Muitas delas, inclusive, foram reincorporadas às preocupações políticas cotidianas no Brasil de Figueiredo. Ações impensáveis no governo Mediei e que, mesmo no governo Geisel, podiam custar a perda de um mandato são hoje legítimas e corriqueiras. A oposição tinha idéias muito claras sobre como resistir à repressão, mas não linha um plano escalonado de abertura política, ou um projeto político para o futuro. Durante a ditadura, limitava-se a combatê-la, não tendo porém condições de elaborar um projeto de abertura sistemática e muito menos de vendê-lo ao governo. Os moderados preferiram não exercer o mandato. Aos olhos dos radicais, essa opção tinha motivações individuais: não exerciam o mandato para preservá-lo, ou seja, preservar as benesses e os privilégios que o acompanhavam. Segundo os próprios moderados, contudo, traiava-sc de uma 5 PROPOSIÇÕES APRESENTADAS NA CÂMARA FEDERAL EM 197S, POR PARTIDO POLÍTICO MDB Arana lndk:>c««> I 1 M Paiectfti - 1 - 3 30 Projaio» da daciaio lagitlativo 2 Propoataa da amanda 1 Conuiiuiçío 16 129%, 29(53%: Projatos da lai compiamamar 13 122%) 47 178%! 5Ü9 I30%l 1 106 165%. Pioiaiot da laí Projetos da raaoluçlo 29 I45*i 22 134*. Raquanmanios 13 (23%l 44 177*1 opção instiiucionalista: o que faziam era um sacrifício pessoal, e inclusive de sua reputação política, em prol da preservação do Legislativo. Essa é uma problemática que nâo se coloca em regimes democráticos, e que náo poria, portanto, Petrônio Portella e Célio Borja em campo oposto ao de Lysâneas Maciel e Francisco Pinto (MDB/DA). Numa democracia, os congressistas ter-se-iam reagrupado de acordo com novas linhas divisórias, possivelmente associadas a políticas econômicas e sociais. Em condições ditatoriais, contudo, as questões políticas ganham preponderância, e muitos dos que antes tinham estado unidos se dividiram e alguns, que estavam afastados, se uniram. A maioria dos parlamentares arenistas rejeitava a perda de funções pelo Legislativo; comportava-se, contudo, de maneira conformista, no justificado receio de punições impostas pelo regime militar. Ao lado dessa maioria havia uma minoria que aceitava e justificava plenamente as restrições impostas à atividade legislativa. A repressão a que estava submetida a sociedade civil impôs um dilema a iodos os eleitos, já que, por um lado, após 1974, o eleitorado — particularmente o urbano — começou a punir os políticos favoráveis à ditadura, retirando-lhes o voto, e por outro, nSo podiam, sob pena de confrontação com o regime militar, advogar a recuperação, pelo Legislativo, das funções perdidas. Essa situação teve conseqüências para o comportamento parlamentar da Arena. Para evitar a ira militar e o possível fechamento do Congresso, seus deputados aceitaram a usurpação contínua de prerrogativas tradicionais do Legislativo. Limitaram assim sua atividade legislativa, caindo no imobilismo. De fato, a participação da Arena nos trabalhos ficou muito aquém do que seria de esperar com base no numero de seus parlamentares. A maioria deles resolveu, simplesmente, não fazer coisa alguma. |\ o MDB, muitos parlamentares % usaram e arriscaram seu mandaJL i to para fazer oposição ao regime militar. Alguns, como Lysâneas Maciel, efetivamente o perderam. O fato de que as iniciativas legislativas eram enterradas pelo próprio Congresso, atemorizado, não impediu que vários parlamentares emedebistas fizessem pleno uso de seu mandato para, com discursos, projetos de lei, projetos de emenda constitucional e requerimentos de informação, transformar o Legislativo num poder que respondia mais ao Oa outra origam 10 118*1 nmu '3 120*1 dinamismo da minoria emedebista que à inércia da maioria arenista. Mas também no interior do MDB fez-se sentir n divisão entre os moderados, que preferiam arriscar menos, e os autênticos, partidários de arriscar tudo. Nesse partido, foram os moderados que viveram a contradição de limitar sua ação de opositores no seio de um partido de oposição ao regime. O MDB aproveitou-se do imobilismo da Arena para assumir a iniciativa legislativa. Apresentou mais projetos de lei, mesmo sabendo, de antemão, que estes seriam rejeitados; apresentou mais requerimentos de informação, tentando fiscalizar o Executivo, e participou com maior assiduidade dos debates na Câmara e no Senado. Já em 1973, em pleno governo Mediei, contando com 87 deputados, apresentou 263 projetos de lei. quatro a mais que a Arena, que tinha 223 deputados. No total de projetos e requerimentos, o MDB apresentou 3,6 projetos por deputado, ao passo que a Arena apresentou 1,2 (figura 4). Em 1974, ano de transição para o governo Geisel, os dois partidos tinham o mesmo número de deputados que no ano anterior, mas o MDB apresentou 278 projetos de lei contra 237 da Arena. Dados de outro tipo e de outra fonte apontam na mesma direção: os membros do MDB apresentaram 58% das proposições de iniciativa de deputados e fizeram nada menos que 3.133 pronunciamentos, respondendo, assim, pela maioria das iniciativas, a despeito de serem minoria Em 1975 o domínio das atividades da Câmara Federal pelo MDB era falo consumado' o partido apresentou 1105 projetos de lei. contra apenas 509 da Arena (aos quais se somaram 48 do Executivo, 29 do Senado, dois de comissões e dois da Mesa); 29 emendas à Constituição, contra 16 6 Discursos (grinda expadlemat Discursos por deputado Projetos . > 3 : A ssim, numa Câmara dos Deputados com maioria arenista e num Senado com mais de 2/3 de arenistas, o MDB dominou a atividade parlamentar. Acuada pela contradição de ser o partido de um governo militar que negava funções e legitimidade ao Parlamento, a Arena respondia com a apatia. Os parlamentares do MDB sabiam, claro, que seus projetos tinham pequena probabilidade de aprovação, mas esta era apenas um dos seus objetivos. Nas palavras do jornalista Marcondes Sampaio, em 1976: "Deputados da oposição chegam a apresentar determinados projetos menos com o objetivo de vê-los transformados em lei de imediato e mais no intuito de provocarem o debate. Isso ocorre, com freqüência, por exemplo, em relação a temas institucionais, diante dos quais o MDB pretende fixar posição junto à opinião pública, mesmo reconhecendo a inviabilidade do seu acolhimento pelo governo. Exemplos típicos são as propostas de emenda constitucional..." As diferenças entre a Arena e o MDB não esgotam, entretanto, a análise da atividade parlamentar Também no interior de cada partido produzia-se uma contradição que seguia linhas Ideológicas. Assim, dos 36 emedebistas inscritos para falar no expediente de agosto de 1976, 18 eram autênticos, enquanto nenhum dos oito arenistas inscritos era renovador. Isso sugere que, ATIVIDADE PARLAMENTAR POR PARTIDO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 1976 CAmara doa DeputAdoa 1 da Arena; 47 propostas de lei complementar, contra 13 da Arena; 44 requerimentos, contra 13 da Arena (figura 5). Em 1976. o domínio do MDB no Congresso estava consolidado. No primeiro semestre do ano, os deputados desse partido minoritário pronunciaram 64% dos discursos feitos no grande expediente da Câmara dos Deputados; 68% dos projetos foram apresentados por emedebistas, o que nos dá uma taxa de 3,7 projetos por deputado do MDB e de 1,3 por deputado da Arena. No Senado, a discrepância se repelia: os 20 senadores emedebistas fizeram em média 14 discursos cada um, enquanto os 45 senadores arenistas fizeram cm média, cada um, a metade, Dos senadores nrenisias, 11 não fizeram qualquer pronunciamento durante todo o semestre. No mesmo período, os senadores emedebistas apresentaram 127 proposições, ou seja, 6,4 por senador, enquanto os arenistas, com 42 proposições, ficaram com uma média de 0,9 por senador (figura 6) At<>na MDB S8IM*I 102 164 SI 0.16 270 (32*1 Projetos por deputado 1,3 Senado Arana Discursos Discursos por senador Projetos Projetos por senador 316 153*1 7 42 125*1 0.9 0,49 575 168%) 3,7 MDB 231 147*1 14 127 175*1 6.4 www m&Mmm QUINZENA no MDB, os moderados nâo coagiam — ou não conseguiam coagir — os autênticos, enquanto na Arena a relação se invertia: o grupo renovador funcionava como se estivesse tolhido, seja pela direção partidária, seja como resultado direto da contradição, ainda mais aguçada, de pertencer à ala liberal do partido que apoiava a ditadura militar. O resultado é que a composição ideológica da atividade parlamentar não correspondia à composição partidária do Parlamento, que funcionou como órgão simbólico de oposição ao regime. Os legisladores democratas dos partidos do governo em regimes militares-autoritários vivem uma difícil contradição: por um lado, como representantes da sociedade civil, devem defender os direitos humanos e políticos da sociedade, evitando sua usurpação por outros grupos, inclusive pelos militares; por outro lado, como membros do partido do governo militar num regime ditatorial, devem defender as ações POLÍTICA NACIONAL do governo, que priva seus representados e eles próprios de direitos fundamentais. Os parlamentares da Arena, partido do governo ditatorial militar, viveram essa contradição e caíram na apatia, deixando o campo livre para que o MDB dominasse o cenário parlamentar. Na experiência parlamentar brasileira, inverteu-se o provérbio: nas ditaduras, quem consente, cala. SUGESTÕES PARA LEITURX VALLE A., Estruturas políticas brasileiras. Rio de Janeiro, Laudes, 1970. ABRANCHES S. e SOARES G., "Al funções do Legislativo", Rio de Janeiro, Revista de Administração Pública, vol. I, 1973. KLEIN L. e FIGUEIREDO M., Legitimidade e coaçõo no Brasilpds-M. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1978. SOARES G., "As políticas de cassaçôes". Rio de Janeiro, Dados, vol. 21, 1979. Os generais de Sarney e seus projetos mirabolantes p Brasil, o poder passa por cima do N próprio presidente da República: enquanto Sarney fica no 3.° andar do Palácio do Planalto, no andar superior trabalham os generais Bayma Denys, do Gabinete Militar, e Ivan Mendes, do SNI, que controlam a grande máquina que conduz o poder no País. A, pesar do gabinete da Presidência ficar no terceiro andar do Palácio do Planalto — simbolizando o espaço das decisões da república — é no quarto andar que se encontra a grande máquina que conduz o poder no Brasil. Enquanto no terceiro andar o presidente Sarney se avizinha do seu secretário-particular, Jorge Murad — um genro voluntarioso e de postura asséptica —, do seu "ghost-writer", Joaquim Campeio; do biógrafo da corte, Virgílio Costa (filho do escritor Odylo Costa Filho), cuja principal tarefa é preparar as memórias do governo Sarney; do embaixador Rubens Ricupero, que decifra para o presidente as sutilezas do jogo diplomático; do ministro do Planejamento, JoSo Sayad, que hoje se esforça para ficar no cargo; e do ex-parlamentar maranhense, Edson Vidigal, que foi contemplado com uma assessoria pelo amigo presidente. No quarto andar estão o SNI, o Gabinete Militar e o Gabinete Civil. Ocupando mais de 90 "to dos gabinetes do último andar do palácio,. ,QS, chamados ministros da casa, Çeneial .Jvan de Sou/a, Mendes, Rubens Bayma Denvs e Marco Maciel, só dividem o seu brilho com a presença da estonteante Roseane Sarney que trabalha num amplo gabinete no lado oposto ao do ministro Marco Maciel. Único espaço onde a imprensa não tem transito livre, independente de audiências previamente marcadas, o quarto andar do Palácio do Planalto encerra na verdade o centro nervoso do poder. O ministro-chefe do Serviço Nacional de Informações, o General Ivan de Souza Mendes — hoje o colaborador mais intimo e de maior ascendência sobre o presidente da República —, nas primeiras horas do dia se dirige ao rr 03 CD 3 o 00 gabinete do presidente Sarney municiando-o de todas as informação possíveis. Aberta a jornada de trabalho palaciana, Ivan de Souza Mendes poderá retornar a qualquer momento ao gabinete presidencial para qualquer despacho, sem nenhuma formalidade. Liderando dois mil e setecentos funcionários, oficialmente reconhecidos, distribuídos nos quatro cantos do país para aiudá-lo a assessorar o presidente na orientação das atividades de informações, o General Ivan de Souza Mendes sabe que tem a gratidão do presidente Sarney pelo seu comportamento nos dramáticos momentos da doença e morte do presidente Tancredo Neves. Num palácio que jamais se preparou p'ara recebê-lo, apoiado por um partido que nâo era o seu e governando com um ministério que não havia nomeado, o presidente Sarney teve no General Ivan o seu grande apoio inicial, até ocupar com uma certa segurança o seu gabinete no terceiro andar. Nâo foi por acaso que no Natal de 1985 o casal Maristela e Ivan de Souza Mendes teve a honra de sentar-se à mesa na residência presidencial para a grande ceia. O ministro-chefe do SNI recebeu, do presidente da República, a tarefa de comandar o Palácio do Planalto em sua ausência. mmmmÊmmÊÊÊÊÊmmÊÊmmÊÊÊÊBsam O General Ivan, por sua relação pessoal com o presidente ao lado da misteriosa e mitológica máquina que administra, recebeu também a tarefa de comandar o Palácio do Planalto — c de tabela o poder nas ausências do presidente da República. Quando o presidente Sarney se ausentou do país no ano passado, enquanto o senador, Fragelli, dormitava na mesa presidencial, o General Ivan dividia com o ministro Marco Maciel o comando efetivo do Estado. Fato semelhante ocorreu neste final de ano quando o presidente Sarney se exilou na ilha do Curupu, no Maranhão. Mais uma vez o Palácio do Planalto fi•cou nas mãos do General Ivan. Foi do ministro-chefe do Servi- QUINZENA POLÍTICA laborador importante no esquema do presidente Sarney. ideologicamente afinados, Sarney tem no ministro Maciel o interloculor para o bordado político partidário que os militares não estão habituados a ter, É bem verdade que essa tarefa o presidente vem tentando transferir para o machadiano ministro Paulo Brossard, cujas declarações políticas têm encantado os militares. De gestos fleumáticos e postura aristocrática, o General Bayma Denys conduz o Gabinete Militar do Palácio do Planalto, mas sua grande força decorre de sua função de Secretário do Conselho de Segurança Nacional, que poderia ser atribuída a qualquer ministro de Estado. Denys — que cultiva a apreciável preocupação de refazer a imagem do Exército brasileiro — por isso nunca descuida da questão nos seus freqüentes encontros com a imorensa — ço Nacional de informações a primeira manifestação de apoio ao presidente Sarney quando Tancredo vivia seus últimos dias hospitalizado em Sâo Paulo. "Evidentemente que temos que ser, e sou, inteiramente leal ao presidente Sarney na situação em que ele está e que ele venha a ficar". As palavras de Souza Mendes, ditas numa inusitada coletiva à imprensa, no momento em que nação se preparava para assistir a morte de Tancredo e os políticos a duvidarem da autoridade de S^rneynj3ãf;a. ^çriur .o., pais, além de um claro recado das Forças Armadas, credenciou o General Ivan como o grande interlocutor do presidente, dentre as inúmeras questões de Estado, no delicado humor dos militares. Hoje menos autorizado, diante da sua derrota eleitoral, o ministro Marco Maciel ainda é um co- 3o ANDAR <o. •O u ui O 38 81 Q-õ ^«AUMJSy MEZANINO 3o ANDAR < > SALA DA SECRETÁRIA VERA SABARÀ RUBENS VIOIGAJSAYAD RICUPERO EDSON JOÃO 4°ANDAR GABINETE CIVIL MARCO MACIEL JARDIM INTERNO H s cr < E Ü GABINETES DE APOIO ROBERTO PARREIRA Ul BC CORREDOR GABINETES Dl APOIO DO SN! E DO GABINETE MILITAR SN! > UJ —J UJ at £ GABINETE MILITAR GENERAL BAYMA D€NYS conduz junto à Presidência da República todos os programas e projetos em andamento ou em elaboração nos demais ministérios. O Conselho de Segurana Nacional chegou ao requinte de levar aos ministérios da área econômica a sua proposta de renegociação da divida externa. Da mesma forma o CSN é capaz de estar presente, estudar e acompanhar qualquer problema social, político ou econômico no Brasil: Não é por acaso que um dos três blocos do anexo do Palácio do Planalto atende basicamente à secretaria do Conselho de Segurança Nacional. Filho do marechal Odilio Denys, um dos principais articuladores do golpe de 1964, Bayma Denys conheceu os mecanismos do Conselho de Segurança Nacional quando foi seu assessor-secretário durante o governo do General Mediei (1969 — 1974). Depois de servir como adido militar do Brasil na Itália retornou ao país em 1982 para comandar a 4Í Brigada de Infantaria em Belo Horizonte, ocasião em que conheceu o então governador de Minas, Tancredo Neves. SALÃO DE REUNIÕES SALÃO DO 2° ANDAR ROSEANA SARNEY NACIONAL Relatório Reservado - 19.01.87 Nos quartéis Com sua experiência de militar e político no" governo oriundo do movimento de 64, o senador eleito Jarbas Passarinho. (PDS-PA), embora faça a previsão de um período de profunda instabilidade institucional somado a uma crise econômica, descarta, em análises reservadas, a possibilidade de qualquer tipo de intervenção militar, A seu ver, golpe militar somente seria possível caso os militares tivessem deixado o poder logo após a euforia do milagre econômico. Como a abertura política veio no bojo da recessão e de escândalos financeiros, Passarinho, que responde pela presidência nacional do PDS, acha que os militares só voltarão a pensar em deixar os quartéis num quadro de profunda convulsão social e ainda convocados por entidades civis. GENERAL IVAN D€ SOUZA MENDES ■ mmm mm E presidente não presidência? Reconheça o primeiro responsável pelo desastre Doiu Roseaiia Murad já nirpreendeu íavoi-avclmcnte a imprensa com declarações nada confomiistas e no outro dia se notabilizou por uma frase que desnuda as contradições do governo. Ela irrompeu no gabinete da Secretaria do Planejamento e apostrofou os três ministros que ali estavam reunidos para discutir a momentosa questão do gatilho salarial, ou seja, João Sayad, titular da Seplan, Dilson Funaro, da Fazenda, e Almir Pazzianotto, do Trabalho. "Como é que vocês querem revogar o que sequer foi testado?", perguntou donaRoseana. Não há registro de qualquer reação de monta dos interpelados, e nem mesmo de uma troca de olhat-es entre atônitos e perplexos. A frase parece oportuna, mas a situação em que foi pronunciada, se não constrangeu os ministros, constrange querti não enxerga o Palácio do Planalto como a corte provinciana de uma semicolõnia tropical. Dona Roseana consegue reunir çm sua pessoa algumas condições excepcionais: filha do presidente da República, mulher do secretário particular do próprio e assessora da Casa Civil. Além disso, participa das sessões do impbrtantissimo Conselho de Desenvolvimento Econômico, criação do general Ernesto Geisel exumada repentinamente por José Samey. Ao certo, esteve presente á primeira reunião do CDE da Nova República, seguncia-feira, 12. Haverá quem entenda o desembaraço com que dona Roseana anda pelo Planalto, mas a situação relatada pelos jornais na manhã do dia 15 configura excesso de desembaraço. Em todo caso, a filha do presidente chegava-se á sala da Seplan como Mercúrio. Convocava os -ministros para uma imediata conversa com papai. Ou será que disse "o sr. presidente"? Pouco importa. A filha servira o aperitivo, o pai vinha com o prato de resistência: "Vocês disseram que o gatilho era bom, então vocês mentiram para mim. ' Existe uma tradição do poder à brasileira de que a figura do presidente tem de ser preservada a todo custo. Talvez por causa disso, permitiu-se, por exemplo, que mais de um general ficasse no trono tio regime militar a despeito da esderose. Consta, no entanto, que a única doença de Samey é a hipocondria, o que facilita as coisas da tradição. De fato, ganha espaço a insinuação, quando não a tese explicitada com todas as letras, de que o presidente foi enganado. Iludiu-se com as jsromessas do Cruzado nem mais,, nem menos, do que os cidadãos embaildeirados de fiscais do congelamento. Esta é a idéia, e Sarney acaba de embarcar nela, fingindo não lhe perceber o anverso: ele leva nota zero em economia, o que se justifica em poetas mas não se admite em presidentes da República. Nem todos os poetas são, contudo, invulneráveis aos encantos do poder, e este vale bem um fingimento e outros sacrifícios. Ao exibir o espanto de quem cai das nuvens, Sarney não está sozinho. Numa reunião na residência brasiliense do dr. Ulysses Guimarães, na madrugada do dia 11, o ministro Sayad afirmou: "Fomos atirados a um abismo." Identificou-se entre as vitimas, 130 milhões, se diligentemente contadas, mas não declinou o nome dos arquitetos de tamanha operação, capaz de derrubar uma nação em peso. As forças ocultas ou os lados gregos? A sabotagem do eüablishmenl ou dissídios técnico- políticos da área econômica? A precariedade da transição ou as divisões intestinais do govemo e da Aliança Democrática? A incompetência, a tibieza, a preguiça do Executivo, ou a sua fragilidade política? DesembrulheM o teste proposto á inteligência dos leitores. É possível que a solução correta aponte para respostas positivas a todos os quesitos. Assim como se daria se as perguntas se referissem à qualidade do espetáculo que estamos vivendo. Tragédia ou comédia? Melodrama ou óperabufa? Anote-se, porém, a diferença entre Sayad e Samey. O ministro pode-se permitir o patético, sobretudo em espetáculo tão versátil e tratancio-se de novato no jogo político. Samey, não, por mais que se tenha inebriado com a miragem da popularidade do Cruzado, na apressada convicção de que o Jbope em alta subsdtui dignamente a legitimação das umas. Samey sabe o que lhe falta epor que a nau dos cruzados foi a oique muito antes de akançar a Terra Santa. Cortesâos de vários calibres e extrações pretendem poupá-lo, mas ele conhece os seus pecados. Teimara em não confessá-los, nem por isso provará a sua inocência. Há o pecado original da traição cometida contra a Nação, que reclamava diretas-já e teve de se contentar com a decisão do Colégio Eleitoral, com a agravante da ficção constitucional que colocou Samey no lugar de Tancredo. Mas a vida oferece a oportunioade de redenção aos homens de boa-fé. A Nova República poderia ter justíficado o adjetivo. A transição, em dois anos, poderia ter sido límpida e firme. Não foi. Ao entulho autoritário não removido juntou-se o lixo das promessas descumpridas e do alto desse pedestal o presidente Samey moveu a sua ação de acenos sedutores ao poder militar, a manobra de mesuras e piscadelas destinada a provar aos generais a sua confiabilidade. Samey pretende ter sido enganado, no episódio do Cruzado, mas toda a sociedade parece mais habilitada a se enxergar como vítima de um grande engano, desdobrado em dois anos de govemo Samey. Um, especialmente, entre os pecados presidenciais, acaba sendo altamente emblemático dos demais. Remonta a meados de fevereiro de 86, quando Samey completou a reforma ministerial e anunciou itu governo. Através de uma operação entre amigos, de azedo sabor udenista e alcance pouco mais que familiar, ele forçava uma "abertura" para a direita. Privilegiava, no jogo do poder político e na manipulação dê verbas imponentes, velhos sócios de negócios particulares e ex-comparsas paisanos da ditadura fardada. O malogro do Cruzado,- que sairia duas semanas depois, nascia ali, naquela reforma que encolhia a corte en- .quanto dilatava as ambições de Samey. Na idéia democrática do congelamento' de preços e salários, o Cruzado mostrava o seu mérito. Teria sido preciso, porém, dizer à Nação que a idéia não poderia ser etema e que Funaro não é Mandrake - e cuidaram de selecionar a retórica da euforia. Apresentou-se o pa■ liativo como elixir de longa vida, mas as causas da doença, endividamento extemo e interno, penmaneciam. O Plano feneceu num rápido Outono, baddo pela sabotagem conjugada de setores do govemo e do empresariado, pela incapacidade do Executivo de resistir às pressões políticas e econômicas, ou mesmo pela sua própria identificação com o sistema. Havia um projeto inicial de retoques e reformas, a serem implementados i j j j ; iSiSíSiSí¥»S^>i«™í POLíTICA NACIONAL periodicamente. Letra morta. Samey diz agora que mentiram para ele e acusa empresários de inesperada filiação às idéias de Bakunin, enquanto se adota a expressão desobediência àvil com impropricdade proporcional ao desconhecimento do vetusto anarquista e outros grandes rebeldes. No caso, seria razoável falar em desobediência comercial, mas este é apenas um dos quadros em que a singular tragédia brasileira descamba para a ópera-bufa. Um honrado jornalista, falecido há mais de 20 anos, sustentava que no Brasil a situação é sempre grave e jamais séria. No entanto, não falta quem se preocupe com as penpectívas de uma epidemia de desobediência civil, na acepção certa de resistência da sociedade ao desgoverno. Neste sentido, o documento aprovado pela Direção Nacional do PMDB, reunida no dia 14 com os governadores eleitos em novembro sob sua legenda, merece ser levado a sério. O pronunciamento peemedebista vai muito além da afanosa busca do vocábulo adequado para definir um acerto in extrenús entre governo, empresários e trabalhadores. Os homens começaram falando em pacto, recuaram para entendimento, apelam enfim para uma palavra que já ocorrera em 79 ao então ministro Delfim Netto: trégua. A lembrança não é animadora, a trégua delíinesca não saiu do esboço. O propósito do PMDB parece bem mais vasto do que qualquer tentativa de rolar tensões. Dá até para desconfiar que o partido avalia todos os riscos presentes, inclusive aauele de que o povo se questione sobre a utilidade da democracia, se logo em seguida ao voto é penalizado pelo anti-Cruzado. O PMDB cumprirá seu compromisso? O texto do documento do PMDB não permite duas ou mais leituras. O partido sabe que, ao contrário de Samey, foi legitimado pela escolha popular. Por isso, sente-se à vontade para fixar as condições do seu apoio ao governo. O PMDB é contra o arrocho salarial, a recessão, a especulação financeira, a alta dos juros. É a (avor da reforma agrária c da suspensão parcial do pagamento da divida exiema. Existe até, no documento, apesar das cautelas de linguagem, a referência ás irregularidades que se cometem á sombra do governo. Fala-se em corrupção, regime de incompetência, tráfico de inlluència impune, parasitismo e clientelismo. Alude-se a quem? Não será a ministros e funcionários peemedebistas. A leitura é uma só, mas não é oue afugente ponderáveis dúvidas. Dizem respeito às chances efctiyas de um entendimento entre os dois cidadãos que estão na capa desta edição de Senhor, e entre o governo desta medíocre transição e a Nação carente e abandonada. No momento da morte de Tancredo, era visível a ausência de saídas fora da parceria Samey-Ulysses. A aliança entre o presidente por acaso e o senhor diretas-já legitimaria o governo nascido do frágil, inconfiável conúbio entre inimigos aparentemente irreconciliáveis. Mas Samey provou, não com palavras oficiais, mas com os fatos, que não queria Ulysses por perto. E certo dia disse a um ministro, hoje fora do governo: "Estou cansado deste Ulysses que me aponta o dedo na cara.' Os dois cavalheiros da capa são, de fato, muito diferentes e o documento do PMDB é um dedo na cara de Samey. Aponta para o primeiro responsável por estes dois anos perdidos, enquanto a Nação se dá conta de que os perdeu. Num momento apinhado de esperanças, teríamos a certeza da iminência de outra reforma ministerial, da soberania da Constituinte como primeiro e maior poder da transição, da convocação das diretas para a Presidência logo depois de colocado o ponto final da nova Constituição. Mas a turva hora que vivemos não favorece certezas. O PMDB têm, de fato. consciência da sua responsabilidade e está preparado para ir até as últimas conseqüências do seu documento? E ainda há tempo para acertar o passo com Samey? s:^5> "Breve estarei em Assunção 0 vice-presidente do Partido Liberal Autêntico é da opinião que a conquistada democracia ainda é possível pela via pacífica e que as eleições presidenciais previstas para 1988 serão realizadas ntu Horacio Verbitsky Desterrado desde 1982, quando o ditador Alfredo Stroessner náo "engoliu" a edição do seu livro "O general comerciante", Domingo Laino tentou, por cinco vezes, regressar ao Paraguai, no que sempre foi impedido. Já refeito das agressões recebidas, juntamente com aqueles que o acompanharam na sua última tentativa - a 24 de junho último - de regresso à pátria (o cx-cmbaixador norte-americano Robert White e o seu assis- tente argentino Alfredo Forti; os deputados uruguaios Roberto Asiaín e L6pcz Balestra; Melinda Roerik, do Centro de Estudos Internacionais de Washington; e o almirante norteamericano John Lee, membro do Conselho do Centro de Estudos Políticos de Washington), o vice-presidente do Partido Libera! Radical Autêntico respondeu a algumas perguntas colocadas por cadernos do terceiro mundo. a Há alguma diferença entre essa sua última tentativa e as anteriores? ,- As primeiras três tentativas foram feitas sozinho, sem qualquer comitiva ou amigo nacional ou estrangeiro que me acompanhasse. Não tiveram grande repercussão. A quarta já foi feita com a mediação da igreja católica, quando do Ano Internacional da Família. O governo havia dito que eu poderia, regressar com a minha esposa c meus quatro, filhos 3 % H n i o c % S 00 mmmmmam INTERNACIONAL por via terrestre, mas quando nos apresentamos, minha entrada foi recusada. O portavoz do governo faltou à sua palavra, apesar da mediação do arcebispo. Finalmente desloquei-me a Washington onde recebi a colaboração do senador Edward Kennedy, que enviou uma carta a Stroessncr pedindo-lhe que me deixasse entrar, além de cerca de meia centena de representantes dos partidos políticos que também se dirigiram a Stroessner. Dessa vez a repercussão foi bastante maior devido às personalidades que me acompanharam e à cobertura da viagem feita por três canais da televisão norte-americana. '■ Apesar da maior repercussão e do interesse despertado nos Estados Unidos não con' seguiu entrar... - Mas já não é a mesma coisa. Antes Stroessner acusava-me de incendiado subversivo. Hoje, homens como o ministro do Interior Augusto Montanaro, o fiscal-geral do Estado Clotildo Giménez Benítez e outros, já não me qualificam assim, afirmam que o meu caso está em estudo e dão a entender que eventualmente poderei regressar ao país. Isso se deve às pressões a que estão sujeitos, sobretudo por parte dos países europeus do Mercado Comum, dos Estados Unidos (desde a agressão física ao embaixador White) e do governo uruguaio. Raízes da transição Como vê a situação da ditadura mais longa da história americana? - Estamos em vias de uma transição para a democracia, baseada em condições objetivas internas e no plano internacional. A democratização da Argentina, Uruguai, Brasil e Bolívia; os recentes acontecimentos nas Filipinas e no Haiti, todos esses fatos funcionam como uma pressão para que Stroessner se sinta cada vez mais isolado na comunidade internacional. E mesmo dentro do Paraguai também existem novidades políticas e sócioeconômicas, como, por exemplo, o que aconteceu com os camponeses da zona do Alto Paraná, no estado de Caaguazú, que faz fronteira com o Brasil. Que acontecimentos foram esses? - Organizações camponesas e camponeses organizados ocuparam terras incultas. Fizeram as suas casas e começaram a lavrar, até que a repressão chegou de forma selvagem e assassinou os irmãos Martínez, filiados ao Partido Liberal. A 40km de Juan 0'Leary, em Caaguazú, cerca de vinte camponeses foram enforcados nas árvores pela" polícia, fatos OS DIREITOS HUMANOS NO PARAGUAI Em 1986 o povo paraguaio rompeu ,a "barreira do medo" e saiu às ruas "depois de anos de silên-. cio e obediência", nos diz o informe sobre a situai ção dos direitos humanos, elaborado pelo PRODEMÜ5 (Promoção e Defesa, dos Direitos Humanos). De acordo com esse informe o povo. paraguaio viveu em 1986 uma aguda deterioração desses direitos com o recrudescimento da repressão gove_r namentai "em fgce das invariáveis demonstrações pacíficas de descontentamento popular". Mesmo assim, 1986 "pode ser considerado o ano da mobilização ou o ano da reação popular frente aos abusos da autoridade diante da necessidade de reivindicar os direitos largamente postergados", completou o relatório da Prodemos, organização dirigida pelo combativo bispo católico, Mário N. Medina. que são do conhedmento público (chegaram até a ser publicados nos jornais controlados pelo sistema) e que foram condenados pelo bispo catójico de Chaco, Melanio Medina. É patente também a grave situação sócio-econômica, que pode ser verificada no fluxo contínuo de paraguaios que saem do país, apesar da crise nos outros países vizinhos para onde se dirigem, porque no Paraguai ela é muito mais aguda. O sistema também foi abalado pelo desmantelamento de muitos negócios ilícito^. A polícia argentina tem investigado a entrada irregular de mais de 500 automóveis Mercedes Benz trazidos do Paraguai, por onde também passam os canais do narcotráfico. Na ilha argentina de Cerrito foram apreendidos 287kg de maconha. Há paraguaios implicados, juntamente com o secretário particular do governador Florencio Tenev, que está intimamente ligado ao governo Stroessner. Do ponto de vista econômico também existem sintomas de debilidade. De janeiro a julho de 1986 as exportações caíram 46% em relação ao mesmo período de 1985, e o montante de dólares que vão entrar este ano não serão suficientes para cobrir os serviços da dívida externa paraguaia, que é de 1,8 bilhão de dólares a pública, ou de três bilhões se se juntar a privada. Dividida por Ires milhões de habitantes, dá cerca de mil dólares per capita. O valor das exportações anuais, que era de 300 milhões de dólares, caiu para 220 milhões, devido à seca e às inundações. A superfície das culturas de soja e algodão - produtos que representam mais de 60% das exportações do país diminuiu. Acrescente-se a tudo isso a deterioração dós preços de produtos agrícolas no mercado mundial, que afeta todo o Terceiro Mundo. Por outro lado, são visíveis as conseqüências do término das grandes obras da barragem de llaipu, que deram origem a W>M$Ê$ .■-.■-.V-M^;' - receitas muito grandes, como a entrada de 18 bilhões de dólares só numa década. Como a construção da hidrelétrica de Yaciretá continua muito lenta em relação ao cronograma previsto, os trabalhadores de Itaipu ficarão desempregados. Existe um estoque de capital cm depósito, máquinas valiosas que se deterioram e que portanto não servem para novas obras. Tudo isso afeta a estrutura do poder, enfraquecendo-o. As cxporlaçõcs ilícitas são volumosas, cquivalcndo-se às legais, c são constituídas principalmente de madeira e grãos que saem pelo Brasil sem pagar impostos. Dialogar com todos os setores E quanto à situação política? - As condições objetivas alteraram-sc e o movimento democrático avançou. Muito importante para p transição d.i ditadura para a democracia pluralista foi ter-se conseguido um maior empenho tia igreja católica paraguaia, que tem feito apelos ao diálogo nacional. A fé religiosa está presente cm 909Í- da população. Por que é que a igreja mudou o seu conipanameiun? - Ela sempre teve diferentes correntes. A linha, digamos assim, agrária, que sempre criticou o regime, representada petos bispos Ramón Botarin. da província de Misiont:.. e Melanio Medina. passou a orientar a igreja. Por outro lado, dentro do Partido Colorado começam a aparecer contradições, pratica-se pela primeira vez uma certa democracia, com duas chapas em algumas seções. Você considera possível uma aliança com alguns desses setores colorados? - Os que criticam o sistema vigente e apregoam princípios de democracia pluralista estão paru nós numa posição aceita- jk mmvmm www INTERNACIONAL vcl. Issu diminui u csfcru de inHucncia do sislcma, cnlraquecendo-o basumtc. Temos que dialogar com todos os sclores, inclusive com a ditadura, como defende a igreja, para chegarmos a uma transição pacífica, sem desordem, para sairmos desta situação de uma forma não-violenta, sem mortes nem derramamento de sangue. Existe no Paraguai esse verdadeiro rastro de sangue e morte como acontece no Chile? - São fenômenos diferentes. A ditadura paraguaia é mais antiga. Teve início com Moringo em 1944, e aí levamos quase meio século de autocracia. O Paraguai teve a sua experiência armada, uma revolução em 1947 que custou muitas vidas, onde todos os partidos foram derrotados por Moringo e pelo Partido Colorado. Em 1959-60 tivemos também as nossas guerrilhas liberais, nos bosques de Caaguazú, vencidas pelo sistema de Stroessner. Segundo a polícia paraguaia, houve projetos de atentados e uma experiência armada que nós não acompanhamos. O Chile é muito diferente. Todos conhecem as circunstâncias da derrubada e assassinato de Allende e a ação de Pinochet. Açftcs tremendamente violentas geram diferentes tipos de rcaçáo. No Chile existem um Partido Comunista e uma esquerda organizada e forte, o que não acontece no Paraguai,Às vezes, os mais impacientes redimiiim uni outro tipo de política - n iirmuda - par» o nosso país. A nossa resposta d qi(c muitas vc/.cs podem ocorrer ações espetaculares sem no entanto darem qualquer frulo real para o advento de uma democracia pluralista, como a que esperamos alcançar depois de tanta paciência. Esta crise econômica nos faz sofrer mas ao mesmo tempo permite que vejamos o sistema ditatorial não apenas opressivo no plano político mas também nos pla- nos econômico e social. sa, incluindo os camponeses liberais. Quando monsenhor Melanio Medina vem a Buenos Aires, conversamos sobre o Paraguai e a problemática latino-americana. Estamos de acordo com o arcebispo Ismael Rolón no seu empenho pelo diálogo nacional. Não existem pontos de conflito. Essas forças sociais estão reunidas num centro unificador? Qual é o panorama geral - Não estão, mas há um das forças políticas? esforço para se conseguir isso. - Existem dois partidos O Acordo Nacional, que reúne fortes, o Partido Liberal Radi" febrerista»", democratas cal Autêntico c o Colorado, cristãos, liberais radicais audois partidos tradicionais que no próximo ano completam tênticos e um setor colorado cem anos de existência. Os foi um projeto importante mas Que influência pode ter a dois reúnem de 70 a 90% do não conseguiu abranger as for- posição norte-americana no eleitorado. O restante fka di- ças sociais, culturais e univer- Paraguai? vidido entre o Partido Revolu- sitárias para ampliar o espectro - Muito grande e não apecionário Febrerista, filiado à desse acordo que continua a nas no Paraguai. É o centro do Internacional Socialista, o ser essencialmenie político. poder cuja importância é inePartido Democrata-Cristão e o O apelo da igreja 39 diálogo gável. O embaixador Clyde poderá contribuir para que Taylor e outros emissários expequeno Partido Comunista, se tenha um espectro mais põem teoricamente a sua preoque foi muito castigado pelo amplo. cupação com a violência e os sistema. O seu secretário-gedireitos humanos e sobre a neral, Juan José Soler, é um dos As relações com a igreja cessidade de que o Paraguai desaparecidos, presumiveltransite para uma abertura mente morto em alguma demaior no campo político. Nos pendência da polícia. Esses três Como os liberais se dão Estados Unidos, a política é partidos poderiam ter entre 10 coin a igreja? mais complexa do que nos e 30% do eleitorado. O Colo- Historicamente, houve nossos países periféricos. rado e o Liberal têm sofrido uma tensão com a igreja católiExistem diversos grupos de com os ataques do sistema; ca à luz dos princípios univerpressão, o Pentágono, a CIA, o Stroessner dividiu o seu prósais que deram origem ao liCongresso, o Departamento de prio partido e o liberalismo. beralismo: o laicismo c a soEstado, a opinião pública. Para Essa última corrente está dividida em três grupos: o Liberal, breposição da razão sobre a fé se averiguar sobre a profundio Liberal Radical, que tem re- como forma de se chegar à dade da mudança da antiga presem ação eleitoral, e o Li- verdade. Nos últimos tempos posição para esta nova no que beral Radical Autêntico, que existe uma maior atenção do se refere ao nosso país haveria apesar de não estar rcjiisirado liberalismo em relação à pro- que verificar c estudar cada na Junta LIeiloral é o principal blemática paraguaia dentro de um desses fatores de poder, partido da oposição. O Colo- um contexto tereciro-mundis- cuja complexidade os coloca rado está dividido entre os mi- ta. Estamos lutando não só fora do nosso alcance. litares, o sirocssnerismo sem contra graves violações •dos^ Quando voei voltará a AsSlrocssner, e os que crilicam o direitos humanos, que constisirocssnerismo, os chamados tuem um problema político, sunção? - Muito cm breve. Existem "tradicionalislas", A parlir da como ainda contra a opressáo econômica que muilas vezes condições objetivas internos e abertura democniiica da Artem as suas origens paro além externas, gentina, do Uruguai e do Urasil o governo viu-s^c forçado a das fronteiros do país. Certos Haverá eleições presidenter uma posição mais lolcranie princípios liberais clássicos, com a oposição , permitindo como a especialização paro o ciais a curto prazo? - Em 1988 acabo o manmanifestações públicas dos comércio inlernncionnl c o nnticonservodorismo econômico doto de Stroessner, partidos. Com um ano de vida, o Movimento Intcrsindical de cm benefício da mAo ipvisívcl Voei será candidato? Trabalhadores foi protagonista do mercado não se ajustam aos interesses de países como o Nunca pensei nisso. A de fatos imporianies, como o Paraguai, beneficiando apenas longa ditadura requer uma desfile de cinco mil pessoas no os países, que controlam o ecotransição. Portanto, se o meu 1- de Maio deste ano. Também partido assim o decidir, e em os médicos dos hospitais se nomia. Mas como são concreui- eleições livres, poderia sê-lo. manifestaram reivindicando melhores salários. As associa- mente as relações com a igre- Deverei estar no lugar onde possa prestar mais benefícios à ções em geral, os camponeses ja? - Muito boas, sobretudo causa do povo pelas suas reisem terra e os estudantes militam de forma cada vez mais com os setores que se ocupa- vindicações políticas, econômiram da organização campone- cas e sociais. • ativa contra o ditador. As forças políticas e sociais ■ mmmmmm O Paraguai busca seu Tancredo A saúde de Stroessner e algumas brechas no sistema de poder podem antecipar a transição democrática na mais velha ditadura do Ocidente. Oiio horas de unia manhã de primavera em Assunção. As árvores cstâo floridas e as ruas coalhadas de policiais em volta da Vinte y Cinco de Mayo, uma das principais, onde lica a sede da Associação Nacional Republicana ou Partido Colorado, "um dos mais poderosos do Contincmc", segundo o seu principal condutor, general Alfredo Stroessner, astro das comemorações dos 99 anos de sua fundação. Nos altos dos edilkios, soldados armados de fuzis-metralhadora e binóculos vigiam, atentamente, todos os movimentos. Um helicóptero da segurança sobrevoa diversas vezes a área c pousa no teto de um edilicio. Os alto-falantes, a todo volume, emoam marchas nacionalistas e a televisão já está pronta para transmitir, dentro de instantes, as imagens do "maior desllle da América Latina a 72 países do mundo", segundo apregoa, a todo instante, o locutor oficial. Uma multidão de politicos, militares e dirigentes, usando no pescoço o simbolo do partido, um lenço vennelho, aguarda, juntamente com convidados estrangeiros, a chegada do chefe supremo, que, neste momento, acompanhado dos seus principais assessores homenageia, no Panteão Nacional, os heróis da pátria. Que, como ele, também foram generais e permaneceram décadas no poder. Pontualmente, ás 8h30, chega ao local uma limusine blindada c reluzente, acompanhada de várias.outras, repletas de guarda-costas e 3uatro caminhonetas com dezenas e soldados armados até os demes. O carro pára em frente á tribuna de honra e desce o convidado especial. Sua. Excia. o general-de-exérciio Don Alfredo Stroessner, presidente da República do Paraguai e comandante-em-chefe das Forças Armadas da nação, ás vésperas de completar seus 74 anos. Ele está impecável num temo de tropical inglês escuro e usa sapatos de cromo alemão. No pescoço, destaca-se o lenço vennelho. É saudado triunfalmente, como um monarca pelos seus súditos. Agradece as reverências e sobe triunfalmente as escadas em direção á tribuna de honra. Toma assento junto aos seus minis- tros e, em seguida, ordena, pela trigésima segunda vez consecutiva, o início de um espetáculo que poderá comandar até a morte. r\ partir de então, durante cinco horas seguidas, mais de cem mil pessoas com vestimentas típicas, lenços, faixas e galhardetes vermelhos, cultuarão a personalidade do ídolo, como nas típicas manifestações nazistas. Suas faixas canegam sempre palavras de ordem, do tipo "Stroessner até a morte" ou "General, sua reeleição está assegurada". Ê, sem dúvida, um espetáculo impressionante pela mobilização de massa. São dirigentes partidários, funcionários públicos civis e militares, que, no Paraguai, são obrigados a se filiar e a descontar 5% do salário para o partido do governo. Ou, então, operários e camponeses, trazidos em ônibus cedidos gratuitamente pelas empresas de transportes, de todos os pontos do país. Falta apenas o fundamental: a participação popular. É como se fosse um desfile de escolas de samba no Carnaval do Rio, sem ninguém nas arquibancadas. Somente alguns coneligionários aplaudem os amigos ou parentes. Mas que país é este onde acontece de tudo? De desfiles memoráveis ao fechamento de jornais, prisões arbitrárias, torturas, todo tipo de tráfico, de pele de jacarés a drogas, ainda serve de abrigo para exditadores ou criminosos nazistas? É o país do general Stroessner. Herói da guerra do Chaco contra a Bolívia, o então general-dc-divisão Alfredo. Stroessner foi levadç ao poder, em 1954, depois de um golpe de Estado que clenubou o presidente constitucional. Seu gosto pelo poder foi tanto que nunca mais o abandonou. Com base num estado de sítio pennanente, que ele mesmo criou para ser implacável com os opositores, Stroessner ampliou, cada vez mais, os seus tentáculos sobre o governo e o partido que o escolheu. Nomeou pessoas de sua total confiança para todos os cargoschaves do governo e dividiu com elas o poder e as negociatas que, segundo economistas paraguaios, vão a mais de US$ 500 milhões anuais o equivalente a dois terços da eco- nomia do pais. Faz parte do jogo do poder as mesmas autoridade» que tôm os comandos lícitos terem também os ilícitos. A^sim, o general Andrés Rodrigues, que além de comandante da mais forte guamição do país, também chefia o tráfico de drogas, já foi indiciado inclusive em processos., nos Estados Unidos. O mesmo ocorre com o próprio filho de Stroessner, coronel-aviador Gustavo Adolfo, de 47 anos, que controla o contrabando de uísque'c cigarros e também os cassinos do país. Apesar da seria crise social, econômica c política que atravessa a nação, Stroessner não admite qualquer tipo de transição ou abertura democrática num governo, que, segundo suas próprias palavras, "vive uma normalidade democrática e constitucional". Não pensa também na possibilidade de um sucessor, porque "a eleição livre é um direito do povo". Quando perguntado pelo enviado especial de Senhor se vai concorrer ao seu oitavo mandato, Stroessner é categórico: "Não confirmo nem desminto, porque nunca fui candidato de mim mesmo e sim de um partido político que é a expressão mais relevante cia maioria cívica da República." Seus principais colaboradores, no entanto, confirmam mais uma nova candidatura e, segundo o deputado federal e membro da junta de governo do Partido Colorado, Salvador Paredes, açual embaixador no Brasil, "ela será imbatível na convenção de agosto do próximo ano. Porque Stroessner detém 8596 dos votos cios 600 convencionais". No entanto, a verdade é que não existe hoje um sucessor natural para Stroessner talvez porque, segundo os lideres oposicionistas, ele cometeu o mesmo erro dos seus antecessores: preocupado cm se eternizar nó poder, não criou quadros políticos para sucedê-lo. Como as pressões internas e externas contra o seu governo aumentam a cada dia, .a sucessão poderá ser. mais uma vez, sangrenta, como c a tradição do país, onde jamais um governante conseguiu passar a faixa presidencial ao seu sucessor. Na última Guerra Civil, antes de Stroessner tf mm 3UIN3 INTERNACIONAL MA subir ao poder, morreram três mil paraguaios. Acontece que Stroessner é considerado, inclusive pelos seus opositores, como o fundador do Paraguai moderno. Ele acredita que pôs fim a um estado de anarquia que chegou a gerar "vinte e dois presidentes em 31 anos, o que significa um presidente a cada 19 meses". Construiu escolas, hospitais, estradas e levou energia elétrica, antes só existente em Assunção e mais três cidades, a 200 localidades, depois da construção da hidrelétrica de Itaipu, em sociedade com o Brasil e que endividou o país em mais de USS 8 bilhões, quatro vezes o valor total de sua dívida externa. c waso nao consiga cumprir mais um mandato, até 1992, Stroessner gostaria de indicar o seu fiel amigo e guarda-costas, general Andrcs Rodrigues, ou o próprio filho, coronel Gustavo Adolfo, mas será muito dificil por causa do envolvimento de amoos com a corrupção e tráfico de tóxicos. Há quem diga que ele tem uma cartada pronta para esses casos: colocaria um titere civil de sua confiança e continuaria no comando das Forças ArmadasTambém nas oposições não é fácil encontrar um nome para suceder Stroessner, pois, segundo seus lideres reconhecem, "precisa superar seu extremado fracionamento e os conflitos internos que as afligem". A verdade é que, depois de 32 anos de poder, Stroessner conseguiu liquidar com toda a oposição e o país necessita, urgentemente e primeiro de tudo, organi/ar a sociedade civil. O artigo 79 da Constituição, que estabelece o estado de sítio permanente, proíbe qualquer tipo de organização social, seja sob a forma de sindicatos, de associações de classes ou através de partidos de oposição autênticos. Esse artigo dá ao governo o poder de prender, banir ou até mesmo faier desaparecer qualquer pessoa, a exemplo do que ocorria no Brasil na época do AI-5. Com base nele, milhares de pessoas foram expulsas ou se exilaram no Exterior. Calcula-se que existam, hoje, cerca de 800 mil exilados, a maior parte na Argentina. Centenas de outras, inclusive brasileiros, continuam desaparecidas ou presas, sem processo formado nos cárceres paraguaios, como o de Tacumbu, nos arredores de Assunção. Enquanto isso, os protegidos do regime são intocáveis c go/am dos privilégios da mesma lei. O tráfico, o roubo e o contrabando são insti- tucionalizados. A maconha, cultivada no pais, e a cocaína, importada da Bolívia, são exportadas para todo o mundo, principalmente para o Brasil c Estados Unidos, em quantidades incalculáveis. Só de carros brasileiros roubados, existem quase cem mil trafegando livremente pelas ruas do Paraguai. Para o diretor da Divisão Fazendária da Polícia Federal, Renato Torrano, isso só é possível porque as autoridades paraguaias não exigem catilicados de propriedade ou guia de imponação para curos estrangeiros. Biusta uma dedaração cm canóno de propriedade do veiculo, o que - para ele - significa a institucionalização de um ciime. Além disto, o Paraguai é hoje o segundo exportador mundial de uisque, na maioria l;üso, com cerca de 500 mil caixas anuais, o mesmo ocorrendo com relógios e artigos eleQüiücos, quase todos ialsilicados em Taiwan e importados através da LinliiLs Aéreas Paraguayas. E isso rende ao pais mais de USS ()00 milhões, o dobro das MUIS ex|«mamões legais. Diante de ioda essa situação, o país busca um lidei que poderia pór fim a este estado de coisas e promover uma transição pacífica de poder. Um dos nomes que vem crescendo, ultimamente, é o do empresário e jornalista Aldo Zucolillo, 56 anos, hoje um dos símbolos da resistência à ditadura de Stroessner. Zucolillo ganhou prestígio internacional após batalhar, nos órgãos de defesa, dos direitos humanos de todo o mundo, pela reabertura de seu jornal ABC Color, fechado há dois anos, por ordem expressa de Stroessner, devido às denúncias contra todos os crimes cometidos pelo regime. Agora, poderá ser uma opção para uma transição civil pacífica, que contaria inclusive com o apoio dos Estados Unidos de Ronald Reagan, um tanto desconfiados de que o regime Stroessner já tem seus dias tomados. \J governo norte-americano, signüicativameme, vem ameaçando Stroessner, nuie outras medidas, como a de lamelar a suspensão de empréstimos ao Paraguai, com a reabertura do jornal de Zucolillo. Mas, como tudo no Paraguai, Zucolillo também é contraditório c, às vezes, até ingênuo. Sentado na sua cadeira na direção do jornal, onde vai iodos os dias como se o jornal estivesse em pleno funcionamento, Zucolillo, um ex-atleta de .mais de 1,80 m de altura, condena a ajuda militar c econômica do Brasil ao Paraguai, inclusive a recente doação de cinco aviões militares àquele país e diz que se o governo da Nova República cortasse este tipo de ajuda como fizeram os Estados Unidos, o regime Stroessner já teria caído. Mas, em seguida, após uma longa KMVedura de Unré - bebida típica á base de erva-mate - ele é capaz de desabafas como este: "Nós estamos ansiosos para que surja aqui um militar que tenha a coragem do general Figueiredo, para empunar esse país para a democracia. Em todo caso, as oposições autênticas do Paraguai, buscando uma "saída honrosa" para o sistema, criaram o chamado Acordo Nacional, formado pelos partidos Liberal Autêntico, Revolucionário Febrerista, Democrata Cristão e pelo Movimento Popular Colorado-Mopoco. Eles propõem um "diálogo nacional", a ser conduzido pelo arcebispo de Assunção, monsenlior Ismael Sólon, e pedem, entre outras medida.s, o levaniamento do estado de sitio pennanente, anistia política, liberdade de imprensa, e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, através de eleições livres e soberanas. Só assim, poderia ser mudada a atual lei eleitoral, enxertada na Constituição, que não permite a alternância de partidos politicos no poder e possibilitou a Stroessner tornar-se o segundo mais amigo ditador do mundo, perdendo apenas para Kim 11 Sung, da Coréia do Norte na chefia do governo desde 1945. Stroessner, com essa simples penada, inviabilizou, portanto, qualquer tipo de diálogo. Os dissidentes do Partido Colorado acreditam que não haverá transição governamental sem o apoio' do próprio Stroessner. Acreditam, também, que ele terá de ceder ás crescentes pressões externas e internas que vem sofrendo dos seus próprios aliados ou ex-aliados. O embaixador Clyde Taylor, dos Estados Unidos, vem realizando fre3Cientes reuniões com os membros o Acordo Nacional, visando a uma substituição pacifica de Stroessner, e o governo Ronald Reagan condiciona qualquer ajuda ao regime de Stroessner a três avanços democráticos: o levantamento do estado,,de sítio permanente, a permissão para a volta ao país do vicepresidente do Partido Liberal Autêntico, Domingos Laiho, e a reabertura do jornal ÁUC Color. O Movimento Popular Colorado-Mopoco -, fundado no exílio, em 1954, por membros tio Partido Colorado, expulsos do país por ordem de Stroessner, acha que poderá chegar ao poder num processo de democratização gradual, mas, até que isso possa ocorrer, seu presidente, advogado Waldino Lovera, de 59 anos, que só pôde voltar ao pais no ano passado, após a rcdemocraiLmçào da Argentina, Um- O general Alfredo Stroessner não costuma dar entrevistas. Depois de muita insistência do enviado de Snüwf, ele resolveu falar. Mesmo assim, exigiu que as perguntas fossem feitas por escrito. Dois meses detxns, cie as respondeu. O general, que está no poder há 32 anos com base num regime ditatorial e fortemente anticomunista, também se acha no direito de dar aula de democracia aos Estados Unidos, a exemplo do seu amigo general Augusto Pinochet, do Chile. A seguir, publicamos um resumo da sua entrevista : P - Afirma-se, no Brasil, que o sr. acaba de perder o apoio do governo doi Estados Unidos e eslá experimenlando um cresdmmío da oposição da Igreja no seu país. Além disto, diz-se que o sr. estaria com uma doença grave, o que o levaria a se operar na Alemanha Ocidental, a convite do chanceler Helmul Kolü. Isso seria um motivo para o sr. passar a morar na Baviera, terra dos seus ancestrais. O que o serüior tem a dizer sobre isto? R - Não é sério, e muito menos responsável, falar de apoio norteamericano. Pode-se, isto sim, iálar-se de amigáveis relações bilaterais paraguaio-norte-americanas, as quais mantém-se em nível satisfatório, já que o governo desse pais amigo não pode confundir a normalidade constitucional do Paraguai com nenhuma situação de fato que se possa datem outras latitudes. Não dependemos de nenhum "apoio", venha de onde vier, ou de quem quer que seja. Estamos a par da realidade universal e estaremos, também, ao lado daqueles que lutam guai e Brasil, tem a sua casa, c tambóm sede do partido, permanentemente vigiada pela polícia de Stroessner, que segue todos os seus passos. , Isto, no entanto, é o mínimo que' pode acontecer a um dissidente no Paraguai. O vice-presidente do Partido Liberal Autêntico, Domingos Laino, um economista de 49 anos, exilado desde 1982, já tentou regressar cinco vezes ao seu país, onde vivem sua mulher e quatro filhos. • Sem sucesso. Na última, em junho passado, foi espancado terrivelmente pela polícia, no próprio aeroporto, e mandado de volta no mesmo avião para o Uruguai. mantendo a bandeira da liberdade, defendendo os valores substanciais do homem, a independência c soberania dos povos. Há mais ainda. Nós nos mantemos irreversivelmente fiéis á nossa posição anticomunista. Em relação á última parte da sua pergunta, a única veracidade é que recebi um convite oficial para visitar a República Federal da Alemanha, terra de meus antepassados paternos, o qual não consegui efetivar ainda pelo acúmulo de tarelás junto a meu povo. No que se refere à minha saúde, todos os jornalistas que visitam o Paraguai e meus compatriotas podem estar certos de que minhas energias não têm diminuído para continuar trabalhando pelo bem de minha pátria. milhões e meio morando em seu território e um milhão fora de suas fronteiras. Muitos deles não podem sequer desembarcar no seu país, como é o caso do líder oposicionista Domingos Laino. Essa situação pode um dia terminar e todos os cidadãos paraguaios viverem em paz no seu país, como acontece hoje no Brasil e nos demais países democrátiÍos do mundo? . , , , , P - Depois da redemocralitaçâo do Brasil, Argentina e Uruguai, com a instalação de governos civis, através do voto direto, o sr. acredita que possam ser mantidos governos fortes, presididos /wr militares, como os do Faraguai e do Chile r R - O Paraguai tem um governo constitucional, emanado do voto popular, desenvolvendo-se na plena normalidade democrática. Elimino que, de boa fé, se possa confundir a origem e a natureza política do governo paraguaio com alguma situação institucional que demande democratização ou transição. Não creio afortunada a pergunta que induz a atribuir caráter militar a meu govemo, pois, da mesma maneira, poderíamos perguntar-lhe onde se situa a presidência do general Eisenhower nos Estados Unidos, ou á do general De Gaulle, quando ocupou á" presidência da França. '? - O Paraguai tem fioje cerca de quatro milhões e meio de habitantes. Três l - Quanto aos cidadãos excluídos do país, há somente duas pessoas que não podem desemoarcar: o escritor comunista espanholizado Augusto Roa Bastos e o agitador Domingos Laino, ao qual o senhor chama de líder oposicionista. Situações como as que provocam esses dois sujeitos são as que criam tensões inconvenientes para todos e alteram o clima necessário para as liberdades democrátic*s. P - Um problema sério entre o Brasil e o Paraguai, hoje, é a questão de fronleiras. Não mais de limites, como no passado, e sim de tráfico de drogas, contrabando de mercadorias agrícolas (café e soja), manufaturados (automóveis e caminhões) e, agora, produtos eletrônicos, prinápalmente na área de informática. Como pode ser regularizado isso? R - A questão do comércio fronteiriço resolver-se-á com a abundância dos bens intercambiais. São os desequilíbrios que estimulam as desairosas práticas, e cremos que estará no interesse comum de todos aperfeiçoar táticas inteligentes para facilitar o intercâmbio c desestimular o comércio ilegal. O'comércio regular vai-se consolidando, o qual afiançar-se-á quanto mais rapidamente as fronteiras deixem de ser o último reduto das práticas ilegais de toda ordem, como acontece em todas as partes. M P o r 3 ü jonuilista c empresário Aldo Zucolilln lonhccc a llmdo o governo de Suocssiier. Ex-unújío cio ditador paraguaio, c easado com a irmã do civil mais fone do regime, o clielc do Cerimonial da Presidência da República e liei amigo de Siroessner. Contado Papailardo. Seu irmão é embaixador do Paraguai em Londres. Há dois anos, Zucolillo participa de todas as reuniões da Socieuadc Intcramericana de Imprensa - SIP -, protestando contra o fechamento do seu jornal, ABC Color, o mais importante do país, por ordem direta de Stroessner. Em Assunção, Zucolillo falou com euforia sobre a situação do Paraguai de hoje e qual deverá ser o seu destino. baridade de casos de torturas, mortes, roubos, negociatas fantásticas. Você imagina, então, a existência de jornais livres como o ABC Color fazendo investigações. Essa ditadura não suportaria. A ditadura de Stroessner não suporta 30 dias de liberdade de imprensa. P - 0 que o seu jornal linha de lào perigoso para o regune? P - £ qual o papel de Stroessner nesse sistema? Como ele gerencia essa corrupção? R - O mesmo da maioria dos jornais do mundo. A defesa de setores da sociedade que se julgavam prejudicados pela ditadura de Stroessner. Até 1967, não havia no Paraguai nenhum jornal que se preocupasse com a defesa dos cidadãos. Nós passamos, então, a inteiprctar os anseios, as esperanças, as alegrias e as tristezas da população. Como faz toda a imprensa livre e honesta do mundo. P - £ qual foi o argumerdo do governo para fccltar o jornal? R - O mesmo que alegam todas as ditaduras. O mesmo argumento 3ue levou a Polônia a fechar o sinicato Solidariedade ej^ue ievou o governo sandinista dá Nicarágua a fechar o jornal La Prensa: Que estávamos fazendo subversão. P - E a Constiluiçào paraguaia permite isso? R - Absolutamente. É um ato inteiramente inconstitucional. Arbitrário. Ditatorial. Repudiado por todo o munao. Desde o Departamento de Estado americano, à Sociedade Intcramericana de Imprensa, a todos os jornalistas livres do mundo. Sc você pega os jornais daqui, hoje, são' um verdadeiro romance de Agatha Christic. Mesmo com toda a censura imposta pelo governo, com a autocensura, ainda assim há uma bar- ? - Na sua opinião, qual a principal característica da ditadura paraguaia? R - Isso aqui é uma grande fazenda de 400 mil quilômetros quadrados, com um fazendeiro corrupto e sanguinário que c Stroessner. Sua fortuna e a das pessoas que estão ligadas a ele é incalculável. Tem ministros há 32 anos nos cargos. Generais há 25 anos nos mesmos comandos. Todo esse pessoal é controlado por Stroessner. R - Essa é a grande habilidade de Siroessner e é isto que o mantém há 3 2 anos no poder. É ele quem corta o bolo c distribui as fatias. E está sempre em busca de novos bolos para alimentar a corrupção. Nós devemos hoje cerca de 2 bilhões e meio de dólares, fora Itaipu. Quanto está no boisodos militares corruptos, dos seus amigos, de sua família? Existem informações de que vão a 500 milhões de dólares, somente em contas bancárias no exterior, fora os bens como empresas, navios, prédios e outros negócios. ? ■s E de que vivem o Paraguai e Stroessner? R - Do Brasil. Porque o Brasil é, hoje, o pais mais importante para o Paraguai. E Stroessner defende os interesses brasileiros nessa região geoeconômica. Por exemplo, o tratado de Itaipu é uma aliança perpétua assinada entre Stroessner e a então ditadura brasileira. Ele pode ser uma boa aliança ou um novo Canaf Ho Panamá na América do 'Sul, se não for renegóciaclo. Além disso, o comércio ilícito paraguaio, que representa dois terços da nossa economia, vem ou vai p'ara o Brasil, nosso maior parceiro econômico em operações legais e ilega[s. Por tudo isso, nossa sorte depende do Bra- P - Smdo assim, como se poderia acabar com o contrabando e o tráfico na frorüeira dos dois países? R - Você tocou na coluna principal que sustenta o governo de Stroessner. O tráfico de drogas, o contrabando, o roubo de carros. Aqui existem milhares de carros roubados no Brasil. São, na sua maioria, de um tenente, capitão, comissário de polícia, primo ou amante de uma autoridade. São cerca de cem mil e você pode comprá-los, tranqüilamente, pelos anúncios dos jornais. Um Santana, por exemplo, custa entre mil e mil c quinhentos dólares. Isto porque o crime aqui c institucionalizado. É ele quem mantém o sistema de poder. O Brasil poderia nos dar uma boa mão, obrigando o governo de Stroessner a legalizar o comércio entre os dois países. Com isso, já solucionaríamos grande parte dos nossos problemas. Isto porque aqui o governo coloca policiais corruptos para criar obstáculos ao comércio legal. Sc você suborna, essas barreiras são retiradas; caso contrário, náo. P - Diante dessa situação, quais as possibilidades de o Paraguai jmrtiápar do Mercado Corrum entre o Brasil, Argentina e Uruguai? R - Nenhuma. Como um governo corrupto como o nosso poderia negociar com esses países cm igualdade de condições? Além do mais, o que Stroessner poderia conversar numa mesa de negociações com Samcy, Alfonsín, Sanguinetti ou Alan Garcia? Isso ele fazia, com desenvoltura, na época das ditaduras militares, mas agora . é um estranho no ninho. P - £ o Brasil, o que poderia fazer neste momento? R - Nós precisamos que o presidente José Samey e as demais autoridades da Nova República nos ajudem a sair da situação em que estamos há 32 anos. Se o presidente Samey fizesse a Stroessner a metade das criticas feitas pelo presidente Alfonsín, este governo já teria caído. Regimes como os de Stroessner e Pinochet não podem continuar existindo neste final do ■ sé culo XX. ^ § S * ' g b C 3