2 a Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína
5 de Novembro a 6 de Dezembro de 2001 — Concórdia, SC, Brasil
GENÉTICA PARA DIFERENTES CLIMAS, SISTEMAS DE
PRODUÇÃO E PESOS DE ABATE. ÊNFASE NA
QUALIDADE DA CARCAÇA E CARNE
Robson Carlos Antunes
Geneticista da Dalland do Brasil Agropecuária LTDA.
Rua Gustavo Ambrust, 56 CEP 13092-060 - Campinas (SP) - Brasil
1
Introdução
No Brasil, há atualmente um grande número de empresas de melhoramento
genético de suínos de diversas origens. Dentre estas, as maiores, pode-se dizer que
são as de origem inglesa, holandesa, belga, dinamarquesa, francesa e canadense.
Todas atuam em diferentes países e conseqüentemente devem atender as exigências
dos mercados locais de cada país. Isto faz com que essas empresas mantenham
estoques de genes distribuídos em diferentes linhas genéticas que atendam estas
diferenças de mercado. Para se ter uma idéia das diferenças entre os mercados,
pode-se abordar o mercado, com relação ao aspecto peso de abate. De uma
maneira bastante generalista, pode-se dizer que o mercado do Norte e oeste Europeu
preferem suínos com peso de abate entre 85 e 105 Kg, com exceção dos suínos
destinados a produção de bacon. O leste europeu também prefere suínos com peso
com a mesma variação citada anteriormente. No entanto, o sul da Europa trabalha
com pesos de 75 a 95 kg, com exceção dos suínos abatidos para produção de
presunto maturado cru; por exemplo, o tipo Parma, que exige o abate de suínos mais
pesados, normalmente com 160 a 180 kg. O mercado da América do Norte, em
geral, prefere suínos abatidos com peso entre 85 a 110 kg, enquanto na América do
Sul a preferência é por suínos abatidos com peso entre 75 e 95 kg. No mercado
da Ásia e de alguns países da África, que possuem suinocultura tecnificada, a
preferência é por suínos mais leves que nos outros mercados, algo em torno de
70 a 90 kg. Considerando-se a diversidade de ambientes e as diferenças dos
mercados locais e sistemas de produção, torna-se imprescindível que as empresas
de melhoramento genético desenvolvam programas com características peculiares
para cada país ou conjunto de países com características semelhantes. O artigo aqui
apresentado visa discorrer sobre a experiência de produzir material genético voltado
para o mercado brasileiro, do ponto de vista de uma empresa originalmente holandesa,
mas mundialmente distribuída.
2
História de uma empresa de melhoramento global
Antes de se discorrer sobre o mercado brasileiro de produção de suínos é
interessante fazer uma retrospectiva da introdução da empresa de melhoramento
genético Dalland no país, já que o assunto aqui abordado, na sua maior parte,
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é narrado sob a visão e experiência desta empresa de melhoramento genético
de suínos. A Dalland do Brasil é uma empresa do grupo TOPIGS que iniciou a
produção de material genético no país em 1995, após dois anos de estudo do
mercado nacional e importação do material genético mais adequado à realidade
brasileira em 1994, tendo atualmente 14 granjas multiplicadoras e três granjas núcleos
localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A Dalland foi fundada por frigoríficos
da Unilever em 1963. Em 1967 iniciou o programa de melhoramento genético
voltado para o atendimento das necessidades deste frigorífico. Em 1970 começou
a vender material genético para o mercado aberto holandês e em 1978, finalmente,
abriu a venda de material genético no mercado internacional. Em 1989, já estava
produzindo em granjas SPF e exportando para diversos países. Em 1996 fundiu-se
com outra empresa de melhoramento genético de suínos, também holandesa, do
grupo Stamboek, formando o grupo CVZ . Em 1999 evoluiu para a criação do grupo
TOPIGS que foi formado pela integração de três grandes programas de melhoramento
genético holandeses: o programa de melhoramento genético da Dalland, o programa
de melhoramento genético da Fomeva e o programa de melhoramento genético da
Stamboek. Desta maneira, o Grupo TOPIGS tornou-se o segundo maior do mundo
em melhoramento genético de suínos, com um plantel de 100.000 avós distribuídas
em nove diferentes linhas genéticas, proporcionando a produção de 35.000.000
de carcaças por ano. Atualmente o Grupo TOPIGS está presente em 30 países,
incluindo Holanda, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, Canadá, Filipinas, África do
Sul, México, China e Brasil. Da necessidade de atender 30 diferentes países com
diferentes exigências de mercado, o grupo TOPIGS mantém seis diferentes linhas
maternas e cinco diferentes linhas paternas, que combinadas entre si, podem atender
os diferentes mercados.
3
Diferentes linhas para diferentes mercados
As empresas de melhoramento genético de suínos devem estudar constantemente
o mercado de atuação, pois, as mudanças, atualmente, ocorrem de maneira muito
rápida e às vezes, com uma velocidade que supera a capacidade de adaptação,
destas mesmas empresas. Falando de mudanças de mercado, o que ocorreu com
o mercado de frangos de corte no Brasil, recentemente, serve como um exemplo
bastante interessante da velocidade de mudanças dos mercados. Na década de
80 e início da década de 90, a exigência do mercado nacional, com relação à
qualidade de carcaça de frangos de corte, era muito baixa e, portanto as linhagens
de frango de corte, que proporcionavam maior produção de pintos, por ave matriz
alojada, dominavam o mercado, mesmo produzindo carcaças com excesso de gordura
abdominal e menor rendimento de partes nobres. Mas, em meados e final da década
de 90 o mercado mudou rapidamente e a exigência de linhagens que proporcionassem
um maior rendimento de cortes nobres e menor deposição de gordura abdominal
nas carcaças de frango de corte fez com que novas linhagens passassem a ganhar
importância no mercado nacional. E, assim aconteceu também com as linhagens
de suínos em alguns países. Na Bélgica, por exemplo, a raça mais importante no
final da década de 80 era a Landrace Belga, totalmente susceptível à síndrome do
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estresse suíno. Durante a última década, entretanto, a raça Landrace Belga, quase
desapareceu. Foi substituída gradativamente por raças resistentes a síndrome do
estresse ou raças cruzadas com Pietrain susceptível ao estresse, mas que resultam na
produção de animais heterozigotos, para a síndrome do estresse suíno (Geysen et al.,
2000). No entanto, na Polônia, uma das raças que melhor atende as exigências do
mercado local é a raça Landrace Belga na linha paterna cruzada com linhas maternas
contendo Large White polonês, em detrimento dos cruzamentos com Hampshire e
Duroc nas linhas paternas (Michalska et al., 2000). Portanto, fica patente, que
as características de cada mercado é que determinan quais as melhores raças ou
linhagens de suínos que atendem cada pais. E, especificamente no caso do Brasil,
há variações grandes no mercado, demandando adaptações por parte das empresas
de melhoramento genético para atender as diferentes exigências de cada mercado
específico.
Pode-se dizer que basicamente há dois grandes nichos de mercado no Brasil,
aquele formado pelas grandes empresas de integração verticalizadas, mas que às
vezes compram parte da produção de produtores independentes e aquele formado
apenas por produtores independentes que vendem sua produção para diferentes
compradores. As empresas verticalizadas tem a vantagem de poder industrializar
a produção e, portanto fazem um melhor uso do toucinho na produção de embutidos.
Isto justifica a atual tendência destas empresas de buscar o aumento do peso de
abate dos suínos entregues, aliado ao fato de que, suínos abatidos, com maior peso
de abate, proporcionam uma diluição do custo fixo. Já, os produtores independentes,
normalmente, vendem sua produção para pequenos açougueiros que preferem
carcaças com peso menor, pois, não industrializam e têm dificuldade de vender
peças muito grandes e pesadas. Percebe-se que há no mercado nacional, dois
nichos bastante específicos. Mas, independente das características peculiares de
cada um destes mercados, o sistema de produção do Brasil é praticamente totalmente
confinado e o clima no país, com exceção dos estados do sul, é na maior parte do ano
muito quente. Baseado neste fato a Dalland fez um estudo das linhas que melhor
poderiam atender estas peculiaridades do mercado brasileiro. Na Tabela abaixo
pode-se observar uma classificação relativa, entre as diferentes linhas disponíveis,
dentro do programa de melhoramento genético do Grupo TOPIGS:
Após estudar as características do mercado de suínos do Brasil o Grupo TOPIGS
optou por colocar no país duas linhas fêmeas livres do gene da síndrome do estresse
suíno e que não tem problema de consumo de ração na maternidade, já que pela
experiência adquirida pelo grupo, em outras regiões de clima quente, o consumo de
ração na maternidade sempre foi um ponto de estrangulamento nestas regiões. Assim
optou-se por trabalhar o melhoramento genético local de duas linhas fêmeas e atender
as diferenças dos dois principais nichos de mercado trabalhando com três machos
terminais diferentes: um voltado para velocidade de crescimento, outro para produção
de carcaças com alto percentual de carne magra e um terceiro bastante equilibrado,
com boa velocidade de crescimento e boa produção de carcaças com bom percentual
de carne magra. Um acompanhamento de filhos, de dois dos machos utilizados no
Brasil, conduzido na Holanda, mostra bem o potencial de produção destes machos,
como pode-se observar na Tabela abaixo:
Outra triagem conduzida na Holanda com progênies do macho de alta velocidade
de crescimento em comparação com o macho de alta produção de carne magra foi
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Tabela 1 — Comparação relativa das diferentes linhas genéticas maternas do Programa de
Melhoramento Genético do Grupo TOPIGS
Características/Linhas
A
B
C
D
E
F
G*
(DxE)
+++
+++
++
++
+
+
++
+
H*
(AxB)
++
++
++
+++
+++
+++
++
+++
I*
(FxD)
+
+
++
++
+++
++
+
++
Número de leitões nascidos / parto
++
+
+++ ++ +++
+
Habilidade materna
+
+
++ +++ ++
+
Sobrevivência
++
++
++
++
++ +++
Intervalo desmame cio
+++ +++ ++
+
++
++
Constituição óssea
+++
++
+
+
+
+++
Ganho de peso médio diário
+++
++
+
+
++
++
Porcentagem de carne magra na carcaça
+
+++
+
+
++
+
Consumo de ração
++++ ++
+
+
++ +++
*
Linhas maternas híbridas.
**
O Programa de melhoramento Genético de Suínos do Grupo TOPIGS trabalha com as raças Landrace
Finlandês, Landrace Holandês, dois tipos de Large White, Pietrain livre do gene da síndrome do estresse e
Duroc.
Tabela 2 — Comparação de dados de produção da progênie de dois machos
híbridos do Programa de Melhoramento Genético TOPIGS entre 1998
e 1999 na Holanda (Dados completos).
Macho 1
(Alta Velocidade
de crescimento)
Número de animais acompanhados
58.235
Ganho de peso médio (gramas / dia)
812
Conversão Alimentar (Kg/Kg)
2,62
Mortalidade (%)
1,8
Porcentagem de carne magra
55,6
Peso de abate (Kg)
89,2
288
Macho 2
Diferença
(Equilibrado)
(1-2)
39.925
792
2,60
1,8
56,4
89,0
-20
-0,02
0
+0,8
+0,2
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constatado que a progênie do macho de alta produção de carne magra teve 4,1 mm a
mais de profundidade de músculo, medido na última costela sobre o Longyssimus
dorsi, 1,3 mm a menos de espessura de toucinho, 1,6% a mais de porcentagem
de carne magra, 24,6% a mais de carcaças classificadas como excelentes, menores
índices de reflecção na pistola HGP, mas apresentou menor pH 24 horas nos músculos
Longyssimus dorsi e Semimembranosus e um ligeiro aumento de perda exudativa
medida através do método do papel de filtro, como pode-se verificar na Tabela 3. Essa
triagem foi conduzida no Frigorífico Smits, em Emmen, e a análise dos resultados
foi conduzida pelo “Institute for Animal Science and Health‘” (ID-DLO), que fica em
Lelystad. Entre outras coisas pode-se constatar que de todas as características
analisadas mostram que a carne dos animais Dalland é relativamente rósea e tem uma
alta capacidade de retenção de água. Provavelmente a cor mais escura dos animais
filhos dos machos de alta produção de carne magra se deve ao menor percentual
de gordura intra-muscular e maior quantidade de pigmento, pois, a velocidade de
crescimento é menor nestes animais.
Tabela 3 — Comparação de dados de carcaça e qualidade de carne da progênie
de dois machos híbridos do Programa de Melhoramento Genético
TOPIGS
Característica avaliada
Profundidade do músculo Longyssimus dorsi
Espessura de toucinho
Porcentagem de carne magra
%carcaças AA + A
HGP (reflecção)
pH 24 horas Longyssimus dorsi
pH 24 horas Semimembranosus
Papel de filtro
Minolta L
Minolta a
Minolta b
Cor pelo padrão Japonês
Macho 1
(Alta Velocidade
de crescimento)
54,6
17,4
55,2
91,8
52,2
5,83
5,78
0,89
56,5
15,4
7,13
1,93
Macho 3
(Alta produção
de carne magra)
58,7
16,1
56,8
94,5
48,2
5,79
5,72
1,27
55,1
16,2
6,90
2,04
Diferença
(3-1)
4,1
-1,3
1,6
-4,0
-0,04
-0,06
+0,38
-1,4
+0,80
-0,23
+0,11
No Brasil também foi conduzida uma triagem para se medir a qualidade das
carcaças e da carne dos animais Dalland, filhos de machos de alta velocidade de
crescimento, em comparação a outras genéticas comercializadas em um frigorífico
do estado de São Paulo. Esta triagem foi conduzida pelo Instituto de Tecnologia de
Alimentos (ITAL) em 1999, e, um resumo dos dados pode-se visualizar na Tabela 4.
Para que um programa de melhoramento genético realmente atenda as exigências
dos diferentes mercados, um requisito básico que deve ser atendido é fazer
melhoramento das linhas mais indicadas para o determinado mercado nas condições
do país em questão. Neste contexto, o Programa de Melhoramento Genético da
Dalland do Brasil caminha na direção certa, já que todas as linhas utilizadas, maternas
ou paternas, estão sob melhoramento genético nas granjas núcleos do Brasil, mas
obedecendo as características do Programa de Melhoramento Genético do Grupo
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Tabela 4 — Dados comparativos de qualidade de carcaça, gordura intra-muscular
e capacidade de retenção de água de terminados Dalland e de outra
genética
Características avaliadas
Dalland
(1)
Número de cevados
25
Peso da Carcaça Quente
75,4 Kg
Espessura de músculo
52,5 mm
Espessura de toucinho
15,4 mm
% gordura intra-muscular do pernil
2,48%
% de gordura intra-muscular do carré
2,26%
% de umidade total do pernil
75,4%
% de umidade total do carré
74,3%
Capacidade de retenção de água pernil (*)
0,133
Capacidade de retenção de água carré (*)
0,131
*
Outra Genética
(2)
57
66,7 Kg
47,1 mm
19,7 mm
2,28%
2,22%
75,8%
74,7%
0,112
0,113
Diferença
(1-2)
8,7 kg
5,4 mm
-4,3 mm
0,20%
0,04%
-0,4%
-0,4%
0,021
0,018
Valores maiores são mais desejados.
TOPIGS e beneficiando-se das ferramentas deste programa, como pode-se verificar a
seguir, no breve resumo das principais características deste programa.
4
Programa de Melhoramento Genético Dalland
Para entender como a Dalland busca atender as diferentes exigências entre os
diferentes mercados que atua, é interessante discorrer sobre as características do
programa de melhoramento, que são inerentes a qualquer programa, quer seja ele
voltado para a seleção de animais adaptados aos trópicos ou ao clima temperado.
A principal característica de todo programa de melhoramento é que, atualmente,
nos países tradicionais na criação de suínos da Europa, nos Estados Unidos e no
Canadá, tem-se dado mais ênfase ao teste de animais nas próprias granjas, com
rebanhos fechados, com vistas a assegurar melhor nível sanitário e aumentar o
número de indivíduos testados (Lopes, 1994). Por toda a cadeia de produção de
suínos a sanidade dos planteis é extremamente importante e deve ser analisada
através dos vários ângulos de interesse: aspectos relacionados à saúde humana,
aspectos relacionados ao bem estar animal, aspectos relacionados à vantagem de
produção inerente ao alto grau sanitário e oportunidades no progresso da genética
internacional (Groenland, 2000). Nos programas de melhoramento de suínos o teste
de granja é a base do programa, a partir do qual devem ser definidas as características
a serem incluídas no programa de seleção, assim como estabelecido um eficiente
método de seleção. Diversas técnicas de avaliação genética de suínos têm sido
propostas. A primeira delas foi descrita, ainda, na década de 30 e denominada
“quadrados mínimos de Yates”. Em seguida, na década de 40, foi descrita a dos
“índices de seleção de Smith e Hazel”. Finalmente, na década de 50, Henderson
descreveu a metodologia de modelos mistos para obtenção da melhor predição
linear não-viesada (BLUP-“best linear unbiased prediction”) dos valores genéticos dos
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animais. Na verdade, o BLUP é uma combinação das duas técnicas anteriores e
consiste, como no índice de seleção, em predizer os valores genéticos dos animais,
tomados como aleatórios, e ajustar os dados, à semelhança dos quadrados mínimos,
para efeitos fixos e para número desigual de informações nas subclasses, por meio
da metodologia de modelos mistos. Outro aspecto importante desta metodologia
foi a definição, na década de 80, por Quaas e Pollack, da Universidade de Cornell,
do modelo animal (AM), em que a observação de cada característica medida no
indivíduo resulta em uma equação; assim o total de equações a serem resolvidas
corresponde ao produto do número de animais pelo número de características.
Dessa maneira, o modelo animal possibilita a inclusão, numa mesma avaliação, de
observações de reprodutores, de fêmeas e de progênies. A utilização do modelo
animal traz como inconveniência o grande número de equações, a serem resolvidas
simultaneamente. Entretanto, a partir dos anos 80, com o aumento da capacidade de
armazenamento e processamento dos computadores e com o avanço das técnicas
computacionais, tornou-se viável a utilização desse modelo e dessa metodologia.
Algumas vantagens da metodologia BLUP, comparadas às dos demais métodos de
seleção, são: inclusão da informação completa de família por meio da matriz de
parentesco; comparação de indivíduos de diferentes níveis de efeitos fixos; avaliação
de indivíduos sem observações, com observações perdidas e ainda com observação
em apenas em algumas características; avaliação simultânea de reprodutores, de
fêmeas, e de progênies; avaliação de características múltiplas; avaliação de medidas
repetidas; utilização de diferentes modelos para as características; e utilização de
modelos com heterogeneidade de variância e com interação genótipo-ambiente,
podendo-se usar todas essas opções ou algumas delas, simultaneamente (Lopes,
1994). O grupo Topigs, ao qual pertence a Dalland do Brasil Agropecuária, faz uso
desta importante ferramenta de melhoramento genético associada a algumas outras
ferramentas complementares, exclusivas do grupo TOPIGS, o “Combined Crossbred
Pure Bred Selection” (CCPS), o “TOPIGS Satellite Nucleous Sistem” (TSNS) e a
utilização de marcadores moleculares de DNA.
4.1
CCPS
Normalmente, nos programas de melhoramento genético, a seleção dos animais
sempre ocorre dentro das linhas puras. No sistema CCPS os dados e informações
de animais cruzados, bem como quanto os dados e informações de animais de linhas
puras, são usados. Este método de seleção leva a um rápido melhoramento ao nível
dos extratos de multiplicação e comercial, onde efeitos genéticos que só podem ser
mensurados em animais cruzados são incluídos na seleção (por exemplo: heterose e
complementariedade entre raças). Isto significa que o programa de melhoramento é
parcialmente dirigido pelo produto final, já que os valores genéticos dos animais são
calculados com base no desempenho das raças puras, nas estações de testagem,
bem como nas informações de animais cruzados.
4.2
TSNS
O TSNS é o nome para designar a estrutura de melhoramento genético dentro
do grupo TOPIGS que utiliza o ambiente da World Wide. Esta estrutura consiste
291
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de granjas espalhadas ao redor do mundo, que produzem cachaços para núcleos
de melhoramento. Genes são transferidos e trocados entre estas granjas sob um
criterioso protocolo veterinário, por meio de sêmen congelado ou embriões. Todas
as granjas pertencentes ao TSNS trabalham dentro de um protocolo padronizado de
acordo com os procedimentos TOPIGS. O TSNS têm quatro objetivos:
1. Rápida disseminação de genes através da pirâmide de produção.
2. Aumentar a segurança em termos sanitários através do aumento de número de
granjas ao redor do mundo que servem como banco de genes para uma eventual
repopulação de granjas que possam vir a se contaminar.
3. Diminuir o risco de introdução de doenças nas granjas onde estão os principais
bancos de material genético.
4. Possibilitar as seleções para características de fertilidade, por possibilitar a
confecção de um banco de dados com um volume de informações incomparável.
O banco de dados do grupo TOPIGS possui informações de mais de 10 milhões
de animais.
4.3
Marcadores Moleculares
O grupo TOPIGS tem também investido em Biotecnologia. Isto significa identificar
genes que possuam uma expressão extra para uma certa característica considerada
importante ou influenciada por genes de efeito maiores (Vriesekoop, 2.000). O gene
amplamente conhecido e que faz parte do Programa de Melhoramento Genético
do Grupo TOPIGS é o gene Hal. A presença de um alelo deste gene aumenta
em 1,5% o percentual de carne magra na carcaça (Antunes, 1997). Mas, o
grupo TOPIGS, através de Marked Assisted Selection (MAS), retirou esse gene
das linhas fêmeas do programa de melhoramento, porque o mesmo tem influência
negativa sobre a qualidade da carne. O grupo TOPIGS anunciou recentemente
a descoberta de cinco genes que influenciam a qualidade da carne e da gordura.
Desses, quatro são genes imprintáveis. Isto significa que esses genes só se
expressam quando são provenientes do pai ou da mãe. As primeiras evidências
da existência de imprinting genômico em mamíferos vieram de experimentos de
transferências nuclear em camundongos, onde foi possível a criação de embriões com
dois conjuntos de cromossomos originados de apenas um progenitor. Observou-se
um desenvolvimento anormal desses embriões. Aqueles que tinham um conjunto
diplóide materno (genogenotos) desenvolviam-se com poucas anomalias, porém os
tecidos extraembrionários eram atrofiados; enquanto que embriões com conjunto
diplóide paterno (androgenotos) eram extremamente aberrantes, mas apresentavam
tecidos extraembrionários praticamente normais.
Notou-se, dessa maneira, a
importância da presença de um lote cromossômico materno e de outro paterno para
o desenvolvimento normal. O processo de imprinting parece envolver três fases
distintas: estabelecimento de uma “marcação” do DNA nos gametas; sua manutenção
durante a embriogênese e em tecidos somáticos no adulto e seu cancelamento no
início da gametogênese. (Fridman, 1997). O desenvolvimento e a introdução de
marcadores imprintáveis dentro do Programa de Melhoramento Genético do Grupo
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TOPIGS abre novas perspectivas de melhoramento. Outra importante diferença do
Programa de Melhoramento Genético do Grupo TOPIGS é o uso da seleção para
vitalidade dos leitões. Isto faz com que os leitões Dalland procurem mamar colostro
o mais rápido possível após o nascimento, pois são leitões que possuem maior
conteúdo de glicogênio muscular e hepático e maior produção de corticosteroides
ao nascer, sendo mais viáveis e morrendo menos na maternidade. (Knol, 2001).
As características citadas acima fazem do Programa de Melhoramento Genético do
Grupo TOPIGS um programa de melhoramento diferente e único com características
próprias e bem definidas, podendo atender as diferentes exigências dos diferentes
mercados a nível mundial e nacional.
5
Referências Bibliográficas
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293
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