A EDUCAÇÃO ESTÉTICA E A INCLUSÃO DOS INDIVÍDUOS ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO DA REALIDADE SOCIAL Victor Hugo de Oliveira Pinto Universidade Federal Fluminense [email protected] (Mestrando em educação) RESUMO O presente trabalho tem como finalidade elucidar uma prática que pode contribuir para o processo de emancipação da consciência dos alunos. A educação estética tem por finalidade educar os sentidos das pessoas, de modo a despertar a sensibilidade e desenvolver a criatividade das pessoas. Em um mundo dominado por imagens, propagandas, publicidades e etc. qual seria o papel que a educação estética poderia ocupar na formação humana? Esse trabalho é fruto de um estudo sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes bem como sobre as ideias de Herbert Read para depois fazermos uma análise de como o ensino de artes pode ser u instrumento emancipador da consciência através do desenvolvimento da criatividade. ABSTRACT This study aims to elucidate a practice that can contribute to the process of emancipation of consciousness of students. The aesthetic education aims to educate people's senses in order to arouse sensitivity and develop people's creativity. In a world dominated by images, advertisements, advertising, etc. what would be the role that aesthetic education could take in human development? This work is the result of a study on the Curriculum Standards National as well as the ideas of Herbert Read Arts and then do an analysis of how arts education can be u emancipatory tool of consciousness through the development of creativity. INTRODUÇÃO O presente trabalho parte de uma indagação. Qual é o papel que a disciplina de educação artística ocupa hoje nas escolas regulares? A partir dessa indagação muitos debates surgem, objetivando ter uma resposta mais concisa sobre essa resposta, faço uma breve análise sobre o currículo dessa disciplina e sua aplicação nas escolas. A partir desse mapeamento faço uma análise do processo de desenvolvimento da criatividade através da relação entre o espectador e a obra de arte a partir da mediação cultural entre alunos e a obra de arte. A educação dos sentidos e o desenvolvimento do pensamento através da imagem, na concepção de Herbert Read, é fundamental para a construção de uma sociedade melhor. A arte se constitui como o instrumento de comunicação mais antigo já criado pelo homem, a arte, muito mais do que um instrumento meramente decorativo, está presente em tudo o que cerca a nossa vida, desde a nossa capacidade perceptiva até a nossa expressividade concretizada em desenhos, pinturas, esculturas, poemas e etc. Com base nesse papel que a arte ocupa na história cultural da humanidade, faço uma análise dos currículos das escolas regulares de ensino fundamental e um levantamento de possibilidades que a arte pode oferecer para o desenvolvimento da consciência crítica dos alunos. A criatividade tem um papel fundamental para a construção da autonomia e criticidade de cada um. Trata-se de enxergar a arte como uma linguagem fundamental para o desenvolvimento da capacidade cognitiva das pessoas. A partir desse estudo, e do objetivo de elucidar a educação estética como um instrumento capaz de elucidar alternativas para o desenvolvimento cognitivo para além dos mecanismos tradicionais, justifica-se esse trabalho ser apresentado no Grupo de Trabalho 9 (GT-9) referente ao tema: instituições, processos educativos e políticas públicas. Esse trabalho se trata de uma análise de um processo de ensino aprendizagem e de uma análise curricular do ensino de artes nas escolas que, por sua vez, é uma política pública. METODOLOGIA O trabalho parte de uma análise sobre os fundamentos da educação estética, a partir dessa análise, busca-se fazer uma análise do entendimento filosófico que embasa a necessidade da educação estética do homem e a sua importância para o desenvolvimento da cognição humana. Para essa análise recorro à autores que fazem alusões a importância da educação estética do homem e a compreensão universal da arte como um elemento fundamental para a compreensão de si mesmo. O ponto de partida é o resgate da concepção de educação a partir de Platão, que considerava a arte como sendo de fundamental importância para a formação dos indivíduos, que é levantada por autores como Friedrich Schiller e Herbert Read. Em seguida trata-se a importância da arte para a consciência dos indivíduos em Ernst Fischer, Néstor Garcia Canclini. A partir das considerações desses autores se faz uma abordagem da obra de ate como uma linguagem, entendida como linguagem visual, para isso, fundamenta-se nas Ideias de Lev Semenovich Vygotsky. Fundamentada a importância das artes para o homem em uma perspectiva filosófica do assunto, segue-se adiante com a análise da prática do ensino e artes nas escolas e a sua validade enquanto uma disciplina que produz conhecimento. A partir dessa premissa, prossegue-se com a análise do currículo dessa disciplina a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de arte, e sua aplicação a partir de uma leitura dos autores anteriormente citados. Essa exposição tem por objetivo mostrar a educação estética como um instrumento capaz de desenvolver os alunos de uma maneira diferenciada e como uma alternativa ao tradicional processo de ensino aprendizagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO A estética, em seu significado original vem da língua grega, aisthésis, e quer dizer percepção, sensação, sensibilidade, trata-se de um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se do sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo. Portanto, a educação estética tem por objetivo educar os sentidos para o desenvolvimento da sensibilidade humana, função que é de primordial importância para o desenvolvimento da humanidade das pessoas e possibilitar que se tornem seres humanos melhores na medida em que desenvolvem a sua sensibilidade. Além do desenvolvimento das nossas faculdades, a obra estética auxilia o desenvolvimento da nossa identidade através dos signos que nos identificamos durante o processo de fruição, para Vygotsky (2008) [...] “La primera fórmula de psicología del arte, y la más extendida, se remonta a W. Von Humboldt y define el arte como percepción. Potebnia la adoptó como postulado de base para una serie de investigaciones. Em versión modificada, se assemeja a esa teoría, tan a menudo expresada, que nos llega de la antigüedad y que dice que el arte es la percepción de la sabiduría y que sus principales tareas son enseñar e instruir. Uno de los postulados fundamentales de esta teoría es la annalogía entre la actividad y la evo lución del lenguage y del arte. El sistema psicológico de la filología ha mostrado que la palavra se divide en tres elementos constituyentes: el sonido, o forma externa; la imagen, o forma interna; y el sentido, o significado.” [...] (p. 52) A partir dessa consideração, devemos levar em conta que a imagem constitui um elemento primordial do pensamento humano, posto que é a base que auxilia a formação de uma ideia. A imagem, muitas vezes precede a ideia, do mesmo modo a imagem é uma síntese de ideias, em uma relação dialética. Construímos imagens a partir da nossa capacidade de sintetizar nossas ideias e experiências, dessa síntese resulta um símbolo que representa as subjetividades de um indivíduo ou de uma comunidade. Quando o homem não tinha construído a escrita, a imagem ocupava o papel de comunicação entre os homens, a escrita foi a síntese de todos esses símbolos, agora convertidos em códigos e idiomas. A arte, como instrumento interno do pensamento, é responsável pelo engenho e pelo desenvolvimento da nossa criatividade. O que nos torna seres culturais, distintos dos demais seres vivos é a capacidade que temos de nos expressar e essa capacidade expressiva resulta na construção de identidades e culturas que, por sua vez, se manifestam nas obras de arte. O contato com a obra de arte pode possibilitar aos indivíduos ter acesso a diferentes culturas, mas, muito mais do que o acesso, é de extrema importância, reconhecer contato com a arte, em suas mais variadas manifestações, constituem um elemento indispensável para a educação dos nossos sentidos e desenvolvimento da nossa sensibilidade. A partir desse fator, os indivíduos tem a possibilidade de ressignificar os seus espaços, suas maneiras de pensar, de se perceber, de desacomodar valores e princípios que estavam acomodados a partir do processo de descondicionamento trazido pelo contato com a arte e o fazer artístico que desacomoda e através do estranhamento com a imagem, trazido pelo processo de fruição, a experiência poética trazida pelo contato com a obra apresenta, também a possibilidade de reinvenção da linguagem e ressignificação dos espaços. Somos afetados pelo que existe ao nosso entorno, afetados pela vida, e a partir desse acontecimento, involuntário e inerente à nossa sensibilidade, de modo que [...] “Uma necessidade fora de nós determina nosso estado e nossa existência no tempo através da impressão sensível. Esta é inteiramente involuntária, recebemo -la passivamente segundo a maneira pela qual somos afetados. Da mesma forma uma necessidade em nós revela nossa personalidade por ocasião daquela impressão sensível e por oposição a ela; pois a autoconsciência não pode depender da vontade, que a pressupõe. Esta anunciação originária da personalidade não é mérito nosso, nem falha nossa a sua ausência. Somente daquele que é consciente pode-se exigir razão, isto é, consequência absoluta e universalidade da consciência; antes disto ele não é homem e nenhum ato de humanidade pode ser esperado dele. Assim como o metafísico não sabe explicar as limitações que o espírito livre e autônomo sofre mediante a sensibilidade, da mesma forma o físico não pode compreender a infinitude que revela na personalidade por ocasião dessas limitações. Nem abstração nem experiência conduzem-nos de volta à fonte de onde provém nossos conceitos de universalidade e necessidade.” [...] (SCHILLER, 2002, p. 98) Desse modo, somos levados a uma compreensão singular das coisas, e é nesse aspecto que a nossa particularidade contribui para a universalidade, a totalidade que nos cerca. Por isso [...] “Enquanto não determinamos um lugar no espaço não existe espaço para nós; sem o espaço absoluto, contudo, não determinamos o lugar. O mesmo dá-se com o tempo. Enquanto não temos um lugar. O mesmo dá-se com o tempo. Enquanto não temos o instante não há tempo para nós; sem o tempo eterno, contudo, não teríamos a representação do instante. É somente pela parte que chegamos ao todo, somente pelos limites que chegamos ao ilimitado, somente pelo ilimitado chegamos ao limite. Quando, portanto, afirmamos que o belo permite ao homem uma passagem da sensação ao pensamento, isso não deve ser entendido como se o belo preenchesse o abismo que separa a sensação do pensamento, a passividade da ação; este abismo é infinito, e sem interferência de uma faculdade nova e autônoma é eternamente impossível que do individual surja algo universal, que do contingente surja o necessário. O pensamento é a ação imediata dessa faculdade absoluta, que tem de ser levada a manifestar-se mediante os sentidos.” [...] (ibidem, p. 96) Portanto, a sensibilidade é resultante da nossa manifestação singular diante do mundo e de como somos afetados pela realidade. É a partir dessa capacidade expressiva que desenvolvemos os nossos valores, princípios, crenças, e compartilhamos aquilo que formulamos em nosso juízo em sua acepção Kantiana, e é a partir desse compartilhamento de tudo o que constituímos como valores que constituímos esses mesmos como patrimônios que se tornam universais uma vez que esses valores que se manifestam nas nossas identidades, que se manifestam nas diferentes e variadas maneiras de expressão humana são capazes de fazer com que cada indivíduo, por mais distinto que seja da expressão que foi construída e manifesta, se identifique de alguma maneira com o que foi expresso em uma obra, em uma música, pois se trata de algo que é inerente a nossa humanidade. Expressamos a nossa humanidade ao falar, ao sentir, são faculdades inerentes a todos os indivíduos, da mesma forma temos a capacidade de observar e apreciar algo e de reagirmos perante ao que percebemos, eis também uma outra faculdade inerente a todos, a universalidade de uma obra, de uma expressão está justamente no fato de essa ser capaz de suscitar capacidades, sentimentos e valores que são comuns a todos os diferentes indivíduos, porque em sua manifestação comunica algo que é comum entre todos. A partir do momento que temos contato com a obra de arte, com a sensibilidade do outro podemos perceber aquilo que temos como virtude e o que nos falta, podemos perceber o que temos como valores e o que temos como perdas. Sendo assim a obra de arte, mesmo desprovida de qualquer engajamento, de qualquer vínculo publicitário, pela simples catarse, pode ser um elemento capaz de purgar moralmente a nossa humanidade em todos os seus aspectos. Em um mundo coisificado pela sua invenção tecnológica “Num mundo alienado onde apenas coisas têm valor o homem tornou-se um objeto entre os objetos: ele é, até, na aparência, o mais impotente, o mais desprezível de todos os objetos” (FISCHER, 1963, p. 101) No cerne de um mundo cada vez mais envolvido pela tecnologia, cada vez mais integrado, a arte ocupa um papel de grande importância na formação dos indivíduos na medida que educa a sua sensibilidade e possibilita que, através do desenvolvimento da percepção os indivíduos possam desenvolver a sua personalidade. Nesse sentido, a educação estética pode produzir uma mudança qualitativa nas pessoas, portanto, para tal melhoria no desenvolvimento humano é necessário uma reformulação no sistema educacional, entretanto o sentido dessa mudança deve ser compreendido que existe um caráter implícito nessa transformação educacional cujo [...] “O objetivo de uma reforma do sistema educacional não é produzir mais obras de arte, mas pessoas e sociedades melhores [...] essa atividade artística das crianças pode ser o início de uma reforma mais ampla. “A partir do momento em que os poderes criativos são liberados em uma certa direção que, neste caso particular e como demonstraram nossas investigações, são totalmente pecu liares ao mundo dos jovens; a partir do momento em que os grilhões da passividade da escola são rompidos, u ma espécie de libertação íntima, o despertar de uma atividade mais elevada, em geral acontece.” [...] (READ, 2013, p. 63, 64) A arte, muito mais do que um ornamento estético, trata-se de um elemento que está presente na nossa vida como um elemento primordial para o desempenho das nossas faculdades e faz com que sejamos capazes de sermos eficientes e criativos em todos os sentidos, ainda aponta Read (2013) [...] “Todas as faculdades do pensamento, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, são inerentes a esses processos, e nenhum aspecto da educação está ausente deles. E são todos processos que envolvem a arte, pois esta nada mais é que a boa produção de sons, imagens etc. Portanto, o objetivo da educação é a formação de artistas – pessoas eficientes nos vários modos de expressão”. [...] (Ibidem, p. 12) Com esse tipo de premissa, a proposta da educação estética, mesmo sem um viés político declarado, acaba por assumir, tacitamente um caráter político de trazer um pouco de humanidade através do desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos em uma época em que os homens são castrados da sua humanidade mediante um sistema produtivo que transforma o homem e a vida em metas de produção. “Num mundo onde a concentração de poder é tão grande e onde o aparelho de poder é tão obscuro, muitas pessoas sentem-se inclinadas a acreditar que a sua decisão pessoal não conta e capitulam” (FISCHER, 1963, p. 237), esse mundo marcado pela indiferença, onde [...] “Um anonimato demoníaco envolve todas as coisas. Os nomes abreviados das grandes firmas e das grandes organizações causam o efeito de hieróglifos utilizados por uma potência misteriosa. O indivíduo vê-se perante enormes máquinas, incompreensíveis e impessoais, cuja força e dimensão enchem do sentimento da sua própria impotência. Quem decide? Quem é responsável? Para quem nos devemos voltar a fim de encontrar justiça e socorro?” [...] (FISCHER, 1963, P. 94, 95) Não se deve atribuir um papel messiânico para a arte, mas na medida em que as pessoas tomam conta de que são elas, através do seu trabalho, que constroem a realidade, que são elas que constituem a força motriz de todo o sistema que gerencia as suas vidas, trazer essa consciência implica uma ação política diametralmente oposta as estratégias de poder vigentes. Portanto, a arte, como uma linguagem que desenvolve os sentidos e significados da nossa humanidade possui um caráter de consciência política de percebermos a nossa realidade, nos percebermos no mundo e o papel que ocupamos no espaço em que existimos e, através dessa percepção, sermos capazs de desenvolvermos a consciência do papel que queremos ocupar, de sermos sujeitos ativos da nossa história ao invés de meros espectadores da realidade. Em relação a educação artística. Qual o papel que ela ocupa hoje nas escolas e qual o papel que pode vir a ocupar? Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) 1) compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; 2) posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; 3) conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; 4) conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; 5) perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identifica ndo seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; 6) desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; 7) conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; 8) utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; 9) saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; 10) questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. Além dessas experiências, o PCN aponta para uma questão importante na medida em que reconhece que [...] “A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. Esta áre a também favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente s ua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático.”[...] (p. 19) A arte é um instrumento de desenvolvimento da cognição humana e capaz de constituir, a partir da percepção o desenvolvimento de experiências criativas, é nesse momento que o ensino de educação artística passa a descondicionar as pessoas, propiciando que elas possam ressignificar a realidade. O problema que se segue como pano de fundo em relação a produção estética está diretamente vinculada à questão política e econômica de que [...] “A ordem social capitalista não admite que quem não possui meios de produ ção decida acerca do sentido e do destino de seus produtos. A condição do artista é semelhante a de todos os trabalhadores: sua força de trabalho não é paga pelo valor qualitativo de sua obra, nem pelo tempo socialmente necessário para produzila, mas segundo a cotação que recebe como mercadoria.” [...] (CANCLINI, 1980, p. 202) A partir desse entendimento sobre essa questão inerente das artes inseridas em um contexto socioeconômico, entendemos que a arte e a produção estética de um determinado período não estão divorciadas dos contextos políticos e econômicos de determinada época. É esse olhar sobre a nossa percepção que nos torna capazes de dar um aspecto político para a realidade que percebemos, de sermos capazes de nos enxergar politicamente no contexto em que existimos. Desse modo, a obra de arte “reelabora os conteúdos extraídos da vida, dando-lhes uma condição que supera o imediatismo e o pragmatismo da cotidianidade. A obra de arte é mediadora entre o indivíduo e a vida.” (DUARTE, In DUARTE, FONTE, 2010, p. 147), sendo assim, a arte ocupa um papel fundamental na ressignificação de quem somos, da nossa vida a partir do momento em que a arte reifica a realidade que nos situamos a partir da sua capacidade de tornar os nossos olhares mais aguçados e, por consequência, mais críticos em relação a realidade em que vivemos. CONCLUSÃO Ao fazer essa análise do ensino de artes e da importância da educação estética, muito mais do que atribuir o desenvolvimento cognitivo ou da personalidade em relação a educação estética, é necessário compreender que a arte também faz parte de um processo de emancipação do ser e das relações sociais em que existe esses ser. Essa concepção não se trata de uma atribuição voluntarista em relação a arte, mas se trata de uma percepção da produção artística como uma ferramenta política e ideológica de superação de uma ordem que está posta. A arte como ressignificação do mundo e da realidade, desse modo, a educação estética pode servir como um instrumento de estímulo à percepção crítica das pessoas e para o desenvolvimento da sua politicidade em relação ao contexto em que está inserida. Tenho notado em seminários e palestras sobre a arte contemporânea um esvaziamento do debate sobre o caráter político da arte, esse esvaziamento é negativo para uma compreensão crítica da cultura e dos valores a partir de uma ótica divorciada da realidade e do contexto político ao qual a obra de arte está inserida e foi produzida. A obra de arte é a síntese de um contexto histórico e cultural e resultante do caráter da sociedade de um determinado contexto. Portanto, a importância da educação estética é singular não apenas na educação dos sentidos e desenvolvimento cognitivo ou criativo, mas essencial para o desenvolvimento da nossa sensibilidade, e da possibilidade de nos desenvolvermos como pessoas mais solidárias, tolerantes, sensíveis e capazes de compreender e respeitar a diversidade do mundo e das variadas culturas existentes. Logo a arte pode ser um elemento de emancipação da humanidade a partir do momento que ela traz a consciência da nossa humanidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASÍLIA, Parâmetros Curriculares Nacionais, Artes, Ministério da educação, 1997 CANCLINI, Néstor Garcia, A socialização da Arte, Editora Cultrix, São Paulo, SP, 1980 DUARTE, Newton, Arte e formação humana em Vigotski e Lukács, In. DUARTE, Newton, FONTE, Sandra Soares Della, Arte, conhecimento e paixão na formação humana, sete ensaios de uma pedagogia histórico crítica. Editora Autores Associados, Campinas, São Paulo, SP FISCHER, Ernst, A necessidade da arte, Editora Ulissea, Lisboa, Portugal, 1963. READ, Herbert, A educação pela Arte, tradução de Valter Lellis Siqueira, editora Martins Fontes, São Paulo, SP, 2013 SCHILLER, Friedrich, A educação estética do homem, tradução de Roberto Schwarz e Márcio Suzuki, 4ª edição, editora Iluminuras, São Paulo, SP, 2002 VYGOTSKY, Lev Semenovich, Psicología del arte, Tradução de Carles Roche, Editora Paidós, Buenos Aires, Argentina, 2008