ISSN: 2357-7657 VI Simpósio Multidisciplinar da Estácio São Paulo São Paulo 2014 ISSN: 2357-7657 VI Simpósio Multidisciplinar da Estácio São Paulo Editor Silvia Maria de Paula Editor Técnico Paulo Roberto Bernardo da Silva Silvia Maria de Paula Comitê Científico Alessandra Pereira Majer Antonio Sergio Spagnol Artur Wilson Carbonari Carlos Bauer de Souza Celso Ramos Figueiredo Filho Claudia Elisa Alves Ferreira Douglas Soares Francione Oliveira de Carvalho Franklin Larrubia Valverde Guillermo Ruperto Martín Cortés Herbert Schützer Leandra Lirdi Leonardo André testoni Maria das Graças da Silva Valenzuela Marta Camila Mendes de Oliveira Carneiro Mauro Cesar Bernardes Monica Alavarez Gomes Das Neves Paulo Roberto Bernardo da Silva Silvia Maria de Paula Sonia Maria Perroud da Silveira Foresti Yara Kassab Apoio Técnico e Administrativo Pedro José Lacchia João Vitor Araújo Expediente Direção Regional Jessé de Hollanda Cordeiro Direção do núcleo capital José Aroldo Alves Junior Pró-reitoria de graduação Rita Elvira Garcia Gestor do campus Santo Amaro Pedro José Lacchia Coordenação do Departamento de Pesquisa- SP Silvia Maria de Paula APRESENTAÇÃO O Departamento de Pesquisa do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, promove anualmente o Simpósio Multidisciplinar da Estácio São Paulo – SIMESP que está em sua quinta edição. O objetivo é fomentar a comunicação entre docentes e estudantes que desenvolvam projetos de pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento. O evento é uma oportunidade para a divulgação das atividades de pesquisa desenvolvidas nas universidades privadas e públicas. A programação do evento conta com a apresentação de resumos e artigos completos, previamente selecionados por um Comitê Científico. Os resumos e artigos são selecionados para as apresentações orais e em forma de pôster. Todos os trabalhos aprovados estão publicados no livro do evento que possui ISSN 2357-7657. Em 2014 contamos com a presença de cerca de 900 participantes. Foram apresentados cerca de 65 trabalhos científicos submetidos por docentes e estudantes do Centro Universitário Estácio Radial de Paulo e IES isoladas, ocorreu a participação de outras instituições como UNIFESP-Diadema, USPButantã, UNIMONTE-Santos, Faculdade Impacta, Faculdade Oswaldo Cruz, UFF-RJ, UFRJ, UNESA-RJ. Tivemos a honra de ter a submissão de um trabalho de pesquisa desenvolvido por pesquisadores do importante observatório francês LNE-SYRTE, CNRS, Observatoire de Paris, UPMC. A cada ano pretendemos contar com a efetiva participação de docentes e estudantes de nossa instituição para somar experiências e conhecimentos. Esperamos contar sempre com a presença de pesquisadores de outras instituições de ensino focadas na pesquisa e no desenvolvimento acadêmico das comunidades interna e externa. Cordialmente, Profa Dra. Silvia M de Paula Coordenadora do Departamento de Pesquisa – SP Focal de Pesquisa- Diretoria de Pesquisa- UNESA-RJ Sumário PARTE A - Ensino, Esporte, Artes e Administração.............................................................................................. 1 RESUMOS............................................................................................................................................................. 1 O teatro como instrumento educativo e pedagógico: Ações e reflexões. .......................................................... 1 A literatura como instrumento facilitador da consciência étnica e social: trabalhando com Monteiro Lobato 2 Cultura Religiosa dos Tenonde Porã.................................................................................................................... 3 O Sermão da Sexagésima e a Teoria da Comunicação. ....................................................................................... 4 Frei Jesuíno do Monte Carmelo e a redescoberta de suas obras: a restauração da igreja da Ordem Terceira do Carmo em São Paulo ...................................................................................................................................... 5 A Escola Superior de Guerra e o Golpe de Estado de 1964................................................................................. 6 Kung fu e suas contribuições ao desenvolvimento infantil ................................................................................. 8 Territorialidade e Povos Tradicionais: As Evidências da Ocupação da Praia de Itaipu (Niterói – RJ) como Ferramenta Socioambiental no Auxílio da Construção de uma Identidade Cultural Local................................. 9 Aprendizagem Personalizada: Novas formas de educação utilizadas a partir do advento das TIC´s ............... 11 A dança na Educação Física: contribuição para a socialização dos alunos do Ensino Médio. .......................... 13 A influência da Psicologia Cognitiva no comportamento do investidor ........................................................... 15 A imagem e a arte como territórios interdisciplinares: um esboço sobre a obra de Milton Tortella............... 17 ARTIGOS............................................................................................................................................................. 18 Articulação da pesquisa e prática docente nos eventos científicos – Um primeiro olhar sobre a área de ensino de Física ............................................................................................................................................................. 18 Neurociências e Educação: caminhos possíveis ................................................................................................ 24 Criatividade, Ensino de Ciências e Formação Docente: uma breve análise ...................................................... 30 Imigrantes bolivianos na rede municipal de São Paulo ..................................................................................... 37 A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e a reparação do Estado às vítimas da ditadura militar no Brasil.................................................................................................................................................. 45 Fórum Permanente dos Cursos de História e Pedagogia – A História nas Fronteiras do Conhecimento ......... 51 Controle de Constitucionalidade no Brasil, a Modulação de Efeitos e a Norma Inválida Porém Eficaz ........... 54 A vinda da corte portuguesa para o Brasil (1808) e suas implicações imediatas ............................................. 70 U.S Africom: Pressuposto, Formação e Atuação ............................................................................................... 79 Estudos de geohistória da educação de Diadema............................................................................................. 94 Estado-Nação e território sem Estado: África Subsaariana............................................................................... 98 AQUISIÇÕES E MUDANÇAS EMPRESARIAIS: O Processo de Adaptação Cultural de uma Empresa Varejista Farmacêutica ................................................................................................................................................... 103 A crueldade como marca nas ações de jovens delinquentes.......................................................................... 131 GESTÃO COMPARTILHADA NO CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO RADIAL DE SÃO PAULO: À LUZ DOS PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS NA REESTRUTURAÇÃO DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS, DA DIVERSIDADE CULTURAL E DAS DIRETRIZES CURRICULARES .......................................................................... 139 A MODERNIDADE DOS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: PROPOSTAS E REALIDADES DO VALE DO PARAÍBA..................................................................................................................................................... 152 A desaceleração da rotina das crianças e seus benefícios para o desenvolvimento emocional e cognitivo .. 165 A percepção sobre a Educação Física em graduandos de Pedagogia do Centro Universitário Estácio Radial 170 A INFLUÊNCIA DA INTERNET NO ENSINO DA LINGUAGEM PADRÃO: A LINGUAGEM UTILIZADA NA INTERNET DENTRO DO AMBIENTE ESCOLAR ................................................................................................................... 174 Corpo, dança e mídia: imagem corporal de crianças de 7 e 8 anos a partir da análise do desenho da figura humana. ........................................................................................................................................................... 179 Sobre outras materialidades: As crises da modernidade através das lentes do rock brasileiro ..................... 185 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: Ferramentas de Apoio ao processo de Ensino e Aprendizagem.................................................................................................................................................. 190 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: Análise do Mercado de Aplicativos para Dispositivos Móveis ............ 196 PARTE B – Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente............................................................................................ 205 RESUMOS......................................................................................................................................................... 205 GRAFENO, ESTUDO E DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................... 205 A Percepção Ambiental dos Moradores do Entorno do Manguezal do Jequiá – Ilha do Governador – Rio de Janeiro/RJ ........................................................................................................................................................ 207 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Phaseolus vulgaris ........................................ 209 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Linum usitatissimum ..................................... 211 A importância da implementação de centros de educação ambiental em áreas verdes urbanas, um estudo de caso no parque da Aclimação, São Paulo ........................................................................................................ 213 Padrões e parâmetros de qualidade da água. ................................................................................................. 214 Resíduos plásticos nas margens do rio Cotia: diagnóstico e monitoramento ................................................ 215 Água de reuso no processo de utilização, em uso doméstico, de máquina de lavar...................................... 216 Descarte adequado de medicamentos líquidos: minimizando riscos ............................................................. 218 ESTUDO DAS BENTONITAS VERDE LODO DA REGIÃO DE BOA VISTA, PB E SUAS POSSÍVEIS APLICAÇÕES NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO. .............................................................................................................................. 220 Construção de um carneiro hidráulico em resposta à utilização do método de ensino aprendizagem na visão construtivista ................................................................................................................................................... 222 Descarte adequado de comprimidos: minimizando possíveis impactos ........................................................ 223 Verificando o Efeito Estufa – Modelo Experimental. ...................................................................................... 224 Diagnóstico de resíduos sólidos nas margens do rio Cotia ............................................................................. 225 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Phalaris canariensis ...................................... 226 Resíduos de material de construção nas margens do rio Cotia ...................................................................... 228 Avaliação preliminar dos parâmetros antropométrico, biodinâmico e metabólico, nos alunos do curso de Educação Física do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, campus Interlagos............................. 229 UTILIZAÇÃO DO CORTISOL SÉRICO COMO MEDIDA DA LESÃO MUSCULAR EM RESPOSTA A DIFERENTES POTOCOLOS DE TREINAMENTO DE FORÇA. .................................................................................................... 230 Towards high sensitivity rotation sensing using an atom chip........................................................................ 232 ARTIGOS........................................................................................................................................................... 233 Desenvolvimento de um nariz eletrônico a base de polímeros condutores para a detecção precoce da deterioração de laranjas pós-colheita pelo fungoPenicillium digitatum ........................................................ 233 Determinação do fator de retenção do Pentaclorofenol em solo da região da Vila Leopoldina (São Paulo –SP) ......................................................................................................................................................................... 247 APLICAÇÃO DA TÉCNICA WATERSHED NA SEGMENTAÇÃO DE MICROCALCIFICAÇÕES EM IMAGENS MAMOGRÁFICAS ............................................................................................................................................. 253 A importância do Trabalho de Campo na Formação dos Alunos na Área Ambiental ..................................... 261 Reciclagem do resíduo metálico hidróxido de níquel gerado na indústria galvânica a partir da ativação de solução alcalina ............................................................................................................................................... 265 Educação Ambiental: um caminho para transformação social ....................................................................... 273 Células Solares Orgânicas com filmes finos automontados ............................................................................ 278 PARTE A - Ensino, Esporte, Artes e Administração RESUMOS O teatro como instrumento educativo e pedagógico: Ações e reflexões. Eduardo Costa Universidade de São Paulo, Curso de especialização em Linguagens da arte, campus Maria Antonia. Este trabalho propõe uma reflexão da área do conhecimento - Arte focando o teatro na educação, mostrando suas especificidades, suas influências no ambiente escolar, as possibilidades de ações e atitudes interdisciplinares entre o corpo docente, componentes curriculares e firmando-se como importante ferramenta pedagógica na referida área do conhecimento, a Arte. Utilizando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9393 (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como referência, contemplamos temas cruciais como: O que e como podem ser trabalhados, com os alunos e professores, os assuntos referentes à prática do teatro enquanto instrumento educativo e interdisciplinar, enriquecida com uma visão sociocultural; com isso o processo de validação das atividades de teatro, trará consigo uma linguagem mais comunicativa, criativa e crítica e, por que não dizer, inclusiva. A referida reflexão surgiu do trabalho desenvolvido com os alunos do Ensino fundamental e Médio, nas atividades aplicadas nos grupos de teatro formados nas instituições de ensino pelas quais lecionei, cuja motivação partiu das características peculiares dos alunos, das suas ideias e dos posicionamentos críticos que os destacavam. O iminente ingresso na vida acadêmica gerou um olhar mais aguçado da realidade e a descoberta de novas perspectivas para a vida desses educandos. Os resultados obtidos nas atividades aplicadas foram as opiniões objetivas e atitudes de parceria na construção do trabalho coletivo, até então ocultas nas manifestações ilegíveis. A proposta deste trabalho teve uma base essencial, que foi o método de ensino de Viola Spolin com os jogos teatrais e outras atividades práticas, que contemplaram tanto as aulas como os ensaios na preparação das montagens das peças, cujo princípio não é a competição e sim a superação dos limites. A competição se baseia na síndrome da aprovação/desaprovação, o que não é inclusiva. Na prática é a percepção de um determinado aluno que deixa de responder ou de participar efetivamente de uma atividade, preocupado com a opinião dos colegas ou mesmo com a aprovação ou reprovação na postura do professor, não dando a sim mesmo a chance de criar, arriscar, ousar. Elementos fundamentais no processo educativo. _________________________ Eduardo Costa – Pós graduado em Linguagens da arte, Professor de arte e teatro no Colégio Universitário Alphaville, [email protected] 1 A literatura como instrumento facilitador da consciência étnica e social: trabalhando com Monteiro Lobato Natália Costa Figueira, Noêmia Rocha da Silva, Ana Lucia Pedrazzi Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Letras, Campus Interlagos RESUMO Ao trabalhar temas verossímeis, universais e atemporais, a Literatura torna-se ferramenta mobilizadora para além dos conhecimentos culturais e linguísticos, porquanto da reflexão e, inclusive, da transmissão e aderência de valores sociais, morais, étnicos e familiares. Deste modo, o estudo de textos literários na Educação Básica contribui para com o trabalho de desenvolvimento da cidadania e, por que não dizer, da formação intelectual contra qualquer forma de racismo social e étnico. Sabemos que crianças e adolescentes não nascem racistas, mas compartilhando de uma sociedade que se comporta como tal, tendem a aderir ao preconceito. Cabe à escola, portanto, - em trabalho conjunto à família e à sociedade, ou, na lacuna que estas apresentarem - a construção de uma pedagogia que prepare o aluno para a cidadania, a civilidade e a humanidade, respeitando conceitos étnicos de valores, crenças e costumes. Desta forma, emerge deste trabalho um estudo comparativo entre textos literários brasileiros que venha a contemplar tais aspectos e que posicione o futuro profissional de Letras como mediador entre o literário e o real, proporcionando a seus discentes sensos crítico, humanístico e social especialmente quanto a qualquer discriminação de mesma ordem. Inicia-se o projeto em evidência com o levantamento de aspectos associados à discriminação racial e social brasileira, e pesquisa bibliográfica. A seguir, dá-se a escolha de obras de Monteiro Lobato, escritor brasileiro de literatura infanto-juvenil, que elucidem as questões acima. A partir da análise textual, temática e interpretativa dos livros selecionados, e do levantamento de mensagens subliminares que dão apoio ao projeto, elabora-se, por fim, um estudo comparativo que traz à tona valores humanísticos comuns tratados nas obras e que servirão de apoio ao futuro professor de Língua e Literatura Portuguesa, não apenas como mero transmissor de conhecimentos linguísticos, históricos e sociais, mas também como um bem instrumentado mediador crítico e humanitário. Natália Costa Figueira-Aluna do curso de Letras do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] Noêmia Rocha da Silva-Aluna do curso de Letras do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] Ana Lucia Pedrazzi – Mestre em Comunicação e Letras- Professora do curso de Letras do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 2 Cultura Religiosa dos Tenonde Porã Carlos André Costa dos Santos Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História, campus Santo Amaro A escatologia Tenonde Porã: A tribo indígena Tenonde Porã, do extremo sul de São Paulo, prega sermões que têm girado em torno da escatologia. Eles acreditam em vida após a morte e em eventos cataclísmicos que traria o “fim do mundo”. O autor Ronaldo Vainfas diz em sua obra “A Heresia dos Índios” que “a influência, direta ou indireta da escatologia cristã parece quase sempre indubitável.” (1995. p.36) Vainfas de fato acreditava que a questão escatológica do cristianismo estava presente na religião indígena. Ao comparar os contos escatológicos da tribo Tenonde Porã e cristão, realmente é possível fazer ligações entre ambas, mesmo que uma grande parte dos Tenonde Porã em hipótese alguma possa admitir. A sabedoria, como é chamada a religião dos Tenondé Porã, esta infestada de objetos escatológicos, eles sentem-se assegurados da catástrofe que acreditam que certamente ocorrera, porque preparam seus espíritos para esse fim, policiando seus sentimentos seus desejos e observando as ordenanças de Nhanderú Tenonde (o único deus desse grupo guarani). Segundo esses índios, os guarani são o eixo de equilíbrio que mantém a dinâmica do perfeito funcionamento do cosmo. Eles acreditam que a conservação de sua cultura é uma questão de sobrevivência ou de continuidade das espécies animais e do gênero humano. Por isso, pode haver uma grande preocupação entre esses índios por saber que ao longo de quinhentos e alguns anos, a ação dos exploradores de espírito capitalista fez desaparecer o guarani quase de forma total, ameaçando e existência da humanidade, só atualmente, nas ultimas décadas, o guarani reaparece quase que das cinzas para continuar cumprindo com seu papel de guardião da vida na terra. Não seria unicamente o orgulho de ser índio que impulsionaria a luta pela sua conservação, e sim, essa missão, a missão de guardar a humanidade do fim do mundo. Por tanto, podemos concluir: são duas coisas que poderia ocasionar o fim da humanidade; a extinção do guarani, e a perda de sua cultura. Dessa forma, os guarani Tenonde Porã se apresentam como protetores da vida e do equilíbrio. Enquanto os Tenonde Porã lutam para preservar sua cultura como meio de proteção a vida terrestre “os brancos” não conhecendo esse “fato” luta por integra-los a sua cultura julgando-se superiores. ______________________ Carlos André Costa dos Santos- Aluno pesquisador, professor da Escola Estadual Dona Prisciliana Duarte de Almeida, [email protected] 3 O Sermão da Sexagésima e a Teoria da Comunicação. Maria Luiza de Arruda Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Letras, Campus Interlagos. O presente resumo tem como objetivo, considerando as teorias da Historiografia Linguística de Altmam (1988) e Almeida (2003), analisar o Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira, padre jesuíta que viveu e escreveu na época do Barroco, sob o ponto de vista da teoria da comunicação, surgida no princípio do século XX. Assim, como uma forma de ordenar o pensamento perdido entre os reflexos, pretende-se verificar como se organiza essa estrutura lógica e como pode inserir-se dentro do Barroco de maneira tão cômoda. Esse artigo justifica-se pela necessidade de demonstrar como o referido sermão já aponta para uma teoria que buscou estabelecer, a partir do sistema triádico do discurso de Aristóteles, outros universos da comunicação, que na época de sua escritura ainda não se cogitava, ou seja: como o emissor, o receptor, a mensagem o canal, o código e o contexto influenciam o processo comunicativo. A análise mostrará outro tipo de enfoque – o como Vieira pode ser lido numa perspectiva mais atual, ou seja, do ponto de vista da comunicação. Entende-se que o tema do Sermão é extraído duma passagem bíblica: Semen est verbum Dei (s. Lucas, VIII, 2)A semente é a palavra de Deus. Vieira transforma em indagação o tema: “Se a palavra de Deus é tão eficaz e poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus?”. Conclui-se que o processo comunicativo falha, na análise de Vieira, devido à presença de um entrave, constituído por uma aparência, que substitui a essência. Todos os elementos componentes do processo funcionam, contudo a mensagem codificada corretamente transmite uma falsa informação. 4 Frei Jesuíno do Monte Carmelo e a redescoberta de suas obras: a restauração da igreja da Ordem Terceira do Carmo em São Paulo Rafael Pedro da Silva1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História, Campus Santo Amaro As mais ricas expressões culturais do século XVIII encontravam-se ainda, no âmbito religioso, remontando esse sentimento à época Medieval. Assim, por constituírem as igrejas e as capelas das irmandades mais ricas um reduto das camadas privilegiadas, este se torna o espaço de entrelaçamento de seus interesses, o objeto de suas melhores atenções, enfim as beneficiárias maiores deste contexto histórico de transição, por onde se entrecruzavam o pensamento iluminista reformador e os valores tradicionais, calcados na religião conservadora e dogmática. A produção do espaço religioso da segunda metade desse século, tanto na Capitania de São Paulo como em outras regiões, era, portanto também a expressão desse embate ideológico. As pinturas na igreja da Ordem Terceira do Carmo de São Paulo, obra do religioso Frei Jesuíno do Monte Carmelo, datadas do século XVIII, encontravam-se ocultas por espessas camadas de tinta, tentativas de restauração da capela mor da igreja realizada no início do século XX, enquanto as “picaretas do progresso” derrubavam o contíguo convento que lhe era vizinho. Estudos realizados na década de 1930, pelo poeta e historiador Mário de Andrade que à época era diretor do SPHAN (embrião do atual IPHAN), já supunham a existência de pinturas desta envergadura no forro da capela mor.Estudante minucioso da obra de Frei Jesuíno, Mário de Andrade, além do excelente trabalho acerca das obras realizadas pelo carmelita, também traz à tona a sua importância no cenário do Barroco Paulista. O objetivo deste trabalho é a descrição e análise documental, patrimonial e bibliográfica das obras de Frei Jesuíno, e sua relação com a restauração ocorrida há pouco tempo na Igreja da Ordem Terceira do Carmo. O intuito é trazer à tona a figura e a importância de Frei Jesuíno, evidenciando a importância de Mário de Andrade como o “construtor” da pitoresca figura do religioso, e a importância de seus aprofundados estudos acerca da vida e das obras do Frei. 5 A Escola Superior de Guerra e o Golpe de Estado de 1964 Celso Ramos Figueiredo Filho1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História, campus Santo Amaro No dia 31 de março deste ano completou-se o cinquentenário do golpe de Estado que inaugurou o ciclo da ditadura cívico-militar no Brasil, que se prolongou por 21 anos (1985). O golpe pode ser entendido como uma reação conservadora das camadas elitizadas da sociedade brasileira frente ao progressivo e inusitado crescimento dos movimentos populares. Essa reação contou com a adesão de consideráveis segmentos do oficialato das Forças Armadas, que garantiram o poder de fogo necessário à deposição do governo chefiado pelo então presidente João Goulart. Dando coerência doutrinária à trama golpista, estava a “Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento”, conhecida por DSN, formulada e difundida pela Escola Superior de Guerra, a ESG, sediada no Rio de Janeiro, e subordinada ao Estado Maior das Forças Armadas. A DSN era uma amálgama de postulados do Positivismo Comteano, desde o século XIX, arraigados no pensamento militar brasileiro, com elementos do anticomunismo típico da Guerra Fria. O aperfeiçoamento e a divulgação e da DSN ficava a cargo dos cursos ministrados pela ESG, que reuniam nos seus bancos escolares não apenas estudantes oriundos das Forças Armadas, mas, sobretudo, civis, representantes das elites dirigentes dos setores público e privado da sociedade civil nacional. Estes civis, por sua vez, quando formados nos cursos da ESG, passavam a agir nas suas regiões de origem, como multiplicadores da DSN. E, as aulas eram ministradas tanto por professores militares quanto por civis, sendo estas figuras de destaque do setor social ou empresarial em que atuavam Este trabalho tem por objetivo, portanto, realizar uma síntese das estratégias pedagógicas adotadas pela Escola Superior de Guerra, quando organizava e ministrava seus cursos de divulgação da DSN, ao longo de período entre 1953 e 1973. Ao mesmo tempo, pretendemos apurar de que forma a presença de estudantes e professores civis em um curso militar contribuía para o aperfeiçoamento da própria doutrina. A metodologia empregada consistiu na pesquisa ao material didático - apostilas – empregados no curso, elaborados pelos professores, tanto civis quanto militares. Também pesquisamos a monografia de fim de curso, elaborado pelos estudantes, que se reuniam em grupos para a sua realização. Este material encontra-se arquivado e disponível aos pesquisadores na sede da ESG, na Fortaleza São João, no bairro da Urca, Rio de Janeiro. 1 Mestre em História e Doutor em Psicologia Social, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 6 A conclusão a que chegamos é que a DSN foi amplamente difundida dentre importantes segmentos da sociedade civil através dessa estratégia pedagógica adotada pela ESG. Essa divulgação garantiu a adesão desses setores civis ao projeto de deposição do presidente João Goulart e à implantação de uma ditadura comandada pelos militares. 7 Kung fu e suas contribuições ao desenvolvimento infantil Thiago Soares da Silva Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo RESUMO O Kung Fu é talvez a mais antiga arte marcial existente. Perpassou por diversas culturas dentre séculos até hoje. Nesse período, incorporou diversas técnicas, ensinamentos e valores éticos e morais, que são ministrados em suas aulas. Atualmente, apresenta uma visão multifacetária, inserindo-se na área desportivo competitiva, lazer, terapia ocupacional e no caráter educativo e disciplinador, refletindo positivamente na vida dos praticantes. O objetivo deste estudo é conceituar os principais benefícios que o kung fu trouxe para os alunos do quarto ano, cuja idade é aproximadamente entre nove e dez anos, estando na fase de movimentos fundamentais (GALLAHUE, OZMUN, 2001). A metodologia baseou-se no estilo de luta do kung fu chamado Choylayfut, agregando posturas, defesas básicas, ataques, rolamentos e diversos tipos de saltos. Também foi desenvolvido autocontrole, respiração, concentração e percepção através do ensino do chi kung (arte interna marcial chinesa ou treinamento constante da energia), almejando o desenvolvimento físico motor e a interação do cognitivo e sócioafetivo dos alunos. Anteriormente foi elaborado um questionário diagnóstico para os pais dos alunos no intuito de analisar características físicas, patológicas e comportamentais, tendo um comparativo no fim do projeto que se iniciou em abril de 2013 e concluiu-se em junho de 2013, tendo assim 3 meses de duração. 8 Territorialidade e Povos Tradicionais: As Evidências da Ocupação da Praia de Itaipu (Niterói – RJ) como Ferramenta Socioambiental no Auxílio da Construção de uma Identidade Cultural Local. Cesar Augusto Lotufo1, André Luís Soares Smarra2, Vera de Fátima Maciel Lopes3 Universidade Estácio de Sá – UNESA, Gestão Ambiental, campus Nova América1,2,3 O presente trabalho tem como objetivo descrever o processo de ocupação da praia de Itaipu, Niterói/RJ, da pré-história ao presente. As datações arqueológicas para a ocupação mais antiga desse litoral apresentam controvérsias. Podemos afirmar, contudo, que não seria exagerado situarmos o período de construção do Sambaqui de Camboinhas (destruído na década de 1970 para a construção de condomínios locais), em cerca de 5.000 anos A.P. (antes do presente), a partir da demarcação geomorfológica de sedimentos do recuo do nível do mar nessa porção litorânea. Esses primeiros grupos, de acordo com prospecções realizadas nos anos 60 e pelas escavações realizadas nos anos 70, exploravam os recursos alimentares locais, sobretudo os bancos de ostras e mariscos, além de pescarem crustáceos e peixes que utilizavam a laguna para se desovarem. Complementavam sua dieta com pequenos mamíferos, répteis e aves, além de coletarem frutos e sementes das coberturas vegetais típicas das praias, restingas e manguezais. Posteriormente, conforme atestaram as prospecções realizadas nos sítios arqueológicos sobre dunas, definiram uma estratégia de pesca em mar aberto ao se adaptarem a um novo contexto geoambiental (pesos de rede em pedra polida, artefatos líticos lascados e instrumentos elaborados sobre ossos de peixes, na forma de agulhas, atestam esse fato). A região, sobretudo o topo dessas dunas, foi ocupada por grupos ceramistas. A tradição de pescadores pré-históricos de Itaipu perdurou até o momento dos contatos interétnicos com os colonizadores europeus no século XVI, que provavelmente se estendeu até o século XVII, quando grupos formados por negros africanos chegaram para trabalhar nas fazendas locais, na condição de escravos. A libertação dos escravos, em 1888, não concedeu-lhes lar, terra e remuneração, levando alguns grupos a tornarem-se pescadores na região e miscigenando-se aos supostos descendentes das tradições pré-históricas e indígenas da região. A partir de depoimentos dos pescadores atuais deu-se início a um estudo sobre a (re)construção da Memória Social. Registrou-se a disputa geopolítica local entre os membros da “Vila dos Pescadores de Itaipu” e os participantes da “Colônia de Pesca Z-7” e também a preocupação de ambos os grupos com a instalação da Reserva Extrativista e suas consequências para a conservação do patrimônio desse povo e ao processo de construção de uma identidade cultural local autêntica, como pilar de resistência à globalização que afeta a região. ___________________ 1 Cesar Augusto Lotufo – Mestre em Geografia, Professor da Universidade Estácio de Sá, [email protected] 2 André Luís Soares Smarra - Mestre em Física, Professorda Universidade Estácio de Sá, [email protected] 9 3 Vera de Fátima Maciel Lopes – Mestre em Engenharia de Produção e Doutora em Meio Ambiente, Professora da Universidade Estácio de Sá, [email protected] 10 Aprendizagem Personalizada: Novas formas de educação utilizadas a partir do advento das TIC´s Claudia Rosa de Moura Velozo2, Alcemiro Pompeo Junior3, Eduardo Roberto Priore 4 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Curso de Administração, Campus Brooklin, Jabaquara, e Interlagos 1. Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Curso de Ciências Contábeis, Campus Brooklin e Jabaquara 2. Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Curso de Processos Gerenciais e Gestão Financeira, Campus Jabaquara, Interlagos e Santo Amaro 3. Com a globalização e as mudanças de paradigmas envolvendo a educação, vem-se estudando as características dos processos de aprendizagem. Aumentar a eficiência do processo de aprendizagem para educar cidadãos ativos, as diferenças individuais devem ser levadas em consideração. A este respeito cada pessoa é diferente. Algumas destas diferenças pode ter algumas variações, tais como estratégias de aprendizagem, estilos de aprendizagem, campos de inteligência e hábitos de estudo. O objetivo deste artigo é explorar a hipótese de que a aprendizagem deve ser tratada considerando os estilos embasados nos seguintes autores Butler (2003), Felder e Silvermann (1993), Honey e Mumford (2000) e Kolb (1984) onde são desenvolvidas estratégias para analisar a preferência individualizada de cada aluno, apresentando sugestões de materiais instrucionais para cada estilo de aprendizagem ou fazer uso de um conjunto destes materiais. Segundo os autores citados, os estilos de aprendizagem de maior predominância são: Visual, Verbal, Global e Sequencial. E, para tal, pesquisaremos os depoimentos de alunos do 1º ao 4º semestre dos cursos de gestão de negócios, através do desenvolvimento de um sistema, criado exclusivamente para conhecer as preferências de aprendizagem, a fim de desenvolver as complementaridades e obter elementos que sirvam para diferenciar a prática pedagógica. A contribuição deste estudo é buscar novas formas de educação em conjunto com as (TICs) Tecnologias de Informação e Comunicação, e de modo particular, a internet, que é uma das principais vertentes das TICs e sua utilização, tanto em cursos de modalidade presencial como em modalidade EAD, através de ambiente totalmente virtual. Aumentar a eficiência de sua aplicabilidade e integrar novas estratégias que levam ao maior interesse pelos alunos aos 2 Claudia Rosa de Moura Velozo, Mestranda em Administração, Professora e Coordenadora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 3 Alcemiro Pompeo Junior, Mestrando em Administração, Professor e Coordenador do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 4 Eduardo Roberto Priore, Mestre em Administração, Professor e Coordenador do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 11 estudos de maneira diferente e dinâmica, evitando assim a evasão, devido aos métodos convencionais e pouco atraente para esta nova geração, que tem uma inquietude e a busca constante por novos modelos de ensino, de trabalho e de qualidade de vida e para este jovem precisamos nos preparar para o seu sucesso profissional, com novos modelos e metodologias de aprendizagem 12 A dança na Educação Física: contribuição para a socialização dos alunos do Ensino Médio. Natália Justino Costa5, Andrea Francklin Lomardo 2 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Educação Física, Campus Interlagos A dança é uma manifestação cultural na qual as condutas corporais exercem papel fundamental para o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos. O seguinte estudo trata do conteúdo dança na Educação Física, verificando a importância da dança como elemento de socialização dos alunos do ensino médio. Para isso, traz um breve relato da história da dança, seu sentido e significado, as dificuldades para inseri-la no ambiente escolar e aponta conteúdos e metodologias para que a educação pela dança aconteça efetivamente. A metodologia do trabalho desenvolveu-se a partir da observação de aulas e da coleta e análise de dados oriundos de uma entrevista estruturada contendo 2 perguntas abertas: para você, o que é dança; e qual a importância da dança como conteúdo da Educação Física na Escola. A amostra foi composta por 14 sujeitos, sendo 11 alunos,de 13 a 17 anos, e 3 professores do Ensino Médio, sendo 1 de Educação Física e 2 professores coordenadores de Projetos de Dança na Zona Sul da Cidade de São Paulo. Foi feita a análise de conteúdo dos discursos e levantadas categorias. Para a primeira pergunta observou-se que 64,28% dos entrevistados relacionam a dança à uma forma de expressão, 28,57% a um estilo ou filosofia de vida e apenas 7,15% a uma forma de educação. Porém ao serem questionados sobre a importância da dança como conteúdo da Educação Física 35,71% dizem ser importante para integração entre os alunos além de melhorar os relacionamentos entre o grupo, 35,71% ressaltam a importância da dança como uma forma de quebrar preconceitos e unir culturas e apenas 7, 15% abordam a dança como uma forma de melhorar a postura e relaxar. A partir do acompanhamento e observação das aulas verificou-se que os participantes deste estudo são detentores de uma boa autoestima, melhor comunicação e integração com outras pessoas. Consideram a dança como um conteúdo de peso igual às outras disciplinas, e lamentam a falta de oportunidade desta prática para outros indivíduos. Foi possível verificar que a dança, enquanto prática pedagógica, é de fundamental importância para os alunos do Ensino Médio. Relacionada ao processo ensino aprendizagem, leva-os a participação de caminhos sociais responsáveis pela busca da cidadania e conquista de um estilo de vida ativo. No ambiente escolar, a Natália Justino Costa - Licenciada em Educação Física pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 5 2 Andrea Francklin Lomardo - Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 13 dança promove a socialização e a criatividade, contribuindo para a formaçãode cidadãos críticos e participativos. 14 A influência da Psicologia Cognitiva no comportamento do investidor Eduardo Roberto Priore6, Sonia Regina Prado 7 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Curso de Processos Gerenciais e Gestão Financeira, Campus Jabaquara, Interlagos e Santo Amaro 1. Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Curso de Recursos Humanos, Campus, Brooklin, Jabaquara, Interlagos e Santo Amaro 2. Nesse artigo exploramos como a psicologia cognitiva tem influência sobre o comportamento dos profissionais financeiros na ótica das finanças comportamentais. A finalidade dessa área de conhecimento é ajudar na identificação e compreensão, das ilusões cognitivas que fazem com que pessoas cometam erros de avaliação na hora de tomar decisões. Por isso é que os indivíduos nem sempre agem de forma racional, pois estão propensos aos efeitos dessas ilusões. A psicologia cognitiva realizava estudos para compreender como as pessoas pensavam, decidiam e como ocorriam situações importantes na mente humana. Segundo Macedo Junior (2003), a psicologia cognitiva considera a decisão como um processo interativo onde fatores não triviais tinham influência, como percepções, convicções e modelos mentais do próprio decisor, e acabam por interferir na ação ou decisão escolhida. Além disso, motivos intrínsecos como emoções, estado da mente, tendências e atitudes psicológicas em relacionar fenômenos podem influenciar nas decisões. Desta forma, a psicologia cognitiva se opôs aos princípios das finanças modernas que tinham como um dos pressupostos principais a defesa da racionalidade do investidor, favorecendo então, a abertura de um novo campo de estudos que possuía uma abordagem alternativa àquela preconizada pelas finanças modernas. As pesquisas em psicologia cognitiva sobre a utilização de heurísticas no julgamento na tomada de decisão surgiram na década de 70 e principalmente com o artigo publicado em 1974 “Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases” sobre regras heurísticas, de autoria de Amos Tversky e Daniel Kahneman (TONETTO et al. 2006). Muitas decisões são baseadas em crenças e em eventos incertos, como o resultado de uma eleição e como os indivíduos podem ser influenciados por três formas de regras heurísticas, chamadas de heurística da ancoragem ou ajustamento, heurística da disponibilidade e heurística da representatividade. Para que os objetivos desse trabalho fossem atingidos, optou-se por uma pesquisa quantitativa exploratória descritiva que, segundo Gil (2006), envolve coleta sistemática de informações, mediante condições controladas e procedimentos estatísticos, procurando quantificar, utilizando procedimentos estruturados e instrumentos formais 6 Eduardo Roberto Priore, Mestre em Administração, Professor e Coordenador do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 7 Sonia Regina Prado, Mestranda em Administração, Professora e Coordenadora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 15 para a coleta de informações. Espera-se verificar como a psicologia cognitiva influencia nos processos de decisões dos profissionais financeiros na ótica das finanças comportamentais. 16 A imagem e a arte como territórios interdisciplinares: um esboço sobre a obra de Milton Tortella Mônica Hernandes Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História Esse trabalho investiga como as imagens urbanas e artísticas revelam elementos simbólicos e identitarios do homem contemporâneo. Sendo o símbolo uma construção social por excelência e presente em qualquer representação artística, a presente pesquisa concentra-se na análise da iconografia do artista paulistano Milton Tortella para dialogar com a cultura visual e a interdisciplinaridade entre a história da arte, a história cultural e a antropologia visual. Segundo Paulo Knauss (2000), a categoria de cultura visual permite, de um lado, expandir a história da arte ao integrar os objetos artísticos no mundo das imagens ou ao integrar o mundo das imagens no mundo das artes. De outro lado, porém, a categoria de cultura visual apresenta um modo de colocar novos desafios para a história da arte, redefinindo o próprio estatuto da arte como construção histórica e com variações que lhe conferem historicidade própria identificando elementos e características da realidade social que transcendem a ideia de tempo e lugar e que implica em inúmeras possibilidades de análises que vão além da estética ao transitar em questões que concerne a toda humanidade. Objetivos: Contextualizar e identificar através da obra do artista Milton Tortella, elementos e características da realidade social que transcendem a idéia de tempo e lugar e que implica em inúmeras possibilidades de análises que vão além da estética ao transitar em questões que concerne a toda humanidade. Resultados e Discussões:A temática urbana permeia o vasto campo de trabalho e pesquisa do artista, sua narrativa nos remete a contos, a cenários, a interpretações singulares em seus múltiplos aspectos, e tem papel primordial em sua abordagem e na relação com a realidade concreta presente na diversidade cultural, seja pelo espaço geográfico, político, econômico, religioso e social. Considerações Finais:A História da Arte sempre se valeu da utilização da imagem como instrumento desta contextualização, criando a base damediação entre o criador e o espectador, tão apropriadas para a produção contemporânea. Através desta mediação há de se compreender a força da imagem em nosso cotidiano e também em sua decodificação individual que envolve o individuo em sua vivência e nas suainter –relações. A mensagem da imagem constitui a absorção singular e complementar de seu meio. 17 ARTIGOS Articulação da pesquisa e prática docente nos eventos científicos – Um primeiro olhar sobre a área de ensino de Física Eliane S. Cruz8, Leonardo Testoni9, Guilherme Brockington10, Franciele S.Paz11, Érika O. Santos12 Universidade Federal de São Paulo, Licenciatura Plena em Ciências, campus Diadema1 2 3 4 5 Resumo Este trabalho integra a linha de pesquisa ‘Articulação da Pesquisa e Práticas de Ensino dos Professores de Física’ e considera os eventos científicos como o seu objeto de estudo. Primeiramente, descreve-se o referencial teórico inerente ao conceito de ‘articulação’ apropriado para fins educacionais, que implica uma relação bilateral entre Pesquisae Práticas Educacionais. Fazse uma análise do papel fundamental dos eventos científicos, apresentando, inclusive, um evento científico realizado numa perspectiva articuladora, por serem considerados espaços coletivos privilegiados para a disseminação de conhecimento, partilha de experiências e formação continuada de Professores. Posteriormente, apresenta-se um estudo preliminar de natureza descritiva que pretende analisar as barreiras epistemológicas e culturais que podem dificultara articulaçãoPesquisaPráticas em dois eventos científicos (SNEF e EPEF) no contexto brasileiro, centrados ora na pesquisa educacional (EPEF/Encontro de Pesquisa em Ensino de Física) e ora nas práticas (SNEF/Simpósio Nacional de Ensino de Física).Finaliza-se com algumas sugestões/desafios para se potencializar a articulação em eventos científicos. Palavras – Chave: Formação de Professores, Articulação Pesquisa e Prática, Eventos Científicos, Ensino de Física. 8 Eliane S. Cruz - Graduada em Física, Mestre e Doutora em Didática das Ciências pela Universidade de Aveiro (Portugal). É Professora de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected] 9 Leonardo André Testoni - Graduado em Física, Mestre e Doutor em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). É Professor de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected] 10 Guilherme Brockington - Graduado em Física pela UFJF, Mestre e Doutor em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). É Professor de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected] 11 Franciele S. Paz – Aluna do curso de licenciatura em Ciências (Unifesp). 12 Érika O. Santos – Aluna do curso de licenciatura em Ciências (Unifesp). 18 Introdução Os primeiros modelos de “articulação” pesquisa-ensino (Cachapuz, 1997; Costa, 2003; Cruz, 2005; McIntyre, 2005; Cruz, Pombo & Costa, 2008) restringiram-se fundamentalmente ao impacto da pesquisa nas Práticas e não à articulação. Atualmente, a perspectiva de impacto tem sido substituída pela da articulação da pesquisaprática no campo acadêmico internacional, porque a ‘articulação’ é entendida como um processo amplo e mais complexo, operante em várias dimensões (epistemológica, ontológica, estratégica, política, etc.) e, portanto, mais amplo do que o de impacto (o qual envolve exclusivamente a dimensão epistemológica). Ou seja, nem todos os processos de impacto envolvem a articulação, mas a articulação inclui necessariamente o impacto mútuo. Poderíamos dizer que a articulação implica uma relação bilateral entre a Pesquisa e as Práticas nestas dimensões, traduzida pela influência da pesquisa/pesquisadores nas Práticas/professores, mas também das Práticas/professores na Pesquisa/pesquisadores (Cruz, 2012). O modelo de articulação entre a Pesquisa educacional e as Práticas dos Professores de McIntyre (2005), apropriado por Cruz (2012) para o contexto específico da Didática da Física, prioriza a dimensão epistemológica (que aceita “o fosso” entre a Pesquisa e Práticas pela impossibilidade epistemológica do seu total desaparecimento), mas considera a influência das outras dimensões. Além disso, assenta-se numa visão moderada de articulação, que pretende ser uma sugestão de novas demandas na pesquisa em ensino de Física e não de substituição total do atual modelo de desenvolvimento da pesquisa educacional. Em um primeiro momento, parte-se da análise da natureza da prática investigativa em direção às barreiras epistemológicas e culturais para a articulação entre a pesquisa e as práticas em eventos científicos. Considera-se que a natureza da prática investigativa dos Professores em contexto acadêmico necessita ser explicitamente definida, de forma a evidenciar inicialmente o tipo de generalização. Persistem diferentes concepções sobre a natureza das pesquisas realizadas por Professores em ambas as comunidades, entendida ora como processo cognitivo (para o desenvolvimento profissional dos professores), ora como prática social (para construção de conhecimento no campo educacional). No contexto brasileiro, segundo Salem (2012) a gênese da área ensino de Física centrava-se nos processos de ensino-aprendizagem, ou seja, fazer com que o ensino de Física fosse mais eficiente. Posteriormente a área de pesquisa foi se consolidando e assumindo contornos epistemológicos e ontológicos que podem ter contribuído à (des)articulação, a saber: (i) a questão terminológica Ensino de Física e Pesquisa em Ensino de Física não se discute, pese embora, não seja consensual o seu significado,que pode dificultar a transparência do impacto nas práticas; (ii) a dispersão de linhas de pesquisa e áreas temáticas (ATs)refletidas nos estudos sobre o estado da arte da pesquisa em ensino de Física pode dificultar novos direcionamentos da pesquisa; (iii) ausência ou pouco diálogo entre os polos: “a pesquisa, a produção de conhecimento sobre o ensino, a teoria e o pesquisador” e “a sala de aula, o próprio ensino, a prática e o professor”, entre outros. 19 Metodologia da Investigação O nosso olhar incidiu exclusivamente sobre o papel dos eventos científicos na articulação, por serem considerados espaços coletivos privilegiados para a disseminação de conhecimento, partilha de experiências e formação continuada de Professores. Destaca-se, a título de comparação, um exemplo de evento científico, realizado em Portugal13, que teve a intencionalidade de articular a pesquisa educacional e as práticas profissionais, mas que evidenciou em menor grau algumas barreiras epistemológicas e ontológicas. O evento científico foi avaliado pelo LAQE14e os participantes fizeram as seguintes sugestões para potencializar a articulação entre a pesquisa e as práticas nos futuros encontros científicos: (i) a abertura deste tipo de evento para os Professores apresentarem também trabalhos; (ii) a existência de mais trabalhos que tragam o impacto das práticas na pesquisa e não tanto da pesquisa nas práticas; (iii) aumentar o número e extensão das oficinas, por serem de caráter mais prático, evitando a sobreposição de horários, por serem de especial interesse dos Professores; e (iv) continuidade de eventos científicos centrados na articulação entre a Pesquisa e as Práticas . Relativamente à barreira ontológica, a opção do colóquio em priorizar a submissão de trabalhos por parte de bolsistas, não permitindo trabalhos de Professores não-bolsistas, revelou a forma como a barreira ontológica entre as comunidades é perpetuada ao longo das gerações com reflexos nas respectivas epistemologias da pesquisa e da prática. Esclarece-se que esta opção justificou-se pela necessidade sentida pelos bolsistas em Portugal por um maior reconhecimento do seu contributo pela comunidade educacional (acadêmica e escolar). No que diz respeito à barreira epistemológica,o colóquio evidenciou diferentes concepções sobre a natureza das investigações realizadas por Professores em ambas as comunidades, conforme já referido, e que é descortinada nas seguintes respostas dos professores: (i) a importância dos professores serem coautores por serem colaboradores da pesquisa e estarem aplicando a pesquisa nas Práticas do contexto de sala de aula e (ii) importância dos relatos sobre a sua própria prática/experiência concretas na sala de aula, mas que poderiam assumir contornos de pesquisas de generalização situada com a devida orientação dos pesquisadores (para aqueles professores que ainda não conseguem levar à cabo as pesquisas nas escolas). Outra barreira epistemológica, evidenciada neste colóquio, demonstra a necessidade de diferenciação de projetos em curso e finalizados nos eventos científicos. Este fato é justificado pelas diferentes concepções que os acadêmicos e os professores possuem relativamente ao seu papel na produção de conhecimento científico educacional, a saber: (i) a comunidade escolar possui maior dificuldade em compreender o papel dos eventos, enquanto espaço de validação (interna e externa) 13 “Da Investigação à Prática: Interações e Debates” organizado pelos bolsistas de Investigação Científica do Departamento de Didática e Tecnologia Educativa (DDTE) na UA em 2008. 14 Laboratório de Avaliação da Qualidade Educativa (LAQE) resultando inclusivamente numa publicação (Pombo, Simões, Cruz & Costa, 2008). A primeira autora deste estudo envolveu-se neste processo avaliativo o que justifica o interesse pela perspectiva articuladora nos eventos científicos. 20 do conhecimento produzido do que a comunidade acadêmica (ii) os eventos científicos são suficientes para a disseminação junto da comunidade acadêmica (através da divulgação), entretanto, para a disseminação junto da comunidade escolar contempla três etapas (transmissão/divulgação mediação - transferência). Mediante a análise desse contexto, iniciamos uma primeira aproximação com os eventos brasileiros na área de ensino de Física (SNEF/EPEF). O 1º SNEF surgiu em 1970, conhecido por ter um caráter mais amplo (integrando as práticas) ao contemplar apresentação de trabalhos de pesquisa, relatos de experiências didáticas, descrição de produção e uso de equipamentos didáticos, etc. Após 15 anos, a comunidade de físicos da pesquisa em ensino de Física sentiu a necessidade de encontrar espaço para discussão de seus projetos de pesquisa no sentido mais stricto, surgindo1ºEPEF, em 1986. Esse último evento é voltado exclusivamente à pesquisa educacional e, segundo Bortolleto (2007), as comunicações orais podem ser representativas das pesquisas em ensino de Física desenvolvidas no país. Desse modo, no que diz respeito ao estudo empírico, o mesmo é de natureza descritiva e encontra-se numa fase preliminar de análise de dados, sendo a nossa pergunta de partida: O surgimento do EPEF, comparativamente ao SNEF, desarticulou a pesquisa das práticas? O corpus foi constituído por 2 documentos, elaborados pela equipe, contendo a descrição contida nos sites das últimas 3 edições dos 2 eventos científicos, já citados, realizados no Brasil (SNEF e EPEF). Os objetos de análiseiniciais são as áreas temáticas e o perfil dos participantes. Esta análise preliminar dos dados teve como referência teórica e metodológica as barreiras epistemológicas e ontológicas evidenciadas no colóquio articulador acima descrito. Pretende-se, numa fase posterior, aumentar o corpus dos dados, integrando as atas dos respectivos eventos e aumentar o nº de edições analisadas. Resultados e Discussão As ATs das últimas 3 edições do SNEF e EPEF revelam uma certa convergência, ou seja, 8 de 14 (57%) aparecem praticamente nos 6 eventos analisados, a saber: (1) a formação e prática profissional de professores; (2) Filosofia, História e Sociologia da Ciência e o EF; (3) Linguagem e cognição no EF; (4) Divulgação e comunicação de Física em espaços formais e não formais; (5) Tecnologia da informação, difusão tecnológica e o EF; (6) Políticas públicas e o EF; (7) Questões teórico-metodológicas da pesquisa em EF e (8) Ciência, Tecnologia e Sociedade, conforme observase na tabela a seguir. Tabela 1: ATs das últimas 3 edições dos eventos científicos SNEF e EPEFnão convergentes ATs e/ou linhas SNEF EPEF de pesquisa 2011 2013 SP 2015 2010 2012 2014 AM MG Didática, x Seleção, x Didática, x x Organização do currículo e currículo e avaliação no Conhecimento e inovação Ensino de Currículo educacional no Física; EF Aprendizagem x Ensino / x x em Física; Aprendizagem 21 / Avaliação em Física Materiais, Métodos e Estratégias de EF Ciência, Cultura e Arte Educação, Política e Sociedade x x x x As barreiras epistemológicas aparecem nas seguintes evidências: (i) única referência ao contexto específico local das pesquisas aparece no SNEF (2010) da Amazônia: (ii) questões mais práticas ligadas à sala de aula aparecem no SNEF (2013) na área temática “Materiais, Métodos e Estratégias de EF” que, posteriormente, extinguiu-se; (iii) Didática no SNEF parece não integrar em seu seio a Avaliação e (iv) no EPEF (pressupõe maior fundamentação teórica) a Didática aparece ligada à inovação educacional,quer pelo seu caráter integrador(Cachapuz, 1997), quer pela sua relação com o PCK - Pedagogical Content Knowledge (Gess-Newsome & Lederman, 1999 em Cruz, 2005), considerada a literatura como o conhecimento de maior impacto na melhoria na prática letiva dos professores de Física. O perfil dos participantes evidenciados nos sites dos eventos são: - EPEF: pesquisadores experientes e pesquisadores em formação (revelado inclusivamente pela existência de uma escola de formação de pesquisadores). - SNEF: pesquisadores experientes, pesquisadores em formação, professores, professorespesquisadores (professores na formação pós-graduada) e futuros-professores (professores na formação inicial). O público-alvo evidenciado nos sites são: - EPEF: não consta explicitamente, mas deverá ser maioritariamente voltado aos pesquisadores (formadores ou não). SNEF: (i) interessados em Ensino de Física, incluindo professores da Educação Básica e da Educação Superior; (ii) Estudantes de Pós-Graduação em Ensino de Física, Ensino de Ciências e Educação; (iii) Estudantes de Licenciatura em Ciências Naturais e Licenciatura em Física; (iv) Formadores de professores das áreas das Ciências Naturais e/ou Educação, vinculados a Universidades, Instituições de Educação Superior e Institutos de Pesquisa; (v) Professores de Física da Educação Básica e Ensino Superior e (vi) Pesquisadores em Educação de Ciências e áreas afins. Verifica-se a barreira ontológica das duas culturas da pesquisa e da prática na explicitação, ou não, dos participantes e público-alvo. Considerações finais As implicações deste trabalho às demandas que a pesquisa em ensino deve atender com vista a uma maior articulação entre Pesquisa-Prática nos eventos científicos são: (i) antecipação e 22 ampliação da validação segundo os critérios relevância prática, aplicabilidade e utilidade; (ii) inclusão da Comunidade Escolar local ainda na fase de produção do conhecimento educacional,através da participação dos professores nos eventos científicos centrados na pesquisa, para que participem da validação interna de projetos em fase de desenvolvimento; (iii) criação de espaços e momentos exclusivos nos eventos científicos, que possibilitem uma discussão aprofundada das pesquisas educacionais em curso por pesquisadores como forma de melhoria contínua da sua própria qualidade; (iv) transparência e conscientização das concepções de todos os intervenientes/instituições sobre a natureza das práticas investigativas dos Professores; (v) desenvolvimento de projetos investigativos de generalização situada de elevada importância à comunidade local. Referências BORTOLLETO, Adriana et al. Pesquisa em Ensino de Física (2000, 2007): áreas temáticas em eventos e revistas nacionais. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, VI, 2007, Florianópolis, Atas... 2007, CDROM. CACHAPUZ, A., “Investigação em Didática das Ciências em Portugal: um balanço crítico”, In Pimenta, S. G. (Org.) Didática e Formação de Professores: percursos e perspetivas no Brasil e em Portugal, p. 205-240, São Paulo, Cortez Ed, 1997. COLÓQUIO DOS BOLSEIROS. Da Investigação à Prática: interações e debates. Realizado na Universidade de Aveiro nos dias 15 e 16 de fevereiro de 2008. Disponível em http://www.dte.ua.pt/PageText.aspx?id=6808 COSTA, N. A Investigação Educacional e o seu impacte nas práticas educativas: O caso da Investigação em Didática das Ciências. Lição Síntese das Provas de Agregação não publicada (Educação). Universidade de Aveiro, 2003. CRUZ, E. Avaliação do Impacte de Cursos de Mestrado nos Professores-Mestres - O desenvolvimento do Pedagogical Content Knowledge de Professores de Ciências Físico-Químicas. Dissertação de Mestrado em Ensino da Física e da Química, Universidade de Aveiro, Portugal. Publicação no site do Projeto SinBad http://biblioteca.sinbad.ua.pt/Teses/2007000099, 2005. ________. Da Avaliação do Impacte à Articulação da Investigação↔Práticas – O caso da Articulação na Formação Didáctica Pós-Graduada de Professores de Ciências e desafios futuros. Tese de Doutoramento em Didáctica e Formação (ramo Didática e Desenvolvimento Curricular), Universidade de Aveiro, Portugal. Publicação: http://ria.ua.pt/handle/10773/10993, 2012. MCINTYRE, D. Bridging the gap between research and practice. Cambridge Journal of Education, 35(3), 357–382, 2005. POMBO, L., SIMÕES, A.R., CRUZ, E., & COSTA, N. Da Investigação às Práticas: um primeiro balanço do Colóquio. Em Atas do Colóquio Da Investigação à Prática: interações e debates, realizado na Universidade de Aveiro, dias 15 e 16 de fevereiro de 2008. Artigono link Avaliação: http://www.dte.ua.pt/PageText.aspx?id=6808 23 Neurociências e Educação: caminhos possíveis Guilherme Brockington, Leonardo André Testoni, Flamínio de Oliveira Rangel Universidade Federal de São Paulo, Licenciatura em Física, campus Diadema Resumo Há décadas que estudos sobre Educação buscam compreender e elucidar os complexos e intricados processos de ensino-aprendizagem. De maneira geral, os educadores estão sempre em busca de estratégias que possibilitem uma real e significativa aquisição do conhecimento apresentado aos alunos. Paralelamente, os mecanismos de aquisição e conservação do conhecimento fascinam pesquisadores em diferentes áreas, como filósofos, epistemólogos, psicólogos, sociólogos e médicos. Nos últimos anos, os avanços das tecnologias não invasivas permitiram que o cérebro fosse estudado in vivo, permitindo que diversos mecanismos envolvidos na aprendizagem e na construção de mundo dos indivíduos fossem explorados e melhor compreendidos. Desta forma, a Neurociência fornece um novo entendimento acerca de diferentes processos cognitivos e desvenda as propriedades neurais que dão suporte à linguagem, ao entendimento aritmético, à realização de cálculos etc. Entretanto, quase que a totalidade destas descobertas não chega ao conhecimento dos educadores. O objetivo principal deste artigo é, justamente, apresentar uma pequena amostra do enorme potencial do diálogo entre Neurociências e Educação para novos olhares sobre questões do contexto escolar. Faremos um breve relato de algumas pesquisas interessantes nesta interface e esperamos contribuir para aguçar o interesse de pesquisadores que queira tratar, de forma multidiscliplinar, os processos de ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Neurociências, Educação, sono, alfabetização. Introdução Na última década, o interesse acerca da compreensão dos funcionamentos do cérebro e da mente teve um crescimento vertiginoso. Os métodos modernos de psicologia, ciências cognitivas e comportamentais, e neurobiologia têm produzido um vasto corpo de conhecimento interdisciplinar que permite aprofundar o entendimento sobre as formas de aquisição e apreensão do conhecimento. Sendo assim, a Neurociência, ramo intrinsecamente multidisciplinar em pesquisas científicas, tornou-se uma área fundamental para a compreensão das relações do ser humano com o mundo natural e social (Changeux and Ricoeur 2000, Gazzaniga, Ivry et al. 2007). Atualmente, a Neurociência Cognitiva fornece um novo entendimento acerca de diferentes processos cognitivos e desvenda as propriedades neurais que dão suporte à linguagem, ao entendimento aritmético, à realização de cálculos etc (Posner and Dehaene 1994, Dehaene 1999, Dehaene, Piazza et al. 2003, Dehaene-Lambertz, Hertz-Pannier et al. 2008, Izard and Dehaene 2008, Dehaene, Pegado et al. 2010). 24 Métodos não invasivos como medidas psicofisiológicas (alterações fisiológicas relacionadas a processos cognitivos emocionais, como mudança na freqüência cardíaca ou aumento da produção das glândulas endócrinas), formação de imagens por Ressonância Magnética funcional (IRMf), Tomografia por Emissão de Pósitron (TEP) e Eletroencefalografia (EEG) vêm sendo utilizados para investigar e perscrutar o cérebro, mudando antigas concepções sobre diversas funções cognitivas, com implicações importantes para a Educação (Goswami 2006, Szucs and Goswami 2007) Os conhecimentos na área das Neurociências, principalmente a partir da tecnologia de neuroimagem, ampliaram a compreensão sobre o funcionamento de diferentes processos cognitivos, em especial a aprendizagem. Por exemplo, estudos recentes revelaram que o ato de aprender está acompanhado de diferentes modificações cerebrais. Segundo estas pesquisas as atividades das redes neurais influenciam e guiam os modelos de cognição (Temple e Posner, 1998; Posner e Rothbart, 2005; Szucs e Goswami, 2007). Desta forma, compreender estes modelos pode conduzir a um melhor e mais profundo entendimento dos processos cognitivos envolvidos na aprendizagem. Neste contexto, entende-se a aprendizagem como o fortalecimento ou enfraquecimento das conexões neuronais, as quais têm seus padrões conectivos alterados a todo o momento em resposta aos estímulos externos, às nossas percepções, pensamentos e ações. Assim, o entendimento de algumas funções cognitivas, como atenção e memória, por exemplo, tem crescido a cada ano. Com o uso da IRMf pode-se estudar o cérebro humano trabalhando in vivo, de modo que processos complexos subjacentes à fala, linguagem, pensamento, raciocínio, leitura e uso da matemática tornam-se cada vez mais conhecidos. Tais avanços, entretanto, são ainda pouco conhecidos e, por conseqüência, pouco utilizados pelos pesquisadores em Educação. Uma busca em sites de pesquisas científicas, como Medline, SciSearch, Pubmed e PsychInfo mostraram que o número de publicações que envolvem aplicações de neurociências em educação é praticamente inexistente (Bruer 1997, Bruer 2006). Enquanto se percebe uma dificuldade em materializar nas salas de aula as descobertas acerca do funcionamento do cérebro, a mídia cria um universo de especulações exageradas como guias de “ginástica para o cérebro”, ou manuais para aprender dormindo. Ainda que no Brasil isto não seja uma realidade, nos EUA e alguns países da Europa este problema é extremamente grave, ao ponto de pesquisadores nesta área cunharem o termo “neuromitos” (Blakemore and Frith 2005). Estas discussões, entretanto, estão na pauta das pesquisas em Educação na Europa e EUA. Universidades como Harvard e Cambridge, por exemplo, criaram programas de pós-graduação específicos para pesquisas nesta interface, agregando neurocientistas e educadores. O número de congressos especializados neste tema cresce a cada ano, de modo que, atualmente, esta é uma linha de pesquisa em franco desenvolvimento. Há uma forte expectativa de que os resultados nesta área, em um futuro próximo, serão extremamente promissores para o tratamento de questões educacionais, contribuindo para que se entenda cada vez mais os processos envolvidos na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo (Blakemore e Frith, 2005; Goswami, 2006; Goswami e Bryant, 2007; Szucs e Goswami, 2007). Assim, esse artigo trará uma pequena amostra de como um diálogo efetivo entre as Neurociências e Educação poder ser muito frutífero para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem. Com isso, pode-se também vislumbrar como essa nova forma de pensar as pesquisas no contexto escolar pode contribuir para a melhoria da educação de modo geral. 25 Neurociência e Educação: caminhos possíveis Com o avanço das investigações sobre o funcionamento do cérebro tem surgido uma proliferação de opiniões sobre descobertas da neurociência cognitiva que podem ter ligação com a prática educativa (Blakemore e Frith, 2005; Posner e Rothbart, 2005; Bruer, 2006; Immordino-Yang e Damasio, 2007; Szucs e Goswami, 2007). Geralmente tratam-se de pesquisas que revelam mudanças estruturais e funcionais no cérebro humano após diferentes processos de aprendizagem (Posner e Dehaene, 1994; Pallier, Dehaene et al., 2003; Goswami, 2004; 2006; Goswami e Bryant, 2007; Dehaene-Lambertz, Hertz-Pannier et al., 2008; Izard e Dehaene, 2008). Assim, por exemplo, pesquisas revelam que aprender a fazer malabarismos proporciona mudanças na massa cinzenta na regiões médio-temporal e intraparietal mostrando assim a eficácia do treino na aprendizagem motora. Da mesma forma, estudos com o uso de ressonância magnética funcional (RMf) revelaram que existem pelo menos dois sistemas neurais envolvidos no processamento matemático de informação (Dehaene, 1999; Dehaene, Spelke et al., 1999; Dehaene, Piazza et al., 2003). Com isso, para Dehaene, resultados deste tipo podem contribuir para a compreensão do aprendizado da matemática, visto que propiciam uma ferramenta de análise adicional, capaz de ajudar os professores a se posicionarem perante dicotomias típicas da área de Educação Matemática, como o ensino por procedimentos versus ensino de conceitos (Dehaene, Spelke et al., 1999; Izard e Dehaene, 2008). Outras descobertas revelam que diferentes aspectos da memória são ativados em diferentes contextos emocionais, possibilitando assim aprofundar as discussões acerca das relações entre emoção e cognição. Resultados da neurociência cognitiva também podem contribuir para o entendimento dos papéis do sono e da nutrição no desenvolvimento cerebral e da aprendizagem, fornecendo assim dados objetivos que podem ajudar os educadores a decidir se e como integrar estas variáveis em seus currículos ou em programas de política de ensino. Por exemplo, o Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos (GMDRB), liderado pelo neurocientista Luiz Menna-Barreto, vem há anos estudando, juntamente com pesquisadores de Israel e dos Estados Unidos, os padrões de expressão do ciclo vigília-sono nos adolescentes. A alternância entre o sono e a vigília é controlada um complexo regulador situado na base do cérebro, conhecido por núcleo supraquiasmático. Ele pode ser pensado como o um relógio biológico, sendo responsável por fazer com que as pessoas sintam fome, sono, e permite que se tenha noção sobre se é dia ou noite, mesmo na ausência de um relógio. É sabido que estímulos externos e alterações hormonais são capazes de modificar seu funcionamento ao longo da vida (Menna-Barreto and Wey 2008). De acordo com Menna-Barreto, estes padrões do ciclo vigília-sono sofrem significativas variações durante o início da puberdade, fenômeno conhecido por Atraso de Fase da Propensão. Isto ocorre devido à explosão hormonal que se inicia, geralmente, perto dos 10 ou 11 anos e faz com que os ritmos biológicos se atrasem. Como resultado, os jovens demoram a ter sono, preferindo então dormir e acordar mais tarde nesta fase da vida. Porém, é neste período que, geralmente, as aulas até então oferecidas à tarde, passam a ser ministradas pela manhã. Com isso, devido ao atraso de fase, o adolescente dorme menos nos dias que tem aula, acarretando um aumento excessivo de sonolência diurna em sala de aula. Muitos destes estudantes podem, então, vir a serem considerados preguiçosos ou indisciplinados pelos professores e pela família. (Andrade and Louzada 2002) 26 Segundo Andrade e colaboradores, mesmo com as aulas começando entre 7h e 7h 30min, as pesquisas revelam que os adolescentes não são capazes de dormir mais cedo. Quando se soma a esse fator biológico a interferência de fatores sociais, como a televisão ou internet, percebe-se claramente a perda na qualidade do sono quando o despertador toca, causando assim, em geral uma privação parcial de sono nos alunos que estudam de manhã. Além do aumento da sonolência diurna, que no ambiente escolar diminui a atenção e o interesse, prejudicando assim o desempenho dos estudantes, os pesquisadores apontam para outro grave problema relacionado à aprendizagem: o prejuízo causado à memória. De acordo com MennaBarreto, há um estágio específico do sono, conhecido por sono paradoxal ou sono REM, que é essencial para a memória. Como esta fase é concentrada nas suas horas finais do sono, adolescentes a perdem ao serem acordados antes do despertar espontâneo, dificultando assim o processo de consolidação da memória (Andrade e Louzada, 2002; Menna-Barreto e Wey, 2008). Sendo assim, pesquisadores do GMDRB acreditam que organizar a escola de modo a considerar estes aspectos temporais da organização biológica humana poderia melhorar significativamente as condições de aprendizado visto que muitos estudantes que apresentam um fraco desempenho podem, de fato, estar com dificuldade de adaptar seu relógio interno aos horários escolares. Nesta linha, vale ressaltar uma pesquisa que revela o potencial das técnicas da Neurociência Cognitiva para investigar temas educacionais. Pesquisadores mostraram evidências de que a aprendizagem das habilidades específicas de leitura e escrita durante a infância influencia diretamente na organização funcional do cérebro, trazendo resultados empíricos e objetivos que corroboram o que antes era amplamente aceito entre os educadores. Castro-Caldas, Petersson e colaboradores (1998), usando tomografia por emissão de pósitron (TEP), investigaram o processamento da linguagem em dois grupos: sujeitos alfabetizados e não-alfabetizado. Os resultados deste trabalho confirmaram a hipótese central dos pesquisadores, de que existem diferentes processamentos fonológicos nos analfabetos, indicando que aprender a ler e escrever influencia a estruturação neuronal dos sujeitos. Para investigar a influência da aprendizagem na organização funcional do cérebro os pesquisadores analisaram e compararam o desempenho dos dois grupos em uma tarefa de repetição de palavras existentes na língua materna e pseudo-palavras. Ambos apresentaram performances semelhantes durante a repetição de palavras reais e tiveram áreas similares do cérebro ativadas. Entretanto, os analfabetos apresentaram uma grande dificuldade em repetir as pseudo-palavras corretamente e não tiveram as mesmas estruturas neurais dos alfabetizados ativadas. Tais resultados evidenciam que a aprendizagem da forma escrita da linguagem, a ortografia, interage com a função oral da linguagem (Castro-Caldas, Miranda et al. 1999). A ausência de uma ligação visual com o sistema fonológico, que vem com aprendizagem da escrita, especificamente a ortografia, faz com que os indivíduos não-alfabetizados não sejam capazes de repetir corretamente as pseudo-palavras. Estes resultados estão de acordo com a hipótese geral de que a aprendizagem por meio da experiência determina parte do desenvolvimento e organização do cérebro humano. Esta pesquisa apresenta fortes evidências experimentais que correlacionam uma alteração na organização funcional do cérebro com a falta de aquisição da habilidade da escrita durante a infância, mostrando assim a 27 possibilidade de aprofundarmos a compreensão acerca de determinados processos de aprendizagem importantes à Educação. Considerações Finais A Neurociência vem fazendo investigações sobre diferentes aspectos de atenção, memória, linguagem, leitura, matemática, emoção e cognição. Para diversos autores, os resultados advindos destas pesquisas podem trazer inúmeras e importantes contribuições para a Educação. Entretanto, ainda que tais pesquisas apontem claramente as mudanças corticais envolvidas no processo de aprendizagem, não é tão claro como todo este conhecimento advindo das ciências do cérebro podem contribuir para melhorar a prática educacional. Acreditamos que, por exemplo, os avanços obtidos com a tecnologia de imageamento do cérebro podem, sozinhos, contribuir para o tratamento de questões pertinentes à Educação. Certamente, a localização funcional no cérebro tem extrema relevância para a neurobiologia, medicina e psicologia, contudo, isolada, não acrescenta qualquer tipo de conhecimento para investigações sobre os processos educativos. Assim, somente por meio do dialogo entre os educadores e neurocientistas que será possível elaborar questões fundamentais sobre diferentes processos cognitivos, a fim de enfrentar o desafio de compreender de maneira profunda as complexas operações mentais envolvidas na aprendizagem. Somente por meio de um trabalho multidisciplinar que será possível estabelecer uma conexão de fato, apresentando uma possibilidade real de se realizar pesquisas que forneçam resultados concretos capazes de estabelecer conexões entre a Educação e as Neurociências. Referências Andrade, M. M. M. and F. Louzada (2002). Ritmos biológicos en ambientes escolares. . Cronobiología humana: Ritmos y relojes biológicos en la salud y en la enfermedad. D. Golombek. Buenos Aires. Blakemore, S. and U. Frith (2005). The learning brain: Lessons for education, Blackwell Publishing. Bruer, J. (1997). "Education and the brain: A bridge too far." Educational researcher 26(8): 4. Bruer, J. (2006). "Points of View: On the Implications of Neuroscience Research for Science Teaching and Learning: Are There Any?: A Skeptical Theme and Variations: The Primacy of Psychology in the Science of Learning." Life Sciences Education 5(2): 104. Castro-Caldas, A., et al. (1999). "Influence of learning to read and write on the morphology of the corpus callosum." European Journal of Neurology 6(1): 23-28. Changeux, J. and P. Ricoeur (2000). What makes us think?: a neuroscientist and a philosopher argue about ethics, human nature, and the brain, Princeton University Press. Dehaene, S. (1999). The number sense: How the mind creates mathematics, Oxford University Press, USA. Dehaene, S., et al. (2010). "How Learning to Read Changes the Cortical Networks for Vision and Language." Science 330(6009): 1359. Dehaene, S., et al. (2003). "Three parietal circuits for number processing." Cogn. Neuropsychol. 20: 487-506. 28 Dehaene-Lambertz, G., et al. (2008). "How Does Early Brain Organization Promote Language Acquisition in Humans?" European Review 16(04): 399-411. Gazzaniga, M., et al. (2007). Cognitive neuroscience, MIT Press. Goswami, U. (2006). "The foundations of psychological understanding." Developmental Science 9(6): 545-550. Izard, V. and S. Dehaene (2008). "Calibrating the mental number line." Cognition 106(3): 12211247. Menna-Barreto, L. and D. Wey (2008). "Time Constraints in the School Environment: What Does a Sleepy Student Tell Us?" Mind, Brain, and Education 2(1): 24-28. Posner, M. and S. Dehaene (1994). "Attentional networks." Trends in neurosciences 17(2): 75-79. Szucs, D. and U. Goswami (2007). "Educational neuroscience: Defining a new discipline for the study of mental representations." Mind, Brain, and Education 1(3): 114-127. 29 Criatividade, Ensino de Ciências e Formação Docente: uma breve análise Leonardo A. Testoni15, Sílvia M. de Paula16, Guilherme Brockington17, Flamínio de O. Rangel18 Universidade Federal de São Paulo, Licenciatura em Física, campus Diadema1 34 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia, campus Sto Amaro2 Resumo Nas últimas décadas, o desenvolvimento da criatividade vem sendo debatido e tratado como característica fundamental aos indivíduos que se encontram no mercado de trabalho. No caso da carreira docente, tal fato não se mostra diferente, sendo recorrentes os pedidos de professores com uma ampla capacidade de criar novas e inovadoras intervenções didáticas frente ao caráter imprevisível do cotidiano escolar. Para tanto, alicerçamos o presente artigo na área de formação de professores, mais precisamente, analisando possíveis elementos que possam contribuir para a elaboração de seus Conhecimentos Pedagógicos. Em um primeiro momento, buscamos tais elementos no entorno sociocultural do docente. Já em uma segunda etapa, tratamos o ato criativo como uma complexa rede pertencente aos esquemas cognitivos internos do futuro docente, articulados, porém, com as especificidades geradas pelo meio social e cultural onde o magistério se realiza. Dessa forma, para abarcar esses dois contextos mais amplos da criação humana, utilizamos elementos das psicologias piagetiana e vigotskiana, respectivamente. Esses últimos referenciais teóricos, em nossa visão, organizados como complementares na elaboração de um novo referencial para o estudo específico da criatividade docente. Palavras-chave: formação de professores, criatividade, psicologia cognitiva, ensino de ciências. Introdução Ensinar ciências? Quais objetivos que levam docentes do mundo inteiro a entrar em suas salas de aula e discutir Física, Química e Biologia? Em um primeiro momento, parece muito tranquilo fundamentar a importância destas disciplinas, afinal, em um aspecto histórico, não faltariam 15 Leonardo André Testoni - Graduado em Física, Mestre e Doutor em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). É Professor de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected] . 16 Sílvia Maria de Paula - Graduada em Física, Mestre e Doutora em Física pela Universidade de São Paulo (USP). É Professora de Física no Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. [email protected]. 17 José Guilherme Brockington - Graduado em Física, Mestre e Doutor em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). É Professor de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected]. 18 Flamínio de Oliveira Rangel - Graduado em Física, Mestre e Doutor em Educação. É Professor de Física na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). [email protected] 30 inovações científicas provocadas por estudiosos destas áreas que causaram verdadeiras revoluções no cotidiano da população global. DNA, máquinas térmicas e eletrônicas, informática, vitaminas, camada de ozônio entre tantos outros tópicos, demonstram as implicações tecnológicas, sociais e ambientais que a ciência apresenta na evolução humana, mas os alunos sabem disso? Uma breve revisão da literatura relativa ao ensino de ciências nas últimas décadas constatará uma enorme quantidade de tentativas de inovações e reformas – aulas de laboratório, construção de materiais de baixo custo, utilização de mídias, alterações de currículo, entre outras, apontam para a quantidade e diversidade das pesquisas realizadas. Entretanto, o ensino de ciências parece apresentar uma resistência intrínseca à mudança, como aponta HUBERMANN (1976) em sua análise sobre as estruturas sociais mutantes, mais precisamente, a escola. De um ponto de vista geral, as características globais do ensino de ciências parecem se manter conservadas com o passar do tempo – as disciplinas apontam para a indiscriminada matematização e memorização dos conceitos físicos, sem a preocupação com sua real origem – a natureza. A questão da falta de contextualização do conteúdo, excessiva simplificação do método científico (o que transforma o desenvolvimento da ciência como algo quase instantâneo e equilibrado) e a desarticulação entre as disciplinas afins e não-afins parecem não pertencer a discussão da maioria das escolas brasileiras e mundiais, conforme aponta Foruez (2003) em sua análise sobre a crise da educação em ciências que vem se perpetuando. Em tais instituições, a preocupação com o resultado imediato imposto pela economia de mercado parece vir sendo um melhor indicador do caminho que vem se desenhando neste campo. Em outra vertente, não menos importante é a função do professor neste processo de aprendizagem. Não se pode deixar de citar que este docente, permeado por todas as exigências feitas em relação ao ensino de ciências, não teve (e não tem) formação necessária para articular os conteúdos de sua disciplina com todas as outras, pensar em planejamentos inovadores e relacionados com o programa curricular atual, avaliar alunos heterogêneos de maneiras heterogêneas, preencher todos os relatórios justificatórios, diagnosticar distúrbios psicológicos e sociais que possam contribuir para a aprendizagem de suas turmas, analisar o discurso de seu aluno para comprovar se o padrão argumentativo utilizado é coerente com o desenvolvimento de aulas experimentais, as quais, inclusive, provavelmente não foram produzidas com os materiais e dedicação ideais inerentes às cinquenta ou sessenta horas de trabalho que o educador se vê obrigado a enfrentar semanalmente. Diante deste quadro, o magistério, de forma geral, vê-se obrigado a procurar apoio em estratégias, recursos e/ou regras inerentes ao exercício de sua profissão; é como se cada docente apresentasse um reservatório dinâmico que, a qualquer momento pode ser acessado para enfrentar as situações do dia a dia da profissão, os chamados saberes docentes, como definido em Gauthier (1998). Ao utilizar os conhecimentos adquiridos, o professor modifica sua própria prática e acaba por enriquecer seu arsenal “pedagógico”. O conhecimento de tais saberes é de suma importância para analisar o comportamento docente face às mudanças que tentam ser implementadas no campo educacional. Ainda segundo Hubermann (op.cit), o corpo docente, juntamente com os alunos e equipe diretiva, apresentam uma característica comum a todo ser humano – “a tentativa enlouquecida de se manter no equilíbrio atual (p.24)”. Esta “inércia” parece bloquear a entrada de mudanças e inovações em uma primeira etapa, sendo que suas permanências só ocorrerão se o conjunto de 31 saberes dos docentes estiver aberto a tal situação. De um ponto de vista mais específico, não basta o professor saber aceitar mudanças, ele precisa estar aberto às inovações em suas práticas, ele precisa saber criá-las. Com base no exposto, o desenvolvimento deste processo de criação do professor pode ser frutífero no tocante à proposição de mudanças inovadoras em sua prática, mas também pode auxiliálo na abertura para aceitação de outras inovações propostas pelos demais membros da comunidade escolar. Mais particularmente, o desenvolvimento da criatividade docente parece demonstrar um potencial de pesquisa que vai de encontro à necessidade de implementação, instalação e permanência de mudanças no sistema de ensino e aprendizagem. A criatividade (aqui entendida como a criação de idéias inovadoras) vem sendo estudada e analisada nos campos sociológico e psicológico há várias décadas, porém sua implicação no campo educacional vem tomando força nos últimos anos, face à divulgação mais exacerbada da necessidade crescente que as empresas possuem de profissionais criativos, soluções inovadoras, novos métodos, etc. Tal responsabilidade acabou por convergir para a instituição escolar, onde, apesar dos termos “aluno-criativo” e “professor-criativo” já terem se tornado uma espécie de jargão, seus reais significados ficam longe dos objetivos alcançados, afinal é realmente possível desenvolver a criatividade de professores para que eles adquiram uma autonomia na criação de interações inovadoras no ensino? Em outras palavras, é possível desenvolver um saber docente de criação? A Formação Docente e a Criatividade – Breve Análise Social Em uma tentativa de resposta a este questionamento, do ponto de vista social, Contreras (2002) sistematiza alguns modelos formativos para estes docentes, de acordo com sua interação e criação quando deparados com fatos novos e imprevistos surgidos na prática do magistério, se estabelecendo a figura do professor-técnico e do professor reflexivo. A seguir, abordaremos, de forma sintética, suas principais características. O Técnico Baseado no princípio da racionalidade técnica, este paradigma profissional procura ver a prática como a solução instrumental de problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico previamente transmitido (e disponível) que provém da pesquisa científica pura nos campos específicos (Física, por exemplo) e nas ciências de educação. No modelo de professor como profissional técnico, os fins do processo são extremamente bem fixados e definidos, o que infere a posição do docente como um aplicador de procedimentos, regras e meios técnicos visando à obtenção dos resultados almejados através da prática profissional acrítica. Em uma aberta dicotomia pesquisador – técnico, o docente não apresenta habilidades para elaboração dos processos realizados, mas apenas sua aplicação. Desta forma, a perícia do professor é estabelecida através dos métodos transmitidos a ele em sua formação inicial e permanente, ambas com característica de treinamento, no sentido de pura transmissão dos conteúdos e técnicas a serem utilizadas em situações previamente elaboradas O professor formado segundo o modelo técnico também apresentará um perfil desarticulado entre as áreas de seu próprio conhecimento e na cultura geral (reproduzindo sua própria formação), procurando a transmissão destes conteúdos de forma frequentemente expositiva, sendo 32 ele o agente principal da prática escolar e do sistema avaliativo que visa a memorização dos tópicos abordados. Em suma, para Abib (2010), no modelo de racionalidade técnica, a característica fundamental é a primazia da teoria sobre a prática, ou seja, mera aplicação racional da ciência; as questões educacionais podem ser resolvidas objetivamente com o uso de técnicas industriais. O Professor Reflexivo O modelo técnico se depara com inevitáveis limitações quando da ocorrência de novos casos, nunca tratados pelo professor. Com estas novas ocorrências, o repertório parece insuficiente, obrigando o docente a refletir sobre as peculiaridades do momento imposto. Requere-se, portanto, a criação de novas perspectivas, momento onde o modelo de racionalidade técnica se torna inviável – como resolver e tratar o imprevisível? Face ao exposto, torna-se latente a necessidade de resgatar a base reflexiva da atuação profissional do professor para se entender a forma com que se abordam situações problemáticas da prática – o modelo reflexivo docente (SCHÖN, 1982 e 1983 citado em CONTRERAS, 200219). Segundo o autor, a prática profissional do professor se reduz a dois momentos gerais: o primeiro, chamado conhecimento-na-ação, engloba todas as ações docentes realizadas espontaneamente, seja por sua simplicidade, seja por sua repetição durante a carreira; o segundo, concebido como a reflexão-na-ação, aborda as situações não habituais, onde se faz necessário o pensar sobre o que fazemos, enquanto fazemos. Neste caso, a reflexão propiciará que tal situação problemática entre para o repertório do profissional, provavelmente transformando-se em conhecimento-na-ação na próxima vez que ocorrer um caso similar. O processo reflexivo não é, necessariamente, algo pontual e rápido; ele transforma o profissional em um “pesquisador no contexto da prática”: (...) nestas ocasiões, os práticos demonstram sua “arte profissional”, manipulando grande quantidade de informação, selecionando traços relevantes, extraindo consequências (SCHÖN, 1992, p.110) Abib (2010) esclarece, a título de síntese, que os fracassos recorrentes nos programas de formação de professores centrados no modelo técnico, bem como a já citada imprevisibilidade do trabalho docente geram a defesa da epistemologia prática, onde as reflexões dos professores sobre seu trabalho constituem o cerne dos processos de geração dos conhecimentos profissionais, o que sugere um processo de investigação permanente sobre suas próprias ações na sala de aula. Nesta linha, os docentes são pesquisadores de sua prática, podendo-se conferir uma dimensão investigativa e criadora da função docente. 19 Contreras (2002) sistematiza, ainda, a figura do professor intelectual-crítico, que, de forma sintética, articula os ambientes da sala de aula com as demais comunidades onde a escola se insere. 33 A Formação Docente e a Criatividade – Breve Análise Psicológica Com base nos modelos expostos anteriormente, fica evidenciada uma prática formativa docente em padrões, minimamente reflexivos, para que o professor consiga interagir com os fatos imprevistos de seu ambiente de trabalho e criar soluções inovadoras para eles. Agora, com base na análise dos referenciais relativos ao desenvolvimento psicológico da criatividade (PIAGET, 1972, VIGOTSKY, 1934, FREIRE, 2006, por exemplo), constata-se uma forte linha de raciocínio onde o processo criativo não é inato, ou seja, qualquer indivíduo é passível de desenvolver seu senso criador mediante a execução de atividades cognitivas específicas. De acordo com Piaget (1972), o processo criativo inicia-se, em uma primeira instância, de acordo com a teoria de equilibração majorante, onde o indivíduo, em contato com o meio, depara-se com o conhecimento do novo através do processo de adaptação, utilizado na evolução das estruturas cognitivas internas. Segundo Piaget (2002), a adaptação ocorre de duas formas distintas e complementares: a primeira delas, a assimilação, visa a uma incorporação de um elemento exterior no esquema conceitual do indivíduo e, a acomodação, ou seja, um processo que resulta, segundo Silva (op. cit.), da necessidade em que se acha a assimilação de levar em conta as particularidades próprias dos elementos a assimilar. Em suma, a assimilação ocorreria quando algo novo é incorporado dentro de um sistema cognitivo/explicativo já formado. Já a acomodação, é gerada por uma perturbação do sistema, onde, a relação sujeito-objeto produziu mudanças nas explicações, reconstruindo o esquema já existente, visando a um patamar mais elevado. Levando-se em consideração a questão de criatividade, propriamente dita, Piaget (1972) afirma que o sujeito, além de passar pelo processo equilibratório, atinge um patamar de abstração reflexiva, onde se atinge o patamar de refletir sobre a própria ação em um nível mais elevado, sendo esta última, condição imprescindível para a ocorrência de idéias inovadoras. Já para a psicologia vigotskiana (VIGOTSKY, 2009), uma das condições necessárias para a ocorrência destas ideias é o desenvolvimento da imaginação, a qual, só começará a ser inserida no mundo do sujeito, quando este desenvolver estruturas cognitivas semióticas, tais como linguagem, abstração e relacionamento espacial, por exemplo. Tal situação proporciona que o indivíduo consiga ter a visão de um objeto sem, necessariamente ter contato com ele, o que desenvolveria a criatividade. Ainda segundo Vigotsky (op.cit.), a vivência neste mundo de fantasia é proporcionada, principalmente, pelo contato com o jogo e o brinquedo (o faz-de-conta), que permite a quem brinca desligar-se do mundo real e criar um mundo alternativo, com suas próprias regras e soluções. Em convergência com as visões piagetianas e vigostkianas, teorias psicológicas modernas, como aquela estabelecida por Rodari (1982), estabelece que a criatividade é o encontro da fantasia como a inteligência, sendo o seu desenvolvimento proposto em métodos que busquem a dispersão, acaso e contra-senso, o que faz com que a pessoa lide com a imprevisibilidade, fragmentação, absurdos e mutações constantes para o livre exercício da imaginação em uma atividade lúdica. Em suma, com base nos referenciais teóricos abordados, podemos eleger, em uma análise prévia, que características como ludicidade, espontaneidade, imaginação e reflexão sobre a própria criação são denominadores comuns na confecção de atividades que busquem o desenvolvimento criativo na formação do professor de ciências. A elaboração das mesmas, durante a formação inicial do licenciando, pode vir a desenvolver não somente indicadores que apontem para um 34 desenvolvimento do processo criativo, tão solicitado e necessário no mundo atual, mas também alicerçar tal desenvolvimento de forma que o docente apresente capacidade para, após formado e “solitário” em sua sala de aula, tenha condições de continuar criando inovações que possam contribuir não apenas para a evolução de suas aulas, mas para o ensino de ciências de uma forma geral. Considerações Finais O estudo do ato criativo, a nosso ver, demonstra-se amplamente justificado na literatura da área e propostas curriculares nacionais, sendo amplamente solicitado aos professores durante sua carreira. Nessa linha de pensamento, enfatizamos nesse artigo que a criatividade não é inata do indivíduo, podendo, desse modo, ser desenvolvida durante a formação inicial do professor, buscando um docente com uma maior qualidade de repertórios, que o auxiliem nas respostas ao dinâmico e imprevisto cotidiano docente, favorecendo sua autonomia e desenvolvimento profissional. Dessa forma, procuramos, inicialmente, caracterizar a situação atual da formação do professor de ciências, discutindo com maior ênfase os modelos formativos, onde os integrantes da carreira do magistério poderiam se enquadrar, pelo menos, em patamares técnicos ou reflexivos. Visando a um aprofundamento na área específica da criação humana, constatamos que tal referencial apresenta dependência direta entre os fatores cognitivos internos e os culturais, o que nos permitiu estabelecer duas grandes fontes complementares de referência para cada uma destas vertentes, as psicologias piagetiana e vigotskiana. Em nosso ponto de vista, portanto, a criação docente, em uma visão cognitivo-cultural, ocorre devido à inserção de situações imprevistas na prática docente, promovendo instabilidades nos esquemas mentais do professor, que possibilitarão o surgimento de conflitos e necessidades docentes para a resolução da perturbação instalada. Desse modo, tratamos o ato criativo como um conjunto de ações movidas por uma necessidade legítima, levando o professor a alcançar objetivos iguais aos motivos geradores da necessidade inicial. Referências ABIB, M.L.V.S. A Pesquisa em Ensino de Física e a sala de aula: articulações necessárias na formação de professores in: GARCIA, R. et al, A Pesquisa em Ensino de Física e a sala de aula: articulações necessárias. Anais do XI EPEF. Curitiba. 2010. CONTRERAS, R. A autonomia dos professores. Ed. Vozes, 2002. FOUREZ, G. Crise no ensino de ciências? In Investigações em Ensino de Ciências, V8(2), pp. 109123, 2003. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia, Ed. Vozes, 2006. HUBERMANN, A.M. Como se realizam mudanças em educação: subsídios para o problema da inovação, Ed. Cultrox, São Paulo, 1976. PIAGET, J., Epistemologia Genética, Ed. Martins fontes, 2ª Ed., 2002. 124pp. ________, Jean Piaget, 1972 in Criatividade: psicologia, educação e conhecimento do novo. Ed. Moderna. 2001. RODARI, G., Gramática da Fantasia. São Paulo, Sumus, 1982. TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional, Ed. Vozes, São Paulo, 2002. 35 VASCONCELOS, M.S., Criatividade: psicologia, educação e conhecimento do novo. Ed. Moderna. 2001. VIGOTSKY, L. Criação e Imaginação na Infância. Ed. Vozes. 2009. 36 Imigrantes bolivianos na rede municipal de São Paulo Francione Oliveira Carvalho20 Diversitas/USP [email protected] Atualmente vemos comunidades oriundas dos países da América do Sul fazerem de São Paulo seu novo território. Conflitos e debates urbanísticos, culturais e políticos nascem desta nova realidade, assim, fronteiras simbólicas são erguidas e começam a delimitar as ações dos sujeitos envolvidos. A situação econômica de seus países de origem e a possibilidade de trabalho e mobilidade social motivam a migração para a cidade paulista. Entretanto, a maioria acaba em trabalhos informais, principalmente na indústria têxtil das regiões do Bom Retiro, Brás e Pari, bairros que concentram forte mercado varejista de apelo popular. Essa realidade faz com que estes imigrantes enfrentem diversos problemas tais como o trabalho escravo ou subumano, concorrência “profissional” e constantes situações de preconceito, seja pelos contratantes, população local como também pelos grupos que possuem origem sul-americana diversas. Nesse contexto, investigamos como a interculturalidade se apresenta e se reconstrói em território brasileiro a partir dos imigrantes bolivianos matriculados na rede municipal de educação de São Paulo, que ao atravessar fronteiras impõe a necessidade de reconhecermos a pluralidade dos saberes e experiências no ambiente escolar. Acreditamos que a educação e a cultura devem servir como um combate as hierarquias de saberes e epistemologias reducionistas, que defendem uma escala de poderes e valores entre as tradições culturais e científicas. Palavras-chave: São Paulo, bolivianos, educação, interculturalidade, rede Municipal. Introdução Na fronteira geográfica ou nas comunidades que recebem imigrantes, a identidade é tema privilegiado, porque nela o sujeito é constantemente inquirido: quem é você? A que lado você pertence? As respostas para essas e outras questões tornam-se cada vez mais complexas e 20 Pós Doutorando no DIVERSITAS- Núcleo de Estudos das Desigualdades, Intolerâncias e Conflitos da USP, onde desenvolve pesquisa de Pós-Doutoramento. Doutor e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Docente dos cursos de Licenciatura do Centro Universitário Estácio Uniradial. [email protected] 37 ambivalentes na afirmação da identidade. Fronteiras, antes de serem marcos físicos ou naturais, são, sobretudo simbólicas, referências mentais que guiam a percepção da realidade e dialogam com a identidade. Não sendo construções atemporais que possuem um núcleo imutável de valores, as identidades culturais são reelaboradas a partir das novas configurações espaciais e sociais que encontram. Diferentes possibilidades de ser passam a conviver no mesmo território, abrindo fendas para a problematização sobre o próprio conceito de território, que deixa de ficar encerrado no espaço físico. Portanto, as fronteiras que anteriormente delimitavam o campo da ação política das nações, hoje são móveis, instáveis, abarcando também os diversos pertencimentos e subjetividades. O redirecionamento das fronteiras poderá tanto ser recrudescido como aponta Foucher (2009) ao lembrar que desde 1991, mas de 26 mil quilômetros de novas fronteiras internacionais foram instituídas e outras 24 mil foram objeto de acordos de delimitação e de demarcação, fazendo com que os muros, as cercas e as barreiras metálicas ou eletrônicas, se unidas, se alongariam por mais de 18 mil quilômetros ou marco para a consolidação de outra compreensão de fronteira. Para que isso ocorra, a negociação e a delimitação das fronteiras não poderão ficar circunscritas aos interesses econômicos, identitários e de hegemonia. Não são apenas as fronteiras que são colocadas em discussão, mas a compreensão que temos de política e de cidadania. Portanto, como pensar nestas questões a partir da cidade de São Paulo? A cidade não é fronteiriça, entretanto desde o final do século XIX recebe grupos de imigrantes vindos de toda parte do mundo. Atualmente vemos comunidades oriundas dos países da América do Sul fazerem de São Paulo seu novo território. Conflitos e debates urbanísticos, culturais e políticos nascem desta nova realidade, assim, fronteiras simbólicas são erguidas e começam a delimitar as ações dos sujeitos envolvidos. Como ocorrem os contatos culturais entre os moradores da cidade e os forasteiros? Ou como nomeia Norbert Elias (2000) entre os estabelecidos e os outsiders? E entre o próprio grupo de imigrantes? É possível perceber transformações culturais ou diferenças entre o tratamento/diálogo dos moradores de São Paulo com cada grupo cultural? Como estes brasileiros veem os bolivianos? Peruanos? Paraguaios? E como estes grupos percebem os brasileiros? Como a escola lida com essa realidade? Procedimentos metodológicos e discussão Todas estas questões me mobilizaram para que em 2013 iniciasse uma pesquisa de PósDoutoramento no Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP a respeito da imigração sul-americana e as negociações culturais na escola de São Paulo. Desde a implementação do Mercosul vemos o fluxo destes imigrantes aumentar tanto nas regiões de fronteiras como nas grandes cidades brasileiras, caso da capital paulista. Segundo dados da Polícia Federal e do Museu da Imigração de São Paulo, a comunidade boliviana é a segunda que mais cresce na cidade de São Paulo, entretanto, percebe-se que o número de peruanos, seguidos dos paraguaios cresceu regularmente ao longo dos últimos anos. A imigração boliviana como diversos estudos apontam não é algo novo no Brasil. O ponto de partida foi a década de 1950 devido a um programa entre Brasil e Bolívia que beneficiava estudantes 38 bolivianos que vinham para o território brasileiro em busca de qualificação acadêmica. Entretanto é a partir a década de 1970 que a migração boliviana e de outros países da América do Sul torna-se uma constante, intensificada, no caso da Bolívia, a partir de 1985. A impressão de que a imigração boliviana é algo recente ocorre porque nos últimos anos ela se acelerou. Segundo o último Censo, entre 2000 e 2010 o número de bolivianos na cidade de São Paulo cresceu 173%. O Consulado da Bolívia estima que a população total no Brasil seja em torno de 350 mil imigrantes, sendo 75% residentes na região metropolitana de São Paulo. A imigração boliviana no território brasileiro caracteriza-se por uma forte concentração em poucos lugares. Souchard (2012) afirma que no caso de São Paulo a distribuição dos migrantes é desigual, mas que atinge todas as áreas do perímetro urbano do município, alcançando a região metropolitana de São Paulo, principalmente em Guarulhos, Osasco e Diadema. Do total de bolivianos que vivem na região metropolitana de São Paulo, 19,5% estão na região central da capital nos bairros do Bom Retiro, Pari, Canindé, Belém e Brás. Nessas áreas, eles dividem espaço com outros grupos, como coreanos, judeus, poloneses e outros migrantes da América do Sul. O que não acontece nas outras regiões, Souchard (2012) ainda aponta que em Guarulhos e na região sul da capital eles representam quase 100% do total de imigrantes e possuem pouco tempo de residência, contrário da região central onde possuem maior tempo de presença acumulada. Ao olharmos especificamente para a educação, alguns dados comprovam a forte presença da comunidade boliviana no sistema educativo paulista. A Secretaria Estadual de São Paulo divulgou que em 2013, 7,1 mil estudantes nascidos em outros países se matricularam em escolas estaduais, sendo os bolivianos a maioria entre os alunos, totalizando 58% do total. Já na rede municipal de ensino paulistana, segundo dados oficiais de 2013 há 3.319 alunos estrangeiros matriculados nas escolas municipais, sendo 66% de bolivianos, o que corresponde a 2.190 alunos. Entretanto, estes dados não levam em consideração os alunos de origem boliviana mas nascidos no Brasil, que se totalizados, aumentariam enormemente estes números. É importante lembrar que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), o Estatuto da Criança e do Adolescente e diversos acordos internacionais assinados pelo governo brasileiro garantem o direito à educação ao estudante vindo de outro país, independentemente de sua situação no país. Na região central de São Paulo onde estão os bairros do Brás, do Pari e do Bom Retiro há 35 escolas públicas, sendo 29 pertencentes a rede estadual de ensino e 8 da rede municipal. Sendo que esta investigação privilegiou as escolas administradas pela Prefeitura de São Paulo que atendem alunos do ciclo fundamental. Após o contato com as instituições decidiu-se no recorte de duas escolas, sendo uma delas não pertencente a sondagem inicial por estar um pouco mais distante da área inicialmente levantada, isso ocorreu devido ao nome desta instituição aparecer nas entrevistas iniciais com os diretores como exemplo de escola que enfrentava questões específicas devido ao número excessivo de alunos de origem boliviana. Assim, a EMEF Anália Franco Bastos adentra ao corpus da pesquisa junto com a EMEF Infante Dom Henrique. Essa comunicação não pretende neste momento apresentar dados conclusivos ou análiticos sobre o trabalho desenvolvido nestas escolas, como também a atuação dos professores, mas reconhecer a necessidade de uma escola democrática e aberta ao reconhecimento cultural. 39 Inicialmente procurou-se fazer um levantamento exato do número de alunos estrangeiros matriculados nestas instituições. Entretanto, esse trabalho não foi necessário porque as próprias instituições tinham finalizado recentemente este diagnóstico. A partir de entrevistas com os gestores, professores, alunos e inserção no cotidiano escolar procura-se perceber: Como é a convivência no espaço escolar, como ocorrem o reconhecimento identitário e as negociações culturais, como a escola afirma ou desconstrói discursos e ações presentes em outras esferas culturais e quais estratégias devem ser criadas para uma escola ser considerada inclusiva, democrática e intercultural. A EMEF Anália Franco Bastos foi criada em 1992 a partir de um antigo convênio entre a Secretaria Municipal de Educação e a Federação Espírita de São Paulo para atender as crianças provenientes das favelas do Benfica, Vila Maria e Nelson Cruz. Inicialmente instalada na Casa Transitória Fabiano de Cristo, em 2008, a escola muda para o endereço atual na região do Belém e começa a receber um número cada vez maior de famílias bolivianas, que totalizam hoje 40% dos alunos matriculados na instituição. Carmosina Augusta Rocha, diretora da escolar desde 2013, em entrevista ao pesquisador aponta: A estatística que foi feita, é que aqui tem 40% de alunos bolivianos, sendo que 12% por cento vieram mesmo da Bolívia e os outros 28% são filhos de bolivianos. Aqui nós temos 656 alunos. Eu não sei se já mudou, porque é muito dinâmico, mas não chega a 700. E aí, são todos da nossa responsabilidade, afinal eles estão no nosso país, eles tem que interagir conosco e nós com eles. Então, para mim, quando eu falo todos os brasileirinhos, eles também estão no meio, já não faço distinção entre eles. Muito embora, você viu as características físicas, de longe eles já se dizem, porque não há mistura de raças parece que lá tanto quanto a nossa, me parece porque são todos muito marcados a característica. (Carmosina Augusta Rocha em entrevista realizada no dia 12/09/2013). Já a EMEF Infante Dom Henrique, localizada no Canindé foi criada em 1960, e tal como a EMEF Anália Franco Bastos atende uma comunidade escolar que convive com situações de vulnerabilidade. A escola é vizinha de uma favela e de diversos equipamentos sociais que atendem principalmente moradores de rua e que acolhem migrantes nacionais e internacionais. Um ponto a destacar é que EMEF Infante Dom Henrique é próxima a Praça Kantuta, importante centro de socilialização da comunidade boliviana em São Paulo. Porém, o número total de alunos de origem estrangeira na instituição é menor que da escolar anterior, totalizando 12,5% dos alunos matriculados. Cláudio Marques das Silva Neto, diretor da EMEF Infante Dom Henrique desde 2011, revela em entrevista os desafios que a diversidade traz ao cotidiano escolar: Ainda é o grande desafio, a gente já tem alguns que são integrados, temos em média 12,5% de bolivianos na escola, que é a última pesquisa que a gente fez, muitos demoram bastante para se integrar, nós não conseguimos fazer 40 com que o próprio projeto da escola dê conta disso mais rapidamente, mas estamos indo. De que maneira? Conversando mais com os alunos, incluindo nas atividades. No projeto, por exemplo, “os valores que não tem preço”, trabalha com esses valores, em cada bimestre um valor diferente, o primeiro valor trabalhado esse ano foi identidade, e uma das ações do projeto foram os alunos bolivianos apresentando as coisas da Bolívia, nas aulas, nos espaços, eles saíram por aí, ou seja, já mudou um pouco os próprios alunos trazendo a cultura da Bolívia para dentro da escola, que aqui no Brasil eles terem condições de falar um pouco deles, da cultura, do modo de vida, para além da informação do professor. Então, eles já participarem já é um começo e, a gente faz reuniões com pais de alunos estrangeiros, como os alunos bolivianos são a maioria na escola, então os pais bolivianos evidentemente estão aí em maior quantidade, eles vêm para a reunião e a gente tem discutido o que a escola pode fazer para se tornar um ambiente mais acessível, que de fato eles venham para cá e se sintam parte desse lugar. A gente tem tido alguns retornos, na festa junina, por exemplo, a barraca Brasil/Bolívia que foi muito bacana, é resultado desse diálogo, e também, nós temos um curso de português e espanhol para preferencialmente os alunos bolivianos. Por quê? Nós não queremos aculturar também, isso é uma outra preocupação que a gente tem. De dar atenção a eles de que maneira? Manter a cultura deles, na língua, então, a gente tem receio de que muitos, por conviverem muito tempo no Brasil e não podendo voltar, eles percam o contato com a língua espanhola. A gente tem um curso de espanhol preferencialmente para alunos bolivianos. (Cláudio Marques das Silva Neto em entrevista realizada no dia 15/09/1013). O que se percebe na EMEF Infante Dom Henrique quanto na EMEF Anália Franco Bastos é a vontade de não fechar os olhos para as demandas que a presença dos alunos estrangeiros traz para o cotidiano escolar, e isso se dá, principalmente pela atuação dos gestores das instituições que colocam o tema na pauta da formação dos professores, dos eventos escolares e abrem a escola para o diálogo com toda a comunidade. 41 Fig. 1 Grupo Folclórico Kantuta Bolívia se apresentando na Festa Junina de 2013 na EMEF Anália Franco Bastos em São Paulo. Foto do autor. Fig. 2. Encontro quinzenal que acontece na EMEF Infante Dom Henrique com os alunos estrangeiros para discutir ações e necessidades do grupo. O nome do educador Paulo Freire surge nas falas dos diretores das duas escolas em diversos momentos e parece marcar a atuação profissional de ambos. Freire acreditava que o poder pedagógico e educativo deveria ser democratizado, e não algo definido apenas “entre os muros da escola”. Para o educador, a democratização do poder de participação e decisão significa a defesa de uma democracia radical, na qual a população tem de estar presente na história, e não simplesmente estar nela representada. Na escola, tal transformação envolve a participação de todos os agentes educativos, por meio de diálogo igualitário, em busca de construção de consensos. O importante é que o diálogo busque formas de superar os obstáculos à aprendizagem e uma abertura que possibilite conhecer, aprender e construir conhecimentos coletivos que leve em consideração todas identidades culturais presentes na comunidade escolar. 42 Considerações finais Promover mudanças sociais e culturais no entorno em que se insere a escola e nas suas relações com a comunidade é de fundamental importância, já que, no contexto atual, a aprendizagem não depende apenas do que passa em aula, mas está conectado ao que ocorre em casa, na rua, ao que veiculam os meios de comunicação. Informação e formação advêm de diferentes locais, fazendo desaparecer as fronteiras entre o interior e o exterior da escola e a hierarquia dos saberes. Nesse contexto, a diversidade cultural e a imigração possibilitam significativas possibilidades de aprendizagem mútua, e a arte e a cultura estratégias de mediação e reconhecimento cultural, tecendo fios e desfazendo os nós que muitas vezes teimam em aprisionar o olhar e o conhecimento. É importante afirmar que os imigrantes, ao contrário do que pensa o senso comum, estão cada vez mais organizados e abertos a uma discussão política que leve em conta a diversidade. A 7° Marcha do Imigrante, ocorrida em São Paulo no início de dezembro de 2013 trouxe um tema muito claro: “Nova Lei de Migração Justa e Humana para o fim da discriminação”. Ela aponta a necessidade de uma política municipal de imigração que supere o tratamento securitário da imigração para uma abordagem que foque nos direitos humanos dos imigrantes. As atuais políticas públicas e a atuação dos agentes públicos terminam por causar a criminalização do imigrante, especialmente o pobre. Neste contexto, na marcha muitos cartazes recomendavam a substituição da Polícia Federal como o órgão de acolhimento dos migrantes e que a garantia efetiva de direitos pressupõe imensas lutas sociais, que deve ser encampada por diversos setores da sociedade para ser bem sucedida. Ao mesmo tempo, que a inserção sociocultural dos imigrantes deve ocorrer a partir da perspectiva do interculturalismo e da diversidade cultural. Fig. 3. 7° Marcha do Imigrante, 2013, São Paulo. Foto do autor. 43 Nesse contexto, uma das demandas mais significativas dos diversos grupos de imigrantes é a necessidade de uma escola inclusive, intercultural e preparada para lidar com a diversidade. A escola intercultural é aquela que irá trabalhar com as diferenças individuais e de grupo, respeitando os valores da democracia, da liberdade e da igualdade dos indivíduos, estudando como as diferentes culturas entrecruzam-se uma nas outras e possibilitam novos encontros. Entretanto, é importante pensarmos que o primeiro encontro necessário é o da escola com a comunidade. A escola enquanto instituição social é um dos espaços privilegiados de formação em que a aprendizagem dos saberes deve estar relacionada ao cotidiano dos alunos, desde o aspecto local ao global. Assim, a escola, além de possibilitar aos alunos a apropriação dos conteúdos de maneira crítica e construtiva, precisa valorizar a cultura e a arte de sua própria comunidade, contribuindo para o exercício de cidadania. A interculturalidade na educação exige que se repensem o conceito de cultura, as relações étnicas, sociais, pedagógicas, os procedimentos de ensino e principalmente os objetivos educacionais das escolas. A reflexão sobre a prática se torna uma exigência fundamental para os professores. Todas as estratégias que compõem o seu dia a dia passam por uma análise que tem por fim perceber como as culturas e as identidades são abordadas no cotidiano escolar. Referências bibliográficas: CARVALHO, Francione Oliveira. Fronteiras Instáveis: inautenticidade intercultural na escola de Foz do Iguaçu. Tese (Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011. CARVALHO, Francione Oliveira. MARTINS, Mirian Celeste. A Interculturalidade na formação do pedagogo brasileiro: territórios de Arte & Cultura. Simposio Latinoamericano de Formación de Profesores de Artes: Investigaciones actuales y sus contextos. Universad Sergio Arboleda, Colômbia, 2013. ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders:sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade.Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. FOUCHER, Michel. Obsessão por fronteiras. São Paulo: Radical Livros, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Terra e Paz, 1996. SILVA, Sidney. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. SOUCHAUD, Sylvain. A confecção: nicho étnico ou nicho econômico para a imigração latinoamericana em São Paulo? in Imigração Boliviana no Brasil / Rosana Baeninger (Org.). – Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/Unicamp; Fapesp; CNPq; Unfpa, 2012. 316p. 44 A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e a reparação do Estado às vítimas da ditadura militar no Brasil Sheila Cristina Santos Centro Universitário Estácio Uniradial - Unidade: Jabaquara Resumo Em 1995, o governo brasileiro promulgou a Lei 9 140 que visa à reparação moral às vítimas da ditadura militar no país por meio de indenização as suas famílias. Essa Lei estabeleceu ainda a criação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), com o objetivo de promover o reconhecimento Estado mediante a responsabilidade dos crimes cometidos durante o período da repressão política. No momento imediato à promulgação dessa Lei, o Estado reconheceu 136 pessoas como desaparecidas, conforme Dossiê de mortos e desaparecidos políticos, elaborado pela Comissão de Familiares. Os demais casos foram encaminhados para a CEMDP, cuja tarefa foi analisar, investigar e julgar os processos relacionados às vítimas. Durante o processo de apreciação dos casos, ficou sob responsabilidade de cada familiar o levantamento de provas suficientes para responsabilizar o Estado nos crimes. Durante os 11 anos de atuação (1996-2007), a CEMDP recebeu processos referentes a 475 vítimas. Desse total, 136 nomes já constavam no Anexo I da Lei 9 140/95, relacionado aos desaparecidos. Os outros 339 casos foram objeto de análise da Comissão. Desse número, 221 casos foram deferidos e as famílias puderam ser indenizadas, e 118 casos foram indeferidos. Embora tenha sido ampliada nos anos de 2002 e 2004, a Lei 9 140/95 não soluciona o caso dos desaparecidos políticos, não permite a localização de seus restos mortais e não garante punição aos que praticaram crimes na época. Ainda hoje, é uma lei de caráter restrito. Palavras-chave: reparação, indenização, ditadura civil-militar, desaparecidos políticos. Introdução Em 31 de março de 1964, o país sofre um golpe de Estado que depõe o presidente João Goulart, instituindo uma nova fase da política brasileira sob o comando dos militares. Esse fato irá mudar os rumos dos acontecimentos políticos no Brasil durante os próximos 21 anos. A consolidação do poder militar causou resistências entre vários setores da sociedade, sobretudo entre as camadas mais politizadas. Para parte da juventude da época que vislumbrava percorrer os caminhos da revolução socialista, assim como ocorreu em Cuba, em 1959, a inferência militar representou um duro golpe contra os ideais de transformação política do país. Nesse sentido, os movimentos oposicionistas – grande parte deles dissidente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) – passaram a articular formas de derrubar o governo, travando um 45 embate direto com as forças de repressão. Surgiram, então, as organizações de esquerda, que passaram a atuar estrategicamente nos centros urbanos, como, por exemplo, a Aliança Libertadora Nacional (ALN), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), entre outras. Segundo D’Araújo, “(...) várias organizações de esquerda foram surgindo para atender as demandas de participação contestatórias (...)”21. Assim, a esquerda também se articulou no interior do país, como no caso da guerrilha do Araguaia. Com o intuito de conter a expansão da esquerda organizada, a ditadura militar intensificou cada vez mais seu poder de ação e adotou uma série de medidas que consolida o novo regime, a principal delas ocorreu em dezembro de 1968 com a edição do Ato Institucional nº 5, que aprofundou as divergências políticas entre o governo e a oposição. Com o acirramento da ditadura militar, o Estado promoveu uma série de ações violentas por meio dos órgãos de segurança, o que resultou em dezenas de crimes praticados contra opositores políticos. Foram vários os setores atingidos, em especial os que aderiram à luta armada. Muitos membros das organizações esquerdistas foram perseguidos, presos, torturados e eliminados por conta da arbitrariedade do regime militar, principalmente no período compreendido entre 1968-1974. Considerando-se o fim da ameaça oposicionista em meados dos anos 70, os militares passam a articular o processo de distensão política e, em 1979, a Lei da Anistia promoveu, entre outras ações, o retorno dos exilados ao país e a liberdade para presos políticos. Somente em 1995, com a promulgação da Lei 9 140/95, o Estado brasileiro criou condições de reparação aos crimes cometidos durante a ditadura militar, quando, pela primeira vez na história da Nova República, os fatos que envolveram esse período vieram à tona e, conseqüentemente, puderam ser amplamente discutidos. Neste mesmo ano, com a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o país inicia um processo de reparação às vítimas da ditadura civil-militar que se estende até os dias atuais com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Pela primeira vez, após dez anos de retorno à democracia no país, o Estado brasileiro estabeleceu condições de reparação pelos danos causados pela ditadura militar, dando início a um longo período de discussões, vitórias, descontentamentos e, sobretudo, de resgate histórico. A formação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), portanto, representou o ponto de partida para a reconstrução de fatos recentes da nossa história e, apesar dos limites impostos por ela, foi possível identificar as falhas, investigar os crimes, apurar irregularidades e, dessa forma, provar a responsabilidade do Estado nos assassinatos dos opositores políticos. A CEMDP iniciou suas atividades logo após a edição dessa Lei, em 9 de janeiro de 199622. Para compor essa Comissão, o presidente Fernando Henrique Cardoso designou três nomes: Eunice Paiva (viúva do desaparecido político Rubens Paiva), Miguel Reale Jr. (advogado, professor titular 21 D´ARAÚJO, M. C.; SOARES, G. A. D.; CASTRO, C. Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 21. 22Durante todo o período, a CEMDP realizou seus trabalhos na sala 621 do prédio anexo ao Ministério da Justiça. 46 da Faculdade de Direito da USP) e João Grandino Rodas (consultor jurídico do Itamaraty). A Comissão de Direitos Humanos da Câmara indicou Nilmário Miranda; das Forças Armadas, seguiu a indicação do general Oswaldo Gomes; do Ministério Público Federal, foi indicado Paulo Gustavo Gonet Branco e da Comissão de Familiares foi indicado Suzana Keniger Lisboa23. De acordo com a Ata de reunião de instalação sobre esta comissão: “Às quinze horas do dia nove de janeiro de 1996, na Sala de Reuniões do 2. andar do Edifício Sede do Ministério da Justiça, reuniu-se a COMISSÃO ESPECIAL, criada pela Lei 9.140 de 04 de dezembro de 1995 que reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, com a finalidade de proceder o reconhecimento de pessoas não relacionadas no anexo I da citada lei, e de pessoas que, face à situação política, tenham falecido por causa não natural, em dependências policiais ou assemelhadas; esforços de localização de corpos de pessoas desaparecidas e emissão de provas sobre requerimento relativos a indenizações previstas na referida lei.”24 A partir desse momento, coube aos membros da CEMDP examinar caso a caso os processos e decidir sobre a responsabilidade do Estado mediante as denúncias apresentadas pelas famílias por meio dos requerimentos, que “foram distribuídos entre os integrantes que tinham a missão de montar os processos, anexando documentos e um relatório com explicações sobre as circunstâncias da morte”.25O primeiro passo, portanto, para que uma pessoa solicitasse indenização ao Estado no caso de ter um perdido um familiar em decorrência da ação repressiva do Estado, era a elaboração de um requerimento. Nesses documentos constavam um histórico de vida das vítimas, normalmente relacionado à militância política e às circunstâncias de sua morte ou desaparecimento. Além disso, as famílias deviam anexar, sempre que possível, arquivos de jornais, laudos periciais, depoimentos ou qualquer tipo de prova que pudesse responsabilizar o Estado nos crimes. Há uma orientação sobre esses requerimentos na ata de reunião de instalação da CEMDP: “Decidiu-se que os requerimentos 23Essa composição da CEMDP seguiu os termos da Lei 9 140/95, conforme Art. 5.: “Dos sete membros da Comissão, quatro serão escolhidos: I – dentre os membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados; II - dentre as pessoas com vínculo com os familiares das pessoas referidas na lista constante do Anexo I; dentre os membros do Ministério Público Federal; e IV- dentre os integrantes das Forças Armadas. 2. A Comissão Especial poderá ser assessorada por funcionários públicos federais, designados pelo Presidente da República, podendo, ainda, solicitar o auxílio das Secretarias de Justiça dos Estados, mediante convênio com o Ministério da Justiça, se necessário.”. Nessa primeira formação da CEMDP, a advogada Eunice Paiva foi substituída por Luís Francisco da Silva Carvalho Filho. 24ATA de reunião de instalação, Ministério da Justiça, Gabinete do Ministro, cujo assistente da Comissão Especial foi Cristiano Morini. 25COMISSÃO Especial sobre Mortos e Desaparecidos, 2007. p. 38. 47 deverão conter provas mínimas que confirmem ou dêem mecanismos para que as diligências possam ser efetuadas.”.26 Após a reunião de instalação da CEMDP, o governo estabeleceu o prazo de 120 dias para que os familiares apresentassem os requerimentos, portanto, em 15 de maio de 199627. Os requerimentos apresentados a partir dessa data automaticamente eram indeferidos pela Comissão e não chegaram a ser apreciados28, fato atribuído à falha do governo brasileiro no esquema de divulgação sobre a existência da Comissão Especial no Ministério da Justiça. Não houve nenhuma campanha do governo para localizar famílias ou divulgar as informações através dos principais meios de comunicação, como o rádio e a televisão. Isso dificultou muito o acesso às famílias, ficando mais uma vez sob responsabilidade dos representantes da Comissão de Familiares esta difícil tarefa. Para o auxílio no trabalho de montagem dos processos, os familiares contaram com a orientação de Criméia de Almeida, Suzana Lisboa e principalmente, Iara Xavier Pereira, que forneceu assistência permanente aos familiares durante todo o período de elaboração dos processos, participando inclusive, de exumações e análise de laudos cadavéricos. Além dos processos que não puderam ser examinados pela CEMDP em virtude do prazo estipulado pelo governo, também ficaram sem apreciação pela comissão os processos de pessoas mortas ou desaparecidas após o ano de 1979; isso significa que ficaram fora do período de abrangência da Lei 9 140/95 os casos de pessoas mortas em manifestações de rua ou fora do país, casos de suicídio e também de pessoas que foram mortas em locais diferentes das dependências policiais.29 Para esses processos houve a possibilidade de uma nova apreciação pela CEMDP, a partir do ano de 2002, quando ocorreram mudanças na Lei 9 140/95 que permitiram que os casos até então 26Idem nota 31. 27 Este prazo foi estipulado pela Lei 9 140/95, Art. 7, “Para fins de reconhecimento de pessoas desaparecidas, não relacionadas no Anexo I desta Lei, os requerimentos, por qualquer das pessoas mencionadas no art. 3., serão apresentados perante a Comissão Especial, no prazo de cento e vinte dias, contado a partir da data da publicação desta Lei, e serão instruídos com informações e documentos que possam comprovar a pretensão”. As provas do requerimento poderiam ser anexadas posteriormente. 28 Na ocasião, nove processos foram protocolados fora do prazo, ficando excluídos do exame da CEMDP, são eles: Mirian Lopes Verbena, Manoel José M. N. de Abreu, Gerson Theodoro de Oliveira, Raimundo Nonato da Fonseca, João Roberto Borges de Souza, Nilda Carvalho Cunha, Raul Amaro Nin, David de Souza Meira, Jonas José de Abreu Barros. Para maiores informações, ver: MIRANDA; TIBÚRCIO, 1999. p. 634. 29 Dos processos indeferidos pela CEMDP: mortos em passeatas – Ivan da Rocha Aguiar, Labid Abduch, Cloves Dias Amorin, Jorge Aprígio de Paula, José Carlos Guimarães, Manoel Rodrigues Ferreira, Orcílio Martins Gonçalves, Benedito Gonçalves; mortos em confronto com a polícia – Arno Preis, Mario de Souza Prata, Antônio de Sérgio Matos, Carlos Schirmer, Antônio Raymundo Lucena; casos de suicídio – Luiz Antônio Santa Bárbara, Iara Iavelberg, Edu Barreto Leite, Antogildo Pascoal Viana; mortos fora do país – Jane Vanini, Túlio Roberto C. Quintilano, Wanio José de Matos, Jorge Alberto Basso; fora do período de abrangência da lei – Lydia Monteiro. Tais processos indeferidos constam no Dossiê dos familiares de mortos e desaparecidos políticos. MIRANDA; TIBÚRCIO, 1999. p. 634. 48 indeferidos fossem mais uma vez examinados. Na fase inicial dos trabalhos, foram protocolados pela CEMDP, 373 processos, relacionados a 366 pessoas30, sendo 132 desaparecidos políticos de acordo com Anexo I31. Dos 234 restantes a serem analisados, 166 já constavam no Dossiê dos familiares e 68 casos eram novos. Até a reunião do dia 05 de maio de 1998, dos 166 processos de vítimas relacionadas no Dossiê, 130 foram aprovados e 16 indeferidos. Dos 68 novos casos, 18 foram aprovados e 50 indeferidos32. O quadro a seguir representa esses resultados: QUADRO DEMONSTRATIVO Situação dos processos Processo do Dossiê Processos novos constam do Dossiê Total Aprovados 130 18 148 Indeferidos 36 50 86 Total 166 68 234 Fonte: MIRANDA; TIBÚRCIO, 1999. Anexo II. p. 633. Conforme previsto na Lei, as indenizações às famílias foram concedidas após parecer favorável da CEMDP e decreto do Presidente da República publicado no Diário Oficial da União. Em todas as publicações constavam o número do decreto, a data e a lista dos nomes dos mortos ou desaparecidos juntamente com o nome dos familiares beneficiários e os respectivos valores a serem pagos pelo governo com o seguinte registro: “Concede indenização à família de pessoa desaparecida ou morta em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas no período de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”.33 A CEMDP concluiu no final de 2006 um longo período de atuação de 11 anos, no qual puderam ser analisados vários processos. Durante esse tempo, foram realizadas investigações que permitiram apurar as circunstâncias das mortes de muitas vítimas da ditadura militar, possibilitando a descoberta de fatos reais e, ainda, o Estado reconhecer a responsabilidade pelos seus atos criminosos durante a ditadura militar. Para os familiares, essa foi a principal reparação. 30“A diferença numérica ocorreu pela duplicidade de pedidos ou pela existência de processos repetidos, quando duas pessoas solicitavam indenização pela mesma vítima ou uma única pessoa solicitava duas ou mais indenizações porque em sua família havia mais de uma vítima.” COMISSÃO Especial sobre Mortos e Desaparecidos, 2007. p. 40. 31 De acordo com o Dossiê de familiares de mortos e desaparecidos, dos 136 desaparecidos políticos Joaquinzão, Pedro Carretel e Antônio Alfaiate não foram incluídos no Anexo I da Lei 9 140/95, pois seus verdadeiros nomes não eram conhecidos, e Manoel Alexandrino teve morte natural. 32 33 MIRANDA; TIBÚRCIO, 1999. Anexo II. p. 633. Diário Oficial de 16/10/1996, no qual foram publicados os nomes dos familiares que receberam indenização do Estado. 49 A partir de 2002, a Lei 9 140/95 passou por alterações que permitiram a ampliação dos trabalhos da CEMDP e, consequentemente, facilitar o acesso de outras famílias às indenizações do governo. Dando continuidade ao processo de reparação às vítimas da ditadura civil-militar, o Estado brasileiro, ainda criou outras duas comissões: a Comissão de Anistia, por meio da Lei 10.559/02 – que visa reparação moral e financeira aos cidadãos brasileiro perseguidos durante o período de repressão política e a Comissão da Verdade, criada em 2011, através da Lei 12.528. Desta vez, caberá ao governo brasileiro esclarecer os abusos do passado e, principalmente, tornar público as atrocidades cometidas durante o período, viabilizando um projeto de efetiva (re)construção histórica em nosso país com acesso à Memória e a Justiça. 50 Fórum Permanente dos Cursos de História e Pedagogia – A História nas Fronteiras do Conhecimento Herbert Schutzer34, Solange Camilo Asen35 Centro Universitário Estácio Radial, História, campus Santo Amaro¹ Centro Universitário Estácio Radial, Pedagogia, campus Interlagos² Resumo Uma das principais funções do ensino superior é contribuir com a formação geral do estudante, nesse sentido propiciar instrumentos de formação diversificada torna-se imperativo para as instituições de nível superior. Desse pressuposto, os cursos de História e Pedagogia pretendem oferecer a possibilidade através de eventos extracurriculares com a colaboração dos docentes do curso, estudantes e ex-estudantes para permitir a difusão de temas atuais e de pesquisas no âmbito das ciências sociais e da educação. Assim, pretende-se enquadrar os cursos dentro dos melhores padrões de qualidade esperados para que tenhamos estudantes capazes de atender às necessidades que a formação na área de humanas exige do profissional. Palavras-chaves: formação, difusão, conhecimento, debate. Introdução Segundo a proposta educacional do ensino superior, a formação cidadã é um dos objetivos a serem alcançados. Nessa perspectiva, as discussões dos acontecimentos na sociedade de diversas naturezas devem ser colocadas nas pautas dos debates acadêmicos, tendo sempre como foco a formação do aluno, ou seja, contribuir para que possa construir o conhecimento sobre as diferentes temáticas que envolvem a sociedade e a cidadania. Para isso, foi elaborado um plano de ação pelos cursos de História e Pedagogia, das unidades de Santo Amaro e Interlagos, sob a orientação do coordenador do curso em 2012, que designou um grupo de professores para elaborar uma atividade que atendesse aos objetivos apontados anteriormente. Após um período de discussões e propostas, foi decido que a organização de um fórum de debates mensal seria organizado pelos cursos vinculando as temáticas aos dois campos de estudo, preferencialmente. O fórum começou a funcionar me março de 2012, com a participação dos professores dos cursos envolvidos e convidados que se dispusessem a participar. 34 Herbert Schutzer, mestre em Geografia, prof do Centro Universitário Estácio Radial São Paulo. [email protected] 35 Solange Camilo Asen, mestranda em planejamento, profª do Centro Universitário Estácio Radial São Paulo. [email protected] 51 O evento foi ganhando projeção nos meses seguintes, o que permitiu que outros acadêmicos, de outras áreas se oferecessem para as palestras, aumentando a amplitude das abordagens temáticas e favorecendo uma formação mais completa em termos conhecimentos da sociedade. Metodologia As atividades, palestras, simpósios, seminários e workshops, serão realizadas no auditório com apresentação de trabalhos de pesquisas dos docentes do curso aos estudantes, apresentação de trabalhos dos estudantes e convidados quando possível. Dentre as várias atividades pretendidas, elencamos as seguintes: i) os docentes poderão propor seminários temáticos com a formação de uma mesa de convidados para debates sobre o tema proposto, com a condução de um mediador; ii) apresentação de pesquisa realizada pelo docente; e iii) apresentação de trabalhos de pesquisa dos discentes previamente aprovados pela comissão de avaliação. Todas as atividades propostas para a formação diversificada dos estudantes seguirão o seguinte ordenamento: i) apresentação do palestrante; e, posteriormente, ii) abertura para arguições do público presente. As atividades com a participação discente deverão ser propostas através solicitação por escrito endereçada a comissão de avaliação, presidida pelo Prof. Dr. Celso Ramos Figueiredo, composta no mínimo dois membros, que emitirão parecer de deferimento ou indeferimento da solicitação. As solicitações deverão ser encaminhadas com no mínimo vinte dias de antecedência da data de realização do fórum destinado aos alunos. Para o evento discente a comissão indicará três trabalhos que terão vinte minutos para serem apresentados. Após a apresentação de todos os trabalhos a plateia poderá fazer as perguntas por mais uma hora. Em todas as atividades pretende-se a produção de material escrito, papersou resumos que serão disponibilizados virtualmente para os estudantes. O fórum permanente será realizado mensalmente, sempre na terceira ou quarta semana do mês, em dias alternados para que não ocorra suspensão da mesma aula e não prejudicar o desenvolvimento dos conteúdos de cada disciplina. Excepcionalmente, quando da presença de convidado o período poderá ser alterado de acordo com a disponibilidade do palestrante. Todos os participantes receberão certificado de participação segundo a natureza da mesma, emitido pela comissão organizadora do evento. Resultados No período de dois anos e meio da existência do fórum, vários foram os temas abordados nas palestras e mais de 1.500 alunos e ex-alunos compareceram aos eventos. Sempre apoiando a realização sistemática dessa prática no centro universitário. Os fóruns abordaram as temáticas mais diversas, procurando atender diferentes dimensões da vida social. O Prof.Ms. Cesar Sampaio que apresentou sua pesquisa que teve como tema “A Moralidade do Salteador': Manoel Bomfim contra o espectro do colonialismo”, de cunho histórico. Alunos dos cursos de História e da Pedagogia também tiveram espaço para apresentação do desenvolvimento de suas pesquisas, no fórum com temática: Problematização, hipóteses e metodologias nas pesquisas discentes” Com grande comparecimento dos estudantes de História e 52 Pedagogia da faculdade, convidados e outros interessados na atividade, realizado na unidade Interlagos. Evento que contou com apoio do instituto Henfil e da Revista História, da Biblioteca Nacional. Ocorreram debates importantes, como os realizados pelas professoras da Estácio radial: a Dra. Mara Darcanchy, que expos o tema: "Direitos Humanos: os setenta anos da CLT (1943-2013)", e a Ms. Sheila Cristina Santos, que abordou o tema: "Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos". Os 50 anos do Golpe Militar de 1964 no Brasil foi o tema do ProfDr Celso Ramos Figueiredo Fº. O ProfDr Eduardo AntonioBonzatto, realizou palestra sobre “Aula Dialógica”, uma das mais concorridas na unidade Interlagos, com mais de 300 participantes. “As manifestações sociais de junho de 2013 no Brasil”, foi um tema muito debatido em um dos fóruns, que teve a condução do ProfDrFrancione Carvalho, com grande repercussão no corpo discente da instituição. O meio ambiente, tema pertinente ao atual momento foi apresentado pela Profª Dra. Claudia Elisa Alves Ferreira, abordando a temática:“Meio Ambiente nas escolas públicas estaduais de São Paulo". Foram também realizados debates políticos nos períodos eleitorais, com a presença de candidatos para discutirem com os alunos, buscando aumentar os conhecimentos das práticas políticas brasileiras. Os debates foram organizados e mediados pelo Prof Ricardo Felipe. Considerações Finais Diante de uma gama variada de temas, o fórum foi fazendo parte das atividades acadêmicas da instituição, recebendo apoio da reitoria e demais acadêmicos. Nesse sentido, a proposta que originou sua criação alcançou os objetivos almejados pelos organizados do evento. A diversidade dos temas apresentados atendeu a função de ser um palanque dos temas atuais que se propôs desde seu início. A atividade, também serviu de exemplo para a implantação de outras propostas formativas acadêmicas e atraiu mais alunos, principalmente para o curso de História, que vem apresentando um crescimento do interesse da comunidade discente. Referências Material de divulgação do Fórum. 53 Controle de Constitucionalidade no Brasil, a Modulação de Efeitos e a Norma Inválida Porém Eficaz Eduardo Manuel Val 36, Evandro Pereira Guimarães Ferreira Gomes37 Faculdade de Direito da UFF RESUMO: O presente trabalho pretende abordar a questão do embate entre a supremacia da Constituição brasileira e a ratificação dos atos praticados com base em norma declarada inconstitucional, através do controle de constitucionalidade, pelo instituto da modulação temporal de efeitos, fazendo com que surja em nosso ordenamento jurídico a eficácia de normas jurídicas já declaradas inconstitucionais. A problemática consiste na aparente incoerência entre a supremacia da Constituição e a modulação de efeitos, ao passo que no Controle de Constitucionalidade brasileiro, a declaração de inconstitucionalidade, independente do modelo aplicado, visa combater a validade da norma em sua origem, quando esta norma for incompatível ou antagônica com a Constituição vigente. Nossa hipótese consiste na afirmação que a utilização do instituto modulação temporal de efeitos infringe a supremacia da Constituição, criando uma modalidade de norma incompatível com nosso ordenamento jurídico atual, ou seja, a norma inválida porém eficaz! Palavras-chave: Supremacia da Constituição, Jurisdição Constitucionalidade, Modulação de Efeitos, Norma Inválida. Constitucional, Controle de Introdução No presente estudo se parte da ratificação dos efeitos produzidos por normas declaradas inconstitucionais por meio do controle de constitucionalidade concentrado, via ação direta de inconstitucionalidade, objeto de modulação de efeitos e, se serve este para dar eficácia às normas inválidas. 36 Doutor em Direito pela PUC/RJ. Professor do programa de Mestrado e Doutorado PPGD/UNESA. Professor do Programa de Mestrado em Direito Constitucional PPGDDC/UFF. Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UFF. [email protected] 37 Mestre em Direito Público e Evolução Social pela Universidade Estácio de Sá. Diretor Jurídico do Instituto Para o Avanço Cientifico dos Países do Sul (The Institute for the Scientific Advancement of the South). Advogado. [email protected] 54 A hipótese é de que norma inconstitucional não cabe ratificação, mesmo que temporal, sob pena de infringir a supremacia da constituição, já que esta corporifica o unificador do ordenamento jurídico. Dividiu-se o estudo em 5 capítulos. No primeiro se discutiu a supremacia da constituição e sua influência para a compreensão do ordenamento jurídico, juntamente com a função da jurisdição constitucional. Além de se destacar a questão da modulação temporal de efeitos realizado no Brasil. No segundo Capítulo tratou-se do controle de constitucionalidade em terrae brasilis, de influência estadunidense, bem como a incorporação do controle concentrado do sistema austríaco, ao longo das constituições brasileiras. No terceiro capítulo trata especificamente da modulação de efeitos nas declarações de inconstitucionalidades, via controle concentrado, seguido imediatamente da flexibilização dos efeitos temporais oriundos de declaração de inconstitucionalidade, que compõe o quarto capítulo. No quinto e último demonstra a incoerência do posicionamento de grande parte da doutrina em aceitar normas inconstitucionais produzindo efeitos, mesmo que por certo tempo. Ao final, apresenta as considerações finais. Supremacia da Constituição, Jurisdição Constitucional e a Modulação Temporal de Efeitos no Brasil A garantía jurisdiccional da Constituição – a jurisdição constitucional – é um elemento do sistema de medidas técnicas que têm por fim garantir o exercício regular das funções estatais. Hans Kelsen Diante da problemática deste artigo desenvolvido na introdução, que consiste na incoerência da utilização do instituto da modulação temporal de efeitos para com a supremacia da Constituição, é necessário, nesta oportunidade do trabalho, apresentar e desenvolver a temática concernente a jurisdição constitucional, o controle de constitucionalidade, a modulação temporal de efeitos e a supremacia da Constituição, ou, em outras palavras, descrever os institutos apresentados e suas representações doutrinárias no campo jurídico brasileiro, para ao final desenvolver o embate entre os institutos. Por certo que a doutrina no direito brasileiro tende a ocupar um papel de sugerir interpretações pertinentes aos operadores do direito. As sugestões ofertadas pelos doutrinadores não necessariamente serão utilizadas pelo juiz, haja vista depender o posicionamento deste em juízo e do livre convencimento motivado do mesmo (TEIXEIRA MENDES, 2008). Nessa trilha, a doutrina traz enraizada em si a função de socialização dos integrantes do campo jurídico, quer sejam eles, advogados, magistrados, defensores, procuradores, membros do Ministério Público, estudantes ou mesmo acadêmicos do curso de Direito. Neste sentido é elucidativa a reflexão de TEIXEIRA MENDES (2008, p.40) 55 A dogmática jurídica, também chamada de doutrina, é uma forma de construção do saber própria do campo jurídico que consiste em reunir e organizar de forma sistemática e racional comentários a respeito da legislação em vigor e da melhor forma de interpretá-la. A dogmática é um saber que produz as doutrinas jurídicas, através das quais o direito se reproduz. Tais doutrinas constituem o pensamento de pessoas autorizadas a trabalhar academicamente determinados assuntos, interpretar os textos legais e emitir pareceres a respeito da forma mais adequada de interpretá-los e de aplicá-los. O saber jurídico não é científico, é dogmático (GEERTZ, 1998:249). O saber jurídico construído pela doutrina é considerado pelo campo como puramente teórico, mas seria mais bem definido, a meu ver, como um saber abstrato e normativo, que tem a função de ensinar de forma normalizada e formalizada as regras que estão em vigor. Vale esclarecer que a visão da doutrina não é uma teoria a qual estão subordinadas as práticas judiciárias. A doutrina jurídica é um discurso autorizado sobre a lei e suas possíveis interpretações e aplicações jurisprudenciais. É um discurso normativo, ideal típico, uma vez que está dizendo como a realidade deve ser e não como a realidade é. É saber que não se debruça sobre a realidade empírica, com a finalidade de explicá-la ou compreendê-la, como faz o saber científico. Antes, tem a finalidade de interpretar a lei, recomendando a melhor forma de aplicação. A doutrina e a legislação estão dirigidas ao mundo do dever-ser: o mundo empírico está num outro plano e não lhes interessa. Na produção de doutrina jurídica, a observação empírica está descartada. Por ser um saber normativo e existir com a finalidade de dizer como a realidade deve ser, não tem base empírica e é comum que os juristas concluam, diante da realidade distinta da norma, que a realidade está errada, pois ela não deveria ser assim. Um conflito juridicamente traduzido sofre uma espécie de pasteurização e é adaptado à linguagem jurídica de tal maneira que o campo jurídico possa decodificá-lo e aplicar a ele as regras jurídicas pertinentes. Evidentemente, as regras jurídicas, como quaisquer regras definidas socialmente, dizem respeito a um determinado tempo e a um determinado lugar. No entanto, o campo jurídico tende a tomar as regras jurídicas vigentes num determinado momento histórico e numa determinada época como regras universais (no sentido cósmico), absolutas e atemporais. Haja vista os Ministros do Supremo Tribunal Federal serem integrantes do mundo jurídico brasileiro, seria impossível interpretar suas decisões, os elementos nela contidos, articulados e pensados, a matéria que se propõe a discutir com suas nuances, sem obrigatoriamente ter uma visão clara do que a doutrina apresenta sobre o assunto. Neste caminho, IORIO FILHO (2009, p. 63) ensina: 56 Ora, se os Ministros do Supremo Tribunal Federal são integrantes do mundo jurídico brasileiro, não haverá como se entender as decisões, os elementos nelas articulados e pensados, o que está sendo discutido e suas nuances, sem se entender o que a doutrina fala sobre o assunto, tendo em vista ser o arcabouço doutrinário o fundo comum de formação do pensamento jurídico brasileiro, ainda que este pensamento seja marcado por opiniões antagônicas e muitas vezes paradoxais, uma vez que o nosso sistema jurídicoprocessual não leva à formação de consenso73. Daí a hipertrofia do papel da interpretação da lei na sensibilidade jurídica74 brasileira: temos um sistema que valoriza pouco o que está escrito na lei. A interpretação literal é vista pelos juristas brasileiros como simplória e pouco sofisticada. Neste ponto vale lembrar a afirmação de GEERTZ (1998:249-356): “o saber jurídico, em qualquer lugar do mundo, e em qualquer época, é apenas parte de uma forma específica de imaginar a realidade. Essas formas têm de ser confrontadas para que se obtenha consciência ampla de outras maneiras de sensibilidade jurídica, buscando-se a relativização de suas manifestações. Neste capítulo é abordado o estado da arte, na doutrina brasileira, acerca da supremacia da Constituição e jurisdição constitucional que consiste no panorama técnico sobre a modulação temporal de efeitos. Para tanto necessário se faz algumas compreensões antes de tratamos diretamente sobre este tema. Para estabelecer algo acerca da supremacia da Constituição é necessário que se faça uma regressão à Teoria do Direito, que neste caso utiliza-se a base em BOBBIO (2010). Acerca da supremacia, o raciocínio que deve ser trazido do citado autor se dá, basicamente, na questão da unidade do ordenamento jurídico. Essa unidade é dada basicamente pela identificação da norma fundamental. BOBBIO (2010), por sua vez estabelece a base da construção escalonada do ordenamento através do que foi estabelecido por Kelsen, que se importa com ordenamentos jurídicos complexos. Como as normas não se encontram todas no mesmo plano teremos normas superiores e inferiores. De certo que as normas inferiores derivam diretamente das do seu plano superior, chega, por fim, à norma suprema, a qual não depende de qualquer outra. Essa norma suprema é a norma fundamental. Todo ordenamento tem uma norma fundamental. É essa norma fundamental que dá unidade a todas as outras normas” complementando que a norma fundamental faz das normas esparsas e de proveniência variada um conjunto unitário que se pode chamar a justo título de ordenamento (BOBIO, 2010, p. 211). Daí denota que é a partir de uma norma fundamental que pode-se identificar todo um ordenamento jurídico, caso contrário seriam tidas, as normas, como meramente um amontoado. Todas as fontes devem provir direta ou indiretamente da norma fundamental. 57 A isso que se explicou se dá o nome de estrutura hierárquica das normas. Identificado como uma pirâmide, apesar da sua representação gráfica sempre ser vinculada a um triângulo38. Com esta ‘pirâmide’ no ápice, temos a norma fundamental e é a partir dela que se estabelecem os limites formais e materiais para a produção dos documentos legislativos inferiores. Evidente que devemos destacar, a partir de BOBBIO (2010, p. 220), que a norma fundamental não se confunde com o corpo da Constituição. A norma fundamental, na verdade é a que impõe obediência ao poder originário do qual provêm a constituição, as leis ordinárias, os regulamentos. Daí, tanto a partir de Kelsen quanto a partir de BOBBIO (2010, p. 221), identifica-se que a pertinência de uma norma a um ordenamento é o que se chama de validade. Inclusiva, para se entender uma norma jurídica como tal, o caráter indisponível da mesma é que esta seja válida. Ao tempo da sua entrada em vigor. MENDES (2011, p.123), no plano nacional informa que O conflito das leis com a Constituição encontrará solução na prevalência desta, justamente por ser a Carta Magna produto do poder constituinte originário, ela própria elevando-se à condição de obra suprema, que inicia o ordenamento jurídico, impondo-se, por isso, ao diploma inferior com ela inconciliável. De acordo com a doutrina clássica, por isso mesmo, o ato contrário à constituição sofre de nulidade absoluta. Complementando tal raciocínio, STRECK (2004, p. 148) a própria noção de Estado Democrático de Direito se acopla o conteúdo material das constituições através dos valores substantivos que apontam para uma mudança do status quo da sociedade. Com isso estabelece o próprio norte de orientação para se interpretar materialmente as leis, infraconstitucionais. Ainda, quando da identificação das normas como constitucionais ou inconstitucionais é necessário observar que, aquilo que se convencionou chamar doutrina, muita das vezes ignora as mais basilares premissas do próprio ordenamento jurídico. Não raro, é verificável autores que interpretam determinado instituto no Direito a partir não da constituição, mas primordialmente de leis que nem sequer merecem status de constitucionais. STRECK (2012) já chama atenção que determinado autor de processo penal entende que é possível compreender o sistema acusatório não pelo que determina a Constituição, mas sim pelo que as normas do processo penal determinam, ou seja, sufragando diretamente o próprio texto constitucional e indo contra a supremacia da Constituição.39 BARROSO (2012, p. 23-24) identifica que existem dois pressupostos necessários para a existência do controle de constitucionalidade, quais sejam, a supremacia e a rigidez constitucional. 38 O senso comum teórico (WARAT) convenciona chamar de pirâmide o que na verdade se identifica com a representação gráfica de um mero triângulo, bidimensional, portanto. 39 http://www.conjur.com.br/2012-set-27/senso-incomum-direito-am-dm-antes-depois-mensalao 58 Atrela a esta ideia, principalmente que é na Constituição que reside o fundamento de validade de todas as demais normas, além do que a norma constitucional deve ter um processo de modificação mais complexo do que de leis infraconstitucionais. No tocante a jurisdição constitucional e controle de constitucionalidade no Brasil, é importante destacar que são institutos distintos e merecem estudos próprios pela doutrina, bem como pelos operadores do direito. Nas palavras de BARROSO (2012, p. 25), entender as locuções jurisdição constitucional e controle de constitucionalidade como sinônimos, embora frequentemente empregadas desta forma, é um erro que não deve ser reproduzido, haja vista tratar-se de classes diferentes, ao passo que o primeiro está para o segundo em uma relação de gênero e espécie. A jurisdição constitucional deve ser interpretada como forma de aplicação da Constituição por juízes e tribunais, tendo como espécies de aplicação a forma direta e a indireta. A forma direta é a possibilidade de aplicação da Constituição quando esta disciplina diretamente determinada situação da vida. Ao passo que a forma indireta é a possibilidade de utilização da Constituição como parâmetro para validar ou não determinada norma infraconstitucional.40 Superada a distinção entre jurisdição constitucional e o controle de constitucionalidade, será abordado o controle de constitucionalidade no Brasil. Embora nosso país tenha adotado o sistema misto que engloba tanto o sistema de controle de constitucionalidade de origem austríaca como o de origem norte americana, nesse momento deve-se consistir na análise do discurso nas decisões de ações diretas de constitucionalidade, modalidade esta típica do controle concentrado. Esclarecimento necessário, desde os ensinamentos do jusfilósofo KELSEN (2007) sobre jurisdição constitucional é que para haver controle de constitucionalidade, deve-se partir da premissa da supremacia da Constituição. O mesmo jusfilósofo (KELSEN, 2007, p. 126) trata do tema da supremacia da Constituição ao afirmar que: Garantias da Constituição significam portanto garantias da regularidade das regras imediatamente subordinadas à Constituição, isto é, essencialmente, garantias da constitucionalidade das leis. Por óbvio, a exposição das diversas possibilidades de efeitos dadas em razão das decisões nos controles de constitucionalidade, bem como as hipóteses legais de alteração de efeitos previstas no nosso ordenamento jurídico serão devidamente analisadas. 40 Cabe esclarecer que há possibilidade da Constituição servir de parâmetro para validar ou não determinada norma constitucional, como nos casos das emendas constitucionais que, em razão de seu poder constituinte derivados, podem ser objetos de controle de constitucionalidade servindo de parâmetro as normas do poder constituinte originário. Os tratados internacionais, ao adentrar no ordenamento jurídico brasileiro, após os tramites legislativos, mesmo tendo status de norma constitucional podem ser objetos de controle de constitucionalidade, servindo de parâmetro as mesmas regras mencionadas nos casos das emendas constitucionais. 59 O contraponto enfrentado neste artigo consiste na possibilidade de modulação de efeitos, ou seja, da ratificação dos atos produzidos com base na lei declarada inconstitucional, frente a supremacia da Constituição. No direito moderno, em regra, para viabilizar a possibilidade de haver controle de constitucionalidade, necessário existir dois pressupostos no ordenamento jurídico, quais sejam, a supremacia da Constituição e a rigidez da mesma. Nesta trilha, se a Constituição é a base do ordenamento jurídico, como admitir que uma lei declarada inconstitucional pelo próprio Guardião da Constituição frente a sua incompatibilidade com a mesma, seja pelo vício em razão da matéria seja pelo vício em razão da forma, possa produzir efeitos? O Controle de Constitucionalidade Brasileiro O Brasil teve seu primeiro sistema de controle de constitucionalidade a partir de sua segunda Constituição, ou seja, em 1891, oportunidade na qual adotou o regime de governo República ao invés do Império, inserindo em seu ordenamento jurídico o sistema de controle de constitucionalidade de origem norte americana, denominado controle difuso41 (STRECK, 2012). A partir da incorporação do controle difuso no rol de competências do Poder Judiciário, que tem como última instância o Supremo Tribunal Federal para decidir como o Guardião da Constituição, o Brasil passou a efetivamente utilizar sua Constituição como norma fundamental do sistema jurídico para regular o modo de produção das leis e demais atos normativos, além de impor o balizamento a seu conteúdo (BARROSO, 2012). O controle difuso é exercido por qualquer juiz ou tribunal que, no decorrer de processo judicial de sua competência, venha decidir sobre a constitucionalidade de determinada norma indispensável ao julgamento da lide, não sendo este objeto principal da demanda. Desta forma, a decisão quanto a constitucionalidade ou não de determinada norma constitucional tem o condão apenas de afastar ou não a incidência da mesma, em virtude de seu vício no tocante a sua validade constitucionalidade. (MENDES, 2011, p. 1132). A decisão de constitucionalidade ou não no controle difuso tem efeitos apenas entre as partes litigantes. Desta forma, todas as demais pessoas que não sejam partes deste processo podem vir a suscitar, por via do controle difuso, que o Poder Judiciário se manifeste quanto a constitucionalidade de determinada norma42. 41 Embora grande parte da doutrina venha a divergir sobre tal nomenclatura, há quem sustente ser esta espécie de controle de constitucionalidade incidental ou concreta. 42 Com o intuito de inibir o congestionamento de trabalho do Supremo Tribunal Federal em razão de uma infinidade de questões menores, muitas vezes repetidas a exaustão, o Poder Constituinte Derivado alterou a Constituição através da emenda constitucional número 45/2004, introduzindo o parágrafo 2º ao artigo 102, no qual previa o instituto da repercussão geral. Esse instituto na oportunidade de sua introdução na Constituição brasileira ficou indefinido, deixando a cargo do legislador ordinário defini-lo, além do próprio STF. A regulamentação da repercussão geral veio através da lei 11.418/2006 que inseriu novos preceitos no Código de Processo Civil. Desta forma, entende-se que repercussão geral é o 60 Outro efeito característico do controle difuso é o efeito ex tunc, ou seja, os efeitos são retroativos a publicação da lei declarada inconstitucional, fazendo com que todos os atos praticados na vigência e com base nesta norma sejam declarados nulos de pleno direito. Sustenta-se que a decisão de inconstitucionalidade, quando decididas em virtude do controle difuso assim como no controle concentrado de constitucionalidade, tem caráter declaratório, haja vista a decisão declarar uma situação pré-existente. A situação pré-existente consiste no combate da validade43 da norma, ao momento de sua existência, fazendo com que os atos sejam nulos de pleno direito se produzidos em razão da mesma. Em razão da possibilidade de decisões divergentes44 no controle difuso, bem como da possibilidade de sobrecarga do Supremo Tribunal Federal de demandas repetidas, além da possibilidade de instaurar-se uma insegurança jurídica tanto nos cidadãos quanto nos estrangeiros, a partir da Constituição de 1934 foi concedido ao Senado Federal a possibilidade de suspender determinada norma declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, por meio de resolução. Esta suspensão, diferentemente do que ocorre nas decisões no controle difuso, não visam atacar a validade da citada norma, mas tão somente atacar sua eficácia. Em outras palavras, a norma permanecerá existente e válida, mas apenas não produzirá efeitos em razão da referida resolução. Esclarece-se, ainda, que esta resolução tem efeito erga omnes, ou seja, ao invés de se limitar as partes litigantes na demanda judicial que deu origem a decisão de inconstitucionalidade, passa a vincular a todos. Outra característica da referida resolução, é que em razão da simples suspensão da eficácia da norma, seus efeitos serão ex nunc, o que quer dizer que ao invés de retroagir a data da publicação da referida norma, em razão da suspensão da eficácia, a norma não poderá ser utilizada a partir da publicação da referida resolução45. requisito para ser aferido preliminarmente a todo e qualquer recurso extraordinário, como pressuposto para que o Supremo Tribunal Federal possa adentrar no mérito. Por fim, haverá repercussão geral quando estiver em pauta questões de relevância econômica, social, política ou jurídica, que transcendem os interesses das partes envolvidas no processo. (BARROSO, 2012, p. 135-140) 43 A Validade da norma, em síntese, é a adequação da mesma ao ordenamento jurídico em que se insere. Tem-se como parâmetro de validação da norma jurídica sua adequação com a Constituição, em especial com as normas constitucionais oriundas do Poder Constituinte originário. 44 As decisões divergentes são possibilidades do mesmo órgão julgador decidir de forma distinta ou mesmo antagônica em casos semelhantes, em razão da não vinculação destes órgãos com suas decisões anteriores. 45 Esclarece-se que há divergência na doutrina acerca da eficácia temporal da resolução suspensiva editada pelo Senado Federal. A doutrina que entender ser os efeitos oriundos do ato editado pelo Senado Federal ex nunc, ou seja, que não retroagem a data da publicação e sim passam a vigorar a partir da data da publicação da resolução suspensiva, fundamenta-se em razão da palavra suspensão induzir à noção de que os efeitos seriam prospectivos. Essa doutrina entender ser a atividade legislativa tipicamente prospectiva e não passível de anulação de leis, desconstituindo-as retroativamente. Desta forma, a suspensão da lei declarada pelo STF através do controle difuso de constitucionalidade seria equiparável a revogação de lei, com o consequente efeitos ex nunc. A doutrina contrária entende que é objeto do instituto da resolução suspensiva evitar a necessidade de que todas as demais pessoas que embora não tenham sido parte 61 O segundo sistema de controle de constitucionalidade, que passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico concomitantemente com o controle difuso, foi o denominado controle concentrado46 de constitucionalidade que, a partir da emenda constitucional de nº 16, de 26 de novembro de 1965, deu nova redação ao art. 101 da Constituição da República Federativa do Brasil em 194647. Característica marcante do sistema de controle concentrado, na oportunidade em que foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro, foi a legitimação exclusiva ao Procurador Geral da República para propor a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI. A Ação Direta de Inconstitucionalidade é a medida jurídica própria, e única para a época em que vigorava a Constituição de 1946, que possibilitava questionar perante o Poder Judiciário a constitucionalidade de determinada norma, sem que necessitasse a aplicação da mesma em um caso concreto A partir dela atribui-se competência exclusiva ao Supremo Tribunal Federal, as demandas consistentes no controle concentrado de constitucionalidade. Para esclarecer, o controle concentrado não é assim denominado em razão da concentração dos poderes para propositura das medidas judiciais cabíveis para discussão da constitucionalidade de determinada norma, até porque, futuramente haverá outros legitimados para estas proposituras. Sendo assim, a concentração versa na exclusividade do órgão julgador para apreciar tal demanda que, em regra48 é do Supremo Tribunal Federal. do processo que deu origem a decisão de inconstitucionalidade pelo controle difuso, mas que tenham sofrido consequências em razão da aplicação desta lei, não precisem ajuizar ações visando o mesmo resultado. Nesta trilha, se os efeitos da resolução suspensiva for ex nunc, todos os demais interessados continuarão devendo ajuizar ações individuais com o fito de desconstituir os efeitos produzidos de forma retroativa em razão da aplicação da lei objeto da resolução suspensiva. Ademais, entender que a natureza jurídica da resolução suspensiva é de revogação da lei é atribuir competência anômala ao Senado Federal. Por não ser a função do Senado Federa, na hipótese da resolução suspensiva, uma modalidade de atuação legislativa, e sim uma atuação no âmbito do controle de constitucionalidade, com o objetivo de estender a todos a decisão do Supremo Tribunal Federal que deu eficácia inter partes, assim como a decisão do STF é retroativa a data da publicação, essa parte da doutrina sustenta que a resolução do Senado Federal também deverá ser ex tunc (PAULO, 2009, p. 52-53). 46 A espécie de controle de constitucionalidade denominada controle concentrado é também conhecida como controle abstrato ou principal, em contraposição ao controle difuso, haja vista o controle abstrato ou principal não ser uma questão incidental ao objeto da lide, sendo o controle de constitucionalidade o objeto principal da demanda. No que concerne a questão abstrata, esta é assim denominada por não haver um caso concreto e sim a sua possível aplicação em abstrato. 47 A modalidade de controle concentrado de constitucionalidade como inovação ao sistema jurídico pátrio introduzido a partir da referida emenda constitucional não se deve confundir, todavia, com a chamada ação interventiva introduzida na Constituição brasileira de 1934 (STRECK, 2012). Em contra posição a esta afirmação, MENDES (2011, p.1100-1101), sustenta que “A Constituição de 1946 emprestou nova conformação à ação direta de inconstitucionalidade, introduzida, inicialmente, no texto Magno de 1934. Atribui-se ao Procurador Geral da República a titularidade da representação de inconstitucionalidade, para efeitos de intervenção federal (...). A intervenção federal subordinava-se, nesse caso, à declaração de inconstitucionalidade do ato pelo Supremo Tribunal Federal (...).” 48 Trata-se de regra e não de exclusividade o controle de constitucionalidade exercido pelo Supremo Tribunal Federal haja vista a possibilidade dos Tribunais de Justiça exercerem tal competência. Os Tribunais de Justiça exerceram tal competência quando a lei estadual ou municipal for incompatível com a Constituição Estadual, bem como a lei distrital, 62 A realidade do controle concentrado até a Constituição de 1988 permaneceu praticamente inalterada, haja vista suas parcas alterações terem sido tão superficiais que não merecem ser aprofundadas. Contudo, o Poder Constituinte de 1988 ao abordar a questão controle concentrado de constitucionalidade fez sensíveis alterações e ampliações no modelo existente desde 1946 no Brasil, ao incorporar no rol de possibilidade de controle concentrado a Ação Direta de Inconstitucionalidade genérica – ADI genérica, a Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão – ADI por omissão, e, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF. Entretanto, o Poder Constituinte derivado, em 17 de março de 1993, através da Emenda Constitucional nº 3, incorporou uma quarta hipótese de controle concentrado de constitucionalidade, qual seja, a Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC49. Independente do novo modelo de controle concentrado trazido pela Constituição de 1988, bem como pela introdução de mais uma possibilidade de ação em razão da Emenda Constitucional, este sistema recebeu tratamento legislativo mais específico em 1999 com o advento das Leis 9.868 e 9.882. Interessante mencionar que estas leis ainda estão pendentes em parte, todavia, de decisão definitiva por parte do Supremo Tribunal Federal quanto a sua constitucionalidade (STRECK, 2012). Além das novas ações previstas na Constituição pátria vigente, o último Poder Constituinte também alargou a hipótese dos legitimados para propositura das mesmas, que antes eram de competência exclusiva do Procurador Geral da República para os nove legitimados de acordo com o art. 103 da atual Constituição. Os novos legitimados para propor as medidas jurídicas cabíveis no controle concentrado foram divididos em dois grupos distintos, quais sejam, os legitimados universais e os legitimados especiais ou interessados. São legitimados universais aqueles cujo papel institucional autoriza a defesa da Constituição em qualquer hipótese (BARROSO, 2012, p. 187), ou, em outras palavras, aqueles que podem propor qualquer das ações previstas no controle concentrado de constitucionalidade. Ao passo que os legitimados especiais ou interessados, são aqueles órgãos ou entidades cuja atuação é restrita às questões que repercutem diretamente sobre sua esfera jurídica ou de seus filiados e em relação às quais possam atuar com representatividade adequada (BARROSO, 2012, p. 188). A Constituição de 1988 previu como legitimados universais o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, o Procurador Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e o partido político com representação no Congresso Nacional, bem como previu como legitimados especiais ou interessados a Mesa de Assembleia Legislativa, o Governador de Estado, a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do Distrito Federal, e, a confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. independentemente de sua competência residual, ir de forma contrária a lei orgânica distrital. Nestas hipóteses o Tribunal de Justiça estadual ou distrital será competente para compor tal questionamento. 49 Sustenta (STRECK, 2012) que a Ação Direta de Constitucionalidade – ADC é de duvidosa constitucionalidade, apontando entre outras razões não possuir similar em qualquer sistema constitucional contemporâneo, bem como o contrassenso de haver uma ação para declarar a constitucionalidade de uma norma que já nasce com esta presunção. 63 As hipóteses de demandas judiciais no controle concentrado, bem como a inclusão de novos legitimados para sua propositura foi a forma que o Poder Constituinte vislumbrou para que o povo, de forma indireta, pudesse participar da guarda da constituição (STRECK, 2012). A Modulação Temporal de Efeitos nas Declarações de Inconstitucionalidade Com o advento das leis 9.868/1999 e 9882/1999, que regularam o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade, bem como a argüição de descumprimento de preceito fundamental, respectivamente, perante o Supremo Tribunal Federal, foi incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro a possibilidade de restringir os efeitos, ou decidir o momento de sua eficácia. O termo modulação temporal de efeitos consiste na possibilidade de alterar os efeitos que em regra são aplicados nas diversas possibilidades de declaração de inconstitucionalidade. Prescrevem os artigos 27 da lei 9.868/1999 e 11 da lei 9.882/1999: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. ... Art. 11. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. De acordo com a positivação da modulação temporal de efeitos no ordenamento jurídico brasileiro, é possível verificar a possibilidade de sua aplicação. A utilização do instituto da modulação temporal, necessariamente deverá ocorrer nas declarações de inconstitucionalidade oriundas das decisões promovidas nas ações diretas de inconstitucionalidade, constitucionalidade e nas arguições de descumprimento de preceito fundamental. Os elementos obrigatórios para efetivação da modulação de efeitos são as razões com base na segurança jurídica ou no excepcional interesse social. Ainda é possível exprimir da mesma positivação do instituto a obrigatoriedade do quorum de no mínimo maioria de dois terços50 dos ministros do Supremo Tribunal Federal, bem 50 O Supremo Tribunal Federal hoje é composto por 11 Ministros, sendo certo que, em virtude do número ímpar de Ministros, a maioria de dois terços, necessários para modulação temporal de efeitos, são necessários o voto de 8 Ministros, no mínimo, para efetivação deste instituto. 64 como as espécies de modulação de efeitos, quais sejam a possibilidade de restringir os efeitos a partir da decisão ou decidir o momento da eficácia desta decisão de inconstitucionalidade. As leis 9.868 e 9882, ambas de 1999, apenas positivaram, através de lei infraconstitucional, o instituto da modulação temporal de feitos nos moldes que já vinham sendo praticadas pelo Supremo Tribunal Federal, aproveitando a oportunidade para delimitar hipóteses, elencar os elementos necessários a medidas, alem das espécies. Não há inovação no cenário jurídico mundial a possibilidade de modulação temporal de efeitos. Com outras características, mas versando sobre o mesmo tema de modulação, KELSEN (2007, p. 178), principal jurista integrante no Poder Constituinte da Constituição Austríaca de 1920, já sustentava a possibilidade da modulação de efeitos pro futuro. No caso brasileiro, os artigos 27 e 11 das leis 9.868/1999 e 9.882/1999, respectivamente, têm sua inspiração no sistema constitucional português, em especial no art. 28251 da Constituição portuguesa de 1976 (FERRARI, 2004, p. 297). A FLEXIBILIZAÇÃO DOS INCONSTITUCIONALIDADES EFEITOS TEMPORAIS ORIUNDOS DE DECLARAÇÕES DE Quanto a flexibilização do aspecto temporal das decisões de inconstitucionalidade promovidas no controle concentrado de constitucionalidade, que em regra são ex tunc, ou seja, retroagem a data do início da produção dos efeitos da norma declarada inconstitucional, em virtude das leis 9.868/1999 e 9.882/1999, ao Supremo Tribunal Federal é facultado determinar, após necessária adesão de pelo menos dois terços dos ministros e com base na segurança jurídica ou excepcional interesse social, que os efeitos da decisão que declarou a inconstitucionalidade só sejam produzidos a partir do trânsito em julgado da decisão. Em outras palavras, modificar os efeitos de ex tunc para ex nunc. O Supremo Tribunal Federal, com base nos mesmos requisitos acima apontados, ainda, poderá suspender os efeitos da decisão de inconstitucionalidade por algum tempo a ser fixado na sentença. Esta última hipótese a doutrina denomina modulação pro futuro, em razão da manutenção da produção dos efeitos da lei declarada inconstitucional por prazo determinado no acórdão da decisão do Supremo Tribunal Federal. O professor português MIRANDA (1991, p. 500), ao citar o dispositivo constitucional português que concerne a modulação temporal de efeitos, embora o critique, aponta a necessidade do 51 O artigo 282 da Constituição Portuguesa de 1976: “Artigo 282. (Efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade) 1. A declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina a represtinação das normas que ela, eventualmente, haja revogado. 2. Tratando-se, porém, de inconstitucionalidade ou de ilegalidade por infração de norma constitucional ou legal posterior, a declaração só produz efeitos desde a entrada em vigor desta última. 3. Ficam ressalvados os casos julgados, salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria penal, disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido. 4. Quando a segurança jurídica, razões de equidade ou interesse público de excepcional relevo, que deverá ser fundamentado, o exigirem, poderá o Tribunal Constitucional fixar os efeitos da inconstitucionalidade ou da ilegalidade com alcance mais restrito do que o previsto nos números 1 e 2.” 65 mesmo em razão das situações da vida, a ponderação de seu alcance e a necessidade de mitigar a excessiva rigidez do ordenamento jurídico. A fixação dos efeitos da inconstitucionalidade destina-se a adequá-los às situações da vida, a ponderar o seu alcance e a mitigar uma excessiva rigidez que pudesse comportar; destina-se a evitar que, para fugir a consequência demasiado gravosas da declaração, o Tribunal Constitucional viesse a não decidir pela ocorrência de inconstitucionalidade; é uma válvula de segurança da própria finalidade e da efetividade do sistema de fiscalização. Uma norma como a do art. 282, n.4, aparece, portanto, em diversos países, senão nos textos, pelo menos na jurisprudência. Como descreve Bechof, os tribunais constitucionais consideram-se não só autorizados mas inclusivamente obrigados a ponderar as suas decisões, a tomar em considerações as possíveis consequências destas. É assim, que eles verificam se um possível resultado da decisão não seria manifestamente injusto, ou não acarretaria um dano para o bem público, ou não iria lesar interesses dignos de proteção do cidadão e passarem por cima da constituição e da lei em atenção a um resultado desejado. Mas a verdade é que um resultado injusto, ou por qualquer outra razão duvidosa, é também em regra – embora não sempre – um resultado juridicamente errado. A doutrina diverge sobre a constitucionalidade das leis 9.868/1999 e 9.882/1999, em especial nos dispositivos 27 e 11 das respectivas leis, em virtude da impossibilidade do poder controlado, neste caso o Poder Legislativo, editar norma infraconstitucional restringindo ou até mesmo ampliando a competência do órgão controlador, no caso o Poder Judiciário (PIMENTA, 2002, p. 99), sendo tal vedação implícita no próprio sistema constitucional (FERRARI, 2004, p. 298). Enquanto FERREIRA FILHO (2000, p. 11) sustenta que a manipulação dos efeitos pelo Supremo Tribunal Federal resultará na inutilidade do controle de constitucionalidade, em razão perda da rigidez da constituição, PAULO (2001, p. 184) admite a possibilidade da restrição dos efeitos temporais, mas sustenta a ofensa a Constituição brasileira quando a lei prevê a possibilidade de fixação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade para um momento posterior a data do trânsito em julgado da referida declaração de inconstitucionalidade. KELSEN (2007, p. 139), ao abordar as garantias constitucionais repressivas, ou seja, a aplicação do controle de constitucionalidade, sustenta servirem estas para reagirem contra ato irregular produzido, com o intuito de impedir sua renovação no futuro, para reparar dano causado em virtude da aplicação da lei declarada inconstitucional e a fazendo desaparecer ou, eventualmente, substituí-la por ato regular. Nesta trilha, Kelsen, ao tratar de jurisdição constitucional já aceitava a possibilidade da norma mesmo inconstitucional continuar produzindo seus efeitos, mesmo após a declaração de inconstitucionalidade, durante determinado período, até ser substituída por norma válida, constitucional e regular. 66 No Brasil, os efeitos da declaração de inconstitucionalidade no tempo sempre foi resultado de uma postura jurisprudencial, que ao longo do tempo abandonou a ideia inicial de considerar a lei inconstitucional nula ab initio e carecedora de produção de efeitos (FERRARI, 2004, p. 300). Em virtude desta mudança de posicionamento, abriu-se espaço para o legislador infraconstitucional elaborar as leis 9.868/1999 e 9.882/1999, positivando a possibilidade de modulação temporal dos efeitos. Algumas indagações merecem ser enfrentadas quando da utilização do instituto modulação de efeitos. A primeira consiste nas consequências da utilização do mesmo instituto e a segunda é quando deve ser utilizada a modulação de efeitos. As consequências da utilização da modulação de efeitos podem ser divididas em dois tipos: práticas e de fomento. A consequência prática da modulação de efeitos é a ratificação dos atos praticados em virtude da lei declarada inconstitucional até o trânsito em julgado da decisão que declarou a inconstitucionalidade ou até a data posterior ao trânsito em julgado fixada pelo Supremo Tribunal Federal, no acórdão. A segunda consequência da utilização da modulação de efeitos, que com certeza não era a desejada, mas na prática vem se apresentando, é o fomento da edição de leis sabidamente inconstitucionais, tanto pelo Poder Legislativo quanto pelo Poder Executivo, em virtude da utilização dos elementos, segurança jurídica e excepcional interesse social, para a sociedade ao invés da utilização destes mesmos elementos pela sociedade. Em relação a quando deve ser utilizado a modulação de efeitos, o legislador previu a necessidade da utilização de um dos dois elementos, quais sejam, segurança jurídica e excepcional interesse social. Segurança jurídica é um princípio implícito esculpido na Constituição da República de 1988, no caput do artigo 5º como direito fundamental, dividindo-se em dois aspectos, objetivos e subjetivos (SILVA, 2005, p.3), sendo o primeiro com o intuito de manter a estabilidade (CANOTILHO, 1995, p.373) e o segundo com o intuito de garantir à confiança CANOTILHO (2000, p.256), tendo como principal elemento a manutenção da certeza para o cidadão (MELO, 1998, p.73). O outro elemento, excepcional interesse social, nas palavras de FERRARI (2004, p.311), é um instituto de natureza política, que se baseia no exame valorativo da oportunidade e conveniência. A Norma Inválida Porém Eficaz? No início do presente trabalho tratou-se sobre a base da identificação de todo o ordenamento jurídico, que para Bobbio constitui como o elemento unificador dele, seja para Barroso constitui o fundamento de validade de todas as normas, substancialmente, ninguém questiona que a norma que é inconstitucional é inválida. Segurança jurídica e excepcional interesse social são conceitos tão vagos que se permite dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa (STRECK, 2010), não há qualquer cadeia de significantes que assegurará que isso não seja usado para mais fins inconstitucionais. Acontece que seria meramente uma falácia pensar que se compreender que a norma, apesar de inválida e declaradamente não estar formando um conjunto com o resto do ordenamento pudesse efetivar efeitos, em virtude da aplicação de um instituto previsto por normas infraconstitucionais. 67 Esse tipo de compreensão só existe dentro do Direito, não raro vê-se normas claramente inconstitucionais realizando efeitos sem o mínimo de critério. Da mesma forma tentar salvar aquilo que já nasceu morto, externo ao ordenamento jurídico, é o mesmo que validar a norma, nem que seja em um lapso temporal. Norma inválida não pode realizar efeitos, não pode ter uma declaração de sobrevida já que nunca poderia ter pertencido ao ordenamento. Fazer isto é o mesmo que ratificar um ato inconstitucional, ilegal, inválido do legislador. É dar ao legislador uma carta aberta para realizar qualquer norma abusiva que o judiciário colocará panos quentes sobre os resultados que de lá provierem. Considerações Finais O presente estudo partiu da ratificação dos efeitos produzidos por normas declaradas inconstitucionais por meio do controle de constitucionalidade concentrado, via ação direta de inconstitucionalidade, objeto de modulação de efeitos e, se serve este para dar eficácia à normas inválidas. A hipótese é de que norma inconstitucional não cabe ratificação, mesmo que temporal, sob pena de infringir a supremacia da constituição, já que esta corporifica o unificador do ordenamento jurídico. Não se pode aceitar a identificação que a doutrina faz da modulação dos efeitos para tentar salvar um natimorto, sob fundamento de institutos, supostamente princípios, como segurança jurídica e excepcional interesse social. É evidente que o assunto demanda inúmeras discussões e interpretações para o caso concreto, mas de plano, é certo afirmar que é um tanto quanto temeroso dar uma carta aberta ao legislativo de poder determinar a ação da população e dos entes públicos de maneira descontrolada e, assim, suplantar o próprio fundamento do ordenamento jurídico. Referências bibliográficas BARROSO, Luis Roberto. O Controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. BOBBIO, Norberto. Teoria geral do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2010. CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 6. Ed. Coimbra: Almeida, 1995. ____. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almeida, 2000. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O sistema constitucional brasileiro e as recentes inovações no controle de constitucionalidade(Leis 9868, de 10 de novembro e 9882 de 3 de dezembro de 1999). Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n. 220, 2000. FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitos da Declaração de Inconstitucionalidade. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2004. 68 IORIO FILHO, Rafael Mario. Uma questão da cidadania: o papel do Supremo Tribunal Federal na intervenção federal (1988-2008). Rio de Janeiro. 2009 KELSEN, Hans. Jurisdição Constitucional. São Paulo: Martins Fontes. 2007. MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2011. MELLO, Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política de direito. Porto Alegre: Sérgio Fabris/Inuvale. 1998. MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Coimbra: Coimbra Ed., 1991. t.II. PAULO, Oswaldo Luiz. Controle de constitucionalidade: conceitos, sistemas e efeitos, 2ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Controle de Constitucionalidade. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense. 2009. PIMENTA, Paulo Robrto Lyrio. 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[on line], disponível em <http://www.conjur.com.br/2012-set-27/senso-incomum-direito-am-dm-antes-depois-mensalao>, acesso em 20 de novembro de 2012. ____. O que é isto - decido conforme minha consciência? 2.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. TEIXEIRA MENDES, Regina Lúcia. Dilemas da Decisão Judicial, as Representações de Juízes Brasileiros sobre o Princípio do Livre Convencimento do Juiz e outros Princípios Correlatos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Gama Filho: Rio de Janeiro, 2008. 69 A vinda da corte portuguesa para o Brasil (1808) e suas implicações imediatas Duarte Luciano Antunes52 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História, campus Santo Amaro Resumo A transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808 deriva de um conjunto de eventos internacionais e interferem diretamente na construção histórica brasileira contemporânea. Para entender este processo de mudanças, esse artigo fara uma análise histórica dos consecutivos acontecimentos que culminaram com a fuga portuguesa e analisará mudanças na estrutura econômica, política e social brasileira. Foi utilizado como fonte bibliográfica para este estudo os clássicos historiadores brasileiros: PRADO JR (1977), NOVAIS (1989), FURTADO (2005) E FAUSTO (2009), além de artigos da Revista de História da Biblioteca Nacional, com historiadores mais recentes: CUNHA (2008), MALERBA (2008), BARBOSA (2008), SILVA (2011), SENA (2014) e analises criteriosas acerca das mudanças provocadas por esta reviravolta internacional. Desta maneira, essa pesquisa visa uma revisão bibliográfica e atualização analítica do tema proposto; o trabalho é também um material valioso para a sala de aula, com linguagem simples e crítica que pode ser usado em Ensino Médio e Superior. Palavras-Chave: Brasil Colônia; Fuga da Corte para o Brasil; 1808; Historiografia Introdução Este trabalho fora construído na tentativa de elucidar questões antigas, porém, atuais da historiografia brasileira acerca das transformações causadas pela chegada da Corte portuguesa ao Brasil em 1808. Visando uma ampla utilização do material, esta pesquisa possui um método discursivo, que pode ser muito bem utilizado em sala de aula, com alunos de Ensino Médio ou Superior. As perguntas que norteiam essa pesquisa são: • Qual a conjuntura histórica que antecede e provoca a fuga da Corte Real portuguesa para o Brasil? • Quais as implicações e mudanças causadas pela chegada da Corte em solo brasileiro? Para responder essa pergunta, foi utilizada uma série de artigos e livros escritos por escritores brasileiros e publicados em idioma português. Dado a carência de meios, este trabalho visa uma revisão bibliográfica que busca atualizar as respostas às perguntas discriminadas acima e que 52 Duarte L Antunes – Graduado em História pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 70 norteiam a pesquisa. Para iniciar, veremos a Conjuntura Histórica de finais do século XVIII; finalizando com as implicações da presença Real no Brasil no início do século XIX. A construção histórica da fuga em 1808 No início do século XIX, Napoleão iniciara na Europa sua expansão as nações absolutistas. Sua principal motivação era sem dúvida exportar (com a guerra) as mudanças iniciadas na França em 1789. Não que o interesse francês fosse o de melhorar o mundo por meio dos ideais da revolução – e não quero dizer que os ideais da revolução fossem exatamente uma melhoria ao mundo, não é a função do historiador fazer essa análise, mas sem dúvida elas modificariam totalmente as estruturas sociais, econômicas e políticas por onde essa revolução passasse –, antes, de enfraquecer economicamente sua histórica inimiga, a Inglaterra. Temos de lembrar que a Inglaterra embora vivido uma “revolução” no século XVII, permanecia uma Monarquia, mesmo em regime parlamentar. A revolução iniciada em 1789 inspirou outros movimentos de libertação ao redor do mundo. Antes de falarmos sobre esses movimentos, façamos uma crítica a esse termo “libertação”. Quando se fala libertação, não se pretende dizer “avanço” ou melhoramento. As mudanças trazidas pela revolução não foram sentidas com tanta facilidade pela população. Quando digo “libertação”, refirome a libertação política e econômica. Na questão política, a liberdade veio por meio da ruptura com o Regime Absolutista e a possibilidade de participação de alguém não ligado a uma família, a isso chamamos Republica – Coisa Pública, em latim –, algo que não pertence a uma família, a um clã, uma tribo; pertence, entretanto, a todos que se enquadrem nos requisitos constitucionais de elegibilidade. Na questão econômica, ao tratar de libertação, me refiro a não participação ou intervenção da Coroa – do Rei – na condução dos interesses comerciais. Assim, a ascensão da classe burguesa – uma classe historicamente comercial – pressupunha sua liberdade de produção e comercialização, afinal, ao existir a nobreza, essa se chocava aos interesses econômicos da burguesia. Enquanto a nobreza na França no século XVIII desejosa de gastar suas fortunas com regalias e fartura – fortuna essa que era arrecadado por meio de impostos (o nome já nos diz muito: imposto. Algo que era imposto a todo cidadão francês) –, a burguesia era desejosa de expandir seu sistema de acumulação de capital. Vejam; embora a base da acumulação seja a compra e isso a nobreza fazia muito bem, a burguesia sonhava com a posição de comando, assim, deixaria de ser apenas uma classe cidadã, se tornaria a classe soberana, acima de todas as outras, e dessa forma, seria proprietária integral de toda a produção humana nas sociedades em que vive. Não quero me estender nessa discussão pois ela renderia muito tempo de análise histórica. Desejo apenas mostrar que o surgimento da burguesia chocava-se com a da Nobreza – pois eram duas classes de interesses antagônicos –, era necessário que uma deixasse de existir. Marx (1988; 79) percebe isso muito bem anos mais tarde, ao escrever o Manifesto do Partido Comunista: “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais”. E, em 1791, uma deixou de existir – ao menos na França –, a Nobreza. A expansão napoleônica era nesse sentido, unir o mundo em “um” interesse, extinguir as nobrezas, espoliá-las e subverte-las a simples consumidoras, seres sem expressão política alguma. 71 Claro que ao levar essas mudanças ao resto do mundo, Napoleão fortaleceria a França, tornando-a superior a Inglaterra – a Potência da idade Moderna –, isso, claro não era do interesse inglês. Assim, França e Inglaterra, tornam-se inimigas. Às vezes quando dizemos “França e Inglaterratornaram-se inimigas” parece que ambas possuíam uma unidade interna de interesse e eram indivíduos plenamente conscientes de si, como nós somos. Ao contrário, não havia nem unidade, nem soberania. França e Inglaterra eram nações, o fato do interesse entre seus líderes ser distinto é que as fez inimigas. França encontra-se geograficamente incrustada na Europa Continental. Tendo fronteiras com várias nações (que possuem seus próprios interesses de Estado). Já a Inglaterra é uma ilha. Não possui ligações terrestres com a Europa, entretanto, sua sobrevivência e sua soberania dependem exclusivamente de relações com as nações continentais da Europa. Com isso, a melhor forma de vencê-la seria isolá-la, sua ruína seria inevitável. Essa foi a forma encontrada por Napoleão I. A expansão napoleônica é a busca tanto da unificação da Europa em um só regime e a busca da soberania francesa e o enfraquecimento da Inglaterra. Ao invadir as nações, Napoleão colocava seus parentes como líderes nacionais e obrigava-os a seguir um fechamento dos portos e o boicote ao comércio com a Inglaterra. A isso, denominamos Bloqueio Continental. Análise Historiográfica acerca da Fuga Entretanto, uma nação europeia estava ligada política, economicamente, socialmente e historicamente a Inglaterra, sendo uma pedra no sapato de Napoleão. Soma-se a isso sua vantagem geográfica, estando na borda oeste do continente europeu e sendo o “único” meio de acesso ao mar Mediterrâneo – importante rota de comércio, desde a idade Antiga. Essa nação era Portugal, detentora de Colônias na América, Ásia e África. Portugal, ligava-se historicamente aos ingleses, dependia deles para sua sobrevivência e os mantinham vivos nessa altura da conjuntura internacional. Assim, um ataque francês a Portugal seria inevitável, levaria apenas alguns anos. Em 1807 esse ataque ocorrera. Percebendo a vulnerabilidade portuguesa e com uma manobra inteligente, D. João – o Príncipe Regente – e D. Maria – a Rainha –, juntos de mais alguns que faziam parte da Coroa, todos fogem para a Colônia americana, o Brasil. Essa manobra lusa fora criticada veementemente na historiografia. No livro de Laurentino Gomes, 1808, a fuga é tratada como uma decisão de uma Corte medrosa. Porém, analisemos brevemente essa decisão. Quais as condições portuguesas de enfrentar o Grande Exército de Napoleão? Nenhuma – se você tiver a vitória total como perspectiva. Portugal estava tecnologicamente atrasado, seus exércitos também. Mas algo maior estava por trás dessa decisão de não retaliar diretamente essa investida francesa. (1) O interesse inglês era manter o Brasil um mercado distante da conturbada Europa, assim, trazer a Coroa portuguesa – um conjunto de pessoas com interesses iguais aos ingleses e com poder de administração na colônia – seria muito proveitoso. (2) Vir para o Brasil permitiria Dª. Maria manter seu posto de rainha, e manter seu reino sobrevivente, mesmo longe da capital. O Brasil representava um mercado amplo e interessante aos ingleses e portugueses. Assim, “fugir” ou vir para o Brasil não fora exatamente uma medida impensada, antes uma decisão bem tomada, dentro de suas condições históricas. A vinda da Corte deriva do conjunto de circunstâncias que assinalam o agitado momento por que então atravessa a Europa. Mas, em última análise, 72 representa muito mais uma hábil manobra da diplomacia britânica. A situação anormal do Velho Mundo, presa das convulsões que sobre ele desencadeara a Revolução Francesa de 89, não foi senão arma de que se utilizou a Inglaterra para completar a sua já tradicional política de absorção econômica do pequeno Reino lusitano. (PRADO JR, 1977; 42) Não se faz necessário discutir exaustivamente sobre a inteligência de certas figuras históricas, como o caso de D. João, Dª Maria, D. Pedro, etc. O ponto em questão é demonstrar que a vinda da Corte – que fique clara, da Elite Administrativa portuguesa marca um ponto importante no teatro internacional. Sua chegada a Colônia e seu estabelecimento como capital da Metrópole, será decisivo no futuro brasileiro. Antes de analisarmos os rumos históricos posteriores do Brasil, vejamos a situação em que a Colônia se encontrava no momento da vinda da Corte. A chegada da Corte no Brasil e suas implicações: políticas, econômicas e sociais A situação econômica do Brasil no momento da chegada da Corte portuguesa era “precária”. A Colônia servia para manter viva a Metrópole. Desde seu descobrimento, o objetivo de manter dominada a Colônia brasílica era para manter viva a já (em meados do século XIX) decadente Metrópole lusitana. Para que isso pudesse ocorrer, era fundamental manter o crescimento e a administração de controle. Assim, o Brasil servia desde seu descobrimento para fornecer especiarias até (quando digo até, quero dizer que não se sabia até meados de 1700 que o Brasil possuía estas riquezas) ser descoberto o ouro, diamante e outros metais preciosos – as especiarias eram os principais produtos de exportação –, Portugal necessitava de matérias-primas fornecidas pela Colônia para sua sobrevivência estrutural. Um exemplo, durante o século XVI, a produção de açúcar do nordeste brasileiro era exportada para Portugal, para ser enviado a Holanda e após ser refinado por ela, podia ser comercializada internamente e externamente em mercados internacionais. Tanto Portugal como Holanda beneficiavam com o produto extraído do Brasil. Aqui porém, as condições eram precárias. Isso quer dizer que tanto os meios de produção (locais, segurança, técnicas e instrumentos), como também a mão de obra (escrava, obrigada contra a própria vontade a trabalhar sem rendimentos ou direitos para outras pessoas que se autodenominavamserem donos ou proprietários legítimos). Enquanto lusos e holandeses aproveitavam-se do trabalho brasileiro, a Colônia continuava “atrasada”. Servia apenas como mantenedora da soberania de outros. Passados alguns séculos, os produtos agrícolas mudaram, entretanto a dominação e exploração continuaram. A forma utilizada para manter dominada a Colônia e impedi-la de “crescer” e ganhar relevo político foi impedir seu desenvolvimento político e controla-lo o máximo possível. Em princípio, dividiu-se o território em Capitânias Hereditárias, 13. Onde um beneficiário a repartia em outras “glebas” de cultivo e assim sucessivamente. Esse sistema perdurou até 1759. Neste percurso, apenas as Capitânia de São Vicente e Pernambuco mostravam-se lucrativas. Observando o avanço cada vez maior da Holanda e da França na recém-descoberta Colônia, Portugal implementa um sistema de Governo-Geral. Onde o controle geral das Capitânias ficava centrado na mão de um fidalgo português que devia responder diretamente ao Rei. Após 1720 os governadores-gerais recebiam o título de vice-rei. Assim, o método de controle da Colônia mostrava-se mais rentável e autossuficiente. Outro método de controle foi o decreto que obrigava a Colônia enviar suas 73 produções apenas a Metrópole e ela – por ser proprietária da Colônia – iria determinar o destino do produto. A questão política no Brasil tem um histórico intrínseco entre o Iluminismo europeu e os portugueses aqui residentes. Desde a metade do século XVIII várias medidas tomadas com base em ideais iluministas, como por exemplo a divisão entre Estado e Igreja Católica, que fica evidente com as decisões do Marquês de Pombal contra a presença clerical evidenciada pela administração educacional por parte dos jesuítas; a educação fora transferida para a esfera estatal. Simplificando, a presença de ideias iluministas e medidas tomadas com base nelas, eram comuns já na chegada da Corte Real ao Brasil, o que se vê é a intensificação destas nos rumos políticos e econômicos. Ao evidenciar isso em seu livro,Novais (1989; 213 – 227) abre caminho para uma melhor interpretação dos rumos políticos da Colônia. Entretanto, após o avanço napoleônico na Europa e a fuga da Corte portuguesa as terras brasílicas, a forma encontrada por D. João para sustentar sua sobrevivência na atual conjuntura internacional foi a de abrir os portos brasileiros as nações amigas, isso é, à Inglaterra. Vemos nas palavras do economista e ex-ministro Celso Furtado. Ocupado o reino português pelas tropas francesas, desapareceu o entreposto que representava Lisboa para o comércio da colônia, tornando-se indispensável o contato direto desta com os mercados ainda acessíveis. A "abertura dos portos" decretada ainda em 1808 resultava de uma imposição dos acontecimentos. (FURTADO, 2005; 93) Vemos que a ação mais previsível seria essa, abrir os portos do Brasil ao mundo. Entretanto, a vinda da Corte, a abertura dos portos e as mudanças sociais, políticas e econômicas provocadas por esse evento – a invasão francesa – seria decisiva no processo de emancipação. No tocante as mudanças sociais, podemos destacar a chegada da Corte, sinuosa e “atual”, com ares e estilos franceses. Ao chegar ao Brasil, deparou-se com uma gente diferente, como nas palavras do professor e historiador Jurandir Malerba: Os nobres portugueses, homens e mulheres importantes, tinham na etiqueta de corte e nas tradições da nobreza suas principais referências como grupo – e procuraram zelosamente impor a distância social que os separava dos brasileiros, aquela gente rude, de pele queimada, como os viajantes descreviam os homens ricos da terra. (MALERBA, 2008; 1) Para “piorar”, a chegada da Corte causava choque com o modo de vida aqui usufruído e com a cultura aqui construída e desenvolvida. Outro ponto também de destaque das dificuldades com a chegada da Corte, tange a capacidade urbana de acomodação da “luxuosa” Corte Real. Como acomodar quase 200 pessoas da “high society” lusa, numa Colônia atrasada e rústica? Ai estava mais um problema. Além de ter de relacionar-se com a “ralé”, era necessário morar com ela. As melhores residências – quase todas grandes fazendas (afinal, na época o Brasil ainda era vasto e muito pouco habitado) – eram ocupadas e como forma de informar a apropriação, eram deixadas duas iniciais na porta: P.R. A expressão ganhou volume nos anos seguintes e passou a ser conhecido como “Ponha-se na Rua”; na realidade, significavam Príncipe Regente.Essa fora uma das primeiras desapropriações de terras no Brasil após a dos índios e holandeses no século passado. 74 A necessidade de estabelecer residência por tempo indeterminado, tendo em vista que a presença francesa em Portugal não tinha data para findar, lançava a necessidade de construir locais para a estadia indeterminada da Corte. Para isso, foi necessário apropriar-se da fazenda jesuítica de Santa Cruz no RJ e ali estabelecer a morada da Corte. Entretanto, para que isso pudesse ser feito, eramnecessárias algumas mudanças para comportar o volume de gente e de serviços necessários para reger uma nação – mais uma vez, observar-se que o “atraso” brasileiro teve de ser superado, pois, para ser sede da Corte Portuguesa era necessário ter as condições internas para tal. Assim, as primeiras mudanças realizadas em solo brasileiro, fora estabelecer alguns serviços e algumas mudanças. Lorenzo Aldé relata algumas delas em seu artigo publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional de 2008 – edição de “comemoração” de 200 anos da chegada da Corte ao Brasil. Em 1808, Santa Cruz entrou no mapa da realeza portuguesa. D. João VI escolheu a ex-fazenda dos jesuítas como sua residência rural, e ordenou uma obra para transformar o convento ali abandonado em Palácio Real. Toda a estrutura da sede do antigo engenho foi adaptada à nova morada da Corte: casa de música, serraria, igreja, casa do superintendente, senzala, prisão, estrebaria. Já no Brasil Império, D. Pedro II inaugurou uma série de obras em Santa Cruz: matadouro, Colégio Imperial (depois Hospital D. Pedro II), Estrada de Ferro, o primeiro telefone da Fazenda, agora Imperial, e a primeira agência fixa dos correios no Brasil. (ALDÉ, 2008; 1) Contudo, a chegada da Corte beneficiava a economia interna não apenas pelo fato da abertura dos portos às nações amigas, como também para as províncias brasileiras, em especial a de Minas Gerais. Com a chegada da Corte em massa ao Rio de Janeiro em 1808 era fundamental fornecer-lhes alimentos; porém, como fornecer alimentos em grande quantidade de uma hora para outra? Digo de uma hora para outra, pois a produção mineira estava estagnada e viciada em um mercado “estático” e de característica de subsistência. Por isso afirmo que a chegada da Corte impulsionou a produção e o comércio interno intraprovincial no Brasil. Vemos essa afirmação nas palavras do professor da UFMG Alexandre Mendes Cunha: Aproximava-se a chegada da Corte à cidade do Rio de Janeiro. Milhares de pessoas estavam prestes a aportar na cidade. Com pouco tempo para os preparativos, as autoridades tinham problemas imediatos para atacar. Talvez o mais preocupante fosse garantir que não haveria crise no abastecimento de alimentos. (CUNHA, 2008; 1) Vale lembrar que após a chegada da Corte, houvera uma migração em massa para o sudeste, muitos fazendeiros e influentes personagens encontraram na chegada do Príncipe Regente uma oportunidade para exercer sua politicagem – que ficara conhecida em posteriore como “política do beija mão”. Havia assim a necessidade de suprir a falta de alimento no sudeste. Para tal, produtores e comerciantes mineiros mobilizaram-se para abastecer as massas; soma-se a isso a questão que desde os meandros do século XVIII, a extração de ouro e pedras preciosas na região das Minas Gerais estava em decadência e a província começara a experimentar a decadência. A vinda da realeza e seu 75 estabelecimento e as implicações destes, incentivou e consolidou o caminho para a ascensão mesmo que breve da província de MG no sudeste. A demanda da Corte acelerou este processo. Os alimentos mineiros ultrapassaram fronteiras e chegaram a São Paulo e ao interior do Rio de Janeiro. Estava esboçada a integração econômica entre os estados do Sudeste, que só faria crescer nas décadas seguintes, sobretudo com a expansão cafeeira pelo Vale do Paraíba fluminense. Forma-se um grupo particular para a produção e comercialização de alimentos: os tropeiros. Mais do que simplesmente transportar mercadorias, as tropas criam toda uma cadeia de negócios mantida por redes familiares. O que inclui a mercadoria fundamental para o funcionamento daquela economia: os escravos. As mesmas tropas que levavam das Minas para o Rio os gêneros de subsistência subiam de volta a serra transportando negros escravos. (IDEM; 1) Quem diria que a chegada que a Corte portuguesa ao Brasil poderia modificar tanto nosso cenário econômico em tão pouco tempo? Uma questão ainda mais profunda: como o avanço de um imperador e suas aspirações políticas poderiam lançar uma Colônia do outro lado do Oceano Atlântico em um processo de desenvolvimento e modificações profundas? CUNHA (2008) conclui seu artigo afirmando: Em termos econômicos, as transformações experimentadas pela região no século XIX servem de boa lição histórica. Ensinam que o incentivo ao mercado interno é peça-chave para o desenvolvimento de um país que tem como trunfo suas extensas áreas e uma grande população. (IDEM; 1) Os impactos provocados pela chegada “inesperada” da Corte provocaram tensões. Já fora dito acima, porém, retifico a Colônia não estava preparada para contemplar o estabelecimento da Realeza. A mudança provocou transtornos para os moradores, subitamente às voltas com a escassez de habitações, esgotamento sanitário, iluminação, alimentação, vestuário e, também, de educação. Era necessário não apenas estruturar o espaço urbano, de modo a deixar para trás o estatuto de vila e assumir o de cidade, mas modificar o comportamento humano. Faltavam escolas e livros que orientassem os moradores, a saber, como conviver com a nova situação: agora eles estavam na sede de uma monarquia europeia – e a partir de 1815, na capital de um Império ultramarino. (SENA, 2014; 1) Vemos que “educar”, ou melhor, aculturar as massas da Colônia era fundamental. A presença da Corte implicava diretamente a necessidade de mudanças, seria fundamental uma política de ensino que visasse uma transformação na sociedade carioca. Essa mudança veio por meio do Ensino, em suma, pelo ensino de etiqueta. A massa em estágio de barbárie necessitava ser refinada e – do ponto de vista europeu-português – alcançar seu estado de civilidade. Curioso e paradoxal é perceber que a "civilização modelo” neste processo de transformação não era em si Portugal, antes, a França – 76 sim, a invasora. “Ao impor um novo modelo de sofisticação e civilidade, a vinda da corte marcou o início de um processo que alterou para sempre a vida social das mulheres brasileiras” (BARBOSA, 2008; 1). Quando a Corte atracou no Rio de Janeiro, sua chegada esperada e bem comemorada, fora de impressionar. A distância entre Brasil e Portugal não era apenas geográfica e espacial, mas cultural. No dia 7 de março de 1808, o Rio de Janeiro parou para ver a chegada da Corte portuguesa. O desembarque da nobreza na América impressionou moradores da Colônia, que viam nas roupas e nos ornamentos dos recémchegados um luxo inacessível. (SILVA, 2011; 1) Neste ponto, é interessante você, caro leitor praticar um exercício hermenêutico. Imagine você ser um cidadão carioca que estava presente na chegada da Corte portuguesa. Ao desembarcar das naus, você observa o luxo nobiliárquico desfilando pelas ruas. Não ficaria impressionado em descobrir a moda “atual” na Europa? Entre palmas e olhares cruzados, os brasileiros impressionavam-se com as roupas e costumes dos recém-chegados. Mas a provocante impressão não ficou restrita ao dia da chegada. Assim que aportou em solo colonial, Portugal iniciara suas mudanças no aspecto cultural. Junto da chegada da Família Real, chegara também sua cultura, seus costumes, seu universo; que claro, chocava-se com as dos habitantes brasileiros. A construção do Brasil é sem dúvida uma construção a partir de muitos universos, muitas culturas. Nada mais justo dizer que somos antropófagos culturais. Conclusão Ao longo deste artigo-aula, podem-se perceber as transformações perpetuadas na Europa e no Brasil a partir de um evento decisivo na História, a expansão napoleônica. Constatou-se – mesmo que brevemente – que a expansão napoleônica insere-se num projeto ainda mais particular, a recéminserção da burguesia no poder e seu processo de expansão, perpetuado na figura de Napoleão Bonaparte. Soma-se a isso a conjuntura internacional, demonstrada na luta entre o Antigo Regime x Burguesia. Dentro dessa luta – que de acordo com Marx, natural em seu processo de evolução produtiva – uma nação, Portugal vê-se diante de duas opções: aliar-se a França expansionista e fechar seus portos da Inglaterra (principal alvo de Napoleão I) ou unir-se a Inglaterra e provavelmente ser invadida por Napoleão I. Tomada a segunda decisão, diante da conjuntura internacional e das limitações históricas e contextuais, Portugal é invadida pelo Grande Exército e Napoleão Bonaparte e vê-se na iminente necessidade de fugir. Sua escolha fora o Brasil – sua Colônia desde 1500. Embora houvesse outras opções, como na Costa Ocidental da África, D. João preferiu o Brasil. Ao chegar a solo brasílico, tomou-se a decisão de abrir os portos brasileiros, demonstrando as intenções da Corte de estabelecer-se por período indeterminado. Antes de ir ao Rio de Janeiro, a Corte experimentou uma estadia em Salvador – local onde fora assinado o Tratado de abertura dos portos. Algum tempo depois, decidiu-se ir pra o RJ. Ao chegar aqui, chocaram-se as sociedades; de um lado portugueses de outro brasileiros. No âmbito cultural, as mudanças foram pautadas na 77 construção de locais culturais, como a Biblioteca Real, teatros, etc. No aspecto econômico o incentivo a economia de exportação internacional e regional – com o beneficiamento da província de Minas Gerais. E por fim, na questão política, as mudanças deram-se na presença da Corte portuguesa e personagens ingleses que impulsionaram o processo de “iluminação” dos personagens nacionais, que – mesmo não tendo sido tratado aqui neste artigo – levarão a um processo de emancipação político, em 1822 pelo filho de D. João VI, D. Pedro I. Em suma, pudemos perceber que a história se interliga. Tudo que fazemos tem implicações reais. Mesmo individual ou publicamente, a ação de cada um destes reflete na vida em sociedade. O trabalho do Historiador é revirar esses escombros e buscar entender a luz da época, o ocorrido; mesmo sabendo que sua totalidade é impossível. Referências ALDÉ, Lorenzo. Subúrbio em festa. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/suburbio-em-festa>. Acessado em 01. Set. 2014. BARBOSA, Suzana. Modas e modos. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://rhbn.com.br/secao/reportagem/modas-e-modos>. Acessado em: 1. Set. 2014. CUNHA, Alexandre Mendes. Tropeiros em alta. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/tropeiros-em-alta>. Acessado em 01. Set. 2014. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª ed., 1.reimpr. – São Paulo: EDUSP, 2009. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 30ª ed. São Paulo: Nacional, 2005. MALERBA, Jurandir. Acomode-se como puder. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/acomode-se-como-puder>. Acessado em 31. Ago. 2014. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 7ª ed. São Paulo: Global, 1988. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777 – 1808). 5ª ed. São Paulo: Hucitec, 1989. PRADO JR, Caio. Evolução Política do Brasil e outros estudos. 10º ed, Editora Brasiliense: São Paulo, 1977. SENA. Fabiana. No império das aparências. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/leituras/no-imperio-das-aparencias>. Acessado em: 1. Set. 2014 SILVA, Camila Borges da. O domínio das roupas. Revista de História da Biblioteca Nacional. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/o-dominio-das-roupas>. Acessado em: 1. Set. 2014. 78 U.S Africom: Pressuposto, Formação e Atuação Duarte Luciano Antunes53 Centro Universitário Estácio Radial, História, campus Santo Amaro RESUMO A presença estrangeira em solo africano tem aumento ao galgar da história moderna e principalmente contemporânea (um forte argumento para isso é o processo de colonialismo – século XV e XVI –, e neocolonialismo – século XIX e XX). A África tem sido palco de intensas atividades econômicas e políticas, exercidas quase que em sua totalidade pelas nações [Potências] dentro do território africano, usando-o como meio para consolidação dos interesses políticos e econômicos de seus Estados. As ações eram mascaradas pelas Grandes Potências durante o século XIX, na prerrogativa de: grupos de estudo para conhecimento deste inexplorado mundo. Já em plena era de globalização e comunicações instantâneas por todo o globo, esta prerrogativa já não nos apresenta como plausíveis ou aceitáveis para tais ações interventoras. Por conta do tema ser extremamente recente e pouco pesquisado ao redor do mundo, esse artigo mostra-se uma das primeiras pesquisas de cunho cientifico-acadêmico acerca do assunto. Palavras-chave: U.S AFRICOM; ÁFRICA; AFRICOM Introdução Após o fim da Guerra Fria e o esfriamento do combate ao “perigo vermelho” (União Soviética e ao Comunismo), surge ao mundo ocidental, liderado politicamente e economicamente pelos Estados Unidos da América, a guerra contra o “perigo verde” (Islamismo). Durante todo o período que irrompeu-se a guerra contra o comunismo e seu espectro, os EUA apoiaram a formação de governos que pudessem combater internamente este “perigo” (os ideais comunistas) e servir de ligação intergovernamental. No caso da África, isso se configurou com o investimento e apoio de determinados grupos locais – em cada país – que serviriam para este combate ao comunismo e para o elo com os EUA. Quando nos finais da guerra fria, surge ao mundo um novo “inimigo comum”, o terrorismo exercido pelos Estados e grupos locados em países/regiões em que a religião islâmica era presente o Duarte L Antunes – Graduado em História pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 53 79 islamismo e os Estados ligados a este, passaram a serem inimigos internacionais dos apoiadores da liberdade e da democracia. Surge assim uma grande questão a ser observada, os grupos apoiados, que formaram a elite burocrática e governamental dos Estados “ajudados” pelos EUA, eram todos de origem e de princípios islâmicos. Quando foram apoiados o “inimigo comum”, como vimos era o comunismo, mas após este ser quase decepado do mundo, surge o combate ao islamismo; isso fica evidente com a intervenção e ocupação militar estadunidense no Afeganistão e Iraque. No ano de 2007, é formulada uma proposta de Comando Militar para o continente africano que até o presente momento não existia. O U.S AFRICA COMMAND, seria a instituição e extensão militar intervencionista estadunidense em solo africano, para combater os inúmeros grupos terroristas que estavam migrando do Oriente Médio e Próximo para países africanos. Em 2010, após três anos da formulação do AFRICOM e dois anos após sua implantação e articulação, ocorre no norte da África – África Subsaariana –, um surto contra os governos ditatoriais de base islâmica e que haviam sido apoiados desde o período da Guerra Fria. Vemos o apoio tanto da OTAN quanto do AFRICOM frente a esta insurreição aos governos ditatoriais islâmicos. Nos dias atuais, vemos o U.S AFRICOM, apoiando os novos governos criados – durante o período da Guerra Fria e em especial dos anos 1960-1980 na África, o período das independências – e assegurando-os de uma contrarrevolução ou de ataques de grupos terroristas. O U.S AFRICOM, é criado para a defesa dos interesses americanos dentro da África; mas após seis anos de sua formação e articulação, faz-se necessário um estudo mais profundo e acadêmico, para entendermos a real situação do “Comando Militar Africano”. As fontes ligadas ao Africom mesmo sendo escassas (a maioria são oficiais, oferecidas e publicadas pelo governo estadunidense) possibilitam uma análise e comparação com um todo teórico – que independe do Africom para existir, o Africom é na verdade um produto dessa teoria de ordenamento e condução dos Estados. Faz-se assim necessário, em priore, o estudo dessas teorias que o conduzirão a uma análise e balizamento teórico-metodológico deste projeto civil-militar, o U.S AfricaCommand. Após esse conhecimento prévio preenchido, as informações e as fontes que tratam o Africom serão postas em evidência e o método dialético para comparação mostrar-se-á necessário para uma análise cientifica da pesquisa. Para iniciar, veremos as Teorias das Relações Internacionais, que moldam e balizam a ação dos Estados – em especial dos Estados Unidos da América – no sistema político internacional – o recorte aqui, se faz pela Escola Realista. Após a teorização, vira a História e por fim, as comparações – o recorte aqui é com a História do Brasil e a participação influente dos EUA. O resultado deste choque teórico-histórico serão novas perguntas, hipóteses e problemas, que permitem que novas pesquisas sejam feitas. Escola Realista Clássica A escola realista é a mais antiga e notável escola das Relações Internacionais. Suas perspectivas giram em torno do poder, forma pela qual os humanos e os Estados – formados por estes humanos – empenhar-se-ão alcançar, legitimando assim as ações do Estado, raison d’état. O Estado por sua vez vê-se na necessidade de manter a ordem e o poder para o bem da nação, assim sendo, podendo agir amoralmente para alcançar seus respectivos objetivos. 80 Os realistas são analistas amorais do sistema internacional, onde o foco encontra-se em poder ou “amoralidade” Maquiavélica, que não vê problema algum com a utilização de violência e engano para promover o interesse nacional. Esta é, pelo menos, a caricatura encontrada na crítica ou mesmo uma consideração simpática sobre a tradição realista. (LANG JR, 2007; 18. Traduzido pelo autor) O Realismo Clássico inicia sua argumentação acerca da necessidade de um Estado que possa oferecer e garantir ao povo, segurança – que neste caso, é um bem comum. O Estado neste sentido tem por objetivo ser um Leviatã, para manter a ordem e proporcionar o funcionamento de todos os interesses e testamentos que compõe sua existência. Cada Estado possui seus interesses, podendo estes ser diferente dos outros Estados; quando os interesses difusos estatais conseguem viver harmoniosamente no âmbito das relações internacionais, a paz (e a segurança) pode ser alcançada sem muitos esforços. Mas, quando os interesses estatais, no âmbito das relações internacionais, mostram-se diferentes e conflitantes, a paz apresenta-se de uma forma mais escassa e ainda com mais esforços para alcançá-la(CASTRO, 2012; 316). A tese principal que permeia o realismo clássico, é que o âmbito das relações internacionais não é igual. Os Estados relacionam-se com diferentes interesses, que vez por outra podem chocar-se. Para Thales: “O cenário internacional é amoldado pelo poder, pela força, pelo interesse. Este último representa um debate, muitas vezes tenso, entre interesse nacional, interesse coletivo e interesse hegemônico no sistema internacional.”(CASTRO, 2012; 316).Os Estados são forjados em desigualdades, promovendo assim uma competição e corrida pelo aprimoramento destes no âmbito da hegemonia, no plano internacional. Esta desigualdade pode apresentar-se no plano: social, econômico, geográfico, geo demográfico e bélico. Este último, por sua vez, culmina na necessidade de aumento de poderio bélico (armamentista) para sua proteção – ou projeção – no cenário internacional. Uma das principais premissas do realismo clássico é, em suma, que as relações humanas e, em última instância, as Relações Internacionais são centradas no poder, tendo a lógica da dominação como seu combustível. Em Hobbes, tal percepção reforça o sentido de “dilemas de segurança”, que é uma situação onde um determinado padrão de desenvolvimento da segurança interna, por meio de investimentos em defesa nacional, pode gerar, com os países vizinhos, situações até mesmo de aumento da insegurança. Em Hobbes, a vida no estado de natureza é solitária, pobre, detestável, bruta e curta. Para evitar tal situação de intolerabilidade de vida, o estado civil vai surgir para salvaguardar a ordem pública, a paz e a segurança dos cidadãos na relação com o Leviatã que imporá a força e o direito para tal finalidade. (CASTRO, 2012; 317) Tendo em vista que Estados, relacionam-se no plano internacional, em busca de ações que garantem seus interesses e sua sobrevivência, quando um Estado mostra-se influenciar, participar e 81 até diretamente operar a ação e a condução de outro Estado, este por sua vez, exerce seu poder de forma eficiente (tendo em vista as teorias clássicas da escola realista). Com base nestas primeiras análises podemos evidenciar a existência de um anarquismo no plano das Relações Internacionais; pois há uma ausência de força, poder e legislação centralizada e aplicada a todos estes Estados. O que vez por outra ocorre, é a aproximação de dois – ou mais – Estados, para a resolução de um acontecimento que envolve a ambos, onde estes utilizam-se de acordos legais mútuos para o alcance dos interesses de todos. Mas ao pensarmos no todo (nos vários Estados e seus próprios interesses), observamos um plano internacional em verdadeira anarquia (relativa), concernente a uma falta de centralidade e legislação internacional reguladora. Podemos entender baseados em suma, nas ideias hobbesianas que o Estado serve para articular o êxito dos interesses, de um sistema, articulado por seres humanos – que possuem também seus próprios interesses e utilizam-se do Estado para alcançá-los. Escola Neorrealista A escola Neorrealista, defendida principalmente pelo Professor Kenneth Waltz, busca uma interpretação e uma análise mais científica das relações “Homem, Estado e Guerra”. Waltz dá um novo argumento às teorias realistas, fundamentando suas explicações nas relações entre: força individual, psicologia, o estado de anarquia no sistema internacional e os sistemas domésticos. É importante percebermos que as análises de Waltz giram em torno do conflito mundial que se estende desde 1945, a Guerra Fria, que nas periferias do mundo encontra-se em choques e em conflitos armados. Seus principais argumentos são que, o sistema mundial bipolar – que perpetua de 1945 a 1991 – atua como um nivelador e ordenador, frente a instável e anárquica ordem internacional entre Estados. A bipolaridade gera, contudo, uma estabilidade, visto que os Estados buscam alinhar-se a uma das duas ordens conflitantes no plano mundial. Assim, os interesses estatais encontram um ponto em comum e baseiam-se e fundamentam-se em torno deste, possibilitando uma estabilidade maior que a anterior existente. As teorias de Waltz conseguem sustentar-se até o ano de 1991, quando o sistema internacional bipolar encontra sua ruína. Com o fim da Guerra Fria, muitas das teorias são revistas, sua teoria de “balança de poder” é revista em alguns aspectos – devido ao novo cenário emergente. Huntington e o “choque civilizatório” Como vimos no realismo pessimista de Mearsheimer e Huntington, este traz a tona uma teoria do choque entre as civilizações. Huntington define grandes civilizações (ocidental, latinoamericanas, japonesa, sínica, islâmica, africana, hindu e ortodoxa) que entrariam em choque no pósGuerra Fria. Quando o combate internacional entre o socialismo e o capitalismo “findaram-se”, o mundo entrara em choque, produzido pela uni polaridade e o choque dessas civilizações. O Dr. Huntington lecionara há quase meio século na Universidade de Harvard, onde desenvolvera teses sobre as correlações entre civilização e conflitos militares. Publicara um livro intitulado: “O Choque Civilizacional e a Recomposição da Ordem Mundial,” com base em teorias realistas e com novas perspectivas do conflito pós Guerra Fria. Huntington defendia a tese de um conflito cultural entre civilizações no pós Guerra Fria, onde as lutas seriam travadas em campos mais 82 profundos na formação dos Estados e de seus interesses.54Vamos a uma análise mais profunda sobre essa tese do Professor Samuel Huntington. Para Huntington, há uma diferença entre cultura e civilização, embora ambas sejam referidas no processo de choque e conflito. Ele afirma que “civilização e cultura se referem, ambas, ao estilo de vida em geral de um povo, e uma civilização é uma cultura em escrita maior” (Huntington, 1997: 46). No pensamento “huntingtoniano”, as várias culturas pertencem a uma mesma entidade civilizacional, ou seja, embora um vilarejo ao norte da Itália possa ter uma cultura diferente da do Sul, ambas partilham de um conceito comum que os tornam – embora culturalmente distintos – iguais enquanto italianos. São como, princípios comuns que formam as civilizações; sendo assim, as várias civilizações chocam-se como placas tectônicas no âmbito das relações internacionais. A sociedade ocidental, com sua economia de mercado, Estado de direito, civilizador dos povos, ataca e entra em choque com diversas outras religiões. Contudo, os povos em sua maioria – as civilizações – buscam aproximar-se deste modelo ideal de “avanço” ou realidade civilizacional. Um exemplo é o caso do Japão, que este quase totalmente ocidentalizado, diferenciando-se, portanto, do mundo islâmico que é antiocidentalização; entrando constantemente em choque com os povos ocidentais, em especial o ocidentalizador, Estados Unidos. As guerras, os conflitos modernos pós-Guerra Fria, estão ligados diretamente a esse conflito entre civilizações, que partilham de diferentes visões culturais, sociais, políticas e econômicas. A África, que durante um grande período, fora levado a uma ocidentalização, chega a uma estagnação no século XX e uma forte influência do islamismo e antiocidentalizador – antiamericano. O conflito cultural, social e particular (histórico) de cada país (Estado), mostra-se um novo desafio na ótica internacional, sendo assim, um desafio para a ordem mundial. Com o fim da Guerra Fria e o alinhamento “automático”, certas características – como já citadas neste parágrafo – dos Estados, mostra-se um desafio nas Relações Internacionais. Podemos observar que as teorias da escola realista, são desenvolvidas e ocorrem num determinado período histórico, ou seja, num determinado período temporal. Mas, seria errôneo pensar que por este motivo, tais teorias perderam suas argumentações no desembocar do século XXI, como vimos, os elementos formadores do pensamento de cada escola internacionalista, pode ainda estar presente nos tempos atuais; um exemplo disto é a política realista clássica, desempenhada pelos EUA no Oriente Médio. Os usos de argumentos do combate ao terrorismo servem apenas para mascarar as verdadeiras intenções e interesses do Estado norte-americano. Como vimos a força (militar) está presente e é uma das formas utilizadas pelo Estado para consolidação de seus interesses. A “lei da Selva” (partindo aqui de uma analogia darwinista com relação aos Estados), onde o Estado mais forte e mais bem preparado (socialmente, politicamente, economicamente e militarmente) possui uma tendência a “sobreviver” – quando digo sobreviver, refiro-me a conquista dos interesses que mantem “vivo” um Estado – neste grande anarquismo internacional. Sobre Samuel Huntington, publicado no New York Times: disponível em <http://www.nytimes.com/2008/12/29/education/29huntington.html?_r=0> Acessado: 01/10/2013 54 83 O contexto geopolítico e internacionalista do século XX e XXI A teoria de Mearsheimer e o pressuposto do realismo pessimista: o grande malogro da paz internacional é a guerra constante causada pela busca dessa paz. A corrida armamentista articulada pelos Estados na busca de segurança gera o “medo” nos Estados vizinhos, levando a intermináveis períodos de guerras, devido a fragilidade de poder no cenário mundial. A guerra é a grande palavra dos tempos contemporâneos, não que essa não fosse utilizada em períodos históricos passados, porém, após o advento da Revolução Industrial e do capitalismo moderno, a guerra mostrou-se um negócio interessante. Uma possibilidade de negociação frente ao idealismo – que visa às resoluções por meio da diplomacia. Para o historiador Eric Hobsbawm (1995), o século XX fora o mais breve de todos, devido aos intermináveis períodos de conflitos; essa análise de Hobsbawm – embora sendo feita ao século XX – pode dar-nos uma pista sobre a condição do próximo século, XXI. A seguir vemos um relato do historiador Hobsbawm a respeito do século XX: Outro motivo, porém, era a nova impessoalidade da guerra, que tornava o matar e o estropiar uma consequência remota de apertar um botão ou virar uma alavanca. A tecnologia tornava suas vítimas invisíveis, como não podiam fazer as pessoas esvisceradas por baionetas ou vistas pelas miras de armas de fogo. Diante dos canhões permanentes fixos da Frente Ocidental estavam não homens, mas estatísticas – nem mesmo estatísticas reais, mas hipotéticas, como mostraram as “contagens de corpos” de baixas inimigas durante a guerra americana no Vietnã. Lá embaixo dos bombardeios aéreos estavam não as pessoas que iam ser queimadas e esvisceradas; mas somente alvos. Rapazes delicados, que certamente não teriam desejado enfiar uma baioneta na barriga de uma jovem aldeã grávida, podiam com muito mais facilidade jogar altos explosivos sobre Londres ou Berlim, ou bombas nucleares em Nagasaki. Diligentes burocratas alemães, que certamente teriam achado repugnante tanger eles próprios judeus mortos de fome para abatedouros, podiam organizar os horários de trem para o abastecimento regular de comboios da morte para os campos de extermínio poloneses, com menos senso de envolvimento pessoal. As maiores crueldades de nosso século foram as crueldades impessoais dedicadas à distância, de sistema e rotina, sobretudo quando podiam ser justificadas como lamentáveis necessidades operacionais. (HOBSBAWM, 1995; 57). Este desabafo mostra a realidade que sucederiam nos próximos séculos. O crescimento da tecnologia militar geraria a impessoalidade, fomentando os combates, a intensificação das guerras geraria uma desordem mundial, onde a paz mostrar-se-ia cada vez mais incerta, fazendo com que os organismos estatais investissem em tecnologia militar para proteger-se, porém, acabariam gerando mais conflitos. É partindo desse pressuposto de anarquia relativa no contexto global de Estados, que os países aperfeiçoam e desenvolvem suas geoestratégias, seus objetivos são a contenção do avanço 84 inimigo e, por conseguinte a ameaça de seu próprio avanço. No caso americano, o pós-Segunda Guerra Mundial implicou-lhes a necessidade de construir um comando militar unificado para a contenção global. Em 1946 é lançada no congresso americano a proposta do UnifiedCombatantCommand, este projeto visto através de uma representação cartográfica, parecenos que esquadrinhara todo o globo terrestre em “fatias” e, em cada fatia havia um setor administrado por um Exército. Os primeiros Comandos Unificados foram para o Extremo Oriente, Pacifico, Alaska, Atlântico, Caribe, Europa e Nordeste (região da Groenlândia). Não se pode esquecer que o pós-Segunda Guerra Mundial, é caracterizado pelo período histórico conhecido como Guerra Fria, devido ao combate político-ideológico entre Socialismo e Capitalismo. Embora não se entrará em detalhes acerca deste período, devemos imaginar esse período de possíveis iminentes conflitos como um dos legitimadores da adoção e articulação de planos geoestratégicos. Os Comandos Unificados foram apenas uma, de um número quase incalculável, de planos geoestratégicos para contenção da ameaça socialista, por parte dos Estados Unidos da América. Após anos de funcionamento e replanejamentos, só observa-se a criação de um Comando Militar específico para o continente africano em meados de 2007-2008; surge-nos então a questão: Porque somente depois de quase sessenta e uns anos de história, que o Estado norte-americano preocupara-se em criar um comando específico para a África? Para responder essa questão, é de suma importância analisar os argumentos utilizados pelos parlamentares e militares estadunidenses para a confecção de tal plano geoestratégico. Do pressuposto, à criação do Comando Militar Africano - AFRICOM Um dos pressupostos para a criação do Comando Militar africano pode ser encontrado em um discurso do Presidente George W. Bush, onde este diz: Em um mundo que é seguro, as pessoas serão capazes de fazer de sua própria vida melhor. Vamos defender a paz, lutando contra os terroristas e os tiranos. Vamos preservar a paz, construindo boas relações entre as grandes potências. Vamos estender a paz encorajando sociedades livres e abertas em todos os continentes. (BUSH, 2002) Podemos neste ponto, facilmente identificar como se mostraria a forma governamental de Bush (filho) na presidência norte-americana, seria o avanço e proliferação dos ideais liberais e democráticos, assim como fora pressuposto por Huntington, em “o choque civilizatório” e a disseminação da ideologia ocidental. Uma das primeiras atitudes de Bush fora o ataque ao Iraque com a prerrogativa de combate ao terrorismo internacional, que em setembro de 2001 havia causado a vida de centenas de norte-americanos no ataque às “torres gêmeas” World Trade Center em Nova Iorque. Embora a discussão sobre as causas do ataque ou o que viria a frente não cabem aqui, a questão é que, o mundo não estava mais sobre o assombro do perigo vermelho (comunismo), agora, porém, o perigo era “verde” (cor da bandeira iraniana e símbolo do islamismo, religião dos acusados de participar em eventos terroristas). O terrorismo é caracterizado pela dificuldade de combatê-lo, 85 pelos dos atacantes “não possuírem” rosto – sendo muito difícil identificar os praticantes do ato terrorista. Uma das alternativas encontradas por Bush para combater o terrorismo, fora o ataque militar maciço, em 2003 é articulada a Operação Liberdade do Iraque (em inglês: OperationIraqiFreedom). Essa já em meados de 2006 mostrava-se muito dispendiosa, custando aos cofres públicos bilhões de dólares. Porém o conflito no Iraque e no Oriente Próximo como um todo, na “busca” do combate ao terrorismo (fazendo aqui uma análise baseada na argumentação oficial), inúmeros grupos terroristas dissidentes dos sucessivos conflitos na região, migraram ao longo dos anos para a África – que já possuía uma grande comunidade islâmica – e uniam-se aos “recém-emancipados” Estados africanos, constituindo assim um perigo para a geoestratégia norte-americana e a manutenção da paz e segurança – primeiramente dos norte-americanos e, por conseguinte, do mundo (pressuposto da escola realista clássica). Em 2007, ainda ocorrendo à guerra no Iraque, o governo norte-americano, lança a proposta de criação do “Comando Militar Estadunidense para a África”, o U.S AfricaCommand - AFRICOM. Seu Quartel General (QG), porém, não ficaria em solo africano, seria sediado em Stuttgart na Alemanha. Com a criação do AFRICOM, os antigos comandos responsáveis pelo continente africano, o US CENTCOM e US EUCOM, poderiam agora dividir suas atividades com o novo comando e ver-se menos sobrecarregados. A previsão de funcionamento total do novo comando era prevista para 2008. O argumento oficial, disponibilizado na website do AFRICOM, relata-nos sua missão, que é: United “Comando Africano, em conjunto com interinstituições e parceiros internacionais, desenvolve as capacidades de defesa, responde a crise e impede derrotas e ameaças transnacionais, a fim de promover os interesses nacionais dos EUA e promover: segurança regional, estabilidade e prosperidade.”55 É facilmente observado a construção do comando militar, como uma forma de manutenção dos interesses norte-americanos na África. Porém, é necessário analisarmos a forma como este obtém seus interesses e quais são eles. Em primeiro ponto, observemos o que pode os Estados Unidos ter em interesse no continente africano. O primeiro e mais perceptível que podemos ver é a posição geográfica do continente africano na disposição global, o continente em si esta próximo dos principais continentes56, sendo um local chave para o fluxo de mercadorias e defesa geoestratégica. Somam-se a estes interesses norteamericanos por ser a África um dos mais ricos continentes em questão natural-mineral. Quase 9% de todas as reservas de petróleo localizam-se no continente africano e quando comparado ao Oriente Médio esse número aumenta para 62%57; estas reservas, contudo, mostram-se em sua maioria, Missão do U.S AFRICOM. Disponível em: <http://www.africom.mil/about-the-command>. Acessado em: 12 de Nov. 2013. 55 56 Europeu, Asiático, Americano e Oceania. Africa, China, the United States, andOil. Disponívelem: <https://csis.org/story/africa-china united-states-and-oil>. Acessado em: 14 de Nov. 2013. 57 86 inexploradas, sendo uma boa oportunidade para empresas internacionais58. Não seria diferente aos interesses norte-americanos, que necessitam de energias fosseis para abastecer seu largo consumo. Outro fator de interesse na geopolítica internacional norte-americana tem a ver com a guerra ao terror – já comentada acima – e seus mecanismos de repressão internacional aos seus grupos extremistas. Como vimos, a guerra no Oriente Médio desde os anos 1980 – embora tendo variado o inimigo comum – legitima o interesse norte-americano pela região africana, principalmente no lado oriental – Chifre da África –, que se mostra palco dos mais intensos conflitos internos na região africana. Aliada do topo da escala pós-Guerra Fria, nos últimos anos, três fatores contribuíram para uma renovação do interesse estadunidense pela África: a consolidação do continente como importante exportador e outros recursos naturais; o combate ao terrorismo; e a crescente presença da China na África. (ECOSTEGUY, 2011; 71). A preocupação norte-americana não “se limita” apenas ao combate ao terrorismo, vale lembrar-se dos graves problemas epidêmicos e humanitários enfrentados por diversos países africanos. A AIDS/HIV são as principais ameaças infecciosas presentes no continente africano – não generalizando essa afirmação. A maior parte das missões divulgadas via website são de cunho humanitário, ficando apenas para os registros documentais, citações sobre ações com emprego de força. Um dos programas de ajuda médica é o MEDCAP (Medical Civil ActionProgram), responsável pelo combate a doenças; uma parceria com profissionais locais e militares do Africom. Quando o Africom fora proposto e anunciado, alguns Estados africanos mostraram-se desgostosos e não aderiram de perto à iniciativa norte-americana. Devemos observar os argumentos utilizados por estes para o “não apoio” do plano de “ajuda” humanitária e militar oferecida aos Estados africanos. As resistências à criação do Africom A princípio, alguns países aceitaram de perto a iniciativa estadunidense de ajuda, outros, porém, os viram como uma forma de “neoexpansionismo” essa aproximação norte-americana; o Expresidente George W. Bush possuía – e ainda possui – uma imagem de grande expansionista pelo petróleo do Oriente Médio. A guerra empreendida contra Afeganistão e Iraque, mostrara-se mais para a busca de uma rede segura de petróleo do que um combate aos antigos atacantes do World Trade Center. Por este estereótipo criado, ficara difícil para alguns posicionarem frente a essa nova iniciativa de criação de um comando especifico para a África – não está sendo discutido aqui os reais fundamentos da criação do Africom, antes porém, o pensamento vigente na época. Para alguns jornalistas africanos, a futura presença norte-americana na África, mostrava-se pelo puro interesse na 58 Idem. 87 extração de petróleo, urano e outros minerais importantes, tanto para a indústria energética, quando para a “indústria da morte” – indústria armamentista. Uma jornalista queniana se expressa frente ao anuncio do Africom “It willmilitarisesociety”59 (Isso irá militarizar a sociedade – tradução do autor). Essa opinião é uma amostra da situação vivida pelo Quênia e outros países africanos, que possuem intensos conflitos étnicos ainda hoje e, uma possível militarização da população poderia fomentar ainda mais estes conflitos e as mortes. Existe uma iniciativa de organizações estadunidenses e africanas que combatem veementemente a presença norte-americana na África60, possuindo até um website para tais propagandas de opinião.61 Durante a pesquisa neste website, fora encontrado um documento denominado “MilitarisingAfrica: a guidebook” de autoria de ChiomaOruh62, este documento mostrase comparável a um manifesto frente à iniciativa norte-americana na África. Durante sua leitura, na página trinta e oito, observamos que devido a forte pressão de governos africanos (não citados pela autora quais foram), pela sociedade e opinião pública africana, o Quartel General do Africom não pode ser instalado na África; muito embora, a Libéria (antiga colônia norte-americana) havia se mostrado favorável a tal instalação em seu país. Essa aproximação norte-americana na África encontra tanto apoio quanto resistência, devido aos históricos de “ajudas” internacionais empreendidos por nações internacionais em solo africano. Porém, para perceber se a ação estadunidense visa apenas à ajuda internacional a seus parceiros africanos, deve-se analisar um ponto fundamental, o desenrolar econômico americano após sua aproximação com a África, ver se tais aproximações aumentaram ou não a poupança norteamericana, que desde 2008 enfrenta problemas devido à crise econômica e talvez analisar se a aproximação com os países africanos e a criação do Africom fora uma alternativa à crise econômica de 2008. O U.S AFRICOM A presença norte-americana na África após 2007 mostra-se pela imposição do Comando Militar dos Estados Unidos para África, o Africom. O Comando Militar dispõe de instalações na Alemanha, em Stuttgart; o número de militares que compõe o Africom fica em torno de duas mil pessoas – incluindo militares de carreira e não militares. Em 2013, o Comando do Africom está sob a responsabilidade do General David M. Rodriguez. Já passara pelo Comando dois Generais. O Comando Militar, Africom, tem sob sua subordinação as seguintes instituições: A. U.S. Army Africa (USARAF); The controversy over Africom. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/7026197.stm>. Acesso em: 7 de Jun. 2012. 59 60 Uma delas é o ResistAfricom. 61 http://salsa.democracyinaction.org/o/1552/t/5717/signUp.jsp?key=3094 62 http://www.congoweek.org/pdf/militarism_africa.pdf 88 B. U.S. Naval Forces Africa (NAVAF); C. U.S. Air Forces Africa (USAFAF); D. U.S. Marine Corps Forces Africa (MARFORAF); E. Combined Joint Task Force-Horn of Africa (CJTF-HOA); F. U.S. Special Operations Command Africa (SOCAFRICA). É com essa logística militar que o Comando Militar estadunidense para a África busca alcançar seus interesses. Nossas tarefas militares mais importantes são: 1) Deter ou derrotar a AlQaeda e outras organizações extremistas violentas que operam na África e negar-lhes refúgio seguro. 2) Fortalecer as capacidades de defesa dos estados-chave africanos e parceiros regionais. Através do envolvimento permanente e personalizado; ajudá-los a construir instituições de defesa e as forças militares que são capazes, sustentáveis, subordinadas à autoridade civil, que respeitem o Estado de Direito, e comprometidos com o bem-estar de seus concidadãos. Aumentar a capacidade dos estados-chave para contribuir para as atividades militares regionais e internacionais que visam a preservação da paz e combate às ameaças transnacionais à segurança. 3) Assegurar o acesso dos EUA e pela África, em apoio das necessidades globais. 4) Esteja preparado , como parte de um todo de abordagem do governo, para ajudar a proteger os africanos de atrocidades em massa . A maneira mais eficaz de fazer isso é através do nosso compromisso contínuo com os militares africanos. 5) Quando dirigiu, fornecer apoio militar aos esforços de assistência humanitária (TRADUZIDO PELO AUTOR. United StatesAfricaCommand, General Carter F. Ham, Stuttgart - . Alemanha, em agosto de 2011). O Africom é responsável pelo treinamento e preparação militar dos países-parceiros na África. O treinamento militar é oferecido por programas de ajuda e integração de determinado país com os EUA. Operações e exercícios são articulados entre as divisões armadas do Comando Militar e os Estados africanos interessados nessas ações. Importante salientar e mostrar a participação dos EUA em uma Operação militar em conjunto das forças armadas da Libéria, na OperationOnwardLibertyde 2012. Em 2011, ocorrera a OperationOdysseyDawn, uma operação aérea na Líbia, responsável em dar apoio as forças contrárias ao ditador-presidente Gaddafi na Líbia durante as insurreições contra seu governo. Esses são alguns exemplos que a participação dos EUA na África não se limita apenas a ajudas humanitárias ou acordos diplomáticos, a participação militar americana estende-se à sua inserção em teatros de operação e operações militares. Porém, o foco do Africom, tem sido na capacitação dos militares africanos e dos líderes de Estado. Não é a primeira vez que os Estados Unidos oferecem “treinamento militar” para um país; citarei aqui o exemplo do Brasil. No curso de 1942, sob o governo do Presidente Getúlio Vargas, viu-se a necessidade de uma formação altamente qualificada aos militares de alta patente do Exército Brasileiro. É implementada assim a “Lei de Ensino Militar” que exigia a participação de generais e 89 coronéis em cursos de formação em alta administração e assuntos militares. Após a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e o “início” da Guerra Fria em meados de 1948, fora criado a Escola Superior de Guerra, fundada e ideologicamente baseada na National War College – instituição americana de mesmo segmento. Alguns militares brasileiros cursaram essa escola – alguns nos EUA e outros com a versão brasileira, ESG – e, passaram a formar uma elite militar intelectualizada e burocratizada, a chamada Sorbonne. Militares como: Humberto de Alencar Castelo Branco, Golbery do Couto e Silva, Juarez Távora, etc. Os pontos principais, aprendidos com o colégio americano e disseminados na formação da ESG eram: 1) Proteção Nacional e 2) Segurança Nacional. Em termos de proteção, caracterizava-se a questão das fronteiras e dos espaços físicos; na questão de Segurança, era a proteção ao comunismo (SILVA, 1984; 356-358) – principal ameaça ao mundo ocidental (capitalista) na Guerra Fria. Para Hélio Silva (1984), o golpe civil-militar na democracia brasileira foi lograda por influência direta destes generais participantes da ESG – com base de pensamento estadunidense – e, até mesmo, apoiada ideologicamente e logisticamente pelos EUA. Com este pressuposto advertido aqui, podemos pensar na participação militar estadunidense na África nos anos atuais. Essa experiência histórica brasileira legitima a crítica apresentada pela jornalista africana Salim Lone a respeito da participação e inserção militar norte-americana na África em tempos atuais. Pressupõe-se que a presença norte-americana pode estar intrinsecamente ligada à formação de uma elite – assim como os “Sorbonne” no Brasil – legitimadora e apoiadora dos projetos e interesses estadunidenses na África. Para não fugir do tema “África” e pautar-se ou basear-se na realidade brasileira, que se mostra diferente da vivida pela história africana, voltemos a análise do produto histórico gerado pela implementação do Africom à realidade geopolítica africana. Utilizaremos a hipótese comparada da experiência histórica brasileira para a resposta da hipótese histórica africana, afinal a brasileira mostra-se – de acordo com a fonte apresentada – respondida, a africana, busca ainda suas respostas. Embora a Guerra Fria tenha acabado, e o inimigo comum do mundo ocidental – o socialismo soviético – tenha se mostrado ineficiente, surgira desse conflito, ou até mesmo no decorrer dele, novos inimigos – que como já citados – configuram o combate internacional e treinamento militar para aniquilação do tal “terrorismo internacional”. O principal pressuposto da presença militar norte-americana na África é legitimado e argumentado como uma forma de combater o terrorismo além-fronteiras e impedir a morte de americanos residentes nos países africanos, bem como, na impossibilidade deste atingir o próprio continente americano – deve-se lembrar aqui do caso “11 de Setembro de 2011”. Por conseguinte, com o sucesso do combate a este “inimigo comum”, os interesses estadunidenses podem ser alcançados na África; surge-nos uma questão: não fora este mesmo acontecimento vivido na experiência brasileira? Sim. Primeiro o combate era ao comunismo e suas influências e com esse objetivo sendo alcançados, os interesses norte-americanos viam-se logrados com êxito. O terrorismo internacional é fortemente vinculado ao islamismo e a jihad, os grupos islamistas e principalmente árabes-muçulmanos, baseiam-se no não alinhamento ou aproximação com os EUA no plano político. Uma figura celebre dessa afirmação é o ex-presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, que argumentava acerca de um combate a ocidentalização do mundo árabe – embora tenhamos que observar que a grande ameaça perceptível de Nasser era o Estado de Israel que feria os 90 interesses geopolíticos egípcios. Nasser pressupunha um socialismo não marxista contra os interesses e hegemonia israelense-estadunidenses, dentro da África, na região magrebina. No contexto atual, cabe-nos analisar se o combate a este “terrorismo internacional” – comoé chamado pelos EUA – não se mostra apenas como uma retórica para argumentar sua presença em solo africano e para a obtenção dos interesses estadunidenses na África – tendo em vista que a tendência dos países e líderes árabes Anti-Estados Unidos é a “não” aproximação. Os gastos com o Comando Militar, mostram-se até o momento, em torno de 900 milhões de dólares (de 2010 á 2012)63. A presença militar americana na África não mostra-se eficaz ou “ameaçadora” em relação a uma possível invasão ou ameaça logística. Sua ameaça está no fato de constituir uma elite militar “intelectualizada” a serviço de seus interesses; o apoio militar, os treinamentos, pressupõe uma cooptação das elites locais, do exército estabelecido em Estados independentes recentes e alguns nem tão estáveis. A presença militar americana na África, mostra-se durante seus primeiros anos, como uma simples aproximação e estabilização de acordos diplomáticos, abrindo caminho para futuros acordos e presença efetiva. Não podemos esquecer que a presença chinesa na África tem aumentado ano após ano e configura uma ameaça aos interesses norte-americanos. A cooptação da elite militar local e a criação de um grupo apoiador dos interesses norte-americanos, serve como uma estabilização e mantenedor da presença e perspectiva política dos EUA na África. Considerações Finais Os processos históricos registrados pelas grandes potências, em busca de seus interesses – pautados em perspectivas econômicas – mostraram-se desmedidas ao longo dos anos, provocando a morte, a guerra e as instabilidades e desigualdades sociais em todo o mundo. O cenário internacional é fundado na lei de sobrevivência do mais forte, do mais bem armado e treinado, pressupondo a derrota e a falência do menos desenvolvidos. Por quase 500 anos, a África fora palco de intensas lutas de interesses externos, sendo apenas um coadjuvante no seu próprio processo histórico e projeção internacional. Essas amarras tendo sido “retiradas” no século XX e, países recém-independentes na África, possuem a possibilidade de caminhar seus desejados rumos, trilhar seus próprios caminhos. Porém se veem inseridos em um mundo igual ao anterior, num cenário caótico e desumano, onde o mais forte, mais bem preparado sobrevive. Suas recém-vitórias no campo da emancipação pressupõem a necessidade de apoiar-se em outras nações, em busca de acordos bilaterais para o desenvolvimento gradual de suas instituições. O que encontram, porém, são Estados inclinados em garantir seus próprios interesses, embora se utilizem de retórica bilateral, no plano concreto articulam-se unilateralmente. Num contexto contemporâneo, de escassez de recursos energéticos fosseis e do malogro consecutivo do sistema econômico liberal (1929, 1973, 2008) os Estados africanos necessitam cautela as retóricas internacionais, para não repetirem os erros e anseios do passado e lançarem anos de luta árdua “por água abaixo” e terem de regressar ao tempo (difícil e obscuro) em sua própria época (de prosperidade e “liberdade”) e serem vítimas de seus próprios interesses e anseios. 63http://www.africom.mil/about-the-command 91 Referências ADEN, Chris.China in Africa. New York. Zed Books, 2008. Africa, China, the United States, and Oil. 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Partindo dos primeiros empreendimentos de LucienFebvre, que publicara uma obra intitulada "A Terra e a Evolução Humana" (1922), a Geo-História começa a tomar forma como uma nova possibilidade de campo histórico, até se delinear mais claramente com uma das mais emblemáticas obras que foram constituídas na conexão deste campo histórico com outros, tais como a História Econômica e a História Política. Palavras-chaves: educação, espaço, urbanização, sociedade Introdução A GeoHistória é o campo histórico que estuda a vida humana no seu relacionamento com o ambiente natural e com o espaço concebido geograficamente. É com Fernando Braudel (1949) que este campo começa a se destacar, passando a se definir e a se encaixar nos estudos históricos de “longa duração”. Por outro lado, a GeoHistória pode se dedicar mais especificamente ao estudo de um aspecto transversal no decurso de uma duração mais longa, Conforme se vê, a GeoHistória deve dialogar necessariamente não só com a Geografia, como também com outras ciências. O Objetivo deste trabalho foi verificar as a dimensão espacial e as transformações da educação no município de Diadema, no período compreendido entre os anos 1949 e 2014. O recorte temporal inicia-se com o aumento da importância urbana da região no panorama do desenvolvimento da região metropolitana de São Paulo.A hipótese a ser testada é que a apropriação do conhecimento ocorre de forma específica em função do local e do tempo de acordo com os usos que são feitos (CERTEAU, 2003) 64 Herbert Schutzer – Mestre em Geografia, Prof do Centro Universitário Estácio Radial e Faculdade Diadema. 65 Paula da Paz Pinheiro – graduanda de Pedagogia da Faculdade de Diadema. 66 Lucélia Nunes de Almeida – graduanda de Pedagogia da Faculdade de Diadema. 67 Maria C Godoi – graduanda de Pedagogia da Faculdade de Diadema. 94 das ideias e das propostas para a educação. Foi com essa perspectiva que foi escolhido como objeto de estudo o município de Diadema do período. Metodologia O estudo compreende as escolas municipais, estaduais e na rede particular, identificando aspectos facilitadores e dificultadores desse processo. Com os resultados em mãos, pretende-se propor conteúdos e metodologias para abordagem do tema e mapear temporalmente as estruturas escolares instaladas.O estudo tem sua dinâmica através de encontros, realizados através de reuniões quinzenais onde serão discutidos temas específicos dos projetos de Iniciação Científica e elaboração de trabalhos. Além disto, o grupo de pesquisa terá encontros de tutoria e orientação. Nas reuniões será estimulada a apresentação de palestras pelos alunos. Serão realizadas duas atividades: um ciclo de palestras aberto à comunidade sobre desenvolvimento dos estudos e uma amostra com os trabalhos desenvolvidos pelo grupo. Toda a literatura utilizada será organizada em forma de uma biblioteca setorial. Os alunos serão estimulados a elaborem e apresentarem cursos para o Ensino Médio e Fundamental sobre os estudos da educação que estejam sobre objeto de estudo. Resultados e Discussão A municipalização do ensino tem raízes históricas profundas e é alimentada por argumentos relacionados aos potenciais benefícios da descentralização para a participação da sociedade, embora ainda não existam estudos ou discussões aprofundadas sobre seu impacto na qualidade de ensino. Trata-se de um fato consumado da administração pública, com o qual cada vez mais prefeitos e secretários da Educação municipal têm de lidar. Para isso, precisam enfrentar duas grandes questões: a fragilidade financeira dos municípios, muito dependentes da União, e a inexistência de um regime efetivo de colaboração entre estados e municípios. Os municípios ganharam considerável autonomia com a Constituição de 1988, com fontes de financiamento definidas e descentralização normativa, o que permitiu aos estados autorizar a criação de municípios, num processo que gerou uma explosão de microcidades: um quarto das cidades brasileiras nasceu entre 1988 e 2000, quando o poder normativo voltou para as mãos do governo federal. 95 Figura 1- A municipalização da Educação no Brasil Outra característica do processo é que, embora os municípios tenham passado a ter relativa autonomia para gerir recursos, as fontes próprias são poucas para aqueles que não têm pujança econômica. Com crescimento desordenado, acentuado a partir dos anos 70, Diadema chegou no ano 2000 na posição 245 no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano do estado de São Paulo, com renda per capita próxima a um salário mínimo. A população de 8,8 mil habitantes em 1957 (ano da emancipação) multiplicou-se: está perto de 400 mil habitantes, com densidade de mais de 12 mil por Km². Desde o início havia muitos problemas na organização da educação de Diadema, pois a demanda era muito grande, os prédios existentes não comportavam o grande número de alunos, e o número de escolas estava muito aquém da necessidade, o que exigia alguns rearranjos para suprir a demanda. Considerações finais Em suma, trata-se de perceber, aqui, o encontro de perspectivas distintas da educação em Diadema, com instrumentos de análise e de ação específicos. Dessa forma, encontrar no espaço urbano da cidade a difusão espacial e humana que a educação municipal busca atender em cumprimento da lei. 96 Referências CERTEAU, Michel de. A Cultura no Plural. 3ª ed. Campinas: Papirus, 2003. IBGE. Cidades. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php. Acessado em: 23/08/2014. PAULINO, Simone Fabrini.Em busca da escola democrática: meios e modos de participação na escola São Vicente–Diadema/SP. Dissertação de Mestrado em Educação. PPGEd/Currículo/PUC, São Paulo, 2009. RAMOS ESQUIVEL, Sylvia,Diadema: sua história. São Paulo: João ScortelliEditora, 1988. WEBER, Max. Conceitos Básicos de Sociologia 97 Estado-Nação e território sem Estado: África Subsaariana Herbert Schützer Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, História, campus Santo Amaro68 Resumo Os conflitos sistemáticos que ocorrem na África Ocidental subsaariana apesar da existência de organismos que procuram articular as relações dos Estados da região interna e externamente, constituem-se na pedra angular desta perspectiva de compreensão da sua natureza. Partindo dos recentes conflitos ocorridos no Mali em janeiro de 2013, buscou-se identificar suas causalidades da perspectiva dos poderes que se materializam no espaço e que possuem função ordenativa e regulatória, o do Estado Nacional, o da Linhagem e o religioso de origem islâmica. A sobreposição no mesmo espaço, dos três poderes materializados por diferentes instrumentos prescritivos e regulatórios naturalmente geram conflitos podem ou não resultar na instabilidade da região. Nesta linha, confrontamos as naturezas de cada um deles e suas assertivas coincidentes e conflitivas. Palavras-chave: Espaço, poder, Estado, linhagens e religião. Introdução A crise no Mali do começo de 2013 reavivou os temas do terrorismo e do neocolonialismo europeu do século XIX e sua continuidade. Diferentes interesses se reacenderam, as potências com a sombra do terrorismo e as potências médias em expansão com a regeneração fundamentalista da neocolonialismo. A presença da França na região ocidental subsaariana, área de suas ex-colônias, bem como a intervenção nos conflitos entre o governo e forças rebeldes do país africano, provocou reações dos países do sul, as chamadas potências médias, com declarações reticentes em relação a intervenção francesa e apoio do recém parceiro próximo da União Europeia a Alemanha. Esta última já envolveu o Bundeswehr(Exército alemão) para apoio logístico ao Exército francês, assim como a União Europeia que formou uma missão para o país africano, que contará com 500 soldados alemães.A crise do Mali e as recentes crises atuais que ocorrem nessa continente porção parecem de natureza totalmente diferente daquelas que afetavam os países africanos nos anos posteriores à independência. A legitimação das construções nacionais nascentes após a Guerra Fria em pouco mais de uma década de um novo cenário socioeconômico de caráter liberal, as empresas multinacionais, ávidas por matérias-primas e por lucros, substituíram, na prática, os governos africanos, semeando golpes e corrupção desestabilizando à inserção em marcha forçada na globalização econômica.Os golpes de Estado na Guiné Bissau (setembro de 2003 e 2012) e em São Tomé e Príncipe (julho de 2003), tentativas de golpe na Mauritânia e em Burkina Faso (outubro de 2003), deposição de Charles Taylor, por uma rebelião, na Libéria (agosto de 2003), agitação política no Senegal (em 2003), desestabilização da Costa do Marfim (a partir de setembro de 2002, e 20102011), golpe de Estado no Níger (2010), entre outros. A África ocidental parece ter se instalado na 68 Mestre em Geografia, Professor do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 98 crise política de forma permanente e são geralmente creditadas, erroneamente apenas aos maus governos. Como a percepção sobre os governos militares que se espalharam pela região após a descolonização, eles tinham dificuldades para a aceitação dos governos civis, que contribuía para desestabilizar dos governos democráticos que emergiram com o fim das ditaduras militares. Embora esse setor de segurança não possa ser deixado de lado na consolidação da democracia, ele não é o único ator a ser considerado pelos Estados na busca pela estabilização política e social. (HOUNGNIKPO, 2012). A aceitação pelos militares da autoridade civil — a doutrina do controle civil — continua a ser uma peça em falta no xadrez da transição democrática em África. Para a democracia criar e aprofundar raízes no continente, o sector de segurança deverá tornar-se um parceiro disponível no processo de consolidação democrática. Materiais e Métodos Neste artigo nos propomos a apresentar algumas questões relativas a geopolítica da porção ocidental da África, contrapondo o Estado a outras forças existentes, como: o poder tradicional (das linhagens) e a penetração da religião islâmica, frente a organização do espaço e dos poderes nele constituídos como norteadores da ordem segundo suas escalas. Também procuramos perceber as assertivas construídas por engenharias políticas alternativas a tradição dominadora do Estado e por outro lado, as zonas de tensão que são responsáveis pelos conflitos.Não se pretende aqui discutir a gênese das disputas, até porque há muitas controvérsias entre os especialistas e explicações monocausais que atribuem um peso maior para este ou aquele motivo são inadequadas para explicar os fatos que se reproduzem na porção ocidental subsaariana e no restante da região. É difícil determinar as origens das instabilidades e conflitos, mas a debilidade institucional e as diferenças culturais contribuem para a construção de uma situação de instabilidade permanente.Os objetivos exigem que primeiramente se conceitue cada uma das forças que ocupam o mesmo espaço na região. Em seguida, procuramos historicizar buscando perceber sua dinâmica no ordenamento e controle socioeconômico e finalmente apresentamos algumas tentativas de superação das tensões e, consequente, encaminhamento para a resolução dos problemas que desde o século XIX atormentam as populações da região. Resultados e Discussão A África Ocidental tem 15 Estados‐membros, dos quais 12 são países costeiros juntos estes países se estendem por uma área de 1.500.000 km², o que representa 17% do território de todo o continente africano. É uma das regiões mais pobres e vulneráveis, que enfrenta sérios desafios relacionados a falta de boa governança, fraco crescimento econômico e o crime organizado (UNODC, 2010). A crise na região é acompanhada presença francesa nessa porção subsaariana, que não é ocasional, na realidade os franceses nunca abandonaram a região de suas ex-colônias, concederam independência aos seus territórios que formaram novos países na segunda metade do século XX, porém permaneceram apoiando os governos que se formaram. Dessa forma procuravam e procuram garantir seus interesses econômicos e políticos nesta porção da África. Num mapa da África ocidental os agrupamentos de países ou mesmo da região as fronteiras demarcadas nunca são fixas, elas são categorias criadas pelo poder político dos Estados Nacionais e 99 crescem ou diminuem devido a vários fatores, que podem ser de natureza política, econômica, cultural ou linguística. Pode-se também elaborar mapas que possuem limites categorizados, tornando ainda mais flexível os limites territoriais da região.As divisões são úteis até certo ponto, mas elas também só contam parte da história da região, porém permitem delinear a complexidade regional e as tensões derivadas dela. Uma das grandes preocupações é a situação de instabilidade os países da África ocidental procuram darrespostas coletivas através de organismos regionais e internacionais. Por exemplo, a resposta da United Nations Office onDrugsand Crimes(UNODC)aos desafios apresentados pela região e ao pedido de apoio daCEDEAOtemsido deconceber uma estratégia multilateral transversal baseada noprincípioda responsabilidade partilhada, onde a construção da paz, a reforma do setor da segurança, o desenvolvimento institucional nacional e os esforçosde capacitação seriam implementados de forma mais eficaz,com vistaacontribuir para a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento socioeconômico em benefício do povo da África Ocidental. Este é o objetivo do Programa Regional do UNODC para a África Ocidental para o período 2010‐2014. Podemos afirmar que, além dos problemas conjunturais da sobreposição de poderes, o crime organizado é mais uma força a desestabilizar a região, muito embora ele não tenha interesse no controle e organização do território. O objetivo geral do Programa Regional é contribuir e apoiar os esforçosdos Estados da África Ocidental, bem como das organizações das sociedades civis regionais, para responder às ameaças crescentes à segurança, como o tráfico de drogas, promover os direitos humanos e o Estado de Direito e a boa governação. Através deste programa, o UNODC pretende prestar a assistência da forma mais eficaz, adotando assim uma abordagem multidisciplinar, e complementando as funções e os esforços com osparceirosmultilateraise bilaterais. O apoio para a harmonização interna dos países da região também é feito pelo CEDEAO e BAD, que produziram programas de incentivo ao desenvolvimento, como o: Regional IntregrationStraregyPaper For West Africa 2011 – 2015. Apesar de muitos desafios e realidades regionais, o progresso rumo à integração tem alcançado evolução econômica que combinada com a dinâmica política podendo contribuir para a construção de novas engenharias políticas de harmonização dos interesses manifestados pelos poderes que lutam para prevalecer em cada Estado da região. Medidas internas procuram reforçar a participação política dos atores e da sociedade civil no processo democrático, elas têm como objetivo por em movimento a engenharia administrativa do país, que promove a desconcentração, como na Libéria e Guiné-Conacry, por exemplo. Para conciliar o pode formal do Estado com o poder tradicional local através da estrutura participativa. Muito embora encontre obstáculos intrínsecos à natureza dos poderes, como os citados anteriormente. Considerações Finais A manifestação dos três poderes no espaço da África ocidental é um dos motivos da instabilidade regional e dos constantes conflitos armados nas últimas décadas. A natureza diferente 100 de cada um deles implica em interesses e objetivos diversos e conflitantes que encaminham para uma luta pela preponderância no espaço/território. Embora tenham como finalidade o bem estar da sociedade, radicalizam quanto ao modelo de organização que defendem.Contudo, projetos patrocinados por instituições internacionais, regionais e governos nacionais buscam promover articulações que possibilitem a harmonização dos interesses antagônicos, cujos objetivos mais amplos são os da pacificação política e desenvolvimento econômico. Sem esses pressupostos não acreditam na superação das divergências e conflitos.A possibilidade de se alcançar a pacificação da região ainda é um projeto que se apresenta frágil diante das disputas entre os poderes nos vários países da região. Há a continuidade dos golpes de Estado, das ações de grupos rebeldes, as ameaças das organizações criminosas e dos movimentos separatistas, tornam-se obstáculosaos projetos em desenvolvimento. Somente a médio e longo prazo poderemos afirmar que as propostas de harmonização dos poderes constituem-se num caminho para solucionar o problema na região subsaariana ou não. Por enquanto, os poderes continuam lutando para se estabelecerem como dominantes, em condições desiguais combatendo de acordo com suas possibilidades de enfrentamento. Assim, a África ocidental continuará por algum tempo, ou muito tempo o palco dos conflitos constantes no mundo contemporâneo. O que deve exigir maior participação da comunidade internacional para amenizar o sofrimento das populações atingidas pela tragédia dos conflitos. A recente crise do Mali confirma o quadro dramático de intermináveis conflitos e das diferentes perspectivas e interesses internacionais nesse panorama. Bibliografia AMBIRE, Juarez Donizete. África: tradição e cotidiano. Revista do Professor, edição 13 – agosto/setembro de 2010. Disponível em: http://www.revistaoprofessor.com.br/wordpress/?p=616. 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Na recente aquisição por uma empresa americana, a pesquisa busca compreender os conflitos que surgem durante o período de adaptação. Investiga a cultura organizacional e a gestão da mudança ao analisar a comunicação interna referente à aquisição e, a percepção da gestão desse processo de transformação e suas consequências no clima organizacional. Por ser um estudo exploratório foi conduzido a partir de fontes primárias com base na coleta dos dados obtidos por meio de pesquisa qualitativa junto aos colaboradores. Palavras-chave:Aquisição, Cultura Organizacional, Clima Organizacional, Estratégia Introdução Atualmente, com a globalização, a administração empresarial requer a necessidade constante de mudanças, tanto em seu portfólio, como em seu modo de administrar e de divulgar seus negócios. Deve estar alinhada com a missão e visão da empresa, e num processo natural ao longo da existência. Porém, para que este processo de mudança tenha sucesso, deve existir liderança e confiança por parte de todos os envolvidos. Na última década várias fusões e aquisições marcaram o mercado brasileiro e uma delas envolveu o setor varejista de farmácias. Por uma questão ética será denominado daqui por diante a adquirida como Brasilis e a adquirente como América. A Brasilis conta com uma rede de cerca de 50 lojas pulverizadas pelo Brasil; marcada por um modelo organizacional caracterizado pela estrutura familiar. Comprada na última década pela América, empresa com atuação principal no mercado norte americano, onde conta com mais de 7.000 lojas. O crescimento da rede ocorreu pela estratégia de crescimento de integração horizontal, caracterizado pela compra de pequenas redes de farmácias locais, na busca da liderança mundial em vendas de produtos do segmento farmacêutico. 69 TALIATA DANIELLE PRATES - Bacharel em Administração pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 70 RENATO RICHTER - Mestre em tecnologia e Professor Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 103 Partindo desta aquisição, o propósito deste artigo visa entender como os colaboradores no Brasil se sentem com essas mudanças, e se os mesmos passam por dificuldade perante as mudanças culturais. De acordo com Schein (2009) quando as empresas crescem podem se diferenciar em várias subculturas, normalmente em linhas de produtos, funções, geografia e posição hierárquica. Neste contexto é preciso alinhar culturas e subculturas, principalmente em casos de fusões e aquisições, pois as mudanças culturais influenciam o funcionamento da empresa em diferentes aspectos. Cabe às lideranças gerenciar tais mudanças para assegurar que sejam coerentes com a missão e objetivos da organização. O método utilizado nesta pesquisa foi qualitativo, pois permite maior profundidade dos resultados por oferecer a compreensão das particularidades do comportamento dos indivíduos na busca da interpretação dos fatos estudados. A investigação utilizou questionários, que se caracteriza por ser “um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (Marconi; Lakatos, 2003). Além de garantir o anonimato dos entrevistados, proporcionou segurança nas respostas sem que houvesse influência do pesquisador. Pela característica qualitativa as perguntas abertas foram apropriadas, pois permitiram liberdade nas respostas. Os questionários foram entregues aos colaboradores da área de manutenção e operação para investigar o processo de comunicação interna sobre esta aquisição e, a adaptação e dificuldades em relação à nova cultura organizacional. Tal delimitação foi necessária, pois neste momento não foi possível aplicar um modelo quantitativo e estatístico para todos os colaboradores devido ao processo interno que ainda ocorre com a aquisição. Fez parte também a pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado e assuntos propostos relacionados com o objetivo da pesquisa. - FUSÕES E AQUISIÇÕES COMO ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO. Entre os objetivos mais comuns para as fusões e aquisições está a necessidade de resolver deficiências competitivas da empresa em relação a aspectos mercadológicos, tecnológicos e de gestão. Para Oliveira (2001), aquisição corresponde à situação onde uma empresa ou investidores adquirem, total ou parcialmente, o controle de outra empresa, atuante ou não do mesmo ramo de natividade. A estratégia de aquisição é diferenciada, pelo fato da compra não adicionar, mais uma empresa ao setor. Alguns fatores atrativos para a entrada de um novo competidor são os mesmos que levam o candidato à compra. Deve-se analisar primeiramente, o fato de que o preço de uma compra é definido no próprio mercado das empresas (OLIVEIRA, 2001). Barros (2003) sinaliza duas condições para uma empresa adquirir outra: uma seria a maximização do valor da empresa, a outra, a forte motivação dos diretores. Ambas estão relacionadas, pois as razões dos diretores devem ter como consequência o aumento do valor da empresa. A estratégica de aquisição de uma empresa supre deficiências ou pontos fracos de questões mercadológicas, como de inovações tecnológicas e talentos de gestão (RASMUSSEN, 1989). Ou seja, a aquisição em muitos casos, é uma alternativa, que pode garantir o desenvolvimento e crescimento do empreendedor para cumprir os objetivos elaborados pela gestão sobre seu plano estratégico. Como vantagens deste negócio há a redução dos riscos e custos para expandir em uma nova linha de negocio ou produto, o que amplia o poder de negociação de mercado diante de clientes e fornecedores, além dos benefícios fiscais que podem surgir diante deste tipo de transação. 104 Acredita-se que quando uma empresa eficiente compra outra empresa menos eficiente, o conhecimento passa a ser compartilhado, e essa sinergia ocorre principalmente em empresas do mesmo setor. É sempre necessário que se faça uma boa avaliação das empresas envolvidas, sem deixar de considerar suas culturas organizacionais, pois essa é a causa de muitos fracassos neste tipo de transação, pois culturas diferentes podem gerar problemas no longo prazo. Os processos de aquisição, com papel crescente na economia globalizada, envolvem empresas de diferentes portes e países, e respondem às necessidades competitivas das grandes empresas, regidas por nova lógica produtiva. Esses formatos organizacionais implicam diferentes tipos de estrutura e de relacionamento entre empresas, que se deslocam do chamado “posicionamento competitivo” para a “cooperação competitiva” (DUPAS, 2001; SILVA JR., RIBEIRO, 2001 apud TANURE; CANÇADO, 2004). No contexto mundial, de acordo com pesquisa realizada pela empresa consultora DelloiteToucheTohmatsu, citada por Fernandez (2003), nos últimos dez anos 50% das fusões e aquisições mundiais não foram bem sucedidas e, apenas 17% delas apresentaram de maneira significativa, agregação de valor para a empresa adquirente, conforme gráfico que segue: Gráfico 1 – Resultados frente aos objetivos das Fusões Fonte: MARTELANC; PASTIN; CAVALCANTE. Avaliação de empresa. Tais dados apontam para a necessidade de uma gestão pós-aquisição para se alcançar os benefícios esperados por essa modalidade de operação de forma a introduzir as mudanças nas empresas com o menor impacto possível diante das transformações que derivam do processo e envolvem integração e controle. O cenário brasileiro na última década O mercado brasileiro em relação às fusões e aquisições, na última década, está em constante crescimento. O significativo aumento de transações quando observado pelas médias quadrienais, nos 105 últimos 10 anos aponta que no Brasil esse modelo de negócio está em fase de evolução. No ano de 2013, o crescimento chegou a 5,2% quando comparado ao ano de 2012. Gráfico 2 – Evolução das fusões e aquisições no Brasil Fonte: PricewaterhouseCoopers (PwC) As transações envolvendo investidores nacionais continuam na liderança dos investimentos realizados no Brasil, com participação de 56% sobre o total das transações anunciadas seja como participação minoritária, ou total. Porém, de acordo com a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), fica nítida a evolução da participação de investidores estrangeiros neste perfil de transação, que representaram 44% do total apresentado em 2013, enquanto a participação em compras de empresas nacionais tende à estabilização. Gráfico 3 – Participação em fusões: empresas nacionais e estrangeiras Fonte: ANBIMA Com foco em operações de grande impacto, com valores operacionais de no mínimo R$ 20 milhões de reais, o ano de 2013, iniciou com poucos anúncios de operações significativas, somando apenas, R$ 51,1 bilhões de reais. No entanto, no segundo semestre, influenciado pelos bons 106 resultados no setor de TI e Telecomunicações, o numero de anúncios de fusões e aquisições, sofreu boa evolução, com previsão de movimentar R$ 114,2 bilhões de reais, números recordes para a série, desde 2008. Quadro 1 – Fusões e Aquisições: Anúncios de Operações Fonte: ANBIMA Influenciado pela concentração de anúncios no segundo semestre de 2013, o numero de operações finalizadas dentro do ano, atingiu apenas 35,3% do montante financeiro, o que fez do ano de 2013 o pior resultado nos últimos 6 anos. Gráfico 4 – Comparação de Operações: Anuncios X Fechamento Fonte: ANBIMA Em 2013, o resultado foi expressamente alavancado, por operações nos setores de TI/Telecom, petróleo e energia seguidos discretamente, pelos setores de alimentos e bebidas, transporte e logística. De acordo com a ANBIMA o setor de Assistência Médica/Farmacêutico teve 107 uma participação no volume financeiro de operações na ordem de 5,5% o que representou 6,6% do número de operações. Cultura Organizacional Na Brasilis, em razão da estrutura familiar, os processos de decisão eram centralizados nos proprietários, desde pagamentos aos slogans e portfólio de produtos. O processo financeiro ocorria de forma não sistêmica, utilizando muitas vezes dinheiro em espécie na realização de transações e pagamentos a terceiros. Também não havia um sistema de tecnologia da informação (TI) para integração dos departamentos, e a prática utilizada eram relatórios impressos para tudo que fosse aprovar junto à diretoria, mediante assinatura escrita. Segundo Jones (2010), a cultura organizacional, é modelada, pelas pessoas e ética internas à organização, juntamente com fatores externos como, legislações. Com o objetivo de modelar e controlar o comportamento das pessoas envolvida na organização a cultura é responsável por influenciar a forma como as pessoas reagem a uma situação, e como enxergam o ambiente organizacional. Robbins (2009) define cultura organizacional como um sistema compartilhado de valores, representando, uma percepção comum entre os indivíduos, esperando-se que estes, independente de níveis hierárquicos ou tempo de empresa, descrevam a cultura de forma semelhante. Aponta também que em uma organização, pode existir uma cultura dominante e subculturas, sendo que, a cultura dominante, simboliza os valores essenciais da organização, e as subculturas, refletem problemas, ou situações especificas de alguns departamentos, ou regiões geográficas. Reforça, que se nas organizações não existisse uma cultura dominante, e esta fosse composta apenas pelas subculturas, não existiria uniformidade no entendimento de comportamento, apropriados ou inapropriados, impedindo orientar e modelar este comportamento através da cultura organizacional, instrumento poderoso nesta definição. No decorrer do processo de aquisição, no ano de 2013, alguns pontos citados acima já foram alterados, como por exemplo, o processo de aprovação de compras, que descentralizou o processo de aprovações, delimitadas por valores; implantou-se também um software de sistema integrado de gestão empresarial, com o objetivo de minimizar a utilização de procedimentos que envolvem papel e com a promoção da integração dos departamentos. De acordo com Teixeira Filho (1985), (...) Schein defende que uma das funções da cultura organizacional é filtrar o ambiente externo, provendo um foco sobre os itens relevantes e oferecendo soluções pre-definidas, de forma a controlar a ansiedade dos indivíduos no grupo quanto as ameaças exteriores. O autor indica que o principal problema em uma organização é como trabalhar simultaneamente em suas tarefas primordiais e ainda nos seus problemas de integração interna. O modelo de Schein (2009) sobre a cultura organizacional baseia-se na ideia de que a cultura de uma organização segue três diferentes níveis: (I) Artefatos; (II) Normas e Valores; (III) Pressupostos. 108 Os artefatos são fatores visíveis, porém indecifráveis da organização, como por exemplo: missão, slogans, instalações, mobília e vestimentas, entre outros. No caso da Brasilis, em sua missão ficam evidente valores como economia, conveniência, conforto e confiança. Baseado nisto, suas lojas seguem três tipos de conceitos diferenciados, sendo eles, lojas "Populares", mais voltadas à venda de medicamentos e perfumaria convencional, conceito "Prestígio", seguindo uma linha mais diversificada com produtos importados e nacionais de saúde e beleza, e por fim, o conceito "Megastore", onde as lojas são voltadas ao público de alta renda, com uma grande diversificação de produtos importados exclusivos, incluindo perfumaria, com ambientes arborizados, espaços gourmet, e salas relaxantes, onde é oferecido também, serviços de massagens, limpezas de pele, reconstrução capilar, entre outros. As normas são associadas a valores, são as regras que não são escritas, que estão ligadas ao comportamento, que permite que os funcionários saibam o que é esperado deles no ambiente de trabalho, como por exemplo, informar ao chefe sobre um problema potencial, que vestimenta é mais indicada para a situação e empresa. Na Brasilis, todo colaborador iniciante, recebe o livro de código de conduta, que nele especifica como o mesmo deve se portar diante da empresa e colegas de trabalho, como por exemplo: relacionamentos e interação entre colaboradores, clientes e fornecedores, vestimenta adequada no ambiente de trabalho, responsabilidade com os ativos da empresa, orientações sobre conflitos, recebimento de prendas e subornos, confidencialidade de informações privilegiadas de cada setor e, não relação de interesses pessoais nas tratativas internas e externas da empresa. No ultimo nível, os pressupostos estão ligados a elementos invisíveis como, por exemplo, as crenças e experiências dos indivíduos, ou seja, aquilo que os membros acreditam ser realidade, e que influenciam diretamente no que sentem e pensam, dificilmente podendo ser discutível. Este elemento tem a capacidade de influenciar os membros em suas ações diante das situações do cotidiano. (SCHEIN, 2009). As decisões finais dentro da Brasilis devem sempre ser direcionadas ao superior imediato, que é quem auxiliará que o resultado desta decisão, seja de acordo com o que é esperado pela empresa, e suas normas, não podendo assim, estas decisões serem influenciadas apenas nas crenças e experiências de cada colaborador, pois tais crenças já foram incorporadas pelos membros da empresa. Gestão da mudança Organizacional Segundo Chiavenato (2000), a mudança organizacional pode significar tanto uma alteração na posição do mercado, como também, na mudança da missão e visão da empresa. Para ambos os casos, há paradigmas que devem ser quebrados, juntamente acompanhados de uma liderança em todo este processo. Existem diversas condicionantes que influenciam no processo de mudança, como por exemplo, o nível de recurso disponível pela empresa, estrutura organizacional e hierarquias, qualidade da gestão e políticas econômica, social, tecnológica, ambiental e legal. São sinais evidentes da necessidade de mudança: queda nas vendas, aumento de custos, redução de rentabilidade, insatisfação dos clientes, fornecedores e colaboradores, indícios de sérios alertas desta necessidade, que pode acontecer de diversas formas: 109 As mudanças tecnológicas tornam mais eficientes os processos de produção e/ou prestação de serviços. As idéias ligadas a esta mudança, esta no nível baixo da hierarquia, pois são os colaboradores operacionais que identificam a necessidade e as informam para seus gestores que canalizam essas idéias e as levam para aprovação quando necessário. A mudança no portfólio de produtos ou serviços oferecidos por uma empresa tem grandes implicações na organização, pois podem definir um novo mercado e devem atender as necessidades dos clientes. As ideias para estas novidades circulam de forma horizontal na empresa, ou seja, entre departamentos, pois o insucesso desta mudança é freqüentemente o resultado de uma falha na cooperação de departamentos. Com maior amplitude as mudanças estruturais, envolve toda a hierarquia da organização, suas metas e processos administrativos tem origem e é administrada de cima para baixo na hierarquia, porém, necessita da participação e envolvimento de todos os colaboradores, independente do nível hierárquico. Por envolver valores, atitudes, crenças, e comportamentos, as mudanças culturais impactam na forma como pensam os colaboradores o treinamento e formação são as ferramentas mais utilizadas para mudar o pensamento dominante de uma organização, e auxilia os gestores a lidar com problemas relacionados as fusões aquisições, pois o péssimo resultado destes casos, esta ligado a falha dos gestores em determinar se o modelo administrativo atual e a cultura das duas empresas se encaixam mutuamente. Tais diferenças culturais geram stress e ansiedades entre colaboradores, afetando diretamente o resultado. (CHIAVENATO, 2000). Na Brasilis, o processo de comunicação referente à mudança, ocorreu de forma discreta, internamente, os colaboradores ficavam cientes das noticias, de forma não oficial ou através da mídia. Quando de fato ocorreu a aquisição, houve um comunicado interno que constava informações sobre a empresa compradora, sua origem e historia, após mais ou menos três meses dessa fusão, houve a visita do presidente da América, juntamente com seu corpo conselheiro, para realizar uma apresentação mais formal sobre a empresa, seus interesses no Brasil e na Brasilis, esta apresentação foi direcionada a todos os gestores e coordenadores, afim dos mesmos repassarem a suas equipes, os pontos citados. Após esta apresentação, a América implantou em todos os andares e departamentos da Brasilis, um banner de normas e políticas, para que assim, sua cultura seja diariamente vista, e seguida pelos mais novos colaboradores do grupo no Brasil; Esta norma está focada na questão da política americana anticorrupção que proíbe totalmente, todo e qualquer envolvimento de colaboradores com órgãos governamentais, evitando possíveis situações de suborno como prêmios e benefícios oferecidos para facilitar alguma transação junto ao governo. Esta questão é muito significativa para a América, pois acreditam na integridade da empresa, e o não cumprimento de tal valor pode comprometer o sucesso organizacional e da marca, pois é esta que passa confiança aos consumidores finais. Gestão de conflitos Conflitos podem ocorrer a qualquer momento dentro das empresas, o desenvolvimento organizacional, propõe três etapas para atingir a mudança de atitudes e comportamento. (LEWIN, 1975). (I) Descongelamento; (II) Mudança; (III) Recongelamento. 110 O processo de "descongelamento" é feito normalmente por um agente externo à organização, geralmente consultores, que avaliam rotina da empresa identifica seus problemas diretamente relacionados ao trabalho. Após este diagnóstico, o mesmo é retransmitido aos gestores, afim de "descongelá-los" de acordo com seu modo de gestão e ou comportamento. Seguindo o plano especifico do agente da mudança, os indivíduos passam a experimentar um novo comportamento, desenvolvendo novas habilidades para serem usadas no seu ambiente de trabalho, momento da mudança. O "recongelamento" acontece após as mudanças realizadas, terem gerados resultados positivos para a organização. Os colaboradores e gestores são recompensados por este esforço, e participam constantemente de cursos de atualização, para reforçar esses novos comportamentos. O processo de aquisição entre América e Brasilis ainda é recente, e muito esta se estudando a respeito das efetivas mudanças. Neste momento o foco está no conhecimento do trabalho, por meio de empresas consultoras, que estão conhecendo as rotinas e o processo sequencial de como tudo acontece. Algumas mudanças foram sugeridas, alguns departamentos alterados e realocados, o prédio está passando por uma grande mudança estrutural, a fim de comportar novas diretorias e departamentos. Dentro desta perspectiva a fase atual se encontra no processo de descongelamento, conforme citado acima. Neste cenário, muito se faz necessário como o aprendizado da língua inglesa, para facilitar a comunicação. Diante disto, muitos gestores já iniciaram aulas de inglês, com interpretes contratados pela América, para auxiliar neste processo, pois todas as apresentações e processos da empresa foram formalizados e traduzidos para o inglês, que é repassado constantemente aos USA, ocorrendo assim, constantes reuniões entre países. Mudança pela perspectiva dos colaboradores Diante do objetivo de compreender pela perspectiva dos colaboradores as dificuldades e sentimentos envolvidos no processo da mudança ocasionada pela aquisição diante das mudanças culturais a pesquisa realizada com os colaboradores da área de manutenção/expansão revela que a grande maioria não conhecia a empresa compradora, uma vez que a mesma não atuava no mercado Brasileiro. O desconhecimento leva os indivíduos a temer as mudanças e resistirem aos novos processos, porém não foi identificada forte resistência em relação aos novos rumos corporativos. Na área em questão, ainda não houve alteração hierárquica, porém já é bastante visível na empresa a formação de novas diretorias nos demais departamentos, com reflexos no fluxo de trabalho das demais áreas. Neste sentido não há segurança dos rumos da área o que leva alguns colaboradores a certo desconforto em relação ao futuro. Todos os colaboradores entrevistados receberam treinamentos referentes às novas políticas apresentada pela empresa compradora. Nela foi possível conhecer a historia da empresa, seus objetivos mediante a aquisição, regras e o que a empresa espera de seus colaboradores, no âmbito pessoal e profissional. Os colaboradores já conseguem visualizar mudança nos processos de toda a empresa causados pelas novas políticas implantadas, e consideram positivas tais mudanças, uma vez que no passado a empresa trabalhava com falta de controles e históricos. Porém, reconhecem que a burocracia aumentou muito neste momento, mas aceitam os novos processos, uma vez que passarão a ser auditados. Tais medidas eliminam espaço para privilégios e interesses pessoais, dessa forma os 111 colaboradores vislumbram vantagens num processo com início, desenvolvimento e fim, e destacam como pontos positivos a coerência e a lógica com regras pré-estabelecidas. A área apresentou mudanças em suas rotinas de trabalhos devido a maior burocracia, pois todas as aprovações agora se dão via sistema, por níveis de aprovação. Todo possível fornecedor e ou prestador de serviço, necessita ser aprovado primeiramente pela matriz e posterior assinatura de contrato. Estes novos processos foram apontados como críticos por gerar dificuldades na relação com os fornecedores atuais. Estes também são empresas de pequeno porte em sua maioria, e não estavam acostumados com a burocracia das aprovações. Tal fato aponta a mudança cultural como um entrave para o desenvolvimento do trabalho uma vez que nem sempre os níveis de diretoria e presidência, aprovam em tempo necessário para a realização de uma compra ou serviço. Como alternativa para estes casos, será estudada a implantação de liberação emergencial. O choque cultural e diferença de idioma, não foram apontados como problema, mesmo a cultura sendo algo muito particular e demorada para ser alterada, não apresenta neste momento obstáculos. O estudo revela que na matriz os processos são mais entendidos por todos, empresa, cliente e fornecedores, diferente do que acontece no Brasil, onde a adaptação se mostra mais difícil. Na questão referente ao idioma a empresa já disponibiliza cursos de inglês, para os níveis de gerência e hierarquias superiores, assim como disponibiliza interpretes para possíveis dúvidas. Em relação às apresentações e demais materiais, estes são divulgados nos dois idiomas, português e inglês. No âmbito pessoal, os entrevistados não apontaram muita diferença de postura e comportamento, ressaltam apenas, que não é mais permitido aceitar brindes de qualquer forma ou espécie de fornecedores, o que era uma prática comum anteriormente, assim como aceite de convites para almoços, festas, bonificações e coffee breaks, patrocinados pelos mesmos. O estudo apontou grande otimismo com a aquisição, com perspectivas positivas referentes à carreira profissional. Pelo fato de não ter uma divulgação concreta na área pesquisada, os colaboradores mostram sinais de insegurança para o futuro deste departamento. Conclusão De acordo com os estudos realizados, os especialistas afirmam ser a mudança um período de grande criticidade e muito risco. Se não realizado de forma estruturada e adaptada aos valores e culturas locais da empresa adquirida, pois todo processo de mudança gera desconforto e exige grande atenção. Com base na pesquisa realizada com os colaboradores, a empresa adquirida por anteriormente possuir um modelo de gestão familiar, onde os valores e cultura não eram fortemente enraizados, muitas vezes diferentes de uma área para outra, dependendo do processo executado ou das lideranças, pode-se concluir que o processo de aquisição por um grande grupo, mesmo este sendo originário de outro país, não enfrentou grandes barreiras na disseminação de sua cultura. A expectativa dos colaboradores de passar a atuar em uma multinacional, com políticas de gestão, foco no desenvolvimento de pessoas e valores robustos se tornou um grande facilitador no processo de mudança. Apesar da comunicação não ter sido ampla, somente com oficialização por e-mail e um módulo de treinamento, os colaboradores tornaram-se otimistas e esperançosos em alavancar suas carreiras na empresa abrindo espaço para o desenvolvimento profissional. 112 REFERÊNCIAS BOLETIM ANBIMA: Boletim de Fusões e Aquisições. Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais: Ano VIII, N° 20, Mar. 2014. Disponível em: <http://portal.anbima.com.br/informacoes-tecnicas/boletins/fusoes-eaquisicoes/Documents/Boletim_fusoes_e_aquisicoes_2014-03.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2014. BARROS, BetaniaTanure (org). Fusões e Aquisições no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Os Novos Paradigmas. São Paulo: Atlas, 2000. JONES, Gareth R. Teoria das Organizações. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. LORENZO-FERNANDEZ, Marcelo - Fusões, aquisições e venda de empresas: inferno ou paraíso, Revista Mundo Corporativo, Deloitte ToucheTohmatsu, Janeiro, 2003. KURT, Lewin. A Teoria Dinâmica da Personalidade. Traduzido por Ivaro Cabral, Cultrixx, 1975 LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2003. MARTELANC, Roy; PASTIN, Rodrigo; CAVALCANTE, Francisco. Avaliação de Empresa. São Paulo: Pearson, 2005. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. 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Cultura Organizacional e Liderança: Uma visão dinâmica. Disponível em: <http://www.cad.ufsc.br/mauriciofpereira/especializacao/Cultura-Organizacional-e-LiderancaSchein.pdf>Acesso em: 12 abr 113 Brasil e Equador: O Controle Social no Panorama do Constitucionalismo Latinoamericano Eduardo Manoel Val71 Rodrigo Dias Rodrigues de Mendonça Fróes72 Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FND-UFRJ) Resumo O presente artigo almeja analisar o constitucionalismo e a integração latinoamericana por meio da comparação entre os ordenamentos constitucionais brasileiro e equatoriano, notadamente através dos respectivos diplomas infraconstitucionais que regem o sumo prático do controle social. Palavras-chave: constitucionalismo latinoamericano, controle social, integração continental, diálogos constitucionais. Introdução Os estudos que empreendemos até o presente momento – e que se desdobrarão para além da confecção deste artigo – revolveram em torno da busca pela compreensão das feições que vem assumindo o constitucionalismo latinoamericano neste começo de século, marcado que épor rupturas e inovações. Naturalmente, se buscamos assimilar melhor os eventos que se dão no entorno do lar, o fazemos com o intuito imediato de garimpar e trazer para nosso próprio núcleo impressões proveitosas, ideias que ganharam espaço alhures e que, a nosso ver, encontrariam solo fértil também em nossas fronteiras. Deste modo, nada mais fazemos, em última instância, do que usar o Direito 71 Possui graduação em Direito - Universidade de Buenos Aires (1988), mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996) e doutorado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2006). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense, Vice-coordenador e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Direito Constitucional da UFF (PPGDC-UFF) e Coordenador do Curso de Especialização em Direito Administração Pública (CEDAP-UFF) . Integra o quadro docente permanente do Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Estácio de Sá (UNESA). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Internacional Público,direito das Relações internacionais e Direito Constitucional Internacional e Comparado, atuando principalmente nos seguintes temas:Direito Constitucional Latino-Americano e Iberoamericano. Acesso a Justiça na America Latina. Mercosul, Integração Política e Jurídica, Direito das Relações Internacionais, Direito Ambiental Internacional, Direito ao desenvolvimento, Direitos Humanos e Direito Internacional do Trabalho. E-mail: [email protected] . 72 Mestrando em Teorias Jurídicas Contemporâneas pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da (Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro FND-UFRJ) e Coordenador do Grupo de Pesquisa Direito Constitucional Contemporâneo. Graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Procurador da Câmara Municipal de Angra dos Reis e Advogado. E-mail: [email protected]. 114 Comparado como potencial provedor de melhoras ao arranjo constitucional brasileiro, no que vem a ser um recorte do seu potencial mais amplo, qual seja, o de ferramenta aperfeiçoadora das Constituições. Ainda sob estaperspectiva, e observando como o fenômeno constitucional se inclinou, ao longo dos séculos, na direção das vontades e comandos do povo– entre expansões e contrações deste conceito, é verdade – dentro de um arranjo democrático – sujeito, por sua vez, a ataques e distorções –, não podemos ignorar que a participação popular e a democracia guardam entre si uma relação simbiótica, orgânica, com a Constituição servindo de elo e agente concretizador a ambas. Por conseguinte, tem-se que um arranjo constitucional que privilegie a participação cidadã73 atua no sentido de qualificar a democracia, tornando-a mais articulada e palpável dentro de um panorama de tensões permanentes e incontornáveis, decorrentes da inevitável e perpétua mudança inerente a cada núcleo social. Com isto em mente, decidimos, com este artigo, focar a questão da participação cidadã na amplitude latinoamericanapor meio do cotejo entre os microcosmos de duas nações, Brasil e Equador: este, por plasmar uma das novas tendências constitucionais do continente, qual seja, a de consolidar a intervenção popular dentro do sistema de Poderes Constituídos (chamados, no texto constitucional vigente, Funções); aquele, além do já explanado, por, mesmo sem tão ostensiva iniciativa, procurar, em medidas normativas recentes, robustecer esta mesma intervenção. Assim é que, enquanto o Equador apresenta, entre suas Funções-Poderes, a Função de Transparência e Controle Social, capitaneada pelo Conselho de Participação Cidadã e Controle Social,o arranjo brasileiro ganha camadas de complexidade (ou ao menos assim promete) com o advento, no dia 23 de maio último, do Decreto n° 8.243, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS. Ambas as nações adentram a arena do controle social com ramificações expressivas, ainda que não seja possível dizer, por ora, que o fazem em pé de igualdade. Dentro de nosso foco, começaremos inserindo a abordagem da democracia participativa e da cidadania real nos respectivos contextos equatoriano e brasileiro, com espaço para a releitura da configuração tradicional dos Poderes Constituídos, para, após, descermos às instâncias infraconstitucionais, descrevendo e emparelhando o Decreto pátrio e a Lei Orgânica Equatoriana, de 22 de setembro de 2009, que rege o Conselho de Participação Cidadã e Controle Social (CPCCS). Esta etapa abraça os dois capítulos nucleares de nosso artigo, dividida entre a descrição de ambos os diplomas e o contraste gráfico, por meio de um quadro comparativo, de ambas. Só então seguiremos 73 “Cidadania”, aqui, não deve ser entendida em seu sentido estrito, ligado à capacidade de exercício dos direitos políticos, plasmada na condição de eleitor, mas sim como referente a todo integrante de uma coletividade sujeita a determinado Estado. 115 rumo à conclusão, na qual observaremos como ambos os ordenamentos se inserem em um contexto onde a ideia de integração continental se faz um tópico obrigatório. Avancemos, portanto. Metodologia A fim de aproximar nossos objetos de estudo, um ponto de sobrelevo inafastável é o recente passado autoritário que partilham Brasil e Equador. No entanto, uma diferença crucial estrema as realidades de ambas as nações no concernente ao distanciamento de seus atuais panoramas constitucionais em relação a este passado, desaguando, por conseguinte, no próprio arranjo de controle e participação social que cada um assume, conforme explicaremos adiante. Trajetória Constitucional Equatoriana O histórico constitucional equatoriano é uma súmula das inflamações políticas que moldaram o novo constitucionalismo latinoamericano. Destacamos o período de 1978 a 2008, de importância elucidada por Flávia Soares Unneberg: Na realidade equatoriana do período entre 1978 e 2008, lapso no qual o país logrou ter três Constituições, observa-se que o cenário político caracterizou-se por uma crise de governabilidade e a existência de movimentos étnicos e sociais que pleiteavam sua visibilidade social, e com isto a necessidade de mudanças significativas no marco jurídico-político-social em virtude deste reconhecimento. (grifo nosso)74 De fato, dentro de uma análise pluralista, o ano de 1978 se projeta pelo nascimento de uma nova Constituição, aprovada por referendo popular e marcada por uma ampliação tanto da cidadania – agora abrangendo analfabetos e maiores de dezoito anos – quanto da intervenção do Estado nas atividades econômicas, sobretudo em áreas consideradas estratégicas do mercado. Destaque-se, ainda neste período, o peso simbólico da eleição, no dia 10 de agosto de 1979, de Jaime Roldós Aguilera para a Presidência da República75, assinalando o efetivo retorno à democracia pelo exercício prático do direito, novamente conferido ao povo, de eleger seus 74 SOARES UNNEBERG, Flávia. O Despertar de Novos Tempos: do Processo Histórico-constitucional à Constituição Equatoriana de 2008, in inPETTERS MELO, Milena e WOLKMER, Antonio Carlos, Constitucionalismo Latino-americano – Tendências Contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013, p. 139. 75 VELA CHERONI, MaríaSoledad. Ecuador: La Función de Transparencia y Control Social, para La erradicación de lacorrupción. Disponível em http://497caei.truelogic.com.ar/sites/default/files/al-28.pdf . Acesso em 25 de junho de 2014. 116 representantes. Tal direito, no entanto, sofreria de uma condição de insular isolamento, com a atuação popular restrita ao voto secreto e obrigatório, suas mãos restando atadas para qualquer empreitada de mudança do panorama social que se pretendesse transgressora desta formalidade. Começava a surgir, aí, a fagulha dos conturbados anos posteriores. Já o projeto governamental de reforma constitucional de 1994 surge em um contexto de intensas centelhas políticas: o Poder Executivo buscava fortalecer-se às custas da limitação das atividades do Congresso – inclusive por meio do resgate do parlamento bicameral, constituído por senadores e deputados, existente antes da década de 1970; a possibilidade de candidaturas independentes, à revelia de filiação a partidos políticos, era sintomática do enfraquecimento destes; e, em paralelo a isso, o movimento indígena equatoriano consolida seu protagonismo político com o denominado Levantamiento Indígena por la Vida. Deve-se a esta ampliação da força política indígena uma segunda proposta de reforma constitucional, de autoria da CONAIE (Confederación de Nacionalidades Indígenas de Ecuador), voltada à alteração do Estado unitário conforme promovia o reconhecimento da plurinacionalidade e da representação dos povos indígenas, na contramão dos interesses governamentais. A atmosfera de crise política acabou consolidada quando, em consulta popular realizada em novembro de 1995, a proposta do governo foi derrotada com 58% de votos. O diploma constitucional de 1998 simbolizou o avanço dos interesses de povos indígenas ancestrais, negros ou afroequatorianos na sua representação por um Estado pluricultural e pluriétnico, conferindo a tais grupos uma gama de direitos coletivos. Todavia, questões constitucionais técnicas – como a acentuada rigidez constitucional, que, ao impor a aprovação inicial de emendas pelo Congresso Nacional para, após um ano, serem novamente aprovadas por um quorumde dois terços, remetia, em termos práticos, à imutabilidade – quanto uma tendência neoliberal, plasmada na redução da intervenção estatal na economia, deixaram o sabor de um anticlímax em uma sociedade já inegavelmente plural. Daí a avaliação de Viciano Pastor e Martínez Dalmau, da qual destacamos como grave alarme, dentro do panorama do constitucionalismo latinoamericano, das necessidades do continente e, em última instância, em estreita relação com o núcleo de interesse deste artigo, a ausência – para não dizer fuga – do aval popular sobre o texto constitucional por meio de referendo: O processo equatoriano (...) obteve um resultado desfavorável para os interesses do povo equatoriano (...). Segundo afirma Ayala, o Equador tem um recorde de constituições no continente, dezoito em cento e oitenta anos de vida republicana, sem contar as assembleias constituintes não concluídas que não chegaram a expedir um texto constitucional. Mas a Constituição equatoriana de 1998 marca notáveis diferenças com as anteriores, fruto do contexto e das peculiaridades com que foi desenvolvido o processo constituinte nesse país. 117 No entanto, também representou o antídoto da oligarquia local contra os processos constituintes. Os equatorianos pretenderam encaminhar seu país por uma nova rota constitucional, mas encarregaram dessa missão os atores políticos tradicionais. O resultado foi uma Constituição que defraudou as expectativas sociais e da qual se evitou a legitimação direta do povo equatoriano através da celebração de um referendum de aprovação perante a suspeita, bem fundada, dos constituintes, de que a cidadania não aprovaria o texto apresentado e aprovado pela assembleia constituinte.76 (grifos no original) Daí ser de razoável compreensão que as tensões políticas nos anos posteriores não tenham sido atenuadas, antes se agravando: entre conflitos que envolviam coalizões indígenas militares, dissidências dentro dos grupos indígenas e mesmo uma crise internacional que culminou em medidas nacionalistas contrárias à abertura comercial – o Tratado de Livre-Comércio firmado entre Equador e Estados Unidos conseguiu a façanha de sabotar uma prometida assembleia constituinte, tida por inoportuna para o momento, para tempos depois ser suspenso em função de conflitos entre ambas as partes, com o Equador sendo acusado de expropriar a petroleira norteamericanaOxy77 –, o desconforto aflorou em cores ainda mais vivas. Por este arranjo de vieses e entraves, a Assembleia Constituinte de Monticristi, realizada entre 2007 e 2008, empreendeu um esforço de harmonização na Babel de interesses em que se havia transformado o país, com debates acerca da plurinacionalidade e do controle dos recursos naturais por povos indígenas ancestrais sendo acompanhados por propostas de correntes ecológicas, feministas e de organizações sociais das mais variadas. Demandas de gênero e multiculturais conviveram lado a lado, e em 28 de setembro de 2008 uma nova Constituição foi aprovada em sede de referendo, com 63,93% dos votos favoráveis. Soares Unneberg aponta, e ao final assinala: (...) o referendo despertou na sociedade uma discussão plural sobre os rumos do constitucionalismo equatoriano, incluindo os anseios populares visando a uma aproximação da ordem constitucional com uma realidade nacional repleta de diversidades e desafios. Observa-se que na Constituição de 2008 houve a nítida busca de novas teorias, doutrinas e institucionalidades que pudessem responder às necessidades das 76 VICIANO PASTOR, Roberto e MARTÍNEZ DALMAU, Rubén. O Processo Constituinte Venezuelano no Marco do Novo Constitucionalismo Latino-americano, in PETTERS MELO, Milena e WOLKMER, Antonio Carlos, Constitucionalismo Latino-americano – Tendências Contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013, pp.52-53. 77 Tanto este relato quanto o escorço histórico empreendido remetem a SOARES UNNEBERG, Flávia, op. cit., pp. 128-130. 118 pessoas e dos grupos sociais, buscando acolher as coletividades que historicamente foram excluídas ou “colonizadas” do ponto de vista político-social. A Constituição de 2008 proclama que o Equador é um Estado constitucional de direitos e justiça, social, soberano, independente, unitário, plurinacional, intercultural e laico. Não há palavras inúteis nesta definição. Há em cada termo uma proposta paradigmática de avanços conceituais que justificam sua inserção neste movimento denominado “Constitucionalismo Andino”, “Constitucionalismo Transformado” ou “Novo Constitucionalismo Latino-Americano”.78 (grifos nossos) Com efeito, o novo diploma Constitucional consagra a presença do Estado na economia, atuando como seu organizador e planificador; é mantido como um Estado unitário, mas composto por várias nacionalidades. O poder se descentraliza, reconhecendo as unidades territoriais das parroquias, cantones e províncias. Os povos indígenas ancestrais se veem representados pelo eixo moral do Buenvivir ou SumakKawsay, uma noção de bem-viver que agrega saberes tradicionais, tendências ocidentais acerca de desenvolvimento e qualidade de vida e temas de cunho ambiental, ao mesmo tempo que redefine conceitos caros ao capitalismo, conforme dissocia o viver bem da acumulação de capital. A Constituição de 2008 consagra sete categorias de direitos, em rol que amplia o de sua antecessora: há os direitos do buenvivir (parte dos direitos econômicos, sociais e culturais); direitos de pessoas e grupos de atenção prioritária (como gestantes, idosos, crianças, detentos e consumidores); direitos de comunidades, povos e nações (direitos coletivos, simplesmente); direitos de participação (direitos políticos), direitos de liberdade (abrangentes de direitos econômicos, sociais e culturais e direitos civis); direitos da natureza e direitos de proteção (de cunho processual). Desses, os direitos voltados a grupos de atenção prioritária e à Natureza são os representantes de inovações constitucionais expressivas – sobretudo os últimos: também chamados direitos da Pachamama, eles rompem com a lógica antropocêntrica tradicional ao apresentar a natureza como sujeito de direitos, consagrando o giro ecocêntrico79 do ordenamento constitucional equatoriano. Soares Unneberg explica: Trata-se de uma mudança radical em comparação com os demais regimes constitucionais na América Latina, onde geralmente o meio ambiente é classificado como “direito de terceira geração” e assim é tratado em função das necessidades humanas. A dimensão suscitada pela novel Constituição equatoriana é de que os 78 Op. cit., pp. 131, 132-133. 79 V. OLIVEIRA MORAES, Germana de e COELHO FREITAS, Raquel. O Novo ConsittucionalismoLatinoamericano e o Giro Ecocêntrico da Constituição do Equador de 2008: Os Direitos de Pachamama e o Bem Viver (SumakKawsay), in PETTERS MELO, Milena e WOLKMER, Antonio Carlos, Constitucionalismo Latino-americano – Tendências Contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2013, pp. 103-125. 119 direitos da Natureza são independentes das valorações humanas, vez que ostentam valores intrínsecos. A construção desta perspectiva se alicerça não somente no resgate dos conhecimentos ancestrais dos povos originários, muito mais ligados à natureza do que os povos ocidentais modernos, como também nos aportes de filósofos como Henry David Thoreau (1817-1862), Henry Salt (1851-1939), ArneNaess (1912-2009), James Lovelock, Peter Singer e Eduardo Gudynas, todos de alguma forma atados ao que hoje se denomina “ecologia profunda” (deepecology) [terminologia de Naes]. A visão de “ser pobre por ser rico em recursos naturais”, que sempre foi o catalisador de um sistema exploratório da natureza em países de menor expressão Econômica, com práticas extrativistas exacerbadas e deterioração dos recursos naturais e demais seres vivos, dá lugar a uma nova visão da relação homem-meio ambiente, com a elevação da Natureza como sujeito de direitos. 80 A própria configuração pentapartida dos Poderes Constituídos (Funções), por fim, nos é de óbvio interesse, projetando-se a precitada Função de Transparência e Controle Social, instituição popular de controle administrativo. Antes, contudo, a grande âncora desta Função reside no artigo 95, de conteúdo basilar, que traduzimos abaixo: Art. 95. As cidadãs e cidadãos, individual e coletivamente, participarão como protagonistas na tomada de decisões, planificação e gestão dos assuntos de interesse público, bem como no controle popular das instituições do Estado e da sociedade e de seus respectivos representantes, em processo permanente de construção do poder cidadão. A participação será orientada pelos princípios de igualdade, autonomia, deliberação pública, respeito à diferença, controle popular, solidariedade e interculturalidade. A participação da cidadania em todos os assuntos de interesse público é um direito, a ser exercido através dos mecanismos da democracia representativa, direta e comunitária. (grifo nosso) Sobre a Função de Transparência e Controle Social, Vela Cheroni assim expõe: Esta nova função troca o sistema de integração dos organismos de controle que antes eram designados pela função legislativa, de acordo com pactos indesejáveis e compromissos de grupos de poder. A partir de agora, estas autoridades de controle são designadas mediante disputas entre opositores, com fiscalização cidadã e impugnação, organizados pelas comissões cidadãs que compõem o Conselho de 80 Op. cit., p. 136. 120 Participação Cidadã e Controle Social. Pode-se pensar que este sistema permitirá que haja autoridades controladoras independentes e eficientes.81 (tradução nossa) A Função de Transparência e Controle Social incorpora as instituições da Defensoria Pública e da Controladoria Geral do Estado, bem como o Conselho de Participação Cidadã e Controle Social e superintendências, todos com personalidade jurídica própria e autonomia administrativa, financeira, orçamentária e organizacional. Como função mais íntima, busca dar concretude ao princípio da soberania popular, firmado no art. 1º e fortalecido no art. 204 da Constituição de 2008. Este último artigo promove, ainda, as metas a ela ligadas, que giram em torno da promoção do controle sobre entidades e organismos do setor público, bem como das pessoas naturais ou jurídicas do setor privado que prestem serviços ou desenvolvam atividades de interesse público; o fomento da participação cidadã; o respeito aos direitos; e, por último, a prevenção e o combate à corrupção. A devida imersão no Conselho de Participação Cidadã e Controle Social (CPCCS), conforme adiantado, dar-se-á no capítulo seguinte. Pedimos, agora, espaço para uma exposição, mais sucinta, posto seu objeto ser mais conhecido dos mais prováveis leitores deste artigo, do panorama brasileiro. Trajetória Constitucional Brasileira Conforme sabido, a Carta Magna de 1988, ainda vigente, é a primeira a suceder o período de autoritarismo em que a sociedade brasileira se viu mergulhada por duas décadas. Não obstante ter se submetido amplamente aos procedimentos de reforma constitucional – e o resultado desta fartura de emendas para a saúde do ordenamento jurídico pátrio é discutível82 –, percebe-se que suas disposições sobre o controle social não foram, ainda, suficientemente tocadas pelas novas tendências do vizinho equatoriano. Partindo do ponto mais literal possível, a expressão “controle social” possui uma única e solitária menção no texto da Constituição Federal: tal se encontra no art. 216-A, incluído pela Emenda Constitucional de nº 71, de 2012, para tutelar o Sistema Nacional de Cultura, e seu parágrafo primeiro, ao prever seus princípios regentes, dispõe, no inciso X, sobre a “democratização dos processos decisórios com participação e controle social” (grifos nossos). Para além das literalidades, no entanto, o quadro tampouco acena com qualquer sugestão de avanço, recorrendo aos tradicionais plebiscito, referendo e iniciativa popular como instrumentos de afirmação da soberania popular (Art. 14 e incisos, dentro do Capítulo IV, sobre os direitos políticos). Estes se espraiam pelo corpo da Carta, havendo previsão do plebiscito, por exemplo, para consulta da população interessada nas transformações (criação, incorporação, fusão, desmembramento) de Estados e Municípios, conforme §§ 3º e 4º do art. 18; a autorização deste, bem como a convocação do referendo, compete exclusivamente ao Congresso Nacional (art. 49, inciso XV); e a iniciativa 81 Op. cit., p. 3. 82 Abrangendo todo o espectro desta discussão, v. RIBEIRO MOREIRA, Eduardo. Teoria da Reforma Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. 121 popular é disciplinada no §2º do art. 61. Uma solitária menção às audiências públicas com entidades da sociedade civil – e, aqui, os termos grifados ganham especial importância, a ser elucidada mais à frente – é feita no tocante às Comissões do Congresso Nacional (art. 58, §2º, inciso II). Poderíamos avaliar a discrepância de arrojamento da participação popular entre estes países pelo número de Constituições pós-regime autoritário de cada uma, numa proporção de três de nossos vizinhos para somente uma nossa. Contudo, este seria um exercício superficial, sobretudo se considerarmos que a capacidade – quase uma propensão, melhor dizendo – de reforma do Diploma brasileiro poderia lhe proporcionar quantidade tamanha de mutações que o tornaria tão robusto quanto a recentíssima Constituição vizinha, vinte anos mais jovem. Tampouco o aspecto cronológico pesa sobre estas realidades democráticas: os dez anos entre a primeira Constituição do Equador no período e a nossa Carta não representaram, no presente caso, uma diferença gritante, capaz de permitir aos equatorianos um equilíbrio democrático de fato que os iluminasse nos vinte anos seguintes – vimos que foi exatamente o contrário, com a década de 1990 efervescendo em múltiplas e concomitantes reivindicações. Onde estaria, então, a razão para dois painéis consideravelmente distintos, em notório contraste entre a desenvoltura equatoriana e a timidez e conservadorismo brasileiros? Em nosso ainda incipiente exame, a resposta reside na polifonia da insatisfação que tomou o Equador nas últimas três décadas e meia: conforme exposto, o desconforto se fez ouvir, e de vários e simultâneos reclamantes, em volume tal que por muito pouco não é ainda estranho à sociedade brasileira, que somente há cerca de um ano experimenta um levante de manifestações de expressão e insistência até então inéditos. São as vozes que hão de mudar o ordenamento jurídico de uma nação, seja no âmbito mais elevado, seja nas instâncias infraconstitucionais, e não o contrário. Daí não ser extemporâneo o advento do Decreto nº 8.243, de maio do presente ano, em relação aos eventos que lhe serviram de estopim e, mais ainda, perante a reconfiguração permanente da realidade brasileira por eles provocados. Chega a ser uma resposta célere, talvez mais até do que o seria caso se desse como uma Emenda Constitucional. A estrutura fornecida a guisa de resposta será analisada no capítulo seguinte, em contraste com a mais rica ramificação infraconstitucional equatoriana pós-Constituição de 2008. Regramentos Infraconstitucionais: O Conselho de Participação Cidadã e Controle Social do Equador e a Política e Sistema Nacionais de Participação Social Brasileiros Estabelecidas as bases constitucionais para os projetos de controle social equatoriano e brasileiro, a análise e cotejo infraconstitucionais se tornam mais límpidos e imediatos: a compreensão de cada arranjo se atrela a decorrências lógicas do que firmado nas instâncias supremas de cada ordenamento. Explica-se: enquanto a Lei Orgânica do CPCCS equatoriano vem apenas vascularizar a estrutura de um Órgão de uma Função (Poder) já estabelecido no sistema constitucional de Funções Constituídas, o Decreto brasileiro vem instalar uma estrutura desvinculada de previsões constitucionais imediatas, quanto mais de um Poder Constituído. As consequências de cada conjuntura não permitiriam, portanto, atropelamentos, sofisticações estruturais que não poderiam ser 122 comportadas dentro de uma base que não estivesse suficientemente maturada no âmbito constitucional. Daí que, se a Lei Orgânica do CPCCS equatoriano, ao mesmo tempo que lhe prevê uma estrutura orgânica, se permite um maior aprofundamento na especificação de seus princípios, na delimitação de suas diretrizes e mesmo na definição dos males que se propõe a combater, o Decreto nº 8.243, muito embora não se furte a estabelecer conceitos e diretrizes, se ocupa primordialmente da criação dos órgãos responsáveis pela existência concreta da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e do Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), bem como de seus procedimentos mais basilares. Tal discrepância de aprofundamento se reflete na própria extensão de cada diploma normativo: se a Lei Orgânica equatoriana possui 73 artigos em seu corpo permanente e outros dez dentre suas disposições transitórias, o Decreto brasileiro se atém a vinte e dois artigos, sem abrir flanco a transitoriedades. É uma representação gráfica do quanto cada ordenamento normativo já consegue avançar no tocante ao controle social. Prossigamos. Equador: Lei Orgânica do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social No arranjo da Lei Orgânica equatoriana, cujo primeiro artigo, dentro do Título I – Normas Gerais –, estabelece o CPCCS como agente promotor dos direitos atinentes à participação cidadã e dos mecanismos de controle social, seu art. 2º, ao elencar os princípios gerais da atuação do órgão, aponta alguns extremamente consoantes à proposta plural que se firmou com o texto constitucional de 2008, como a igualdade, a diversidade e a interculturalidade; outros, ainda, estabelecem o encaixe do CPCCS na Administração Pública e dão o norte de sua atuação, como a deliberação pública, a independência, a complementariedade, a subsidiariedade, a transparência, a publicidade e a oportunidade.83 Em seguida, o Título II do diploma, após elencar as atribuições gerais do CPCCS em seu primeiro Capítulo, dá lugar a uma persistente preocupação, que se desdobra nas frentes da participação cidadã, do controle social e da prestação de contas: a participação cidadã dista do controle social, pela análise dos arts. 6º e 8º da Lei Orgânica, ao menos em termos mais básicos, conforme aquela concerne mais a propostas e promoções de iniciativas, havendo, inclusive, previsão de fundos para tanto no art. 7º, e esta, à fiscalização – em suma, a tradicional dicotomia a priori/a posteriori. A prestação de contas dá o fecho à rigidez resultante do entrelace entre participação e controle, submetendo pessoas jurídicas tanto públicas quanto privadas que atuem no âmbito do interesse público (conforme art. 9º) a um conteúdo mínimo a ser elucidado (art. 10), determinando expressamente as pessoas físicas a elas ligadas obrigadas à prestação (art. 11) e, ainda, um monitoramento do respeito a tal rigor (art. 12). O Capítulo III do mesmo Título adentra um tópico interessante, tanto pelo seu simbolismo quanto pela necessária ramificação prática que impõe, concernente à transparência e, de ainda maior vulto, à corrupção, elemento causador de preocupação tamanha que lança sombra sobre dispositivos 83 Este, definido como a obrigação de que todas as ações do CPCCS se baseiem na pertinência e na motivação. 123 espraiados para muito além do próprio Capítulo, e também sobre alguns que lhes são anteriores. O cuidado aqui apresentado é, na falta de termo melhor, humano em sua extensão e relativa riqueza de detalhes, detalhando o procedimento de denúncia, obrigando expressamente à proteção do denunciante (art. 14, segundo parágrafo) e obrigando o CPCCS a dar seguimento a processos, judiciais ou administrativos, decorrentes das informações recebidas, bem como a nelas intervir como parte processual (art. 180). No Título III, de Capítulo único, dedicado ao processo de designaçãode autoridades, emerge uma ótica de consideração plurinacional perfeitamente condizente com a realidade equatoriana – e, ousamos dizer, latinoamericana, dado o potencial exemplo que oferece. Vela Cheroni conjuga os arts. 19 e 32 e sintetiza, apontando (...) um feito histórico na construção do Estado Intercultural e Plurinacional, pois contempla em sua composição a obrigatoriedade de que, entre os sete conselheiros principais e entre os sete suplentes, ao menos um de cada grupo seja membro das nacionalidades indígenas ou povos afroequatorianos e montubios84, determinando, ainda, a conformação paritária entre homens e mulheres de acordo com os apontamentos do concurso para seleção. Neste, ainda, serão aplicadas medidas de ação positiva, de modo que os setores que tenham tradicionalmente sofrido discriminação histórica por sua condição etária, pobreza, estado migratório ou incapacidade sejam representados.85 (grifo nosso) Acrescemos, neste ponto, somente observação referente ao art. 21, que trata das proibições atinentes à designação de membros do CPCCS, dentre as quais destacamos as constantes dos incisos terceiro – aqueles que mantenham, como pessoa natural ou ligados a pessoas jurídicas, contratos com o Estado para execução de obra pública, prestação de serviço público ou exploração de recursos naturais – e décimo – que afasta membros ativos das Forças Armadas e da Polícia Nacional, bem como representantes de cultos religiosos. Em ambos os dispositivos, sobressai a reafirmação do princípio geral da independência do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social, que atuará alheio a pressões comerciais, militares ou religiosas. Se chegamos a dizer, no início, que a abrangência da Lei Orgânica não chegava a inibir uma exposição da própria estrutura interna do CPCCS, o Título IV se debruça sobre tal estrutura. Divide, assim, no art. 36, os órgãos do Conselho entre órgãos de governo (o Pleno, a Presidência e a VicePresidência), os órgãos executores (as Delegações, as Secretarias Técnicas de Participação e Controle Social e de Transparência e Luta contra a Corrupção), os órgãos assessores (as Comissões Especializadas) e os órgãos de apoio e auxiliares (a Secretaria Geral e demais órgãos previstos em regulamento); em seguida, detalha os processos de seleção, as funções e restrições de cada órgão, sem aspectos que despertem maior interesse atrelado ao nosso estudo. 84 Um dos grupos étnicos equatorianos oficialmente reconhecidos. 85 Op. cit., p. 5. 124 Este interesse ressurge a partir do Título seguinte, que encerra o diploma tratando das Comissões Cidadãs de Seleção – importante artifício prático da participação cidadã e do controle social, posto que tais Comissões se encarregam do cumprimento das funções de designação de autoridades ligadas à Defensoria Pública, à Controladoria Geral do Estado, ao Conselho Nacional Eleitoral, ao Conselho do Judiciário e outros corpos colegiados, procedendo também à fiscalização e eventual impugnação dos mesmos (art. 55). A implicação do regime de freios e contrapesos fica ainda mais evidente no artigo seguinte, que dispõe que, para fins de integração, cada comissão será integrada por um membro de cada Função. Aqui, também, a composição será paritária entre homens e mulheres. Brasil: Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014 O diploma brasileiro, notadamente, como já apontado, mais breve, não parte de princípios gerais como a Lei Orgânica equatoriana; fixa, ao invés, em seu art. 1º o objetivo de fortalecimento, por meio da Política Nacional de Participação Social (PNPS), das instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjuntaentre a administração pública federal e a sociedade civil. A parte final do dispositivo acaba por abrir o flanco para que o artigo seguinte elenque os conceitos que serão aplicados ao longo do Decreto – e a sociedade civil, o mais importante deles, abre a relação, representando “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações” (grifo nosso)86. Outros conceitos são apresentados, como conselho e comissão de políticas públicas – ambos instâncias colegiadas voltadas ao diálogo entre sociedade civil e governo, porém diferentes entre si no tocante aos prazos (sendo a primeira permanente e a segunda, dependente do cumprimento de suas finalidades) e delimitações (a segunda terá objetivo específico) –, mesa de diálogo (mecanismo que implica diretamente setores da sociedade civil e do governo, girando em torno de conflitos sociais) e audiência pública (mecanismo presencial e consultivo, aberto a quaisquer interessados e com possibilidade de manifestação oral, visando subsidiar decisões governamentais). As diretrizes gerais da PNPS, constantes do art. 3º, apontam a participação social enquanto direito do cidadão e expressão de sua autonomia; consagram a diversidade como elemento fundamental a ser respeitado; reconhecem o direito ao controle social nas ações públicas, bem como a ampliação de seus mecanismos87. Tais diretrizes, no entanto, não se confundem, por mais que haja inegável comunicação, com os objetivos da PNPS (art. 4º), que apontam a participação social como método de governo, de modo a determinar o desenvolvimento de seus mecanismos, inclusive voltados para os grupos sociais historicamente excluídos e para os vulneráveis; e a importância de se aprimorar a relação entre o governo federal e a sociedade civil. 86 Grifo, aliás, que reitera o comentário, do começo deste artigo, no sentido de não compreendermos, para os fins de participação cidadã e controle social, como cidadão, aquele atrelado à condição de eleitor. 87 Também aqui entendemos que a participação social – em paralelo nítido com a participação cidadã equatoriana – está para uma atuação a priori como o controle social se conforma à performancea posteriori. 125 Fechando o ciclo dedicado à PNPS, o art. 6º elenca os precitados mecanismos de participação social, retomando conceitos do art. 2º ao mesmo tempo em que deixa em aberto a possibilidade de criação e reconhecimento do que chama “outras formas de diálogo entre administração pública federal e sociedade civil”. São eles o conselho e a comissão de políticas públicas, a conferência nacional, a ouvidoria pública federal, a mesa de diálogo, o fórum interconselhos, a audiência econsulta públicas e o ambiente virtual de participação social. O mesmo dispositivo faz o elo com o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), já que, conforme o art. 7º, os seis primeiros mecanismos/instâncias elencados o integram. A coordenação do SNPS caberá à Secretaria-Geral da Presidência da República, a quem compete instalar e promover a participação social por meio do implemento orientado tanto do SNPS quanto da PNPS, valendo-se de estudos técnicos, avaliações, sistematizações e audiências e consultas públicas sobre aspectos da gestão de ambos (art. 8º). Assessorando-a e por ela coordenado, tem-se o Comitê Governamental de Participação Social (CGPS). Do art. 10 em diante, o Decreto se dedica à delimitação das diretrizes de cada um dos mecanismos de participação direta anteriormente apontados. De um modo global, imperam a consideração da opinião dos membros da sociedade civil envolvidos, a serem escolhidos por meio de critérios transparentes que observem a obrigatória diversidade na composição; no âmbito administrativo, a imposição da publicidade acena para o rol principiológico constitucional que rege a Administração Pública, enquanto o compromisso de resposta às propostas recebidas encerra o respeito e a missão de efetividade prática da participação social. Destaque-se, ainda, a ênfase inclusiva nos ambientes virtuais de participação social, com formatos acessíveis e tecnologias apropriadas a deficientes e “utilização prioritária de softwares e licenças livres como estratégia de estímulo à participação na construção das ferramentas tecnológicas de participação social” (art. 18), e a instituição da Mesa de Monitoramento das Demandas Sociais, voltada às pautas dos movimentos sociais. Resultados e Discussão Lei Orgânica do CPCCS e Decreto nº 8.243 – Quadro Sinóptico e Comparativo Equador: Lei Orgânica do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social Tônica principiológica, conceitual, ideológica e inclusiva; aspectos administrativos existentes, mas em caráter acessório, ainda que rico. Brasil: Decreto Presidencial nº 8.243, de 23 de maio de 2014 Tônica administrativa, condizente com a natureza jurídica de decreto; teor principiológico praticamente nulo; âmbito conceitual, ideológico e inclusivo presente, porém tímido. Distinção entre participação cidadã Distinção entre participação cidadã (a priori) e controle social (a (a priori) e controle social (a posteriori) presente. posteriori) presente, mas sem grandes aprofundamentos: ênfase 126 Identificação de um mal central a ser combatido: a corrupção. Promove a ideia de incentivo à atuação popular como um todo, sem delimitar as suas formas em rol fechado: gira em torno da ideia de iniciativas e fiscalizações. na relação entre a sociedade civil e a administração pública federal. Ausência de valoração desta espécie; novamente, a natureza de decreto já se mostra avessa, ou pelo menos afasta a obrigatoriedade de valorações. Mostra-se essencialmente vinculado aos mecanismos de participação social, muito embora deixando aberta a possibilidade de criação de outras vias. Considerações finais O presente artigo – inserido, como dissemos, em nossa investigação particular das veredas do constitucionalismo latinoamericano contemporâneo – propõe o cotejo empreendido como forma de avaliação acerca do projeto de integração do continente, analisando-se partes de modo a se extrair uma ideia não completa, mas minimamente sólida, do todo. Se o cerne de nossa imersão veio a ser o contraste entre uma Lei Orgânica e um Decreto Presidencial, fato é que não escolhemos partir das respectivas Constituições vigentes à toa. Muito pelo contrário, observamos a relação entre estes diplomas infraconstitucionais como um rico desdobramento de uma ideia que nos é cara, referente à importância dos diálogos constitucionais para fins comunitários. Em um olhar global e globalizado, observamos, ao longo dos últimos anos, o exemplo europeu de integração sendo alçado à condição de referencial-mor para outros continentes em que se almejasse esta ideia de cooperação (e, por que não? de cumplicidade). Trata-se de um exemplo calcado em – propositalmente usando um termo a que já recorremos – uma vascularização de instituições. Afonso da Silva assim coloca: A existência de um sistema jurídico supranacional, com normas igualmente válidas para todos os países membros; a existência de um Poder Executivo e de um Poder Legislativo e, sobretudo, a existência de uma jurisdição comum (seja da Europa em geral, seja da União Europeia em particular) é algo que muitos juristas brasileiros (talvez sul-americanos em geral) consideram como o objetivo a ser perseguido pelos países da América do Sul. A tese que subjaz a essa ideia é a de que, sem instituições comuns, sem uma legislação comum, sem um parlamento comum, sem uma jurisdição 127 comum e, talvez, sem uma constituição comum, não pode haver integração digna desse nome.88 Defende o autor, e o acompanhamos, que este modelo de integração, chamado institucionallegal, não pode ser tido como o único admissível, sobretudo quando o futuro próximo não guarda perspectivas razoáveis neste sentido para a América Latina. Propõe, então, que, ao invés de uma integração calcada em instituições, poderes, jurisdição e constituição comuns, dê-se uma outra, calcada na comunhão entre realidades, de ordem social, econômica, cultural – algo, por sua vez, plenamente presente em nosso continente. Esta é a chamada integração discursiva, calcada na precitada ideia de diálogos constitucionais, em que os arranjos constitucionais de nações de realidades irmanadas se comunicam através da confecção de normas que emulemaquelasestrangeiras –o chamado transplante legal89 – e, de forma infinitamente mais rica, no “livre fluxo de ideias, critérios interpretativos e teorias”90. Subjaz a esta ideia – rectius, necessidade – uma incessante fagulha, um atrito perpétuo entre os conceitos de Constituição e Democracia que nenhum dos dois almeja resolver – antes lhes serve de desconfortável base de existência. É o que aponta Wander Bastos: A teoria do poder constituinte atualizada pela análise da relação entre democracia e constituição é uma contribuição importante para pensarmos a permanente conexão e tensão entre Constituição, como pretensão de segurança, permanência e garantia de direitos, e Democracia como transformação social e conquista de novos direitos históricos. O poder constituinte originário, como um elo extremo entre democracia e segurança, é o reconhecimento da possibilidade/necessidade de revolução. O direito democrático não pode ficar distante, ou ignorar a possibilidade de revoluçãocomo processo radical e democrático de transformação social. O Direito deve estar próximo, permanentemente, à democracia.(...) Neste sentido, o poder constituinte originário deve ser este elo entre democracia e constituição no momento mais radical de transformação social: a ruptura revolucionária com a constituição antiga para a construção de um novo sistema democrático e também constitucional.91 (grifo nosso) 88 AFONSO DA SILVA, Virgílio. Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul, in VON BOGDANDY, Amin, PIOVESAN, Flávia e MORALES ANTONIAZZI, Mariela (orgs.), Direitos humanos, democracia e integração jurídica na América do Sul. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.517. 89 Op. cit., p. 518. 90 Op. cit., p. 519. 91 WANDER BASTOS, Aurélio. O Estado plurinacional na América Latina como uma construção do poder popular – A transição para a democracia popular na América Latina. Publicado na Revista Refundación. México: Fevereiro de 2013. Disponível em http://www.refundacion.com.mx. Acesso em 25 de junho de 2014. 128 Fato é que a ideia de atrito entre segurança e mudança permeou toda a trajetória constitucional, tanto do Brasil quanto do Equador, desde o momento em que suas respectivas ordens autoritárias sofreram o primeiro estremecimento, a primeira dúvida quanto ao seu futuro; quanto mais, portanto, a partir do momento em que a democracia foi retomada, fazendo surgir uma miríade de dúvidas acerca de como se daria sua aplicação prática. Não fomos econômicos neste ponto. Por sob a pele de nossas palavras, corre a translúcida ideia de que tanto a realidadeequatoriana quanto a brasileira plasmam sensações que rondam o continente latinoamericano e, inevitavelmente, os seus arranjos constitucionais – desconforto (palavra que, não à toa, destacamos repetidas vezes aqui), tensão, revolução, ruptura – sensações essas que, de tão palpáveis, chegam a formar, arriscamos dizer, o princípio de um léxico do constitucionalismo latinoamericano, o que é evidente inclusive no seu emprego recorrente por vários autores desta ampla temática. Mas o que observamos, descendo aos desdobramentos infraconstitucionais no Equador e no Brasil, dentro desta conjuntura? A própria natureza jurídica formal de cada um dos diplomas que lemos e comparamos – uma LeyOrgánica e um Decreto Presidencial – é o primeiro, embora ainda raso, indício do que se confirmou em mergulhos aprofundados posteriores acerca da relativa imaturidade da abordagem brasileira, não só em comparação com a equatoriana, mas sim perante a tendência instalada no continente à promoção da soberania popular a uma nova instância de controle prático – afinal, a Constituição Política do Estado Plurinacional da Bolívia, de 2009, dedica seu Título VI, muito embora sem a consideração formal de um Poder Constituído, à Participação e Controle Social, enquanto a Constituição da República Bolivariana da Venezuela, substancialmente emendada no mesmo ano, prevê expressamente um Poder Cidadão, calcado em seu art. 273. Propor, desde já, uma reconfiguração dos Poderes Constituídos brasileiros pode ser tanto pretensioso para este artigo quanto de pouca eficácia prática. A questão que pesa de fato e, ao mesmo tempo, está ao nosso alcance é o simbolismo que não é reconhecido à questão da participação popular/controle social em nossa realidade: o vulto de um decreto perante uma sociedade que mudou consideravelmente em um ano, ano este que viu expressões como movimentos sociais e manifestações ganharem transgressora significação, é, para além das estruturas que cria (já, como apontamos em nosso quadro, substancialmente limitadas por esta mesma natureza), desproporcional. É um cenário que se agrava no cotejo com a Lei Orgânica ainda sob outro ponto: aquele através do qual ela, incansavelmente, aponta a corrupção como alvo principal do combate que promove. Falta-nos conhecimento da política equatoriana – e isto é sintomático – para avaliar a extensão deste mal; contudo, não há palavra mais frequente em nosso próprio panorama do que esta. Desse modo, a carência principiológica e até mesmo ideológica de um decreto, dentro da comparação a que nos propusemos, deixa a desconfortávelideia de um mero reconhecimento residual das expressões mais concretas da democracia popular, a vagar como um cavaleiro errante à busca de um aleatório moinho de vento contra o qual bradar. Este é um constrangimento interno; perante o continente latinoamericano, contudo, uma manifestação como esta faz parecer que nosso 129 ordenamento vira as costas para um diálogo, um crescimento conjunto e, em última instância, para a integração da América Latina. Referências AFONSO DA SILVA, Virgílio. Integração e Diálogo Constitucional na América do Sul, in VON BOGDANDY, Amin, PIOVESAN, Flávia e MORALES ANTONIAZZI, Mariela (orgs.), Direitos humanos, democracia e integração jurídica na América do Sul. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, pp. 515-530. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO EQUADOR, 2008. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988. 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Acesso em 25 de junho de 2014. 130 A crueldade como marca nas ações de jovens delinquentes Antonio Sergio Spagnol Centro Universitário Estácio Uniradial, Campus Brooklin, Jabaquara Resumo A violência cotidiana sempre foi preocupação dos indivíduos que habitam os grandes centros urbanos. Contudo, há uma preocupação maior quando os envolvidos nessa violência são jovens ou adolescentes que utilizam a crueldade como marca de interação social. Uma pesquisa anterior com jovens internados na Fundação Casa pode se levantar as possíveis causas que levaram esses jovens à delinquência. A pesquisa também detectou um elemento bastante perturbador na fala dos adolescentes que era a crueldade que esses jovens infratores tratavam suas vítimas. Isso fez com que fosse elaborado uma nova pesquisa que ora ainda encontra-se em desenvolvimento. Alguns pontos são levantados para o entendimento desses fatores, mas ainda não a guisa de conclusões e sim de efeitos de estudos teóricos mais profundos que apontam para essa direção. O paper que ora apresentamos busca discutir esses elementos. Palavras-chaves: delinquência juvenil, crueldade, violência, segregação social, jovem infrator. Introdução A pesquisa que fundamentou este trabalho foi motivada originalmente por um estudo anteriorsobre jovens que se envolvem em violência na cidade de S. Paulo. A pesquisa buscou entender as principais causas e consequência do envolvimento de jovens na delinquência. São fortes as suspeitas de que adolescentes e jovens adultos, cada vez mais violentos, estão contribuindo para o crescimento dos crimes, em especial aqueles que provocam graves ameaças à integridade física dos cidadãos. Não é raro encontrarmos num círculo de amigos, aqueles que de alguma forma já presenciaram ou foram vítimas de algum tipo de violência. A pesquisa focou em jovens envolvidos na delinquência, na época, internados na Fundação Casa que haviam participado de infrações consideradas graves, como os homicídios e a tentativas de homicídios. Dessa pesquisa resultou um extenso trabalho. Contudo, alguns elementos que surgiram nas falas dos jovens entrevistados provocou um certo interesse que ora se faz presente na nova pesquisa que desenvolvemos no momento. A crueldade como que esses jovens tratavam suas vítimas. O uso de violência desnecessária em alguns casos e mesmo as atitudes que mostravam uma certa insignificância de suas vítimas, conferiam a esses jovens um papel de algoz numa sociedade que ainda não entendeu o que deve ser feito com esses jovens. A nova pesquisa que surge segue esta linha de objeto: qual, ou quais os elementos que interferem ou contribuem para a crueldade manifestada por esses jovens em suas atitudes delinquenciais. A proposta deste paperé levantar algumas dessas questões que a pesquisa aponta, mas que ainda não foram concluídas. 131 Algumas Leituras Nesta onda de preocupações, com frequência notícias veiculadas na mídia eletrônica deixam entrever acontecimentos que associam rebeldia juvenil, consumo abusivo e participação no tráfico de drogas à prática de crimes extremamente violentos que agridem sobremodo a consciência pública. Não raro, fala-se na emergência de gangues como uma espécie de coletivos organizados nos quais parcelas desses adolescentes e jovens são socializados para incorporar a violência como uma espécie de forma de vida - tal como o ethos guerreiro apontado por Elias (1990) e destacado por Zaluar (1997) em seus estudos sobre o crime organizado entre as classes populares no Rio de Janeiro. A mídia continuamente nos apresenta dado estatísticos de diferentes origens que apontam algo comum - o crescimento de jovens delinquentes em crimes considerados graves. As estatísticas oficiais de criminalidade são invocadas para sustentar essas suspeitas, ainda que os dados disponíveis não sejam sólidos ou convincentes para tanto. Seja o que for, fecha-se o círculo de inquietações: o crescimento da insegurança é como que proporcional ao maior envolvimento de adolescentes e jovens adultos no mundo do crime. As soluções propostas a esses comportamentos vão da redução da idade penal à pena de morte para o contingente que se envolve com delinquência. As justificativas para essasopiniões são de que: responsabilizar o jovem por seus atos, assim como os adultos o são, farão com que recuem em novas tentativas de atos delinquenciais. Até mesmo o fato do jovem poder participar do processo eleitoral é justificativo para a punição de seu ato infracional. Encontramos também os que defendam que a prisão os tirariam das ruas e a seria uma espécie de limpeza para debaixo dos tapetes. Gangues Algumas leituras de trabalho apontam a eficácia das gangues de jovens como forma de adentrar ao mundo da criminalidade. O trabalho anterior estudou esse ponto. Não há como afirmar categoricamente a não existência e gangues na cidade de São Paulo, isso porque a pesquisa não deu conta de todo o território paulista. Contudo a pesquisa mostra que há fortes indícios de que esta não seja por excelência o modo pelo qual a violência e os crimes praticados por esses jovens adquiram essa forma institucional. Analisando as características atribuídas pelos principais analistas que se ocuparam do estudo das gangues nos Estados Unidos e mesmo na Grã-Bretanha não encontramos os mesmos traços de comportamento institucionalizado entre os adolescentes e jovens observados. Em especial, os sinais identitários de pertencimento a uma gangue estão ausentes, assim como outras características como a continuidade do tempo e no espaço. Ainda que o estudo de Diógenes (1998) sobre os adolescentes e jovens de Fortaleza-Ceará apontem na direção das gangues ou então as pesquisas de Waiselfisz (1998,2002) que dão conta das gangues de jovens de Brasília-DF, não alcançamos resultados idênticos ou comparáveis para os delinquentes autores de graves infrações penais, na cidade de São Paulo. Creio mesmo que o longo e exaustivo programa de estudos realizado por Zaluar (1997) também não tenha ido na mesma direção, a despeito das fortes características de crime organizado a que o tráfico de drogas entre as classes populares do Rio de Janeiro vem assumindo há mais de três décadas e para o qual a participação de crianças, adolescentes e jovens adultos revela destacada 132 importância. Mesmo aqui, os traços que os identificam não sustentam a constituição de gangues, pelo menos no modo pelo qual esse fenômeno foi abordado pela literatura especializada. Os resultados desta pesquisa não podem, por certo, referendar uma conclusão desta ordem. A inexistência de estudos históricos e antropológicos impedem de saber se a crueldade e o desprezo pela vida de outrem é traço característico do comportamento de adolescentes e jovens adultos, autores de graves infrações penais, traço esse que ganharia contornos culturais próprios de tempos em tempos, conforme o curso de processos de mudança social. Então, restam duas questões a serem explicadas: a) a atualidade dessa forma de comportamento; b) por que apenas alguns adolescentes e jovens adultos manifestam este comportamento, enquanto que outros não se inclinem na mesma direção, embora possam até cogitá-lo diante de circunstâncias determinadas de conflito e de desafio? A organização deste paper tenta seguir a primeira direção. Sociedade contemporânea Por atualidade, estou entendendo um momento de ruptura abrupta face aos hábitos, convenções e rituais de comportamento coletivo sejam herdados de um passado longínquo, sejam herdados de um passado imediato, marcado por acontecimentos significativos como revoluções políticas, sociais e culturais. Atualidade é presente; presente é ruptura, mas também o que permanece pela recorrência do acontecimento. É assim que se pode entender a atualidade da crueldade praticada por adolescentes e jovens adultos autores de graves infrações penais, em particular homicídios e o horror em cada um. A crueldade aponta esse momento de ruptura. Pode ser encontrada em diversos momentos da história brasileira, mas é no presente que ela se atualiza como ação perturbadora. É no momento que ela é problematizada no sentido de Foucault, isto é circula nas instâncias de produção discursiva, de produção de poder e de produção de saber (Foucault, 1990). A emergência da crueldade como expressão recorrente da violência nesta sociedade indica que algo se rompeu na sociedade brasileira, uma interrupção de proporções consideráveis pois que atravessa os mais distintos campos do discurso, das relações de poder e das possibilidades de conhecimento e de justificativa racional para tais acontecimentos. A pesquisa direciona para algumas suspeitas. Uma delas o deslocamento de camadas da população mais pobre para a periferia. Esse deslocamento cria uma forte demarcação de territórios na cidade que acirra a competição na composição urbana. Vejamos: A rua sempre foi considerada um espaço de socialização. Segundo DaMatta (1990:73), a rua remete a um espaço controlado, onde as coisas “estão em seus devidos lugares(...) isto é, os ocupantes da casa são diversos dos ocupantes da rua”. Principalmente no final do século XIX, com o advento da República e também de um acelerado processo de urbanização que trouxe consigo um aumento em geral da criminalidade e vadiagem (Kowarick, 1987; Alvim, 1988). Em relação a essa questão da rua ser a responsável pela socialização, Caldeira (2000), diz que com os enclaves fortificados92que surgiram nas últimas décadas as ruas se transformaram e segundo 92 Os Enclaves fortificados são diferentes tipos de construções que surgiram nas últimas décadas que se caracterizam por segregarem uma parcela da população. Como por exemplo, os condomínios fechados, os shoppings centers, os sistemas de segurança que 133 autora, “na São Paulo contemporânea, o espaço público é mais vazio e o uso das ruas, calçadas e praças é mais raro exatamente onde há mais enclaves fortificados, especialmente os residenciais (...) as ruas são para os automóveis e a circulação de pedestres torna-se uma experiência desagradável (...) andar no Morumbi é um estigma – o pedestre é pobre e suspeito” (2000:314). Mas não é somente em bairros considerados de classe média alta que ocorreram essa segregação. As favelas também produzem um espaço diferenciado. São assim, uma espécie de enclaves privados, segundo a autora, “apenas moradores e conhecidos se aventuram a entrar e tudo o que se vê das ruas públicas são algumas poucas entradas (...) Quando tanto os moradores ricos como os pobres vivem em enclaves, cruzar muros é obviamente uma atividade cuidadosamente policiada, nas quais os sinais de classe são interpretados para determinar níveis de suspeita e assédio” (idem:315). Apesar das ruas estarem cheias de gente as interações das relações anônimas mudaram, não somente em atitudes, mas também na composição. Quem circula pelas ruas são em sua maioria são oriundos de classes populares, enquanto a classe média prefere ir as compras em shopping-centers. Não é raro o sentimento de quem utiliza o transporte público como uma luta em busca de espaço e segurança. O que impera na média é hostilidade. Nos últimos anos podemos presenciar os enfrentamentos de grupos organizados de trabalhadores sem teto com a polícia. A mídia dispõe de farto material apontando para inúmeros confrontos nas desocupações e ou retomadas de posse principalmente nos centros das capitais, onde a especulação imobiliária é maior e a infraestrutura urbana também. A mídia aponta que desde janeiro de 2014 houve 7 incêndios em favelas em São Paulo, em todos eles há uma desconfiança por parte dos bombeiros que os incêndios tenham sido criminosos. Mas nada conclusivo até agora outubro de 2014. Nesse mesmo período houve um aumento da especulação imobiliária nas mesmas regiões das favelas incendiadas93.. Há uma força que empurra os mais pobres para as regiões periféricas da cidade. Outros embates entre classes emergiram nos últimos anos como exemplificaram os chamados rolezinhos quando jovens da periferia ocupavam espaços urbanos – shoppings, parques - até então utilizados principalmente pela classe média alta. O desconforto na divisão do espaço ficou visível nessas novas relações. Também não foi raro essas ações terminarem em violência generalizada pelas ruas da cidade. Esses fatos por si só não justificam a crueldade dos jovens envolvidos em delinquência, mas nos apontam a emergência de novas relações sociais, ainda não formatadas totalmente, mas que sugerem uma nova ordem, uma nova hierarquia nessas relações. A sociedade que emergiu após o período da ditadura militar não é mais a mesma. Apesar de ainda termos resquícios de autoritarismo, não somente por parte do Estado, mas nas intrincadas relações humanas é possível identificar nas falas dos jovens infratores uma mudança importante nas relações transformam as residências em locais de prestígio, etc. Volto detalhadamente nessa questão no capítulo seguinte.(citado também em SPAGNOL, A.S. Jovens Perdidos, 2008) 93 .Ver: CsabaDeák,Sobre Especulação Imobiliária , disponível em : http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/3publ/855spec/index.html acessado em 10.10.2014 134 hierárquicas das classes sociais. Ainda não podemos confirmar – a pesquisa ainda não caminhou nessa direção o suficiente – que a segregação social é um dos elementos que acirram os ânimos e incentivam uma reação mais violenta nas relações sociais contemporâneas, nem mesmo os elementos presentes nas novas relações sociais, mas são indicativos de que podem colaborar de forma mais contundente do que se imagina o senso comum. A crueldade Como entender a crueldade nas ações dos jovens envolvidos em delinquência na cidade de São Paulo? Podemos pensar nas novas relações que surgem com a sociedade contemporânea? Nas segregações urbanas?A crueldade talvez seja uma remodelação nas novas relações - cuja identidade esteve até recentemente marcada pela não-violência, pela resolução pacificada dos conflitos e tensões nas relações sociais, pela preferência para a reforma e conciliação. A ruptura discursiva indica que é preciso rever mitos e fabulações; mais do que isto, que é preciso incorporar a violência e uma de suas manifestações - a crueldade com que adolescentes e jovens adultos praticam crimes violentos - como traço identitário desta sociedade. Trata-se de uma sorte de perturbação discursiva que, sequer durante a vigência da ditadura, pôde ser admita e reconhecida como própria de nosso modo de ser. Mas, há também uma profunda interrupção nas tradicionais relações de poder e de dominação nesta sociedade. As imagens de passividade e sujeição incontestes dos dominados e das classes populares parecem ter se perdido no ar. Os fatos examinados nesta pesquisa sugerem expressões radicais de mudanças nas relações hierárquicas e de dominação. Aqueles que tradicionalmente mandavam, podem, na atualidade, se converter em vítimas potenciais, mesmo que entre as vítimas estejam os iguais, aqueles que vivem debaixo das mesmas condições adversas de existência. A violência se torna mais visível quanto mais próximo da classe média. O linchamento, por exemplo, é um elemento da crueldade também. Os linchamentos sempre existiram em diferentes tempos e espaços, mas não como elemento midiático. O linchamento sempre foi silencioso, os linchamentos atuais estão mais para um show de horror, com filmagens, e direito a narração dos fatos em tempo real. O desejo de destruir o outro, de impor uma humilhação degradante estão a indicar não apenas a vontade de destruição material do corpo da vítima, mas também de destruição de uma certa configuração de relações de força sociais cujo campo de gravitação é o corpo social. Eliminar o corpo do outro pode significar, entre outros possíveis significados, o desejo de constituição de um novo corpo social, isento dos hábitos tradicionais de mando e obediência. Pode igualmente traduzir disposições sociais, até há pouco sob a epiderme do corpo social, no sentido de soterrar as formas tradicionais de poder, mando e autoridade, em favor de novas modalidades de sujeição cuja configuração não é possível, pelo momento circunscrever seus contornos. Os estudos de Martins (1996) sobre linchamento e sobre a crise do poder tradicional, no Brasil recente, parecem de certo modo referendar essas conclusões que, no final desta pesquisa, emergem como hipóteses e merecem ainda novas investigações. Ademais, as formas de crueldade presentes no comportamento de adolescentes e jovens infratores introduzem igualmente microscópicos desarranjos nas relações entre fatos, acontecimentos 135 e suas formas possíveis de justificação e legitimidade. No passado recente, a crueldade revelava um certo pudor. Se os julgadores (agentes policiais, promotores públicos, assistentes de acusação, juízes etc.) poderiam imputar aos autores de crimes traços de comportamento violento, não era recorrente que os acusados reconhecessem na crueldade um traço afirmativo de seu comportamento criminoso, à exceção de alguns poucos. A publicização desse traço de comportamento dava-se, na melhor das hipóteses, no interior das prisões, como uma espécie de estratégia de autodefesa de presos contra as investidas violentas de outros presos. Com uma intensidade menor, isso pode ser observado no interior das instituições responsáveis em abrigar menores infratores: estupros e espancamentos ou mesmo mutilação do corpo do outro é recorrente nesses locais, ainda mais em casos de rebeliões. Em outras palavras, não parecia legítimo recorrer à crueldade e à imposição de sofrimento às vítimas. Uma interrupção nessa ordem de arranjos entre fato, conhecimento e legitimidade irrompeu em curto espaço de tempo. Entre alguns segmentos da população jovem, ser cruel passou a ser uma forma de afirmação identitária, uma forma de construção de subjetividade nutrida do risco, da aventura, do desafio e da superação dos limites, quaisquer que sejam, inclusive e por excelência os limites morais. Desse modo, se o enraizamento da violência é uma herança do passado. Essa herança - entendida como um conjunto de forças sociais - reaparece no presente. Algumas considerações finais É seguro que, para compreender a atualidade dessas formas de crueldade na sociedade brasileira, não se pode prescindir da referência às mudanças sociais em curso na sociedade. Não é o caso de um inventário exaustivo desse conjunto de mudanças. Nunca é demais lembrar, processos de transição e consolidação democrática alteraram profundamente as bases institucionais desta sociedade, em especial as relações entre sociedade civil e o espaço político, ainda que as heranças do autoritarismo social e político permaneçam presentes, como se pode entrever nas intervenções policiais violentas no seu mister de controle da ordem pública. O novo perfil institucional da sociedade brasileira pós-transição democrática incidiu sobretudo nas formas de participação e de representação social e política de sorte que, em diferentes espaços da vida em comum, verificaram-se profundas perturbações nas relações hierárquicas entre classes e estratos socioeconômicos, com repercussões nas crenças coletivas, em particular na autoridade das leis e das instituições como mecanismos de intermediação de conflitos. Ao lado desses processos, a sociedade brasileira vem conhecendo, há pelo menos uma década, transformações profundas no âmbito da produção e do mercado de trabalho, no âmbito dos processos de mobilidade da classe trabalhadora e sobretudo no âmbito das relações intra e inter-geracionais. Ademais, a introdução de tecnologias avançadas repercute na vida cotidiana - alterando, por exemplo, os empregos sociais (e habituais) do tempo e do espaço, estimulando uma nova cosmovisão das relações de alteridade o que se expressa, por exemplo, na reformulação das relações entre proximidade e distância, entre o próximo e o estranho e o reconhecimento do outro - o reconhecimento do outro como sujeito de direitos, entre os quais o mais fundamental deles, o direito à vida e à sua proteção coletiva e institucional. Estaríamos talvez, mais do que nunca, à beira de uma revolução em nosso horizonte intelectual e moral que faz com que não mais haja interditos contra a violência e a destruição do outro. 136 Seguramente, trata-se de processos gerais que também estimulam uma série de outros problemas. Por que então destacar adolescentes e jovens como autores de crimes violentos, praticados com requintes de crueldade e de humilhação de suas vítimas? Talvez porque esses segmentos da população assumam a identidade e o papel das forças renovadoras, capazes de reinterpretar os acontecimentos presentes, ainda que sob formas de comportamento coletivo violento, cruel e hostil ao que se poderia, até recentemente, considerar padrões de reciprocidade esperados nas relações sociais pacificadas. Em distintos momentos históricos e em distintas sociedades, adolescentes e jovens adultos foram ponta de lança de profundas mudanças sociais, ora atirando-se às aventuras das guerras e das conquistas, ora à aventura das invenções e da criação artística, ora através da rebeldia e da insubordinação às regras ditadas pela sociedade adultocêntrica. Não sem motivos, a inserção ao que parece cada vez mais precoce no mundo do crime e da delinquência. Esses adolescentes e jovens adultos, autores de crimes graves, podem estar assumindo o papel de porta-vozes dessa nova alteridade em constituição cujos sinais toscos e grosseiros se espelham na crueldade e na imposição de sofrimento às suas vítimas. Por outro lado, as éticas vocacionais, muitas delas dotadas de forte inspiração religiosa que, no passado, asseguravam o represamento das pulsões e do desejo [Weber, 1974], se não mais parecem mecanismos sólidos para conter os conflitos dos indivíduos entre si e com a sociedade, muito menos ainda o são para evitar as tensões entre coletivos sociais. Está-se em plena era das paixões, sem que quaisquer interditos ou freios morais subjetivos consigam objetivar a experiência social. Os homens veem o mundo como espelho de si mesmo e não se interessam por eventos externos a não ser que desenvolvam um reflexo de sua própria imagem. Deixaram de compartilhar um fundo comum de signos públicos. Assim, torna-se impossível a busca do auto interesse esclarecido [Sennett, 1987]. O sinal mais visível desse processo reside na acentuada perda de eficácia da ética vocacional do trabalho, cujos efeitos se manifestam em todas as classes sociais, em particular entre as classes trabalhadoras" (1996, pp. 33-34). Portanto, argumentos como crise moral (Durkheim, 1893, 1897 e 1963); crise das éticas vocacionais do trabalho (argumento inspirado em Weber, 1987) e mesmo as sugestivas análises de Elias (1990) sobre o processo civilizador moderno parecem estreitos para dar conta dos novos processos em curso. Todas essas teorias sociológicas foram forjadas para explicar o nascimento de nossa modernidade e inclusive dos processos de subjetividade e de subjetivação constituídos em torno da ideia do sujeito autônomo, sede por excelência da razão. A explosão da violência, em particular de suas modalidades mais cruéis, em nossa atualidade, constitui acontecimento que introduz uma ruptura irreversível no processo civilizador que não significa necessariamente retorno à barbárie, como querem alguns, pois que a explosão da violência e da crueldade convivem com as formas mais avançadas e superiores de existência social. Não raro mesmo, a violência é invocada em nome de uma ordem pacificada, como o sugerem os conflitos étnicos e raciais que se espraiam pelo mundo afora. É por isso também que a clássica inquietação para com a natureza dos seres humanos que cometem crimes parece hoje completamente destituída de sentido. Quem são os adolescentes e jovens adultos que cometem crimes violentos com tanta crueldade? Em que se diferenciam dos demais adolescentes e jovens adultos? Em que se diferenciam dos demais delinquentes, inclusive adolescentes e jovens adultos? Trata-se de uma questão que remete à ideia, alimentada em nossa 137 modernidade ocidental, de que a natureza dos seres humanos remete à sua essência interior - à sua consciência moral, ao seu caráter, à sua personalidade ou à sua sanidade mental, ou qualquer outro atributo que defina sua natureza. Afinal, aprendemos que é 'desde cedo que se torce o pepino". Ora, na medida em que as formas de subjetividade moderna, vigentes em nosso ocidente - inclusive em suas expressões mais extremas como a dos povos colonizados da América Latina - se encontra em acentuado processo de desconstrução, não há por que insistir na pertinência daquela obsessão. Não é à natureza dos indivíduos ou à sua subjetividade que se deve buscar explicações; porém às linhas de fuga proporcionadas pelo esgotamento de nosso modelo de alteridade, forjado com nossa modernidade. O foco deve ser portanto as formas de comportamento - a crueldade, por exemplo - e não a existência de indivíduos cruéis que, aliás, sempre existiram. Bibliografia citada ALVIM, M.Rosilene Barbosa &Valladares, l.P. (1988) “Infância e sociedade no Brasil, uma análise da literatura”, In:Bib, n.26. CALDEIRA, Tereza P. (2000) Cidade de Muros, crime, segregação e cidadania em São Paulo, SO. Editora 34/Edusp. DAMATTA (1990) Carnaval, Malandros e Heróis, RJ. Guanabara. DIÓGENES, Glória. (1998), Cartografias da cultura e da violência: gangues, galeras e o movimento hip hop. São Paulo, AnnaBlume. DURKHEIM, Émile (1987) Lições de sociologia, a moral, o direito e o Estado, SP. Edusp. ELIAS, Norbert. (1990), O processo civilizador. Rio de Janeiro, Zahar, vol. I e II. FOUCAULT, Michael (1990). História da Sexualidade, a vontade do saber, RJ. Graal. KOWARICK, Lucio. (1987), Lutas Sociais e a Cidade, RJ. Paz e Terra MARTINS, José de Souza. (1996), “Linchamento, o lado sombrio da mente conservadora”. 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Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, reitoria, campus Chácara Flora 3. Centro universitário Estácio Radial de São Paulo, Pedagogia, Educação Física, Letras, campus Santo Amaro e Interlagos 4. Resumo O presente artigo descreve o processo de implementação de uma gestão acadêmica compartilhada e seus resultados Ao criar canais de participação real para docentes, discentes e demais colaboradores do meio universitário, cultiva-se a motivação participativa em detrimento das aspirações meramente técnicas, esvaziadas de sentido histórico de criação, reprodução e apropriação do conhecimento. Aproximar pessoas, estratégias e desempenho organizacional constitui-se em um novo paradigma de gestão educacional, sobretudo por romper com modelos ultrapassados alicerçados na centralização de poderes. Dessa forma iniciamos as discussões e trabalhos a parir de agosto de 2011. Palavras Chaves: ensino superior, gestão acadêmica; gestão compartilhada. Introdução A gestão democrática na educação, entendida como sinônimo de participação da comunidade, autonomia e descentralização administrativa, vem ganhando ênfase nas políticas educacionais encaminhadas no Brasil, a partir da década de 90, especialmente com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Propõe-se como principais instrumentos de gestão escolar democrática, a criação dos Conselhos e Grêmios Estudantis, a elaboração do Projeto Político pedagógico no âmbito interno, escolha direta de diretores, dentre outros. 94 Mestre em Saúde. Reitor do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. [email protected] 95 Mestre e Ph.D. em Administração e Doutorando em Geografia Física. Professor e Conselheiro do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. [email protected] 96 Mestre e Doutora em Psicologia da Educação. Reitora do Centro Universitário Radial de São Paulo. [email protected] 97 Mestre em História das Ciências e doutora em Ciências. Professora e Conselheira do Centro Universitário Estácio radial de São Paulo. [email protected] 139 Contudo, embora, identifiquemos um avanço na legislação e nas proposições governamentais, seja em nível federal seja no estadual, verificamos, ao mesmo tempo, que as escolas ainda estão longe de construir uma prática interna realmente democrática. No entanto, a própria legislação vem produzindo uma demanda para o aperfeiçoamento profissional na área gestão escolar. Estes aspectos, por si só, são indicativos da relevância do tema e da necessidade de amplia- ló. Gestão educacional compartilhada um processo de reflexão e reconstrução acadêmica. Histórico da Prática desenvolvida no Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Para entendermos o processo atual do desenvolvimento das ações implantadas e compreendermos a sua expansão na comunidade acadêmica, tornar-se-á indispensável refletir, cronologicamente os fatos ocorridos no Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo – Estácio UNIRADIAL. É uma Instituição de Ensino Superior tradicional na cidade de São Paulo, na década de 1960, quando iniciou suas atividades na área educacional com a oferta de cursos preparatórios e de especialização técnica. Em 1976 teve inicio a oferta de cursos de formação profissionalizante. Em 1985, contava com 7.000 (sete mil) alunos e tornou-se referência no Ensino Técnico em São Paulo. A partir de 1989, a IES, sempre com característica voltada ao gerenciamento familiar e com status de filantropia sentiu-se preparada para iniciar suas atividades ampliando sua oferta a cursos superiores. Em 1998, foi dado um importante passo com a inauguração de diversos campi na cidade de São Paulo. Em 2001, a Radial credenciou-se como Centro de Educação Tecnológica, sendo uma das primeiras instituições particulares desta natureza no Brasil. No ano de 2003, a Instituição foi credenciada pelo Ministério da Educação como Centro Universitário. Em 2007 já com aproximadamente 20.000 alunos foi integrada ao grupo Estácio Participações, com aproximadamente 220 mil alunos, caracterizada por gerenciamento altamente profissional, com fins lucrativos e de capital aberto, sendo uma das primeiras IES no cenário educacional brasileiro a disponibilizar ações no mercado de capitais. Em 2010, o Centro Universitário de São Paulo - Uniradial, passou a denominar-se Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo – Estácio UNIRADIAL. Tal mudança objetivou a busca de oportunidades educacionais oferecidas aos seus alunos que se beneficiam com novos subsídios acadêmicos e administrativos e por fim a oportunidade da Estácio Participações conquistar um mercado ainda não explorado por esta companhia. Por ser uma das primeiras aquisições de grande porte de uma IES e por não ter parâmetros no cenário brasileiro o processo de uma interculturação entre a UNIRADIAL e a Estácio Participações apresentou desafios movidos por questões culturais e filosóficas. Em Agosto de 2011, mediante a proposta de recuperação operacional e acadêmica do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo a atual reitoria propôs a criação de um campo reflexivo, multidisciplinar e resultante do processo democrático de discussões e apresentações das ideias provenientes dos atores envolvidos, em busca da reestruturação acadêmica administrativa. Para tanto, foi criado um conselho consultivo acadêmico, composto por docentes e representantes técnicos administrativos onde as questões pudessem ser amplamente discutidas e as propostas para melhorias 140 pudessem ser implementadas e acompanhadas. As diretrizes norteadoras do Conselho Acadêmico são: reestruturação acadêmica de SP promovendo qualidade, competitividade e produtividade; alinhamento entre operação e academia; aumento da eficiência operacional; realinhamento na execução de papéis e responsabilidades; controle dos procedimentos; melhoria da qualidade dos serviços prestados; definição de um modelo operacional e promoção da valorização humana como o aspecto mais importante da Missão da Empresa. O processo surgiu com a perspectiva de integrar a prática estratégica à gestão compartilhada e por tratar-se de um fenômeno contemporâneo de bastante interesse, tanto no meio acadêmico quanto no mundo corporativo. Partindo da premissa de que as pessoas constituem-se como os ativos mais importantes e fonte de vantagem competitiva sustentável das organizações, refletimos sobre o papel crítico da gestão compartilhada para a continuidade das instituições de ensino superior. Experiências bem sucedidas em gestão de pessoas nem sempre podem ser simplesmente replicadas, pois a reprodução desses modelos por si só não garante o mesmo sucesso, dado que os resultados não são generalizáveis devido à complexidade peculiar da constituição de cada organização. No entanto, torna-se possível abstrair alguns aspectos que ampliam a discussão do inter-relacionamento entre a teoria e a prática efetiva, ao aproximar pesquisas exploratórias com a investigação contextualizada numa realidade institucional, investigação esta, ora pautada na visão, missão e valores que alicerçam o modelo de gestão compartilhada em curso no Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Esta nova orientação organizacional pode ser considerada uma ação pedagógica por estabelecer relações sociais democráticas, incluindo-se, de fato, os atores com poder de decisão em processos organizacionais relevantes e estruturantes à coletividade acadêmica. Ao criar canais de participação real para docentes, discentes e demais colaboradores do meio universitário, cultiva-se a motivação participativa em detrimento das aspirações meramente técnicas, esvaziadas de sentido histórico de criação, reprodução e apropriação do conhecimento. Aproximar pessoas, estratégias e desempenho organizacional constitui-se em um novo paradigma de gestão educacional, sobretudo por romper com modelos ultrapassados alicerçados na centralização de poderes. Dessa forma iniciamos as discussões e trabalhos a parir de agosto de 2011. Objetivos da Prática Eficaz. Refletir sobre o papel crítico da gestão compartilhada para a continuidade das instituições de ensino superior. Criar canais de participação efetiva para a comunidade acadêmica da Estácio Uniradial, cultivando assim a motivação e o resgate do sentido histórico de criação, reprodução e apropriação do conhecimento, aproximando pessoas, estratégias e desempenho organizacional, visando à reestruturação dos projetos pedagógicos dos cursos. Público Alvo Atingido. O planejamento e estruturação das estratégias discutidas e consolidadas pelo Conselho Acadêmico são difundidos em todas as áreas da Estácio Uniradial, e dessa forma o alvo não se restringe apenas uma área específica uma vez que o foco no cliente interno (colaboradores, docentes, coordenadores) com ações efetivas influencia de forma positiva os clientes externos – discentes, fornecedores, terceiros e a comunidade. 141 Descrição das Atividades Implantadas. O Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo alicerçar-se em uma proposta de gestão compartilhada, implementando um Conselho Acadêmico (C.A), caracterizado pela participação, capacitação, envolvimento e desenvolvimento do bem mais precioso de uma organização que é o Capital Humano. Cabe ao C A da Estácio Uniradial a importante função de humanizar, dar transparência e qualificação ao processo pedagógico. Nesse contexto, a Reitoria do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo propôs a criação de um conselho onde os fatos possam ser discutidos, ambientados e compartilhados com todos os atores envolvidos. Desta forma o lócus deve garantir a efetivação da práxis e a participação de todos no movimento de reestruturação acadêmica e administrativa da Instituição, pensando em uma gestão eficaz para atingir a qualidade no seu crescimento organizacional. Nesta perspectiva as dimensões abaixo citadas constituem prioridade desta gestão compartilhada: orientando os coordenadores, corpo docente e o Núcleo Docente Estruturante (NDE) dos cursos a atuarem como responsáveis pelo desenvolvimento do aluno, tornando-o um cidadão crítico, reflexivo e transformador, capaz de interferir socialmente em sua comunidade; garantindo que as ações determinadas no Conselho Acadêmico sejam implementadas no âmbito do ensino e da administração atendendo as demandas institucionais; orientando os professores quanto à legislação educacional e aos resultados obtidos pela Comissão Própria de Avaliação –CPA - e ao desenvolvimento de planos de ação visando melhorias nas fragilidades. Estas ações são planejadas e desenvolvidas em processos categorizados por eventos divididos em períodos: de entendimento, de orientação, de reflexão e retenção de ações, envolvendo a Reitoria, as Pró-Reitorias, as Gerências Acadêmicas, o Conselho Acadêmico, os Gestores de campus, as Coordenações dos cursos, a CPA e os Professores, os Colaboradores técnicos administrativos e os Representantes discentes. O Conselho estipulou um protocolo na abordagem das informações relevantes quanto à legislação, políticas educacionais da instituição e desempenho dos cursos. Essas informações são apresentadas pelo Conselho Acadêmico aos atores, liderados pelo seu respectivo presidente; o relator é um membro do C.A, com aderência e titulação orientando os processos a serem desenvolvidos. O Coordenador do curso tem a incumbência de apresentar ao CA e aos seus pares e professores, o Projeto Pedagógico do Curso, apontando pontos significativos, tais como: relevância social do curso, missão, objetivos do curso, perfil do aluno egresso, eixo de disciplinas que garantam a desejada formação, ações em atenção à comunidade e ações de nivelamento e apresentação das qualificações do corpo docente. Cabe aos membros do C.A apontar as fragilidades dos cursos e indicar a necessidade dos planos de ações. Essas ações serão acompanhadas pelo relator designado, pelo coordenador do curso e NDE, quinzenalmente, visando sempre à qualidade do curso e a sustentabilidade financeira. Cabe ainda ao coordenador do curso e ao relator, motivar o corpo docente, corpo técnico administrativo e discente a participarem efetivamente da implementação e execução dos planos de ações. 142 Liderança A reitoria fomenta um campo fértil para discussões e reflexões multidisciplinares, resultante do processo democrático e de idéias compartilhadas, provenientes dos atores envolvidos, em busca da reestruturação acadêmica e administrativa. As diretrizes norteadoras do Conselho Acadêmico são: reestruturação acadêmica de São Paulo promovendo qualidade, competitividade e produtividade, alinhamento entre operação e academia, aumento da eficiência operacional, realinhamento na execução de papéis e responsabilidades, controle dos procedimentos, melhoria da qualidade dos serviços prestados, definição de um modelo operacional, promoção da valorização humana como o aspecto mais importante da Missão, Visão e valores do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Equipe Envolvida com a Prática Adriano Luís Fonseca – Reitor; Susane Garrido – Coordenadora Nacional do Departamento Regulatório da Estácio; Rita Elvira Garcia – Pró Reitora de Graduação; Conselheiros: Relação em anexo. A atividade se situa na Reitoria, Gerencia Acadêmica, Coordenações de cursos, Departamento Regulatório, Diretoria de Ensino Nacional, Diretoria de Núcleo, NDE, CPA e Diretoria Regional de Operações. Participação da Alta Direção A Reitoria do Centro Universitário reúne-se semanalmente com os Conselheiros Acadêmicos, a fim de discutir os entreves do processo de reestruturação acadêmica administrativa. Neste momento as demandas locais de cursos e campus são discutidas e após reflexões são indicadas soluções operacionais. Por intermédio do Reitor as decisões são levadas à Diretoria Regional, a Diretoria Nacional de Ensino e ao Departamento Nacional Regulatório da Estácio os quais efetivamente traduzem as decisões em respostas operacionais de implementações. Foco O foco principal da prática da Gestão Compartilhada significa que a Instituição de Ensino Superior (IES) quer se relacionar de forma inclusiva, íntegra, ética e simultânea com todos que são parte do processo educacional direta ou indiretamente, (dirigentes, docentes, administrativo, discentes, fornecedores, parceiros, comunidade e governo). Considerando a diversidade nas suas ações e na gestão de suas atividades, reconhecendo a importância de cada um, valorizando assim o compromisso com a IES. Assim, se justifica uma nova forma de gestão, que articula as diversas áreas da IES, já que estes atores se relacionam mais intensamente com a função acadêmica. Stakeholders Todos os envolvidos direta ou indiretamente com a IES: dirigentes, docentes, administrativo, discentes, fornecedores, parceiros, comunidade e governos Estadual, Municipal e Federal. Docentes/Funcionários A composição do Conselho Acadêmico (CA) e formada por professores do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Representantes da Reitoria e da Comissão Permanente de 143 Avaliação (CPA), além de contar com participantes convidados quando da necessidade de apresentação e divulgação de algum programa ou atividade específico que for de interesse da IES. Administrativo Atuação como facilitadores das ações a serem implementadas, além de atuarem como multiplicadores na divulgação das diretrizes da IES. Econômico-Financeira Manter a saúde financeira da instituição aliada à finalidade de promover uma educação superior de qualidade vem sendo um dos objetivos da Gestão compartilhada, consolidando os mecanismos de Gestão Financeira e Orçamentária, em detrimento da manutenção das equipes que desenvolvem suas atividades junto a Gestão compartilhada da IES. Acadêmico Ações planejadas e desenvolvidas são processos categorizados e divididos em períodos: de entendimento, de orientação, de reflexão e retenção de atividades, envolvendo a Reitoria, as PróReitorias, as Gerências Acadêmicas, o Conselho Acadêmico, os Gestores de campus, as Coordenações dos cursos, a CPA e os Professores, os Colaboradores técnicos administrativos e os Representantes discentes. Comunidade O valor agregado do projeto da Gestão compartilhada reflete em ações que possibilitam a ampliação do vínculo com a comunidade externa e a formação de profissionais qualificados e comprometidos com as perspectivas da sociedade contemporânea. RESULTADOS Formas de Avaliação A Estácio Uniradial além de analisar os resultados decorrentes de avaliações externas, realiza avaliações internas sistemáticas. Esse processo avaliativo permite que os alunos, docentes e técnicoadministrativos possam opinar sobre várias dimensões da IES. O projeto de implantação do Conselho Acadêmico levou em conta, entre outras variáveis, o resultado obtido na pesquisa de clima organizacional, onde os três menores índices de favorabilidade recaim sobre Cultura e Valores (60%); Reconhecimento e Incentivos (56%) e Recursos (45%). Embora esses resultados mostrassem uma evolução positiva, se comparada com 2009 (Gráfico 1), a Reitoria, mediante entrevistas com professores, entendeu que uma das reivindicações de professores sinalizava para o item de reconhecimento no que diz respeito à sua participação mais ativa nos processos da IES; por outro lado, em uma Instituição multicampi, percebiam-se linhas de condutas diferentes na implantação do mesmo projeto pedagógico, com dificuldades de consolidar a cultura e os valores que permeiam a proposta pedagógica institucional. 144 Gráfico 1. Fonte: Pesquisa de opinião – Clima Organizacional 2009 – 2011 Na avaliação institucional interna respondida por alunos, ao analisar o índice de satisfação do aluno com relação ao Curso (média – de zero até cinco - da nota atribuída ao curso e a nota atribuída ao professor) nota-se uma diferença considerável de conceitos inferiores a quatro na avaliação do curso, diferentemente da avaliação do professor. A IES entendeu também que a proposta pedagógica da IES, devia alcançar patamares superiores nas avaliações externas, na maioria com resultados na média (conceito três) como pode ser observado no Gráfico 2, dos cursos avaliados em 2011. 145 Avaliação externa de Cursos em 2011 7 Cursos avaliados 6 5 Conceito 3 4 Conceito 4 3 Organização didático pedagógica conceito 2 2 1 Organização didático pedagógica conceito 3 0 1 Gráfico 2. Fonte: Resultados de avaliações externas. (MEC / INEP) Conforme exposto acima, os instrumentos utilizados para análise da situação estão embasados num processo avaliativo que contempla a participação dos atores internos e externos. As avaliações externas de cursos são determinadas pelo Ministério de Educação. A avaliação interna é aplicada a todos os alunos e professores semestralmente na IES, coordenada pela Comissão Própria de Avaliação (CPA); a avaliação do clima institucional é aplicada anualmente por uma consultoria externa. Para acompanhamento do projeto foi aplicada também uma pesquisa direcionada aos coordenadores e membros do conselho acadêmico com o objetivo de compreender a percepção dos atores do processo; além do mais foi realizada uma pesquisa bibliográfica visando aprofundar o conhecimento sobre a gestão compartilhada. A pesquisa bibliográfica fundamentada em autores tais como Becker, Huselid, Bosquetti, Motta, Tratenberg, entre outros, possibilitou um olhar reflexivo sobre o processo de gestão compartilhada e ofereceu um referencial teórico significativo para a compreensão do objeto de estudo e para atingir os objetivos propostos: a compreensão das dimensões da influência da participação na gestão compartilhada; a identificação das principais características que emergem da atuação do CA e o desempenho do CA como suporte estratégico para o desenvolvimento da gestão compartilhada. A aplicação do questionário tinha como objetivo obter dados que possibilitassem compreender a percepção dos envolvidos no processo com relação ao C A, ou seja, dos 39 coordenadores, 26 participaram e dos 18 conselheiros, 13 participaram o que garantiu uma significativa representatividade, 67% de coordenadores e 72% de conselheiros. O grupo de coordenadores foi escolhido para participar desta pesquisa porque, nessa etapa do processo, são os que vivenciam de forma mais direta as ações e propostas desenvolvidas pelo C A. Na primeira parte do questionário foi aplicada uma questão projetiva, como forma de compreender a percepção do grupo com relação ao C A. Esse método constitui, segundo autores como MELENDES, ALVES, MACONI, LAKATOS, uma alternativa promissora nas pesquisas de cunho 146 social, ao permitir que o indivíduo entrevistado expresse a sua opinião sobre determinado tema, sem muita elaboração, ou seja, de forma espontânea, como bem expressam MELENDES & ALVES: A técnica projetiva parte de um princípio bastante simples: por meio de um estímulo o indivíduo projeta seus aspectos subjetivos, atitudes, comportamento, opiniões entre outros, o que por alguma razão não faria espontaneamente. É uma forma não estruturada e indireta de perguntar que incentiva os entrevistados a projetarem suas motivações, crenças, atitudes ou sensações subjacentes sobre os problemas em estudo. in HTTP://www.tapioca.adm.br Acessado em 12 de agosto de 2012 Os sujeitos entrevistados foram solicitados a responder por escrito à seguinte questão: Se o C A fosse um animal, que animal seria? Logo após, o grupo devia responder sobre o motivo da escolha desse animal. Os resultados desta questão, por meio de análise de conteúdo, foram agrupados, num primeiro momento, em função da conotação positiva ou negativa da justificativa formulada. Conforme afirma Bardin (1977, p.38), “a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistêmicos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Desta forma, para análise dos dados foi elaborada uma tabela de frequência que permitiu formular um corpus com os atributos predominantes atribuídos ao C A, e realizar uma análise comparativa das respostas obtidas pelo grupo de coordenadores e pelo grupo de Conselheiros. A segunda parte do questionário buscava identificar, de forma mais específica, se os sujeitos reconheciam mudanças em aspectos do cotidiano da vida acadêmica, e se relacionavam essa situação como decorrência da atuação do C. A. Os aspectos versavam sobre: clima organizacional; desenvolvimento do trabalho pedagógico do coordenador com os professores, com o diretor do campus e com o Gerente Acadêmico; processos pedagógicos (elaboração do Projeto Pedagógico do Curso e execução do Plano de Ação) e parceria do coordenador de curso com o C. A. As opções para essas questões foram: Melhorou pouco, Melhorou muito, Permanece igual, Piorou pouco ou Piorou muito. Para sinalizar o grau de interferência do C A em cada um dos aspectos avaliados, os sujeitos deviam utilizar uma escala de 0 a 5, (sendo zero para “nenhuma interferência” e cinco para “relevante interferência”) ou a letra D, em caso de desconhecimento. Esta parte do questionário constitui a etapa inicial do acompanhamento da fase de implantação do C. A e será aplicado novamente após seis meses. Os dados dessa pesquisa sinalizam que, na maioria dos aspectos avaliados, os coordenadores não identificam mudanças significativas como decorrência das ações do C. A. Porém cabe destacar que no que tange aos processos pedagógicos (elaboração do PPC e a execução do plano de ação) a maioria, 58%, reconhece que houve melhorias. Cabe ressaltar que as respostas dos coordenadores retratam a situação vivenciada no primeiro semestre de 2012 após a implementação do C A, uma vez que, o foco do trabalho neste período foi uma ação conjunta entre Conselheiros e coordenadores para a análise e releitura dos Projetos Pedagógicos dos Cursos e a elaboração do plano de ação. Por outro lado, a análise da resposta dos Conselheiros denota uma visão diferente do grupo de coordenadores, ao sinalizar que houve melhorias na maioria dos aspectos avaliados, sendo que, em 147 todas as questões, 57% ou mais dos conselheiros ressaltam essas melhorias. Porém há consenso, no que diz respeito à melhoria identificada na questão referente aos processos pedagógicos onde ambos os grupos reconhecem a melhoria. Na análise da questão projetiva, as justificativas atribuídas pelos sujeitos à escolha do animal que representava o C A, interpretadas por meio de análise de conteúdo permitiram identificar a predominância da conotação positiva (72%) sobre a negativa (28%). No grupo de Conselheiros a visão positiva sobre o C A, constitui quase unanimidade, 86% e apenas dois conselheiros (14%) citam aspectos que podem ser considerados negativos: a agressão, como meio de defesa do espaço e a prepotência como forma de destaque entre os outros. No grupo de coordenadores, embora não tão acentuada, a predominância também é da visão positiva (66%) sobre a negativa (34%). Estes dados podem ser observados no Gráfico 3. Gráfico 3. Pesquisa Interna. Orçamento O valor aplicado ao Projeto da Gestão Compartilhada esta voltado ao pagamento da folha de pagamento dos membros do Conselho Acadêmico, os quais recebem por 5 horas semanais respeitando o plano de carreira de cada membro da IES. Indicadores acadêmicos Analisando os resultados da avaliação externa de cursos efetuada pelo MEC, foi possível identificar o aumento no percentual de conceitos 04 atribuídos aos cursos (Gráfico 4) assim como na avaliação da Dimensão da Organização Didático-Pedagógica (Gráfico 5). 148 Avaliação externa de Cursos em 2011 e 2012.2 6 5 4 2011 3 2012 2 1 0 Conceito 3 Conceito 4 Gráfico 4 – Análise dos resultados da Avaliação externa dos cursos da IES. Avaliação externa de Cursos em 2011 e 2012.2 7 6 5 4 3 2011 2 2012 1 0 Cursos avaliados Nota 3 Nota 4 Org. Org. Org. Did.Ped. Did.Ped. Did.Ped. Nota 2 Nota 3 - Nota 4 3,9 Gráfico 5 – Dimensão Organização Didático- Pedagógica. Comparativo 2011 - -2012 149 Indicadores de produtividade e/ou de satisfação dos colaboradores A relação dos atributos positivos atribuídos ao C A fica assim distribuída: representativo (16%); líder e trabalho em equipe (15%); objetivo, acolhedor (12%); inteligente, observador e transformador (com 6% em cada um desses atributos); ágil e visão ampla (4%) e finalmente cautelosa e diversificada (1,5%). Estes dados podem ser observados no Gráfico 6. Gráfico 6: Atributos Positivos – Pesquisa interna. Com relação aos atributos negativos, a maior incidência recai para ineficácia, 20%; distante, 15%; ameaçador e prepotente 10% e por último agressivo com 5%. Como pode ser observado no gráfico abaixo: Atributos negativos Série1 4 3 2 2 1 Ineficaz Distante ameaçador prepotente agressivo Gráfico 7: Atributos Negativos – Pesquisa interna. LIÇÕES APRENDIDAS Os resultados da pesquisa interna realizada com os membros do Conselho Acadêmico e com os Coordenadores de curso sinalizaram a necessidade de partir para uma ação focalizada em cada campus, uma vez que o reconhecimento sobre a ação do C.A. partiu do grupo que teve o contato direto com os Conselheiros durante o processo avaliativo dos Projetos Pedagógicos dos Cursos. Para 150 reverter esse quadro, já no segundo semestre de 2012, os Conselheiros passaram a desenvolver o trabalho de acompanhamento nos campi. AÇÕES DE CONTINUIDADE Para 2013 o Conselho Acadêmico dará ênfase ao acompanhamento dos Planos de Melhoria elaborados para os cursos que já passaram pela avaliação do C.A. e dará continuidade à análise dos Projetos Pedagógicos dos Cursos. A nomeação do conselheiro Relator para cada curso será feita por área como forma de agilizar o processo. Desta forma, a Reitoria e C.A. continuarão com ações que visem atingir a meta de consolidação da cultura de gestão compartilhada permeada pela visão, missão e valores do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Referências Bibliográficas BARDIM, L. Análise de Conteúdos. Tradução de Luis Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: edições 70, 1977. DAVENPORT, T. & PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. DOURADO, L. F. A escolha de dirigentes escolares: politicas e gestão da educação no Brasil. In: FERREIRA, Natura S. C. Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios, São Paulo: Cortes, 1998. DRUCKER, P. A organização do futuro: como preparar hoje as empresas de amanhã. São Paulo: Futura, 1997. MELENDES, D. M.; ALVES J.R.F. Ferramentas para coletas de dados nº 4- as técnicas projetivas in HTTP://www.tapioca.adm.br Acessado em 12 de agosto de 2012. 151 A MODERNIDADE DOS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: PROPOSTAS E REALIDADES DO VALE DO PARAÍBA Solange Camilo Asen Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo RESUMO O presente trabalho aborda alguns aspectos da organização regional do Vale do Paraíba Paulista. As características mais relevantes para demonstrar a importância de se incluir elementos sociais nos projetos de desenvolvimento regional que tenham como objetivo o bem estar geral da população regional, evitando que a natureza do sistema econômico crie as distorções que lhe próprias. Neste sentido, o trabalho apresenta um panorama geral da região e discute a seguir as propostas desenvolvimentistas apresentadas por alguns autores renomados da área. E partir dessas propostas e teorias pode-se estabelecer comparações com alguns dados das regiões que confirmam a necessidade de uma intervenção mais ampla do Estado brasileiro no seu projeto de desenvolvimento. Palavras-chaves: economia, região, desenvolvimento, políticas públicas. INTRODUÇÃO A influência das propostas desenvolvimentistas na economia nacional teve uma trajetória descompassada, enquanto a economia crescia, outros setores apresentavam um distanciamento que historicamente aproximava o modelo de desenvolvimento a aquele proposto pelos autores clássicos. A incorporação das forças sociais ao processo de desenvolvimento ocorreu tardiamente e vem ocorrendo ainda através da preocupação em se qualificar a mão-de-mão ofertando mais vagas na educação profissional em todos os níveis. Dessa forma, só o amadurecimento do pensamento nacional é que o desenvolvimento está atrelado a outros fatores, não apenas nas questões de ordem econômica e a participação do Estado começou a enveredar na área de econômica e de tecnologia para que pudesse contribuir efetivamente com o desenvolvimento. Tendo em vista ser uma questão ampla e complexa, procurou-se fazer um recorte apresentando algumas propostas de desenvolvimento que foram apresentadas ao longo do século XX e início do XXI. Procurou-se retirar das teorias e propostas elementos que sustentem a ideia de progresso econômico e social, para mostrar como o desenvolvimento no Brasil se aproximou e ainda hoje se aproxima de algumas das teorias. O problema derivado dos pressupostos apresentados é buscar entender como o desenvolvimento a partir do recorte delimitado alcança a localidade e contribui com o desenvolvimento econômico do país. Quais as características do modelo adotado podem ser incorporadas ou foram incorporadas ao projeto de desenvolvimento que o país pretende alcançar. 152 Aborda-se o tema inicialmente caracterizando as condições geográficas do Vale do Paraíba, para a seguir observar as características estruturais da educação presentes na região Em seguida apresentam-se alguns dados referentes ao panorama econômico e social da região do Vale do Paraíba. Centralizando na oferta de vagas para formação do capital humano, procurando relacioná-los com algumas das propostas desenvolvimentistas e procurar encontrar algumas características análogas com o projeto de desenvolvimento brasileiro. Na parte final apresenta-se o modelo metodológico que permitiu a execução deste trabalho de pesquisa. Detalhando cada uma das dimensões utilizadas para sua elaboração. ALGUNS ASPECTOS GEOGRÁFICOS DO VALE DO PARAÍBA A região do Vale do Paraíba Paulista (VPP) possui uma série de características próprias cuja identidade pode ser facilmente descrita pelas dimensões geohistóricas. Na perspectiva dessas dimensões podemos perceber a importância que o VPP possui principalmente para a consolidação e desenvolvimento do eixo econômico mais importante do país. Estar entre as duas metrópoles mais significativas do Brasil permitiu que a rede urbana tenha se constituído mais intensamente, integrada por um sistema técnico moderno, por isso não se deve apenas construir um entendimento panorâmico que conduza a crença da existência de múltiplas vantagens comparativas permanentes para a região. Encontram-se também desvantagens para as cidades nas proximidades dos grandes polos econômicos. Essa situação geográfica pode estabelecer uma rede de mão única, tornando as localidades receptoras de bens e serviços e ao mesmo tempo, fornecedora de mão de obra. Nessa perspectiva, a região do VPP encontraria enormes dificuldades para alcançar um bom desenvolvimento econômico, humano e social equânime. No entanto, a região constituiu-se como um polo tecnológico, concentrando indústrias modernas e de alta tecnologia, fato que contribuiu e contribui para o desenvolvimento regional. Dessa forma, a região integra uma rede densa com as duas metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, constituindo a megalópole brasileira. Essa integração possui inúmeras variáveis que desafiam os responsáveis pelo planejamento regional. A região do VPP, transformada em Região Metropolitana (RM) em janeiro de 2012, como qualquer região apresenta uma orientação endógena centro-periferia com polos de atração e áreas de dispersão cujos desafios os responsáveis pelo setor de planejamento precisam e devem enfrentar objetivando uma distribuição regular da riqueza gerada. Dentre os desafios existentes, de ordem econômica, política e social, a educação tem relevância na constituição das três dimensões. A formação do Capital Humano, segundo a teoria defendida Schultz (1973, p.35), "...Os trabalhadores transformaram-se em capitalistas, não pela difusão da propriedade das ações da empresa (...), mas pela aquisição de conhecimentos e de capacidades que possuem valor econômico". O indivíduo se torna capaz de sustentar através do trabalho o desenvolvimento econômico e social de uma localidade ou da região, alcançar esse objetivo é um desafio na era da globalização. Nesse aspecto as dificuldades são estruturais, por possuir diferentes esferas de decisões organizacionais, todas elas submetidas a lógicas e interesses desiguais. A preocupação mais importante neste artigo é conhecer a estrutura da Educação Superior (ES) e sua oferta disponível em algumas cidades da região do VPP, confrontando com as necessidades de capital humano e intelectual do parque industrial da região. Identificando a 153 existência de possíveis migrações intra e inter-regionais, que provocam alguns problemas psicossociais que afetam o cotidiano dos indivíduos. Nesse sentido, a visão do espaço e do tempo adquire um caráter contemporâneo, os indivíduos estão sujeitos à dimensão geohistórica das técnicas para poderem produzir uma sociedade determinada, de acordo com a predominância no tempo histórico, produzindo a quantidade de trabalho humano necessário ao progresso. (SANTOS, 1994) Embora a organização do ES tenha um caráter normativo centralizado no Ministério da Educação (MEC), esse sistema permite variáveis regionais/locais que podem dar as especificidades necessárias para atender às características das localidades. Essa autonomia é um dos pressupostos que dão ao processo as condições necessárias de formação do capital humano para o desenvolvimento regional. A Região Metropolitana do Vale do Paraíba Paulista (RMVPP) é composta por 39 municípios, com aproximadamente 5,5% da população do estado de São Paulo. A fluidez da região é possibilitada pela Via Dutra, que corta o centro do vale e ligam as duas maiores cidades do país. Essa artéria serve para a fluidez da rede urbana da região. A necessidade de desenvolvimento da região está relacionada a disponibilidade de capital humano e intelectual e nesse artigo procura-se entender como as instituições de Ensino Superior contribuem para alavancar o mercado de trabalho cada vez mais qualificado que os polos de desenvolvimento exigem das forças produtivas. Na perspectiva da região como um todo, destacam-se alguns municípios que podem contribuir para elucidar a relação trabalho-educação. Os municípios compreendem um espectro longitudinal que acompanha a Via Dutra e possuem diferentes estágios de desenvolvimento bem como posições diferentes na hierarquia urbana da região. Mapa 1 – Sub-regiões do Vale do Paraíba Paulista e Litoral Norte Fonte: Emplasa/Gov do Estado de São Paulo. 2012 154 INFRAESTRUTURA EDUCACIONAL DO VALE DO PARAÍBA A região possui intensa e diversificada atividade econômica, destacando-se as cidades industriais do eixo da Via Dutra, os polos de serviços urbano-industriais de São José dos Campos e Taubaté, as cidades turísticas da Mantiqueira e Litoral Norte e o Porto de São Sebastião. Ressaltamse as atividades industriais, que contribuem com 7,7% do valor adicionado da indústria paulista, seguidas pelos segmentos terciário (4,1%) e primário (1,9%). (SEPLAN-SP) A indústria predominante é intensiva em capital e tecnologia, com grandes unidades produtivas de diferentes segmentos, como petroquímico, automobilístico, químico, bélico, farmacêutico, veterinário, telecomunicações e, sobretudo, aeronáutico. Destaca-se em âmbito nacional o município de São José dos Campos, enquanto importante polo produtivo aeronáutico e aeroespacial, com mais de 40 empresas de tecnologia de ponta, entre outras: i) o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), integrado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); ii) o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), o Instituto de Estudos Avançados (IEA); iii) o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e iv) a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), além de outras do setor aeronáutico. Na área da Educação Superior existe significativo número de instituições públicas na região para fornecer o suporte de capital humano: UNESP, UNIFESP e ITA em São José dos Campos, UNESP em Guaratinguetá, USP em Lorena e CEBIMar/USP em São Sebastião, além de cinco Fatecs: em Cruzeiro, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, São José dos Campos e São Sebastião. Cabe ressalvar também que a região conta com diversas unidades particulares de ensino superior e de inúmeras Etecs distribuídas em 11 municípios. A ocorrência de um bom número de instituições voltadas para a formação do capital humano mostra que a preocupação com a qualidade da formação é um pressuposto dos mais relevantes. Principalmente numa região caracterizada pela atividade industrial, que está intimamente ligada a transformações técnicas e culturais. A metropolização da região, com aproximadamente 94% da população vivendo em áreas urbanas, e com densidade demográfica de aproximadamente 140 hab./km² (EMPLASA/ESTADO de SP, 2012), caracterizam as relações nesse tipo de sítio urbano. Sendo a RMVPP uma área de homogeneidade geográfica, nesse sentido convém observar e estudar como se desenvolve o sistema educacional de nível superior na busca da formação do capital humano, na concepção das territorialidades e na superação das questões de ordem econômica e social geradas pela natureza sistêmica. Como um dos pilares do desenvolvimento o sistema educacional do ES deve estar integrado aos objetivos socioeconômicos almejados. Dessa forma, sua eficiência não pode ser simplesmente quantificada, pois os seres humanos vivem em diferentes esferas e as construções simbólicas que elaboram são frutos da sua formação. Uma consequência da não consideração desta questão é a ocorrência de desequilíbrios sociais, como a necessidade de buscar soluções externas à região. A preparação do material humano endógeno à região diminui as desterritorializações provocando laços sociais mais sólidos e menor mobilidade inter-regional. A maior integração e 155 sentimento de pertencimento contribuem eficazmente para a qualidade de vida e produtividade da sociedade local. Nesse sentido, a participação do Estado no ordenamento territorial e na produção de políticas públicas para consolidação do projeto de desenvolvimento, são questões que devem ser consideradas na avaliação do objeto desse estudo. Estado e Desenvolvimento Econômico Não existe a pretensão de estabelecer aqui um debate entre as teorias e propostas desenvolvimentistas, mas buscar nelas elementos que substancie a ideia de um desenvolvimento que incorpore os fatores econômicos e sociais, base ampla de sustentação para o progresso que promova uma distribuição de renda e qualidade de vida para a população. Dessa forma, aborda-se apenas alguns aspectos para o embasamento da ideia de desenvolvimento e bem estar social. A posição que os economistas tradicionais (clássicos e neoclássicos) assumiram para explicar o desenvolvimento considera apenas as determinantes imediatas da produção de uma economia, a saber: i) o nível tecnológico; ii) quantidade e qualidade da força de trabalho; iii) quantidade e composição do estoque de capitais; e iv) natureza das condições dos recursos naturais. Dessa perspectiva, o ritmo de desenvolvimento depende do grau de utilização e da taxa de aumento desses vários tipos de fatores produtivos. Essa perspectiva apresenta algumas dificuldades quanto a quantificação de muitas das características do desenvolvimento. A dificuldade aumenta ao se tentar determinar as causas das variações entre os diferentes fatores produtivos. E quando se tenta essa determinação, confronta-se invariavelmente com uma gama enorme de forças sociais, políticas e econômicas. Em seu livro, "Teoria do Desenvolvimento Econômico", Schumpeter (1957) diz: "Devido a essa dependência fundamental do aspecto econômico de coisas sobre tudo mais, não é possível explicar uma mudança econômica através somente de condições econômicas prévias. Isso porque o estado econômico de um povo não emerge simplesmente de condições econômicas anteriores, mas somente de toda situação anterior..." (p. 70). Para o autor, o processo de produção que impulsiona o desenvolvimento é uma combinação de forças compostas por elementos materiais e imateriais. Ampliando as condições que alavancam o desenvolvimento econômico de um país. Nesse sentido, é preciso considerar outras variáveis presentes que se interpenetram, como a qualificação da mão-de-obra, por exemplo. Outra perspectiva do desenvolvimento, a defendida por Celso Furtado, se fundamenta na premissa de que o aumento do fluxo de renda seria a melhor forma de se caracterizar o desenvolvimento. A renda percapita determinada pelo crescimento econômico só aumenta se ocorrer modificações estruturais economia, acumulação de capital, inovação tecnológica e realocação dos recursos. (SILVA, OLIVEIRA & ARAUJO, 2012) Em países onde o processo de desenvolvimento se organizou tardiamente não se formou uma poupança interna capaz de alavancar o processo de industrialização, dessa forma a participação do Estado tornou-se peça fundamental para o desenvolvimento. (FURTADO, 1998) 156 A partir desse contexto, abordar a região em seu conteúdo político, ou seja, no papel da dominação e do poder, dentro da sociedade é o fator primordial para a existência da regionalização e das diferenças intra e extra regional. Sendo assim, a região desempenha um papel importante na produção e reprodução das relações sociais. A política da região com base na ideia de dominação e poder constituindo fatores fundamentais na diferenciação de áreas. (CORREA, 1996). “A produção de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estadas de ferro, circuitos comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas, etc.” O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, releva relações marcadas pelo poder. O espaço é a “prisão original”, o território e a prisão que os homens constroem para si. (RAFFESTIN 1993, p. 45) Nessa concepção e ampliando o campo de análise do espaço econômico, a presença do Estado não se limita a busca de ordenamento territorial, segundo os keynesianos a possibilidade e a eficácia da intervenção corretiva do Estado no mundo econômico permite um dinamismo econômico maior. Os keynesianos trabalham com a mesma ideia de um Estado homogêneo e externo ao mundo econômico que, num caso, é capaz de formular políticas econômicas sábias e eficazes para o desenvolvimento econômico. Para Celso Furtado (1998), o modelo capitalista de desenvolvimento se fundamenta na interação de dois processos: a inovação tecnológica, que aumenta e produtividade, e na expansão do mercado, que cresce com a massa de salários. Relação que segue, segundo o autor, a orientação centro-periferia, que no plano regional e intrarregional provoca concentração nos polos mais dinâmicos. (ver gráfico 01) A hierarquia que o urbano estabelece no território cria desigualdades que a natureza do sistema econômico aprofunda e exige a ação política do Estado para amenizar as desigualdades sistêmicas. Na era da globalização o controle do Estado sobre o processo de desenvolvimento escapa a sua ação reguladora, porque se apoia no mercado externo para crescer. Na região de estudo pode-se observar diferenças que tornam o espaço regional assimétrico apesar a ação do Estado no sentido produzir um espaço mais equilibrado. 157 Gráfico 01 PIB percapita - 2011 45000 40000 39587,72 35000 REAIS 30000 25000 20000 17374,24 15000 17366,28 13681,46 10000 5000 0 S J dos Campos Lorena Caçapava Cachoeira Paulista MUNICÍPIOS Fonte: IBGE, 2011. No gráfico anterior o modelo concentrador, centro-periferia, de Celso Furtado ainda é atual para a interpretação das relações econômicas. Os municípios que estão submetidos ao polo de São José dos Campos apresentam um PIB percapita inferior à metade e quanto mais distantes a tendência é a renda diminuir, como é o caso de Cachoeira Paulista. Quando se observa há grande diferença econômica intrarregional no Vale do Paraíba (gráfico 2), provocada pela concentração que o polo regional que exerce, percebe-se a relação negativa sobre as cidades do entorno e até aquelas que se encontram na área de influência do polo. Por isso Furtado (1983) a ideia das externalidades para tentar reduzir as desigualdades geradas pela natureza do sistema, o Estado deve expandir a infraestrutura como pré-condição para o progresso. Nesse contexto, a atualidade do pensamento de Celso Furtado serve para se repensar o planejamento econômico regional e mesmo o nacional para diminuir das diferenças regionais. 158 Gráfico 02 PIB - 2011 30.000.000.000,00 25.000.000.000,00 REAIS 20.000.000.000,00 15.000.000.000,00 10.000.000.000,00 5.000.000.000,00 0,00 Caçapava Lorena S. J. dos campos Taubaté MUNICÍPIOS Fonte: IBGE 2011. Cabe aqui ressaltar que os novos sistemas globais de governança se inserem na região do Vale do Paraíba e para serem realmente novos, deverão ser frutos de novos arranjos de atores, de uma nova arquitetura de rede e de novos modos democráticos, conectando identidades individuais e coletivas – sócio territoriais (comunidades), socioculturais (novos movimentos sociais, organizações da sociedade civil e comunidades virtuais), sócio produtivas (novas empresas) e sócio-políticas (novos partidos) e tendências para além da identidade única do Estado-nação. É necessário identificar as insuficiências ou inadequações do Estado-nação para tentar prever que tipo de transformação ocorrerá na sua estrutura e no seu funcionamento por força do processo de mundialização atual e como ele replica-se na região promovendo distorções ou ajustes que buscam uma simetria na distribuição da renda. No entanto, o Estado-nação, na sua forma atual, é uma entidade necessária para a promoção ou a indução do desenvolvimento. Ou seja, nesse campo existem coisas que precisam ser feitas e que não podem ser feitas pelo Estado, senão, em alguns casos, pelo mercado e, em outros, pela sociedade civil ou, ainda, por parcerias intersetoriais entre Estado e mercado, Estado e sociedade civil, mercado e sociedade civil e Estado, mercado e sociedade civil. Ou, segundo Claus Offe (1991, apud BRESSER PEREIRA et al, 1991, p. 15), existem coisas que devem ser feitas pelo Estado, pelo mercado e pela comunidade ou por combinações desses “três fundamentos da ordem social, e em uma mistura que consiga evitar que cada um deles se sobreponha aos outros e os elimine” A assimetria na região do Vale do Paraíba ainda é uma constante não superada pelo desenvolvimento concentrador. Vemos nos gráficos a seguir um pouco das diferentes acentuadas que o modelo de desenvolvimento vem reproduzindo e possivelmente acentuando. Para exemplificar o que vem ocorrendo na região mostra-se alguns dados da economia de alguns municípios da região. A importância da região no conjunto do estado é significativa, com 16.179,95 km² a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte é a mais extensa região metropolitana do Estado de 159 São Paulo. Sua área territorial corresponde a 32,41% da metrópole Paulista, 6,52% do estado e a 0,19% da superfície nacional. A região exibe um Produto Interno Bruto (PIB), em 2010, de R$ 61.698.187.890,00. Esse montante corresponde a 4,96% do PIB estadual e 1,64% do nacional. Seu PIB per capita de R$ 27.244,70 é bastante significativo se comparado ao do Estado (R$ 30.264,06) e ao do Brasil (19.016,00). Tabela 01. PIB municipal - 2011 Fonte: http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=355410 Variável Lorena Agropecuária 18.568 Indústria Serviços Total 450.796 817.274 1.286.638 São José dos Campos 31.728 Caçapava Taubaté Cachoeira Paulista 26.294 24.182 10.524 10.369.974 11.063.773 21.465.475 1.152.158 971.678 2.150.130 3.901.354 3.956.199 7.881.735 47.426 326.327 384.277 As distorções do produto interno bruto são elevadas entre alguns municípios, ocorrendo uma forte concentração na cidade de São Jose dos Campos, uma relação desigual está instalada na região. (ver gráfico 03) Gráfico 03 Reais PIB dos setores econômicos 50.000.000 45.000.000 40.000.000 35.000.000 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 5.000.000 0 Lorena São José dos Campos Caçapava Taubaté Cachoeira Paulista Municípios Agropecuária Indústria Serviços Total Fonte: IBGE, 2011 O desenvolvimento, segundo Sen (2010), não pode ser analisado apenas sob o viés restritivo do crescimento do PIB e da renda e para demonstrar isso são lançados alguns exemplos que põem em cheque a eficácia de uma análise realizada sob estes moldes, ao mesmo tempo em que ilustram a teoria do desenvolvimento como liberdade. 160 Para Sen (2010), “O que as pessoas conseguem realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras, como boa saúde, educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas” (SEN, 2010, pág. 18). Gráfico 04 Gráfico 05 Nesse sentido, uma renda elevada em uma localidade não garante que o desenvolvimento promove uma elevação da qualidade de vida. No gráfico anterior observa-se que as cidades de São José dos Campos e Taubaté apresentam um PIB percapita maior que da região e do estado. Tal informação pode induzir a crença de uma alta qualidade de vida na localidade. Mas como Amartya Sen (2010) afirma, essa uma falsa premissa sobre os benefícios do desenvolvimento. Ainda nesta linha, a qualificação da mão-de-obra, na análise que Amartya Sen fez acerca do desenvolvimento “atentasse particularmente para a expansão das “capacidades” das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam – e com razão. Essas capacidades podem ser aumentadas pela política pública, como 161 o da oferta de vagas nas universidades, mas também, por outro lado, a direção da política pública pode ser influenciada pelo uso efetivo das capacidades participativas do povo. Já Luciano Coutinho, afirma que o desenvolvimento, no caso brasileiro, não pode prescindir do apoio do Estado para tornar as empresas nacionais competitivas. Ele defende a associação do setor financeiro com os bancos públicos devido a capacidade de expandir o crédito e manter o desenvolvimento econômico mesmo em situações de crise. Por isso deve-se investir nos setores mais competitivos para gerar internacionalização e, consequentemente, desenvolvimento. (COUTINHO & REICHSTUL, 1977) Para se construir uma política de desenvolvimento o Estado brasileiro encontra alguns obstáculos fundamentais em face da sua inépcia para: i) ordenar o quadro macroeconômico, impondo um mínimo de estabilidade monetária e de preços; ii) desenvolver e articular as condições sistêmicas de competitividade. Isso não supõe se priorizar a ação do Estado na economia, mas o contrário, ele deve atuar como regular das regras do mercado garantindo a acumulação de capital. (COUTINHO & REICHSTUL, 1977) Nessa linha pensamento, os autores Edson Silva, Edson Oliveira e Elvira Araújo (2012), afirmam que o modelo de desenvolvimento cria um espaço diferenciado, sendo dos países desenvolvidos e outro dos subdesenvolvidos, onde o crescimento se dá de forma desigual. Para enfrentar essa desigualdade os Estados devem agir por meio de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento, porém estas não devem favorecer o utilitarismo, pois este dificulta as ações de desenvolvimento. Para se elevar o nível de vida da população não são somente os bens materiais suficientes para isso, todas as potencialidades das forças produtivas devem ser exploradas. METODOLOGIA Pesquisa é o mesmo que busca ou procura. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma coisa. Em se tratando de Ciência (produção de conhecimento) a pesquisa é a busca de solução a um problema que alguém queira saber a resposta. Nesse sentido o método fenomenológico empregado nesta pesquisa, que quanto à forma de abordagem é qualitativa – sendo por isso descritiva, as informações obtidas podem ser quantificáveis embora sem a centralidade do outro modelo e os dados obtidos são analisados indutivamente, por fim a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa -, se preocupa com o levantamento e decrição direta de como são e estão as coisas, a realidade apurada é construída para ser entendida na forma que é e interpretada segundo suas características. Sendo está pesquisa combinada, pelas modalidades exploratória, cujo objetivo é a caracterização inicial do problema, sua classificação e de sua definição, e teórica, pois tem como objetivo ampliar generalizações, definir leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, relacionar e enfeixar hipóteses. Também foi feita uma pesquisa bibliográfica, com o objetivo de recuperar o conhecimento científico acumulado sobre um problema. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos contextos apresentados, pode-se inferir que o desenvolvimento econômico que pressupõe não só os elementos materiais, mas também os sociais, com melhor qualidade de vida, não pode prescindir de um planejamento amplo. Este deve incluir todas as forças produtivas, capital e 162 trabalho, sob orientação do Estado devido à natureza do capital e do sistema que o coloca em funcionamento. O recorte na teorias e propostas apresentadas permite que se conclua sobre a necessidade de se adotar um modelo de desenvolvimento que se diferencie das propostas clássicas. Estas por sua vez não podem ser desconsideradas, uma vez que, como se observou ainda impulsionam o modelo desenvolvimentista, com a orientação centro-periferia. A região do Vale do Paraíba está submetida a lógica clássica e a preponderância do modelo demonstra que as políticas públicas ainda não foram suficientes para distribuir de forma mais equilibrada os dividendos do desenvolvimento. Apesar do Estado estar intervindo na organização do espaço, incrementando o setor educacional para a formação do capital humano, percebe-se que essa ação é também centralizadora, com as universidades acomodadas no polo e sua periferia imediata. Isso provoca assimetrias que distribuem a renda de forma desigual. Embora atendendo aos modelos de desenvolvimento modernos, o Estado brasileiro apresenta deficiências no planejamento regional para reduzir as assimetrias. A inserção de todos os setores produtivos abrangendo todas as localidades da região deve ser priorizado, para que se evite as especializações das vantagens comparativas proposta pela economia clássica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, R. L. Região e organização espacial. 6ª. Edição. São Paulo: Ática, 1998. ____________. Trajetórias geográficas. 3ª. Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. COUTINHO, Luciano & REICHSTUL, Henri-Philippe. O setor produtivo estatal e o ciclo. apud MARTINS, Carlos Estevam. Estado e capitalismo no Brasil. São Paulo, Hucitec--Cebrap, 1977. EMPLASA & ESTADO DE SÃO PAULO, Gov. Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. São Paulo. Imprensa Oficial. 2012. FURTADO, Celso. O capitalismo global. São Paulo. Ed. Paz e Terra. 1998. ___________. Teoria política do desenvolvimento econômico. São Paulo. Ed Abril Cultural. 1983. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4ª. ed. São Paulo. Editora Atlas. 1994. OFFE, Claus. A atual transição da história e algumas opções básicas para as instituições da sociedade. in Bresser Pereira, L.C., Wilheim, J. e Sola, L. Sociedade e Estado em Transformação. Brasília: ENAP, 1991. RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo. Ed. Ática. 1993. SANTOS, Lívia S. & FREITAS, Urandi R. Paiva. Pensando a educação superior e o desenvolvimento da Bahia à luz da teoria de crescimento endógeno. Bahia. Revista Desenbahia nº 12 / mar. 2010. Disponível em: http://www.desenbahia.ba.gov.br/uploads/2508201114583437_Cap3.pdf. Data do acesso: 01/03/2014. SCHUMPETER, Joseph A. The theory of economic development. Cambridge, Harvard University. 1957. SCHULTZ, Theodore W. O valor econômico da educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. ____________. O Capital Humano. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 11-52. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 163 SILVA, Edson Pereira da; OLIVEIRA, Edson Aparecida de Araújo Querido & ARAUJO, Elvira Aparecida Simões de. O conceito de desenvolvimento econômico regional: Uma Revisão Teórica. The 4th International Congress on University-Industry Cooperation – Taubate, SP – Brazil – December 5ththrough 7th, 2012, Disponível em: http://www.unitau.br/unindu/artigos/pdf417.pdf. Data de acesso: 28/03/2014. 164 A desaceleração da rotina das crianças e seus benefícios para o desenvolvimento emocional e cognitivo Rodrigo S. Alencikas Toyama Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Pedagogia, campus Jabaquara Resumo O presente texto analisa o movimento Slow Kids, que é um evento que propõe a desaceleração da rotina da criança, partindo do pressuposto de que as crianças hoje são inseridas na rotina dos adultos. A partir daí advém uma geração de crianças que são cobradas para serem produtivas, convivem pouco com a família (e a família oferece pouca vivência em conjunto com a criança, deixando-a submetida à televisão e tablets – características da atual revolução tecnológica) influenciando e menosprezando seu desenvolvimento emocional e enfatizando somente o aspecto cognitivo. Movimentos como o Slow Kids podem ter mais resultado se os pais participassem ainda mais das rotinas escolares de seus filhos. Seguindo a perspectiva humanista do desenvolvimento do aprendizado sob a óptica de Maslow (1962), a criança apresenta necessidades que podem ser saciadas no âmbito emocional (com os pais) e no educacional (com maior participação dos pais na vida escolar dos filhos). Entende-se, portanto, que o desenvolvimento emocional pleno poderá contribuir para um desenvolvimento cognitivo melhor. Palavras-chaves: SlowKids; rotina escolar; infância; participação dos pais Introdução Promovido pelo Instituto Alana, ONG que objetiva descobrir caminhos inovadores para um mundo mais sustentável e com relações humanas mais sólidas, o evento Slow Kids propõe a desaceleração da rotina da criança através de atividades lúdicas com os pais, sem o envolvimento de aparatos tecnológicos, como jogos computadorizados e redes sociais. A ideia é fazer com que crianças e pais tenham momentos de diversão juntos, através de atividades ao ar livre, oficinas de artesanato, brincadeiras antigas, etc. O evento está na sua segunda edição, sendo que a primeira aconteceu no Parque da Água Branca e a segunda, em 2014, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A premissa do Slow Kids parte do pressuposto de que as crianças hoje são inseridas na rotina dos adultos. Além disso, o tempo livre que as crianças têm não é preenchido adequadamente. Incluir a criança na rotina do adulto é “incutir na criança necessidades que não são reais, e podem levar ao estresse, ansiedade e apatia” (Instituto Alana). De acordo com Maslow (1962), a criança tem necessidades no seu desenvolvimento: fisiológicas, de segurança, amor, estima e autorrealização. A não-satisfação de uma dessas necessidades pode ser encarada como uma patologia, em alusão à falta de vitaminas em um organismo. 165 Maslow defende que crianças felizes e seguras apresentam maior interesse em descobrir, crescer e conhecer. Sua teoria também defende que o crescimento só ocorre quando uma necessidade é satisfeita, levando a criança a querer satisfazer uma próxima necessidade e obter uma nova experiência. Quando uma necessidade é satisfeita, a criança pode voltar à experiência para repeti-la até chegar à saciedade completa ou ao tédio: por isso a oferta de experiências significativas tanto emocionais quanto cognitivas deve ser dinâmica no desenvolvimento da criança. A satisfação de uma necessidade emocional, por exemplo, pode ocorrer tanto no processo de crescimento normal da criança, ou para compensar a ausência dessa satisfação no momento em que a criança precisava satisfazê-la. No livro Ensaios Pedagógicos, Lino de Macedo observa que as crianças ficam mais tempo na escola do que com seus pais. Isso transfere uma responsabilidade maior para a escola, que precisa promover todas as situações sadias de desenvolvimento para a criança, ao passo que duplica a responsabilidade dos pais em compensar as necessidades emocionais dos seus filhos. Como descrito pelo educador Tião Rocha no documentário “Quando sinto que já sei”, a criança deve brincar. Assim, ela desenvolve uma série de características desejáveis (sadias, na visão de Maslow), e ciclicamente desenvolverá suas potencialidades cognitivas. No mesmo documentário, é possível observar experiências educacionais que abrangem a comunidade, inclusive a família, no processo de educação da criança. Uma maior participação dos pais na educação dos seus filhos promove, além da satisfação das necessidades de segurança da criança (amor e pertença), faz com que a criança sinta-se autônoma e capaz de enfrentar desafios. A integração entre pais, crianças e escola pode alicerçar uma maior percepção da realidade, um grande aumento na criatividade e a aceitação crescente do eu, dos outros e da natureza. Esse processo seguramente promoverá um desenvolvimento cognitivo melhor para as crianças. Materiais e Métodos Além do estudo das teorias de desenvolvimento, em especial a teoria de Maslow, o outro método que utilizo neste artigo é a experiência que acumulei em orientações para pais com filhos em idade escolar. Eu ministro um curso de Expressão Corporal para crianças e adolescentes, e promovo um workshop para os pais a fim de refletir sobre o processo de desenvolvimento dos seus filhos, enfatizando temas como autoimagem, ansiedade, rotinas e a forma como as crianças se relacionam com o mundo. Uma das perguntas que inicia a minha aula é “Ficou mais fácil para você quando seus filhos começaram a tomar banho sozinhos, a se vestirem sozinhos, a fazer seus pratos e alimentarem-se sozinho?”. Os pais, nesse momento, permanecem unânimes na resposta: “SIM!”. Questiono aos pais, portanto, se eles acham que as crianças não sentem falta dos cuidados dos pais: o banho não necessariamente; as crianças querem privacidade. Mas arrumar o cabelo, a roupa, o prato... os pais começam a perceber que podem dedicar-se mais aos seus filhos. Partimos desse ponto 166 para discussões mais aprofundadas, como atividades ao ar livre (que os pais relatam, na maioria das vezes, que não praticam com seus filhos), momentos de diálogo em casa (quase inexistentes), brincadeiras antigas, participação na vida escolar da criança e por aí vai. A conclusão a que se chega é a de que os pais colocam as crianças nas suas rotinas, esquecendo que elas têm suas próprias necessidades. Os pais, portanto, não compensam tais necessidades. O resultado apresentado geralmente são filhos apáticos, rebeldes, com baixa autoestima, ou que não se aceitam de diversas maneiras. Algumas crianças apresentam até uma cobrança exacerbada para ser bom filho e bom aluno, porque tem medo de decepcionar seus pais. Na maioria dos casos, são crianças que detém, em seu lar, a “responsabilidade” pela estabilidade das relações entre os pais, como pagamento de pensão de pais divorciados ou apartar as brigas no caso de pais casados. Claramente se percebe um panorama onde o adulto delega a seus filhos uma responsabilidade que não lhes pertence, sublimando as necessidades mais básicas dessas crianças. Se acontece assim em casa, como seria na escola? Observa-se, contudo, que os pais que preenchem o tempo livre dos filhos de uma maneira mais proveitosa, apresentam (aparentemente) um grau de satisfação melhor em relação ao desenvolvimento da sua criança. Resultados e Discussão Quando Maslow defende que o desenvolvimento da criança está ligado à satisfação de suas necessidades, destacam-se neste texto as necessidades emocionais e cognitivas. O ponto a se discordar de Maslow é que as necessidades não estão, obrigatoriamente, em hierarquia. Uma necessidade física pode aparecer no mesmo momento de uma emocional e assim por diante. O fato em consonância entre a teoria de Maslow, o projeto Slow Kids e as observações em sala de aula é que as crianças não têm suas necessidades emocionais e cognitivas 100% satisfeitas se os pais não compensarem as necessidades emocionais com atividades que promovam a vivência em grupo/comunidade. Quando se avalia o projeto Slow Kids, chega-se à conclusão de que os aparatos tecnológicos são fontes formidáveis de aprendizado, mas são utilizadas hoje como meio de socialização e entretenimento para as crianças. As relações humanas, porém, são muito mais fortalecidas quando a criança é estimulada a pensar em conjunto, a precisar do outro, a dialogar, a ganhar e perder nas brincadeiras e assim por diante. O papel dos pais, neste contexto, é estimular e promover um tempo livre melhor aproveitado pelas crianças. Os pais, entretanto, ocupam o tempo livre dos rebentos com cursos e compromissos, deixando a criança em pouco contato com atividades lúdicas e prazerosas: a criança é treinada desde pequena para ser produtiva. Não obstante, os pais também transferem responsabilidades que são suas para seus filhos: falta de recursos financeiros, infelicidade no casamento, problemas na família. A criança acaba, por fim, sendo tratada como um adulto e vai sublimando as experiências que deveria satisfazer suas necessidades, em detrimento às necessidades de seus pais. 167 A criança autônoma que o filme “Quando sinto que já sei” sugere é aquela que é interessada, criativa, inquieta, hábil. Uma criança autônoma nunca deveria, porém, desempenhar o papel de um adulto em qualquer relação que seja. Neste ponto, o papel dos pais no processo de desenvolvimento de seus filhos é bastante equivocado. Porém, eventos como o SlowKids promovem esse ajustamento, ainda que por um período muito breve, no papel do pai como educador. As escolas poderiam promover também suas versões de SlowKids, apropriando-se do fato de que as crianças passam mais tempo nas instituições de ensino do que nos seus lares. Os pais poderiam ser convidados para organizar ou participar desses eventos que estimulam um desenvolvimento mais saudável. Infelizmente o movimento Slow Kids é anual e pouco divulgado, mas a sua premissa é boa. Há de se implementar nas escolas, portanto, uma integração realmente significativa da instituição com os pais, para que o desenvolvimento da criança passe por todas as etapas de necessidades satisfeitas. Penso que até mesmo exemplos de novas formas de educar como as comunidades de aprendizagem vistas no filme “Quando sinto que já sei” estão fadadas ao fracasso se não houver a participação integral dos pais. Ou, enquanto esta utopia não é alcançada, que ao menos os pais aproveitem melhor os momentos livres com as crianças, para que elas sintam-se seguras e prontas para os próximos passos do seu desenvolvimento. Considerações finais A partir do momento em que os pais delegam as responsabilidades que são suas às crianças, ao passo que as mesmas têm a cobrança de serem produtivas em tempo integral e excedem o número de atividades para realizá-lo, alguns processos no desenvolvimento emocional e cognitivo podem estar prejudicados. Através da análise das teorias de Maslow (1962), pode-se concluir que as crianças têm o próprio ritmo, muitas vezes sublimado pela rotina acelerada de seus pais. O resultado pode ser uma criança com medo de desenvolver-se, porque não se sente segura para enfrentar o desconhecido. Sob esta óptica, podemos afirmar que o desenvolvimento cognitivo está ligado ao emocional, e é papel dos pais promover um ambiente propício através de experiências significativas para que seus filhos tenham suas necessidades saciadas. O evento Slow Kids, promovido pela ONG Alana, propõe que os pais desacelerem a rotina das crianças e participem de atividades ao ar livre, com jogos e brincadeiras interativas. Defendo, por outro lado, que a premissa do Slow Kids poderia ser implementada nas escolas, porque as crianças passam a maior parte do seu dia no ambiente escolar. Trazer os pais à escola seria uma forma de compensar o pouco tempo de convivência que eles têm, objetivando potencializar o desenvolvimento cognitivo das crianças através do seu desenvolvimento emocional. Este artigo pretende, portanto, abrir novas discussões acerca dos processos de desenvolvimento da criança e da importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos. Uma análise através da perspectiva humanista de Maslow, portanto, parece um bom começo. 168 Referências MACEDO, Lino. Ensaios pedagógicos – Como construir uma escola para todos?. Capítulo 3. Porto Alegre: Artmed, 2005. MASLOW, Abraham H.. Introdução à Psicologia do ser. Rio de Janeiro: Eldorado, 1962. PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento humano. Capítulo 2. São Paulo: Artmed, 2006. LIMA, Anderson; SAGRADO, Antônio; PEREZ, Raul. Quando sinto que já sei. Produção de Antônio Sagrado, Raul Perez e Anielle Guedes. Direção de Anderson Lima, Antônio Sagrado e Raul Perez. 2014. 78 minutos. Movimento prega a “desaceleração” da rotina das crianças. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/11/1370057-movimento-prega-a-desaceleracaoda-rotina-das-criancas.shtml. Acesso em 28/09/14. Slow Kids. Disponível em http://alana.org.br/project/slow-kids/. Acesso em 28/09/14. Manifesto – Slow Kids. Disponível em http://slowkids.com.br/manifesto/. Acesso em 28/09/14. 169 A percepção sobre a Educação Física em graduandos de Pedagogia do Centro Universitário Estácio Radial Viveane Petratti de Moraes1, Aparecida das Graças Geraldo2 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Pedagogia, campus Jabaquara e Interlagos1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Pedagogia, campus Jabaquara e Santo Amaro2 Resumo Atualmente a concepção de Educação Física é baseada na cultura corporal de movimento. Historicamente, a disciplina Educação Física estava atrelada ao rendimento esportivo, à exclusão de alunos que não possuíam habilidades esportivas, à exclusão de pessoas com deficiência, havia um aspecto competitivo e esportivista. Desde 1998, com a implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), espera-se que a realidade da Educação Física Escolar venha se modificando paulatinamente. Este artigo tem como objetivo analisar a percepção dos graduandos em Pedagogia do Centro Universitário Estácio Radial, campus Jabaquara, sobre a disciplina de Educação Física durante o Ensino Médio e Ensino Fundamental II. A metodologia utilizada foi pesquisa de campo. Foi aplicado questionário semi estruturado para 25 graduandos do curso de Graduação em Pedagogia que estão no 4º semestre e que cursam a disciplina Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Educação Física com carga horária de 88 horas semestrais. Podemos concluir que, ainda que discretamente, os alunos que cursaram Educação Física após 1998, já começam a esboçar modificações no trato a Educação Física Escolar. Palavras-chave: educação física, parâmetros curriculares nacionais, prática de ensino Introdução Historicamente a disciplina Educação Física vem sofrendo alterações e acompanhando as mudanças sociais, políticas e culturais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 20 de Dezembro de 1996, assim como a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em 1998, foram marcos importante para a “nova” Educação Física brasileira. É possível verificar que antes da implantação dos PCNs, a disciplina Educação Física estava atrelada ao rendimento esportivo, à exclusão de alunos que não possuíam habilidades esportivas, à exclusão de pessoas com deficiência, enfim, havia um aspecto competitivo e esportivista, onde os conteúdos de jogos (futebol, vôlei, basquete e handebol) eram predominantes nas aulas. Desde 1998, com a implantação dos PCNs, espera-se que essa realidade venha se modificando paulatinamente, pois, sabemos que as mudanças não ocorrem com grande velocidade e há a necessidade dos professores se adaptarem às novas realidades e isto, ocorre de forma lenta. Sendo assim, passados 16 anos da implementação da nova concepção de Educação Física, baseado na cultura corporal de movimento e nos novos conteúdos (esportes, jogos, atividades rítmicas, ginástica, lutas), será que é possível verificar se essas mudanças realmente foram percebidas pelos 170 alunos? Ou será que o modelo Esportivista de educação Física que permaneceu durante décadas ainda está arraigado no corpo e nas mentes dos alunos e professores? Portanto, este artigo tem como objetivo analisar a percepção dos graduandos em Pedagogia do centro Universitário Estácio Radial, campus Jabaquara, sobre a disciplina de Educação Física durante o Ensino Médio e Ensino Fundamental II. Materiais e Métodos A metodologia utilizada foi pesquisa de campo com análise qualitativa. Foi aplicado questionário semi estruturado para 24 graduandos do curso de Graduação em Pedagogia que estão no 4º semestre e que cursam a disciplina Conteúdo, Metodologia e Prática de Ensino de Educação Física com carga horária de 88 horas semestrais. Os dados coletados, dos 25 alunos que responderam à pesquisa foi analisado em 3 categorias: 1- Alunos que nunca fizeram aulas de educação física, total de 4 alunos; 2- Alunos que fizeram aulas de educação física antes da introdução dos PCNs de educação física, em 1998, totalizando 11 alunos; 3- Alunos que fizeram aulas de educação física depois da introdução dos PCNs de educação física, em 1998, totalizando 10 alunos. Resultados e Discussão Categoria 1: dos 25 alunos que responderam a pesquisa, pudemos verificar que 4 deles responderam que “ nunca fizeram educação física” pelos seguintes motivos: “ eu nunca participei por motivo de trabalho”; “minha mãe arranjava atestado médico para eu não fazer educação física. Ela achava que era só para meninos”;“ eu não tive aula de educação física. Não cursei o fundamental e médio de forma regular e convencional. Eu fiz EJA”;“ eu nunca tive aulas de educação física. Eu estudava em escola pública...não tínhamos esse tipo de aula. Eu não sabia o que era”. Categoria 2: Alunos que fizeram aulas de educação física antes da introdução dos PCNs de educação física, em 1998, totalizando 11 alunos. Quando perguntado sobre as experiências nas aulas de educação física, 2 responderam que tiveram experiências negativas, 1 não respondeu e os demais, em sua maioria, responderam que tiveram experiências positivas nas aulas de educação física. Na questão 2, quando perguntado se gostavam das aulas de educação física, 2 responderam que não porque “ os times para os jogos já eram formados”, “ porque não compreendia as regras dos jogos, ninguém explicava e não sentia entusiasmo” . Os demais responderam que gostavam porque,“ era aulas que apresentavam esportes”; “eram aulas que apresentavam esportes;“ por causa dos jogos e esportes me ajudou a relacionar com a turma”; “As aulas eram divertidas, tinha roupa que eu adorava, saia branca plissada e shorts vermelho, eu amava”; “Era uma aula que fugia da rotina sala de aula”; “professora sempre vinha com novos exercícios e a gente participava de campeonatos” ; era momento onde saiamos da rotina para movimentar-se com os demais, criando vínculos sociais importantes”; “Porque nos movimentava, aprendia sobre o corpo, regras e jogos e esportes novos, nos associávamos bem uns com outros”. 171 Esta categoria mostrou de forma clara alguns aspectos de Educação Física Esportivista, onde o esporte predominou nas respostas, assim como a participação em campeonatos e o uso do uniforme que eram características da educação física vigente na LDB de 1971. Um aspecto que chamou a atenção foi o fato dos alunos perceberem a importância de “ sair da rotina” assim como a relação com os vínculos sociais. Aspectos importantes para a reflexão do futuro pedagogo. Quando perguntado se o aluno se sentia excluído nas aulas, apenas 2 alunos responderam que sim, porque “só os melhores jogavam, os times já eram formados em sala”; “não tinha coordenação motora como os outros colegas e não sabia jogar. As pessoas não me chamavam para participar”. Dessa forma, as respostas apresentam uma educação física que não se destinava a todos e sim aos mais aptos. Quanto aos conteúdos que tiveram nas aulas, ficou evidente que o foco eram os esportes (futebol, vôlei, basquete, handebol) e ginástica. Já as lutas, atletismo, danças e brincadeiras foram os conteúdos menos citados. Apenas um aluno citou ter jogado dama, tênis de mesa, pingue pongue e 2 citaram o xadrez como conteúdos nas aulas de educação física. Já na categoria 3, os alunos que fizeram aulas de educação física depois da introdução dos PCNs de educação física, em 1998, totalizando 10 alunos, podemos verificar que, 8 alunos tiveram experiências positivas em educação física e apenas 2 experiências negativas como também não gostavam das aulas, “porque era obrigada a fazer” e “eram sem planejamento”. Já os demais alunos que gostavam da educação física, relataram que “as aulas eram uma espécie da válvula de escape... era um momento em que fazíamos coisas diferentes, nos divertíamos”; “saia da rotina, eu corria e brincava”; “sempre gostei da prática de esportes”; “principalmente no ensino médio, além de trabalharmos esportes, também trabalhávamos com projetos de dança e ritmos”; “momento em que saiamos da sala de aula”; “porque desenvolviam projetos ambientais e culturais”. Esses relatos nos permitem observar que este grupo de alunos já cita projetos, atividades de dança, ritmos, e isto é um tema importante que faz parte dos PCNs, mostrando que uma nova maneira de fazer educação física começa a aparecer. Quanto ao sentimento de exclusão nas aulas, apenas 1 aluno relatou que se sentia excluído porque “as aulas eram mais voltadas para os meninos por causa do futebol”, os demais se sentiam participativos nas aulas. Em relação aos conteúdos que tiveram nas aulas, podemos verificar que os esportes com bola ainda predominaram, a dança começa a aparecer em 5 relatos e as lutas não foram assinaladas por nenhum, dos entrevistados, mostrando assim que este conteúdo ainda merece maior atenção por parte dos professores. Considerações Finais Podemos concluir que os jogos esportivos que foram amplamente difundidos na escola na época da Ditadura Militar, com o decreto 69.450, de 1971, que considerava a Educação Física como atividade que, por seus meios, processos e técnicas desenvolviam e aprimorava as forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando. Nesse período, o chamado modelo piramidal, norteou as diretrizes políticas para a educação física. Na década de 1980, o Brasil não se tornou uma potencia olímpica como se almejava e a competição esportiva da elite não aumentou o número de praticantes, iniciando-se assim uma profunda crise de identidade nos discursos da educação física. Esse modelo se apresentou nos relatos dessa pesquisa onde foi amplamente vivido por meio dos 172 jogos e da competição. Em sua maioria, os alunos das categorias 2 e 3 tiveram experiências positivas nas aulas de educação física e gostavam das aulas, mesmo ela sendo excludente e elitista. Somente com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, a educação física foi integrada à proposta pedagógica da escola, como componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos, atestando assim os dados colhidos, pois, verificou-se que vários alunos na pesquisa nunca fizeram aulas de educação física. Verificou-se que mesmo os alunos que fizeram Educação Física após a inclusão dos PCNs, ainda sofreram alguns resquícios da antiga LDB. Consideramos que esta pesquisa possa levantar reflexões acerca da educação física escolar, junto ao curso de Pedagogia a fim de esclarecer suas finalidades, funções, conteúdos da Educação Física; relacionar aspectos históricos e sociais com a Educação Física; que os pedagogos possam reconstruir conhecimentos, saberes e práticas pedagógicas relacionados com o corpo e desenvolver uma consciência reflexiva e crítica sobre sua prática educacional. Referências Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): Educação Física. Secretaria de Educação Fundamental. 2ª Ed.; Rio de Janeiro: DP&A, 2000. Lei de Diretrizes e Bases da educação. LEI 9.394/1996. 20/12/1996 http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf. Acesso em 22 de Setembro de 2014. LEI Nº 5.692 - DE 11 DE AGOSTO DE 1971 - DOU DE 12/8/71 - Lei de Diretrizes de Bases http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1971/5692.htm. Acesso em 22 de setembro de 2014. 173 A INFLUÊNCIA DA INTERNET NO ENSINO DA LINGUAGEM PADRÃO: A LINGUAGEM UTILIZADA NA INTERNET DENTRO DO AMBIENTE ESCOLAR Vanessa Guilherme Pereira98, Ana Lucia Pedrazzi99 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Letras, Campus Interlagos RESUMO O trabalho apresentado foi motivado pela necessidade de compreender as modificações que ocorrem da norma padrão para o internetês, bem como identificar as dificuldades no uso da norma padrão. Tem como objetivo denotar a facilidade do aluno e a dificuldade/despreparo do educador em trabalhar com os recursos tecnológicos – como mostra a pesquisa exploratória, realizada com professores de uma escola pública de São Paulo, evidenciada neste artigo - e as variações na linguagem que ocorrem entre o padrão e o internetês. Sendo assim este trabalho buscou confrontar conhecimentos em relação a evolução da tecnologia que hoje abrange os meios educacionais, principalmente através da escrita utilizada nos meios de comunicação. Por conseguinte, o trabalho pretende contribuir para o estudo do internetês como um método de ensino para a linguagem padrão, uma vez que é primordial implantar melhorias no ensino da Língua Portuguesa, visando as novas linguagens surgidas com o uso da Internet. Palavras chaves: Educação, Tecnologia, Internet Introdução Com o crescimento da internet, os usuários de computadores, tabletes, celulares passaram a fazer parte de uma rede de comunicação que revolucionou a linguagem escrita na internet. E dentre as múltiplas vantagens e novidades surgidas da globalização virtual aparece uma nova linguagem interpretada como “internetês” com novas palavras, expressões, para uma forma mais rápida de comunicação. Neste novo repertório houve uma apropriação dos significados tradicionais da língua padrão dando-lhes novos sentidos, introduzindo neologismos continuamente, privilegiando a simplificação e a praticidade onde apenas uma ou duas letras são necessárias para a comunicação, Vanessa Guilherme Pereira-Aluna do curso de Letras do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 98 Ana Lucia Pedrazzi – Mestre em Comunicação e Letras- Professora do curso de Letras do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 99 174 por exemplo: td meu S2 (todo meu coração), vc (você) dentre muitas outras formas de grafia utilizadas, em geral pelos jovens adolescentes que passam horas trocando mensagens. Assim a prática do internetês e as consequentes modificações na escrita estão sendo trazidas para o ambiente escolar e tratadas pelos educadores como uma descaracterização da língua portuguesa que transgridem as normas estabelecidas pelas gramáticas tradicionais. Desta forma, este trabalho procura simplesmente mostrar que a educação marcada por processos históricos e culturais que guiaram o conhecimento, precisa ser repensada nos ambientes escolares, fazendo-se uso de novas formas de construir o conhecimento, fugindo dos padrões tradicionais de ensino com a inserção das novas tecnologias e de novas escritas trazidas pelos alunos para a sala de aula, para que haja uma interação partindo do internetês para a linguagem padrão. Metodologia Este trabalho constitui-se da observação dentro do ambiente escolar de um Colégio público de São Paulo e de estudos bibliográficos voltados para pesquisas a livros e artigos científicos durante o ano de 2013. A busca nos bancos de dados foi realizada através das palavras chaves internet, educação e linguística. Realizou-se uma pesquisa com um questionário contendo 5 questões, com professores do Ensino Fundamental e Médio de uma escola pública de São Paulo, visando avaliar o conhecimento dos mesmos em relação a tecnologia e o seu uso fora e dentro da sala de aula. Dessa forma buscou-se compreender e estudar os principais critérios e forma de aplicação das variações linguísticas desenvolvidos no âmbito escolar, de acordo com o Parâmetro Curricular Nacional. Resultados e Discussões A sociedade dividiu o assunto língua entre o discurso científico que visa as variações e as mudanças, e o discurso do senso comum que valoriza a noção de “erro” e os preconceitos sociais. Assim, estamos entre a Gramática Tradicional que persiste em afirmar que existe apenas uma forma certa de dizer as coisas, e a Linguística que demonstra que todas as formas de expressão têm uma lógica. Muitos docentes desconhecem o funcionamento da linguagem não padrão, principalmente a que se usa na internet, fazendo-a ser vista como um “erro” fora do modelo idealizado. Os profissionais não aceitam ou não querem o saber tecnológico, postura que vem prejudicando o ensino da linguagem padrão dentro da sala de aula, pois os alunos trazem para as aulas o “internetês” e a sua convivência com ele, seja através da escrita em redações ou até mesmo na fala do dia-dia. Alves (2000) traz um ponto importante, o fato da escola não ensinar o sabor, o gosto pelo conhecimento, que é o que a torna desinteressante, porque saber é necessário, mas saborear e aprender a gostar são essenciais, por isso torna-se essencial conhecer o mundo e a linguagem em que os jovens hoje estão inseridos - este mundo ilimitado que é a internet. Na pesquisa desenvolvida, os professores deixam claro que apesar da tecnologia estar presente na sociedade, muitos deles ainda não a conhecem como deveriam para interagir com os alunos. Sendo assim, fica difícil manter uma comunicação com os jovens e com a linguagem advinda da internet, fazendo-se necessário que o professor atente-se para aquilo que é sumariamente importante na sua formação, ou seja, “o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática”, e, “quanto mais inquieta for uma pedagogia, mais crítica ela se 175 tornará” (FREIRE,1990). Diante aos fatos vemos que está sendo instalada a falta de diálogo entre aluno e educador, afinal o conteúdo e a metodologia utilizada na educação, hoje não satisfazem a necessidade de aprendizagem dos jovens que detém o conhecimento através da internet, fazendo o uso de uma transmutação da escrita culta para a esfera eletrônica, aliando a essa nova escrita caracteres alfanuméricos e recursos semióticos não verbais como as imagens. De uma outra perspectiva, entretanto, podemos dizer que ensinar a linguagem padrão, distanciando os alunos da linguagem da internet, isto é, dando ênfase à língua como um sistema, e não à língua como um bem cultural, como uma linguagem social, é sonegar informações importantes aos jovens cidadãos, informações decisivas para sua entrada no mundo letrado da Ciência, da Literatura, dentre outras áreas de conhecimento que podem se manifestar nos dias de hoje. Ensinar é deixar aparecerem as contradições, as semelhanças, as diferenças, é trabalhar com uma pedagogia que cria condições para que isso aconteça, para as descobertas, os conflitos, o debate. Isso não se garante com uma classe organizada enfileirada ou em grupos, não é essa a questão; isso acontece na relação que se estabelece entre as pessoas. Como diz Chauí, ao professor não cabe dizer “Faça como eu”, mas, “Faça comigo” (Chauí, 1980, pag.39). Tendo em vista a preocupação com os educadores veremos a opinião de alguns através do questionário realizado em uma escola pública de São Paulo: Professor A1: 21 anos na área da educação, com aulas no ensino médio e fundamental. Professor A2: 15 anos na área da educação, com aulas no ensino médio e fundamental Professor A3: 12 anos na área da educação, com aulas ensino médio e fundamental. Professor A4: 21 anos na área da educação, hoje é responsável pela sala de leitura. Professor A5: 1 ano na área da educação, com aulas no ensino médio e fundamental. Pergunta nº1: A escola que habitualmente conhecemos está definitivamente preparada para os avanços tecnológicos? Todos os professores disseram que não, e a maioria justificou o motivo da resposta. A1, A3, A4 colocaram a culpa no governo. A5 não se justificou. A2 diz que os alunos não estão preparados. Pergunta nº2: Que formação os professores receberam em prol da inclusão tecnológica no ambiente escolar? Todos professores concordam que não receberam nenhum tipo de formação até o momento. Pergunta nº3: Como professor você está preparado para o uso de computadores, tabletes, em sala de aula? Os professores A1, A4, A5 não estão preparados. Professor A2 está tentando se adequar. Professor A3, único que está preparado, justificando que faz parte de sua rotina. Pergunta nº4: Você se considera letrado digitalmente? Os professores A1 e A2 não se consideram letrados digitalmente. Professores A3 e A5 disseram que sim. Professor A4 diz ter o mínimo para seu uso. Pergunta nº5: Você vê vantagens e melhorias no ensino com o uso de computadores nas salas de aula? Por quê? Os professores A1, A2, A3 e A5 concordam que há vantagens e melhorias com o uso dos computadores e justificam que a tecnologia tornaria as aulas mais interessantes para os alunos e ajudaria os professores a se planejarem melhor. Considerações Finais Na intenção de compreender os caminhos percorridos para a transformação da escolarização visando a tecnologia, e analisando especificamente a linguagem padrão e o internetês, este trabalho nos leva a considerar a hipótese de que o despreparo e a desinformação dos profissionais da área de educação promovem a distância entre a assimilação prática e conceitual da norma padrão. Ou seja, 176 como nos mostra o questionário exploratório, se o professor não se apodera de instrumentos que o aluno dispõe, no caso o tecnológico, não haverá uma troca de conhecimento, mas sim uma imposição dele. Se, no início da década de 80, os estudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística, nos dias de hoje temos emergência dos estudos sobre a internet, para a compreensão da dimensão sociocultural do internetês e do seu aprendizado. Em estreita sintonia, ambos os movimentos, nas suas vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a segregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que ensina. Romperam também com reducionismo que delimitava a sala de aula como único espaço de aprendizagem. Conclui-se, portanto, que este trabalho visou informar descritivamente sobre o “internetês”, a etimologia e as suas diversificadas práticas sociais, o seu abarcamento, suas dimensões e, o mais importante, como estar desenvolvendo-o na sala de aula, pois o preparo dos educadores proporcionará alterações no ensino/aprendizagem dos educandos e desenvolverá o conhecimento de ambos os envolvidos. De certo, sabemos que o processo é lento devido à situação atual do sistema escolar e da formação profissional do professor, mas reais possibilidades têm-se mostrado como verdadeiras mudanças educacionais. Subsidiar seria uma pretensão, mas este trabalho visa dar um suporte para os educadores que desejam reconstruir suas propostas pedagógicas, informando-se para gerar conhecimento crítico e analítico quanto às atividades direcionadas ao uso do computador em sala de aula versus a prática tradicional e institucional por tanto tempo praticada em nossas escolas. Pretende, ainda, reformular e construir a compreensão acerca das bases teóricas da aprendizagem, possibilitando a esses uma reflexão sobre a visão de mundo e de conhecimento, para que incorporem uma nova educação para crianças, jovens e adultos valorizando os conhecimentos utilizados por eles. Com isso, gerarão pessoas com capacidades múltiplas de interação com a sociedade, promovendo novas formas de relação no meio virtual, para que se abra caminho para o indivíduo estabelecer conhecimento do mundo em que vive. Contudo, as insuficiências do sistema escolar na formação de indivíduos não sucedem somente pelo fato de o “professor não ser um representante pleno da cultura, nem das falhas num currículo que não instrumentaliza o professor para o ensino” (KLEIMAN, 1995), pois essas falhas são mais enraizadas, porque são produtos do modelo imposto pelo sistema padrão de ensino. Quando nos dermos conta de que o processo natural de desenvolvimento do ser humano é massacrado pelo sistema e falta de interação com o meio feita pelo educador, e por suas equivocadas práticas de ensino, seremos aptos a promover o conhecimento crítico e consciente. Referências CASTELLS, Manoel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Tradução Maria Luiza X. De A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.243pag. CORDEIRO, Pedro. Linguagem padrão o que é sua importância.2012. <http://www.recantodasletras.com.br/gramatical/38592> acesso em: 15/10/2013. 177 CHAUI, Marilena de Souza. Ideologia e educação.in revista Educação e sociedade. São Paulo: Cortez/Associados,1980. FIORIN, José Luiz. Polemica sobre o livro didático.2011.Disponivel em: <http://profclaudiacunha.blogpost.com.br/2011/06/entrevista-do-fiorin-um-aulao-de.html > acesso em: 15/10/2013 HAMZE, Amélia. Internetês.2011. 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Disponível em: <http://www.tecnomundo.com.br/twitter/2467-como-esta-o-seuinternetes-conheca-a-linguagem-utilizada-no-mundo-on-line-htm> acesso em:20/10/2013 178 Corpo, dança e mídia: imagem corporal de crianças de 7 e 8 anos a partir da análise do desenho da figura humana. Andrea Francklin Lomardo100 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Educação Física, Campus Interlagos Resumo A TV e outros meios de comunicação vêm interferindo significativamente na vida de adultos e crianças. O intuito desta pesquisa foi verificar qual a imagem corporal de crianças submetidas a muitas horas de TV (grupo B e B1), e comparar a outro grupo que assistia poucas horas de TV (grupo A). Realizou-se estudo comparativo, a partir de abordagem qualitativa, comparando desenhos da figura humana de três grupos, composto por quatro crianças cada um. Os três grupos foram submetidos a 15 aulas de dança. A elaboração do desenho foi solicitada no início da pesquisa e repetida ao final. Utilizou-se como instrumentos da pesquisa, além do desenho, questionário diagnóstico aplicado aos pais para verificar quantas horas seus filhos assistiam TV. Ao final do trabalho observou-se que os grupos B e B1 realmente sofriam maior influência em relação à televisão do que o grupo A, no que diz respeito a valores e modelos corporais adotados, apresentando também maior facilidade na representação da sua imagem corporal. Palavras chave: Dança, Corpo, Imagem corporal, Mídia, Educação. Introdução Este artigo é um recorte da dissertação apresentada no mestrado em Pedagogia da Motricidade, no Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro, tendo como intuito refletir sobre o quanto o acesso à televisão e outros meios de comunicação vêm interferindo significativamente em nossa vida, nos nossos corpos e, principalmente nos corpos das crianças. A dança é considerada por diversos autores a expressão artística mais antiga do homem e continua, ainda hoje, sendo utilizada como forma primordial de comunicação, expressando visões individuais de mundo, sentimentos e as pulsações do inconsciente. Ela ainda faz parte do cotidiano da maior parte das pessoas, de diferentes culturas, idades e classes sociais. E ainda assim a educação parece não ter se dado conta da real importância da dança como forma de reflexão, de crítica e de transformação da sociedade. 100 Andrea Francklin Lomardo - Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 179 Muito embora nossos alunos dancem o tempo todo, a compreensão de dança mais difundida na escola é a da esfera da diversão, ou seja, não caberia no ambiente “sério e compromissado” da vida escolar. No entanto, é imprescindível que a dança faça parte da vida de nossos alunos, do ponto de vista educacional, como uma experiência prazerosa e de autoconhecimento, auxiliando no desenvolvimento da criatividade e individualidade. O ensino da dança na escola permite repensar alguns valores que são reproduzidos cegamente levando ao estabelecimento de preconceitos, como por exemplo a definição de quem pode dançar, e por que. Frases como “tem japonês no samba” ou “dança é coisa de menina” são velhas conhecidas, fazem parte do senso comum e reforçam estereótipos. Em relação às danças popularizadas pela mídia, verifica-se uma crescente perda da espontaneidade e da criatividade, além da sexualidade e erotização precoces. Em relação ao corpo, verificamos a crescente procura por desafios e valorização do corpo esculpido e malhado. Se reproduzirmos estas ideias trazidas pela mídia, provavelmente “ao contrário do que dita o senso comum, as aulas de dança podem ser verdadeiras prisões dos sentidos, das ideias, dos prazeres, da percepção e das relações que podemos traçar com o mundo”. (MARQUES, 2010). Porém, por meio de um ensino de dança que valorize outros aspectos e questione esse ideal de dança e de corpo, algumas visões podem ser modificadas. Outro aspecto que precisa ser ressaltado é que as mídias fazem parte de nossa vida e, portanto, assumem importante papel no nosso dia-a-dia. Isto é revelado ao encontrarmos diferentes opiniões em relação à influência da televisão entre os teóricos da comunicação e educação. Para alguns, no momento em que se liga a TV “está criada a ‘aldeia global’, a quintessência da integração social e participativa. Para outros, é a solidão coletiva” (REZENDE, 2002, p.3). Alguns teóricos da comunicação atribuem à TV uma função conservadora e alienante na medida em que contribui para a dominação das massas e para a reprodução da cultura como mercadoria. Para outros, ela possui potencial para propiciar ampliação do mundo para o espectador. "(...) a linguagem audiovisual treina múltiplas atitudes perceptivas e, constantemente, solicita a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação primordial no mundo". (BABIN e KOULOUMDJIAN, 1989, p.107). A escola, local propício à discussão crítica, não pode se posicionar como se a dança não fizesse parte do seu mundo. É preciso discutir o seu uso como recurso educacional. Duncan (1989) considera que a televisão é entendida como um importante agente ideológico que opera como formadora de significados e espelho da realidade social; moldando significados potenciais, dando preferências a entendimentos que representam interesses dominantes na sociedade. Além disso, é a TV quem primeiro apresenta as modificações ocorridas no mundo, ditando modas ou reforçando tendências. Com o corpo não é diferente. Mesmo na sociedade do virtual, onde os conceitos de tempo e espaço são outros, não poderia ficar fora do seu alcance. Em alguns momentos o corpo se torna espetáculo pela TV. É hora da adrenalina, dos esportes radicais. Em outros, o corpo vira consumo, é preciso ter, comprar. E ainda, somos o corpo mercadoria, jovens, saudáveis. Por isso, como educadores, mais do que censurar a televisão, é preciso procurar entendê-la e discuti-la de forma consciente. Não é possível desconsiderar o fato de que hoje a TV faz parte de pelo menos 4 horas diárias da vida de grande parte das crianças e jovens dos grandes centros urbanos (UNICEF, 2002), ou seja, o mesmo tempo dedicado à escola. 180 Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo investigar a influência da TV na imagem corporal de crianças de 7 a 8 anos, a partir do desenho da figura humana, produzido por elas. A partir do perfil das crianças pesquisadas, determinado pelo tempo de assistência a TV, analisou-se a evolução dos desenhos antes e após a realização das aulas de dança. Metodologia Este estudo utiliza o método de pesquisa qualitativa, a partir de um estudo comparativo entre dois grupos em relação à influência da mídia. O Grupo “A”, composto por quatro meninas que assistem poucas horas de TV semanalmente (até vinte horas), considerando a média assistida pelas crianças e jovens brasileiros (UNICEF, 2002); e o grupo “B”, composto por oito crianças, meninos e meninas (divididos em B e B1), que assistem TV com grande freqüência (mais de trinta e cinco horas por semana). Os grupos foram formados com crianças da 1o e 2o ano de dois colégios particulares de São Paulo, com projetos e propostas pedagógicas diferentes. É importante ressaltar que o Grupo A pertencia a um Colégio da pedagogia Waldorf (Antroposofia) enquanto B e B1 eram de um Colégio tradicional, e utilizava um sistema apostilado de ensino. Esta pesquisa teve como objetivo investigar a influência da TV na forma como crianças de 7 a 8 anos percebem a sua imagem corporal, a partir do desenho da figura humana, antes e após um programa de quinze aulas de dança criativa.1. As aulas tinham uma hora de duração e eram ministradas como atividade extracurricular. Durante as aulas foram aplicados os seguintes materiais de coleta de dados: (1) questionário aplicado aos pais para verificar o tempo de assistência à TV; (2) desenho do corpo para análise da corporeidade e imagem corporal. O objetivo do desenho foi analisar a imagem corporal dos alunos, e foi supervisionada por um psicólogo especialista na análise de desenhos. Uma das formas de verificar a imagem corporal de um indivíduo é a utilização do desenho do próprio corpo baseado no teste do “desenho da figura humana”. Segundo Farah (2008) o desenho traz a possibilidade de aferição da imagem corporal de maneira projetiva. Após as primeiras aulas, onde foi realizado o diagnóstico do grupo, foi pedido às crianças que desenhassem o seu corpo. A atividade foi organizada pedindo-se que partissem da frase “o meu corpo é assim....” Na última aula o procedimento foi repetido. Uma análise comparativa dos desenhos, antes da intervenção do programa de dança e após, foi realizada para verificar quais as modificações corporais assumidas pelas crianças frente à situação vivenciada. As três aulas iniciais do programa tinham como objetivo fazer um diagnóstico do grupo. Após esse período, as aulas apresentavam as seguintes características. O aquecimento era realizado a partir da criação de uma pequena seqüência a partir do som do seu nome, sendo imitada pelas outras. Depois era realizada uma pequena seqüência de movimentos, onde eram trabalhados alongamentos, massagens e exercícios que pudessem aumentar o repertório motor das crianças, como por exemplo, rolamentos para frente e para trás, etc. 1 Entendendo como dança criativa, a aula baseada na exploração de movimentos, na improvisação e na composição coreográfica, além de possuir um caráter educativo (MARQUES, 2010, p. 140) 181 No próximo momento eram realizados brincadeiras e jogos que tinham como objetivos principais a exploração e pesquisa de movimentos das partes do corpo e a descoberta das possibilidades de diferentes apoios. Eram propostos exercícios de improvisação, com ou sem materiais. Além das questões relacionadas às partes do corpo, o objetivo era trabalhar noções espaciais, como direção e níveis, e relacionamentos. Após algumas aulas foi iniciado o trabalho com propostas de dinâmicas que levassem da improvisação à composição. O último momento da aula era dedicado ao registro, através de desenhos ou da escrita, do que havia sido vivenciado. Também conversávamos a respeito das aulas, das atividades vivenciadas e das propostas para as próximas aulas. As três últimas aulas foram dedicadas à preparação da coreografia e ensaio para a apresentação pública. Resultados e discussão O objetivo da realização do desenho com as crianças do grupo A, B e B1 foi verificar principalmente qual a imagem corporal que estas crianças possuíam. Este instrumento se mostrou extremamente eficaz na verificação tanto de aspectos da motricidade como questões relativas à afetividade, expressividade e percepção em relação à dança e ao movimento. Ao considerarmos a percepção da presença das diferentes partes do corpo no Grupo A verifica-se que quadril, pés e orelhas não são representados no primeiro desenho. Quando o teste é repetido, o quadril passa a ser representado no desenho de algumas crianças. Mesmo assim o Grupo A demonstrou uma melhora pouco significativa quanto a vários aspectos, principalmente quanto à representação do rosto, que não é representado na maioria deles (3). Outra questão verificada é em relação ao aumento do volume corporal, observado no segundo desenho de todas as crianças do Grupo. Além disso, o corpo apresentava-se definido de forma completamente diferente do primeiro momento, porém representava uma adequação à idade das crianças além de uma maior expressividade, representada pelo uso das cores. O limite corporal também passou a ser mais bem definido. As meninas do grupo B tiveram uma melhora significativa quanto à percepção das diferentes partes do corpo quando comparados os dois desenhos. Em relação aos dois momentos houve uma melhor representação de algumas estruturas, principalmente extremidades. Em relação à expressividade, ela se manifestou na definição do rosto e do corpo, principalmente no segundo desenho. Mudaram as cores, os desenhos ficaram maiores, ocupando quase todo papel. Estas meninas também fizeram questão de representar em seu corpo o uso de acessórios, como colares, pulseiras, relógios e enfeites de cabelo. Esta tendência foi melhor verificada no segundo momento. Os meninos tiveram também muitos ganhos quando comparados o primeiro e o segundo desenho. Após as intervenções, seus desenhos ganharam volume (aparecendo inclusive músculos em um deles), melhor definição em relação às partes do corpo e aos limites corporais. Segundo Farah (2008) o conceito de imagem corporal é entendido como “(...) a figuração de nosso corpo, formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”. (SCHILDER, apud FARAH, 2008, p.82). Para o autor, a construção da imagem corporal se dá a partir de fatores fisiológicos e cinestésicos. Além disso, os processos ocorridos na esfera psíquica 182 influenciam o nível somático. Isso acontece principalmente a partir de fatores sociais e culturais bem gerais, como por exemplo, padrões estéticos próprios de cada cultura numa época determinada. Para Williams (1983), a imagem corporal é definida como “(...) a imagem que o indivíduo faz dele mesmo como uma pessoa física” (p. 283). Inclui as proporções corporais além das características de performance. Além disso, a percepção da “performance” em relação às tarefas motoras também é resultado de interações do indivíduo com os outros e com o meio. Considerações finais A principal dificuldade encontrada neste trabalho foi identificar um grupo de crianças que não assistisse muitas horas de TV por semana para poder ser comparado a outro. O grupo identificado com estas características pertencia a uma escola com pedagogia diferenciada. O objetivo deste estudo era verificar qual a imagem corporal que as crianças possuíam. Para isso aplicou-se o desenho do próprio corpo no início e ao final do programa. Ao final da análise dos dados percebeu-se que as crianças dos Grupos B e B1 realmente sofriam maior influência em relação à televisão do que o Grupo A, no que diz respeito a valores e modelos corporais adotados. Foi notado que quando nos referimos à percepção da imagem corporal, a imitação dos modelos da mídia ajudou estas crianças na aquisição de uma melhor percepção da imagem corporal, principalmente quando comparadas ao Grupo A. Neste sentido, me parece que a questão não é negar a mídia, mas tentar aproveitá-la de forma questionadora e crítica, além de apresentar outras possibilidades além dela. A dança, trabalhada por meio da exploração e da improvisação, além de proporcionar um trabalho corporal consciente e prazeroso trouxe benefícios aos três grupos. Este é um bom caminho para que a dança realmente faça parte da vida da escola e de nossos alunos. A partir das questões levantadas nesta pesquisa, proponho a discussão e construção de uma proposta metodológica para o ensino da dança que trate a mídia televisiva como recurso no processo educativo, aproveitando suas contribuições à educação do movimento e da dança. Referências BABIN, P. e KOULOUMDJIAN, M.F. Os novos modos de compreender: a geração do audio visual e do computador. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. DUNCAN, Margaret Carlisle. Television portrayals of children’s play and sport. Play and Culture, 1989, 2, p. 235-252. FARAH, Rosa Maria. Integração psicofísica: O trabalho corporal e a psicologia de C. C. Jung. São Paulo: Robel editorial, 2008. FERREIRA, Sueli (Org.) O ensino das artes: Construindo caminhos. Campinas: Papirus, 2003. (Coleção Ágere) LOMARDO, Andrea Francklin. A influência da mídia televisiva e de sua música no significado da dança: manifestação de valores e comportamentos em crianças. 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Outra intenção foi apresentar relações possíveis dessas letras/músicas em se tratando da construção do imaginário coletivo dos jovens roqueiros daquela década. Junto a isso, também a ideia de apresentar entendimentos atrelados a identificações e discussões referentes à produção de sentidos resultados da inserção dessas músicas no universo cultural daquela geração. Para isso, dentre várias referências utilizadas, deu-se atenção aos pensadores da história cultural e micro-historia, bem como os pensadores da chamada semiótica cultural russa. Tais teorias serviram de base no sentido de perceber que a música no referente período, em termos de estruturas de linguagens, foi fundamental para aquela geração em se tratando de certa construção de identidade e representação. Palavras Chave: Rock 1980; Pós-Modernidade; Linguagem; Semiótica Russa. Introdução É fato, segundo Groppo (1996), que a música se apresenta como umas das ferramentas/instrumentos mais significantes em se tratando de se identificar determinadas representações sociais e culturais dentro de determinados contextos sociais. Tais questões são reflexos de códigos gerados por linguagens, segundo Uspenskii (1981) existe uma relação histórica relacionada à criação do que ele chama “de novas frases”, que acabam significando espécies de novas “linguagens”. Essas novas “linguagens” estavam aparecendo de uma maneira intensa nos anos de 1980 no cenário musical. Gerações são representadas tanto em esferas políticas, quanto estéticas e sociais através das letras das canções que fazem parte de seus respectivos imaginários coletivos. Segundo Sharpe (1992), em relação às tramas históricas o historiador, deve estar atento nas relações entre as conexões e disjunções dos fenômenos. Lótman (1981) apresenta uma relação direta entre a semiótica da arte com a da cultura quando se pensa em compreender como determinados processos comunicacionais se inserem de maneira efetiva nas tramas sociais. Ele defende tal tese, argumentando que os signos presentes tanto em uma como em outra são construídos ao mesmo tempo, de maneira que a inserção e visibilidade subjetiva dessa inserção se da no que ele chama de inteligência coletiva. Partindo dessa análise pode-se supor que existe uma espécie de junção provocada entre a ideia epistêmica da 185 informação com suas referências dentro das esferas culturais e sociais, resultando em uma onda constante de linguagens significantes e plurais. Burke (1992) aponta que no campo da historiografia é necessário entender que o importante não são somente as novas perguntas a serem feitas em relação aos documentos pesquisados, mas sim, as conexões estabelecidas entre as séries de eventos e os respectivos documentos analisados. Pois bem, mais do que falar de eventos as letras das músicas descrevem os próprios eventos, e esse processo se dá tanto de dentro para fora, como o contrário, isso gerando a construção ou reconstrução da inteligência coletiva apontada por Lótman (1981). Metodologia O presente estudo metodologicamente intuiu desenvolver um diálogo entre teorias da historiografia com teorias da semiótica, em específico a linha da semiótica cultural russa. Pensando em responder questões significantes como: Em termos de linguagem, como se deu a produção de sentidos em relação ao rock no Brasil nos anos de 1980? E como é possível encontrar elementos que apontavam traços das inúmeras crises as quais passavam e ainda passam a modernidade? No que tange responder tais questões, foi escolhido enquanto natureza de pesquisa análises qualitativas através do auxílio de referenciais bibliográficos que tratam diretamente e indiretamente sobre o tema. Tais análises se deram justamente em algumas letras, as quais fizeram parte do Universo musical da geração roqueira do referente recorte. Tanto o período, quanto os códigos de linguagens desenvolvidos no mesmo foi analisado de maneira dedutiva. Resultado e discussão Cada letra de música trata de uma visão micro sobre diversos fenômenos que fazem parte do imaginário coletivo tanto de quem produz a música, quanto quem se identifica com a mesma. Baudrillard (1985) descreve a sociedade moderna como a sociedade das massas, dos sujeitos coletivos, dos homens perdidos em meio às multidões, cultivando suas solidões e alimentando muitas vezes uma sensação de alienação. A música, segundo Bastos (2005), é um grande instrumento em se tratando de produção de subjetividades. Partindo daí, o raciocínio desenvolvido é que mesmo as letras datando uma época em específico, ainda assim permanecem atuais, pois, pensando em uma ideia de movimento contínuo, as subjetividades possuem uma capacidade flutuante de se configurar e serviu naquele momento como certa fuga para os estados anestesiados e alienantes aos quais eram muitas vezes submetidas aquela geração. Quando a música adota uma proposta mais de contestação tais configurações ficam mais evidentes, como por exemplo, na letra “Geração Coca-cola” da banda Legião Urbana: Quando nascemos fomos programados / A receber o que vocês Nos empurraram com os enlatados / Dos U.S.A., de 9 às 6 / Desde pequenos nós comemos lixo / Comercial e industrial / Mas agora chegou nossa vez / Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês / Somos os filhos da revolução / Somos burgueses sem religião / Somos o futuro da nação / Geração Coca-Cola. 186 Lipovetsky (1989) diz que o sujeito pós-moderno sem se identificar com modelos ideológicos concretos, desenvolve uma sensação de vazio, uma vontade relacionada a um prazer efêmero, que resulta em um estado de angústia muitas vezes. Acaba ocorrendo uma necessidade de identificação com algo, sem que esse algo seja claro. O que a letra da Legião Urbana descreve é justamente o construção estética e social de uma geração que está revoltada com alguma coisa, sente uma sensação de desorientação, no entanto, não sabe para onde rumar, mesmo sabendo de que o lugar onde se encontra não lhe basta, nem lhe satisfaz. Levi (1992) diz que o historiador não deve se preocupar somente com a interpretação dos significados, mas sim, a relação das questões simbólicas com a construção dos significados. Essas questões se postam justamente entre as trocas do que é material com o que é simbólico. A atenção deve ser dada no que tange o fluxo do discurso social, esse por sua vez materializado nas letras das canções. Como por exemplo, na letra da música Voz do Brasil da banda Plebe Rude: Todo dia às sete eu ligo meu rádio para ouvir /hipnotismo nacional/todo dia às sete eu ligo meu rádio para ouvir/lavagem cerebral/Na voz do Brasil/A voz /fala, fala e ninguém escuta/pensam que sou biruta/tentando, tentando em vão achar uma estação que não tenha/a voz do Brasil, que não tenha voz do Brasil. Tais canções fazendo parte de subjetividades culturalmente produzidas possuem significados ímpares e importantes em se tratando das linguagens presentes nos respectivos meios. Fato esse que evidencia a cultura como sendo um ingrediente intrínseco no processo de relações humanas. A letra acima apresenta uma crítica relacionada aos processos midiáticos utilizados pelo Governo no sentido de alienar as pessoas. A música naquele período se apresentava como um excelente canal onde era possível expressar determinadas intenções. Algumas bandas de rock aproveitavam a própria mídia para criticá-la. Isso traz para a pauta da análise uma ideia apresentada por Uspenskii (1979) onde ele defende que dentro dos processos de comunicação existem certas “ordens” em se tratando de como as informações são: criadas, desenvolvidas e movimentadas dentro dos mais diversos contextos. Ele também aponta que nesses intensos processos o que acaba aparecendo sempre como produto final é chamado de estranhamento. Partindo dessa ideia, pode-se pensar que ao criar suas letras, as intenções dos artistas, não eram somente frutos dos estímulos externos imediatos, mais sim, uma vez que as estruturas de linguagens já estavam postas, a intenção e vontade de expressão já estavam presentes antes mesmo do artista desejar de fato expor seus posicionamentos e criticas. Tomando como exemplo do raciocínio apresentado acima, é fácil de perceber tal argumento, na letra da música “Inútil” da banda Ultraje a Rigor, mesmo em forma de ironia é evidente que tal “estranhamento” existia: A gente não sabemos/Escolher presidente/A gente não sabemos/Tomar conta da gente/A gente não sabemos/Nem escovar os dente/Tem gringo pensando/Que nóis é indigente.../"Inúteu"!/A gente somos "inúteu"!/"Inúteu"!/A gente somos "inúteu"! 187 A sensação que dominava naquela geração estava relacionada à indignação em se tratando de claras intenções ideológicas de dominação que o Estado durante toda a ditadura militar exerceu. Aquela geração passava por um período de transição política bem caótica como afirma Alves (2002). Existiam processos de manipulação mesmo depois do fim da ditadura, onde ainda se pretendia controlar de alguma maneira as pessoas. Embora legalmente pós-fim da ditadura algumas possibilidades se apresentassem no quesito comunicação, ainda, os cenários em algumas instancias eram repressores. Como mostra a música Gritos na Multidão da banda Ira: Sabe faz, faz tanto tempo faz /Já faz um tempo faz, estou querendo mais /Preciso ir embora, tomo uma coca-cola /Não se preocupe mais /Eu não perturbo mais /Já disse adeus à mãe, já disse adeus ao pai /Estou desempregado, estou desgovernado/A fome me faz mal, estou passando mal /Mas vou entrar na luta, eu/vou sair na rua /Já vejo a poluição /Já esta ficando perto /Esse e o coração da maquina do esperto /E aqui estou então, não estou sozinho não /É mais de um milhão/ ninguém mais pensa irmão/ Existe confusão /Gritos na multidão /É o fim da convenção /Gritos na multidão/Pobre de ti irmão. Nessa canção fica evidente a sensação de desorientação que aquela juventude passava, bem como, sua grande vontade de expressão. Lótman (1981) defende que toda a estruturalidade dos processos de comunicação linguística exerce uma ação intensa nos diversos e complexos fenômenos atrelados as relações humanas com as coisas, bem como ao contrário. Ele anuncia que nessas trocas de informações acontece uma espécie de força concêntrica, a qual se materializa nas conversações e transmissões de informações/imagens entre as pessoas através de suas continuas experiências humanas. Considerações Finais O que brevemente foi discutido no presente estudo foi a relação possível do rock brasileiro nos anos de 1980 com os inúmeros anseios que uma parte dos jovens daquele período sentia. Se pensar que todas as estruturas de linguagem estão altamente conectadas com os códigos diversos presentes dentro dos grupos sociais e que esses mesmos grupos utilizam determinadas estratégias de comunicação quando o assunto é expressão, pode-se entender que as músicas e suas respectivas letras possuem grande relevância quando a intenção é a produção de sentidos. Alves (2002) indica que é possível se perceber a materialização de algumas das subjetividades presentes nos imaginários coletivos através da identificação e representação desencadeada pela relação do público com a obra, no caso do referente artigo, dos roqueiros com as bandas. Isso por conta de que as músicas e suas letras de certa maneira ajudam na questão de mapear algumas referências, as quais estão atreladas a compreensão e expressão de inquietações que afligiam aquela geração. Alexandre (2002) mostra que a inserção do rock nos anos de 1980 no Brasil se deu de maneira intensa e visível, tanto que boa parte da mídia do período dedicou uma atenção ímpar para tal fenômeno. Dapieve (1995) entende que o rock naquele momento servia como uma imensa vitrine quando o assunto era exposição de determinados anseios de vários jovens roqueiros. 188 Em se tratando das estruturas da linguagem, e partindo da ótica de Lótman (1981), pode-se relacionar que o fenômeno se expandiu e ganhou força pelo simples e ao mesmo tempo complexo fato de que os signos presentes na confecção, bem como, na assimilação das mensagens se deu de maneira que as codificações, além de incisivas, eram também plurais e significantes. No que tange a construção e exposição de imaginários coletivos o momento se apresentou propício. Tanto o rock, quanto a sua representação, ganhou visibilidade e expressão. Fato esse, facilitado pela música e seu respectivo poder cultural. 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Dissertação de Mestrado apresentada em História Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2010. Semiótica Russa / Boris Schnaiderman (org.) – São Paulo: Editora Perspectiva 1979. 189 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: Ferramentas de Apoio ao processo de Ensino e Aprendizagem Paulo Roberto Bernardo da Silva Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza” O processo acelerado de mudanças no cenário mundial, o qual envolve a globalização, tem como agente propulsor a presença das novas tecnologias, presentes em vários aspectos da vida humana. Similarmente à importância do capital e da energia para a Era Industrial, computadores conectados em redes e os seres humanos tornam-se elementos essenciais para a produção do conhecimento, elemento básico para o progresso tecnológico, na Era do Conhecimento. As mudanças sociais imprimem a necessidade de novas demandas para a educação. Nesse cenário, as tecnologias de informação estão cada vez mais presentes e desempenham importante papel na área educacional, na medida em que permitem diferenciar o ensino, complementar as atividades tradicionais e colaborar para a democratização de uma educação de qualidade. Guevara e Dib (2007:178) destacam uma relação entre educação e o uso das tecnologias na área educacional: (...) o uso da educação e o treinamento formal e informal para criar sociedades alfabetizadas tecnologicamente, capacitando os cidadãos a utilizar as tecnologias da informação e comunicação com confiança naquilo que fazem, tanto na sua vida pessoal como no ambiente de trabalho. A expressão “novas tecnologias” designa as inovações relacionadas aos métodos e aos recursos concebidos a partir do desenvolvimento e das aplicações da microeletrônica, como a televisão, o rádio, o gravador, o vídeo, o computador, as redes informáticas, a transmissão por satélite ou por fibras óticas e os bancos de dados. A educação por meio da televisão procura reorganizar o sistema de aprendizagem, levando em consideração o conhecimento prévio dos educandos e utilizando experiências prosaicas para exemplificar os conceitos. A televisão tem a vantagem de tornar atraentes os conteúdos, de ter uma linguagem pedagógica acessível e, principalmente, de democratizar a educação. Um exemplo de sucesso no Brasil é o Telecurso. No Telecurso, o aluno acompanha as aulas pela televisão, estuda por meio dos livros do projeto e presta os exames da Secretaria de Educação do Estado onde reside. Existem também as telessalas, que são espaços equipados com um aparelho de TV e um vídeo ou DVD. Neste espaço reúnem-se aproximadamente 25 alunos e um orientador de aprendizagem, que conduz as atividades. As telessalas mostraram experiências bem sucedidas, com índices de aprovação de mais de 90%, em média. 190 No Telecurso tudo é concebido para ser usado, sem distinção, por pessoas de variadas condições sociais, idades e localidades, ou seja, de variadas realidades. Abaixo, quadro com dados estatísticos que resumem as ações do Telecurso 2000. 27 mil 5 milhões 30 mil 1.500 24 milhões Telessalas implementadas em todo o país Estudantes beneficiados Professores capacitados Instituições parceiras Livros editados Quadro 01 – Dados estatísticos do projeto Telecurso 2000 desde a sua criação em 1995. Fonte: FIESP. Partindo do modelo do Telecurso, em 2007 a Fundação Roberto Marinho, em parceria com o Centro Estadual de Educação Tecnologia Paula Souza e Governo do Estado de São Paulo, realiza o projeto Telecurso Tec, uma proposta reorganizada do Telecurso, que passa a oferecer um programa de formação técnica de nível médio e de qualificação profissional, nas escolas da rede pública estadual. Entre as modalidades oferecidas está a semipresencial que utiliza como principal recurso didático a televisão. Diariamente, os alunos têm acesso a programas de TV que (com duração de 15 minutos transmitidos pela Rede Globo de Televisão, Cultura e Canal Futura) relacionam os conteúdos com situações do cotidiano, permitindo a visualização dos temas propostos em situações concretas e fazendo os conceitos fluírem de maneira natural. A partir dos anos 80, a educação passa a contar com um novo recurso tecnológico, o computador pessoal. Os investimentos efetuados na área da microeletrônica, voltados especialmente para o desenvolvimento de hardwares, e a demanda por sistemas que pudessem operacionalizá-los, foram essenciais para a melhoria dos computadores e, conseqüentemente, para a sua padronização. No Brasil, o incentivo ao setor deu-se a partir de 29 de outubro de 1984, por meio da Lei n° 7.232, que dispunha sobre a Política Nacional de Informática, estabelecendo uma reserva de mercado e incentivando fortemente os investimentos, do governo e do setor privado, nesse ramo de atividade. Dotados de maior capacidade de processamento, armazenamento e a custos menores, mas longe da realidade da população de muitos países, em especial o Brasil, o computador começa a tornar-se popular, ainda que para uma pequena parcela da população. A princípio, expectativas excessivas foram tecidas em torno do uso desse equipamento. Alguns educadores acreditavam que o computador seria capaz de revolucionar o ensino, resolvendo todos os problemas das escolas; já outros o viam apenas como mais um recurso didático que, como os laboratórios de línguas, sairiam de moda rapidamente. Lepeltak e Verlindem, apud Delors (2005:208) definem a importância da utilização do computador na educação: O computador permite diferenciar o ensino, o que é um fator de extrema importância. Isso significa que o ensino oferecido não precisa ser uniforme e dirigir-se a um grupo inteiro (como em um curso magistral, mas pode 191 adaptar-se às necessidades e às capacidades de cada aluno). Existem sistemas (softwares) que permitem acompanhar os progressos dos alunos, registrar seus resultados e, se necessário, fazer recomendações. No início, apesar do otimismo dos estudiosos sobre a relevância dos computadores na prática do ensino, alguns pontos de estrangulamento foram detectados por diretores, coordenadores de curso e professores. Dentre os entraves mais comuns, a insuficiência do número de computadores, a ausência de softwares educativos e a inabilidade dos professores na área da informática, foram os pontos de maior destaque. Coube às instituições de ensino, gradativamente, inserir o computador em seu contexto e proporcionar formação aos professores. Quanto à qualificação do corpo docente, Lepeltak e Verlindem, apud Delors (2005:208), descrevem a deficiência desse processo ao relatarem que “inúmeros professores, mas não todos, evidentemente, realizaram cursos especiais, enquanto muitos outros aprenderam sozinhos, ou com a ajuda de seus colegas, a utilizarem um computador,”. A dificuldade residia na complexidade técnica da linguagem dos sistemas que operacionalizam os computadores, exigindo que o usuário praticamente aprendesse um novo “dialeto técnico”, para utilizá-los. Os fabricantes de softwares, diante essa problemática, concluíram que o computador apenas seria utilizado em larga escala, se o manuseio básico não exigisse instruções complexas. A partir dessa conclusão, os sistemas operacionais começaram a proporcionar, ao invés de um ambiente texto para a inserção de linhas de comando, ambientes gráficos intuitivos, os quais proporcionavam facilidade de operação aos usuários. A constante evolução da capacidade dos equipamentos, graças à miniaturização de componentes eletrônicos e novas versões dos sistemas operacionais, permitiram que os usuários utilizassem o computador de forma mais interativa, por meio de recursos audiovisuais. Aplicações que reuniam imagens (estáticas ou dinâmicas) e sons constituíram a base necessária para que o computador se transformasse em um recurso importante a serviço de educação. Ressaltando o potencial dos recursos audiovisuais, Lepeltak e Verlindem, apud Delors (2005:216), contribuem afirmando que: (...) as novas técnicas de multimídia são extremamente potentes e prestam-se a uma utilização interativa adequada a cada aluno, o que oferece grandes possibilidades para melhorar o processo de aquisição ativa dos conhecimentos e para acompanhar e dirigir os progressos dos alunos. Segundo os autores, é evidente a importância de recursos multimídia para a educação, porém a sua utilização demandou o desenvolvimento de novos dispositivos, capazes de comportar o volume de informações que compunham uma aplicação audiovisual. A alta capacidade de meios magnéticos propiciou o armazenamento de dados digitais. Importantes publicações como, por exemplo, livros e enciclopédias, que até então estavam acessíveis apenas no formato impresso, puderam ser digitalizadas. Sem dúvida, a redução de espaço físico foi uma das conseqüências mais perceptíveis nesse processo, mas a característica de maior relevância foi a autonomia atribuída ao usuário, ao interagir e transitar por diferentes áreas do texto, permitindo estabelecer uma relação mais intensa com a leitura - característica ausente em um texto linear clássico. 192 Essa interação foi concebida em função de os textos serem organizados e constituídos com pontos de acesso ou links, os quais direcionam o leitor a partes específicas, do mesmo ou de outro texto, de maneira rápida e intuitiva. Constituídos de recursos de navegação que rompem com a seqüencialidade da leitura, os textos em formato digital, denominados de hipertextos, constituem recursos de pesquisa que “varrem” o texto em busca de conteúdos específicos, por meio de palavraschave. Lévy (1996:44) afirma que sons e imagens fazem parte do universo de um texto digital e ainda define o conceito de hipertexto, da seguinte forma: (...) este seria constituído de nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens seqüências musicais etc.) e de ligações entre esses nós (referências, notas, indicadores, “botões” que efetuam a passagem de um nó a outro). Os meios eletrônicos, em geral, são interessantes aos jovens, por seu caráter de dinamicidade e pela integração da linguagem visual, da linguagem oral, da música e do movimento. A linguagem escrita desenvolve a abstração, o rigor e o sentido de análise, enquanto que a linguagem audiovisual exige atitudes perceptivas e o uso da imaginação. Baseia-se ainda no processamento rápido de informações concretas, visuais e espaciais, com variáveis dinâmicas, as quais interagem entre si. A linguagem audiovisual pôde ser amplamente explorada com o advento da telemática, o que possibilitou, à partir dos anos 90, a disseminação da internet, ainda que de forma restrita devido às limitações estruturais de acesso. Nos anos seguintes, o avançar crescente da telemática engendrou o alicerce tecnológico necessário para que as conexões de rede permitissem acesso de alto desempenho à internet. Esse novo cenário potencializou o trabalho cooperativo e permitiu que o aprendiz pudesse compartilhar suas experiências entre todos os envolvidos - professor e os outros aprendizes -, por meio de fóruns de discussão, consulta a acervos digitais e troca de mensagens eletrônicas, viabilizando a busca da informação para o processo de construção do seu conhecimento. A ligação em escala nacional e internacional de computadores em redes permitiu também que o conhecimento pudesse ser acessível, livre das restrições de tempo e de lugar. Preocupada com o aspecto humano envolvido nesse processo, Passarelli apud Litto e Formiga (2009:325) amplia o conceito de redes, ao afirmar que “mais do que sistemas, redes são pessoas que anseiam por conversar, se apresentar, compartilhar conhecimentos tácitos, pensamentos críticos, conhecimentos científicos ou se unir para alcançar maior influência”. Com o apoio das TIC´s, a EAD convergiu para a educação on-line, via web, também denominada de e-learning. Diante da possibilidade de compartilhar arquivos e acessar conteúdos em diferentes formatos, as empresas foram pioneiras no uso do e-learning, inicialmente motivadas pela necessidade de redução de custos, com o treinamento de seus colaboradores e pelas pressões exercidas pelo mercado competitivo. Além de viabilizar treinamentos, quando se faz necessário moldar o aprendizado em uma direção específica, as empresas perceberam no e-learning a possibilidade do aprendizado ou da educação corporativa, que tem por princípio buscar desenvolver competências em seus recursos humanos, a fim de melhorar o desempenho de seus colaboradores, para que estejam em sintonia com as estratégias da corporação. 193 Rosenberg (2002:10) traz uma visão comparativa sobre treinamento e aprendizado, ao afirmar que “quando temos a necessidade de aprendizado que requer instrução, podemos utilizar o treinamento e, quando houver a necessidade de aprendizado que mais adequadamente requeira informação, podemos utilizar o gerenciamento do conhecimento”. Isso significa, antes de tudo, propiciar um ambiente e uma cultura que incentive a produção e o compartilhamento do conhecimento, permitindo que o aprendizado obtido possa ser integrado às ações da empresa, para garantir a sua competitividade e o seu futuro. A partir dessa perspectiva, surge o conceito de Universidade Corporativa (UC), instituída por empresas preocupadas com o desenvolvimento de competências empresarias e humanas, por meio de um processo de aprendizagem ativa e contínua. A sua importância é destacada por Martins, apud Litto e Formiga (2009:226), ao descrever que as UC’s: (...) aparecem como uma evolução do treinamento, à medida que alinham as ações de formação com a estratégia organizacional e, fundamentalmente, incorporam à empresa a missão de educar, qual seja inculcar valores, mudar comportamentos e elevar o patamar de escolarização formal do trabalhador. Por intermédio da EAD, muitas empresas encontraram um meio favorável para a expansão da educação corporativa. Outras, aproveitando o constante desenvolvimento das tecnologias da Internet, optaram por criarem e difundirem suas universidades. Rosenberg (2002:25) define e-learning como “um conjunto de soluções, fornecidas pela utilização da internet, que melhoram o conhecimento e o desempenho” e ainda aponta alguns critérios fundamentais que sustentam a sua base: É transmitido em rede, permitindo a atualização, armazenamento, recuperação, distribuição e compartilhamento instantâneos da informação. É fornecido ao usuário final por meio do computador, utilizando a tecnologia da internet. Concentra-se na visão mais ampla de aprendizado: soluções de aprendizado que vão além dos paradigmas tradicionais de treinamento. O autor também considera outros benefícios proporcionados pelo e-learning. Dentre eles, cabe destacar a estruturação de comunidades duradouras que permitem o compartilhamento do conhecimento, mesmo após a conclusão dos cursos, promovendo também a aproximação das pessoas. Nesse contexto, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) desempenham uma importante função, ao disponibilizar ferramentas que apóiam o relacionamento, tais como, e-mail, listas de discussão, fóruns e mecanismos que permitem a transferência de arquivos. A distinção de um ambiente virtual de aprendizagem e de outros sistemas está na forma como os recursos são organizados. Silva, apud Litto e Formiga (2009: 234), esclarece essa dinâmica, ao afirmar que o propósito específico do AVA: (...) é permitir que o processo de ensino-aprendizagem ocorra por meio não apenas da interatividade, mas principalmente, pela interação, ou seja, privilegiando a construção e a reconstrução do conhecimento, a autoria, a produção de conhecimento em colaboração com os pares e a aprendizagem significativa do aluno. Frente à utilização de sistemas computacionais, mediados por computador, surgem novas práticas educacionais. Como conseqüência, as funções do professor devem ser reavaliadas e 194 adequadas à nova realidade educacional, mas cabe ressaltar que a sua atuação é, e continuará sendo, de importante relevância no processo de ensino-aprendizagem. As tecnologias, por mais avançadas que se tornem, jamais substituirão o professor, mas suas atitudes e atribuições deverão estar alinhadas às necessidades profissionais e pessoais do educando, que é fruto de uma sociedade dinâmica e interligada, na qual as informações estão apenas a um “apertar” de botão. Caberá ao professor, antes de tudo, adquirir competências pedagógicas e tecnológicas para que possa, da melhor forma possível, orientar os estudantes na busca por informações relevantes às suas necessidades, em redes de sistemas, encorajá-los à auto-reflexão, incentivá-los à pesquisa, entre outras atividades que favoreçam a construção do conhecimento. Obviamente, não se pode atribuir toda a responsabilidade do sucesso ou do fracasso da educação, mediada por recursos tecnológicos, ao professor. Teles, apud Litto e Formiga (2009:72), destaca a divisão de responsabilidades em uma sala virtual, ao relatar que “os ambientes colaborativos on-line que tiveram sucesso são gerenciados pelo professor, mas os estudantes têm uma participação bastante ativa, independentemente da usabilidade da tecnologia”. Referências GUEVARA, Arnaldo José de Hoyos; DIB, Vitória Catarina. Da sociedade do conhecimento à sociedade da consciência: Princípios, Práticas e Paradoxos. São Paulo: Saraiva, 2007. LEPELTAK, Jan; VERLINDEN, Claire. Ensinar na era da informação: Problemas e Novas Perspectivas. In: DELORS, Jacques(org). A educação para o século XXI: questões e novas perspectivas. São Paulo: Artmed, 2005. Cap. 16. p. 206-221. LÉVY, Pierre. O que é virtual. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996. MARTINS, Herbert Gomes. 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A partir de dados secundários oferece uma visão sobre dificuldades, riscos, estratégias e tempo necessário para que o desenvolvimento de aplicativos apresente resultado frente ao investimento. Palavras-chave:aplicativos móveis, empreendedorismo, estratégia, risco. Introdução Atualmente é muito comum ouvir falar sobre criação de sites para venda de produtos e serviços por meio da internet. De acordo com Wooldridge; Schneider (2011) percebe-se um grande crescimento e expansão do mercado de aplicativos para dispositivos móveis, onde é crescente a comercialização de produtos e serviços através deste canal, por proporcionar mais comodidade, praticidade e inovação para o consumidor. Tanto para atuar com essa modalidade de negócio como para quem deseja investir neste mercado, será que é fácil se manter e alcançar o sucesso do negócio? Com o proposito de maximizar o conhecimento sobre os riscos desta modalidade de negócio, serão elencados os principais pontos relevantes para quem quer investir neste segmento, seguidos de estudos, análises e explicações referenciadas de empresas e/ou empreendedores que atuam ou atuaram neste mercado. Busca-se trazer informações e experiências para a tomada de decisão sobre o investimento. Para os administradores, este estudo contribuirá com informações de um mercado que atualmente está em fase de crescimento, tornando-se uma grande oportunidade para quem tem criatividade e gosta de inovar. 101 DOUGLAS KOYAMA HO - Bacharel em Administração pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 102 RENATO RICHTER - Mestre em tecnologia e Professor Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 196 O estudo utilizou como método o estudo de multicasos de empresas e empreendedores, analisados a partir de dados secundários, por meio de publicações em sites de notícias, nos anos de 2013 e 2014. Tal método visa verificar e analisar as publicações, diante dos tópicos estudados. Tais resultados objetivam proporcionar aos administradores informações para a tomada de decisões com base em dados divulgados pela mídia eletrônica e possibilitar a viabilização de estratégias e modelos de gestão para o negócio. COMÉRCIO ELETRÔNICO E O CRESCIMENTO DO MERCADO DE MOBILIDADE De acordo com Turban; King (2004), o comércio eletrônico é entendido como um processo que envolve a compra, a venda e a troca de produtos, serviços e informações pela internet. Na medida em que fica mais acessível ao consumidor, por meio da evolução da tecnologia proporcionada pelos smartphones, tablets e outros dispositivos móveis com aplicativos desenvolvidos de forma a atender as necessidades dos usuários, Deitelet al. (2004) afirmam que com este crescimento, o comércio eletrônico tem um impacto representativo, por se tratar de um processo eficiente que permite operar sem distâncias geográficas, com a utilização dos bancos que hoje utilizam sistemas on-line para conversão de moeda em tempo real. Este processo possibilita para o empreendedor criar novos modelos de negócio, ou seja, formas inovadoras de atuar que geram vendas para a empresa se manter no mercado. O quadro abaixo ilustra os modelos de negócios mais praticados no mercado atualmente. Modelos de Negócio Venda direta do fabricante para o consumidor e a do revendedor para o consumidor. Modelo que permite aos compradores estabelecer preços Estabelecer preços que desejam pagar pelo produto ou serviço. Modelo que localizar o melhor preço para o produto ou Encontre o melhor preço serviço especificado. Um acordo em que uma empresa/indivíduo encaminha Marketing afiliado consumidores ao site de outro. Modelo em que o conhecimento/vendas da marca se Marketing viral amplia induzindo as pessoas a enviar mensagens às outras. Modelo em que se oferecem descontos para compras em Compras em grupo grupo. Modelo em que os compradores ofertam lances em produtos e serviços que são vendidos pelos lances mais Leilões on-line altos. Modelo em que o comprador tem opções de customizar o Customização de produtos ou serviços produto ou serviço. Quadro 1 – Modelos de Negócio Fonte: DEITIEL et al.; (2004) Marketing direto, on-line 197 Diante dos diversos modelos de negócio o comércio eletrônico destaca-se como uma das poucas inovações que possibilita atingir milhões de pessoas, pela possibilidade de expansão rápida da carteira de clientes das empresas diante da velocidade proporcionada pela internet, e facilidades para o comprador que refletem em melhorias no padrão de vida da comunidade. De acordo com Dariva (2011), a disponibilidade da internet nos dispositivos móveis proporciona aos indivíduos conexão por mais tempo, característica decisória para os investimentos das empresas no relacionamento com seus clientes e divulgação de seus produtos e serviços. Diante disso, este avanço tecnológico aumenta a competitividade entre as empresas, pois desperta a percepção dos clientes diante de necessidade de conveniências deste modelo de negócio. “Na verdade, a movimentação sobre os aplicativos móveis, principalmente aqueles com foco no consumidor, lembram muito o começo da internet, em que todas as empresas queriamter um Website: hoje, todas querem ter um aplicativo móvel” (DARIVA, 2011, p.2). Com o objetivo de conquistar espaço no mercado e demanda de clientes a espera do desenvolvimento de aplicativos, a empresa Google que utiliza o sistema operacional Android para dispositivos móveis, disponibiliza a sua plataforma, desde 2008, ao público de desenvolvedores. Além disso, também realizou uma campanha para premiar as melhores aplicações desenvolvidas. Esta decisão despertou nos desenvolvedores o interesse de investir na plataforma, com consequente aumento na oferta de aplicativos e na geração de oportunidades para empresas e novos empreendedores (JOBSTRAIBIZER, 2009). Com o resultado obtido, a Google passou a utilizar desta estratégia para manter seu espaço, ao firmar parcerias com instituições de ensino a fim de promover e disponibilizar a sua plataforma para aprendizado e desenvolvimento. Segundo DORNELAS (2008), empreendedorismo é um relacionamento que abrange pessoas e processos a partir do desenvolvimento de ideias, transformando-as em oportunidades de negócio para o empreendedor que de acordo com SCHUMPETER apud DORNELAS (2008, p. 22): “(...) é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.” O mercado de aplicativos está crescendo com muita rapidez e se tornando cada vez mais competitivo, porém são os melhores que se destacam e promovem o sucesso do negócio. Esta fase dispõe de muitas oportunidades para os desenvolvedores, cabendo aos mesmos desenvolver o interesse em empreender, demonstrar criatividade, organizar as ideias e coloca-las em prática de acordo com os conceitos do empreendedorismo. Atualmente, já existem disponíveis milhares de aplicativos de diversos seguimentos que disputam este mercado, com destaque para o seguimento de lazer, compra e venda de produtos e serviços, e de utilidades. Segundo Wooldridge; Schhneider (2011), o mercado está saturado de aplicativos relacionados ao mesmo seguimento, a estratégia para se destacar é sair em busca de novas ideias que visem principalmente atender a novas necessidades e interesses dos usuários. 198 O MERCADO DE APLICATIVOS NO MUNDO E NO BRASIL A praticidade e conveniência que o smartphone trouxe para o usuário foram determinantes para o surgimento e sucesso deste novo segmento de mercado, que proporciona aos interessados inúmeras oportunidades de negócio. O potencial de crescimento deste mercado não proporciona garantias de sucesso para os empreendedores, trata-se de um segmento que requer pesquisa, planejamento e desenvolvimento de estratégia como qualquer outro, ou seja, sustenta o objetivo do trabalho de analise de experiências de casos reais para a tomada de decisão sobre o investimento. Segundo o site de noticias Carta Capital (2013), o crescimento do mercado de aplicativos no mundo demonstra um crescimento bilionário, em 2011 o mercado atingiu 1 milhão de aplicativos disponíveis e após 2 anos aumentou para 1,8 milhão ou seja, um crescimento de 80% que automaticamente contribui para o sucesso do lançamento dos smartphones. Pesquisas realizadas pela associação das empresas alemãs Bitkom apontam que 44% do mercado se concentram em usuários que tem entre 14 e 29 anos de idade e 75% dos aplicativos são gratuitos, em 2011 o volume de negócios com aplicativo gerou 4,2 bilhões de euros. Diante das facilidades e conveniências que este segmento proporciona aos usuários, existem também desvantagens que devem ser levadas em consideração, como a indisponibilidade dos aplicativos nas diferentes plataformas existentes e a possível insegurança dos dados pessoais utilizados em cadastros. Segundo o jornal online Estadão (2011), o mercado de aplicativos no Brasil demonstra um grande potencial de crescimento, pois de acordo com pesquisa realizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) possui 190 milhões de usuários e 227 milhões de celulares, onde aproximadamente 15% são considerados smartphones. Além disto, outro fator de grande relevância para este crescimento é a disponibilização de planos de dados para clientes pré-pagos, que se tornou para as classes mais baixas o principal meio de acesso a internet. O rápido crescimento deste mercado trouxe grandes desafios e oportunidades, porém por se tratar de um mercado interligado pela internet, a concorrência estará no Brasil e em todos os outros países. Com a disponibilidade de acesso à internet para as diversas classes sociais e consequentemente o aumento do número de usuários conectados, o smartphone se torna um importante veículo de publicidade que proporciona diversas formas para o empreendedor obter renda através dos aplicativos, mas antes disso é necessário enfrentar a desafiadora trajetória de desenvolvimento das ideias, atender as expectativas dos usuários, superar a oferta dos concorrentes e alcançar o sucesso. ANÁLISES DE MULTICASOS Com o acesso às plataformas dos sistemas Android, Apple, BlackBerry e Windows Phone aos desenvolvedores, surgem inúmeras oportunidades para os empreendedores investirem no mercado de mobilidade. Para empresas que atuam com a disponibilização de produtos e serviços pela internet, o desenvolvimento de aplicativos é resultado de um investimento na ampliação da exposição e disponibilização do produto e/ou serviço aos consumidores. Porém, além destas empresas, existem os empreendedores que atuam no desenvolvimento de aplicativos como um negócio e os 199 empreendedores que os desenvolvem para viabilizar a sua empresa. Os empreendedores analisados atuam neste mercado, porém possuem público-alvo diferente, como consequência os investimentos, riscos, estratégias e a durabilidade também se diferenciam. Aplicativo de Jogo CandyCrush Saga De acordo com o site G1 da globo.com (2013), o a CandyCrush é considerado o jogo mais popular da história do Facebook, que em apenas um (01) dia foi jogado 600 milhões de vezes por 50 milhões de usuários. Trata-se de um jogo de tabuleiro com diferentes obstáculos e peças em formato de doces, onde o objetivo é realizar todas as tarefas utilizando uma limitada quantidade de jogadas em cada uma das cinco (05) vidas disponíveis em cada nível. Com base em dados não oficiais, estima-se que o aplicativo possui um retorno financeiro de US$ 600.000 por dia. A empresa King que desenvolveu o aplicativo e lançou em novembro de 2012; obtém este retorno financeiro por meio de uma estratégia com características específicas que estimulam o vício e faz com que os usuários tenham o interesse em “comprar jogadas” para passar os níveis mais difíceis. O CandyCrush que está disponível no Facebook e nos dispositivos com sistema operacional Apple e Android, permite que os usuários tenham acesso ao mesmo jogo, que está interconectado nestas diferentes plataformas. Através da interconexão disponibiliza aos jogadores a opção de compartilhar resultados, ferramentas e vidas do jogo, que para o usuário a é satisfação demonstrar que está à frente dos seus amigos, já para os desenvolvedores, trata-se de uma estratégia de marketing utilizada para atrair cada vez mais jogadores. De acordo com o site da revista Exame (2014) o jogo CandyCrush foi um dos aplicativos mais rentável da categoria e obteve a maior quantidade de downloads nas plataformas Apple e Android. A empresa King desenvolvedora do aplicativo apostou na estratégia de estimular o vício e inovar investindo em plataformas móveis. A estratégia adotada pela empresa foi determinante para recuperar um prejuízo de 1 milhão de dólares no primeiro trimestre de 2012 e obter um lucro de 269 milhões no quarto trimestre de 2013, com este resultado a empresa anunciou a abertura de capital na bolsa de valores de Nova York. Ainda segundo o site da revista Exame (2014) 78% da receita de 1,88 bilhão de dólares que a empresa obteve em 2013, foi resultado do estratégico lançamento do aplicativo CandyCrush. Porém, mesmo com o impressionante resultado da empresa, os acionistas esperam por mais desenvolvimentos e novas ideias, demonstrando os planos e as estratégias para crescer e se manter no mercado. Aplicativo de mensagem WhatsApp De acordo com o site de notícias O Globo (2014), Jan Koum após ter sido rejeitado em uma vaga para trabalhar no Facebook, comprou um iPhone e percebeu o crescimento do mercado de aplicativos. Com a contratação de um desenvolvedor, desenvolveu e lançou a sua primeira versão em 2009, momento em que havia apenas três (03) aplicativos no mercado. Após o lançamento da segunda versão, conquistou em pouco tempo aproximadamente 250 mil usuários. Com a ajuda financeira de investidores e plano estratégico de aperfeiçoar as funcionalidades para proporcionar 200 segurança das informações, o Whatsapp alcançou em fevereiro de 2013 mais de 200 milhões de usuários ativos. O Whatsapp é um aplicativo de serviços de mensagens texto que também permite compartilhar mensagens de voz, arquivos, fotos e vídeos através do acesso à internet nos smarthphones. É gratuito no primeiro ano de uso, e após esse período o usuário tem a opção de pagar uma assinatura anual no valor de US$ 0,99 (modelo de cobrança aplicado em julho de 2013). Para cadastro basta inserir o número do celular como login de acesso. Segundo o site G1 da globo.com (2012), a estratégia de negócio é utilizar a internet disponível nos smartphones para substituir o uso do SMS. A empresa de pesquisa Ovum aponta que as operadoras de telefonia devem perder aproximadamente US$ 54 bilhões em receitas com serviços de SMS até 2016, porém, obviamente que esta perda deve gerar receitas em serviços de tecnologia 3G na mesma proporção ou até maiores, o que proporciona às operadoras maior poder para investir e desenvolver novas tecnologias. Conforme publicado no site de notícias O Globo (2014), Jan Koum assinou o acordo de venda do aplicativo Whatsapp por US$ 19 bilhões (US$ 12 bilhões em ações do Facebook, US$ 4 bilhões em dinheiro e US$ 3 bilhões em ações aos desenvolvedores do aplicativo), com aproximadamente 450 milhões de usuários. De acordo com uma matéria do site de notícias O Globo (2014), para a empresa Facebook recuperar o investimento mantendo o modelo de negócio, estima-se necessário 19 bilhões de usuários, caso contrário terá que realizar mudanças a fim de obter receita de outra forma. Aplicativo de serviços de táxi Easy Taxi O Easy Taxi é um aplicativo que permite o usuário solicitar serviços de táxi por meio do celular. Para utilizar basta realizar um cadastro com nome, e-mail e telefone. De acordo com a revista Exame (2014), foi lançado em 2011 por Tallis Gomes que saiu de um evento em um dia de chuva e após ficar 40 minutos procurando por um táxi, pensou em criar um aplicativo para chamar táxi pelo celular. Devido a forte concorrência de similares, em outubro de 2012 após receber um investimento de R$ 10 milhões de um financiador de companhias online, Gomes iniciou a estratégia de expandir rapidamente os serviços para mais cidades brasileiras (Folha, 2013). Segundo o jornal online Folha de São Paulo (2013), o aplicativo conta com uma frota de 16 mil taxistas cadastrados no estado de São Paulo. O usuário paga somente o valor da corrida calculada pelo taxímetro e o taxista paga uma taxa de R$ 2 por cada “corrida” atendida por meio do uso do aplicativo. Os principais pontos que levaram os usuários a sua utilização são a falta de carro disponível nas empresas de serviços de táxi em algumas regiões em horário de pico de trânsito, e a demora no tempo de espera por um táxi que variava entre 16 a 30 minutos. Com o uso do Easy Taxi o tempo estimado teve uma grande melhora e passou a variar entre 5 a 10 minutos. Mesmo com a aceitação e crescimento do número de usuários o aplicativo ainda não é rentável, segundo Gomes é necessário investir no seu desenvolvimento e a principal prioridade é expandir os serviços para diversos países (Folha de São Paulo, 2013). Em junho de 2013, após alcançar a marca de 30 mil motoristas cadastrados em 11 cidades brasileiras, o aplicativo Easy Taxi recebeu mais US$ 30 milhões de um financiador para expandir os serviços em 25 países, investir em campanhas de marketing social com parceria de outras empresas. 201 Para Gomes, a taxa cobrada dos taxistas para o atendimento dos usuários é mais do que o suficiente para o sucesso do negócio, a estratégia para alavancar o negócio é manter a qualidade do serviço, divulgar os serviços e ganhar no volume de usuários satisfeitos (O Globo, 2013). Aplicativo de Jogo FlappyBird De acordo com o jornal online Folha de São Paulo (2014), o FlappyBird é um jogo cujo único objetivo é marcar a maior quantidade de pontos controlando o voo de um pássaro para desviar de obstáculos formados por encanamentos. O jogo inicia com o pássaro seguindo uma única direção e através do comando de toque na tela é possível elevar a altura de voo do pássaro, ou seja, quanto mais toques rápidos na tela, mais alto o pássaro voa, caso o pássaro cai no chão ou se encostar em algum obstáculo, a partida é encerrada. Segundo Dong Nguyen de 19 anos de idade, o aplicativo foi criado em três dias e foi lançado em 24 de março de 2013 por uma pequena desenvolvedora local. Uma estimativa do site especializado em cobertura tecnológica (The Verge) aponta que Nguyen estaria ganhando aproximadamente US$ 50 mil ao dia. Apesar da simplicidade do jogo, ele se tornou muito viciante para os usuários e um problema para Nguyen, que decidiu remover o aplicativo das plataformas Android e Apple. Segundo o jornal online Folha de São Paulo (2014), no dia 15 de maio de 2014, DongNguyen afirma que o aplicativo voltará em agosto de 2014 com uma nova função que permite desafiar outra pessoa e que não estimule o vício da mesma forma que a versão original removida do mercado devido aos comentários dos jogadores referente à dificuldade do jogo e do tempo dispendido para conseguir boa pontuação. CONCLUSÃO O mercado de aplicativos cresceu e se expandiu rapidamente pelo mundo devido à cobertura da internet rápida e a evolução da tecnologia através da criação dos smartphones e outros dispositivos móveis, que está cada vez mais acessível à população. A praticidade e conveniência que os aplicativos proporcionam ao usuário é o principal fator potencial deste mercado e que desencadeou diversas oportunidades para os empreendedores. Com base nos casos analisados é possível verificar que o valor de investimento vai depender da estrutura, conectividade e cobertura do serviço que será ofertado aos usuários, ou seja, desde um aplicativo simples para uso individual sem conectividade com outros usuários, como exemplo o aplicativo de jogo FlappyBird, até os aplicativos mais complexos com conectividade mundial e diversas funcionalidades, como exemplo o aplicativo de mensagens Whatsapp. Mas antes de todo investimento, é necessário estruturar as ideias, realizar uma pesquisa de mercado, estudar a concorrência, absolver as criticas dos usuários, analisar o público alvo e identificar a melhor forma de se obter o retorno financeiro desejado. Em alguns casos verificou-se que o objetivo principal inicial não era o retorno financeiro rápido, mas sim alcançar o sucesso em aceitação e utilização do aplicativo pelos usuários, e disponibilização de um produto/serviço inovador com qualidade. Após alcançar este patamar a possibilidade de sucesso em retorno financeiro aumenta, mas é importante lembrar que o risco e o valor de investimento inicial também são maiores, e para isto alguns desenvolvedores contam com 202 financiadores/investidores. Este mercado abre grandes oportunidades para o desenvolvimento e a implementação as novas ideias de produtos e serviços, porém isto faz com que a estabilidade do negócio seja mais sensível e vulnerável às ações da concorrência, impactando de modo significativo a permanência e a estratégia para manter o sucesso do negócio, uma das ações praticadas pelas empresas nesta situação é a compra desta concorrência, pois conclui-se que o constante crescimento de um concorrente diante da forte competitividade é uma grande ameaça para os empreendedores que precisam se manter. REFERÊNCIAS BRETANO, Laura. Serviços móveis de mensagens via web começam a ameaçar o SMS. 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Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia de Petróleo, Campus Vila dos Remédios1, 2 PMT-EPUSP Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo2 Grafeno, uma das formas cristalinas do carbono consiste de uma folha plana de átomos de carbono densamente compactados e apenas um átomo de espessura. Descoberto em 1962 e isolado para sua utilização por Geim e Novoselov em 2004, mereceu, o Prêmio Nobel de Física em 2010. Ótimo condutor de eletricidade e de calor. O grafeno é duzentas vezes mais resistente que o aço e tão fino que 1,0 g cobre um campo de futebol sendo capaz de ficar imerso em líquidos sem se oxidar. Um aero gel de grafeno chinês pesa sete vezes menos que o ar. Vijayaraghavan, da Universidade de Manchester, diz que grafeno é um dos poucos materiais transparente, condutor da eletricidade, do calor e, flexível simultaneamente. Na Northwestern University construíram uma bateria que incorpora grafeno e silício, que permite produzir um celular que recarregue em 15 minutos com energia para mais de uma semana. A Sociedade Americana de Química diz que os avanços com grafeno contribuirão a obter telas de toque para telefones celulares finos como uma folha de papel e dobráveis o suficiente para ser colocado no bolso. A Samsung, anunciou que descobriu como produzir grafeno para produção de transistores, telas flexíveis, vestíveis e outros aparelhos eletrônicos da próxima geração. Samsung, IBM, Nokia e SanDisk testam o grafeno para sensores, transistores e memórias de armazenamento, mas existe outro grande benefício: O grafeno é extremamente barato. Ou seja, utilizar o grafeno na indústria eletrônica pode significar produtos 103 Aluna, Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Campus Vila dos Remédios, [email protected] 104 Aluna, Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Campus Vila dos Remédios, [email protected] 105 Professor Titular, Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 106 Professor Doutor, PMT-EPUSP Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, [email protected] 205 melhores, menores e mais baratos do que os atuais, base silício. Segundo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) o grafeno poderá permitir a construção de computadores quânticos, o que constituiria um enorme mercado para a computação no futuro. Estas pesquisas realizadas por instituições do mundo inteiro, conseguem mostrar a importância do grafeno num futuro não muito distante. Este trabalho visa entender a importância do carbono para a sociedade e sua capacidade de obter materiais diversos a partir dele. Também conhecer os métodos básicos de avaliação do carbono com amostras de grafite e negro de fumo, utilizando DRX – Difração de raios X, MEV Microscopia eletrônica de varredura, FRX – Fluorescência de Raios X entre outros métodos de laboratório. O principal resultado será introduzir a Estácio, através de uma aluna e um professor, nas pesquisas que sobre grafeno se realizam na Escola Politécnica da USP e outras instituições do Brasil. 206 A Percepção Ambiental dos Moradores do Entorno do Manguezal do Jequiá – Ilha do Governador – Rio de Janeiro/RJ André Luís Soares Smarra1, Robson A. Ferreira2, Leila de Carvalho Rodrigues3, Cesar Augusto Lotufo4, Vera de Fátima Maciel Lopes5 Universidade Estácio de Sá – UNESA, Gestão Ambiental, campus Nova América1,2,3,4,5 O manguezal é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, uma zona úmida característica de regiões tropicais e subtropicais. O manguezal estuarino do Rio do Jequiá, localizado na Ilha do Governador (Rio de Janeiro/RJ) vem sofrendo degradação contínua, principalmente em função do processo de urbanização. O presente trabalho teve como objetivo determinar a percepção ambiental dos moradores do entorno do referido ecossistema. O estudo foi realizado através de formulários com questões semifechadas. Foram entrevistadas 70 pessoas, no mês de maio de 2014. Cada participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a utilização dos dados e divulgação dos resultados. A validação das questões foi realizada através de um formulário piloto testado em dez pessoas; os dados obtidos através desta testagem não foram considerados. A análise dos resultados revelou que 68% dos entrevistados são do sexo masculino, 30% estão na faixa etária entre 41 e 60 anos, 40% cursou o ensino médio completo e 28% o ensino médio incompleto. Dentre os indivíduos analisados 60% recebem entre 1 e 3 salários mínimos; 33% afirmam estar na região num período entre 5 e 10 anos e 25% alegam estar no local há mais de 30 anos; 30% afirmam que alguém na família sobrevive da pesca no manguezal e 18% têm familiares que coletam crustáceos e/ou moluscos no local. Quanto ao alimento coletado 13% afirmam ser a principal fonte de alimentação da família, 10% um complemento e 20% apenas utilizam eventualmente. Com relação ao mangue 30% afirmam ter ocorrido algum tipo de mudança no aspecto geral do mesmo, 52% afirmam que os principais problemas ambientais são o despejo de esgoto seguido pelo lixo (23%); 57% afirmam que os próprios moradores não conservam o manguezal e 45% acreditam que a solução é a realização de um programa de educação ambiental e estão predispostos a participar ativamente do mesmo. Pode-se concluir que os moradores são dependentes do manguezal, têm consciência de sua degradação e sabem que somente fiscalização e um programa de educação ambiental pode alterar, positivamente, o panorama atual do local. ___________________ 1 André Luís Soares Smarra - Mestre em Física, Professorda Universidade Estácio de Sá, [email protected] 2 Robson A. Ferreira – Graduando em Gestão Ambiental, Universidade Estácio de Sá, [email protected] 3 Leila de Carvalho Rodrigues – Graduanda em Gestão Ambiental, Universidade Estácio de Sá, [email protected] 4 Cesar Augusto Lotufo – Mestre em Geografia, Professor da Universidade Estácio de Sá, [email protected] 207 5 Vera de Fátima Maciel Lopes – Mestre em Engenharia de Produção e Doutora em Meio Ambiente, Professora da Universidade Estácio de Sá, [email protected] 208 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Phaseolus vulgaris Fernanda C. de Brito1, Herbert P. da Silva1, Tiago Cerqueira1, Alessandra P. Majer1,2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Muito é discutido sobre o efeito nocivo do consumo do cigarro, devido às várias substâncias que direta ou indiretamente são liberadas durante o fumo e que são prejudiciais à saúde humana. Contudo após esse consumo a bituca do cigarro comumente não é descartada de maneira correta, sendo frequente seu descarte diretamente no solo, podendo resultar em um impacto negativo local. Neste contexto, o presente trabalho avaliou experimentalmente os possíveis efeitos deste tipo de descarte no modelo vegetal Phaseolus vulgaris L. (feijão). Para isso, foram realizados cinco tratamentos, com cada um destes contendo quinze réplicas, sendo estas dispostas ou sobre um substrato de algodão ou terra escura. Para propiciar a germinação este substrato foi umedecido diariamente com diferentes soluções, a primeira composta unicamente por água (tratamento controle) e as demais correspondendo a 0,1%, 1%, 10%, 50% e 100% de uma mistura preparada com 1 litro de água e bitucas. Ao final do experimento as plântulas foram gentilmente removidas e tiveram o comprimento do seu caule e maior raiz determinados, assim como quantificado o número de folhas e o tamanho da maior destas. No caso das sementes colocadas em algodão não foi observada diferença na proporção de germinação entre os tratamentos (GL = 5, X 2 = 1,17 e p = 0,95), enquanto que para terra escura foi observada uma menor proporção de sementes germinadas para todas as diluições em relação ao controle, particularmente para a maior diluição (Gl = 5, G = 48,83, p < 0,0001). Já considerando o comprimento do caule, comprimento da maior raiz e número de folhas foi observado um efeito marginalmente significativo, provavelmente devido ao menor número de réplicas germinadas para os tratamentos mais concentrados, especialmente para terra escura (n=2). Estes resultados indicam a tendência de que nos tratamentos com maior concentração houve um menor desenvolvimento relativo à todos os parâmetros, apesar deste ter sido influenciado pelo substrato. Outros estudos com espécies diferentes, assim como com duração mais longa, são necessários para realmente determinar a extensão dos impactos negativos associados ao descarte inadequado deste tipo de resíduo. Porém, a necessidade da destinação adequada deste resíduo fica clara, o que, somado à comprovação de que o descarte inadequado destes resíduos ocorre diariamente em diversas áreas demonstra a necessidade de uma campanha de comunicação ambiental discutindo esses riscos e impactos negativos. ----------------------------------------------1 Fernanda C. de Brito – aluna de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 209 2 Herbert Pereira da Silva – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 3 Tiago Cerqueira – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan - [email protected] 4 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 210 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Linum usitatissimum Tiago Cerqueira1, Fernanda C. de Brito1, Herbert P. da Silva1, Alessandra P. Majer1,2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, há no Brasil cerca de 24,4 milhões de fumantes, dos quais aproximadamente 33,9% fumam entre 15 e 24 cigarros diariamente. Somente considerando esta parcela do total de fumantes é possível estimar que, em média são geradas cerca de 16 milhões de bitucas por dia. As bitucas geralmente não são corretamente descartadas, sendo comumente observadas nas mais diversas áreas públicas. Apesar da poluição visual e problemas indiretos associados com entupimento de tubulações, outros impactos deste descarte, principalmente considerando fauna e flora ainda são pouco conhecidos. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo testar os possíveis efeitos de um extrato aquoso preparado com bitucas na germinação e desenvolvimento da espécie vegetal Linum usitatissimum (linhaça). Para tanto, as sementes de L. usitatissimum foram dispostas em recipientes plásticos sobre certo substrato, neste caso ou uma porção de algodão ou de terra escura. Foram utilizadas 15 réplicas para cada um dos cinco tratamentos realizados, onde para cada um dos quais foi utilizado uma solução para a rega das sementes. A primeira destas foi composta por água e as demais corresponderam a 0,1%, 1%, 10%, 50% e 100% de uma mistura preparada com 1 litro de água e resíduos de bitucas. Ao final de quatro semanas foram quantificados o comprimento do caule, da raiz e número de folhas. Considerando a germinação somente na terra escura foi observado um efeito, com um número de sementes germinadas menor em relação ao controle (Gl = 5, G = 13,88, p =0,02), principalmente para a diluição mais concentrada. Já para comprimento do caule e número de folhas o efeito foi observado para as plântulas que se desenvolveram em algodão, com menor desenvolvimento ocorrendo principalmente nas que foram regadas com as diluições mais concentradas. Esses resultados demostram que em curto prazo há um impacto na germinação e desenvolvimento de L. usitatissimum, porém mais informações são necessárias para identificar o quão generalizável este padrão é para outras espécies vegetais. Independente disso, a importância do descarte correto de bitucas é demonstrada, assim como a conscientização ambiental dos fumantes, de quem este tipo de descarte depende. ----------------------------------------------1 Tiago Cerqueira – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan - [email protected] 2 Fernanda C. de Brito – aluna de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 211 3 Herbert Pereira da Silva – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 4 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 212 A importância da implementação de centros de educação ambiental em áreas verdes urbanas, um estudo de caso no parque da Aclimação, São Paulo Marta Camila Mendes de Oliveira Carneiro, Valdeci Carneiro Junior Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, campus Santo Amaro 1 Faculdade Oswaldo Cruz, Engenharia Ambiental2 Os parques quando inseridos no ambiente urbano, costituem-se em espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinados à recreação. Sabe-se que os parques públicos de São Paulo são pequenos e acanhados em relação ao conjunto metropolitano. Perfazem uma área de 15,635 milhões de metros quadrados que corresponde aproximadamente a 1,53 m2 por habitante. No município – onde a expansão urbana caracteriza-se pela irregularidade e a clandestinidade, sem a implementação de um planejamento da ocupação – a carência de áreas verdes, sua má distribuição e a sua constante depredação, levam a necessidade de se resguardar e utilizar melhor estas áreas. Este trabalho teve como objetivo subsidiar a implementação de programas de Educação Ambiental (EA) em parques urbanos, de maneira a contribuir com a conscientização da importância das áreas verdes na melhoria da qualidade de vida da população. Para tanto, realizou-se um estudo de caso no Parque daAclimação onde foi avaliado o perfil do usuário deste Parque; o comprometimento da comunidade compreservação da qualidade ambiental do Parque e verificar a importância de Parques para a qualidade ambiental da população urbana. Como estratégia, foram realizadas entrevistas com oitenta usuários em dias e horários diferentes. Posteriormente realizou-se uma análise estatística dos dados colhidos e a elaboração de alguns dados para melhor visualização dos resultados. Pode-se notar que os entrevistados do Parque utilizam o local apenas para atividades de lazer, não havendo um comprometimento do usuário com o uso do coletivo. Notou-se também que os entrevistados na sua grande maioria não sabiam o que é EA e que poucos já haviam participado de algum programa de EA.Além disso, foi analisado a potencialidade dos Parques Urbanos como instrumento para a EA e o levantamento do perfil deste instrumento no município de São Paulo. Finalmente, foi elaborada uma proposta de Programa de Gerenciamento de EA para o Parque da Aclimação chamado de núcleo de educação ambiental parque da Aclimação, baseado na análise doperfil do usuário deste Parque. Ressalta-se que há a necessidade de ser feita uma avaliação contínua dos projetos de EA. Tal procedimento deve-se ao fato da realidade ambiental, em sua totalidade, ser dinâmica ao longo do tempo. 1 Marta Camila Mendes de Oliveira Carneiro -Mestre em Epidemiologia e Bioestatística, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 2 Valdeci Carneiro Junior - Mestre em Engenharia Nuclear, Professor da Faculdade Oswaldo Cruz, [email protected] 213 Padrões e parâmetros de qualidade da água. Andreans Coimbra1, Marta Camila Mendes de Oliveira Carneiro2, Valdeci Carneiro Junior3, Daniela Farias Cabral4 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia, campus Jabaquara1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia, campus Jabaquara 2 Faculdades Oswaldo Crus, Engenharias3 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia, campus Jabaquara4 A legislação ambiental estabelece os parâmetros de qualidade das águas, sendo um instrumento estruturador de referências e padronização de processos. Porém, a sua complexidade prejudica a percepção de sua importância em relação às dificuldades de implantação execução e fiscalização. Neste estudo investigou-se a utilização de parâmetros de qualidade e potabilidade da água para diversos usos, mostrando as possíveis fragilidades dos mesmos, além da falta de interação entre os gestores governamentais e a população. Através da análise de estudos bibliográficos optouse utilizar como referência a resolução CONAMA no20 (1986), que classifica as águas segundo seus usos preponderantes. Identificou-sea existência de divergênciasentre os órgãos legisladores e fiscalizadores quanto ao atendimento às normas nacionais e internacionais, o que leva a tomada de decisões restritivas, muitas vezes pautadas nas normas internacionais, não condizentes com características sazonais como índices pluviométricos e temperatura de nosso país. Isto leva os órgãos fiscalizadores a aplicar sanções que não trazem melhorias significativas. Ressalta-se que a Resolução CONAMA no20 de 1986 foi precursora da atual legislação, podendo não ter acompanhado as mudanças culturais e populacionais ao longo dos anos. Observou-se que a falta de investimentos em novas tecnologias e em mão de obra especializada, capaz de auxiliar na análise e fiscalização destas resoluções, contribuiu para um contínuo avanço em relação à adoção de novos parâmetros. É necessário um equilíbrio entre a legislação e aplicação desta, além dos parâmetros e técnicas previamente estabelecidos, em direção a um desenvolvimento socioeconômico sustentável. As tendências do cenário mundial com relação aos recursos hídricos mostram as vantagens trazidas pelo diferenciado da captação quanto do lançamento do recurso de massa hídrica em seu meio natural evitando generalizações que podem causar danos ao meio ambiente e para a saúde da população. Sugere-sea modernização de técnicas e parâmetros para captação e tratamento da água e uma revisão da legislação ambiental nacional e internacional que pauta os parâmetros e indicadores da qualidade antes e após os seus usos. Torna-se necessário o desenvolvimento de projetos socioambientaispara a comunidade de modo que eles possam entender o processo de tratamento, importância da preservação dos corpos hídricos e tornando-os potenciais agentes fiscalizadores e participantes nesses processos. 214 Resíduos plásticos nas margens do rio Cotia: diagnóstico e monitoramento GeniFerreira da Silva1, Alessandra P.Majer1,2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Os plásticos contribuem para uns dos principais problemas ambientais, o acúmulo de resíduos sólidos, tendo particular importância devido a sua durabilidade e variedade de uso. Nem sempre estes resíduos encontram como destino final os aterros sanitários, muitas vezes acabando em áreas urbanas diversas e mesmo em áreas de preservação. Considerando isso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar os resíduos sólidos plásticos encontrados nas margens do rio, quantificando sua abundância e massa, avaliando sua provável fonte de origem, e testando se as características da comunidade vizinha influenciam no tipo e quantidade de resíduo acumulado. Para tanto, três áreas da margem com diferentes perfis de ocupação (próximo à área de conservação X área doméstica X área doméstica/industrial) foram avaliadas. Nestas foram encontrados 459 itens, com massa de 9,761kg. Comparando os pontos de amostragem, foi observado que a menor quantidade de resíduos se deu no primeiro ponto (n = 31, 0,641 kg), próximo à reserva do Morro Grande. Neste ponto itens como garrafas do tipo pet, sacos de lixo, sacolas de supermercado e fragmentos plásticos foram os mais frequentes. Porém, neste caso, a fonte principal de resíduos parece associada às oferendas religiosas frequentemente deixadas na área.Já a maior quantidade de resíduos foi encontrada no Jardim Sandra (n = 383, 6,475 kg - GL = 2, F = 6,6 e p = 0,014), com os itens mais comuns sendo garrafas do tipo pet, sacos de areia e pedra, sacolas de supermercados e fragmentos de diferentes utilidades. Este descarte parece associado aos moradores locais, apesar de itens associados aos resíduos de construção (sacos plásticos de areia, pedra, etc) serem relacionados ao descarte ilegal de resíduos de matéria-prima variada realizado por caçambeiros no ponto. No ponto próximo a Raposo Tavares quantidade intermediária de resíduos foi observada (n = 45, 2,645 kg), com os tipos de itens assemelhando aos dos demais pontos, sendo mais frequente garrafa do tipo pet, sacos de lixo e fragmentos plásticos. Neste caso, a fonte mais provável parece associada aos transeuntes. Estes resultados demonstram a importância de uma campanha de conscientização local visando um maior cuidado por parte dos moradores em relação ao rio, reconhecendo este recurso natural como fonte de inúmeros serviços ecossistêmicos. ----------------------------------------------1 Geni Ferreira da Silva – aluna de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 2 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 215 Água de reuso no processo de utilização, em uso doméstico, de máquina de lavar Ana Paula Tonello1, Lucélia Moura de Barros2, Richard Felix Lisboa3, Wallace Sampaio Rodrigues4, Daniela Farias Cabral5 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, campus Jabaquara1 A escassez da água, problema enfrentado em vários locais, é resultado do consumo descontrolado dos recursos hídricos, do mau uso que é praticado pelos consumidores, da poluição, do desperdício e, também, falta de políticas públicas que estimulem o uso de forma sustentável da água. A importância desse recurso natural é indiscutível, uma vez que se faz totalmente necessário para a manutenção da vida no planeta. Tendo isto em vista, encontra-se a necessidade de encontrar alternativas e avanços tecnológicos para uma utilização racional da população. O objetivo comum atual é a busca contínua por práticas que aprimorem o uso consciente da água, seja por programas de conservação ou até mesmo, medidas técnicas e mudanças comportamentais motivadas por incentivos que variam entre educação ambiental e até mesmo regulamentação de leis e estruturas para cobrança de tarifas. Convivemos com um sistema arcaico e que paralelamente, sofre com sérios problemas para garantir o abastecimento de forma adequada e com qualidade. As concessionárias buscam atender padrões de potabilidade e esta água tem como destino diversas finalidades: beber, cozinhar, higiene pessoal, lavar roupas, descargas, lavar quintais, lavar carros, etc. A água destinada ao consumo humano tem dois fins distintos, ou seja, parte da água que abastece um lar é utilizada para: Higiene pessoal e uso não potável. Estudos indicam que o uso não potávelem uma residência varia de 30 a 40% do total de água consumida.Observa-se que este volume de água poderia ser atendida por fontes alternativas, visando à conservação da água e gerando uma economia tanto para as concessionárias quanto para o consumidor. Uma das açõespossíveis é o reuso da água no processamento de lavar roupas na máquina de lavar. O aproveitamento da máquina de lavar, por exemplo, tem por característica uma solução simples e barata para evitar o desperdício de água na sua totalidade. Quando do projeto de qualquer residência, pode-se inserir tubulações que abasteceriam um reservatório para abastecimento de vasos sanitários para descarga e para utilização em quintal e outras áreas externas da casa, bem como, limpeza da residência. 1 Ana Paula Tonello –Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, 2 Lucélia Moura de Barros – Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo,[email protected] 3 Richard Felix Lisboa – Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo,[email protected] 4 Wallace Sampaio Rodrigues – Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, 216 5 Daniela Farias Cabral -Mestre e Doutora em Ciências Biológicas, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 217 Descarte adequado de medicamentos líquidos: minimizando riscos Amanda Pereira Santos 1, Alessandra P. Majer1,2,3 Faculdade Estácio Cotia, Enfermagem, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia 3 Os danos causados ao meio ambiente estão relacionados a diversos fatores ligados ao comportamento humano, que inclui descarte inadequado de resíduos de diversos tipos, inclusive o de medicamentos não mais indicados para uso. Este descarte pode ter consequências sérias para a espécie humana, assim como para outras, enfatizando os riscos associados a esta prática. Diante desse fato o presente trabalho teve como objetivo: (1) a revitalização do ecoponto previamente implantado na instituição, adequando a estrutura para o descarte de medicamentos na instituição e permitindo assim a destinação final correta destes resíduos por alunos e funcionários; e (2) a quantificação dos medicamentos líquidos descartados e identificação de suas substâncias com ação biológica, relacionando estas informações com os possíveis impactos à saúde e ambiente no caso de descarte incorreto. Visando a revitalização do Ecoponto previamente implantado na instituição, a estrutura foi readequada, sendo pintada e incluídas quatro lixeiras que proporcionam a seleção prévia dos resíduos de medicamentos (comprimidos, líquido e pó/pastosos), assim como o descarte de perfuro-cortantes em caixa adequada. Também, foi elaborada sinalização específica e cartazes informativos, não só indicando o local de descarte, mas também a importância deste. Os medicamentos líquidos descartados foram avaliados, sendo observado que das 39 unidades com este tipo de apresentação, todos os que permitiram a identificação da validade (74,4%) estavam vencidos. Já considerando a classe terapêutica, 20 diferentes tipos foram observados, com a maior quantidade de itens correspondendo a antibióticos (15%), seguido por anti-helmínticos (12,3%) e descongestionantes, soro e analgésico (7,7% para as três categorias). Apesar de não existirem informações sobre os efeitos de diversas destas classes sobre organismos vivos, a relação entre a presença de antibióticos e a resistência bacteriana já foi registrada para diferentes espécies e substâncias, com consequências preocupantes. Este fato demonstra que é essencial que a destinação final deste tipo de resíduo seja assegurada, sendo essencial para isso a participação da população e a disponibilização de estruturas para recebimento e direcionamento destes resíduos. ----------------------------------------------Amanda Pereira Santos – aluna [email protected] 1 de Enfermagem – Faculdade Estácio Cotia - 218 2 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 219 ESTUDO DAS BENTONITAS VERDE LODO DA REGIÃO DE BOA VISTA, PB E SUAS POSSÍVEIS APLICAÇÕES NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO. Luana Souza Miranda 107, Guillermo Ruperto Martín Cortés108, Francisco Rolando Valenzuela Díaz109. Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia de Petróleo, Campus Santo Amaro1, 2 PMT-EPUSP Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo2 A região de Boa Vista, PB responde por mais de 80% da produção brasileira de bentonitas sódicas. As diferentes camadas e tipos geológicos – tecnológicos destas argilas existentes na região e em outros distritos do Estado da Paraíba implicam diferentes produtos para diferentes usos industriais e comerciais. Nas diferentes minas em atividade extrativa focaram a extração nos tipos naturais tecnológicos com maior capacidade de intercambio catiônico e maior inchamento no ensaio de inchamento de Foster. A intensidade da lavra nesses tipos compromete a vida útil das minas em ativo. Alternativa atraente é caracterizar e desenvolver os processos de beneficiamento nas camadas de argilas mais abundantes e cuja extração, até hoje, foi mínima se não nula. Esse é o caso das argilas esmectíticas verde lodo, camada fisicamente localizada em posição inferior ao resto das camadas mais lavradas, porém presente em quase todas as minas em quantidades muito maiores as de todos os outros tipos natural-tecnológicos de argilas esmectitas. O presente trabalho estudou e avaliou as argilas do tipo verde lodo e suas aplicações na indústria do petróleo, visando otimizar os métodos de amostragem e de preparação de amostras para sua avaliação em laboratório. Para isso se aplicaram os seguintes ensaios e métodos de laboratório: DRX – Difração de raios X, CTC – capacidade de troca catiônica, CT – Troca de cátions, Análises térmicas (ATD/ATG), FRX – Espectroscopia de fluorescência de raios X, IR – Espectroscopia na região do infravermelho, Microscopia estereoscópica e eletrônica de varredura, Ensaios de Inchamento de Foster, Viscosidade Fann e Densidade aparente. Os resultados desses ensaios se interpretaram com base nas experiências do Laboratório de Não Metálicos “Pérsio de Sousa e Santos” do PMT-EPUSP Depto. Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. O trabalho deve contribuir a aumentar a vida útil produtiva das minas de bentonitas em ativo hoje e também a diversificar a produção de bentonitas para outros usos como sua aplicação na pelotização de minério 107 Aluna, Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Campus Santo Amaro, [email protected] 108 Professor Titular, Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 109 Professor Doutor, PMT-EPUSP Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, [email protected] 220 de ferro, e outros usos. O atual sistema de mineração de bentonitas brasileiras se concentra na produção lucrativa de uns poucos tipos naturais tecnológicos, o presente projeto deve colaborar a diversificar essa importante fonte de materiais primas e empregos. 221 Construção de um carneiro hidráulico em resposta à utilização do método de ensino aprendizagem na visão construtivista 1 Ester Rodrigues, 2Carlos A. Arantes Lagrotti. Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia, Campus Santo Amaro. Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE, Engenharia, Campus Vila Matias, Santos-SP No presente trabalho é apresentada a construção de um carneiro hidráulico como resultado da aplicação prática dos conceitos estudados em sala de aula sobre o golpe de aríete, na disciplina de Hidráulica.O objetivo é a utilização do método da aprendizagem na visão construtivista: contextualizar, justificar, conceitualizar, resolver, testare aplicar os conceitos consolidados. Foi apresentado aos alunos o conceito a serestudado:pressão em tubulações; contextualizando-o nos processos hidráulicos utilizados na Engenharia Civil, tais como recalque e canalizações. Por golpe de aríete se denominam as variações de pressão decorrentes de variações da vazão, causadas por alguma perturbação, voluntária ou involuntária, que se imponha ao fluxo de líquidos em condutos; durante o fenômeno, a pressão poderá atingir níveis indesejáveis, que poderão causar sérios danos ao conduto ou avarias nos dispositivos nele instalados.A seguir foi dado enfoque ao problema dos riscos eventuais dos golpes de aríete na concepção de uma rede, os quais devem ser estudados e quantificados para que não prejudique as tubulações.Os alunos foram estimulados a continuar pesquisando sobre o assunto e um grupo ficou interessado no carneiro hidráulico, dispositivo que utiliza o golpe de aríete como fonte alternativa ao bombeamento. O que mais estimulou este grupo foi que o carneiro hidráulico também pode ser utilizado como substituto de uma bomba hidráulica. Este equipamento pode ser encontrado no comércio, porém há a alternativa da construção deste utilizando material alternativo (garrafa pet). O projeto foi montado no Laboratório de Física do Centro Universitário Estácio Radial, os materiais foram comprados em casas de materiais de construção e os métodos utilizados foram adaptados do artigo “Construção e avaliação de equipamento para bombeamento de água tipo carneiro hidráulico alternativo” de autoria de JakelineR. de Oliveiraet al.Foram realizados testes com elevação de água, de um recipiente de 300 l para outro recipiente de 300 l com cotas de 1,0 a 3,5 m. Os alunos se mostraram receptivos ao método construtivista, fazendo sugestões e participando ativamente do desenvolvimento do projeto. 1 Mestre e doutora em Engenharia Agrícola, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo; 2 Mestre e doutor em Engenharia Agrícola, Professor do Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE. 222 Descarte adequado de comprimidos: minimizando possíveis impactos Dorenilde Santos de Souza 1, Alessandra P. Majer1,2,3 Faculdade Estácio Cotia, Enfermagem, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G.Ambiental, Cotia 3 Os medicamentos são itens de inquestionável relevância em nossa sociedade, porém, com o apoio da mídia estes vem sendo cada vez mais comprados e consumidos. Associada a esta prática, existe à farmácia caseira, que corresponde a um acúmulo de medicamentos presente na maior parte das residências de hoje em dia. Inevitavelmente, parte destes itens acaba não sendo utilizada antes de sua data de vencimento, resultando na geração de um resíduo ao qual se associa diversos impactos negativos possíveis. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo a quantificação dos comprimidos descartados no ecoponto existente na instituição, identificando suas substâncias com ação biológica e relacionando estas informações com os possíveis impactos à saúde e ambiente no caso de descarte incorreto. Até o momento foram contabilizados 723 comprimidos, sendo 547 destes descartados de modo avulso (fora da embalagem e da cartela) o que impossibilitou sua identificação quanto aos demais parâmetros avaliados. Do total que pode ser contabilizado, 100% dos comprimidos se apresentaram fora do período de validade. Considerando a classe terapêutica principal, foram observadas substâncias com dez tipos de ações distintos, sendo mais frequentes antihipertensivos (28,9%), anticoncepcionais (11,9%), anti-inflamatórios (11,3%) e antibióticos (10,7%). Apesar da inexistência de informações sobre os possíveis impactos negativos associados a algumas destas substâncias, de modo geral são associados ao descarte inadequado de anticoncepcionais disfunções endócrinas em animais aquáticos e seres humanos, enquanto que para antibióticos a resistência microbiana é fato registrado. A importância deste tipo de iniciativa fica clara quando se analisa as substâncias presentes nestes itens, assim como seus impactos conhecidos. Por outro lado, a falta de informação sobre os possíveis efeitos de inúmeras substâncias, tanto sobre a espécie humana como sobre as inúmeras outras existentes no ambiente, mostra o quão pouco se sabe sobre o assunto atualmente, e quão importante é a destinação correta destes resíduos. ----------------------------------------------Dorenilde Santos de Souza – aluna de Enfermagem – Faculdade Estácio Cotia [email protected] 2 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 1 223 Verificando o Efeito Estufa – Modelo Experimental. Julio Cesar Rosa110 Centro Universitário Estácio Uniradial, Docente, campus Jabaquara1 Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias1 Resumo As primeiras medições de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera foram feitas na Estação de Mauna Loa, montanha vulcânica no meio do oceano pacífico, distante de qualquer fonte de poluição. Encontrou-se cerca de 315 partes por milhão em volume (ppmv) de gás carbônico da atmosfera. Gases estufas são importantes para manter o equilíbrio climático e a vida no planeta. Pesquisas com bolhas de ar encontradas aprisionadas nas geleiras da Antártida, permitiram estudar como era a atmosfera do planeta nos últimos 800 mil anos.Objetivos– Compreender como as ações antrópicas — uso de combustíveis fósseis, desmatamentos e queimadastêm colaborado para a elevação da temperatura global do Planeta.Metodologia - 2 potes de vidro transparentes, vazios e limpos;02 termômetros para medir a temperatura ambiente; 01 tesoura; 01 durex; 01 filme plástico; 01 elástico; 01 lápis;01 papel quadriculado; 01 régua e 02 lamparinas. Procedimentos: Coloque um termômetro em cada vidro, fixe a extremidade oposta ao bulbo à boca do pote com o durex de maneira que o bulbo não encoste no fundo do pote e nem nas paredes de vidro.Cubra a abertura de um pote com filme plástico, prendendo com um elástico. Esse será o “pote estufa”, o outro permanecerá aberto, sendo o pote controle. Coloque os dois potes de vidrosem frente às lamparinas acessas durante uma hora. A cada 10 minutos, observe a temperatura marcada em cada termômetro e construa uma tabela que aponte a variação de temperatura em cada pote ao longo do tempo. Resultados. Cidades produzem cada vez mais gases estufa. Queima de combustíveis fósseis e enormes queimadas colaboram para poluir a atmosfera do planeta. O pote estufa apontou aumento significativo da temperatura comparado ao pote controle, apresentado 12 graus Celsius de diferença.Considerações finais -Os trabalhos experimentais têm mostrado que as ações antrópicas podem contribuir para as mudanças climáticas e intensificar o aumento da temperatura global do Planeta. Palavras-chaves: Efeito Estufa. Experimento. Ambiente. 110 Julio Cesar Rosa – Biólogo, mestre e doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Professor do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, campus Jabaquara/ Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologia, [email protected] 224 Diagnóstico de resíduos sólidos nas margens do rio Cotia Elizangela Guimarães Tizzatto 1, Alessandra P. Majer1,2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Os resíduos sólidos são um dos problemas dos grandes centros urbanos enfrentados na atualidade, sendo alvo constante de avaliações na busca por soluções. Esses resíduos são produzidos diariamente por todos os setores da sociedade, porém, muitas vezes, não recebem a disposição final adequada, se acumulando em áreas urbanas diversas e mesmo em áreas preservadas. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo: (1) quantificar e avaliar os resíduos sólidos (papel/papelão, borracha, vidro/cerâmica, tecido e madeira) encontrados nas margens do rio Cotia (SP) no que diz respeito à sua provável fonte de origem; e (2) avaliar se as características da comunidade vizinha influenciam no tipo e quantidade deste resíduo acumulado. Para tanto, três áreas da margem com diferentes perfis de ocupação (próximo à área de conservação X área doméstica X área doméstica/industrial) foram avaliadas. Considerando o estado inicial da área de estudo, foram encontrados 399 itens, com massa de 77,106 kg (Tab. 1). Neste caso, vidros e fragmentos cerâmicos, principalmente estes últimos, foram o item mais frequente (79%), seguido por papel/papelão (13%). No caso de papel, os itens mais comuns foram embalagens de produtos de diversos tamanhos. Na comparação entre os pontos de amostragem, foi observado que a menor quantidade de resíduos se deu no primeiro ponto, próximo à reserva do Morro Grande, onde foi encontrado somente um item de vestuário. No segundo ponto, Jardim Sandra, onde foi observada a maior quantidade de itens, os resíduos foram principalmente fragmentos de cerâmica/vidros (81,7%) e itens de papel/papelão (12,3%), estando associados ou a construção civil ou ao descarte de lixo por parte de moradores, fato reforçado pela queima de objetos como moveis velhos e lixo residencial observado no ponto. Já no terceiro ponto, próximo a Raposo Tavares, os resíduos como papel e papelão foram os mais observados devido a proximidade da rodovia onde muitas vezes embalagens de alimentos são descartados pelos carros ainda em movimento. Estes resultados demonstram que o descarte inadequado de resíduos sólidos ocorre na área e que a população do entorno é responsável por pelo menos parte deste acúmulo, sugerindo que campanhas de comunicação ambiental voltadas à este público podem contribuir com a minimização deste problema. ----------------------------------------------Elizangela Guimarães Tizzatto – aluna de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 2 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 1 225 Descarte inadequado de resíduos de cigarro: impactos sobre Phalaris canariensis Herbert Pereira da Silva1, Fernanda C. de Brito1, Tiago Cerqueira1, Alessandra Pereira Majer1, 2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G. Ambiental, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 Para reduzir a inalação de fumaça de alcatrão e contaminantes pelo fumante, os cigarros têm um filtro em uma das pontas que é denominado bituca. Essa porção corresponde ao que sobra do cigarro e devido à sua função acumula vários contaminantes. Em 90% das vezes as bitucas são descartadas de maneira incorreta, sendo simplesmente jogadas no chão, em parques e mesmo em áreas ambientalmente protegidas. Os contaminantes do cigarro concentrados na bituca acabam então sendo lixiviados pela umidade e precipitação, sendo transferidos para o solo e para corpos hídricos, e sendo assim disponibilizados para os organismos vivos que ocorrem nestas regiões, como espécies de meiofauna e vegetais diversos. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo testar os possíveis efeitos de um extrato aquoso preparado com bitucas na germinação e desenvolvimento da espécie vegetal Phalaris canariensis (alpiste). Para tanto, as sementes de P. canariensis foram dispostas em recipientes plásticos sobre certo substrato, podendo ser este uma porção de algodão ou terra escura. Foram utilizadas 15 réplicas para cada um dos cinco tratamentos realizados, onde para cada um dos quais foi utilizado uma solução para a rega das sementes. A primeira destas foi composta por água e as demais corresponderam a 0,1%, 1%, 10%, 50% e 100% de uma mistura preparada com 1 litro de água e resíduos de bitucas. Ao final de quatro semanas foram quantificados o comprimento do caule e da raiz, número de folhas e comprimento da maior folha. Considerando a germinação foi observada uma diferença para as sementes dispostas em terra escura, para as quais uma taxa de germinação inferior a do controle foi observada nas duas diluições mais concentradas, particularmente no tratamento D 100% (controle = 73% de sementes germinadas, D 100% = 20% GL =5, G =36,72, p < 0,0001). Quanto ao comprimento do caule, comprimento da raiz, número de folhas e tamanho da maior folha não foi observado um efeito relativo às diluições, entretanto, este resultado pode ter sido comprometido pelo reduzido número de réplicas nos tratamentos com diluição mais concentrada, principalmente nos experimentos em algodão. Estes resultados demonstram que impactos negativos para vegetais podem ser associados ao descarte incorreto deste tipo de resíduo demonstrando a importância de iniciativas que garantam seu descarte e destinação final adequados. ----------------------------------------------Herbert Pereira da Silva – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 2 Fernanda C. de Brito – aluna de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 1 226 3 Tiago Cerqueira – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan - [email protected] 4 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 227 Resíduos de material de construção nas margens do rio Cotia Marcos Roberto Ferreira 1, Alessandra P. Majer1,2 Faculdade Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias, G.Ambiental, Cotia 1 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Ambiental, Vila dos Remédios 2 As matas ciliares são ambientes de grande importância ecológica, contribuindo com a manutenção da qualidade da água e dificultando o despejo de lixo em seu curso. Por este motivo é observado um acúmulo de resíduos nestas áreas, problema que vem se agravando na extensão do Rio Cotia. Neste contexto, este estudo visou qualificar e quantificar os resíduos associados à construção civil observados às margens do rio Cotia, identificando sua provável fonte de origem e testando o efeito das características da comunidade vizinha neste acúmulo. Para tanto, três áreas da margem com diferentes perfis de ocupação (próximo à área de conservação X área doméstica X área doméstica/industrial) foram avaliadas. Foram encontrados 1002 itens, com massa de 229,00kg. Considerando a comparação entre os pontos de amostragem, foi observado que a menor quantidade de resíduos se deu no primeiro ponto (n = 0, 0 kg), próximo à reserva do Morro Grande. Neste ponto não foi encontrado resíduo ou fragmentos de material de construção. Já a maior quantidade de resíduos foi encontrada no Jardim Sandra (n = 573, 91,00kg). Este descarte parece associado à ação ilegal de caçambeiros no ponto. Esta identificação foi possível por meio da análise dos itens observados e também da quantidade acumulada dos resíduos como um todo (incluindo plástico e cerâmica). O tipo de material, assim como as embalagens juntamente descartadas indica um tipo de material normalmente vendido em grandes redes e lojas especializadas, geralmente por valores mais altos relativos à metragem construída. Estes itens, assim como a qualidade dos fragmentos de cerâmica observados no ponto, apontam a provável fonte dos resíduos como outros bairros que não o Jardim Sandra, cujos moradores apresentam menor poder aquisitivo. Já no ponto próximo a Raposo Tavares, quantidade intermediária de resíduos foi observada (n = 113, 159,00 kg), com os tipos de itens assemelhando-se ao observados no Jd. Sandra, sendo mais frequentes fragmentos de concreto, fragmentos telhas e fragmentos de tijolo. Neste caso, a fonte mais provável parece associada ao material utilizado em obras de reforma na ponte. A avaliação da fonte mais provável destes resíduos indica tanto um efeito associado às peculiaridades locais como o descarte ilegal por parte de caçambeiros associados à construção civil em áreas mais nobres. ----------------------------------------------Marcos Roberto Ferreira – aluno de Gestão Ambiental – Faculdade Estácio Europan [email protected] 2 Alessandra Pereira Majer – Mestre em Zoologia, Doutora em Ecologia e Pós-Doutora em Oceanografia Química – Professora da Faculdade Estácio Europan e do Centro Universitário Estácio Uniradial de São Paulo – [email protected] 1 228 Avaliação preliminar dos parâmetros antropométrico, biodinâmico e metabólico, nos alunos do curso de Educação Física do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, campus Interlagos Leandra Campos Lirdi111, Andrea Francklin Lomardo 2; Priscilla Primi Hardt 3 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Educação Física, Campus Interlagos O quadro epidemiológico das doenças no Brasil modificou-se nos últimos anos e atrelado a isso nota-se também uma mudança no perfil da população brasileira com relação aos hábitos alimentares e de vida, indicando uma exposição cada vez mais intensa a riscos de doenças crônico não-transmissíveis (DCNT). A promoção da saúde, modificação nos fatores relacionados ao estilo de vida, principalmente a prática de atividades físicas regulares e redução dos fatores de risco podem contribuir para a prevenção ou o aparecimento tardio de tais enfermidades. Este estudo propõe-se a realizar a análise prévia dos alunos do curso de Educação Física sobre os seguintes aspectos: Antropometria, IMC, Índices Metabólicos e Percepção da Qualidade de Vida. A amostra da pesquisa será constituída por 90 alunos, entre homens e mulheres, pertencentes aos 1º, 5º e 7º semestres do curso de Educação Física. Previamente, os participantes serão informados sobre os objetivos, procedimentos e importância da pesquisa. Em seguida, os participantes responderão, individualmente, ao questionário, proposto por NAHAS (1996), o qual foi composto por 15 perguntas com notas de 0 a 3, onde 0 representa nunca e 3 sempre. Cada grupo de questão contemplará as seguintes variáveis: nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamento social e controle do estresse. Após a aplicação do questionário sobre a percepção da qualidade de vida, os indivíduos serão submetidos às seguintes análises: antropométrica, pressão arterial, composição corporal (IMC), relação cintura quadril e índices metabólicos. Posteriormente, os dados serão submetidos à análise estatística paramétrica e não-paramétrica. Este projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil sob o número 18529214.2.0000.5284 e aguarda parecer do CEP/CONEP Comissão Nacional de Ética e Pesquisa. Leandra Campos Lirdi – Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP e Mestre em morfologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 111 2 Andrea Francklin Lomardo - Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 3 Priscilla Primi Hardt – Mestre em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de São Paulo – USP, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected]. 229 UTILIZAÇÃO DO CORTISOL SÉRICO COMO MEDIDA DA LESÃO MUSCULAR EM RESPOSTA A DIFERENTES POTOCOLOS DE TREINAMENTO DE FORÇA. Eduardo HL Cherem1, Rodrigo S de Assunção2, Leonardo Chrysostomo3, Fernando Petrocelli3, Cristiano CNF de Sá3 Universidade Estácio de Sá, campus Nova Iguaçu - RJ Introdução O treinamento de força (TF) é uma metodologia muito utilizada para saúde, estética e preparação física. Muitas variáveis estão envolvidas em sua prescrição, volume, intensidade, tipo de exercício, descanso entre séries, outras. Uma das formas de acompanhar os efeitos do treinamento é a medida do cortisol, tido como padrão ouro para medida de estresse físico.Objetivos: Observar possíveis alterações no cortisol para diferentes metodologias de treinamento de força e suas respectivas correlações com medidas diretas de lesão celular, as enzimas creatina quinase(CK) e lactato desidrogenase(LDH). Métodos: Utilizou-se 30 homens, idade média de 23 anos, e histórico de treinamento de 6 meses. O treinamento de força foi composto por 10 exercícios (puxadas alta e baixa; supinos retos e 45°; puxada em pé e desenvolvimento; pressão de pernas e extensão de joelho; flexão plantar sentado e em pé), divididos em 3 grupos: Convencional: os exercícios foram executados em esquema de 3 séries de 10repetições máximas, com 90s de intervalo; Circuito: exercícios executados em circuito na ordem: costa-peito-ombro-membro inferior. Isoton: executados com contrações rápidas (2s) em pequena amplitude de movimento até a fadiga. Dosou-se cortisol, LDH e CK em jejum, nas semanas 0, 10ª e 20ª, 2h após o treino. Dados expressos como média e erro padrão. Calculou-se a correlação de Pearson e o teste “t” de Student, aceitando como significativo um p<0,05.Resultados: Na semana 0 os grupos apresentaram as seguintes médias (+ erro padrão) para cortisol-CK e LDH: CON: 13,26(3,17), 141,3(60) e 425,7(21); CIR: 11,71(1,75), 143,7(48,1) e 341,7(28,5); ISO: 12,46(3,27), 138(36,7) e 356,3(23,3); na décima semana: CON: 15,13(3,9), 501,7(39,5) e 400,3(27,5); CIR: 15,45(2,32), 524,7(15) e 343(26,2); ISO: 17,5(2,29), 415(25,9) e 348(34,2); e na vigésima semana: CON: 18(3,46), 498,7(22,4) e 413(30,8); CIR: 13,9(2,93), 319,3(16,5) e 368,7(33,9); ISO: 16,7(4,08), 539(54,9) e 407,7(69,1). As correlações (r) e suas significâncias, respectivamente, do cortisol com a CK e com LDH: CON: r=0,795, p=0,091 e r=0,392, p<0,001; CIR: r=-0,990, p=0,102 e r=0,244, p=0,001; ISO: r=0,898, p=0,097 e r=0,244, p=0,003.Conclusão: O cortisol apresentou boa correlação para creatina quinase, embora não muito significativa, mas os dados em conjunto apontam o cortisol como uma medida eficaz de estresse físico e também demonstrou que após o final do treinamento a metodologia convencional foi a que impôs maior estresse físico e dano tissular. __________________________________________________ Eduardo HL Cherem – Mestre em Biologia – Professor da Universidade Estácio de Sá, campus Nova Iguaçu – RJ, [email protected]; 1 230 2 Rodrigo S de Assunção – Discente de Licenciatura em Educação Física, Universidade Estácio de Sá, campus Nova Iguaçu – RJ, [email protected]; 3 Leonardo Chrysostomo – Mestre em Motricidade Humana e Doutor em Educação Física – Professor da Universidade Estácio de Sá, campus Nova Iguaçu – RJ, [email protected]; 3 Fernando Petrocelli– Mestre em Educação Física – Professor da Universidade Estácio de Sá, campus Nova Iguaçu – RJ, [email protected]; 3 Cristiano Cosme Nascimento Franco de Sá – Mestre e Doutor em Biologia – Professor da Universidade Estácio de Sá. 231 Towards high sensitivity rotation sensing using an atom chip Carlos L. Garrido Alzar, Wenhua Yan, and Arnaud Landragin LNE-SYRTE, CNRS, Observatoire de Paris, UPMC 61, avenue de l’Observatoire, 75014 Paris, France [email protected] A novel generation of compact high sensitivity gyroscopes using guided matter-waves on atom chips is proposed in this work. These devices are designed in order to fulfill the stringent requirements of metrological and inertial navigation applications. In particular, their design will allow the implementation of solutions to overcome the main limitations of free falling atoms interferometers [1]: interrogation time and quantum projection noise. The working principle of this inertial sensor is based on a cloud of cold 87Rb atoms coherently split [2] and constrained to propagate along a circular guide of a few millimeters diameter. At the output of the guide an interference signal sensitive to rotation via the Sagnac effect will be measured. In Fig.1 we show the expected sensitivity of the designed device with a guide radius of 600µm and an interrogation time of 1s. Fig.1 Expected sensitivity at the projection noise limit for 104 (blue) and 106 (red) atoms. In this experiment we will explore the implementation of quantum state engineering protocols for the generation of entangled and squeezed atomic states. We expect this strategy will lead to the realization of sub-projection noise limited cold guided atom gyroscopes and to novel applications in Quantum Metrology. This work reports the recent experimental progress towards the realization of this atom chip matter-wave inertial sensor. References [1] B. Canuel, F. Leduc, D. Holleville, A. Gauguet, J. Fils, A. Virdis, A. Clairon, N. Dimarcq, Ch. J. Borde, and A. Landragin, Phys. Rev. Lett. 97, 010402 (2006). [2] D. Cassettari, B. Hessmo, R. Folman, T. Maier, and J. Schmiedmayer, Phys. Rev. Lett. 85, 5483 (2000). 232 ARTIGOS Desenvolvimento de um nariz eletrônico a base de polímeros condutores para a detecção precoce da deterioração de laranjas póscolheita pelo fungoPenicillium digitatum Rosamaria W.C. Li1, Henry M. Nascimento2, Márcia A. Shirakawa3, Elaine Y. Yamauchi4, Jonas Gruber4 Centro Universitário Estácio Radial São Paulo, São Paulo, SP, Brazil1 Sociedade Brasileira de Microbiologia, São Paulo, SP, Brazil2 Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil3 Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil4 Resumo O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de laranjas. É estimado que o destino da produção comercial se distribua em 85% para as indústrias processadoras de suco e 15% para o mercado in natura. Há uma grande preocupação com a qualidade das laranjas, as quais podem sofrer biodeterioração devido ao crescimento de fungos no período pós-colheita. Penicillium digitatum é um dos principais fungos que crescem e apodrecem laranjas. Neste estudo foram realizados testes para avaliar a viabilidade de separar laranjas inoculadas com Penicillium digitatum em relação a um grupo controle por meio de um nariz eletrônico confeccionado com polímeros condutores. Os resultados obtidos apresentaram diferenças estatísticas significativas entre o grupo inoculado e o grupo controle, indicando que o nariz eletrônico desenvolvido apresenta potencial para detectar precocemente a biodeterioração de laranjas por fungos. Palavras-chave: Laranjas, Biodeterioração; Fungos; Nariz eletrônico; Penicillium digitatum ____________________________ 1 Rosamaria W. C. Li, Mestre e Doutora em Química, Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 2 Henry M. Nascimento, Bacharel em Biologia, [email protected] 3 Márcia A. Shirakawa, Pós-doutoranda da Engenharia Civil, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, [email protected] 4 Elaine Y. Yamauchi, Pós–doutoranda do Instituto de Química, Universidade de São Paulo, [email protected] 4 Jonas Gruber, Mestre e Doutor em Química, Professor do Instituto de Química, Universidade de São Paulo, [email protected] Introdução 233 A contaminação microbiológica de alimentos apresenta riscos para a saúde humana e acarreta grandes perdas econômicas devido à biodeterioração de alimentos por micro-organimos. O controle de qualidade microbiológico é de fundamental importância para evitar intoxicações e infecções nos consumidores, assim como prejuízos nas cadeias produtoras de alimentos (EVANGELISTA, 2000; GERMANO,2003). Este trabalho enfoca a utilização de nariz eletrônico como uma alternativa da detecção precoce de biodeterioração de laranjas. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de laranjas. De acordo com o levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do Ministério da Agricultura e Abastecimento, a produção de laranjas no Estado de São Paulo no ano safra 2011/12, deve ultrapassar 15 bilhões de toneladas da fruta. É estimado que o destino da produção comercial se distribua em 85% para as indústrias processadoras de suco e 15% para o mercado in natura (www.cati.sp.gov.br). Neste contexto há uma grande preocupação com a qualidade das laranjas, que pode ser comprometida pelo ataque de fungos no período pós-colheita. Entre os fungos que crescem e deterioram laranjas estão: Penicillium digitatum, Elsinoe australis e Guignardiacitricarpa (FISCHER et al, 2008). Esses fungos são importantes em todos os países produtores de citros. (LARANJEIRA et al, 2002). De acordo com Eckert (1993) a podridão de frutos cítricos causados por fungos pode chegar a 50% na etapa de comercialização. Para controlar a podridão de laranjas no campo e pós-colheita, são utilizados fungicidas, para a redução de patógenos na superfície dos frutos (POZZAN, 1997). Os benzimidazóis são o grupo de fungicidas mais utilizados no Brasil, porém algumas espécies são resistentes dificultando, assim, o controle da proliferação dos fungos (FRANCO; BETTIOL, 2000). Devido ao fato da aplicação de narizes eletrônicos não ser tema frequentemente encontrado na Microbiologia, alguns conceitos e revisão geral da interface microbiologia -nariz eletrônico será abordada na revisão da literatura. Revisão da Literatura Conceitos básicos O nariz eletrônico é um instrumento analítico que imita o nariz humano. (GARDNER; BARTLETT, 1994; MIELLE, 1996; BARTLETT et al, 1997; GARDNER et al, DICKINSON et al, 1998). Existem vários tipos de narizes disponíveis comercialmente, mas todos eles compartilham o mesmo princípio básico. Trata-se de um sistema integrado, com uma matriz de sensores pela qual os compostos voláteis passam e alteram a condutância elétrica. A resposta dos sensores é digitalizada e tratada por um software de reconhecimento de padrões, que produz uma saída de resultados (HUMPHREYS, 2011). A presença de certos compostos orgânicos voláteis, frutos do metabolismo dos fungos, pode ser usada como um indicador da presença e identidade de micro-organismos (HOLMBERG, 1997). Aplicações de narizes eletrônicos para a análise de bactérias 234 Vários estudos foram realizados na identificação de micro-organismos, em diferentes atividades. Bactérias de amostras clínicas podem ser discriminadas usando nariz eletrônico. Em uma avaliação de sete espécies de bacterianas, Vernat-Rossi et al.(1996) foram capazes de discriminar corretamente 98% das amostras, usando seis sensores. Em uma dissertação de mestrado da Universidade de Linköping, na Suécia, foi usado um nariz eletrônico com 15 sensores para classificar cinco tipos de bactérias de amostras clinicas: Escherichia coli, Enterococos sp., Proteus mirabilis, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus saprophyticus (HOLMBERG, 1997). Gardner et al.(1998) usaram um nariz eletrônico que continha seis sensores, para prever o crescimento de dois tipos de bactérias, Escherichia coli e Staphylococcus aureus, identificaram 100% das amostras de Staphylococcus aureus e 92% do amostras de Escherichia coli. Aplicações de narizes eletrônicos para análise de fungos Nariz eletrônico e o ambiente construído Os fungos são um dos problemas mais frequentes em edifícios, sendo seu desenvolvimento facilitado quando ocorre umidade adequada. A contaminação do ambiente por fungos pode produzir infecções em indivíduos imunocomprometidos, alergias em indivíduos atópicos e outros sintomas documentados em muitos estudos como agentes etiológicos da "síndrome do edifício doente" (BRUNEKREFF et al, 1994; JOHANNING et al, 1996; KOSKINEN et al, 1997; NORBACK, WALINDER, 1998; WANG, WILSON, 1999; KLANOVA, TUOMI 2000; FLANNINGAN, 2001). Keshri et al. (1998) utilizaram um nariz eletrônico constituído por 14 sensores de polímeros para classificar seis fungos diferentes (quatro isolados de Eurotium sp., um Penicillium sp. e um de Wallemia sp). Foram feitas análises com 24, 48 e 72 horas de crescimento. O nariz eletrônico identificou os fungos em 24 horas (antes de sinais visíveis do crescimento em meio de cultura) com uma precisão de 93%. Os melhores resultados ocorreram após 72 horas. Resultados de ensaios de campo indicam que o nariz eletrônico é capaz de detectar especificamente a presença de compostos voláteis produzidos pelo fungo Serpula lacrymans, responsável pela "podridão seca", que causa grandes danos para as construções em madeira (PERSAUD, 2005). Schiffman et al. (2000) investigaram a possibilidade de detectar e classificar cinco espécies de fungos comumente encontradas em ambientes interiores, usando um nariz eletrônico. Um conjunto de 15 sensores de óxidos metálicos foi usado para medir odor em amostras de ar. O nariz eletrônico foi capaz de identificar diferenças entre os fungos com até 96% precisão. Também foi capaz de reconhecer cinco compostos orgânicos voláteis (VOCs) emitidos pelos fungos (etanol, 2metil-1-propanol, 3-pentanona, 3-octanol e 3-octanona). Um nariz eletrônico de baixo custo desenvolvido no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (SHIRAKAWA et al, 2010) foi capaz de diferenciar perfeitamente três isolados de fungos de diferentes gêneros encontrados em ambiente interior quando cultivados em Agar Sabouraud Dextrose (Figura 1). 235 Figura 1. Gráfico de análise das componentes principais (PCA), mostrando a diferenciação entre Aspergillus sp ( ),Cladosporium sp (O) e Penicillium sp (× ×) (Shirakawa et al, 2010). Nariz eletrônico e micologia clínica Estudo realizado por Sahgal et al. (2008) demonstrou que é possível, com eficiência de 88%, identificar dermatófitos causadores de micoses cutâneas. O uso de um nariz eletrônico na identificação de Trichophyton foi relatado anteriormente por Sahgal et al.(2011), segundo os pesquisadores a discriminação das espécies foi bem sucedida, obtida dentro de 96–120 h. Nariz eletrônico, e fungos em alimentos Karlshøj et al. (2007) mostraram que um nariz eletrônico foi utilizado para diferenciar fungos intimamente relacionados. Foram isolados a partir de amostras de queijo um total de 20 espécies de fungos, sendo detectadas micotoxinas nas amostras contaminadas com P. nordicum, P. roqueforti, P. paneum, P. carneum, e P. expansum. Foi demonstrado nesse estudo que há potencial para a previsão de produção de micotoxinas em alimentos e rações por análise com nariz eletrônico. Em estudo de Cheli et al. (2007), um nariz eletrônico comercial (PEN3 da Airsense Analytics GmbH, Schwerin, Alemanha) contendo sensores com diversos óxidos de metais, foi capaz de distinguir diferentes concentrações de aflatoxinas sintéticas induzidas em milhos. Justificativa e objetivo De modo geral os fungos causam significativas alterações nos alimentos. Podem, ainda, alterar as condições físicas dos produtos, reduzir o valor nutritivo, alterar o aspecto externo, produzir toxinas e favorecer a ação de outros agentes biodeteriogênicos como leveduras, bactérias e insetos (www.micotoxinas.com.br/boletim4.htm). No início do processo industrial para a produção de sucos, as características físicas percebidas pelo toque e visão são importantes na diferenciação de laranjas sadias e deterioradas. No entanto, muitas laranjas no início de deterioração podem passar despercebidas (POZZAN, 1997). Por este motivo, métodos mais eficientes e precisos para o controle de qualidade de laranjas são necessários. 236 Uma das alternativas ainda não exploradas para avaliar a deterioração precoce pode ser a utilização de narizes eletrônicos. Compostos por sensores de polímeros condutores para detecção de gases cuja resposta baseia-se, por exemplo, na mudança da resistência (ou condutância) elétrica desses polímeros condutores ao serem expostos a determinados compostos químicos voláteis (LI, 2005). Mudanças sutis de aroma não podem ser detectadas pelo nariz humano. No entanto, o nariz eletrônico, muitas vezes, tem a vantagem de detectar certos compostos voláteis em concentração inferior ao limite de detecção do nariz humano (WILSON, 1999). A detecção da produção de voláteis e odores por micro-organismos pode ser uma ferramenta para o controle de qualidade de alimentos, pois os microrganismos produzem uma grande variedade de compostos químicos voláteis. (JELEN, WASOWICZ, 1998; PASANEN et al, 1996; CHELI et al 2007). Muitos estudos relacionam nariz eletrônico com alimentos. No entanto, não foram encontrados estudos para avaliar a utilização do nariz eletrônico na detecção precoce de biodeterioração de laranja pós-colheita por fungos. Este trabalho tem por objetivo avaliar o emprego de um nariz eletrônico, composto por quatro sensores com diferentes polímeros orgânicos condutores, na detecção precoce da biodeterioração de laranjas contaminadas com um isolado de Penicillium digitatum. Material e Métodos Fungo Um isolado do fungo Penicillium digitatum, frequentemente encontrado em laranjas, foi adquirido do Centro de Citricultura Sylvio Moreira. O isolado foi plaqueado em Agar Batata Dextrose Acidificado e incubado durante cinco dias a 21°C para obtenção de conídios que foram utilizados como inóculo. O inóculo foi preparado com os conídios do fungo previamente isolado, dispersos com uma alça de platina em solução tampão fosfato estéril de pH 7,2. A quantificação do inóculo foi feita por plaqueamento em Agar Batata Dextrose Acidificado, utilizando-se da técnica Spread plate com diluições decimais seriadas. Laranjas Foram escolhidas seis laranjas (Citrus sinensis L. Osbeck, variedade Pera-rio) que estavam visualmente no estádio fisiológico maduro. Para manter um padrão de volume e massa foi utilizado um paquímetro para medir a maior distância longitudinal e diametral e a massa foi determinada com uma balança semi-analítica, com três casas decimais. Os frutos foram imersos por 20 minutos em solução de hipoclorito de sódio recém-preparada a partir de água sanitária comercial diluída 1.000 vezes (4 mg/L de cloro ativo). Depois de sanitizadas, as laranjas foram submersas em água destilada estéril por 20 minutos, retirando-se o excesso de cloro. Três laranjas foram selecionadas para ser inoculadas, o mesmo número de amostras foi mantido como controle sem inoculação. Em duas extremidades opostas da laranja foi inoculado 0,5 mL da suspensão de conídios (1,2 x 10 /mL) Após a inoculação, as laranjas ficaram mantidas em sacos de polipropileno esterilizados dentro de frascos de vidro (aproximadamente 1,5 L de capacidade). Os frascos foram previamente sanitizados, por meio de imersão, por 20 minutos, em solução de hipoclorito de sódio recémpreparada a partir de água sanitária comercial diluída 1.000 vezes (4 mg/L de cloro ativo) conforme 7 237 Bruno e Pinto (2004). Depois de sanitizados, os frascos foram submersos em água destilada estéril por 20 minutos, retirando-se o excesso de cloro. Os frutos foram incubados em uma estufa a 25° ± 2 °C durante 96 horas. A cada 24 horas de incubação, os frascos contendo as laranjas foram retirados da estufa para fazer uma leitura com onariz eletrônico selecionado para o estudo. Avaliação visual Antes de iniciar cada análise com o nariz eletrônico, foram feitas análises visuais sendo atribuídas as seguintes pontuações: 0 = Sem alterações 1=Pequena alteração da coloração da laranja no local inoculado. 2=Aparecimento do fungo na superfície 3= Fungo ocupando até 25% da laranja 4=Fungo ocupando mais que 25% da laranja Nariz eletrônico O nariz eletrônico empregado foi confeccionado pela deposição de filmes finos de quatro polímeros condutores diferentes sobre a superfície de quatro eletrodos interdigitados, compondo os sensores que foram acoplados a uma placa de aquisição de dados, contendo condutivímetros e conversores analógico-digitais, que, por sua vez, estavam conectadas a um microcomputador dotado de softwares para tratamento estatístico. Procedimento para avaliação pelo nariz eletrônico As medidas foram realizadas nos frascos de vidro em banho termostatizado a 35 ± 1 ºC. Um sistema formado por uma bomba de ar e três válvulas solenóides (v1, v2 e v3) permitiu a passagem de um fluxo de ar seco (2 L/min) por cada frasco durante 10 s, conduzindo seu headspace à câmera dos eletrodos (período de exposição), seguido pela passagem de um fluxo de ar seco por 30 s somente pela câmera dos eletrodos (período de recuperação). Foram feitos 15 ciclos de exposição/recuperação para cada laranja estudada. Os eletrodos foram alimentados com uma tensão alternada de 2 V pico-a-pico, 2 kHz, forma de onda triangular. A condutância elétrica de cada sensor foi monitorada a cada 50 ms e enviada ao computador (PC) por meio da placa de aquisição de dados. As Figuras 2 e 3 ilustram um esquema e uma fotografia da aparelhagem empregada, respectivamente. 238 Figura 2. Esquema do equipamento utilizado para as medidas com as laranjas Figura 3. Fotografia do equipamento utilizado para as medidas com as laranjas Gráficos de condutância dos quatro sensores em função do tempo foram plotados para cada laranja. Análise estatística A análise dos resultados obtidos para cada sensor foi efetuada por meio do teste de MannWhitney (α=0,05) no qual foram comparados os grupos inoculados com P. digitatum em relação ao grupo controle sem inoculação para os diferentes períodos de incubação separadamente. Foi utilizado o aplicativo Bioestat 5.0. 239 Resultados e Discussão Grau de colonização das laranjas por P. digitatum Avaliação visual As três laranjas inoculadas com Penicillium digitatum apresentaram uma escala crescente de colonização em escala linear com os escores mínimos e máximos (0 a 4) conforme descrito no item 4.3. Entre as três laranjas controles duas puderam ser avaliadas e uma delas apresentou uma contaminação por fungo não inoculado, sendo, portanto, descartada do grupo controle. A Figura 4 apresenta o grau de colonização aparente em função do tempo de incubação. 4 3 I1 2 I2 1 I3 C2 0 C3 0 20 40 60 80 100 Tempo (hs) Figura 4. Grau de colonização aparente das laranjas por Penicillium digitatum em função do tempo de incubação. (0)=Sem alterações; (1)= Pequena alteração da coloração da laranja no local inoculado; (2)= Aparecimento do fungo na superfície; (3)= Fungo ocupando até 25% da laranja; e (4) = Fungo ocupando mais que 25% da laranja. Como é possível observar no gráfico da avaliação visual (Figura 4) a alteração da coloração das laranjas inoculadas ocorre após 24 horas de incubação. Enquanto que o início do crescimento do fungo só ocorreu após 48 horas de incubação e foi crescente até o fim do experimento. No grupo controle as laranjas sem inoculação e que não foram aleatoriamente contaminadas não apresentaram qualquer mudança na avaliação visual nem crescimento de fungos. A Figura 5 mostra uma laranja antes da inoculação, sem apresentar alterações na superfície. A Figura 6 mostra a mesma laranja 96 horas após a inoculação, na qual a colonização por P. digitatum ocupa mais que 25% da laranja, neste caso especificamente, chega a atingir mais de 50% da superfície. 240 Figura 5. Laranja antes da inoculação Figura 6. Laranja 96 horas após a inoculação com P. digitatum Avaliação por nariz eletrônico Dos 15 ciclos de exposição/recuperação registrados para cada laranja, foram descartados os cinco primeiros (período de estabilização dos ciclos). Os demais foram empregados para os cálculos das respostas relativas (Ra) de acordo com a Equação 1. Ra = (G2-G1)/G1 Em que (G2) é o valor da condutância no final do tempo de exposição e (G1) é o valor da condutância no inicio da exposição. 241 Figura 7. Gráfico da condutância em função do tempo obtido com uma laranja inoculada com P. digitatum após 96h de incubação. Os resultados das condutâncias foram organizados em planilha do Microsoft Office Excel versão 2010. Posteriormente, foram analisados a partir da fórmula descrita para as respostas relativas Ra. Análise estatística Os resultados deste experimento foram analisados por uma ferramenta estatística: análise de componentes principais, em inglês: Principal Component Analysis (PCA). Os valores das respostas relativas (Ra) foram tomados como variáveis de entrada para a análise das componentes principais (PCA). Notou-se que o nariz classificou perfeitamente as laranjas, agrupando-as em diferentes clusters, de acordo com os períodos de incubação como mostrado na Figura 8. 242 Figura 8. Análise de componentes principais (PCA) das respostas relativas (Ra) para as laranjas inoculadas com P.digitatum, sendo dia 01 = 0h, dia 02 = 24h, dia 03 = 48h, dia04 = 72h, dia 5 = 96h (Nascimento et al, 2011) O nariz eletrônico utilizado no estudo, desenvolvido pelo nosso grupo de pesquisa é de baixo custo (aproximadamente R$ 300,00), portátil e apresenta baixo consumo de energia. A vida útil dos eletrodos é superior a um ano, sendo o custo de reposição de apenas R$ 10,00 por eletrodo. O tratamento dos dados poder ser feito em computadores portáteis (palmtop, netbook ou notebook). Finalmente, o tempo de análise é de apenas 5 minutos. Conclusões Todos os sensores do nariz eletrônico apresentaram respostas relativas (Ra) significativamente superiores das laranjas inoculadas com Penicillium digitatum após 24 horas de incubação em relação às laranjas controles, mantendo este padrão durante os períodos subsequentes de avaliação. Os resultados obtidos apontam para a viabilidade da utilização do nariz eletrônico desenvolvido, a base de polímeros condutores, na detecção precoce da biodeterioração de laranjas colonizadas por Penicillium digitatum. Faz-se necessário avaliar também estudos com os outros fungos importantes na biodeterioração das laranjas. Os estudos in situ podem fornecer subsídios para intervenção prévia de lotes armazenados, evitando que o crescimento fúngico se propague prevenindoprejuízos econômicos. Como ferramenta no auxilio dos setores de qualidade das indústrias produtoras de sucos, estudos futuros se fazem necessários para padronização de perfis dos resultados com o nariz eletrônico nos silos de armazenamento das indústrias de suco, assim como nos Packing Houses onde são embaladas “in natura” para exportação. 243 Referências Bibliográficas BARTLETT, P. N.; ELLIOTT, J. M.; GARDNER, J. W. Electronic noses and their application in the food industry. Food Technol, v. 51, n. 12, p. 44–48, 1997. 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Nesse ínterim, é importante conhecer como o pentaclorofenol (PCF), um biocida de destaque, está distribuído nas fases sólida (adsorvido e/ou absorvido grãos de solo), aquosa (dissolvido na água), líquida (fase imiscível sobre ou abaixo da zona satura) e gasosa, determinando para isso o seu fator de retardamento ou de retenção (Rd). Visando a quantificação desse fator, foram obtidos parâmetros característicos do solo local como acidez ativa, teor de matéria orgânica, densidade aparente e granulometria. Palavras-chave: pentaclorofenol, fator de retenção, vila leopoldina. Introdução De acordo com o relatório de áreas contaminadas da CETESB (2012), o bairro da Vila Leopoldina (São Paulo / SP), apresenta algumas dezenas de áreas contaminadas por substâncias diversas, dentre as quais biocidas como o PCF. Nas condições ambientes (25ºC e 1atm), o PCF é um sólido branco conhecido popularmente como pó-da-China, com odor fenólico, pouco solúvel em água na temperatura ambiente (25°C) e de rápida dissolução em óleos e gorduras (MORALES e PAZOS, 1998). Devido ao seu amplo espectro de toxicidade e ao baixo custo, vem sendo utilizado juntamente com o seu sal, o pentaclorofenato de sódio (PCFNa), como preservativo de madeira, desde a década de 1930 (FICHER, 1991; IBAMA, 2006). Foi ainda utilizado por muito tempo como bactericida, herbicida, algicida, inseticida e moluscida (FICHER, 1991; IBAMA, 2006). Uma vez estando no solo, o PCF, assim como qualquer contaminante, pode ser encontrado nas fases de vapor, livre (líquida e não miscível em água), dissolvida (na água) e adsorvida/absorvida nas partículas de solo. A distribuição de um contaminante entre as quatro fases citadas é determinada pelas seguintes propriedades: solubilidade, densidade, viscosidade, pressão de vapor do produto 112 Hélio E. B. Viana- Doutor em Química, Engenheiro Ambiental, Bacharel e Licenciado em Química,Professor da Universidade Federal de São Paulo, hé[email protected]. 247 livre, reatividade química do produto dissolvido e parâmetros de adsorção do solo, degradação e volatilização (BERTOLO, 2012). As concentrações máximas de PCF no solo, água potável, água subterrânea e águas superficiais – admitindo seus diferentes empregos – estão presentes em legislações ambientais específicas (no âmbito federal: CONAMA 420/2009, Portaria 2914/2011, CONAMA 396/2008 e CONAMA 357/2005, respectivamente). No tocante ao solo e às águas subterrâneas, a DD CETESB 195/2005 aponta para valores de referência de qualidade (solo), valores de prevenção (solo) e valores de intervenção (solo e águas subterrâneas). Nesse contexto, este presente artigo pretende determinar o fator de retenção do PCF a partir de amostras de solos coletadas no Parque Villas-Boas, localizado na Vila Leopoldina (São Paulo – SP). Para isso, se faz necessário uma rápida revisão bibliográfica acerca das equações inerentes ao cálculo do fator de retenção (Rd). Revisão Bibliográfica Para compostos orgânicos, o Rd pode ser mensurado pela expressão (BERNARDES JR, 2012): 1 ρb.Kd /ne (1) Onde: ρb: densidade aparente do solo; Kd: coeficiente de partição; ne: porosidade efetiva. Visando a determinação de Kd, devem ser conhecidos o fator de adsorção para o carbonoorgânico no solo (Koc) e a fração de carbônico orgânico no solo (foc) (KEHEW, 2000, p.170): . 2 O valor de Koc é diretamente proporcional ao coeficiente de partição octanol-água da substância (Kow), conforme ilustra a equação a seguir (KEHEW, 2000, p.170): log 1,00. 0,213 É importante salientar que o valor de Kow aponta para a distribuição de um composto orgânico em duas fases de líquidos imiscíveis (octanol, um solvente orgânico, e água), sendo a razão entre a concentração do composto em octanol (Cs) e a concentração do mesmo em água (Cw) comumente reportada como log Kow (KEHEW, 2000, p.170): Kow Cs/Cw4 Portanto, compostos orgânicos polares apresentam um baixo valor de Kow (como é o caso da acetona – Kow= 1,74), enquanto orgânicos apolares possuem um elevado valor de K (exemplo: benzeno – Kow= 134,90). Materiais e Métodos Após o levantamento de áreas contaminadas no relatório de áreas contaminadas da CETESB (ano 2012), foram coletadas amostras de solo para a determinação para os ensaios laboratoriais em quatro pontos (figura 1). A amostragem se deu com o auxílio de uma pá, a uma profundidade de 30 centímetros (recomendada para Parques pela ISO/DIS 10381-1 (2002) – presença esporádica da 248 população), com limpeza prévia dos resíduos superficiais com o uso de um tridente; conforme os preceitos da Diretriz CETESB 6300. O armazenamento das amostras foi feito em sacos plásticos lacráveis novos, recebendo cada qual uma respectiva numeração. Figura 1 - Localização dos pontos de amostragem (PAs) de solo. Fonte: GoogleEarth (acesso em: abril 2014). A partir das amostras coletadas, iniciou-se a etapa de laboratório. Para isto, foram realizadas análises para determinação do pH (empregando solução de 0,01 M de CaCl2) – a chamada acidez ativa –, densidade aparente (método da proveta), o teor de carbono orgânico e análise granulométria, conduzidas nos laboratórios da Escola Técnica Estadual Guaracy Silveira (Pinheiros - São Paulo/ SP), seguindo as duas primeiras o procedimento experimental descrito no Manual de Análises de Solos da EMBRAPA, a terceira o chamado método da mufla, estabelecido por Goldin (1987) para solos não calcáreos, e a última a norma NBR-7181/ABNT. Resultados e Discussão Tomando as quatro amostras coletadas, os valores médios de pH, teor de matéria orgânica e densidade aparente encontram-se dispostos na tabela 1. Cabe-se mencionar aqui que a acidez determinada – acidez ativa – é diferente daquela denominada acidez total (correspondente à soma da concentração de H+ proveniente da hidrólise de Al3+ e a liberada diretamente pelas partículas coloidais do solo) (HYPOLITO, ANDRADE e EZAKI, 2011, p. 312). Tabela 1 –Parâmetros para as condições de um site areia fina. Parâmetro pH Teor de matéria orgânica Densidade aparente Valor médio 7,75 0,40 % 1,70 249 Em razão do solo apresentar areia fina como material inconsolidado predominante, sua porosidade efetiva tem, de acordo com Fetter (1994), um valor médio de 0,22. Com base nesses valores mensurados, visando à determinação do fator de retenção (Rd), deve ser calculado primeiramente o fator de adsorção para o carbono-orgânico no solo (Koc) – equação 4. Para o PCF o valor de Kow é igual a 5,01 (MOORE e RAMANMOORTHY, 1997. p. 147). Dessa maneira, o valor de Koc pode ser calculado pela equação 3: LogKoc= 5.01 Koc= 102329,3 Como foc equivale ao teor de matéria orgânica, o valor de Kd pode ser determinado pela equação 2: Kd= 0,40/100.102329,3 Kd= 409,32 Empregando o valor de Kd, determina-se o fator de retenção conforme a equação 1: Rd= 1+(1,70.409,32)/0,22 Rd= 3163,93 Comparando com outros valores de Rd, fica claro que o PCF é pouco móvel, apresentando a tendência de permanecer na matriz sólida. A presença de matéria orgânica em um percentual significativo favorece a adsorção. Todavia, conforme apresentado anteriormente, o pH médio das amostras de solos coletadas no Parque Villas-Boas foi igual a 7,75 , o que aponta para um meio levemente básico. Nessa condição, o PCF está na forma de pentaclorofenato – o seu respectivo sal –, o que reduz quase que totalmente a quantidade de contaminante adsorvido nas partículas de solo e o seu respectivo Rd, promovendo assim a sua solubilidade em água. Vale ressaltar também que o valor de Rd elevado e a massa molar do PCF (266,33 g/mol) fazem com que uma quantidade ínfima desse composto esteja na fase gasosa. Considerações finais O procedimento realizado pode ser aprimorado com a realização do teste de carbono orgânico proposto pelo Manual de Análises de Solos da EMBRAPA e com o emprego de trados manuais na coleta. É importante enfatizar que o estudo da sorção contempla testes não realizados neste trabalho, como o estudo por isotermas e análises da composição mineral do solo (verificação de quartizitos, argilitos, silititos, entre outros). Deve-se ainda tomar cuidado com a análise estrita do valor de Rd: para o site estudado, a sua alcalinidade favorece a transformação do PCF em pentaclorofenato, fato esse que aumenta a solubilidade em água da espécie química e, por esta razão,acarreta possivelmente na presença de pentaclorofenato no lençol freático. 250 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 718- Análise Granulométrica. Dez. 1994. BERNARDES JR, C. Tecnologia de Remediação de Solos e Aquíferos(apostila do curso de Engenharia Ambiental). São Carlos: UAB/UFSCar, 2012. BERTOLO, R. Introdução à Hidrogeoquímica de Contaminantes Orgânicos. 09 de maio de 2012. Notas de aula. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA No 420, de 28 de dezembro de 2009. Publicado no DOU nº 249, de 30/12/2009, págs. 81-84. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=620>. Acesso em 01 novembro 2012. _______. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). RESOLUÇÃO CNRH no 92, de 5 de novembro de 2008. Publicada no DOU nº 66, de 4 de fevereiro de 2008, Seção 1, páginas 64-68. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562>. Acesso em: 02 nov. 2012. _______. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). RESOLUÇÃO CONAMA no 396, de 3 de abril de 2008. Publicada no DOU nº 66, de 7 de abril de 2008, Seção 1, páginas 64-68. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562>. Acesso em: 02 nov. 2012. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB. Áreas contaminadas críticas. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/areas-contaminadas/rela%E7%F5es-de%E1reas-contaminadas/6-acc>. Acesso em: 13 nov. 2011 (a). ___________. Pentaclorofenol - Ficha de Informação Toxicológica (FIT). Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/laboratorios/fit/pentaclorofenol.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2012 (b). ___________. DECISÃO DE DIRETORIA Nº 195-2005- E, de 23 de novembro de 2005. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/solo/relatorios/tabela_valores_2005.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2012 (c). __________. Amostragem do solo: Procedimento 6300. 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Para o desenvolvimento do método será utilizado o MATLAB 7.4, junto com imagens mamográficas. O resultado da técnica indicou as possíveis microcalcificações mamárias e mostrou que mesmo depois da segmentação os clusters não ficaram aglomerados. Mas, apesar de identificar as microcalcificações mamárias, também trouxe resultados pouco satisfatórios, identificando os ruídos nas imagens mamográficas. Sendo assim, a técnica de segmentação watershed para detectar microcalcificações pode ser melhor desenvolvida para eliminar os ruídos das imagens. Palavras-chave:tecnologia, mamárias. watershed, processamento de imagens, microcalcificações Introdução O câncer de mama requer uma atenção especial, uma vez que ele representao segundo tipo de câncer mais frequente em todo o mundo, sendo o mais comum entre as mulheres. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2009), a cada ano, aproximadamente 22% de novos casos de câncer de mama surgem napopulaçãofeminina. Esses dados mostram que a detecção e prevenção da doença é uma tarefa árdua para a comunidade de cientistas e especialistas no caso.Ainda de acordo com o 113 Estefânia A. PianoskiArata – Pós-graduanda em Gestão e Tecnologia e Segurança da Informação pela Faculdade Impacta de Tecnologia, Tecnóloga em Informática, Professora da ETEC Doutora Maria Augusta Saraiva, [email protected]. 114 Renato Richter - Mestre em Tecnologia, Professor da Universidade Estácio Radial São Paulo, [email protected]. 253 INCA, vinculado ao Ministério da Saúde, estima-se 57.120 novos casos para o ano de 2014. Soma-se a esta estatística as altas taxas de mortalidade, devido ao câncer de mama estar relacionado ao diagnóstico que só ocorre em estádios avançados. “Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes” (INCA, 2014). Entre as brasileiras a mortalidade na faixa etária que compreende dos 30 aos 69 anos passou no ano de 1990 de 17,4 por 100 mil habitantes, para 20,4 em 2010, o que resulta num aumento de 16,7%. (Síntese de Indicadores Sociais, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013). O câncer de mama é definido clinicamente inicial, mas já representa um câncer tardio, a partir de um diâmetro mínimo de 0,5 cm, porém clinicamente só são palpáveis quando apresentam 1 cm ou mais de diâmetro. No autoexame só pode ser constatado quando o tamanho ultrapassa 2 cm. A sobrevida das pacientes é diretamente relacionada com o tamanho do tumor no diagnóstico inicial e com a presença ou ausência de linfonodos axilares positivos. Portanto, o diagnóstico precoce não apenas influencia o prognóstico, mas propicia cirurgia cosmeticamente mais aceitável que pode fornecer índices livres de recidiva e de sobrevida comparáveis a intervenções cirúrgicas mais dramáticas e agressivas(Bauer; Igot; Le, 1980 apud Santos,2002). O diagnóstico por meio de computadores objetiva auxiliar a radiologia ao indicar áreas suspeitas e anormalidades. Este método faz parte de estudos de várias pesquisas para auxiliar na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. De acordo com GIGER (2000) o diagnóstico auxiliado por computador ajuda a radiologia com resultados de imagens computadorizada ao proporcionar mais precisão no diagnóstico e na detecção. Apesar de ser uma doença genética que promove uma alteração nos genes outros fatores podem influenciar o desenvolvimento da doença. Entre eles destacam-se (a) o aumento do peso relacionado principalmente após a menopausa pela diminuição de hormônios produzidos; (b) a alimentação com alto consumo de carne vermelha, gordura e açúcar; (c)a falta de atividade física, que em pesquisas evidenciou diminuir o risco; (d) o consumo de álcool por aumentar o metabolismo do fígado;(e) o tabagismo pela composição química do cigarro e forma de consumo (Sociedade Brasileira de Mastologia, 2014). Os fatores que influemciam no desenvolvimento do câncer de mama são diversos, e além dos citados acima estão: idade avançada, história familiar da doença e história previa do câncer de mama. Mas a presença desses fatores de risco não significa que o câncer é inevitável, esses apenas auxiliam na prevenção do câncer de mama entre as mulheres. 254 O rastreamento precoce do câncer é fundamental para obter-se a cura, sendo assim, é preciso fazer exames para detectar a doença no sua fase inicial. No caso do câncer de mama o mais recomendado é a mamografia, isto é, uma radiografia da mama, exame de baixo custo, com ampla eficiência. A prevenção é uma das formas mais importantes para o combate ao câncer de mama. O exame de mamografia é o diagnóstico principal e sua utilização é cada vez mais frequente no Brasil. Além de prevenir a mamografia aumenta as possibilidades de cura quando detectado em seu estágio inicial. A principal dificuldade no combate está no acesso para realização do exame à totalidade das mulheres. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (2014), no mundo, entre os tipos de câncer mais frequente. “o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. No ano de 2010 ocorreram 49.240 novos casos de câncer de mama no Brasil, sendo superado apenas pelo câncer de pele. No ano de 2008, 11.860 mulheres morreram por causa do câncer de mama e 125 homens também morreram por câncer de mama. O câncer de mama no homem é raro e representa menos de 1% dos casos, e o principal sintoma é um nódulo endurecido atrás do "bico" do peito, principalmente em pacientes acima de 50 anos de idade”. Mesmo a mamografia sendo o exame mais recomendado, no caso do câncer de mama, ele também tem fatores limitantes, que são os ruídos randômicos, geradospelo sistema emissor de raios X. É influenciado não somente pelo efeito Comptom, mas também por poder sofrer acréscimo de fotossensibilidade do filme115, fazendo com que os modelos de processamento reduzam o grau de confiabilidade e passe a utilizar outros métodos que auxiliam na detecção dos clusters de microcalcificações. Sabendo do número significativo de casos de câncer de mama e dos fatores limitantes que atrapalham a visualização e interpretação das mamografias, este artigo tem como prioridade estudar um modelo matemático que incrementa o desempenho de um esquema Computer AidedDiagnosis(CAD)116, na detecção de clusters de microcalcificações mamárias. O objetivo principal do modelo matemático é ajudar a diminuir o número de falso-positivos das imagens mamográficas, não deixar as microcalcificações agromerada, como acontece, em muitos casos de processamento, para auxiliar nos diagnósticos médicos. O estudo proposto consiste na utilização de um método que visa obter uma segmentação mais adequada com a preservação de bordas. Sendo assim o método escolhido foi o watershed. A abordagem do método escolhido consiste em segmentação por gradiente. Está técnica de segmentação foi escolhida devido aos bons resultados quando utilizada para detectar tumores em mamografias. Segundo resultados obtidos (Santos, 2002) a técnica mostrou 115 Sistema écran-filme: Consiste em uma tela de fósforo que ao receber “raio x” emite luz. 116 Computer Aided-Diagnosis (CAD); Diagnóstico auxiliado por computador; é um sistema utilizado para magnificação dos pontos definidos na imagem. 255 eficácia e obteve aproximadamente 93% de acertos na detecção dos nódulos nas imagens processadas. Materiais e Métodos Este estudo consiste em desenvolver uma pesquisa exploratória sobre os métodos ou algoritmos utilizados para soluções de problemas, neste caso melhorar odesempenho das mamografias, onde as imagens mamográficasutilizadas foram obtidas em trabalho anterior (Silva Jr., 2008). As figuras utilizadas também estudam mamografias com clusters de microcalcificações e sua detecção precoce. Cada linguagem de programação apresenta um nível específico de abstração, que permite ao programador modelar o sistema de uma forma que possa utilizar a linguagem mais apropriada para o caso. Devido sua plataforma de desenvolvimento com um conjunto de ferramentas inteligentes e principalmente por ter uma linguagem técnica para cálculos matemáticos, com uma forma simples de resolução de algoritmos o software escolhido foi o MATLAB117 na versão 7.4. Para o desenvolvimento da segmentação foi utilizado um método que melhore a preservação de bordas. A segmentação será realizada em imagens mamográficas, para diminuir os ruídos provocados pelo aparelho de raios X e pela estrutura da mama.Primeiramente necessita-se da imagem digitalizada, mais especifico de uma mamografia, para realizar o processamento. O método escolhido para realizar a segmentação foi o watershed118.Este se baseia no crescimento de regiões conexas pelo agrupamento de pixels vizinhos que tem intensidades semelhantes. Têm por objetivo produzir regiões coerentes, permitindo flexibilidade de variações dentro das regiões, com maior tamanho possível. O método desenvolvido utilizou um detector de bordas, pois caracterizam o contorno dos objetos e são bastante úteis primeiramente para segmentação e identificação dos clusters de microcalcificações. Neste projeto o operador usado foi o Sobel119, o qual se utiliza de duas máscaras como mostrado na Figura 1, resultando em um valor de gradiente na horizontal e outro na vertical para o ponto central da janela 3x3. Matrix Laboratory(MATLAB): é uma linguagem de programação matemática utilizada para processamento de imagens; é um software interativo de alta performance voltado para o cálculo numérico, e integra análise numérica, cálculo com matrizes, processamento de sinais e construção de gráficos em ambiente fácil de usar, onde problemas e soluções são expressos somente como eles são escritos matematicamente, ao contrário da programação tradicional. 117 118 Watershed:traduzido do inglêssignifica bacias d’água, método utilizado para agregar pixels em comum no processamento de imagens, ou seja, é uma técnica de segmentação de imagens, que pertence ao campo da matemática, também conhecido como método das "Linhas Divisoras de Água" (LDA). 119 Sobel: Método baseado em detecção de bordas em uma imagem.O filtro Sobel é utilizado em processamento de imagem, aplicada sobretudo ma detecção de contornos. Tecnicamente calcula diferenças finitas, ao proporcionar uma aproximação do gradiente da intensidade dos pixels da imagem. 256 Figura 1: Máscara do operador de Sobel. Depois de aplicar o operador de Sobel para realçar as bordas da imagem, será aplicado um limiar para binarizar a imagem antes de segmentar com watershed. O parâmetro utilizado foi escolhido empiricamente, o qual melhor se adaptou ao algoritmo de busca. Após a limiarização da imagem foi aplicado o operador de watershed, inicialmente proposto por Digabel e Lantuéjoul em 1978 e posteriormente melhorado por Beucher e Lantuéjoul(Meyer,1994). A segmentação por watershed é um dos principais métodos por crescimento de regiões. Este método baseia-se no princípio de inundação de relevo topográfico. Está abordagem vem do princípio de uma imagem em níveis de cinza que pode ser visto como relevo, formada por vales, que representam as partes mais escuras da imagem e por montanhas que representam as partes mais claras da imagem. A escolha do método a ser utilizado está ligada ao problema que o trabalho se propõe a solucionar e aos recursos computacionais disponíveis para a realização da operação. Portanto a análise prévia do problema é de importância fundamental para os resultados futuros. Resultados e Discussão Para analisar o desempenho e a qualidade do método na detecção da microcalcificações e verificar se fica sobrepostas o método foi aplicado em um número pequeno de imagens, mas que puderam mostrar o desempenho do método em relação à visualização das microcalcificações.Embora a imagem copiada para a folha tenha sofrido perda de qualidade o método mostrou que as microcalcificações foram detectadas, como pode ser visto na Figura 2. Figura 2 - Mamografia segmentada O limiar da Figura 2 tem valor igual a 65, lembrando que ele é escolhido empiricamente. A mama segmentada é considera uma mama densa, com pouco tecido adiposo, a qual dificulta ainda 257 mais a detecção dos clusters de microcalcificações. Os ruídos ficam mais evidentes na imagem e são confundidos com as microcalcificações. Desta forma, como mostrou a imagem, as microcalcificações se sobressaíram de forma que não ficaram sobrepostas, porém o método detectou possíveis ruídos da imagem. Figura 3 – Mamografias. (a) Antes de segmentar, (b) Mamografia segmentada A Figura 3 mostra uma mamografia antes de segmentar (a) e depois de segmentar (b). Quando a imagem (a), que foi submetida à segmentação com valor de limiar igual a 25 e esta mama é menos densa que a da imagem anterior, gera a figura (b) e mostra que os clusters de microcalcificações também foram detectados, os quais estão em destaque. Observa-se que nesta figura diminui o número de ruídos em relação a Figura 2.Cabe lembrar que imagem também sofre com a qualidade visual dificultando a visualização dos clusters de microcalcificações. Utilizando outra imagem de interesse, neste caso um phantom,entendido como uma mama composta de silicone, prensada por uma lamina de acrílico, para simular as microcalcificações, foram utilizadas pequenas partículas de ossos de animais, uma vez que os clusters de microcacificações estão mais destacados em relação à cor de fundo, com os objetos de interesse em destaque, mostrado abaixo: Figura 4- Phantom original 258 Figura 5 - Microcacificação detectada, após a segmentação watershed aplicada na Figura 4. Pode-se verificar na Figura 5, que apesar de perder as informações sobre sua forma, as microcalcificações não estão sobrepostas. Deste modo se o interesse fosse contar o número de objetos na imagem, o procedimento watershed seria de grande valia. Considerações finais Quando o método foi aplicado em mamografias reais pode se avaliar o aspecto visual dos resultados obtidos da segmentação watershedem imagens mamográficas.É importante ressaltar que a visualização das imagens foi prejudicada, quando as mesmas foram transferidas para o projeto, dificultando a visualização das microcalcificações. A segmentação obteve melhores resultados, em relação à visualização, quando foi aplicada nas imagens dos phantoms. Nos testes realizados nas mamografias reais odesempenho do método, em relação ao aspecto visual dos resultados mostrou-se boa. Detectou as possíveis microcalcificações e mais importante, não as deixou conectadas, embora tenham perdido o seu formato, manteve-as separadas, diferente de outros métodos de segmentação baseada em crescimento de regiões. É necessário lembrar que o método foi aplicado em um número pequeno de imagens mamográficas, o que não deixa classificá-lo como totalmente eficiente quanto à performance em detectar as microcalcificações. Para isso mais testes deveriam ser realizados para comprovar a situação real do método. A detecção e analisedas microcalcificações é uma tarefa árdua, afinal sua estrutura e forma não contribui para a segmentação, poispossui uma estrutura muito reduzida, o que dificulta até mesmo a visualização dos resultados finais do processamento. Durante os testes realizados encontrou-se dificuldade até mesmo para definir o limiar que melhor se adequa a cada imagem segmentada. Sendo diferente entre uma imagem e outra o contraste da cor do fundo diferencia as microcalcificação dos ruídos. Ao analisar os resultados partindo, do parâmetro inicial que levou a utilização do método watershed, o qual não permite que dois objetos fiquem sobrepostos, o estudo mostrou que nas imagens utilizadas para realização dos testes a teoria se concretizou como visto nos resultados finais. Pesando em trabalhos futuros, o watershed por ter características de não agregar várias regiões pode trabalhar junto a outros algoritmos utilizados no processo de detecção de tumores. O algoritmo proposto para incluir o método foi proposto por Silva Jr. (2008), para trazer novos resultados dispondo das características de ambos os métodos.Também pode passar por novos testes para 259 verificar sua eficiência em relação a analise quantitativa e assim verificar sua eficiência na detecção de microcalcificações em imagens mamográficas. Referências BAUER, W.; IGOT, J.P.; LE, G.Y.: ChronologicducancermammaireUtilisantun Modele de Croissance de Gompertz. Ann AnatPathol25:39-56, 1980. GIGER, M.L. Computer-aided diagnosis of breast lesions in medical images. Computing in Science & Engineering, v.2, n.5, p. 39-45,2000. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Síntese de Indicadores Sociais, IBGE, 2013. INCA (Instituto Nacional do Câncer).Incidência de câncer no Brasil, Rio de Janeiro: Brasil, 2009. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/.Acessoem: 10 fev. 2014. MEYER, Fernand. Topografic Distance and Watershed Lines.Ed.SignalProcessing, 1994. SANTOS, T.V. (2002), “Segmentação de Imagens Mamográficas para Detecção de Nódulos de Mamas Densas”, In: Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo, p. 112. Brasil. SILVA, JR. “Modelos Matemáticos Aplicados ao Processamento de Imagens de Mamas Densas Para Detecção de Clusters de Microcalcificações”, In. Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo, 2007, p.103. Sociedade Brasileira de Mastologia. Estatísticas sobre câncer de mama no Brasil, 2014.Disponível em: http://www.sbmastologia.com.br/index/index.php/rastreamento-e-diagnostico/60-estatisticassobre-cancer-de-mama-no-brasil. Acesso em: 20 fev 2014. Sociedade Brasileira de Mastologia.Risco de desenvolver câncer de mama e fatores que podem influenciar neste risco, 2014.Disponível em: http://www.sbmastologia.com.br/index/index.php/rastreamento-e-diagnostico/56-risco-dedesenvolver-cancer-de-mama-e-fatores-que-podem-influenciar-neste-risco. Acesso em: 20 fev 2014. 260 A importância do Trabalho de Campo na Formação dos Alunos na Área Ambiental Julio Cesar Rosa120, Helena YumikoUeno121 Centro Universitário Estácio Uniradial, Docente, campus Jabaquara1 Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologias1 Centro Universitário Estácio Uniradial, Discente, MBA em Gestão de Projetos, campus Jabaquara2 Resumo O profissional da área ambiental tem a função de compreender e resolver problemas reais de degradação e remediação diante das ações humanas, mediante aplicações da tecnologia disponível, pontual e localmente apropriada. Os trabalhos de campo têm importância vital contribuem na construção de um olhar interdisciplinar, formando cidadãos capazes de realizar mediações entre culturas, saberes acadêmicos e cotidianos, valores, interesses e imagens do futuro.Por meio de atividades efetivadas em unidade de conservação, este trabalho objetivou propiciar o debate, reflexões e estudos sobre as causas e consequências para o ser humano e para a sociedade sobre problemas socioambientais; fomentar ações para o desenvolvimento de uma ética, atitudes e conceitos individuais e coletivos que contribuam à proteção e ao melhoramento do ambiente e da qualidade de vida; reconhecer a importância dos Parques para a qualidade de vida e refletir sobre o conceito de ecologia dentro do contexto preservação e desenvolvimento. Palavras-chave: meio ambiente, alunos, ambiental. Introdução O profissional da área ambiental tem a função de compreender e resolver problemas reais de degradação e remediação diante das ações humanas, mediante aplicações da tecnologia disponível, pontual e localmente apropriada. Segundo Gondim (2007) a dificuldade de se conseguir profissionais com perfil multifuncional, maturidade pessoal e identidade profissional, necessários para agir em situação de imprevisibilidade, é refletida no recrutamento e ocupação das vagas disponíveis. Esta situação pressiona as instituições relacionadas ao processo de formação e qualificação, em qualquer esfera da 120Julio Cesar Rosa – Biólogo, mestre e doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Professor do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, campus Jabaquara/ Estácio Euro-Panamericana de Humanidades e Tecnologia, [email protected] 121Helena YumikoUeno – Engenheira Ambiental, discente no MBA em Gestão de Projetos, Universidade Estácio Uniradial, campus Jabaquara, [email protected] 261 educação formal, a assumirem um duplo papel, o de educar e o de preparar profissionais que atendam às demandas do mercado de trabalho. A formação profissional com “ênfase numa formação generalista e a ampliação das possibilidades de experiência prática durante o curso superior” são avaliadas como alternativas para atender as necessidades apontadas (GONDIM, 2007, p. 300). Desta forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) apresentam o “estudo do meio” como uma forma de obtenção do conhecimento por fontes variadas, diversificação que, segundo Viveiro & Diniz (2009), “contribui para motivar os estudantes, possibilitando atender a distintas necessidades e interesses”. “Os trabalhos de campo têm importância vital. Neles, há uma série de habilidades/atitudes envolvidas que seguem um padrão quase ‘artístico’ e ‘engenhoso’ e, por isso, complexas de serem ensinadas.” (COMPIANI, 2007, p. 30). Segundo o mesmo autor, essas atividades contribuem na construção de um olhar interdisciplinar, formando cidadãos capazes de realizar “mediações entre culturas, saberes acadêmicos e cotidianos, valores, interesses e imagens do futuro”. Por meio de atividades efetivadas em unidade de conservação, este trabalho objetivou propiciar o debate, reflexões e estudos sobre as causas e consequências para o ser humano e para a sociedade sobre problemas socioambientais; fomentar ações para o desenvolvimento de uma ética, atitudes e conceitos individuais e coletivos que contribuam à proteção e ao melhoramento do ambiente e da qualidade de vida; reconhecer a importância dos Parques para a qualidade de vida e refletir sobre o conceito de ecologia dentro do contexto preservação e desenvolvimento. Materiais e métodos A pesquisa-ação segundo Thiollent (2005) é uma metodologia proveniente da pesquisa social com fundamento empírico, realizada em associação com uma ação ou a resolução de um problema coletivo, no qual os integrantes representativos da questão ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Trabalhos de educação ambiental, segundo De Fiori e Maroti (2002), são efetivados nas unidades de conservação para sensibilizar a população local acerca de seu importante papel na preservação da biodiversidade destes ecossistemas. O Parque Estadual da Cantareira possui um dos maiores remanescentes de mata tropical nativa em área urbana do mundo, com 7.900 hectares de Mata Atlântica, assume importante papel na proteção de mananciais e abriga diversas espécies de animais ameaçadas de extinção. Foi reconhecida pela UNESCO, em 1994, como parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo e, além, da sua relevância ecológica, exerceu função fundamental na história de abastecimento da Cidade. Atualmente, possui quatro núcleos de visitação: Pedra Grande, Engordador, Águas Claras e Cabuçu (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 2003). O Núcleo Engordador foi constituído da compensação ambiental de Furnas Centrais Elétricas em 1987. Há a Casa de Bombas construída em 1894, que fez parte do primeiro sistema de abastecimento de água do município de São Paulo. (REDE DE COOPERAÇÃO DA CANTAREIRA, 2014). 262 O parque protege seus mananciais e abriga inúmeras espécies ameaçadas de extinção, como o gato-do-mato, o macuco, o gavião-pomba, a jaguatirica, o bacurau-tesoura-grande, a imbuia e a canela-sassafrás (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2014). Resultados Para Natal et al. (2014) o desenvolvimento da humanidade baseado em um modelo socioeconômico predatório está consumindo rapidamente os recursos naturais necessários à manutenção da vida no planeta. A miséria se globaliza no mundo, privando as pessoas do acesso à saúde, educação, transporte, habitação, entre outros. A falta de saneamento ambiental, de vacinação e de alimentação provoca inúmeras doenças. A pressão social por habitação na região metropolitana de São Paulo intensifica a ocupação e degradação ambiental no entorno do Parque Estadual da Serra da Cantareira. As trilhas existentes no Parque Estadual da Serra da Cantareira caracterizam-se principalmente por oferecerem aos alunos um importante contado com a biodiversidade da Floresta Atlântica. A trilha da Cachoeira tem cerca de 3,5 km e passa por cachoeiras cruzando várias vezes o Rio Engordador. Durante a caminhada, plantas silvestres, como mulungus, bromélias, guapuruvus etc. se misturavam com plantas exóticas como pinheiros, resquício da presença antrópica na área do parque. Animais como borboletas, bugios, tucanos, entre outros, foram observados durante o percurso. O uso de dinâmicas e jogos lúdicos durante as caminhadas nas trilhas e espaços abertos permitiram à interação dos alunos junto ao meio ambiente do Parque para dialogar sobre os problemas socioambientais, econômicos, culturais, em diferentes escalas. Durante o percurso, plantas nativas, como bromélias e embaúbas se misturam com plantas exóticas (pinheiro e eucalipto), resquício da presença antrópica na área do Parque. Considerações finais A degradação diária de nossos ecossistemas traz um grande prejuízo à fauna, à flora e ao ser humano. As conferencias mundiais de meio ambiente têm demonstrado a importância da preservação ambiental e da formação de cidadãos críticos e sensibilizados para atuarem como educadores, agentes e técnicos ambientais. A população inserida em regiões de Mata Atlântica convive com uma rica biodiversidade. É oportuno dar visibilidade a essa riqueza para a população cuja corresponsabilidade é estratégica para a sua conservação, reprodução e aproveitamento. Uma das formas é contribuindo para a qualificação de cidadãos que venham a ser agentes multiplicadores de ações concretas relacionadas com o meio ambiente na sua comunidade. Salientamos a necessidade de políticas públicas que estimulem instituições educacionais fomentarem metodologias alternativas na educação a fim de promover a construção do conhecimento, capacitação dos alunos e a sensibilização da sociedade sobre a importância da biodiversidade dos ecossistemas brasileiros. O trabalho de campo despertou o interesse dos alunos pelos componentes abióticos e bióticos da Floresta Atlântica, pela biodiversidade, poluição do solo, água, atmosfera e pelos impactos socioambientais observados no ecossistema, propiciando aos discentes ampliar suas fontes de 263 informação teórica dos conteúdos abordados na sala de aula, permitindo uma atitude investigativa para o grupo. Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998. COMPIANI, M. O lugar e as escalas e as suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino de Ciências e Educação Ambiental. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, p. 29-45, 2007. GONDIM, S. M. G. Perfil profissional e mercado de trabalho: relação com a formação acadêmica pela perspectiva de estudantes universitários. Estudos de Psicologia, 7(2), p. 299-309, 2007. DE FIORI, A. Ambiente e educação: abordagens metodológicas da percepção ambiental voltada às unidades de conservação. 2002. 111f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) - Centro de Ciências Biológicas e Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. GOVERNO DO ESTÃO DE SÃO PAULO. Parque Estadual da Serra da Cantareira. Disponívelem:<http://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/turismo_parques_estadual-cantareira>. Acessoem: 02 jul.2014. MAROTI, P. S. Educação e interpretação ambiental junto à comunidade do entorno de uma unidade de conservação. 2002. 145f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) - Centro de Ciências Biológicas e Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. NATAL, D.; TAIPE-LAGOS, C. B.; ROSA, J. C.; URBINATTI, P. Epidemiologia Aplicada à Educação Ambiental. In: PHILIPPI JR, A. e PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2014. p. 85-134. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. 2003. Roteiro de Visitação do Parque Estadual da Cantareira. São Paulo REDE DE COOPERAÇÃO DA CANTAREIRA. Disponívelem: <http://www.recanta.org.br/nucleo_engordador_cantareira.html>. Acessoem: 02 out. 2014. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 14ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. VIVEIRO, A. A; DINIZ, R. E. S. Atividades de campo no ensino das ciências e na educação ambiental: refletindo sobre as potencialidades desta estratégia na prática escolar. Ciência em Tela, v.2, n. 2. 264 Reciclagem do resíduo metálico hidróxido de níquel gerado na indústria galvânica a partir da ativação de solução alcalina Vagner Amorim dos Santos1, Cosmo Vilela Irineu2, Marta da Silva3, Daniela Farias Cabral4 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Eng. Ambiental, campus Jabaquara1,2,3,4 Resumo Os resíduos das indústrias de galvanoplastia é um dos fluxos de resíduos que mais cresce no mundo. O aumento na produção de tratamento de superfície promove o aumento de geração deste tipo de resíduos.O resíduo hidróxido de níquel é gerado após o tratamento das águas de lavagens proveniente do processo de galvanoplastia com eletrodeposição de nível em superfície. Portanto, este trabalho tem como objetivo estudar a transformação do hidróxido de níquel para sulfato de níquel e posteriormente aplicar a metodologia da logística reversa para a reutilização deste resíduo como fonte de matéria prima para a indústria de galvanoplastia. Palavras-chave:transformação, hidróxido de níquel, logística reversa. Introdução Atualmente na indústria da galvanoplastia utiliza–se níquel químico para tratamento de superfície e, desse modo, a mesma é uma fonte geradora de efluentes contendo metais pesados (cromo, cobre, zinco, níquel, cádmio, chumbo), uma vez que emprega em seus processos de eletrodeposição uma variedade de soluções metálicas e um volume considerável de águas de lavagem que, dependendo do porte da indústria, situa-se entre 250 e 2.000 L/h, havendo instalações em que esta quantidade ultrapassa os 10.000 L/h (BRAILE & CAVALCANTI, 1993). Em relação à vazão dos efluentes, estes variam consideravelmente, dependendo do tamanho das seções de galvanização, havendo relatos desde 8 até 1500 m3/dia (VEIT, 2006). Desta forma, as indústrias de galvanoplastia dedicam-se ao tratamento de superfícies metálicas ou plásticas, com materiais diversos, tais como: cádmio, cobre, níquel, estanho, ouro, prata, cromo ou zinco, mediante processos químicos ou eletrolíticos (PASQUALINI, 2004), permitindo, assim, principalmente um aumento na resistência à corrosão da peça. As aplicações dos aços que contêm determinadas quantidades de níquel são bastante difundidas na engenharia em geral, onde as vantagens da alta resistência, da boa ductilidade e tenacidade são exigidas. O recobrimento, utilizando a niquelação conta com mais ou menos 9% do consumo do níquel puro, com a finalidade de melhorar a proteção contra a corrosão e dar um acabamento decorativo (associado com cromo) a substratos, incluindo aços, alumínios e plásticos. Outras aplicações funcionais em relação à camada de níquel às superfícies podem ser identificadas como o aumento da resistência ao desgaste ou também alterar as propriedades magnéticas do substrato. O recobrimento 265 de níquel possui um balanço consumido por fundições e uma infinidade de outras aplicações incluindo químicas, catalíticas, baterias, varetas de soldagem, cunhagem de moedas, pigmentos (esmaltes, vidro e cerâmicos), eletrônicas, e tintas de impressão. Deste modo, o presente trabalho tem por objetivo reciclar o resíduo de níquel gerado pela Estação de Tratamento de Níquel - ETN, realizando a conversão do hidróxido de níquel em sulfato de níquel por ativação alcalina, matéria prima utilizada no preparo dos banhos de níquel das indústrias galvânicas; analisar a conversão de hidróxido de níquel a sulfato de níquel utilizando a técnica quantitativa SPECTRO – PLASMA; e avaliar a minimização da geração da carga poluidora (P + L). Material e Métodos Processo de Utilização do Sulfato de Níquel O processo Hot-Clad é um dos mais complexos de toda a produção metalúrgica. Em primeiro lugar, será explicado o que é feito com a liga antes da mesma entrar nesta linha.A bobina de alumínio que vem para a linha Hot Clad é proveniente da linhaRoll-Caster, fusão/preparação da liga de alumínio. Ao sair do Roll-Caster, segue para a estufa e depois para o laminador na linha de usinagem de tiras, para alcançar a espessura desejada. Em seguida segue novamente para o forno e então poderá ir para a tesoura na linha de usinagem de tiras. Depois de concluído todo esse processo, a liga será transportada para a linha HotClad. A espessura e o comprimento do rolo de aço, é previamente estabelecido e transportado até a linha, onde será desbobinado e sua extremidade final cortada, devido encontrar-se geralmente amassada e em seguida soldada na extremidade final da tira anterior. Passando pela máquina de solda, a tira de aço segue para cima num caminho em forma de ziguezague, dando tempo para a operação de soldagem da tira sem interrupção do processo. A operação seguinte lava a tira de aço, para retirar o óleo protetivo da superfície das bobinas. Em seguida a tira passa por uma máquina de jateamento. Nesta máquina, temos partículas a altas velocidades (granalhas de aço) que são atiradas contra a superfície da tira, criando uma rugosidade adequada, necessária para o processo de caldeamento, já que aumenta a superfície de contato. Após o jateamento, a tira é desengraxada, removendo as impurezas que porventura possam vir do jateamento. Logo em seguida, a tira é enxaguada para receber em uma ativação sulfúrica e então é novamente enxaguada para poder receber a niquelação. Esta é necessária para evitar a oxidação da tira de aço, no processo de caldeamento a quente. São realizados cinco banhos progressivos de níquel eletrolítico em meio ácido. Em seguida, há uma recuperação de níquel e posteriormente uma lavagem em ambiente neutro com água quente. Após a lavagem, a tira de aço passa por um secador a ar quente, então é tracionada para a linha. Após esta operação, a tira entra num forno de pré-aquecimento e aquecimento final, que aquece a tira a uma temperatura de 800ºC. Neste momento, temos a liga sendo desbobinada no nível superior e escovada, para melhorar a aderência com o aço no caldeamento. A seguir as tiras se 266 encontram no laminador, onde ocorre o processo Hot-Clad, que é a união da liga com o aço niquelado. A tira final é resfriada e depois medida sua espessura num painel em frente ao processo, medida também a espessura só da liga. Feitas às medições na tira, ela é cortada no começo e no fim do rolo, para serem realizados ensaios de aderência da liga no aço. Finalmente quando o rolo estiver no fim, é cortada a ponta e bobinada a tira. A seguir podemos visualizar o processo na figura 1. No processo são gerados efluentes com alto teor de níquel, os quaissão transportados até a ETN por uma rede hidráulica de aproximadamente 500 metros de distância.Nesta estação o níquel presente no efluente é precipitado em reação com hidróxido de sódio, formando um lodo, composto basicamente por hidróxido de níquel. O efluente líquido segue para ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) juntamente com demais linhas de águas residuárias da empresa. Figura 1: Processo de Hot Clad Efluente líquido da indústria de tratamento de superfície Segundo VALENSUELA (1999) os líquidos provenientes das linhas de tratamentos superficiais de metais podem ser agrupados em duas categorias principais: despejos concentrados (periodicamente descartados) e despejos diluídos (descartados continuamente constituídos por águas de lavagem de peças em geral). O maior volume de efluente líquido está associado ao descarte de águas de enxague de peças. O descarte periódico de banhos esgotados representa uma sobrecarga de poluentes ao ambiente, já que este efluente contém substâncias químicas em concentrações elevadas. Além destes, as águas utilizadas para limpeza do chão de fábrica e dos tanques de processo, podem conter uma carga poluidora considerável de produtos químicos e devem ser tratados como efluentes industriais (BERNARDES et al.,2000). 267 O lodo galvânico gerado no sistema de tratamento de efluente apresenta em geral 65 a 70% de água, após passar por um filtro-prensa. Em sua composição estão presentes compostos químicos em diferentes formas: hidróxidos, óxidos hidratados e sais dos metais das linhas de galvanoplastia em questão (alumínio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, estanho, ferro, níquel e zinco). Sais insolúveis de ferro com molibdato, vadanato e wolframato podem estar presentes quando a linha possui banhos de decapagem de metais preciosos (SCNEIDER et al., 2001). Processo ETN – Estação de Tratamento de Níquel O processo da separação do resíduo de níquel do efluente é realizado por intermédio da tecnologia de quebra química utilizada na estação de tratamento de níquel, a qual possui três operadores, sendo um em cada turno de trabalho, mantendo o processo em funcionamentos 24 horas por dia. TANQUE DE SODA CÁUSTICA VISTA GERAL DA ETN FILTRO PRENSA+ BAG Figura 2. Vista geral da ETN 268 Na etapa de Floculação, o efluente com níquel já utilizado no banho das peças (Produção I e II) vai para o E.T.N. O controle de vazão deste efluente que entra na Estação é feito por uma bóia de nível, localizada no tanque de armazenamento do efluente com níquel. O objetivo é que as águas dos banhos vão para o 1º estágio de tratamento, onde recebem uma dosagem de soda cáustica para aumento do pH na faixa de aproximadamente 10 a 12, é utilizado um agitador para homogeneização deste estágio. Já na Decantação, a água passa para este tanque, onde um agitador é ligado e as partículas de hidróxido de níquel, mais pesadas decantam, ficando no fundo do tanque. A água já tratada deverá apresentar um pH na faixa de aproximadamente 10 - 12. Esta água passará por uma espécie de decantadores, onde um possível excesso de Níquel que tenha passado é retido. A água já com a aparência mais límpida sairá por furos de escoamento, caindo em outro tanque que será desaguado na Estação de Tratamento de Efluentes, E.T.E. Após esta etapa, o níquel decantado é bombeado para o filtro prensa para separar a água do hidróxido de níquel formado da reação do efluente com sodo cáustica. O hidróxido de níquel é contido em bags de 1 tonelada para posterior destinação. Local de estudo, coleta e analise dos dados. Esta pesquisa tem caráter qualitativo com ajustes quantitativos, na qual o local de estudo foi na empresa Mahle. Nesta pesquisa, osinstrumentos de coleta de dados utilizados foram: Os dados da pesquisa de campo foram coletados em dois momentos, primeiramente na visita técnica realizada que contribuiu na identificação do resíduo gerado através de documentos restritos da empresa. Foram coletados uma porção de 1kg de hidróxido de níquel na ETN – Estação de Tratamento de Níquel, início da preparação das amostra e análises quantitativas em laboratório próprio da empresa Mahle Metal leve S/A. Em sequência para obtenção de informações do processo realizamos uma entrevista junto ao colaborador que opera a ETN – Estação de Tratamento de Níquel, de qual a frequência em que o mesmo realizava tal operação. Para a obtenção do Sulfato de Níquel a partir da borra de hidróxido de níquel, pesou-se 100g do resíduo de hidróxido de níquel em pasta, numa balança analítica, contido num béquer de 250 ml. Para obtenção da solução com pH 4,5, utilizou-se 14ml de solução de ácido sulfúrico (H2SO4). Oresíduo foi dissolvido mudando sua coloração de verde claro para verde escuro, obtendo a reação química Ni(OH)2 + H2SO4 → Ni2SO4 + H20, chegando a temperatura máxima de 55°C. Após a completa diluição do resíduo, preparou-se a amostra para filtragem e consequentemente retirada das impurezas de ferro. Para comparativo, antes da filtragem foi realizada a análise do Fe e Ni contida na solução sulfato de níquel bruto, chegando aos seguintes resultados; Nig/L 120 e Fe mg/L 1100. O resultado mostra, que, após a filtragem o Ni passou a ser de 118g/L e 45 Fe mg/L. O limite de trabalho para o elemento Fe na linha é de 200mg/L. As figuras 3 a 6 ilustram o passo a passo do ensaio realizado em laboratório. 269 Figura 3:Hidróxido de Níquel da ETN. Figura 4:Sulfato de Níquel Contaminado ] Figura 5: Filtração em pH 4,5 Figura 6: Impurezas (Fe) Análise dos Dados A análise quantitativa será demonstrada por meio de gráficos e relatório técnico emitido pelo equipamento SPECTRO - PLASMA, já no modelo qualitativo as observações levantadas na visita técnica serão submetidas à interpretação dos pesquisadores. Resultados e Discussão As amostras já de Sulfato de Níquel foram preparadas e analisadas de forma quantitativa no aparelho Spectro – Plasma, chegando aos seguintes resultados. 270 Tabela1 – Resultados da análise do Sulfato de Níquel Itens de Especificação Resultado controle amostra padrão Lote: 529124 ASPECTO LÍQUIDO LÍQUIDO Amostra preparada a partir do Ni(OH)2 LÍQUIDO COR VERDE VERDE VERDE DENSIDADE (A 20°C) PH 1,320 A 1,350 G/CM3 < 4,0 1,330 G/CM3 1,350 G/CM3 3,8 2,53 Ni NIQUEL G/L 139,7 G/L 130,8G/L Ni2SO4 G/L 668,6 G/L 609,5 G/L Fe SULFATO DE NÍQUEL FERRO PPM 0,6 PPM 17,4PPM Cu COBRE PPM 0,6 PPM 1,2PPM Zn ZINCO PPM 0,6 PPM 32,8 PPM Mg MAGNÉSIO PPM 9,4 PPM 50,5 PPM Ca CÁLCIO 125,0 (MIN) 598,0 (MIN) 30,0 (MÁX) 15,0 (MÁX) 60,0 (MÁX) 100,0 (MÁX) 150,00 (MÁX) PPM 38,0 PPM 122,2 PPM Fórmula Química A tabela 1 mostra que os resultados da amostra teste ficaram dentro dos limites conforme especificações. Apesar de, alguns elementos ficarem com seus resultados bem próximos dos limites especificados, concluímos que é possível aproveitar o resíduo hidróxido de níquel e utiliza-lo como matéria-prima para o preparo de banhos da linha Hot Clad. Considerações Finais Os resultados obtidos com o presente trabalho permitem concluir que: Os metais de níquel possuem alta toxicidade para descarte ao meio ambiente, além de elevado valor comercial, fatores que justificam sua recuperação, sem, com isto, gerar resíduos sólidos contaminados que precisariam ser descartados em aterros industriais adicionando mais custos aos processos. Atualmente para o tratamento dos efluentes industriais, em grande maioria, tem-se utilizado apenas de processos convencionais físico-químico onde não se recuperam os metais nem a água, mas apenas se enquadra os efluentes nos limites padrões para descartes. 271 Considerando-se os custos desses metais, assim como o custo da água de uso industrial, o processo de separação do hidróxido de níquel da água é tecnicamente e economicamente viável e deveria ser levado em consideração em todas as indústrias de segmento de eletrodeposição. Este trabalho mostrou que é possível reduzir a utilização de matéria prima não renováveis e consequentemente a redução e/ou eliminação de destinação de resíduos para aterros sanitário e/ou para incineração. Referências Bibliográficas BRAILE, P. M.; CAVALCANTI, J. E. W. A. Manual de Tratamento de Águas Residuárias Industriais. São Paulo: CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, 1993. MADALENO, Cecília; ROMERO, L. Funcionamento da Estação de Tratamento de Níquel – Procedimento Ambiental MA-51- E. 2010 PAVANELLI, G. Eficiência de Diferentes tipos de Coagulantes na Coagulação, Floculação e Sedimentação de Água com Cor e Turbidez Elevada. São Paulo PASQUALINI, A. Estudo de Caso Aplicado a Galvanoplastia. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis – SC, 2004. Tese (Mestrado). TORRESI, R. & TORRESI, S. I. C. - Eletrodos modificados por hidróxido de níquel: um estudo de revisão sobre suas propriedades estruturais e eletroquímicas visando suas aplicações em eletrocatálise, eletrocromismo e baterias secundárias. Quim. Nova, Vol. 33, No. 10, 21762186, 2010 - Curitiba VAZ, L, G, L; Performance do Processo de Coagulação/Floculação no Tratamento do Efluente Líquido Gerado na Galvanoplastia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Centro de Engenharias e Ciências Exatas – Departamento de Engenharia Química – Programa de PósGraduação em Engenharia Química – Dezembro – 2009- Toledo, PR – Brasil. VALENZUELA, J. Tratamento de Efluentes em Indústrias Galvanotécnicas. Paginas e Letras: São Paulo. 126 p. 1999. PONTES, HA Apostila de tratamento de efluentes líquidos de Galvanoplastia. 85 p. VEIT, M.T. Estimação de Parâmetros de Transferência de Massa para biossorção de cromo (III) e Níquel(II) num Sistema Contínuo em Coluna de Leito Fixo pala Biomassa de Alga Marinha SargassumFilipendula. Universidade Estadual de Maringá – UEM, Maringá – PR, 2006. Tese (Doutorado). VERLAG, SAULGAU & WÜRTT. Galvanotécnica prática. São Paulo: EDUSP, 1970 272 Educação Ambiental: um caminho para transformação social Claudia Elisa Alves Ferreira122 Vanessa Barros Vieira Gimenez123 Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Pedagogia, campus Interlagos 1, 2 Resumo Seria inconcebível em pleno século XXI, com tantos avanços alcançados pela sociedade, negar que uma boa parcela da população sabe dos riscos causados pelos problemas ambientais ou que existem políticas para promover a Educação Ambiental no nosso país e no mundo para alcançar o objetivo tão desejado da sustentabilidade. O problema é que mesmo tendo conhecimento desses fatos e havendo legislação adequada, não tem ocorrido uma efetivação de ações na prática da educação ambiental. O presente trabalho tem como objetivo a reflexão sobre a relevância da educação ambiental na atualidade, como maneira principal de contribuir para que a educação formal alcance seus objetivos de formar cidadãos conscientes, críticos e atuantes que busquem o desenvolvimento sustentável. Um requisito fundamental para que isto ocorra é que cada envolvido no campo educacional desempenhe efetivamente seu papel para proporcionar aos educandos a vivência da educação ambiental no seu cotidiano, em trabalho conjunto com a comunidade. Foram analisadas abordagens da Educação Ambiental no ensino fundamental, os resultados de práticas escolares sobre a temática, observando se essas questões são tratadas de maneira interdisciplinar, sendo o referencial bibliográfico e a pesquisa de campo a metodologia utilizada. Esperamos colaborar para demonstrar a importância da educação ambiental na formação integral dos indivíduos, para que se tornem aptos a viver em uma sociedade plural e sejam capazes de perceber de maneira crítica o que acontece ao seu redor, Sua meta principal é formar pessoas solidárias com os problemas sociais e ambientais à sua volta, e que estejam cientes de seu papel na transformação da sociedade. Palavras-chave: educação ambiental, cidadania, transformação social. Introdução: Nesse trabalho, trataremos da Educação Ambiental no cotidiano escolar, suas práticas, obstáculos e dificuldades. A problemática a ser desenvolvida questiona qual a relevância da Educação Ambiental em espaços formais para o desenvolvimento de cidadãos conscientes, críticos e atuantes na sociedade brasileira frente ao meio ambiente? A sociedade necessita urgentemente repensar seu modo de viver e conviver com a natureza e o planeta, reconhecendo o ser humano como parte integrante do meio ambiente. Enfatizamos a necessidade de transmitir aos alunos, desde a educação infantil, consciência do impacto que suas 122 Claudia Elisa Alves Ferreira – Doutora em Metodologia do Ensino de Ciências. Professora do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Unidade Interlagos, [email protected]. 123 Vanessa Barros Vieira Gimenez – Graduado em Pedagogia pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Unidade Interlagos, [email protected]. 273 ações causarão na sociedade e no planeta como um todo. A escola deve exercer seu papel de promover ações de incentivo e cuidado com o meio ambiente por meio de seu exemplo como instituição autossustentável, incorporando a Educação Ambiental no cotidiano escolar em parceria com a comunidade. O objetivo principal deste trabalho é compreender como a escola trabalha a Educação Ambiental com seus alunos no ensino fundamental I. Especificamente, observaremos como a gestão e os docentes abordam o assunto com seus educandos, identificando se existe a consciência da importância de se trabalhar os temas do meio ambiente com os mesmos, vinculada à comunidade e relacionando teoria e prática escolar. Sabemos que a Educação Ambiental é essencial para o presente e para o futuro, para sensibilizar, para conscientizar, para desenvolver uma visão crítica e holística sobre as mais variadas relações estabelecidas seja em grupos restritos ou entre nações, para concretizar o desenvolvimento sustentável, diminuir as desigualdades sociais e melhorar a qualidade de vida no planeta. É desejável a criação, por nós educadores, de um ambiente educativo que proporcione a oportunidade de conhecer, sentir, experimentar; ou seja, vivenciar aspectos outros aos que predominam na constituição da atual realidade socioambiental. Isso poderá potencializar uma prática diferenciada que, pelo incentivo a ação cidadã em sua dimensão política, repercuta em novas práticas sociais voltadas para a sustentabilidade socioambiental (GUIMARÃES, 2007, p. 91) Devemos também levar em consideração que para a EA ser efetiva, necessita-se de um empenho do corpo docente e discente, gestão e comunidade por um mesmo objetivo que devem ser discutidos e analisados desde o projeto político pedagógico, a efetivação e avaliação do mesmo, para que os resultados sejam positivos e possam melhorar cada vez mais. Materiais e Métodos: Para averiguar como se dá a prática da Educação Ambiental formal optamos pelo Estudo de Caso e utilizamos pesquisa qualitativa (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 17). A coleta de dados se deu por meio de observação da prática docente de e entrevistas com três pedagogas que ministram aulas para o terceiro e quinto ano do ensino fundamental. O objetivo geral desse estudo de caso é a observação e análise de práticas de educação ambiental formal na rede pública de ensino do município de Embu Guaçu, São Paulo. Verificando se a EA é desenvolvida como um tema transversal que permeia todo o currículo escolar e de que maneira essa pode contribuir para formação de cidadãos mais conscientes. Os objetivos específicos são: a observação da prática docente referente à temática ambiental por meio da interdisciplinaridade nos anos iniciais do ensino fundamental; a observação sobre a maneira como a gestão age em relação ao incentivo, capacitação, espaço e condições adequadas para a educação ambiental. A escola escolhida é considerada pela comunidade escolar, como uma das melhores do município por conta de sua organização, limpeza, disciplina e notas alcançadas em avaliações 274 nacionais como no Índice de Desenvolvimento da Educação Básico (IDEB) e estadual, como o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (IDESP). A instituição é localizada em uma área de manancial, portanto uma parte do entorno da escola tem uma floresta com mata fechada que abriga que grande biodiversidade, também no seu entorno existem residências, comércios e um pronto-socorro do bairro. O espaço da escola é relativamente grande, há uma boa estrutura, onde se vê bastante organização e limpeza, é um local bonito com algumas plantas em vasos e algumas árvores, há um espaço onde está disponível para os alunos diversos livros, jogos (alguns de materiais recicláveis), um espelho grande, televisão, entre outros, além dos diversos cartazes, desenhos, pinturas sobre os temas que os alunos estão estudando. Resultados e Discussão: Na observação de uma sala do 3º. ano, a aula iniciou com a leitura do livro “Campeão da Sujeira” trazido por um aluno. A maioria prestou atenção, mas outros estavam dispersos, depois se iniciou a atividade sobre verbetes. Um fato que chamou atenção é que ao terminarem o recreio as crianças jogam os restos de comida em um balde e o prato e talheres em uma bacia, questionando-os porque motivos fazem isto, disseram que o avô de uma aluna vai à escola pegar essas sobras para alimentar alguns animais que possui. Outro ponto interessante é que ao final do recreio quase não há lixo jogado no chão. Em uma aula de português, a professora estava trabalhando com o texto “Um mundo para os animais pequenos do Jardim”, que citava esses animais e suas peculiaridades, abordando seu ciclo de vida e a interferência do homem nele; temas como lixo, doenças, esgoto. No dia seguinte, foram passados vídeos sobre o Meio Ambiente, mostrando a modificação que o homem causou nele, a organização social e as civilizações no mundo. O conteúdo englobava aspectos sociais, culturais, éticos e de diferentes saberes, ou seja, interdisciplinar. Na aula de Português do 5º. Ano, foi corrigida uma prova que continha temas como poluição, água, população urbana e a poluição na cidade, entre outros. Nessa aula, os alunos escreveram um poema, com o título “O lugar onde vivo”. A professora questionou os alunos: “Você gosta de morar aqui?”. Os estudantes disseram: Aluno A: - Eu gosto de morar aqui! Aluno B: - Eu gosto da cidade! P – Eu gosto do lugar onde a gente mora! A gente escuta o canto dos pássaros, a noite vemos estrelas! Na cidade onde a mãe de vocês vai comprar as coisas, tem poluição, som de buzinas, a noite nem dá pra ver as estrelas por causa das luzes das casas, só dá pra ver praticamente a lua! Aluno E: - É verdade! Tem gente que não gosta daqui, mas eu gosto.Temos que valorizar o lugar onde moramos não jogar lixo nas ruas, cuidar... Aqui agente respira ar puro, vê a natureza. A aula seguinte foi de Ciências, o texto do livro didático abordava o consumo de energia elétrica e a professora comentou: “A gente precisa falar disso, precisamos economizar! Hoje em dia é tudo elétrico! É muito consumo, desenfreado” ... Então começaram a analisar as contas, os selos de consumo e outras características, sempre enfatizando que é necessário economizar. 275 A coordenadora disse: “Ano passado iniciamos o processo de coleta seletiva, eu comecei sensibilizando as professoras durante as reuniões de ATPC. Aos poucos os professores foram gostando da ideia. Enviamos orientações para os pais de como separar, limpar, conscientizamos os alunos e juntamos 4 sacos grandes com materiais que as famílias trouxeram. Depois, uma ONG, vinha buscar para a reciclagem. Tudo funcionou perfeitamente, todos estavam empolgados, porém, essa ONG deixou de vir buscar, o material foi se acumulado, e tivemos que desistir. Destacamos alguns trechos da entrevista com a coordenadora: (E): Percebi que aqui na escola não há desperdício de restos de alimentos e também observei que depois do recreio o pátio permanece praticamente limpo. (C) Isso é fruto de um trabalho longo, outra ação foi trocar as torneiras para não desperdiçar água, vamos fazendo alterações aos pouquinhos. Por exemplo, ano passado fizemos com os 5º anos uma horta suspensa [...]. A ideia inicial era comprar mudas de alface, e fazer salada para todos comerem na escola, mas nem todos os alunos trouxeram PET e também os pés de alface não cresceram o suficiente, então após a exposição para os pais, decidimos entregar aos alunos para levarem para casa, ou seja fomos fazendo mudanças no decorrer do projeto. (E) Fale um pouco sobre os projetos da escola e a questão da interdisciplinaridade. (C) Sim, existem vários projetos como o “Ler e Escrever”, com a exposição de brinquedos confeccionados pelas crianças. E isso eles levam para casa, ensinam aos pais, mas tem crianças que falam: - ‘Mas o meu pai joga lixo no chão’! É um trabalho difícil por que muitos alunos não tem o exemplo em casa. Analisando a prática escolar de Educação Ambiental nessa escola observamos o comprometimento da gestão e corpo docente com a educação como um todo e de ações de EA. Notamos também que a gestão da escola há uma preocupação de que seja trabalhada a interdisciplinaridade. Com relação às professoras, algumas têm ciência da articulação que fazem entre as disciplinas, enquanto outras não fazem essa distinção. Outra questão relevante foi o fato de a maioria delas morarem nas proximidades da escola, e assim, valorizam o local, pois há uma identidade com o espaço interferindo na sua prática de cuidado e preservação da natureza. O ambiente da escola reflete o cuidado com o meio ambiente, é uma escola bem cuidada, limpa, organizada, bonita, as relações interpessoais nesse ambiente e entre escola e comunidade são aparentemente de harmonia. Atualmente não existe um projeto especifico de EA, mas a questão ambiental está presente no cotidiano da instituição. Considerações finais No decorrer dessa pesquisa constatou-se a pertinência da educação ambiental para atualidade, assim como para as gerações futuras, como maneira permanente e essencial para formação de cidadãos atuantes que possam transformar a realidade da sociedade brasileira. 276 Durante séculos o homem estabeleceu uma relação de dominação, se distanciando da natureza, mas atualmente se faz necessário essa reaproximação, para que esse indivíduo se perceba como parte integrante do meio ambiente e, por meio da educação ambiental formal podemos alcançar uma sociedade mais justa. As reflexões sobre as diferentes teorias do campo ambiental foram muito significativas, principalmente para averiguar as diferentes práticas educacionais de acordo com sua realidade e especificidade. Analisando o papel de cada envolvido percebi quanto é necessária uma boa formação acadêmica para se atuar interdisciplinarmente, mas que também são necessários subsídios da gestão e do poder público. A gestão por sua vez precisa ser democrática e participativa que incentive a participação de todos e esteja comprometida com a Educação Ambiental e principalmente que trabalhe em conjunto com a comunidade escolar. Os obstáculos são realmente muitos, a teoria está muito distante da prática e, ainda há muito que se alcançar, mas, considero a educação ambiental por meio da vivência, da experiência um caminho para transformação social. As crianças interferem na sua casa e, se a escola concretizar seu papel de formar cidadãos críticos e atuantes comprometidos com o desenvolvimento sustentável, com uma sociedade mais justa e igualitária podem superar muitos problemas sociais e ambientais. Apesar de se tratar de uma utopia, não podemos deixar de ter esperança e lutar. Referências GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. 3ª edição. Campinas: Ed. Papirus, 2007. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. 277 Células Solares Orgânicas com filmes finos automontados Isabella F. Cambauva124, Gerson Santos125, Herlen Oliveira126, Guilherme S. Braga127, Fernando J. Fonseca128 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Engenharia Elétrica, Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos, Cidade universitária, São Paulo, SP, Brasil¹ Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, Engenharia Elétrica, campus Jabaquara, São Paulo, SP, Brasil 2 Resumo No presente trabalho, estudou-se o processo de formação de filmes finos formados pela técnica de automontagem aplicados às Células Solares Orgânicas (OSCs). No processo de automontagem utilizou-se a Polianilina (PAni) e Poliestireno Sulfonato de Sódio (PSS). Como filme ativo, foram utilizados conjuntamente um polímero semicondutor, o MEH-PPV (Poli[2-metóxi,5-(2-etilhexiloxi)-p-fenileno vinileno]) e um fulereno C61 modificado, o PCBM ([6,6]-fenil-C61-ácido butírico-metil éster) . Neste estudo pioneiro, realizou-se, primeiramente, uma correlação entre morfologia dos filmes finos e o número de bicamadas automontadas e, posteriormente, verificou-se o desempenho destes filmes automontados inseridos na arquitetura da Célula Solar Orgânica. Com base nos parâmetros extraídos e figuras de mérito calculadas, obteve-se eficiência de conversão energética em torno de 0,5%, demonstrando, desta maneira, que os filmes automontados são promissores. Palavras-chave: Célula Solar Orgânica, Caracterização Elétrica, Filmes Finos Automontados, Nanotecnologia. 124 Isabella Fernandes Cambauva – Estudante do curso de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP, [email protected] 125 Gerson Santos – Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica, Pós-doc na USP e Professor no Centro Universitária Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 126 Herlen Oliveira – Estudante do curso de Engenharia Elétrica no Centro universitária Estácio Radial de São Paulo, [email protected] 127 Guilherme Sousa Braga – Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica, Pós-doc na USP, [email protected] 128 Fernando Josepetti Fonseca – Mestre em Física e Doutor em Engenharia Elétrica, Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, [email protected] 278 Introdução Com base na demanda atual de energia, as Células Solares Orgânicas – em ingles, Organic Solar Cells (OSCs) - são dispositivos orgânicos fotovoltaicos promissores e que apresentam vantagens em comparação com as Células Solares tradicionais Inorgânicas, baseadas, por exemplo, no silício[2]. O processamento de materiais orgânicos poliméricos é simples, portanto menos custoso, o que viabiliza e justifica o desenvolvimento desses dispositivos para aplicações a curto prazo, mesmo com eficiências entre 1 e 5%. Dentre os desafios para o desenvolvimento das OSCs destaca-se sua degradação quando o filme ativo é exposto ao ambiente, cuja reação com oxigênio, moléculas de água e comprimentos de onda ultravioleta quebram as cadeias poliméricas e, com isso, alteram suas propriedades eletroópticas[3]. Ressalta-se que o filme com função de transporte de lacunas pode contribuir para a melhora de desempenho do dispositivo. Neste contexto, o presente estudo é direcionado a produção e otimização de filmes ultrafinos com espessura de ordem manométrica e com função de transporte de lacunas nas OSCs. Estes filmes ultrafinos, até onde se conhece, ainda não foram explorados na literatura para este fim. O estudo analisa as propriedades de condução elétrica, as quais dependem intrinsecamente do método de formação e também da condição morfológica dos mesmos[4]. Os filmes ultrafinos são formados pela técnica de automontagem ou self-assembly, que consiste na formação de bicamadas, isto é, materiais com propriedades aniônicas e catiônicas depositados alternadamente, com base na atração eletrostática entre os mesmos. Essa técnica foi desenvolvida na década de 90, pelos pesquisadores Decher, Hong e Schmitt[5] e se mostra vantajosa, uma vez que pode-se formar filmesultrafinos com a quantidade de bicamadas desejada. Materiais e Métodos Processo de formação de bicamadas automontadas A deposição dos filmes finos automontados é realizada com a imersão do substrato de vidro com filme de Óxido de Índio Estanho (ITO – índium tin oxide) nas soluções de Polianilina (PAni) e Poliestireno Sulfonato de Sódio (PSS), com pH ajustado para 2,7, por 3 minutos. Entre cada imersão, os substratos são imersos em uma solução aquosa ajustada com ácido clorídrico de modo a remover as cadeias poliméricas fracamente adsorvidas na superfície do ITO [Erro! Indicador não definido.]. Esse ciclo pode ser repetido até que se atinja a quantidade de bicamadas desejada. Neste estudo foram depositadas amostras com número de bicamadas entre 1 e 10 bicamadas, conforme descrito na literatura[6]. Caracterização morfológica das bicamadas automontadas A fim de verificar as características dos filmes formados pelo processo de automontagem, foram efetuadas medições pela técnica de espectrometria UV-Vis de absorbância e transmitância. Adicionalmente, medidas de espessura foram aferidas para verificar a viabilidade dos filmes produzidos na arquitetura de OSCs, tendo em vista que filmes demasiados finos podem produzir curto-circuito e, por outro lado, filmes espessos podem interferir na mobilidade de portadores e também na absorção de fótons. 279 As medidas de absorbância e transmitância foram realizadas utilizando-se o equipamento UV -1650PC, da SHIMADZU.Para realizar as medidas de espessura, utilizou-se a técnica de perfilômetria, com o equipamento TENCOR modelo ALPHA STEP 500 surface profiler. Processo de fabricação de Células Solares Orgânicas com bicamadas automontadas Após a formação dos filmes automontados sobre o substrato de vidro com filme de ITO, depositou-se o filme fino ativo, pela técnica de spincoating[7], composto pelo polímero semicondutor MEH-PPV (Poli[2-metóxi,5-(2-etil-hexiloxi)-p-fenileno vinileno]) em conjunto com o fulereno modificado PCBM ([6,6]-fenil-C61-ácido butírico-metil éster) diluídos em Clorobenzeno com proporção em massa de 1:4, com espessura entre 200 e 300 nm. Por fim, depositou-se um filme dielétrico formado por fluoreto de lítio (LiF), com espessura de 5 angstroms, seguido pelo eletrodo metálico formado por alumínio, com espessura de 100 nm. Tanto o filme dielétrico quanto o eletrodo metálico de alumínio são formados por meio da técnica de evaporação térmica em alto vácuo. Por fim, os dispositivos são encapsulados no sistema glovebox. Caracterização funcional das Células Solares Orgânicas com bicamadas automontadas A caracterização funcional das OSCs produzidasé realizada utilizando-se um SourceMeter série 2420C em conjunto com um aparato contendo uma lâmpada dicroica de 300 W, calibrada com uma célula padrão, modelo 91150 da Newport Oriel®, para gerar o padrão AM 1.5 (100 mW/cm²). Resultados e Discussões Análise da morfologia dos filmes automontados produzidos por espectrometria UV-Vis A Figura 6 apresenta as medições das amostras com substrato de vidro e filme de ITO em cuja superfície foram depositadas 5, 10, 15 e 20 bicamadas.Com base nas análises de absorbância e considerando-se o comprimento de onda de 466 nm, que é o ponto isosbéstico[8], verifica-se que existe uma relação linear entre a absorbância, centrada neste comprimento de onda, e o número de bicamadas. Por extrapolação é possível identificar a absorbância consoante ao número de bicamadas. 40 Absorbância (u.a.) 35 30 25 20 15 10 5 0 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Número de Bicamadas Figura 6: Absorbância em função do número de bicamadas depositadas sobre um substrato de vidro com ITO. 280 Na Figura 7 são apresentadas as curvas de transmitância dos filmes ultrafinos depositados, com as quais é possível a redução da transmitância com o aumento do número de bicamadas. Com base neste estudo prévio, adotou-se apenas a quantidade de 5 e 10 bicamadas para a produção de OSCs. 5 bicamadas 10 bicamadas 15 bicamadas 20 bicamadas 100 Transmitância (%) 80 60 40 20 0 389,00 589,00 789,00 989,00 Comprimento de Onda (nm) Figura 7: Transmitância de filmes finos de 5, 10, 15 e 20 bicamadas para diferentes comprimentos de onda. Análise das espessuras dos filmes finos automontados A Figura 8 apresenta a curva com os dados obtidos da espessura das bicamadas automontadas. Observa-se também neste caso um aumento proporcional entre espessura o número de bicamadas. Assim, por linearização e possível identificar a relação entre a espessura para cada bicamada, cujo valor é da ordem de aproximadamente 12 nm por bicamada. 281 Espessura (nm) 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Número de Bicamadas Figura 8: Espessura dos filmes finos em função do número de bicamadas. Caracterização funcional das Células Solares Orgânicas de Heterojunção com 5 e 10 bicamadas automontadas A Figura 9 apresenta a resposta elétrica da OSC empregando tanto 5 quanto 10 bicamadas automontadas. OSC com 10 bicamadas automontadas 0,20 0,18 0,18 0,16 0,16 0,14 0,14 Corrente (mA) Corrente (mA) OSC com 5 bicamadas automontadas 0,20 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,02 0,00 0,0 0,12 0,2 0,4 Tensão (V) 0,6 0,8 0,00 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Tensão (V) (A) (B) Figura 9: Curva da corrente em função da tensão aplicada para a Célula Solar Orgânica de heterojunção (A) empregando 5 bicamadas automontadas e (B) com 10 bicamadas automontadas. 282 A Tabela 1 apresenta os valores extraídos e calculados com base nas curvas da Figura 9. Verifica-se que tanto com 5 como 10 bicamadas automontadas os valores de tensão de circuito aberto (Voc), Corrente de Curto-Circuito (Isc), Fator de Forma (FF) e eficiência são próximos com variação pouco significativa. Tabela 1: Parâmetros extraídos e calculados das Células Solares Orgânicas de Heterojunção com bicamadas automontadas. Quantidade de Bicamadas automontadas 5 10 0,663 0,655 Voc (V) 0,192 0,178 Isc (mA) Pmáx Parâmetros 513 462 (µW) 40,3 39,7 FF (%) 0,47 0,42 PCE (%) Além disso, com base nos resultados obtidos, verifica-se primeiramente que as bicamadas automontadas são promissoras para aplicação em OSCs e, adicionalmente, constata-se também que os dispositivos produzidos apresentam eficiência compatível com estudos similares, cujos valores variam entre 0,5 e 5%[9]. Considerações Finais No presente trabalho foram estudas bicamadas automontadas com aplicação em Células Solares Orgânicas (OSCs). No estudo prévio sobre a morfologia das bicamadas automontadas, contatou-se que existe comportamento linear entre absorbância e o número de bicamadas e, com isso, por extrapolação, é possível identificar o valor da absorbância para qualquer número de bicamadas depositadas em um projeto de dispositivo fotovoltaico. Além disso, as análises de transmitância identificaram que esta grandeza é atenuada com o aumento do número de bicamadas e, por esta razão, para a fabricação das OSCs adotou-se 5 e 10 bicamadas automontadas. Por fim, foram fabricadas OSCs, as quais apresentaram figuras de mérito similares. Embora não se tenha obtido valores significativos de eficiência (aproximadamente 0,5%), estes encontram-se dentro da faixa relatada na literatura e, além disso, comprovou-se que os filmes finos automontados são promissores para dispositivos orgânicos fotovoltaicos. 283 Referências [2] R. F., Bianchi; “Estudo das propriedades eletrônicas e ópticas de filmes e dispositivos poliméricos”. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2002. [3] R. F., Bianchi; “Estudo das propriedades eletrônicas e ópticas de filmes e dispositivos poliméricos”. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2002. [4] G. S., Braga; “Sistema automatizado baseado em língua eletrônica para monitoração de água para abastecimento urbano”. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2012. [5] F. D. S. Rodrigues, “Células Solares Orgânicas do tipo Bulk-Heterojunction”, Dissertação de Mestrado, Universidade de Aveiro, 2008. [6] G. S., Braga; et al.; “Performance of an electronic tongue during monitoring 2-metilisoborneol and geosmin in water samples” Sens. Actuators B: Chem, 2012 (no prelo). [7] C. J., Lawrence, “The mechanics of spin coating of polymer films”, Physics of Fluids, Volume 31, Issue 10. [8] G. S., Braga; L. G., Paterno; J. P. H., Lima; F. J. Fonseca; A. M., Andrade; “Influence of the deposition parameters on the morphology and electrical conductivity of PANI/PSS self-assembled films”, Materials Science and Engineering C 28 (2008) 555–562. [9] S., Saidi; H., Derouiche; A. 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