6 Quarta-feira 7 de Outubro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia CONJUNTURA Moody’s prevê queda de 3% do PIB Crise fez agência de classificação de risco revisar previsões para atividade econômica no País A agência de classificação de risco Moody’s revisou para baixo sua projeção para o desempenho da economia brasileira este ano e no próximo. Relatório divulgado ontem indica que o PIB encolherá 3% em 2015 e 1% em 2016. De acordo com a agência, a deterioração da condição fiscal, as turbulências políticas e as investigações de corrupção da Operação Lava Jato vão continuar a afetar negativamente a qualidade na oferta crédito tanto no setor público quanto privado em 2016. Esses fatores têm levado ao aumento do desemprego, à redução do consumo e dos salários reais, e, frente a esse cenário, a Moody’s reviu as previsões para a atividade econômica do País. Para este ano, a projeção passou de queda de 1,8%, anunciada em julho, para um recuo de 3%. Essa perspectiva é pior do que a baixa de 2,85% prevista por economistas consultados para a última edição do relatório Focus, do Banco Central, divulgada na segunda-feira. Já para o ano que vem, em vez de expansão de 1%, a agência agora espera uma retração de 1% - mesma perspectiva do Focus. A Moody’s não deve tirar o grau de investimento do Brasil ao menos até o início do próximo ano. Na avaliação da agência de rating, os cenários para a economia brasileira neste e no próximo ano estão claros - haverá retração do PIB e a relação dívida pública/PIB continuará crescendo -, o que pesará numa decisão será a tendência desses dois fundamentos para 2017 e 2018. “A palavra-chave hoje é tendência, mais do que números. Tendência para a dívida pública e para o crescimento. Temos que esperar até o início do próximo ano e ver como evolui o relacionamento entre a administração federal e o Congresso”, disse Mauro Leos, vice-presidente da Moody’s, em apresentação da agência a executivos na manhã desta terça-feira em São Paulo. O mais urgente para que se tenha uma sinalização positiva para a preservação do grau de investimento - o Brasil tem classificação Baa3, último degrau antes do grau especulativo na escala da agência -, segundo Leos, seria o governo conseguir consenso mínimo com o Congresso para a aprovação do Orçamento de 2016. “No curto prazo, o mais importante é o Orçamento do próximo ano”, disse. Para conseguir estabilização da relação dívida pública/PIB, o Brasil precisará crescer a uma taxa de 2% ao ano e obter superávits fiscais equivalente a 2% do PIB. “O Brasil não conseguirá alcançar uma situação fiscal sustentável a menos que cresça 2% ao ano e tenha superávit de 2%”, disse o vice-presidente da agência. Em 11 de agosto, a Moody’s rebaixou a nota do Brasil de Baa2 para Baa3, o que mantém o País no grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, mas apenas uma nota acima do nível especulativo. A perspectiva foi alterada de negativa para estável, o que indica que não haverá novas revisões a curto prazo. Em 9 de setembro, foi a vez da Standard & Poor’s (S&P), que cortou classificação do País de BBB- para BB+, suspendendo o chamado grau de investimento. O cenário econômico levou a entidade a colocar o rating em perspectiva negativa, o que aponta a possibilidade de novo rebaixamento do Brasil nos próximos meses. De acordo com relatório da Moody’s, com a diminuição da demanda, o aumento dos custos de financiamento e o crescimento da inadimplência, além da redução do investimento, os emissores de dívida serão pressionados na maioria dos setores. Embora a maior parte dos tomadores de empréstimo não financeiro que têm grau de investimento no Brasil tem taxas adequadas de liquidez pelo menos até meados de 2016, os acessos a mercados internacionais ficarão mais caros para os que não têm grau de investimento, afetando planos de expansão e de melhoria do capital, de acordo com a Moody’s. Além disso, destaca a agência de classificação de risco, preços baixos do petróleo, dos metais e de produtos agrícolas vão afetar as performances de Petrobras, Vale e outros produtores de commodities. A recessão brasileira e a baixa confiança do consumidor diminuirão à demanda por telecomunicações, construção de moradias e de empresas aéreas. Já a desvalorização do real vai favorecer os setores exportadores, como carnes e papéis. A Lava Jato, destaca a agência, manterá o abalo no setor de construção e mesmo empresas não ligadas à Petrobras vão continuar a ter dificuldades para levantar fundos no Brasil e no exterior. Medo do desemprego é o maior desde 1999, diz CNI Diante da crise econômica e política pela qual o País passa, o brasileiro está mais temeroso em relação ao desemprego. O cenário afetou também a satisfação com a vida, que caiu ao menor nível histórico. Segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Medo do Desemprego aumentou 1,7% em setembro, na comparação com junho, alcançando 105,9 pontos - esse é o maior nível alcançado desde setembro de 1999. De dezembro até o mês passado, o medo do desemprego cres- ceu 41,5%. Em relação a setembro do ano passado, o indicador aumentou 37,5%. Na avaliação da CNI, a crise tem afetado a sensação de conforto da população. O Índice de Satisfação com a Vida caiu 1,8% em setembro, na comparação com junho, e está em 93,9 pontos, o menor nível histórico, desde que a CNI começou a fazer esse indicador, em março de 1999. “Isso indica que a atual crise econômica está afetando a população com maior intensidade que o verificado nas crises anteriores”, informou a CNI no documento. A entidade destacou ainda que quanto menor a renda familiar dos brasileiros, maior foi redução na sua satisfação com a vida na comparação entre setembro de 2014 e igual mês de 2015. Enquanto entre os brasileiros com renda familiar de até um salário-mínimo o Índice de Satisfação com a Vida sofreu redução de 13,5%, para os brasileiros cuja renda familiar é superior a cinco salários-mínimos essa queda foi menor, apresentando recuo de 3,9%. A pesquisa da CNI foi feita com 2.002 pessoas em 141 municípios entre 18 e 21 de setembro. MARCELO G. RIBEIRO/JC Retração da economia afeta a sensação de conforto da população Deterioração do emprego deve perdurar nos próximos meses, mostra indicador da FGV O Indicador Antecedente de Emprego (Iaemp) recuou 3,4% em setembro ante agosto, na série com ajuste sazonal, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com isso, o índice atingiu 62 pontos, o menor nível da série, iniciada em junho de 2008. Segundo a instituição, o resultado sinaliza que a tendência negativa para o nível de emprego nos próximos meses continua. “O Iaemp de setembro piorou em todas as dimensões captadas pelas sondagens, tanto da indústria e dos serviços como do lado do consumidor, indicando que a deterioração da economia é generalizada e, portanto, a piora do emprego deve perdurar nos próximos meses”, avaliou o economista Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador da FGV, em nota oficial. As maiores contribuições para a queda do Iaemp vieram dos indicadores que retratam a situação dos negócios para os próximos seis meses no setor de serviços (-5,6%) e a situação corrente das empresas do setor industrial (-4,1%). O Iaemp é formado por uma combinação de séries extraídas das Sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor, todas apuradas pela Fundação Getulio Vargas. O objetivo é antecipar os rumos do mercado de trabalho no País.