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Quarta-feira
7 de Outubro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Economia
CONJUNTURA
Moody’s prevê queda de 3% do PIB
Crise fez agência de classificação de risco revisar previsões para atividade econômica no País
A agência de classificação
de risco Moody’s revisou para
baixo sua projeção para o desempenho da economia brasileira este ano e no próximo. Relatório divulgado ontem indica que
o PIB encolherá 3% em 2015 e 1%
em 2016.
De acordo com a agência, a
deterioração da condição fiscal,
as turbulências políticas e as
investigações de corrupção da
Operação Lava Jato vão continuar a afetar negativamente a qualidade na oferta crédito tanto no
setor público quanto privado em
2016. Esses fatores têm levado ao
aumento do desemprego, à redução do consumo e dos salários
reais, e, frente a esse cenário, a
Moody’s reviu as previsões para
a atividade econômica do País.
Para este ano, a projeção
passou de queda de 1,8%, anunciada em julho, para um recuo
de 3%. Essa perspectiva é pior
do que a baixa de 2,85% prevista por economistas consultados
para a última edição do relatório
Focus, do Banco Central, divulgada na segunda-feira. Já para o
ano que vem, em vez de expansão de 1%, a agência agora espera uma retração de 1% - mesma
perspectiva do Focus.
A Moody’s não deve tirar o
grau de investimento do Brasil
ao menos até o início do próximo ano. Na avaliação da agência
de rating, os cenários para a economia brasileira neste e no próximo ano estão claros - haverá
retração do PIB e a relação dívida pública/PIB continuará crescendo -, o que pesará numa decisão será a tendência desses dois
fundamentos para 2017 e 2018.
“A palavra-chave hoje é tendência, mais do que números.
Tendência para a dívida pública
e para o crescimento. Temos que
esperar até o início do próximo
ano e ver como evolui o relacionamento entre a administração federal e o Congresso”, disse Mauro Leos, vice-presidente
da Moody’s, em apresentação da
agência a executivos na manhã
desta terça-feira em São Paulo.
O mais urgente para que se
tenha uma sinalização positiva
para a preservação do grau de
investimento - o Brasil tem classificação Baa3, último degrau
antes do grau especulativo na escala da agência -, segundo Leos,
seria o governo conseguir consenso mínimo com o Congresso
para a aprovação do Orçamento
de 2016. “No curto prazo, o mais
importante é o Orçamento do
próximo ano”, disse.
Para conseguir estabilização
da relação dívida pública/PIB, o
Brasil precisará crescer a uma
taxa de 2% ao ano e obter superávits fiscais equivalente a 2%
do PIB. “O Brasil não conseguirá alcançar uma situação fiscal
sustentável a menos que cresça
2% ao ano e tenha superávit de
2%”, disse o vice-presidente da
agência.
Em 11 de agosto, a Moody’s
rebaixou a nota do Brasil de
Baa2 para Baa3, o que mantém
o País no grau de investimento,
espécie de selo de bom pagador,
mas apenas uma nota acima do
nível especulativo. A perspectiva foi alterada de negativa para
estável, o que indica que não
haverá novas revisões a curto
prazo. Em 9 de setembro, foi a
vez da Standard & Poor’s (S&P),
que cortou classificação do País
de BBB- para BB+, suspendendo
o chamado grau de investimento. O cenário econômico levou
a entidade a colocar o rating
em perspectiva negativa, o que
aponta a possibilidade de novo
rebaixamento do Brasil nos próximos meses.
De acordo com relatório da
Moody’s, com a diminuição da
demanda, o aumento dos custos de financiamento e o crescimento da inadimplência, além
da redução do investimento, os
emissores de dívida serão pressionados na maioria dos setores.
Embora a maior parte dos tomadores de empréstimo não financeiro que têm grau de investimento no Brasil tem taxas
adequadas de liquidez pelo
menos até meados de 2016, os
acessos a mercados internacionais ficarão mais caros para os
que não têm grau de investimento, afetando planos de expansão e de melhoria do capital, de acordo com a Moody’s.
Além disso, destaca a agência
de classificação de risco, preços
baixos do petróleo, dos metais e
de produtos agrícolas vão afetar
as performances de Petrobras,
Vale e outros produtores de commodities.
A recessão brasileira e a
baixa confiança do consumidor
diminuirão à demanda por telecomunicações, construção de
moradias e de empresas aéreas.
Já a desvalorização do real vai favorecer os setores exportadores,
como carnes e papéis. A Lava
Jato, destaca a agência, manterá
o abalo no setor de construção e
mesmo empresas não ligadas à
Petrobras vão continuar a ter dificuldades para levantar fundos
no Brasil e no exterior.
Medo do desemprego é o maior desde 1999, diz CNI
Diante da crise econômica e
política pela qual o País passa, o
brasileiro está mais temeroso em
relação ao desemprego. O cenário afetou também a satisfação
com a vida, que caiu ao menor
nível histórico. Segundo pesquisa
divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI),
o Índice de Medo do Desemprego
aumentou 1,7% em setembro, na
comparação com junho, alcançando 105,9 pontos - esse é o maior nível alcançado desde setembro de
1999.
De dezembro até o mês passado, o medo do desemprego cres-
ceu 41,5%. Em relação a setembro
do ano passado, o indicador aumentou 37,5%.
Na avaliação da CNI, a crise
tem afetado a sensação de conforto da população. O Índice de Satisfação com a Vida caiu 1,8% em
setembro, na comparação com junho, e está em 93,9 pontos, o menor nível histórico, desde que a
CNI começou a fazer esse indicador, em março de 1999. “Isso indica que a atual crise econômica
está afetando a população com
maior intensidade que o verificado nas crises anteriores”, informou a CNI no documento.
A entidade destacou ainda
que quanto menor a renda familiar dos brasileiros, maior foi redução na sua satisfação com a vida
na comparação entre setembro de
2014 e igual mês de 2015.
Enquanto entre os brasileiros
com renda familiar de até um salário-mínimo o Índice de Satisfação com a Vida sofreu redução de
13,5%, para os brasileiros cuja renda familiar é superior a cinco salários-mínimos essa queda foi menor, apresentando recuo de 3,9%.
A pesquisa da CNI foi feita
com 2.002 pessoas em 141 municípios entre 18 e 21 de setembro.
MARCELO G. RIBEIRO/JC
Retração da economia afeta a sensação de conforto da população
Deterioração do emprego deve perdurar nos próximos meses, mostra indicador da FGV
O Indicador Antecedente de
Emprego (Iaemp) recuou 3,4%
em setembro ante agosto, na
série com ajuste sazonal, informou ontem a Fundação Getulio
Vargas (FGV). Com isso, o índice atingiu 62 pontos, o menor nível da série, iniciada em junho
de 2008. Segundo a instituição,
o resultado sinaliza que a tendência negativa para o nível de
emprego nos próximos meses
continua. “O Iaemp de setembro
piorou em todas as dimensões
captadas pelas sondagens, tanto
da indústria e dos serviços como
do lado do consumidor, indicando que a deterioração da economia é generalizada e, portanto, a
piora do emprego deve perdurar
nos próximos meses”, avaliou o
economista Rodrigo Leandro de
Moura, pesquisador da FGV, em
nota oficial.
As maiores contribuições
para a queda do Iaemp vieram
dos indicadores que retratam a
situação dos negócios para os
próximos seis meses no setor de
serviços (-5,6%) e a situação corrente das empresas do setor industrial (-4,1%).
O Iaemp é formado por uma
combinação de séries extraídas
das Sondagens da Indústria, de
Serviços e do Consumidor, todas
apuradas pela Fundação Getulio
Vargas. O objetivo é antecipar os
rumos do mercado de trabalho
no País.
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