Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo
2006 maio-ago; 18(2)175-80
INFLUÊNCIA DO TIPO DE ARMAZENAMENTO E DO MÉTODO DE DESINFECÇÃO DE DENTES EXTRAÍDOS
SOBRE A ADESÃO À ESTRUTURA DENTAL
THE INFLUENCE OF STORAGE AND STERILIZATION METHODS MORE USED IN TESTS OF
ADHESIVE RESISTANCE WITH EXTRACTED TEETH
Marcelo Filadelfo Silva *
Fernando Mandarino **
Juliano Fernandes Sassi *
Marcio de Menezes *
André Luis Baracchini Centola **
Tomio Nonaka ***
RESUMO
O presente estudo de revisão de literatura procura destacar a influência do tipo de armazenamento e dos
métodos de desinfecção mais utilizados nos testes de resistência adesiva realizados com dentes extraídos.
Observou-se entre os autores que várias substâncias são utilizadas com esta finalidade em suas avaliações.
Em relação ao tempo de armazenamento e tipo de solução utilizada houve grande variabilidade nos resultados. Para desinfecção, a autoclave foi o método mais seguro empregado para esterilização dos dentes,
não causando alteração nos valores de resistência adesiva à dentina.
DESCRITORES: Armazenamento de materiais e provisões - Desinfecção/Métodos
ABSTRACT
The present study of literature review tried to determinate the influence of the storage and the sterilization methods more used in the tests of adhesive resistance with extracted teeth. Most of the works used
different substances in their evaluations. An autoclave was the safest method employed for sterilization of
the teeth. In relationship at the time of stockpiling and type of used solution was found a great variability
in the results.
DESCRIPTORS: Materials and supplies stockpiling - Desinfection/Methods
* Mestrandos de Dentística do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP
** Professor Titular do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP
*** Professor Doutor do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP
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Silva MF, Mandarino F, Sassi JF, Menezes M, Centola ALB, Nonaka T. Influência do tipo de armazenamento e do método de desinfecção
de dentes extraídos sobre a adesão à estrutura dental. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2006 maio-ago;
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INTRODUÇÃO
Na Odontologia, a busca por situações laboratoriais
que simulem as condições do meio bucal representa um
importante fator para o correto desenvolvimento das
pesquisas. Em relação aos experimentos que visam testar
as propriedades mecânicas dos diversos materiais restauradores adesivos sobre os tecidos dentais, a manutenção
da condição normal desse substrato é fundamental para
se atingir uma reprodução mais aproximada possível das
situações que ocorram na cavidade bucal.
Não existe uma substância-padrão utilizada para conservação e desinfecção dos dentes após extração. Com
isso, a possibilidade de que estudos que utilizem materiais similares em um mesmo tipo de substrato apresentem resultados diferentes é passível de ocorrer, em
virtude da influência de outras variáveis, como o tipo de
desinfecção feito, armazenamento realizado, o tempo e o
tipo de substância utilizada para estocagem do dente.
Outro aspecto importante é o fato de os dentes recém-extraídos serem considerados uma fonte potencial
de infecção cruzada e contaminação, devendo, assim,
serem armazenados em condições que permitam a manutenção de suas propriedades físicas e de sua correta
descontaminação, antes de serem utilizados nas atividades laboratoriais de pesquisa.
O objetivo do presente trabalho é, através de uma
revisão de literatura, realizar uma análise crítica sobre a
influência do tempo de armazenamento, dos tipos de
soluções usados para estocagem e dos métodos de desinfecção dos dentes, nos ensaios de resistência adesiva ao
substrato dental.
REVISÃO DE LITERATURA
Williams e Svare22 (1985) avaliaram a influência da
armazenagem por cinco anos na resistência adesiva ao esmalte. Os dentes foram armazenados em água destilada
e timol a 4C0, por 24 horas, 3 meses e por 5 anos. Após
esses períodos eles eram armazenados em água destilada
por uma semana, sendo em seguida submetidos ao teste
de cisalhamento. Os resultados demonstraram não haver
diferença significante entre os valores de resistência obtidos com 5 anos, 3 meses ou 24 horas de estocagem em
água destilada.
Aquilino et al.1 (1987) avaliaram o efeito do meio de
armazenagem dos dentes na resistência adesiva à dentina. Os dentes utilizados no estudo foram armazenados
por três meses em solução aquosa de NaCl 0,9%, água
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destilada e solução saturada de timol em água destilada a
0,05%. Os resultados colhidos não mostraram diferença
significante nos valores de resistência adesiva à dentina.
Cooley e Dodge4 (1989) avaliaram a resistência adesiva de três sistemas adesivos em dentes recém-extraídos,
armazenados por 5 dias em solução salina 0,9% e em
dentes armazenados por vários anos pós-extração em formalina 10%. Apenas para um sistema houve diferença
significante entre os valores para ambos os substratos,
sendo os valores de resistência em dentes envelhecidos
significantemente superiores.
Rueggeberg18 (1991) realizou importante revisão da
literatura sobre substratos utilizados nos testes de adesão,
avaliando fatores como tipos de substratos mais adequados, efeito do tempo pós-extração na resistência adesiva,
condição de armazenagem dos dentes, potencial de infecção dos dentes utilizados no experimento, preparação
da cavidade para aplicação do adesivo, profundidade da
dentina e localização do sítio de adesão.
Bianchi et al.2 (1991) avaliaram a influência do tempo de armazenagem das amostras, na resistência de dois
adesivos. Apesar de não ser significante, um dos sistemas
apresentou tendência de diminuição dos valores de resistência com o tempo de armazenagem.
Goodis et al.6 (1991) avaliaram a permeabilidade dentinária de dentes humanos após armazenagem em etanol
a 70 %, formalina a 10%, água destilada com timol e
soro fisiológico com timol, nos períodos de 1, 2, 4 ou 8
dias e 1 ,8 15, e 22 dias. Os resultados mostraram que
a permeabilidade foi menor para os dentes armazenados
em etanol ou formalina. Com relação ao tempo, todos os
espécimes mostraram aumento da permeabilidade.
Pashley et al.15 (1993) estudaram a influência de diferentes métodos de esterilização sobre a permeabilidade
dentinária e a força de adesão à dentina. Relatando que
o óxido de etileno e a autoclave (1210C por 30 minutos)
não alteraram a permeabilidade dentinária, nem alteraram os resultados da força de adesão ao cisalhamento.
Goodis et al.7 (1993) avaliaram a influência de cinco
soluções de armazenagem: etanol 70%, formalina 10%,
água destilada com timol 0,02%, água destilada e solução salina tamponada por fosfato com timol a 0,02%,
realizando medidas da resistência adesiva com 8 dias, 15
dias e 6 meses, antes das quais, as superfícies dentinárias
eram sempre preparadas. Os valores de resistência adesiva tiveram alteração significante na solução salina.
Takemori et al.20 (1993), realizaram um estudo so-
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bre a influência de cinco fatores na resistência adesiva
de resinas compostas à dentina: inclusão dos dentes em
resina epóxica, tempo de armazenagem dos espécimes,
velocidade de tração, espessura do corpo de prova e profundidade da dentina. Somente o fator profundidade do
espécime embebido em resina mostrou diferença significante.
A esterilização utilizando-se aquecimento químico foi
testada por Dewald et al.5 (1995). A análise em microscopia ótica e MEV da morfologia da dentina esterilizada
após aplicação de um adesivo dentinário demonstrou
que o tratamento com formalina por 30 dias e a autoclave não alteraram a morfologia da dentina, quando comparada à dentina dos dentes do grupo-controle.
Strawn et al.19 (1996), verificaram através de estudo
espectroscópico após armazenamento de dentina em
água destilada com 0,02% de timol, água purificada e
filtrada, solução salina com 0,02% de timol, etanol a 70
% e formalina a 10% nos períodos de 0,1,2,7,14,21, e
28 dias que ocorreram mudanças químicas superficiais e
nas propriedades ópticas da dentina em função do tipo
de substância e do tempo de armazenamento apesar de
não ter-se verificado diferenças estruturais a nível de colágeno ou do conteúdo mineral, devendo portanto ser
consideradas quando se estuda dentina.
Panighi et al.14 (1997) avaliaram a possibilidade da
utilização de dentes congelados como substitutos de
dentes recém-extraídos nos testes de resistência adesiva
à dentina. Os procedimentos de adesão foram realizados dentro de um período de no máximo duas horas
pós-extração, e com dentes congelados por um período
compreendido entre 6 a 36 meses. Foram preparadas superfícies de adesão em três profundidades de dentina:
superficial, média e profunda. Os valores em dentina superficial mostraram diferença significante entre os dois
substratos.
Titley et al.21 (1998) após armazenarem dentes extraídos por dois meses em onze diferentes soluções, verificaram que os testes realizados naqueles que foram congelados apresentaram os maiores valores de resistência ao
cisalhamento.
Gwinnett e Yu10 (1995), utilizando terceiros molares humanos hígidos, estudaram a influência do tempo
de armazenagem na resistência de união de dois adesivos. As amostras, após o procedimento adesivo, foram
armazenadas por 24 horas e 6 meses. Os valores obtidos
no teste de resistência ao cisalhamento apresentaram di-
ferença estatística significante em relação aos diferentes
tempos, havendo diminuição da resistência adesiva com
o aumento do tempo de armazenagem. Essa diferença
foi relacionada com a sorção de água e conseqüente degradação hidrolítica da união adesiva.
Miranda et al.13 (1997) estudaram a influência de
diferentes métodos de esterilização na força de união de
um adesivo dentinário em molares permanentes humanos. Os dentes foram submetidos aos seguintes tratamentos: esterilização em solução de glutaraldeído a 2%
por 10 horas; esterilização em autoclave num ciclo de
2600F por 20 minutos e o grupo-controle, que não recebeu qualquer tratamento. O grupo-controle foi estatisticamente diferente dos outros grupos, mostrando melhor
força de adesão.
Miranda et al.13 (1997) utilizando a mesma metodologia e o mesmo sistema adesivo, avaliaram a força
de adesão dentinária em dentes permanentes humanos
esterilizados com o gás óxido de etileno. Não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos.
O gás óxido de etileno foi considerado viável para esterilização dos dentes permanentes.
Groth et al.8 (1999) analisaram o efeito dos seguintes
métodos de esterilização sobre a força de adesão: controle, calor seco, vapor e glutaraldeído. O calor seco diminuiu, significativamente, a força de tensão, enquanto o
glutaraldeído aumentou. O grupo que utilizou o vapor
manteve-se estatisticamente semelhante ao grupo-controle.
Rabello et al.17 (1998) avaliando o efeito da desinfecção cavitária com clorexidina, antes e após o condicionamento com ácido fosfórico, sobre a adesão dentinária,
não verificaram diferença após teste de cisalhamento.
Gurgan et al 9 (1999) avaliaram “in vitro” o efeito
da desinfecção cavitária sobre a adesão à dentina, em
diferentes momentos, verificando que a aplicação antes
ou após o condicionamento ácido reduziu significantemente a resistência ao cisalhamento da resina composta
ao dente. A lavagem da cavidade antes do procedimento
adesivo não afetou a resistência adesiva.
Pimentel16 (1999) estudou a influência da autoclave, do glutaraldeído a 2%, do formol a 10% e do óxido
de etileno sobre a força de adesão à dentina de molares
decíduos e verificaram que nenhum método foi capaz de
alterar significativamente a adesão dentinária. Entretanto, a solução de glutaraldeído provocou alteração na cor
dos dentes.
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Silva MF, Mandarino F, Sassi JF, Menezes M, Centola ALB, Nonaka T. Influência do tipo de armazenamento e do método de desinfecção
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Bocangel et al.3 (2000), avaliaram a influência da desinfecção com NaOCl 2,5%, clorexidina 2%, flúor fosfato acidulado 1,23% e o grupo-controle constatando
que as substâncias não ocasionaram alteração na resistência adesiva do material empregado.
Mendonça et al.11 (2003) avaliaram a resistência coesiva a microtração após 24 horas e 6 meses de armazenamento em água. Os resultados dos testes realizados após
24 horas não mostraram diferenças estatisticamente. Após
6 meses apenas um material mostrou aumento significante na resistência à microtração, enquanto os outros não
sofreram influência da resistência com o tempo.
DISCUSSÃO
É relatada na literatura a dificuldade de padronização
dos testes de resistência adesiva em esmalte e dentina in
vitro, principalmente pelo desconhecimento da história
dos dentes utilizados no experimento (Takemori et al.20
1993). Nesse sentido, Cooley e Dodge4 (1989) observaram que além do tipo de armazenamento e método
de desinfecção, existe forte influência de composição do
material adesivo nos valores de resistência aos diferentes
substratos. Assim Goodis et al.7 (1993) verificaram que
o tempo e tipo de solução utilizada para armazenamento afetam a permeabilidade dentinária, aumentando-a,
representando um importante fator a ser considerado
quando se trata de adesão à dentina.
A maioria dos trabalhos mostrou influência no período de armazenamento nos valores de adesão do material restaurador ao dente (Bianchi et al.2 1991, Cooley e
Dodge4 1989, Goodis et al.6 1991, Goodis et al.7 1993,
Gwinnett e Yu10 1995). Apesar dos estudos de Williams
e Svare22 (1985) e Takemori et al.20 (1993), relatarem que
o tempo de armazenamento mostrou não influir nos resultados de adesão.
Interessante observar que os valores de resistência
adesiva em dentes envelhecidos mostraram-se significantemente superiores(4), apesar de Bianchi et al.2 (1991)
mostrar uma tendência de diminuição destes valores o
tempo de armazenagem.
Titley et al.21 (1998) encontraram os melhores valores
de resistência quando se utilizou o congelamento para
estocagem dos dentes extraídos. Os resultados encontrados por Panighi et al.14 (1997) indicam sua utilização
em teste de adesão à dentina, quando os sítios adesivos
estiverem em camadas dentinárias médias e profundas.
Dentre as substâncias normalmente utilizadas para
estocagem, a água destilada, timol (em diferentes con178
centrações) e solução fisiológica não mostraram influir
na resistência adesiva (Aquilino et al.1 (1987), Williams
e Svare22 1995). Por outro lado, estudo avaliando soluções salinas mostrou que as mesmas, apesar de comumente utilizadas, não são as mais adequadas como meio
de armazenagem para estudos “in vitro” (Goodis7 1993).
Outras soluções como etanol a 70 %, formalina a 10% ,
alteraram a permeabilidade, promovendo a diminuição
da mesma, não sendo preferíveis às anteriormente citadas (Goodis7 1993).
Miranda et al.13 (1997) concluíram em seu estudo
que os métodos de desinfecção testados alteraram a força
de adesão dentinária.
Os métodos de desinfecção óxido de etileno e a autoclave (1210C por 30 minutos) não alteraram a permeabilidade dentinária, (Pashley et al.15 1993). Miranda et
al.13 (1997) , relatam que o gás óxido de etileno é considerado viável para esterilização dos dentes permanentes.
Entretanto, este produto, foi considerado inviável, já
que ,todos os dentes utilizados em seu estudo fraturaram
durante o processo de esterilização (Pimentel16 1999).
Quando utilizados calor seco e glutaraldeído a 2%
diminuíram a adesão (Groth et al.8 1999, Miranda et
al.13 1997).
Com relação à desinfecção realizada antes dos procedimentos adesivos Gurgan et al.9 (1999) , verificaram
que quando este procedimento é feito antes ou após
o condicionamento ácido pode influenciar a adesão.
Quando esta desinfecção é feita com clorexidina não foi
verificada diferença após testes de cisalhamento (Rabelo
e Castro17 1998).
CONCLUSÃO
Após análise dos fatores envolvidos neste estudo, parece-nos lícito concluir que o armazenamento de dentes
extraídos em água destilada ou timol apresentou as menores variações nos valores de resistência adesiva, sendo
que a utilização do congelamento para estocagem mostrou os melhores valores de resistência adesiva.
O uso da autoclave parece ser o método mais confiável na desinfecção dos dentes, não exercendo qualquer
influência nos valores de força adesiva dos dentes.
Futuras investigações são necessárias para avaliar as
mudanças que ocorrem na estrutura dental, tanto em
dentina quanto em esmalte, se estas mudanças são significativas após as várias condições de armazenamento e
desinfecção e se exercem influência significativa sobre a
união ao substrato dentário.
Silva MF, Mandarino F, Sassi JF, Menezes M, Centola ALB, Nonaka T. Influência do tipo de armazenamento e do método de desinfecção
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Recebido em: 21/01/2004
Aceito em: 29/05/2006
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