BALANÇOS MAQUIADOS Salézio Dagostim Professor do Unilasalle, Presidente da Confederação Nacional dos Contadores [email protected] As informações contábeis são de interesse social. Elas orientam o mundo dos negócios. Por isso, o cumprimento das normas contábeis, fiscais e societárias tem de ser regido, pois, caso contrário, poderão ocorrer prejuízos, muitas vezes imprevisíveis. Maquiar balanços ou publicar balanços inverídicos não é função dos contadores. Quando se comprovar a existência de balanços maquiados, a sociedade, com razão, deve agir para que se exclua da área os profissionais responsáveis por tais infrações. Quem fiscaliza e pune os profissionais da área contábil é o Conselho Regional de Contabilidade, autarquia federal que está a serviço da sociedade. Porém, não podemos concordar com aqueles que afirmam que os auditores contábeis é que deveriam alertar a sociedade sobre a probabilidade de quebra de uma instituição financeira ou de quaisquer companhias. Não concordamos também com a tese — inverdadeira — de que, quando um banco recebe a intervenção do Banco Central, é por que o balanço necessariamente foi maquiado. Para que tal assunto não passe com trânsito em julgado, é importante fazer os seguintes esclarecimentos: A função dos auditores é tão somente atestar que as demonstrações contábeis representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira divulgada. Não cabe a eles tornar público o seu diagnóstico sobre a viabilidade financeira das entidades. Essa informação, por princípios éticos, deve ser sigilosa. O que seria de uma instituição financeira ou de qualquer companhia se os auditores afirmassem publicamente que tal empresa está com ineficiência de capital de giro e que isso traria problemas ao pagamento de seus compromissos? Certamente essa instituição teria a sua vida ainda mais encurtada. Não é esse o nosso objetivo. Além disso, o fato de uma companhia ou instituição financeira ter lucro e logo após ser decretada a sua falência ou receber a intervenção do Banco Central não quer dizer que o balanço tenha sido embelezado. O lucro é apurado pelo sistema econômico, enquanto a falência ou a intervenção são decretadas pela incapacidade de pagar os seus compromissos. O fato de ter obtido lucro ou prejuízo não significa que pagará os seus compromissos em dia. Uma empresa pode ter prejuízo e pagá-los em dia e/ou ter lucro e ser inadimplente. A capacidade de pagamento depende da habilidade de aplicação correta dos capitais da empresa. A fiscalização das instituições financeiras no sentido de verificar o seu equilíbrio financeiro — capacidade de capital de giro — para que se verifique se elas podem ou não pagar os seus compromissos, bem como as providências a ser tomadas em caso negativo, não é função dos auditores, mas sim do Banco Central. Os auditores contábeis prestam um grande serviço à sociedade atestando as informações contábeis para que possamos saber quem é quem no mundo dos negócios. De fato, a sociedade é que ainda não se habituou a examinar os balanços, ou melhor, os balanços são peças técnicas de difícil interpretação por parte dos leigos. Porém a verdade não pode ser ocultada: se as informações contábeis do Banco Econômico ou de outras instituições fossem lidas, ali estariam registrados os riscos que os depositantes estariam e estão correndo, e não haveria surpresas. Não podemos continuar afirmando que os balanços foram manipulados ou transferindo a responsabilidade aos auditores sem conhecer a verdade, somente pelo fato de as instituições terem sofrido intervenção ou falido.