Metaprojeto: a dialética entre a
pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
Metadesign: the dialectic between the contextual research and the blue sky research
Fillmann, Carolina; Mestranda, Unisinos.
[email protected]
Franzato, Carlo; Doutor, Unisinos.
[email protected]
Resumo
O metaprojeto é uma abordagem projetual focada no desenvolvimento de conhecimento
específico para enfrentar uma situação problemática complexa. Nas primeiras fases de um
processo metaprojetual são realizados especialmente dois tipos de pesquisa: a “pesquisa
contextual” visa compreender as peculiaridades da situação, enquanto a “pesquisa blue sky”
visa mapear referências e inspirações projetuais. Com o objetivo de analisar as características
dessas pesquisas e suas contribuições para o projeto, o artigo estuda o caso de um metaprojeto
realizado para desenvolver as estratégias de uma empresa manufatureira. Como resultado,
aponta para a relação dialética entre as duas pesquisas, demonstrando a sua
complementaridade.
Palavras Chave: design, metaprojeto; pesquisa contextual; pesquisa blue sky.
Abstract
The metadesign is a projectual approach focused on the development of specific knowledge to
tackle a complex problematic situation. In the early stages of a process are performed
metaprojetual especially two types of research: the "contextual research" aims to understand
the peculiarities of the situation, while the "blue sky research" aims to map references and
inspirations projective. In order to analyze the characteristics of these studies and their
contribution to the project, this paper studies the case of a metadesign conducted to develop
strategies for a manufacturing company. As a result, points to the dialectical relationship
between the two surveys, showing their complementarity.
Key words: design, metadesign; contextual research; blue sky reseach.
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
Introdução
O metaprojeto busca estabelecer as qualidades do problema que se pretende resolver,
despontando como suporte de reflexão na elaboração dos conteúdos da pesquisa projetual
(MORAES, 2010). Para tanto, visa à análise de contextos internos e externos de uma
empresa. Para isso, é organizado em duas partes: uma de pesquisa e uma de construção de
cenários e de visões, que correspondem, respectivamente, a duas pesquisas denominadas de
“pesquisa contextual” e “pesquisa blue sky” (DESERTI, 2007; MORAES, 2010).
A proposta deste artigo é compreender melhor cada uma dessas pesquisas, perceber
suas contribuições para o processo de projeto e entender a relação dialética entre elas. Para
isso, estuda o caso de um workshop de metaprojeto orientado à definição de novas estratégias
de distribuição e venda de uma empresa de termomoldados plásticos. A experiência foi
desenvolvida paralelamente por diversas equipes de designers, permitindo confrontar diversas
interpretações práticas do metaprojeto, das pesquisas contextual e blue sky e das ferramentas
mais usadas durante o seu desenvolvimento.
Com isso, pretende-se chegar a uma conclusão que exponha a relação entre as duas
pesquisas e revise a importância do metaprojeto na atuação estratégica de desenvolvimento de
projeto de design, mostrando o quanto podem ser complementares e estimulantes essas
informações, contribuindo como um dos grandes diferenciais estratégicos do design.
1. Metaprojeto
Para que o design seja explorado em sua potencialidade é preciso utilizar-se da
abordagem metaprojetual, que fornece ao processo de projeto um guia com um articulado e
complexo sistema de conhecimentos prévios. Ou seja, o metaprojeto busca fornecer
referências teóricas de suporte e instrumentos e técnicas úteis na rotina do profissional de
design ou da empresa direcionada ao design.
Trata-se de uma reflexão crítica e reflexiva prelimininar sobre o próprio projeto a
partir de um pressuposto cenário em que se destacam os fatores produtivos,
tecnológicos, mercadológicos, materiais, ambientais, socioculturais e estéticoformais, tendo como base análises e reflexões anteriomente realizadas antes da fase
de projeto, por meio de prévios e estratégicos recolhimentos de dados (MORAES,
2010, p. 25).
O foco no processo que antecipa o projeto se apresenta como o diferencial da visão
estratégica do design, pois faz com que o designer passe a participar da idealização e
programação de sistemas-produto e pesquisas que abrangem outras dimensões do objeto a ser
projetado. Assim, o metaprojeto contribui para o aprimoramento dos processos que levam à
concretização de projetos, pois ao se fazer uma investigação mais profunda dos elementos e
das pessoas envolvidas, pode levar a ideias inovadoras de contato com o consumidor.
O metaprojeto busca, dessa forma, estabelecer as dimensões e as qualidades do
problema que se pretende resolver. Para tanto, visa à análise de contextos internos e externos
da empresa, bem como as suas motivações quanto aos conceitos de mudança (CELASCHI,
2007). Constrói modelos que sintetizam a realidade, avaliando questões determinantes para a
etapa de projeto.
[...] Se destaca como disciplina que auxilia o projeto também no âmbito dos
conteúdos imateriais ao considerar a comunicabilidade, a interface, a cognição, o
valor de estima e o de afeto, o valor e a qualidade percebida e se coloca ainda como
mediador na definição do significado do produto (conceito) e da sua significância
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
(valor). O metaprojeto, por seu caráter analítico e reflexivo, se afirma, portanto,
como disciplina que se propõe a unir os aspectos objetivos e subjetivos, primários e
secundários, principais e derivados, materiais e imateriais de produtos e serviços
(MORAES, 2010, p. 26).
Assim, o metaprojeto consiste em uma plataforma de conhecimento que sustenta e
orienta a atividade projetual. Deserti (2007) complementa que o metaprojeto configura-se em
um sistema de informações úteis para direcionar as escolhas que devem ser feitas na fase de
projeto. “O metaprojeto é assim delineado como uma atividade transdisciplinar embasada na
pesquisa e tensionada para dentro do projeto, que perpassa as diversas fases do processo”
(FRANZATO, 2011, p. 51).
Para Deserti e Celaschi (2007), o designer, ao participar do metaprojeto, se insere em
um ambiente sistêmico. Nesse ambiente, as inovações surgirão da interação entre todas as
áreas de uma empresa e da análise de recursos econômicos, tecnológicos, gerenciais e
humanos, o que permite uma análise de dados do contexto interno e externo da organização,
além de informações extraídas fora do contexto do problema. As informações de contexto da
empresa compõem a pesquisa contextual, e as informações de fora do contexto constituem a
denominada pesquisa blue sky. Na figura 1 pode ser essa divisão previstas pelos autores.
Fig. 1 – Etapas do processo de metaprojeto (elaboração dos autores a partir de CELASCHI, DESERTI, 2007).
A pesquisa contextual é onde o design busca elementos ligados diretamente ao
problema de projeto que está tentando solucionar, como materiais, especificações técnicas e
informações de mercado (SCALETSKY, 2010). Ela foca no contexto particular da empresa,
na sua oferta e na sua atuação competitiva, observando, também, o comportamento do
produto no mercado. Tem por objetivo interpretar os vínculos do contexto empresarial,
levando o designer a compreender os limites do projeto a ser executado. Por definição,
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
abrange três grupos principais de análise, que são os grupos da empresa, dos usuários e do
mercado.
A pesquisa blue sky configura um sistema de informações que apoia o direcionamento
da criatividade e identifica tendências coerentes aos objetivos projetuais. Seus apontamentos
servem de estímulos para analogias que indicarão a construção de respostas ao problema de
design (SCALETSKY, PARODE, 2008). Serve ainda de análise de tendências, e deve
fornecer um repertório de sugestões, tendências e trajetórias de inovações para orientar as
atividades de projeto. Seus estímulos possibilitam construir os cenários de atuação de uma
empresa e seus produtos, que poderão refletir no tipo de processo a ser adotado
Em linhas gerais, a pesquisa blue sky busca exemplos e estímulos (nos mais variados
formatos), a fim de, por transferências através de raciocínios analógicos, obter-se
indicativos para a construção de cenários para a construção de respostas a um
problema de design (SCALETSKY, 2010, p. 1137).
Esses dois tipos de pesquisa fornecem informações que devem ser organizadas e
interpretadas, gerando algumas metatendências e uma base de dados. Esses caminhos se
organizam em forma de cenários, que definem uma série de trajetórias de inovação
intercalando os dados da pesquisa com algumas constantes do comportamento. Isso gera a
construção de visões, quando opera-se escolhas com cenários e com seus potenciais
contraditórios, construindo-se algumas visões que devem ser empregadas como instrumento
de estímulo e orientação das escolhas na meta final ao conceitos projetuais design.
Os cenários são instrumentos relevantes do metaprojeto porque ajudam a dar sentido
aos dados que surgem durante o processo de projeto, ao passo que realçam tendências
pertinentes. Segundo Van Der Heijden, “[...] os cenários proporcionam ao planejador de
negócios um meio flexível para juntar dados díspares em quadros holísticos do futuro,
promovendo o contexto e o significado dos acontecimentos possíveis” (2004, p. 101). Tratamse, portanto, de atividades que dão luz sobre o pensamento existente a respeito de um
planejamento e buscam caminhos inovadores ao mesmo tempo que devem fazer a diferença
no contexto atual.
Os cenários funcionam na área das grandes questões estratégicas, onde cada decisão
acontece como um evento isolado. A incerteza estrutural significa que o desenvolvimento no
ambiente pode ser explicado de mais de uma forma, que existem múltiplas estruturas de causa
e efeito diferentes. Ou seja, o futuro parece diferente dependendo de qual estrutura adotada.
“O tomador de decisões precisará confrontar futuros múltiplos e considerar todos igualmente
plausíveis” (ib., p. 126).
Pela possibilidade de formar cenários capazes de delinear o futuro e auxiliar a empresa
na tomada estratégica de alguma decisão, a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky se
mostram tão importantes. Com as informações apontadas por essas duas frentes, é possível se
criar visões de futuro que embasam as alternativas para os negócios.
Nesse ínterim, uma das ferramentas utilizadas para se tratar dos conceitos apontados
pelo metaprojeto é o workshop. A sua realização procura, em um curto período de tempo
gerar múltiplos conceitos de projeto. “Um workshop é um momento de imersão criativa, de
lançamento de ideias que busca, através de técnicas variadas, conduzir a formulação de
cenários de projeto, criação de conceitos ou mesmo a proposição das primeiras ideias
concretas que respondem ao brief”, (SCALETSKY, 2008, p. 1135).
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
2. Método de pesquisa
Para a construção desse artigo, utilizou-se como estratégia de pesquisa o estudo de
caso, que se caracteriza por ser um estudo profundo de um objeto, de maneira a permitir o seu
conhecimento detalhado. É um estudo empírico que investiga um fenômeno dentro do seu
contexto de realidade, para o qual são utilizadas várias fontes de evidência.
O caso escolhido é o da empresa JOMO Thermomolding, que com 30 anos de
mercado sempre destinou seus produtos para a venda para empresas, mas que como estratégia
de reposicionamento pretende ampliar sua especialidade de produção e vender direto para o
consumidor final.
O caso JOMO se mostra apropriado porque nele o design assume o papel estratégico
de definição para a empresa. Por isso, a partir dele, serão analisados elementos resultantes do
workshop que dizem respeito a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky, onde os dados são
obtidos a partir dos levantamento de pesquisa feitos por cada grupo participante da dinâmica.
3. Experiência projetual
A empresa JOMO é de origem alemã. Fica situada na cidade de Novo Hamburgo
(RS), e possui unidades fabris na Alemanha e na Romênia. É especializada na produção de
peças termomoldadas para indústria de calçados, vestuário, embalagens, berços e construção
civil.
Desde o início de sua atuação, a empresa posicionou-se como fornecedora para a
indústria. Mas, pretende mudar seu posicionamento, aumentando a especialidade de seus
produtos e passando a vender, também, para o consumidor final.
Dentro desse ideal, em 2010, a JOMO entrou em contato com a Escola de Design da
Unisinos, firmando uma parceria para o desenvolvimento de novas soluções. A demanda
exigiria não apenas novos produtos, mas sim uma solução mais ampla focada nos serviços, na
comunicação e experiências que passaria a oferecer a seus consumidores.
Resultado dessas informações, originou-se um briefing, caracterizado na seguinte frase
síntese: Como criar estratégias de distribuição e venda para os novos produtos da JOMO,
levando a empresa para a relação direta com o consumidor, projetando um conceito inovador
de pontos-de-venda, considerados como ambientes síntese do sistema produto-serviço.
Para a realização do workshop para o projeto em questão, dividiu-se os participantes
em quatro grandes grupos que trabalharam de forma concorrente sobre o briefing. As
discussões aconteceram durante dez encontros, quando os grupos puderam elaborar as
pesquisas e chegar aos cenários e conceitos apresentados em tempo hábil. Um breve resumo
da ação de cada grupo será apresentado para contextualizar suas escolhas.
O Grupo 1 organizou sua metodologia de trabalho focado no modelo de negócio da
empresa JOMO, restringindo suas pesquisas metaprojetuais com este foco. O grupo deu
ênfase a pesquisa blue sky e orientou seu desenvolvimento no estudo e análise do público
consumidor, para entender as necessidades de negócios a partir do usuário.
O Grupo 2 direcionou seus esforços para o comportamento do produto nos canais de
venda. Teve como foco de seus resultados produtos com funcionalidade e praticidade,
vendidos principalmente pela internet.
O Grupo 3 também passou pelas etapas de metaprojeto e diferenciou-se dos demais
por aplicar uma pesquisa online com um grupo de consumidores.
O Grupo 4 buscou, como diferencial, uma ampla pesquisa de pontos de venda e
distribuição dos produtos no mercado, analisando as grandes empresas nacionais e
internacionais em segmentos próximos ao da JOMO.
A geração dos cenários e conceitos foi o principal ponto apontado pelas pesquisas.
Contudo, para se chegar até eles, muitas informações foram levantadas e discutidas entre os
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
grupos. O primeiro ponto em comum definido foi o de que, ao invés de pensarem em pontos
de venda, como explícito no briefing, desenvolveriam suas ações pensando em canais de
venda, o que abrangeria os espaços de compra tanto virtuais como reais.
3.1. Pesquisa contextual
Os quatro grupos que trabalharam no workshop desenvolveram a pesquisa contextual.
De comum a todos estava a busca pela melhor compreensão da empresa JOMO, sua atuação
no mercado gaúcho e brasileiro, seus principais diferenciais, pontos fracos e fortes.
A condução da pesquisa contextual foi marcada por muitos pontos comuns, como
pode ser conferido na tabela a seguir.
Tabela 1 – Tabela de análise sinótica das pesquisas contextuais realizadas pelos grupos
N°
Informações
Análise
Outros aspectos
Grupo concorrentes
público-alvo
enfrentados
01
Análise dos
Caracterização dos usuários de acordo com Análise de
concorrentes
os hábitos do profissional criativo (o grupo parceiros
diretos e
baseou a pesquisa no segmento escritório)
estratégicos
indiretos ao
negócio
02
Classificação do comportamento de
compras, apresentando as marcas
preferidas, os produtos definidores de
compra, o ambiente ideal de aquisição e o
cômodo da casa mais utilizado por cada
perfil de consumidor
03
Análise de
Aplicação de pesquisa em redes sociais
Estudo de casos
concorrência de sobre a estação de trabalho de cada pessoa, de pontos de
acordo com o
com requisição do envio de imagem, dando venda
segmento de
origem a quatro perfis e uma lista de
atuação e
produtos para escritório de conexão
utilidade dos
emocional
produtos
04
Apontou os
Levantamento sobre a síntese dos
Estudo de casos
concorrentes,
indicadores sociais do IBGE entre os anos
de pontos de
sem se
de 2005 e 2010, apontando para as
venda e análise da
aprofundar sobre mudanças no padrão de vida da família
distribuição do
eles
brasileira, como aumento das mulheres,
mercado a atingir.
declínio da taxa de natalidade, aumento da
população idosa. Complementaram com
entrevistas com os possíveis consumidores,
para entender os hábitos de compra,
alcançando quatro perfis de consumidores
Os grupos apresentaram os perfis de usuários e os tangibilizaram através do uso de
moodboars. Com essa ferramenta, foi possível ter uma ideia aproximada do perfil de compra.
A diferença entre os moodboards apresentados esteve com o Grupo 2, que das imagens
sugeridas, acabou retirando uma sugestão de cores, que serviriam para os produtos a serem
desenvolvidos para cada um dos perfis.
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
Outras diferenças significativas marcaram o levantamento dos grupos. O Grupo 1
estudou tendências contextuais, buscando referências inovadoras que apontaram três campos
de tendências: ambientes criativos, fun design e novos modelos. Com isso, o Grupo
apresentou tendências de ambientes integrados de trabalho, marcas de produtos com design
lúdico e criativo, e modelos de negócios que reinventaram formas de estar no mercado, se
diferenciando e agregando em vendas.
O Grupo 3 estudou as tendências de PDV, tanto em lojas próprias como em lojas
multimarcas e feiras. Também pesquisou os tipos de vendas em redes sociais e plataformas
online. A coleta de dados apresentou, ainda, macrotendências externas caracterizadas pelo
grupo como: mobilidade virtual, consumo consciente, espontaneidade planejada,
rastreabilidade, sustentabilidade, distribuição, medo do fim do mundo e otimismo.
Como diferencial, o Grupo 4 apresentou uma pesquisa sobre a indústria
transformadora do plástico no Brasil, a expansão do mercado de plásticos e o futuro de seu
uso. Além disso, buscou casos internacionais com um amplo estudo sobre cada um,
principalmente focado na trajetória no mercado e nas diferentes formas de venda de cada
empresa.
3.2. Pesquisa blue sky
O Grupo 1 desenvolveu sua pesquisa blue sky a partir de um brainstorming, que se originou
das diferentes fontes de informação levantadas na pesquisa contextual. Cada integrante
colocou suas ideias para as perguntas o que?, quem?, como? onde?. Após, criaram clusters de
aproximação semântica, para gerar a blue sky e estimular o processo de projeto. Com o
resultado, o Grupo optou por organizar as ideias através dos eixos “Comportamento:
Organizado X Divertido”, “Espaço: Móvel x Estático”, “Interação: Virtual x Física” e
“Sustentabilidade: Produto x Experiência”. As figuras 2 e 3 apresentam as imagens relativas
aos primeiros dois eixos.
Fig. 2 – Grupo 1: Eixo “Comportamento: Organizado x Divertido”
Fig. 3 – Grupo 1: Eixo “Espaço: Móvel x Estático”
O Grupo 2 definiu polaridades também, com o objetivo de visualizar como os
estímulos, eram percebidos em marcas, canais de venda, materiais, embalagens, estética e
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
comunicação. As polaridades alcançadas foram: “Outdoor x Indoor”, “Estético x Funcional”,
“Real x Virtual” e “Ecológico x Tecnológico”. Diferentemente do grupo anterior, o Grupo 2
agregou os estímulos visuais procedentes dos pólos “Outdoor”, “Estético”, “Real” e
“Ecológico” em um painel semântico (fig. 6), e os estímulos dos pólos opostos em outro
painel (fig. 7).
Fig.4 – Grupo 2: estímulos visuais procedentes dos pólos “Outdoor”, “Estético”, “Real” e “Ecológico”
Fig. 5 – Grupo 2: estímulos visuais procedentes dos pólos “Indoor”, “Funcional”, “Virtual” e “Tecnológico”
O Grupo 3 procedeu de forma similar ao primeiro. Os termos resultantes do
brainstorm foram compilados em campos semânticos com significados próximos, e
posteriormente reorganizados e sintetizados em nuvens conceituais. Para cada conceito
síntese gerou-se um significado oposto, dando origem as polaridades: “Envolvimento x
Desapego”, “Tangível x Intangível”, “Consciência x Alienação”, “Virtualidade x Analógico”,
“Estratégia x Miguelês”, “Atributos positivos” x “Atributos negativos”, “Estilo x
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
Padronização”. As figuras 6 e 7 apresentam exemplarmente as imagens relativas aos
primeiros dois eixos.
Fig. 6 – Grupo 3: Eixo “Envolvimento x Desapego”
Fig. 7 – Grupo 3: Eixo “Tangível x Intangível”
Já o Grupo 4 partiu do conceito de sustentabilidade para gerar a pesquisa blue sky,
buscando conteúdo de inspiração para a etapa projetual. Também utilizaram brainstorming
entre os pesquisadores para encontrar conceitos derivativos de sustentabilidade (fig. 8). Todas
as manifestações foram organizadas em uma nuvem de palavras, que gerou três conceitos que
mais representavam a essência de sustentabilidade: ciclo, estrutura e equilíbrio. Ao invés de
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
moodboards, utilizaram-se de imagens independentes para representar os conceitos por eles
definidos na pesquisa blue sky (fig. 9).
Fig. 8 – Grupo 4: Brainstorming
Fig. 9 – Grupo 4: Conceitos “Equilíbrio”, “Ciclo” e “Estrutura” e sua representação
4. Discussão dos resultados
Os grupos, após passarem pelas pesquisas contextual e blue sky, chegaram a produção
de uma matriz SWOT de análise das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças prospectadas.
Após, elaboraram suas sínteses, que apontaram para possíveis cenários de atuação e estratégia
para os produtos JOMO.
Apesar de caminhos diferentes adotados durante a pesquisa, percebeu-se que os
cenários convergiam para situações próximas. Para cada grupo, as polaridades trabalhadas nos
cenários foram:
• Grupo 1: offline x online e funcional x emocional
• Grupo 2: real x virtual e funcional x emocional
• Grupo 3: estático x móvel e lúdico x sério
• Grupo 4: físico x virtual e loja conceito x loja popular
Os grupos trocaram suas experiências até chegarem aos cenários e constataram a
repetição dos conceitos de offline e online e funcional e emocional. Mesmo com nomes
diferentes, como o caso lúdico e sério, o seu significado convergia para a questão funcional e
emocional. Da mesma forma se deu com os conceitos estático e móvel, que dizia respeito a
situação de compra, cujo estático está ligado ao virtual e o móvel ao físico.
Dessa forma, chegou-se a necessidade de, para reverter em soluções inovadoras para o
cliente JOMO, que cada grupo explorasse um cenário. Decidiu-se que o melhor seriam as
polaridades, offline x online e funcional x emocional, e que cada grupo daria prevalência a um
quadrante, com o objetivo de que resultados diferentes fossem apontados e que se evitassem
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
soluções próximas demais a serem apresentadas ao cliente. Os resultados finais geraram
conceitos diferenciados, oferecendo ao cliente a oportunidade de enxergar mais de um cenário
de atuação, com visões específicas e características de produtos e canais de vendas diferentes
entre eles. Para cada conceito apresentado, considerou-se importante a estratégia de
comunicação. Mesmo que não fosse solicitado pelo briefing, marcas foram geradas pelos
grupos como forma de sintetizar a abrangência estratégica de cada conceito, como será visto a
seguir.
O Grupo 1, apresentou como conceito final a marca “Joom” (fig. 10). A marca
construiria conexões com o consumidor, gerando experiências emocionais através de canais
de distribuição offline e online. O objetivo é o de indicar tendências e atitudes através do
design, inovação e sustentabilidade. Suas ações seriam centradas em atividades de promoção
coletiva, como de co-criação, espaços-conceito em locais públicos de parceiros e atividades
para promover a atenção ao ciclo de vida do produto.
Fig. 10 – Grupo 1: Marca “joom”
O Grupo 2, apresentou como conceito final a marca “Smart in Box” (fig. 11). A
estratégia do novo posicionamento estaria baseada na proximidade com o consumidor através
da tecnologia, caracterizada pela comunicação, distribuição, pulverização e logística. O
objetivo seria o de estar presente em todos os lugares, entregando os produtos com qualidade
e no prazo prometido. Para isso, o grupo estimou duas fases.
A primeira, a estratégia online, com o lançamento dos produtos em uma loja virtual,
acessível a partir de aplicativos, com uma adequada logística de entrega e comunicação. A
segunda, a implantação em espaços físicos, quando os produtos já estariam mais conhecidos e
seria possível tangibilizar a experiência através de quiosques interativos.
Além das fases, o diferencial apresentado foi a segmentação dos produtos em
escritório, casa, escola e viagem. Esta última não havia aparecido em nenhum momento
anterior e se mostrou como uma possibilidade muito forte para a JOMO.
Fig. 11 – Grupo 2: Marca “smart in box”
O Grupo 3 apresentou como conceito a marca Mojo (fig. 12). As vendas aconteceriam
por meio físico e por internet, sendo que os produtos seriam oferecidos dentro de lojas, junto
a itens tecnológicos. Os produtos Mojo seriam acessórios para os gadgets tecnológicos,
constituindo-se de mochilas, garrafas de água, cases de HD, cases de computador, prancheta
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Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
para o ilustrador. Os PDVs físicos permitiriam interação com a plataforma virtual por meio de
um terminal touch, que apresentaria um catálogo virtual de produtos e informações sobre o
material, o processo de produção e as possibilidades de descarte.
Fig. 12 – Grupo 3: Marca “mojõ”
O Grupo 4 apresentou como conceito final a marca JMO Home Office (fig. 13). JMO
seria um espaço de convivência, num cenário onde as relações humanas são cada vez mais
mediadas pelas tecnologias e onde cresce a desmaterialização dos artefatos. Assim, o espaço
JMO propiciaria os relacionamentos socioculturais, onde os produtos estariam dispostos para
uso e poderiam ser consumidos por quem gostasse.
Fig. 13 – Grupo 4: Marca “JMO”
5. Considerações finais
Nitidamente, na etapa do metaprojeto, uma pesquisa embasa a outra para a produção
de cenários e geração de conceitos. Mesmo que a blue sky trabalhe muito mais as tendências
de forma ampla, não relacionadas diretamente com a empresa ou o seu segmento de atuação,
os apontamento por ela levantados são de altíssima utilidade para a geração de inovação nas
propostas a serem apresentadas ao cliente. A pesquisa contextual realiza um papel de
constatadora, enquanto que a blue sky aponta as direções.
Isso é visto no desenvolvimento e resultados alcançados. Os quatro grupos que
realizaram as tarefas se dispuseram a passar pelas etapas do metaprojeto. Os diferentes inícios
acabaram em caminhos comuns, o que foi constatado na formação dos cenários dos grupos.
De certa forma, isso representa que, mesmo que o caminho percorrido seja diferente, a
realização das pesquisas acaba apontando caminhos estratégicos comuns para a empresa.
Nessa direção, o desenvolvimento das pesquisas de tendências, muito mais ligadas à pesquisa
blue sky, permitiu a alguns grupos apresentarem estratégias completamente inovadoras para o
mercado da empresa JOMO.
Isso demonstra o quanto o diálogo entre as pesquisas é determinante para que o
designer pense no problema, no briefing e na possível solução não apenas de maneira reativa,
mas sim de maneira ativa, compreendendo o negócio de maneira ampla, entendendo toda a
cadeia de inserção da empresa e, ainda, sugerindo oportunidades fortes que não haviam sido
cogitadas.
Assim, é possível compreender o metaprojeto, pois a sugestão e aplicação de suas
etapas e ferramentas faz com que o briefing seja revisto, o processo de projeto seja repensado
e um caminho estratégico futuro seja totalmente modelado. Nesse ínterim, as pesquisas
contextual e blue sky se complementam e se alimentam, pois uma leva subsídios de pesquisa a
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
Metaprojeto: a importância da dialética entre a pesquisa contextual e a pesquisa blue sky
outra, que por sua vez se retroalimenta, abrindo o problema e apontando situações
completamente novas.
Como afirmam ou autores Deserti e Celaschi (2007), o designer, ao participar do
metaprojeto, se insere em um ambiente sistêmico. E nesse ambiente, as inovações surgirão da
interação entre todas as áreas e da análise de recursos econômicos, tecnológicos, gerenciais e
humanos. Sendo assim, ponderar informações da empresa, do mercado, dos usuários aliados a
pesquisa de tendências faz com que o designer ou profissional trabalhando com design
compreenda o complexo de atuação da empresa e gere soluções realmente aplicáveis e
inovadoras para a solução dos problemas e para o negócio.
8 Referências bibliográficas
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CELASCHI, F.; DESERTI A. Design e innovazione: strumenti e pratiche per la ricerca
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DESERTI A. Design e innovazione: strumenti e pratiche per la ricerca applicata. Carocci,
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FRANZATO C. O Design Estratégico no diálogo entre cultura de projeto e cultura de
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SCALETSKY, C.; PARODE, F. Imagem e pesquisa Blue Sky no Design. Anais do XIV
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SCALETSKY, C. Pesquisa aplicada/pesquisa acadêmica – o caso Sander. Anais do 8º
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VAN DER HEIJDEN, K. Planejamento por cenários: a arte da conversação estratégica.
Porto Alegre: Bookman, 2009.
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).
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