Para que serve um dentista? ..................................................... Fábio Bibancos* Atualmente e durante todo este século, as políticas públicas insistem em avaliar a saúde bucal contando quantos dentes perdemos em determinado período sem medir quais os impactos que a saúde oral traz à qualidade de vida de cada brasileiro. A cada dez anos o governo brasileiro entrega à sociedade um trabalho que pretende medir a situação da Saúde Bucal dos Brasileiros, usando um índice chamado CPOD, que mede a quantidade de dentes cariados, perdidos e obturados. Este trabalho serve como referência a todos os odontólogos que de alguma maneira conduzirão os caminhos da saúde pública e privada. Baseados na análise quantitativa da doença, e sem rigor técnico, o governo divulgou de forma ufanista os resultados positivos da redução de cárie comparando nosso sorriso ao dos países de primeiro mundo, fazendo parecer uma vitória conquistada. É real a redução de cáries, e todos nós sabemos que as pastas de dentes fluoretadas são as responsáveis por esta feliz redução em todos os países. Porém, tal trabalho leva mais uma vez a classe odontológica e seu ofício a serem entendidos e medidos por uma quantidade de doença adquirida e não por sua real abrangência. É preciso ficar claro que o que deve ser medido é o impacto da qualidade de vida de cada brasileiro e o quanto a saúde oral perfeita torna este indivíduo melhor, mais feliz. -Quantas horas de trabalho perdemos tratando os dentes? -Qual o impacto da saúde bucal na auto-estima do cidadão brasileiro? -Quantos podem realmente sorrir com segurança? -Quantos podem comer bem? Um indivíduo que tem seus dentes mal posicionados e anteriorizados não tem a mesma segurança de sorrir que um outro com um sorriso bem posicionado. Uma pessoa que tem dores de ATM vive num estado de estresse infinitamente superior a aquele que não sente nada, e mesmo o mal hálito, por sua causa, quantas vezes deixou-se de beijar e trocar carinho. Este é o verdadeiro e importante trabalho do cirurgião-dentista na sociedade. Somos nós que poderemos cultivar no indivíduo a semente da medicina preventiva. Está nas mãos do cirurgião-dentista o desenvolvimento da face, dos dentes da oclusão e a harmonia que poderá ser equilibradamente bela e saudável. Isto faz a real diferença. Este artigo foi originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo * Fábio Bibancos é idealizador e coordenador do Projeto Adotei um Sorriso, especializado em Odontopediatria e Ortodontia, mestrando em Odontologia em Saúde Coletiva e autor do livro Um Sorriso Feliz para o seu filho.