EVOLUÇÃO DAS TARIFAS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE ÁGUA E ESGOTOS José de Sena Pereira Júnior 2006 Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados Centro de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca http://bd.camara.gov.br "Dissemina os documentos digitais de interesse da atividade legislativa e da sociedade.” ESTUDO EVOLUÇÃO DAS TARIFAS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE ÁGUA E ESGOTOS José de Sena Pereira Jr. Consultor Legislativo da Área XI Meio Ambiente e Direito Ambiental, Organização Territorial, Desenvolvimento Urbano e Regional ESTUDO FEVEREIRO/2006 Câmara dos Deputados Praça 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF © 2006 Câmara dos Deputados. Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que citados o autor e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados. Este trabalho é de inteira responsabilidade de seu autor, não representando necessariamente a opinião da Câmara dos Deputados. 2 EVOLUÇÃO DAS TARIFAS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE ÁGUA E ESGOTOS José de Sena Pereira Jr. O presente trabalho atende a Comissão de Defesa do Consumidor, que solicitou à Consultoria Legislativa elaboração de estudo sobre a evolução das tarifas cobradas pela prestação dos serviços de água e esgotos no Brasil. Os serviços públicos de saneamento básico, entre os quais estão o abastecimento público urbano de água potável e o esgotamento sanitário – ou serviços de esgotos sanitários –, são considerados de interesse local. Quando muito, há interligações entre Municípios vizinhos, como ocorre em algumas regiões metropolitanas e no Nordeste, onde longas adutoras, construídas e mantidas pelos Estados, distribuem água tratada para vários Municípios. De acordo com o artigo 30 da Constituição Federal, é competência municipal, entre outras, legislar sobre assunto de interesse local, prestar serviços públicos de interesse local e promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento, e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. “Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; ....................................................................................................... V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; .............................................................................................. VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; ....................................................................................................” Compete, portanto, aos Municípios prestar, diretamente ou mediante concessão ou permissão, os serviços de saneamento básico, que são de interesse local, entre os quais o de coleta, tratamento e disposição final de esgotos sanitários. Essa competência inclui o estabelecimento, seja em legislações próprias, seja em cláusulas contidas nos contratos de concessão (por exemplo, às empresas estaduais de saneamento), das condições de prestação desses serviços, das suas estruturas tarifárias, das taxas e das formas de cobrança. 3 De acordo com dados de 20031, cerca de 92% da população urbana brasileira é servida por serviços público de abastecimento de água e 45% por sistemas públicos de coleta de esgotos sanitários. Dos esgotos coletados, menos de 26% passam por algum tipo de tratamento antes de serem dispostos na natureza, isto é, apenas cerca de 13% dos esgotos sanitários gerados em nossas áreas urbanas são tratados. Considerando a forma jurídica e a abrangência territorial do prestador, contam-se, no Brasil, seis modelos de organização dos serviços públicos urbanos de água e esgotos: - empresas estatais estaduais de saneamento; - autarquia estadual de saneamento; - consórcios municipais ou serviços integrados municipais de água e esgotos; - serviços municipais de água e esgotos, na forma de departamentos ou autarquias; - empresas estatais municipais de saneamento; - empresas concessionárias privadas de serviços de água e esgotos. Ao final de 2003, as 24 empresas estaduais de saneamento eram responsáveis, pelo abastecimento urbano de água em 3.866 municípios e pela coleta de esgotos em 864, correspondendo, respectivamente, a cerca de 74% e 32% da população urbana brasileira. A empresa do Acre foi transformada em autarquia e foram extintas as empresas dos Estados do Amazonas e de Mato Grosso, havendo, pois falhas nas informações nesses Estados. QUADRO 1 Brasil - 2003 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA FORMA DE ORGANIZAÇÃO Empresa/Autarquia Estadual Empresa Municipal Direta Municipal Consórcio de Municípios Concessionário Privado TOTAL BRASIL POPULAÇÃO URBANA ATENDIDA (%) Norte Nordeste Sudeste Sul 74,8 42,17 87,92 70,6 80,02 79,12 2,4 14,26 0,45 2,47 94,38 0,0 9,18 0,0 14,96 66,31 0,7 6,09 0,1 0,00 94,81 3,99 18,62 0,71 2,71 96,63 0,0 18,35 0,51 0,64 99,52 5,56 10,17 0,22 0,60 95,67 Fonte: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2003 – Ministério das Cidades – SNIS/IPEA 1 C. Oeste Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2003 – Ministério das Cidades – SNIS/IPEA 4 Os serviços municipais de água e esgotos (SAEEs ou DAEEs) e as empresas públicas municipais são responsáveis pelo abastecimento de água de cerca de 16,5% e pelo esgotamento sanitário de cerca de 11% da população urbana brasileira. O restante do atendimento é feito por consórcios de municípios e concessionários privados. QUADRO 2 Brasil - 2003 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ESGOTOS SANITÁRIOS FORMA DE ORGANIZAÇÃO Empresa/Autarquia Estadual Empresa Municipal Direta Municipal Consórcio de Municípios Concessionário Privado TOTAL BRASIL 32,29 POPULAÇÃO URBANA ATENDIDA (%) Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste 2,68 21,63 44,54 22,36 40,78 1,93 9,65 0,03 1,07 44,99 0,0 1,78 0,0 1,35 5,81 0,41 1,05 0,06 0,0 23,14 3,62 17,09 0,03 1,97 67,25 0,0 8,21 0,05 0,42 31,04 2,33 1,48 0,01 0,01 44,61 Fonte: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2003 – Ministério das Cidades – SNIS/IPEA O quadro institucional dos serviços de água e esgotos no Brasil, portanto, torna bastante complexo avaliar as políticas tarifárias nele praticadas e, em decorrência, fazer uma retrospectiva da evolução das tarifas. Isto porque: - cada empresa estadual tem uma política tarifária aplicada sobre os Municípios em que opera, sem nenhuma vinculação com os demais Estados e com os Municípios que prestam diretamente os serviços; - cada Município que presta diretamente os serviços de água e esgotos tem política própria de cobrança; muitos Municípios aplicam taxas em vez de tarifas e há casos, inclusive, de Municípios em que não há cobrança específica por esses serviços, sendo estes mantidos com recursos orçamentários; - em muitos Municípios, a prestação do serviços de abastecimento de água é feito pela empresa estadual, enquanto que o de esgotos é prestado diretamente e até mediante concessão; - o custos dos serviços tem grande variação de Município para Município, em função da maior ou menor facilidade de se obter água potável, da existência de tratamento de esgotos e de relevo e solo mais ou menos favorável à instalação de redes, entre diversos outros fatores. 5 Os únicos dados mais ou menos confiáveis sobre as tarifas dos serviços de água e esgotos praticadas no Brasil estão, portanto, nas áreas servidas pelas empresas estaduais de saneamento. Desde 1995, a antiga Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República, sucedida pelo Ministério das Cidades, em convênio com o IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – vem mantendo o SNIS – Sistema Nacional de Informações em Saneamento. A cada dois anos é publicado um volume com diversas informações sobre o setor, incluindo as tarifas médias praticadas pelas empresas estaduais e por alguns Municípios. O último volume refere-se a situação no ano de 2003, cujos dados são condensados no Quadro 3. QUADRO 3 Empresas e autarquia estaduais de saneamento Índices de atendimento e tarifa média do serviço de água e esgoto Situação em 2003 Estado/Empresa - Região Norte Roraima -CAER Rondônia- CAERD Amapá - CAESA Amazonas - COSAMA Pará - COSANPA Tocantins - SANEATINS Acra - DEAS R. Nordeste Maranhão - CAEMA Piauí - AGESPISA Ceará - CAGECE Rio Grande do Norte CAERN Paraíba - CAGEPA Pernambuco - COMPESA Alagoas - CASAL Sergipe - DESO Bahia - EMBASA Região Sudeste Espírito Santo - CESAN Rio de Janeiro - CEDAE Minas Gerais - COPASA São Paulo - SABESP Região Sul Paraná - SANEPAR Santa Catarina - CASAN Municípios atendidos Água Esgotos 266 15 39 14 População urbana Total Atendida (%) Água Esgotos 67,8 6,4 98,6 16,7 45,6 1,7 54,4 5,6 Tarifa média de água (R$/m3) 1,33 1,00 1,79 1,04 14 1 2 6 5.948.099 272.127 757.135 473.083 61 117 20 1414 136 141 147 147 1 4 0 146 2 4 35 28 3.456.107 838.028 151.619 30.368.122 2.600.419 1.717.498 4.754.791 1.966.737 64,8 100 56,3 94,2 82,7 99,3 90 99,3 2,4 10,6 23,2 19,9 7,3 32,3 19,6 1,43 1,27 0,99 1,14 0,81 1,26 0,98 1,13 171 174 79 71 348 1.037 52 64 556 365 878 342 218 15 18 2 3 39 455 15 8 67 365 193 139 15 2.417.197 6.065.041 1.699.378 1.262.407 7.884.654 45.569.374 1.903.415 11.685.633 10.509.352 21.470.974 16.407.184 7.499.241 3.155.909 99,4 94,8 75,8 93,3 100 95,4 97,1 84,1 100 99,2 98,9 100 94,1 28,8 22,2 15,3 15,6 25,0 60,2 20,5 42,2 47 80 27,6 47,8 11,1 1,25 1,22 1,55 1,65 1,10 1,41 1,29 1,43 1,21 1,46 1,83 1,58 1,61 6 Rio Grande do Sul CORSAN R. Centro-Oeste Distrito Federal - CAESB Goiás - SANEAGO Mato G. do Sul -SANESUL Média das empresas estaduais 318 39 5.752.034 100 10,4 2,64 291 1 223 67 3.886 56 1 34 21 864 7.536.924 2.094.082 4.393.735 1.049.107 105.829.703 94,7 95,3 93,1 100 94,0 48,8 89,3 38,5 11,1 40,6 1,51 1,42 1,57 1,68 1,42 Fonte: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2003 – Ministério das Cidades – SNIS/IPEA No Quadro 4, resumimos a evolução das tarifas médias praticadas pelas empresas estaduais de saneamento entre os anos de 1996 e 2003, com base nos dados disponíveis do SNIS. QUADRO 4 Empresas e autarquia estaduais de saneamento Tarifa média do serviço de água e esgoto – 1996 a 2003 Estado/Empresa - Região Norte Roraima -CAER Rondônia- CAERD Amapá - CAESA Amazonas - COSAMA Pará - COSANPA Tocantins - SANEATINS Acra - DEAS R. Nordeste Maranhão - CAEMA Piauí - AGESPISA Ceará - CAGECE Rio Grande do Norte CAERN Paraíba - CAGEPA Pernambuco - COMPESA Alagoas - CASAL Sergipe - DESO Bahia - EMBASA Região Sudeste Espírito Santo - CESAN Rio de Janeiro - CEDAE Minas Gerais - COPASA São Paulo - SABESP Região Sul Paraná - SANEPAR Santa Catarina - CASAN 1996 0,76 0,66 2,70 0,39 0,84 0,65 0,88 --0,66 0,59 0,85 0,53 0,68 0,64 0,65 0,68 0,73 0,70 0,80 0,63 0,78 0,61 0,88 0,96 0,78 0,97 TARIFA MÉDIA PRATICADA (R$/m3) 1997 1998 1999 2000 2001 2002 0,88 1,00 1,04 1,07 1,18 1,27 0,81 0,84 0,88 0,86 0,91 0,98 1,06 1,38 1,57 1,70 1,51 1,42 0,73 0,68 0,81 0,96 1,01 1,03 1,15 1,04 1,11 0,83 081 -0,71 0,99 1,01 1,08 1,31 1,42 -0,92 0,86 0,93 1,18 1,16 -1,27 1,26 0,95 0,96 1,04 0,77 0,81 0,79 0,86 0,95 1,02 0,80 0,79 0,74 0,71 0,80 0,77 1,02 1,20 1,32 1,42 1,19 1,17 0,59 0,56 0,63 0,64 0,78 0,85 0,80 0,82 0,80 0,70 0,89 1,00 0,73 0,80 0,89 0,87 0,76 0,91 0,75 0,86 0,68 1,01 1,12 0,89 1,15 7 0,74 0,83 0,99 0,91 0,86 0,93 0,75 0,96 0,73 0,98 1,13 0,96 1,19 0,74 0,77 1,08 0,99 0,74 1,00 0,79 0,94 0,74 1,12 1,22 1,01 1,21 0,84 0,78 1,15 1,15 0,87 1,09 0,91 1,05 0,84 1,19 1,34 1,11 1,29 1,15 0,91 1,19 1,27 0,92 1,14 0,98 1,08 0,94 1,24 1,25 1,24 1,37 1,16 1,04 1,40 1,46 0,97 1,23 1,12 1,20 0,97 1,33 1,65 1,46 1,51 2003 1,33 1,00 1,79 1,04 1,43 1,27 0,99 1,14 0,81 1,26 0,98 1,13 1,25 1,22 1,55 1,65 1,10 1,41 1,29 1,43 1,21 1,46 1,83 1,58 1,61 Rio Grande do Sul CORSAN R. Centro-Oeste Distrito Federal - CAESB Goiás - SANEAGO Mato G. do Sul -SANESUL Mato Grosso -SANEMAT Média das empresas estaduais 1,28 1,53 1,41 0,69 1,90 1,18 2,23 2,64 0,82 0,84 0,71 0,95 0,93 0,80 0,88 0,91 0,80 0,98 0,82 0,91 0,91 0,91 0,88 1,08 0,86 0,99 0,91 0,91 0,88 1,08 0,86 0,99 1,05 1,01 0,94 1,29 -1,07 1,06 1,08 1,01 1,15 -1,12 1,25 1,25 1,22 1,46 -1,25 1,51 1,42 1,57 1,68 1,42 Fonte: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 1996 a 2003 – Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República/Ministério das Cidades – SNIS/IPEA Analisando os dados do Quadro 4, compusemos o Quadro 5, o qual permite concluir que, entre 1996 e 2003, as tarifas médias praticadas pelas empresas estaduais de saneamento cresceu 43,66%, passando de R$0,80 para R$1,42. A menor alta ocorreu no Maranhão (27,16%) e a maior no Amapá (62,5%). Lembramos que a tarifa média é calculada ponderando a população atendida em cada Estado, daí os estados com maiores populações atendidas, como São Paulo, terem maior peso em sua composição. O decréscimo (-50,84%) verificado Rondônia, portanto, tem pouco peso na média nacional. QUADRO 5 Empresas e autarquia estaduais de saneamento Tarifa média do serviço de água e esgoto – aumento entre1996 e 2003 TARIFA MÉDIA (R$/m3) Estado/Empresa - Região Norte Roraima -CAER Rondônia- CAERD Amapá - CAESA Amazonas - COSAMA Pará - COSANPA Tocantins - SANEATINS Acra - DEAS R. Nordeste Maranhão - CAEMA Piauí - AGESPISA Ceará - CAGECE Rio Grande do Norte - CAERN Paraíba - CAGEPA Pernambuco - COMPESA Alagoas - CASAL Sergipe - DESO Bahia - EMBASA 1996 2003 0,76 0,66 2,70 0,39 0,84 0,65 0,88 --0,66 0,59 0,85 0,53 0,68 0,64 0,65 0,68 0,73 0,7 1,33 1,00 1,79 1,04 8 1,43 1,27 0,99 1,14 0,81 1,26 0,98 1,13 1,25 1,22 1,55 1,65 1,10 Aumento (%) 42,86 34,00 -50,84 62,5 -----54,55 30,71 ---42,11 27,16 32,54 45,92 39,82 48,80 46,72 56,13 55,76 36,36 Região Sudeste Espírito Santo - CESAN Rio de Janeiro - CEDAE Minas Gerais - COPASA São Paulo - SABESP Região Sul Paraná - SANEPAR Santa Catarina - CASAN Rio Grande do Sul - CORSAN R. Centro-Oeste Distrito Federal - CAESB Goiás - SANEAGO Mato G. do Sul -SANESUL Mato Grosso -SANEMAT Média das empresas estaduais 0,80 0,63 0,78 0,61 0,88 0,96 0,78 0,97 1,28 0,82 0,84 0,71 0,95 0,93 0,80 1,41 1,29 1,43 1,21 1,46 1,83 1,58 1,61 2,64 1,51 1,42 1,57 1,68 1,42 43,26 51,16 45,45 49,59 39,73 47,54 50,63 39,75 51,52 45,70 40,85 54,78 43,45 ---43,66 Deixamos de apresentar o levantamento das tarifas praticadas no Municípios que prestam diretamente, ou por empresas públicas municipais, ou em consórcios, ou mediante concessão os serviços de água e esgotos, pelas razões já citadas de cada um deles ter política de preços e cobrança própria e de não dispormos de dados que representem significativamente esse setor. Ademais, o fato de 70% da população urbana ter serviços prestados pelas empresas estaduais de saneamento torna-as uma amostragem altamente representativa da realidade nacional. 9