“A porta de comunicação da planície poveira para o onduloso território do Baixo Minho, entre o Este e o Ave, faz-se pela chamada Serra de Rates, logo após a freguesia de Rio Mau, modesta elevação xistosa que defende, pelo poente, a venerável e antiga “Vila de Rates”. Ela nasceu e cresceu à sombra do seu mosteiro, de frades bentos, fundado e logo doado pelo Conde D. Henrique, no ano de 1100, ao Priorado cluniacense de Stª Maria da Caridade, em França, e do qual resta a bela Igreja, paradigma do românico em Portugal.” Carlos Alberto Ferreira de Almeida Núcleo Museológico da Igreja Românica de S. Pedro de Rates Largo Conde D. Henrique 4570 – 411 Rates, Póvoa de Varzim T: 252 957 034 E: [email protected] Horário de abertura: 09:30 — 12:30 / 14:00 — 17:30 Encerrado à segunda-feira, domingo e feriados. Marcação de visitas guidadas: Museu Municipal da Póvoa de Varzim Rua Visconde de Azevedo, n.º 17. 4490 – 589 Póvoa de Varzim. T: 252 090002 / F: 252 090012 E: [email protected] Guia do Visitante Igreja Românica de S. Pedro de Rates Origens da Igreja e do Mosteiro O estudo cronológico de Rates passa, em boa parte, pela prévia inteligibilidade do fenómeno arquitectónico. Revive-se a obra realizada pelo Conde D. Henrique e D. Teresa a partir de 1100, data da doação aos monges franceses de La Charité-surLoire. A certeza de uma construção de razoáveis dimensões do período pré-românico ficou definitivamente confirmada nas escavações arqueológicas de 1997-98. Ao mesmo tempo o Conde D. Henrique cout- Pormenor do interior da Igreja antes da intervenção da DGEMN, com o brasão da família Sousa pintado. ou a terra ao Mosteiro, privilegiando-lhe as justiças, e o Rei Afonso I obsequiou-o com pingues rendas no Além-Douro. Rates tornou-se um centro viário importante, na idade média, sobre a estrada do Porto - Barcelos - Ponte de Lima - Galiza, por onde passaram figuras de relevo na cultura e na política. Nela se realizava uma feira e a “Medida de Rates” era a adoptada por todo o Baixo Minho. Havia, igualmente, aí uma leprosaria. No séc. XVI o mosteiro foi extinto e as suas rendas entregues à Ordem de Cristo. A transacção deu-se pela morte do último prior João de Sousa, e coube a um dos seus filhos, Tomé de Sousa, primeiro Governador do Brasil, a ostentar o título de primeiro Comendador de Rates. Ao seu primeiro foral, hoje desaparecido, faz-se alusão no primeiro foral de V. N. de Famalicão, dado por D. Sancho I em 1205. No tempo de D. Manuel o foral velho foi reformado e actualizado na data de 4 de Setembro de 1517. Tanto o Julgado, com Página do Foral de Rates, 1517 os seus tabeliães, como o Concelho, com seus escrivães, porteiros, quadrilheiros, etc., foram extintos pela reforma liberal, em 1836. A Vila foi reduzida a freguesia e incorporada no concelho de Póvoa de Varzim e o julgado na Comarca de Vila do Conde. Apesar disso, Rates guarda ainda, os símbolos da independência autárquica: a Casa da Câmara; o Pelourinho; a Praça da Vila e a rua Direita que conduzia o forasteiro, do Padrão à entrada da Vila, até à praça. Por decreto de 9/6/1993 foi restituído a Rates o título de Vila. Arqueologia na área envolvente da Igreja Lenda de São Pedro de Rates Muito embora a arquitectura e a História da Igreja tenha sido amplamente estudada, nunca haviam sido realizados trabalhos arqueológicos que permitissem decifrar um pouco os primórdios do povoamento na freguesia de Rates e as verdadeiras origens da própria Igreja e Mosteiro. Em 1997 iniciaram-se os trabalhos de escavação no terreno a Sul da Igreja, para onde se supunha estender-se o claustro do primitivo convento, o que nos permitiu recolher um conjunto precioso de informações sobre as origens da ocupação do local, práticas funerárias e ainda um impressionante volume de fragmentos de cerâmica, vidros e outros materiais, de uso doméstico ou religioso, tegula, imbrex, telha e tijoleira indicando claramente a existência de uma intensa ocupação do local. A cronologia de todos estes materiais prolonga-se desde o séc. VI – VII até ao séc. XX, estando bem forte a presença de materiais dos séculos XII a XVIII. São Pedro de Rates foi, segundo a “legenda” que conhecemos desde inícios do século XVI, um judeu convertido pelo apóstolo S. Tiago, e por ele sagrado como primeiro arcebispo de Braga, tornando assim esta capital na primeira (Primaz) arquidiocese cristã da Península Ibérica, título igualmente reivindicado por Toledo. A existência deste bispo mártir do século I d. C., permitiu vincar a importância e antiguidade de Braga, como diocese e atestar a lógica da independência de Portugal, país cuja origem se prende a esta região do Noroeste Peninsular, que se encontrava sob o domínio da grande Bracara Augusta. Em 1508 é introduzido no Breviário Bracarense, por D. Diogo de Sousa e, em 1552, os seus restos mortais venerados na Igreja de Rates foram transferidos para Braga. Foi portanto natural que o seu culto se propagasse, descobrindo- Alicerces do templo pré-românico. Sepultura em lajes de xisto, séc. XII-XIV. A mais notável peça descoberta no decurso dos trabalhos arqueológicos foi a estela romana, com nítidas influências castrejas e reutilizada em época paleocristã. Encontrada em frente ao portal principal da Igreja, foi reutilizada mais uma vez, desta feita, como pedra lateral de uma sepultura. Estela funerária romana, reaproveitada em época posterior, séc. I / IV-V. Busto relicário de S. Pedro de Rates. proveniente do Solar de Borgonha, Ponte de Lima, séc XVIII. S. Pedro de Rates, gravura do séc XVIII. se imagens e relicários deste santo em muitas igrejas e capelas do Norte. Segundo a antiga tradição, que defende que S. Tiago apóstolo, veio pregar à Península Ibérica cerca do ano 37, este deslocou-se a Braga, onde viviam grande número de judeus, que converteu. Nesta cidade foi visitar “uma sepultura célebre, onde jazia enterrado de seiscentos anos um Santo Profeta Judeu de Nação, e que ali viera dar com outros cativos mandados da Babilónia por Nabucodonosor, chamado Malachias ou Samuel. Baptizou-o e dando-lhe o nome de Pedro, o escolheu e tomou por primeiro e principal de todos os seus discípulos. S. Pedro, tendo curado da lepra a filha do Governador de Braga, converteu-a e à sua mãe ao cristianismo. A jovem “a sua virtude a consagrou por voto ao seu criador”. O pai, zangado com este facto, mandou que matassem S. Pedro, o qual avisado, se viu obrigado a fugir. Os soldados romanos indo em sua perseguição foram encontrálo “no lugar que hoje chamam Rates, quatro léguas de Braga, onde já havia uma população de Cristãos e Igreja. E ali, diante do altar, onde o acharam de joelhos foi executado o seu martírio.