MINA DA PANASQUEIRA (Texto de Jorge M.R.S. Relvas) Na mina da Panasqueira, situada cerca de 30 km a oeste da cidade do Fundão, na Beira Baixa, explora-se volframite [(Fe,Mn)WO4], cassiterite [SnO2] e, acessoriamente, calcopirite [CuFeS2] como minérios de volfrâmio, estanho e cobre, respectivamente. A Panasqueira é o mais importante depósito de volfrâmio da União Europeia e um dos mais conhecidos do Mundo. A história da mina remonta aos finais do século XIX. O volfrâmio é largamente utilizado em ligas metálicas visto ser um conhecido endurecedor de aços. Por esta razão, a procura e, portanto, o seu preço aumentam sistematicamente durante os grandes conflitos armados. Foi durante as duas Guerras Mundiais (1914-18 e 1939-1945) e a Guerra da Coreia (1950-1953) que a exploração do volfrâmio em Portugal e, em particular, na mina da Panasqueira, atingiu o seu auge. O preço do volfrâmio subiu a valores incalculáveis para a época, gerando-se enormes fortunas no espaço de poucos anos. A importância socio-económica deste período na história do nosso país foi enorme, ainda hoje conhecido como a época dos “volframistas”. Esta problemática é admiravelmente abordada por Fernando Namora no romance “Minas de San Francisco”. A geologia da região onde se situa o couto mineiro da Panasqueira é relativamente simples, embora ganhe complexidade quando se detalha a escala de observação. Predominam as rochas metasedimentares (rochas de origem sedimentar posteriormente metamorfizadas) que integram uma unidade geológica designada por Complexo XistoGrauváquico das Beiras, de idade anterior ao período Ordovícico (> 490 milhões de anos). Estas rochas foram deformadas e afectadas, no geral, por metamorfismo regional de baixa intensidade e foram intruídas por um conjunto de rochas ígneas intrusivas, em que os granitos são dominantes. O corpo granítico intrusivo com o qual se relacionam as mineralizações filonianas da Panasqueira foi datado por métodos isotópicos como tendo cerca de 289 milhões de anos. Os filões explorados são quartzosos e dispõem-se de modo sub-horizontal, preenchendo uma rede regional de fracturas com aquela orientação. As fontes dos metais e os mecanismos geológico-estruturais que controlaram a geometria dos filões são ainda hoje alvo de debate científico. Sob o ponto de vista mineralógico, a Panasqueira constitui um jazigo com uma riqueza única. Mais de 60 espécies minerais, muitas vezes raras, foram já identificados nesta mina, duas das quais pela primeira vez: a panasqueirite [CaMg(PO4)(OH,F)] e a thadeuite [(Ca,Mn2+)(Mg,Fe2+,Mn3+)3(PO4)2(OH,F)2]. A Panasqueira é um sítio referenciado por todos os coleccionadores de minerais do mundo. Algumas peças mineralógicas provenientes desta mina ascendem no mercado internacional especializado a preços incalculáveis. Nenhum dos grandes museus de história natural do mundo se permite não possuir bons exemplares de minerais da Panasqueira nas suas colecções de exibição. THE PANASQUEIRA MINE The Panasqueira mine, located approximately 30 km to the west of Fundão, in the Beira Baixa province, produces wolframite [(Fe,Mn)WO4], cassiterite [SnO2] and, as a minor accessory, chalcopyrite [CuFeS2] as tungsten, tin and copper ores, respectively. Panasqueira is the most important tungsten deposit within the European Union, and one of the best-known tungsten deposits of the world. The history of this mine goes back to the end of the 19th century. Tungsten is widely used in metal-alloys, as it is well-known as a steel-hardener. For this reason, the tungsten demand, and thus its price, goes up inevitably during major armed conflicts. Unsurprisingly then, it was during the two World Wars (1914-18 e 1939-1945) and the Corean War (1950-1953) that tungsten extraction in Portugal, and in particular at the Panasqueira mine, was at its highest. Tungsten reached staggering prices at the time, being the cause of immense overnight fortunes. The social and economical relevance of this period in Portuguese history was huge, and is still known today as the “wolframists’” epoch. This question is admirably portrayed in Fernando Namora’s novel “Minas de San Francisco”. The geological setting of the Panasqueira mining area is relatively straightforward, though it becomes somewhat more complex at a smaller scale. Metasedimentary rocks (sedimentary rocks that underwent subsequent metamorphism) are dominant and constitute the Complexo Xisto-Grauváquico das Beiras, an ante-Ordovician geological unit (> 490 My old). For the most part, these rocks underwent deformation and lowgrade regional metamorphism, and they were intruded by igneous bodies, mostly granitic. The vein mineralization of Panasqueira is related to one of these granitic intrusive bodies, which has yielded an isotopic age of approximately 289 Ma. The orebearing quartz veins correspond to a regional sub-horizontal fracture network. The metal sources and the geological and structural mechanisms responsible for the vein geometry still fuel scientific debate nowadays. The Panasqueira mine is uniquely rich concerning to its mineralogical content. Over 60 mineral species, many of them quite rare, have been identified in this mine, two of these corresponding to newly found species: the panasqueirite [CaMg(PO4)(OH,F)] and the thadeuite [(Ca,Mn2+)(Mg,Fe2+,Mn3+)3(PO4)2(OH,F)2]. The Panasqueira mine is a reference site for mineral collectors from all over the world. Some mineral samples taken from this mine have reached astounding prices on the international mineral market. No great Natural History Museum, in any big city of the world, would be found without a few good mineral specimens from Panasqueira among its exhibits.